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História Growing Pains (Cha Eun Woo - Astro) - Olhe para as estrelas e sonhe


Escrita por: dreamawake

Notas do Autor


OI, MEUS AMORES!

Sinto muitíssimo pela demora, acabei tendo um bloqueio criativo e me atrasando com a produção do capítulo, mas agora ele está pronto, e o melhor: Gigante! Eu realmente espero que vocês gostem tanto quanto eu, está sendo bem gostoso escrever a história e realmente espero que você sintam a mesma coisa.
AVISO IMPORTANTE: Esse capítulo contém uma cena de violência, se você se sente desconfortável com esse tipo de conteúdo ou dê gatilhos, por favor, não leia a partir do momento em que a Hana entra no carro do Woo, na metade do capítulo.

É isso, meus pitchucos! Boa leitura.

Capítulo 13 - Olhe para as estrelas e sonhe


Fanfic / Fanfiction Growing Pains (Cha Eun Woo - Astro) - Olhe para as estrelas e sonhe

                      ❈ Kim ❈

Minha cabeça latejava quando abri os olhos. Demorei alguns minutos para perceber que estava no hospital e, assim que as memórias da noite passada voltaram, levantei de uma vez, sentindo todo o meu corpo doer.

— Meu Deus, Hana, não faça isso! — a voz do meu irmão ecoou em meus ouvidos e procurei de onde vinha, vendo-o sentando em uma poltrona ao lado da cama. Parecia que tinha acabado de acordar. — Você levou um tiro, pelo o amor de Deus, não faça movimentos bruscos!

Não consegui obedecer, estava muito nervosa. Meus olhos doíam devido a claridade, meu coração batia a mil e eu me sentia à beira de um colapso. Eu tinha tantas perguntas, tantas dúvidas, estava agitada demais.

— O meu bebê está bem? — perguntei, quase aos gritos, completamente desesperada. — E o Eun Woo? Ele está vivo? Os bandidos foram pegos? Como viemos pra cá?

— Preciso de ajuda aqui! — Yugyeom gritou e eu apertei ainda mais meus dedos contra seus ombros. Suas mãos me seguravam com delicadeza e a preocupação exalava do corpo do mais velho.

Uma enfermeira entrou no quarto, arregalando os olhos ao ver nossa situação.

— Srta. Kim, você levou um tiro no ombro! — ela exclamou, vindo até mim e colocando algo no soro que estava ligado à minha veia. — Por favor, entendemos que esteja confusa, mas fazer isso vai desacelerar sua recuperação!

Não consegui responder, pois meus músculos ficaram moles e as palavras morreram na minha boca. Quis lutar, gritar até saber de tudo que aconteceu, mas me parecia em vão. Soltei a camisa de Yugy, meus olhos começando a pesar.

— Meu bebê está bem? — perguntei mais uma vez, em fio de voz.

Ninguém me respondeu. Senti meu peito doer e procurei os olhos de meu irmão, que apenas me encararam de volta até que tudo escureceu novamente e eu adormeci.

                           [...]

Quando acordei, horas depois, fiquei em silêncio. Não havia mais o que falar, eu já tinha ligado os pontos para entender. Meu irmão não estava mais no quarto quando abri os olhos e agradeci por isso, não queria que me visse chorar. Da segunda vez que despertei, achei que tudo não passasse de um pesadelo, mas essa é a maldita realidade.

Não conseguia acreditar que tinha perdido meu bebê. Fiquei olhando fixamente para o nada, com as lágrimas brilhantes nos cantos dos olhos. Toda a esperança e ansiedade que eu sentia simplesmente desapareceram, dando lugar para a imensa dor e agonia. Era como se eu tivesse perdido uma parte minha, como se tivessem arrancado o melhor de mim. Senti como se tivesse conhecido o amor, o paraíso, e depois me arrancaram de lá sem dó nem piedade.

Eu me sentia vazia.

Ainda olhando para frente fixamente, uma figura alta e conhecida apareceu no meu campo de visão, como se o destino tivesse o colocado ali. Meu coração suavizou na hora e segurei ainda mais as lágrimas. Assim que meus olhos encontraram com os de Moon Bin, seu rosto calmo e tranquilo me passou o mesmo sentimento, e ele me ofereceu um sorriso fraco. Moon parecia feliz por me ver viva e suas feições deixaram de ficar tensas quando observou os meus batimentos cardíacos.

— Hey, você acordou — ele comentou, aliviado, vindo em minha direção com um copo de café na mão. Embaixo de seus olhos haviam olheiras profundas e seu rosto estava cansado, pesado.

— Hey. Você está aqui desde quando?

Minha voz saiu estranha, baixa, quase não parecia a minha. Moon puxou a poltrona em que outrora meu irmão estava e, antes de sentar, selou minha testa com carinho. Mesmo naquela situação deprimente, ele fazia meu coração acelerar.

— Desde ontem. Os vizinhos ligaram para a polícia quando escutaram os tiros e, bem, parece que eu sou o contato de emergência do Woo.

Assenti com a cabeça, as lembranças da noite passada me atacando com força. Era para ser uma noite tranquila, divertida, mas acabou na pior das tragédias. Foi só então que me dei conta de que, antes de toda a confusão acontecer, eu e Moon havíamos dançando juntos na festa de formatura dele e de como ele estava triste quando Woo começou a me chamar pelo microfone, de como ele se afastou e disse que sempre esteve à sombra de seu melhor amigo. Queria dizer que sei exatamente como se sente.

— De qualquer forma — ele continuou —, quando cheguei na casa de vocês, os dois já estavam sendo transportados para o hospital, então vim junto. Acompanhei todo o processo de entrada, para ver se vocês iriam ser atendidos corretamente. Acredite, foram os momentos mais torturantes da minha vida.

Consegui soltar uma risada fraca. Ele, um médico recém formado, desesperado por causa dos amigos. Sua reação só me faz ter certeza de que Woo não está mais entre nós, que aqueles bandidos não levaram somente meu bebê. Eu lembro vividamente do sangue esclarte no chão, dos urros de Cha e do tiro que ecoou pela sala antes de eu mesma ser baleada. Meu ombro esquerdo pesou imediatamente e olhei para a clavícula enfaixada.

Não posso dizer que estou triste pela morte de Eun Woo. Não estou. Pelo menos foi a única coisa boa disso tudo.

Moon Bin pegou minha mão, me fazendo encará-lo. Ele acariciou meu dorso e eu segurei as lágrimas, totalmente sensível e exposta. A eletricidade percorreu minha pele, que se chocava com a dele. Moon beijou os nós dos meus dedos e vi que ele também estava se segurando para não chorar.

— Não sei o que faria se perdesse você — ele confessou. — Eu senti tanto, tanto medo, Hana. Me senti tão impotente, tão inútil.

— Mas eu estou aqui — rebati, apertando nossos dedos. — A culpa não foi sua.

— Não é irônico que eu seja médico e quando te vi naquela maca, parece que desaprendi tudo que passei seis anos estudando?

Eu ri novamente e ele me seguiu. Até naquele momento, Moony não perdia o senso de humor e me fazia rir, me fazia esquecer um pouco da dor dilacerante que abalava meu peito. Queria apertá-lo contra meu corpo e chorar até não ter mais lágrimas, porém achei melhor não. Posso chorar mais tarde, sozinha no quarto da minha antiga casa. A dor da perda era tão grande que nem me dei ao luxo de ficar feliz por finalmente estar livre. Era uma sensação estranha, mas extremamente satisfatória.

— Ele sentiu muita dor? — perguntei, colocando minha dúvida para fora. Moon Bin franziu as sobrancelhas.

Eu imaginava que a bala tivesse perfurado os pulmões de Woo ou algo do tipo, o que acarretou em uma cirurgia e seu coração não aguentou. Mesmo que aquele cretino tenha destruído minha vida, não acho que alguém mereça uma morte ruim. Cha Eun Woo já vai sofrer demais no outro plano, e espero que ainda mais que eu nesse aqui.

— Eun Woo — expliquei.

A confusão no rosto de Bin me deixou apreensiva.

— Mas ele não está morto, Hana.

Foi como levar uma facada no peito, a segunda desse dia. Minha vontade era de gritar, de socar tudo à minha volta, de desligar todos aqueles aparelhos ou injetar algum medicamento para que o meu coração parasse e essa merda toda chegasse ao fim. Eu estava tão irritada, tão decepcionada. Como aquele cretino continuava vivo, mas o meu bebê, uma alma inocente, foi levado de mim?

Não era justo. Simplesmente não era. A vontade de chorar apenas aumentou, porque agora eu não tinha mais ninguém, nem nada, por quem lutar. Não estava livre, não iria me tornar livre nunca. Teria que continuar com Woo, agora sem nenhuma esperança, sem nenhum motivo para lutar. Serei uma verdadeira morta viva, o fantasma de quem fui um dia.

— C-Como?

— Ele está vivo, Hana. Levou dois tiros, um na coxa e outro na barriga e teve que ser submetido a uma cirurgia, mas está bem.

Mas que merda é essa? Esse degraçado não morre?

— Hana! — uma voz totalmente conhecida me chamou e meu mundo desabou mais uma vez.

Para minha total infelicidade, Eun Woo apareceu no quarto, andando com dificuldade, com muletas, e uma faixa em sua coxa, assim como e deveria ter em seu abdômen também. Seu rosto estava machucado, seu lábio com um corte aparente, sua pele com hematomas roxos.

Queria que estivesse morto.

— Ah, graças a Deus você está bem! — ele exclamou, largando as muletas para me abraçar. Até aquele momento, minha mão estava entrelaçada na de Moon, mas ele me soltou assim que viu o melhor amigo.

Não disse nada. O que diria? Queria que ele estivesse morto, queria que me deixasse em paz. Meus minutos de felicidade duraram pouco.

— Me desculpe por não ter te protegido melhor — ele sussurrou, beijando meus lábios rapidamente, suas lágrimas se misturando com meu rosto. Ele estava chorando? — Me perdoe, querida. Me perdoe por não ter protegido nosso bebê, por não ter nos protegido melhor.

Novamente não disse nada, apenas apertei suas mãos para fingir que apreciava o ato. Ele é um ótimo ator, manipula todos ao seu redor. Me enojava vê-lo chorar, porque é apenas parte do seu teatro, do seu showzinho. Tenho certeza que está feliz por ter se livrado do peso da paternidade.

— Podemos tentar novamente daqui a uns anos. Nós vamos ter nossa família, Hana, eu prometo.

Concordei. Meus olhos encontraram os de Moon Bin e novamente a expressão confusa se fez presente em seu rosto.

— Perdão, mas como assim vocês podem "tentar de novo daqui a uns anos"? — Moony perguntou, se levantando da poltrona.

Woo limpou o rosto e olhou para o seu melhor amigo. Imagino que já tenham se falado.

— Nosso bebê se foi — ele falou por mim e a afirmação me fez derramar algumas lágrimas, que eu estava segurando desde cedo. Falar aquilo em voz alta deixava tudo real.

— O quê? Que absurdo, não diga isso! — Moon ordenou, negando com a cabeça firmemente. — O bebê ainda está vivo, eu mesmo falei com a médica! Foi por pouco, mas essa coisinha linda é valente!

Foi a melhor notícia que já ouvi. Abri um sorriso enorme enquanto as lágrimas ainda caíam e agradeci imensamente por ainda estar grávida. Moony olhou para a minha barriga, também sorrindo, e eu levei minhas mãos ao ventre, acariciando o serzinho que ainda estava ali. Eun Woo fingia felicidade, mas eu conseguia ver a decepção em seu rosto.

— Ah, é um milagre! — Woo exclamou, me abraçando novamente com um sorriso cretino no rosto.

Moony me olhou e eu retribuí, com a cabeça no ombro de Cha. Bin acenou com a cabeça e sorriu fraco antes de pegar seu café e sair do quarto, me deixando para trás com o maior monstro que já conheci.

                        ✾ ✾ ✾

Dois meses se passaram desde que fui baleada. Agradecia diariamente por estar grávida, a barriga começando a dar indícios, mas ficava extremamente desapontada quando lembrava que o cretino do Eun Woo ainda estava vivo. Como podia estar respirando? O desgraçado levou dois tiros, ele devia estar morto. Eu deveria estar bancando a viúva triste agora, não me preparando para casar em três semanas. Maldito, maldito, maldito. Talvez ele realmente seja imortal.

— Ansiosa para o casamento, Hana? — Arya perguntou, sorridente, vindo até mim com dois cafés na mão. Forcei um sorriso.

— Sim, sim. Não vejo a hora — falei, em voz baixa, tentando soar animada.

Park se sentou ao meu lado na mesa dos professores, onde todos se encontravam na hora do intervalo, e me entregou uma das canecas vermelhas, que soltava vapor. Tomei um longo gole da bebida e suspirei de satisfação, sorrindo para Arya. Tínhamos nos tornado muito próximas durante esses dois meses e era muito grata por nossa amizade, acho que já teria enlouquecido se não fosse essa garota atenciosa.

Olhei para Moon Bin, que estava do outro lado da sala, afinando seu violão. Depois do hospital, ele ficou estranho comigo, só tem falado o necessário. O afastamento repentino me fez ficar mal, principalmente porque não sei o que eu fiz de errado. Já tentei perguntar o que aconteceu, mas ele apenas desconversava ou dizia que precisava se concentrar nas crianças. Moony se tornou frio, distante, quase que indiferente e não sei lidar com isso. Sinto falta dele, da sua risada, do seu sorriso, das suas palavras gentis, do seu cheiro, de tudo. Ele me pegou o encarando e me observou de volta, então pensei em sorrir, mas Moon desviou o olhar antes que eu pudesse fazer qualquer coisa.

— Nossa — Arya comentou, chamando minha atenção.

— O que foi? — perguntei, virando em sua direção.

— O jeito que vocês se olharam quase me fez expulsar todos daqui para que fiquem sozinhos — explicou, rindo de leve. Franzi as sobrancelhas. — Não sei, parecia uma cena de filme. Sabe, eu reparei que o Bin te olhava de uma foram diferente. Não é só admiração, é... É algo a mais. Mas nunca pensei que você retribuísse o sentimento, pelo menos até agora.

Inexplicavelmente aquilo fez meu coração bater mais rápido. Arya é um pouco exagerada, mas será que estava certa? Será que eu realmente olhava para Moon Bin de uma maneira diferente? É improvável, certo? E é mais improvável ainda que ele sinta o mesmo. Pensar nisso só me deixará mais triste, não vai me levar a nada. Não sei o que se passa na cabeça de Moony e também não vou ficar aqui tentando adivinhar. Olhei para minha amiga por alguns instantes, absorvendo suas palavras, até que neguei com a cabeça e bebi mais um gole de café.

— Você está louca.

— Ah, qual é! — ela retrucou, sorrindo de canto. — Você acha que eu sou cega? Eu vi o jeito que ele te olha quando você está com crianças e também percebi o jeito que *você olha pra ele, principalmente quando aquela gracinha canta.

Minhas bochechas esquentaram. Eu me sentia em um tabuleiro, totalmente encurralada em um labirinto de acusações ocultas. Aquilo me fez pensar. E se... E se Arya for apenas uma espiã para Woo, esperando por uma falha minha para contar ao lobo que eu descumpri minha parte do acordo e me obrigar a ficar presa novamente? E se ela for os olhos e os ouvidos de Cha naquela escola e está fingindo ser minha amiga para descobrir meus segredos, minhas traições?

Naquele momento, agradeci por não ter me aberto com ela, e nem contato sobre meus sentimentos.

— Arya, eu estou noiva. Vou me casar em menos de um mês, e amo o Eun Woo. Estou muito feliz.

Ela ergueu uma das sobrancelhas.

— Me desculpe, Hana, mas você parece tudo, menos feliz.

Arrá! Aí está a frase capaz de me destruir. Ela está jogando sujo, está me fazendo sentir que ela me entende para que eu abaixe a guarda e estrague tudo. Se eu falar que ela está certa, que não estou feliz, será o meu fim. Ela vai contar a Eun Woo e estarei arruinada. Como pude ser tão ingênua? Como pude não perceber que Woo daria um jeito de me controlar até mesmo ali?

— Você está enganada — afirmei, terminando minha bebida com receio, imaginado o que ela teria colado ali a mando de Cha. Talvez uma mistura de canela, para que eu tivesse um aborto espontâneo e seu chefe não precisasse ter que assumir a paternidade indesejada. — Eu estou muito feliz, na verdade, mais do que feliz. Estou radiante. Vou casar com o homem dos meus sonhos e teremos uma família, é tudo o que eu sempre quis.

As palavras arderam na minha garganta. Não só por serem dolorosas de serem ditas em voz alta, nem pela recente descoberta sobre a identidade verdadeira da única amiga que já tive, mas pelo fato daquela, agora, mentira ter sido verdade um dia. Forcei um sorriso para a garota e saí no exato momento em que o sinal tocou, deixando uma confusa Arya para trás.

                           [...]

Eu estava cuidando da papelada administrativa naquela mesma tarde, já exausta pelos inúmeros papéis que tinham ali. O antigo orfanato acolhia várias crianças e todas elas tinham fichas, parecia ter sido uma coisa organizada. O prédio tinha sido regido por uma tal de M.L, ainda não descobri seu nome verdadeiro. Tia Mer, ela estava sendo chamada assim em alguns documentos, parecia comandar aquele lugar com unhas e dentes, e até 2000 era considerada um exemplo a ser seguido. Contudo, como toda tirana, foi descoberto que ela comprou uma casa, de endereço desconhecido, com o dinheiro que desviava do orfanato, sem contar nos inúmeros relatos de abuso de que foi acusada. Antes de seu julgamento, ela foi encontrada morta em seu apartamento, vítima de vários tiros e de violência sexual. Seu rosto estava machucado, assim como seu corpo.

Quando li a notícia pela primeira, imaginei quem teria feito isso com a mulher. Sei que ela era um monstro, a verdadeira encarnação do mal, mas acho que ela merecia ter sido julgada e ter pago por seus crimes na prisão. De qualquer forma, pelo menos assim não iria machucar mais ninguém. Nunca ousei ir em sua antiga sala, está repleta de energias negativas e não queria dar de cara com seu espírito rondando por aqui. Ouvi histórias desse tipo.

Movendo alguns papéis de lugar, dei de cara com um grosso caderno verde escuro, um pouco gasto devido ao tempo. Franzi as sobrancelhas e o peguei, abrindo-o para encarar as folhas meio amareladas, uma letra tremida preenchendo as linhas invisíveis.


        Este diário pertence a L.D.M

Se você o encontrar, quer dizer que consegui fugir. Se não, quer dizer que a dama de preto me pegou

                Me deseje sorte


Senti um leve calafrio percorrer minha espinha e me sentei novamente na escrivaninha da sala de relatórios. Parecia ser algo muito pessoal, mas eu deveria ler, não? Afinal, se estava ali, significa que a tal dama de preto tinha interceptado sua fulga e que sua história nunca foi lida. Alguém devia isso a ele/ela, certo? Que sua história fosse lida, que alguém tivesse conhecimento sobre ela. Uma olhadinha não vai matar ninguém, não é? 

— Ah, eu vou ler — decidi, abrindo o diário. — Quero saber o que aconteceu nesse lugar.


           13 de novembro de 2007

Eu nunca pensei que diria isso, mas estou com saudades da minha mãe. Ela morreu ano passado e não me senti mal na época, acho que o peso de ser órfão só caiu agora. Odeio admitir, mas sonho com o dia em que meu pai vai entrar por essas portas e me levar embora. Eu sei, eu sei. É ridículo ainda ter esperanças, mas o que posso fazer além de olhar para as estrelas e sonhar?

Ontem a tia Mer pegou pesado comigo e com as outras crianças. Ela disse que sou seu favorito e por isso usa seu chicote especial comigo, que com as outras usa um mais doloroso, que deixa mais marcas. Bom, meu corpo está cheio delas, dos cigarros até as cintadas que recebo quando não faço algo direito. Ela me obriga a contar todas.

Eu não gosto de morar aqui. Preferia ficar com a minha mãe, no meio das drogas, da violência, do que aqui com essa mulher louca e problemática. Tenho medo de me tornar com ela. E se eu...


— Sra. Han? — uma voz me tirou da leitura, me arrancando daquele tempo tão antigo. Agradeci por isso, ler tudo aquilo era angustiante.

Escondi o diário onde só eu pudesse encontrar e caminhei até o início da sala, de onde a voz conhecida vinha. Quando meus olhos encontraram com os dele, minhas pernas ficaram bambas como gelatina e meu coração se transformou em uma bomba prestes a explodir.

— O-Oi.

— Ah, oi — Moon Bin respondeu, surpreso por me ver. Ele estava com uma camisa social vermelha, imagino que esteja vindo do hospital. — Não imaginava te encontrar aqui, Hana.

— Estou fazendo o trabalho administrativo — expliquei, dando de ombros. Pensei que ele faria alguma piada, ou iria comentar que também já passou por isso e que iria acabar quando eu menos esperasse, mas ele permaneceu calado, então prossegui: — O que você quer?

— Estou atrás da Sra. Han. Ela disse que gostaria de falar comigo, pensei que estivesse aqui.

— Não, ela saiu para comprar um lanche alguns minutos atrás. Não deve demorar.

Ele assentiu com a cabeça e olhou para o próprio relógio, soltando um suspiro. O clima estava estranho, tão pesado que poderia nos sufocar.

— Certo. Vou esperar lá fora.

— Espera!

Minha voz saiu mais alta do que pretendi e meus dedos seguraram seu braço. Moony me encarou com uma surpresa clara nos olhos escuros e eu estremeci, respirando de forma pesada.

— Por que está me tratando assim?

Ele franziu as sobrancelhas.

— Assim como? — perguntou, se desvencilhando delicadamente do meu toque.

— Você está estranho, Moon Bin. Tem me evitado desde o dia que saiu do hospital e não está mais falando comigo direito — acusei, cruzando os braços. — O que eu fiz de errado?

O tom machucado em minha voz o fez suspirar e encolher os ombros. Parecia carregar algum peso invisível.

— Hana, você... Você não fez nada de errado.

— Então por que está me tratando com tanta indiferença?

Moony grunhiu e bateu um dos pés no chão, irritado. Ele é uma pessoa tranquila e calma, totalmente serena. Se chegou ao ponto de se irritar, quer dizer que estou sendo insuportável com ele, mas não me importo. Quero respostas, e ele só vai sair daqui quando me der.

— Eu só não posso mais fazer isso, Kim — ele confessou, massageando as têmporas.

— Fazer o quê? Do que está falando?

Moony me encarou fundo nos olhos. Ele abriu a boca para falar, mas uma voz ecoou no ambiente, seguindo de uma leve batida na porta entreaberta.

— Com licença — chamou uma voz masculina, um tanto conhecida, me fazendo amaldiçoar todas as futuras gerações daquele ser.

— Senhor, estamos meio ocupados agora — falei, um pouco impaciente, andando alguns centímetros para o lado no intuito de ver quem era. — Se o senhor esperar...

— Hana? — ele perguntou, surpreso, me fazendo erguer os olhos e os arregalando ao reconhecer quem era o visitante.

— Sr. Kim?

Seokjin abriu um sorriso ao ver que reconheci. Moony ficou ao meu lado, também confuso.

— O que faz aqui? — Jin indagou, ainda sorridente.

— Eu trabalho aqui. E eu vou adorar atender o senhor, eu só preciso terminar uma conversa — anunciei, me virando para Moon.

— Já terminamos — assegurou, firme, me olhando com tanta dureza que quase me fez cair dura no chão. Ele olhou para Jin. — Se me permite, senhor.

Com uma rápida reverência de ambos, Bin deixou a sala, levando uma parte minha consigo. Minha vontade era chorar, correr atrás dele e confessar que não quero perdê-lo, mas tudo o que consegui fazer foi simplesmente ficar no mesmo lugar, paralisada. Parecia que tinham se passado anos desde que ele saiu e entrei em um pequeno transe, completamente sem reação. Fiquei olhando para a porta pelo que pareceu uma eternidade, até que o pirragueio de Jin me trouxe de volta à realidade.

— Acho que cheguei em um momento ruim — ele comentou, colocando as mãos nos bolsos da calça creme. — Desculpe por atrapalhar.

Neguei com a cabeça e me recompus, ajeitando os cabelos.

— Não, não. O senhor não atrapalhou nada, fique tranquilo. Em que posso ajudar?

Ele sorriu.

— Eu preciso falar com a Sra. Han.

Por que todos precisavam falar com ela hoje, justamente agora? Assentindo com a cabeça, caminhei para pegar minha bolsa, pois meu horário já acabou. Olhei para o local onde escondi o diário e prometi a mim mesma que amanhã leria mais.

— Ela saiu para comprar uma coisa, mas tenho certeza que já voltou.

Ele concordou com a cabeça.

— Você já está de saída? — Fiz que sim. — Posso acompanhá-la até os portões?

— Claro.

Eu gostava de Kim Seokjin. Ele é um homem gentil e atencioso, não é atoa que se dá tão bem com meu tio. Eu o conheço desde que era criança, ele faz parte da família. Apesar de não sermos próximos, sei que ele faz muito bem para o tio Namjoon e meu primo, é uma boa pessoa.

— O que está fazendo aqui? — perguntei, sem aguentar a curiosidade que crescia por meu corpo.

— Sou um dos investidores da escola Canto Feliz — explicou, caminhando ao meu lado. — Meu pai doava uma quantia significativa para o antigo orfanato, então pensei em continuar com a tradição.

— Entendi. Você sabia do que acontecia aqui antes?

— Não na época que aconteceu. Meu pai me mandou para estudar no exterior por um tempo e, quando voltei, todos já estavam dizendo que era o pior orfanato de Seul e comentavam sobre as atrocidades que aconteciam aqui.

Concordei. Eu e ele não sabíamos nem metade das coisas que aconteceram aqui, imagino que nem as autoridades sabem. A história esconde coisas, assim como as pessoas, e tenho certeza que não foram todas as crianças que denunciaram a diretora.

— Ela ficou no poder por dezesseis anos — comentei, apertando alça da bolsa com os dedos. — Imagine o que deve ter feito?

Seokjin suspirou.

— Não gosto muito de pensar sobre isso. Todas as crianças que estiveram no orfanato precisavam de amor e carinho, mas receberam exatamente o contrário. Se fosse o meu filho... Se ela tivesse feito isso com o meu filho ou filha... Deus, eu não iria responder por mim.

Eu compartilhava do mesmo sentimento e imediatamente levei minha mão ao ventre. Aquele serzinho que ainda nem tinha nascido havia se tornando a coisa mais importante do meu mundo e eu daria minha vida por ele.

— O senhor tem filhos?

A pergunta o pegou de surpreso e pareceu machucá-lo. Me arrependi no mesmo instante. Burra! Óbvio que ele não tem filhos, Hana, você por acaso já o viu com alguma criança que não fosse o Taehyung? Incrível como você só faz besteira.

— Bem, não. Não tenho.

Ele abriu um sorriso fraco.

— Eu sinto muito. Não quis...

— Tudo bem, Hana — ele afirmou, com um sorriso doce nos lábios. — Eu sempre quis ter filhos, mas nunca encontrei a pessoa certa. Quer dizer, eu amei uma vez, mas infelizmente vivíamos realidades diferentes e... E o meu pai não permitiu que ficássemos juntos.

Era notável a dor em sua voz, emanando de cada palavra. Deve ser horrível amar alguém e não conseguir ficar com a pessoa, não gosto nem de imaginar a angústia que ele deve carregar no peito. Passei a mão por suas costas largas, para lhe passar algum conforto, sem saber o que dizer.

— Eu realmente sinto muito, Sr. Kim. Não queira fazê-lo lembrar dessas coisas.

— Bobagem. — Ele riu. — Pelo menos eu tive a sorte de amar e ser amado também. Mesmo depois de tanto tempo, ainda tenho esperanças de que posso reencontrá-la e que podemos ter uma segunda chance, uma nova oportunidade.

A convicção em sua voz me impressionou. Ele realmente acredita naquilo, realmente acredita que pode reencontrar o amor da sua vida e recomeçar. A felicidade em seu rosto em dizer que foi amado é indescritível e queria sentir a mesma coisa. Queria um amor verdadeiro, queria essa sensação de ser amada, de amar, de lutar por alguém, mas nunca terei isso. Serei fadada a uma vida sem amor, sem felicidade, sem nada. Apenas eu, Eun Woo e nosso filho, ligados por duas alianças que daqui a três semanas iriam me prender para sempre com aquele cretino.

— Isso é muito inspirador — comentei, sorrindo.

Seokjin sorriu também e chegamos em frente aos portões azuis. Eun Woo estava no carro, já me esperando, e acenou quando me viu. Acenei de volta e me virei para o mais velho ao meu lado.

— Preciso ir. Meu noivo está me esperando.

Seokjin olhou na direção de Woo e acenou, sorrindo novamente.

— Ele é um cara de sorte. — Eu ri e neguei com a cabeça. — Quando vai ser o casamento?

— Daqui a três semanas. Já mandei o convite para o meu tio e, é claro, o senhor está convidado.

Jin soltou uma risada.

— Por favor, pare de me chamar de senhor, fico parando ainda mais velho do que já sou — ele brincou. — E é claro que eu irei, com todo o prazer.

— Tudo bem. Acho que a Sra. Han já está na sala dela e já pode atender você.

Dei ênfase na última palavra, o que fez rir ainda mais. Eu sorri e o abracei rapidamente, acenando antes de caminhar até o veículo e entrar, sem falar com Woo diretamente. Olhei para Seokjin mais uma vez, que acenou, e dentro de poucos minutos ele sumiu do meu campo de visão.

— Eu não ganho nem um beijinho? — Woo perguntou, manhoso, apontando para a própria bochecha. Revirei os olhos e fiz o que pedi. — Agora está bem melhor.

O sorriso convencido em seu rosto me fez querer vomitar. Me virei para a janela e pensei na briga que tive com Moony, me perguntando o que eu teria feito de errado para que ele estivesse me evitando. Ele disse que eu não fiz nada, mas sei que tem alguma coisa estranha, algo que não encaixa.

— O que aquele cara estava fazendo aí? — Cha indagou, com a mesma expressão no rosto que da primeira vez que viu Seokjin.

— Ele é um dos investidores da escola.

Woo revirou os olhos.

— Então ele é rico?

— Imagino que sim.

Eun apoiou o queixo nas mãos, o indicador sobre os lábios avermelhados. Com a outra mão ele batucava os dedos no volante, pensativo. Não gostava quando ficava assim.

— E por que você estava falando com ele?

Franzi as sobrancelhas, totalmente incrédula.

— Ele é o melhor amigo do meu tio. Eu o conheço há anos, Cha.

— Não gosto da energia que ele me passa. Com certeza é um velho tarado — ele comentou, me fazendo ficar ainda mais indignada. — Ele já tentou passar a mão em você?

— Eun Woo! — gritei, atingindo ao meu limite. — Já chega!

— Essa reação só me faz ter certeza de que estou certo.

— Ah, por favor! — retruquei. — O Jin é uma ótima pessoa, um homem incrível e gentil, jamais faria isso!

Woo parou no sinal e me olhou mortalmente, cheio de acusações.

— Então quer dizer que foi consensual?

Aquilo foi demais. Meu sangue ferveu e meu corpo agiu por si só, quando dei por mim tudo já estava feito. Bati no rosto de Eun Woo com força, um tapa estalado que deixou sua bochecha vermelha.

— Eu nunca, nunca mesmo, tive nada com o Sr. Kim, seu doente. Ele sempre foi muito respeitoso comigo, diferente de você.

Woo ainda estava incrédulo, com a mão sob a área avermelhada. Respirei com dificuldade por alguns segundos, com medo do que ele fará comigo, sei que não sairei ilesa. O desgraçado soltou uma risada sarcástica e puxou meu cabelo com força, me trazendo para perto de si.

— Já entendi o que quer fazer, vadia. Se acha que vou permitir que você me deixe por ele, só porque o velhote tem mais dinheiro, está muito enganada.

— Eu não...

— Cala a merda da boca!

Estremeci. Eu sabia, eu sabia. Eun Woo nunca vai mudar, ele não tem mais conserto. Estava demorando para ele perder o controle de novo, e a culpa é toda minha. Ele dirigiu até um beco solitário e me jogou para o banco de trás, ficando sob mim.

— Sabe por que você está assim, vadia? — indagou, me dando um tapa. — Porque eu te dei liberdade, porque estou sendo bonzinho com você por causa dessa merda desse bebê.

— Me perdoe, Woo, me perdoe, por favor. Eu estou completamente arrependida, eu...

— Ah, eu sei que está — ele afirmou, sorrindo da pior maneira que já vi. Ele começou a tirar o cinto e levantou meu vestido. — Você vai me mostrar como está arrependida, agora mesmo.

Segurei as lágrimas que queriam descer. Woo segurou meus pulsos com uma das mãos e com a outra desceu minha calcinha, me amarrando com seu cinto depois. O desgraçado continuou a bater no meu rosto e senti meu lábio ser cortado, ele estava descontando toda a sua raiva em mim. Pelo menos não tinha tocado na minha barriga.

— Se você não perdeu a porra desse bebê antes, tenho certeza que vai perder agora.

— Não! Por favor, não!

Woo apenas tampou minha boca e entrou dentro de mim, fazendo com que os gritos apenas se intensificarem por conta da dor gritante. As lágrimas desciam pelos meus olhos e se misturavam com os dedos dele, enquanto aquele cretino ofegava e me xingava das piores coisas possíveis.

Apenas fechei meus olhos para que acabasse mais rápido.

                          [...]

— Está tudo bem com você e com o bebê, Srta. Kim — falou a médica, doutora Choi, sorrindo para mim. Suspirei aliviada.

Dois dias depois do que aconteceu no carro, Woo me largou aqui no hospital e foi fazer alguma outra coisa, não queria saber do bebê. Ele não me pediu desculpas pelo que aconteceu e lamentou não ter conseguido abortar o próprio filho, me enojando ainda mais. Aquilo poderia caracterizar uma quebra do nosso acordo, mas não faria diferença se eu falasse isso ou não, Woo que dita as regras, ele que mando no jogo.

— A partir do próximo mês já poderemos escutar as batidas do coraçãozinho dele/dela — ela informou, passando o equipamento pelo meu ventre. — Vai querer descobrir o sexo na próxima consulta?

Assenti com a cabeça. Queria que alguém estivesse comigo quando eu descobrisse e, principalmente, queria que esse alguém fosse Moon Bin. Para isso, preciso fazer as pazes com ele o quanto antes.

— Olhe, Srta. Kim — ela pediu, apontando para a máquina de ultrassom. — É o seu bebê.

Não consegui ver de primeira, tive que estreitar os olhos para poder enxergá-lo. As lágrimas apareceram de imediato no meu rosto e eu sorri, completamente emocionada. Ele era uma coisinha pequena, frágil e totalmente adorável. Meu coração se aqueceu de uma maneira inexplicável e eu só queria poder segurá-lo nos braços o mais rápido possível.

— Dra. Choi, desculpe interromper, mas... — a voz de Moon Bin ecoou pelo quarto e eu levei o olhar até porta, onde ele estava, atordoado por me ver. — Hana?

— Moony?

— Ah, vocês já se conhecem! — exclamou a médica, sorridente. — Ótimo, ótimo. O Dr. Moon é o meu assistente e vai ficar com você por alguns segundos, preciso ver uma outra paciente, mas não vou demorar.

Ela apertou levemente meu ombro e caminhou até Bin.

— Cuide bem dela, doutor.

— Pode deixar, Dra. Choi.

Sorrindo novamente, ela saiu. Me senti um tanto desconfortável, sem saber o que fazer ou o que falar. Moony caminhou, envergonhado, para perto de mim e sentou no lugar onde a médica estava outrora.

— Então... — comecei — Está trabalhando aqui agora?

— Sim. E estou fazendo residência também.

— Já? — Ele concordou. — Parabéns.

— Obrigado.

— Obstetrícia?

— Sou louco por bebês. Não me imagino fazendo outra coisa.

Eu sorri. Moon Bin seria um ótimo pai um dia. Ele olhou para a máquina de ultrassom e também sorriu, depois encarando meu ventre.

— Posso tocar?

— Por favor.

Ele se aproximou de mim e sorriu, colocando a mão sob o gel e acariciando com o polegar. Um arrepio percorreu minha espinha.

— O bebê só vai se mexer daqui a alguns meses, mas é ótimo tocar em você e saber que tem um serzinho aqui — ele comentou, sorrindo bobo.

— Eu sei. Faço isso todo dia, não vejo a hora de senti-lo mexer.

— Já sabe o sexo?

Mordi o lábio, nervosa.

— Ainda não. Vou descobrir só no mês que vem.

Ele concordou.

— O Eun Woo provavelmente não vai poder vir — anunciei e Moony me encarou confuso. — Ele vai viajar para resolver algumas coisas no exterior depois da lua de mel, vai ver se consegui uma bolsa ou algo assim.

— Sinto muito.

Mordi minha língua antes que eu dissesse que não dava a mínima para Cha.

— Eu queria saber se...

— Se? — Ele arqueou uma das sobrancelhas.

— Se você gostaria de descobrir junto comigo.

Moony arregalou os olhos, completamente surpreso.

— Eu?

Sorri.

— Sim, você.

O garoto continuou calado, em um misto de choque e impacto que já estavam me deixando angustiada. E se ele dissesse não? E se me mandasse parar de chamá-lo para fazer as coisas? E se ele tivesse se cansado de mim e agora iria me mandar para fora de sua vida? Depois do que pareceu uma eternidade, ele respondeu:

— Eu adoraria. Obrigada por me chamar, fico muito honrado.

Sorri ainda mais. Moon Bin estava perto o suficiente para que eu sentisse seu cheiro e não me controlei. Segurei sua mão, que ainda estava sob meu ventre, e apertei seus dedos, o que fez com que o garoto me encarasse. Desejei que ele pudesse enxergar nos meus olhos o quanto eu queria que me beijasse naquele momento, queria que percebesse que é um dos meus únicos amigos verdadeiros.

— Hana, eu não posso...

— Shhhhh — sussurrei, e o puxei delicadamente para mais perto de mim, agora capaz de sentir sua respiração se juntar com a minha. — Por favor, não fuja outra vez.

— O que você quer que eu faça?

Eu sabia que era errado. Sabia que estava arriscando minha vida fazendo aquilo, sei que Eun Woo poderia surgir a qualquer momento e nos pegar desse jeito, em um momento tão íntimo e apaixonado. Mas eu não conseguia me importar, queria fazer algo para mim, sem ligar para as consequências. Eu queria beijá-lo, queria senti-lo, e era assustador finalmente confessar aquilo para mim mesma, era uma área totalmente desconhecida. Moony é meu amigo há anos e nunca tinha o visto desse jeito, não até agora. Não posso continuar ignorando essa sensação.

— Eu só quero você. Apenas isso.

As palavras saíram com facilidade da minha boca, como se quisessem ser ditas em voz alta há muito tempo. Olhei para Bin, que tinha os olhos cravados nos meus e nossas testas estavam coladas.

— Me desculpe, Hana. Eu simplesmente não posso. Eu... Eu não posso.

Moony suspirou de forma profunda e se afastou, levando seu calor consigo. Ele passou as mãos violentamente pelos cabelos castanhos e, nesse instante, a doutora Choi voltou, sorridente como sempre.

— Obrigada, Dr. Moon. Pode voltar aos seus afazeres agora.

O médico assentiu com a cabeça e tenho certeza que ficou feliz por poder ir embora e se livrar de mim.

Ele não me olhou quando deixou a sala.

                         ✾ ✾ ✾

As três semanas que se passaram foram tristes e angustiantes. Eu não estava mais falando direito com Arya e Moon Bin continuava me ignorando, então eu estava sozinha na escola Canto Feliz. A única pessoa com quem eu ainda conversa era Seokjin, mas ele visitava pouco a escola. Afinal, era um cara ocupado.

Nunca acordei tão chateada e infeliz quanto no dia do meu casamento. Irônico e trágico, não? Sempre sonhei com esse dia, desde que era uma garotinha. Sempre achei que me casaria com alguém que realmente me amasse e que eu amasse também, imaginei que viveria um conto de fadas com meu príncipe encantado, não com o vilão da minha história. Pensei que teria madrinhas, que poderia escolher onde seria a lua de mel, mas tudo não passa de um sonho. A única coisa que realmente pude escolher foi meu vestido e dentro das ordens do meu futuro marido.

Meu vestido era estilo sereia, com mangas até os cotovelos, cobertas por rendas elegantes. O véu cobria meu rosto inteiro e os poucos brilhos da roupa pinicavam minha pele sensível. Meus cabelos estavam presos em um delicado coque trançado e nas minhas orelhas três brincos pequenos habitavam, enfileirados pela ordem de tamanho. Eu estava na suíte da casa de campo que Woo alugou, respirando fundo para não vomitar. Eu deveria estar pensando no meu noivo, mas só quem vinha em meu encontro era Moon Bin, que estaria no altar ao lado daquele que me receberia como esposa.

Eu queria que Moony fosse o homem com quem me casaria. Não sabia explicar o motivo, mas queria. Precisava. Queria que tudo tivesse sido diferente, que ele fosse o homem da minha vida. Por que não percebi isso antes? Por que fui tão cega ao ponto de não perceber que... Que era apaixonada por ele?

Meu Deus. Eu estava apaixonada por Moon Bin.

— Pronta, filha? — meu pai perguntou, entrando no quarto com um sorriso no rosto. Ele pegou minhas mãos e as beijou, e pude ver pequenas lágrimas nos cantos de seus olhos. — Você está tão linda, Hana. Estou tão orgulhoso de você.

Forcei um sorriso e concordei com a cabeça. Como ele não enxergava o quão infeliz eu estava? Ele levantou meu véu e beijou minha bochecha, estendendo o braço para que eu o pegasse, que o fiz. Descemos as escadas juntos, o brilho das estrelas iluminando aquela casa enorme. Meu pai me conduziu para o jardim, onde estavan os convidados, e a marcha nupicial começou a tocar, fazendo meu estômago embrulhar. Pela primeira vez na vida, todos os olhares se voltaram para mim. Só queria que fosse para a situação certa.

No final do corredor, na ponta do tapete vermelho, estava Eun Woo, completamente arrumado em seu terno preto, que combinava com a noite escura. Assim que me viu, ele sorriu e desabafou em lágrimas, recebendo de Jin Jin um tapinha nas costas. Não ousei olhar para o lado dele. Enquanto eu andava, em uma velocidade mais lenta que de uma tartaruga, olhei os inúmeros amigos do meu noivo, que eu sequer conhecia. Meus convidados eram tão poucos que eu podia contar nos dedos. Yugy estava, também, com lágrimas nos olhos, sendo acompanhado de Jackson e Mark, que sorriam para mim com orgulho. Perto deles estava Arya, que também sorria. Não consegui inventar uma desculpa plausível para informá-la que não a queria mais ali. Ela estava radiante, afinal, seu chefe conseguiu o que queria, não?

Minha madrasta também compareceu, seguida por Namjoon, Taehyung e Seokjin. Todos sorriram para mim quando passei, até mesmo a megera. Talvez estivesse feliz por finalmente iria se livrar de mim definitivamente. E, é claro, também tinham as garotas que me encaravam com ódio e que desejavam que eu tropeçasse e caísse, o que quase aconteceu duas vezes, mas meu pai me segurava de maneira firme. Parecia realmente feliz por mim, embora eu não compartilhasse daquele sentimento. O que me deixava ainda mais irritada era o completo cinismo de Woo, que ainda tinha lágrimas nos olhos. Gostaria que pudesse se afogar com elas.

Tudo estava razoavelmente bem até que meus olhos se encontraram com os de Moon Bin. Ele estava lindo, como já era de se esperar. Encontrava-se ao lado de Jin Jin, exalando aquela elegância que apenas ele tinha, com aquele sorriso de tarde de verão. Sorriso esse que estava direcionado na minha direção, sorrindo para mim. Parei de andar no mesmo instante, não consegui dar nenhum passo a mais.

— Querida, o que foi? — papai perguntou, completamente preocupado.

Eun Woo me encarou confuso e diria que até mesmo tenso. O que aconteceria comigo se eu cancelasse o casamento? Yugyeom e Mark iriam me apoiar e me defender, tenho certeza. Uma pessoa pode voltar atrás na decisão, não é? Cha não iria se entregar dizendo que eu era obrigada a se casar com ele. Não, não. Ele teria que fazer a linha de bom moço, o próprio personagem que criou para si e teria que aceitar minha decisão. Mas o que viria depois?

Eu não o amava. Mais do que isso, eu sentia repulsa. Queria que ele fosse para o inferno e nunca mais saísse de lá. E o mais importante: Não era por ele que eu estava apaixonada. Descobri tarde demais, mas descobri. Todo esse tempo, durante esses dois anos, Moon Bin sempre esteve ao meu lado, nunca me deixou por nenhum segundo. Ele é meu porto seguro, a calmaria que faltava na minha e eu sou apaixonada por ele.

Eu sou apaixonada por Moon Bin.

Mas ele sentia o mesmo? Valia a pena arriscar minha vida por uma paixão que eu nem sei se é recíproca? Olhei para Moony, relevando minhas dúvidas com apenas um olhar. Ele abriu um sorriso fraco e moveu os lábios sem emitir nenhum som:

Continue. Case com ele.

Foi como levar um soco no estômago, ou como se tivessem cravado uma faca no meu coração. Levar um tiro não se comparava com a dor que senti naquele momento, a dor de ter um coração partido. Segurei as lágrimas e acenei com a cabeça, de uma maneira que só ele conseguisse ver. Desviei o olhar e o parei em Eun Woo, que continuava à minha espera. Então era isso. Esse era o meu destino, era o meu fim. Essa era minha história.

— Me desculpe. Podemos continuar — sussurrei para o mais velho e ele suspirou de alívio.

Meu noivo não ficou diferente. Ao me ver caminhar em sua direção novamente, Woo sorriu e pareceu tirar um peso invisível das costas. Não olhei mais para Moony, não consegui. Quando parei perto de Cha, meu pai abriu um sorriso para genro e apertou sua mão, me abraçando em seguida. Ele olhou para nós dois mais uma vez e se sentou ao lado da esposa.

— Você está linda — Eun sibilou, tomando-me pela mão.

— Obrigada.

Ele beijou minha testa e acariciou meu dorso, enquanto eu segurava a vontade de sair correndo.

— Estamos aqui hoje para celebrar a união de Kim Hana e Cha Eun Woo em matrimônio — começou o mestre de cerimônia, sorrindo para nós dois. — Esse amor teve início na faculdade, há quase três anos, e perdura até hoje. Hana era uma menina tímida que foi levada contra sua vontade para uma festa de veteranos e Eun Woo se encantou desde a primeira vez que a viu. Se não foi o destino a os unir, não sei o que foi.

"O diabo, talvez", pensei amargurada.

— Daremos início aos votos e depois à entrega das alianças.

Eu não fazia a mínima ideia do que dizer. Não me dei ao trabalho de escrever texto algum. Woo pegou o microfone do mestre de cerimônias e deixou escapar mais algumas lágrimas. Me vi no trabalho de sorrir e secá-las.

— Eu te amo há exatamente dois anos e cento e oitenta dias — Woo iniciou, contendo as lágrimas. — Para ser sincero, não sei ao certo o que você viu em mim. Você sempre me enxergou como um cara simples, sem o título de rei do campus ou aluno de ouro. Sempre gostei disso em você. Hana, você é a mulher da minha vida, não tenho dúvidas disso. Sei que sou uma pessoa difícil de conviver, mas só Deus sabe o quanto sou apaixonado por você e agradeço por te ter na minha vida.

"Nos meus piores momentos, você esteve lá por mim. Aprendi o que é ser amado e também o que é amar alguém com todo o coração. Eu tenho tanto medo de te perder, de que você um dia acorde e se canse de mim, se canse de nós. Você me deu uma família, uma família de verdade! Teremos um filho em breve e eu não poderia estar mais feliz. Eu só tenho a agradecer. Eu te amo, Kim."

Uma chuva de aplausos ecoou pelo jardim e alguns soluços também. Eu estaria mentindo se dissesse que também não estava chorando, mas por motivos diferentes. Eun Woo era apenas um personagem, uma pessoa inventada, nada daquilo era real. Era tudo um jogo, manipulação barata. Mas, mesmo assim, me odeio por ter enxergado, naquele momento, o antigo Eun Woo, o garoto por quem fui apaixonada um dia. Chorei porque ele nunca foi real e nunca será. É apenas um fantasma esquecido, que ama me atormentar.

— Você não é quem eu imaginei que seria — falei assim que o microfone veio para minhas mãos. Eu não iria conseguir mentir. — Eu só... — Fiz uma pausa por causa das lágrimas. — Eu só posso dizer que eu compartilho do mesmo sentimento. Obrigada por me tornar uma pessoa mais forte, por me dar nosso bebê e pela oportunidade de crescer como ser humano. Ninguém além de você saberia exercer o papel de marido. Eu te amo.

Mais uma enxurrada de palmas. Agradeci por todos pensarem que sou tímida, porque não conseguiria falar mais que isso. Eu já estava no meu limite, queria vomitar e sentia minha pressão subir a cada palavra. Todas as indiretas contidas nas frases foram captadas em Woo, porque consegui ver a dor em seu olhar. Tudo aquilo significava apenas uma coisa: "Eu nunca vou te amar de novo, seu filho da puta."

— As alianças, por favor — o mestre de cerimônias falou.

Duas crianças vieram em nossa direção, saltitantes e não consegui esconder o sorriso. Agradeci por Jackson me emprestar seus sobrinhos, eram as coisinhas mais fofas do mundo. Cha pegou a aliança menor, um dourado reluzente que podia cegar qualquer pessoa, e segurou minha mão. Meu estômago gelou e minha boca ficou seca, a cena me estapeando sem piedade.

— É de livre e espontânea vontade que você, Cha Eun Woo, se une em matrimônio hoje com essa bela moça?

O médico abriu um sorriso enorme e assentiu com a cabeça.

— Sim.

— Você aceita Hana como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la até os últimos dias de sua vida?

Um arrepio percorreu minha espinha.

— Eu aceito.

Me segurei para não vomitar. Tentei sorrir da melhor maneira que consegui e manti meus olhos no mais velho, ou então iria desmaiar ali mesmo. Woo deslizou a aliança pela minha mão esquerda, beijando-a assim que o adorno dourado se fez presente em meu dedo. Segurei as lágrimas desesperadas que queriam escapar e pensei que iria cair dos saltos.

Era minha vez. Peguei a outra aliança, a maior, no que me pareceu lento demais, porque meu corpo não recusava a fazer aquilo. Segurei a mão de Woo, tentando conter a respiração ofegante. Tudo tinha que parecer absolutamente normal, não podia haver erros. Cha já sentia-se desafiado somente pela menção da minha desistência minutos, não quero piorar as coisas.

— É de livre e espontânea vontade que você, Kim Hana, hoje se une em matrimônio com esse belo rapaz?

Engoli em seco. As palavras queimaram em minha garganta, arranhando minhas cordas vocais sem dó.

— Sim.

Escutei o suspiro de alívio de Woo, enquanto meu corpo se retraía.

— Você aceita Eun Woo como seu legítimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo, até os últimos dias de sua vida?

As palavras fizeram minha gente girar, meu maxilar enrijecer e o coração pulsar forte, totalmente desesperado. Minha mente pensou em uma saída, mas não achei nenhuma. Era isso. Eu estava acabada, não podia fazer nada. Só tinham se passado alguns segundos desde que a pergunta foi feita, mas parecia uma eternidade. Para piorar minha situação, meus olhos cruzaram com os de Moon Bin e a dor do coração partido voltou a me atingir com tudo.

Somente com o olhar, pedi que reconsiderasse. Apenas uma palavra dele, um único gesto, e eu acabaria com tudo aquilo sem pensar nas consequências. Implorei para que ele não me deixasse ir, para que fizesse alguma coisa, mas Moony não esboçou reação alguma quanto às minhas súplicas silenciosas. Consegui enxergar algo em seus olhos bonitos, algumas pequenas lágrimas, mas talvez fosse de felicidade pelo amigo. Tinha algo a mais, uma dor velada que eu não conseguia entender, uma promessa vazia em meio ao caos.

Por fim, como se me desse autorização para prosseguir, Moon Bin balançou a cabeça em minha direção, tão discretamente que apenas eu percebi.

Então dei continuidade à cerimônia.

Olhei ao meu redor, para o homem com o microfone estendido em minha direção e por último para Woo, que me encarava em uma ameaça clara, misturada com preocupação e tensão. Dei meu melhor sorriso e usei a mão livre para enxugar a lágrima que escorria pela minha bochecha.

— Eu aceito.

Todos no jardim voltaram a respirar novamente, incluindo meu noivo. Coloquei a aliança em seu dedo e imaginei seu gesto, a beijando quando encontrou a base do dedo de Woo.

— Eu os declaro marido e mulher — o cerimonialista, sorridente, anunciou. — Pode beijar a noiva.

Estava feito. Sem chance de arrependimento, sem perspectiva de melhora. Estávamos casados, presos um ao outro pelo resto da vida, pois aquele cretino jamais iria me deixar em paz. Woo sorriu e levantou meu véu, segurando meu rosto com delicadeza antes de inclinar em minha direção e me beijar. Foi um beijo calmo, lento, digno de um filme hollywoodiano. Mas tinha apenas um problema: Quem me beijava não era o mocinho da história, era o vilão, aquele que me destruiu de todas as formas imagináveis e inimagináveis.

O verdadeiro mocinho da história estava atrás dele, vendo aquela cena. Mesmo de olhos fechados, eu sabia que Moon Bin era uma das pessoas que nos aplaudiam com fervor, talvez sem saber que quem deveria estar ali, comigo, era ele. Ele, aquele garoto tão doce e companheiro, era o meu verdadeiro amor. Mas já era tarde demais para nós dois, nossas linhas nunca mais voltarão a se cruzar. Ele está escrevendo sua própria narrativa, e eu não faço mais parte dela. Posso aparecer em um capítulo ou outro, mas jamais seria a protagonista.

— Eu te amo — Woo sussurrou, colando nossas testas após terminar o beijo que fui obrigada a retribuir.

— Vá à merda — sussurrei de volta, em um tom tão baixo que só ele foi capaz de escutar. Para manter as aparências, sorri.

Eun Woo ficou em silêncio, digerindo minha frase. Minhas palavras pareceram o machucar, mas pouco me importei. Queria que mesmo tivessem machucado. Queria que sangrasse como eu.

Cha se recompôs rapidamente e me pegou pela mão, sorrindo e acenando para os convidados. Enquanto caminhávamos para dentro da casa, uma chuva de arroz pairou sobre nós, jogada por aqueles que se alegravam na nossa união. Eram os únicos felizes ali. Eu e Woo caminhamos para o enorme salão onde seria realizada a festa, com nessas arrumadas e uma decoração linda, tudo em branco e azul cintilante. Os convidados nos seguiram, se acomodando nos lugares e preenchendo o espaço outrora vazio. Eu e Woo nos sentamos na maior mesa, no centro do salão e perto da pista de dança onde dançaríamos dentro de poucos minutos, onde nossos amigos próximos e familiares também estavam.

Olhei para todos os presentes na mesa — papai, Kyung Mi, Yugy, Jackson, Mark, Jin Jin, Taehyung, Seokjin e Namjoon —, exceto para Moony, não conseguia encará-lo naquele momento. Eu sentia seu olhar sobre mim e sabia que não deveria estar chateada, porque eu mesma me coloquei naquela situação, mas a decepção presente em meu peito por perceber que ele não iria me salvar, que não era meu príncipe encantado, era difícil de ignorar.

Continuarei fazendo o que sempre fiz durante toda a minha vida: Lutar sozinha. Me salvar sozinha.

Pelo menos eu ainda tinha meu bebê. Olhei para minha barriga, colocando a mão sobre o serzinho que estava ali. Aquele vestido era um pouco colado, então a barriga pequena se salientava debaixo do tecido. Me assustando, Woo colocou a mão em cima da minha, apertando meus dedos. Encarei-o com confusão, pensando em uma maneira de tirar a mão dele de mim sem causar alarde.

— Me desculpe por tentar tirar isso de você — ele sussurrou. — Prometo que serei um bom pai.

— Não precisa fingir que quer isso. Só peço que você não me machuque, eu quero ter essa criança.

— E você terá — garantiu, me encarando de maneira firme. Não sabia se estava mentindo ou não. — Sabe, eu estava pensando... O que acha de morarmos fora?

Arregalei os olhos.

— Fora?

— Sim. — Ele sorriu — Se eu conseguir essa bolsa, podemos morar no exterior. Acho que seria o melhor para nós.

Entrei em pânico, um desespero na ponta do meu estômago. Não só por saber que, se fôssemos embora de Seul ele conseguiria finalmente me isolar de todos, mas também por não ter a menor ideia de como conviver em comunidade novamente. Sem contar que eu perderia o contato com meu irmão, perderia a pequena liberdade que adquiri e não veria mais Moon Bin.

A ideia me fez gelar por completo.

— Podemos conversar sobre esse assunto em outro momento? — perguntei, me remexendo inquieta na cadeira.

Woo pareceu meio decepcionado, mas concordou.

— Claro. Não é mesmo o momento.

Forcei um sorriso e respirei com uma certa dificuldade.

— Agora vamos chamar o casal da noite, Eun Woo e Hana, para sua primeira dança como casados! — o cerimonialista, que descobri se chamar Ryan, falou, sua voz ecoando pelo salão.

Casados. Senti todo o peso da palavra, que me acertou como um raio. Eun Woo era meu marido, realmente tínhamos nos casado. Eu viveria infeliz até não servir mais para Cha, até que ele surtasse de vez e tirasse minha vida. O que seria do meu bebê com um pai desses? O que seria da minha família caso eu não obedecesse?

O barulho da cadeira de Woo indo para trás e a música lenta ecoando pelo ambiente me fizeram despertar desses pensamentos.

— Vamos? — Woo indagou, sorrindo, e estendeu a mão para que eu a segurasse.

Antes de me levantar, olhei para Moony, que me lançou um sorriso fraco. Não retribuí.

— Vamos.

Fiz a melhor expressão de felicidade que consegui e acompanhei meu marido até a pista de dança. Levei uma de minhas mãos até seus ombros enquanto a outra estava entrelaçada com a dele. Woo me conduziu com delicadeza, segurando minha cintura enquanto dançávamos. Tentei passar felicidade, embora eu estivesse uma completa bagunça. Sorri algumas vezes, grata pela melodia deixar a situação mais suportável. Quando terminamos, novamente uma chuva de aplausos eclodiu.

— Eu gostaria de fazer um discurso — papai anunciou depois que eu e o médico nos sentamos na mesa. Ele me olhou com orgulho, sorrindo de forma melancólica. — Ah, filha... Nem acredito que já cresceu. Foi tão rápido. Outro dia você era apenas uma garotinha que tinha medo do escuro e de palhaços — uma onda de risos, incluindo o meu, foram ouvidos —, e agora é uma mulher adulta, casada, com um emprego e prestar a formar sua própria família. Sei que falhei muito com você e seu irmão, sei que não fui o melhor pai do mundo, mas quero que saiba que estou muito, muito orgulhoso pela pessoa maravilhosa, amorosa e incrível que você se tornou. Eu te amo, Hana. E espero que Eun Woo faça você feliz, porque se não toda essa família vai tratar de dar um sumiço nele.

Eu ri novamente, em meios às lágrimas, apertando a mão do meu irmão, que também estava emocionado. Nós dois sorrimos um para o outro, as lembranças de nossa infância solitária voltando com tudo. Eun Woo também riu e passou o braço pela minha cintura, acariciando a região. Quis socar sua mão, mas me contive.

— Todos sabem que sou um cara de poucas palavras, mas agora sinto que preciso falar alguma coisa — meu irmão se pronunciou, levantando-se da cadeira e sendo seguido por Mark e Jackson. — Sou o gêmeo mais velho por sete minutos e meio, mas as pessoas que nos conhecem sabem que a Hana é muito mais inteligente que eu e muito mais bonita também. — Eu e os convidados rimos. — Não tenho problema algum em admitir isso. Minha família é tudo na minha vida e nunca escondi esse fato. Hana, eu, assim como todos dessa mesa, queremos o melhor para você. Eu e os meninos te apoiaremos em qualquer decisão que tomar, porque te amamos e te queremos bem. Felicidades ao casal.

Lançando um olhar afiado ao meu marido, Yugy apertou minha mão mais uma vez e voltou a se sentar. Aquilo me deu esperanças, me deu forças, me mostrou que não estou sozinha. Meu irmão quase não era de falar muito, mas quando o fazia sempre trazia consigo palavras de conforto que agiam em mim de uma forma extraordinário.

— Faço as palavras do Yugyeom as minhas — Jackson concordou, sorrindo. — Você é a irmã que eu nunca tive e quando sumiu me senti perdido, desnorteado, sem saber o que fazer agora que não tinha mais minha melhor amiga para conversar, brincar, e comer pizza aos sábados no dormitório. A universidade se tornou pacata, sem graça, porque você era o sol que iluminava nossas vidas, é a melhor pessoa que já conheci. Eu te amo, Hana, e desejo tudo o de melhor para vocês dois.

Sussurrei um "Eu também te amo" e me levantei para o abraçar, beijando sua bochecha, que ficou molhada pelas minhas lágrimas.

— Eu concordo com esses dois bobões — Mark falou e eu ri. — Esses seis meses longe de você foram um completo caos e solidão, não vá embora nunca mais, por favor. Tive que aguentar esses loucos sozinhos, foi muito difícil. — Yugyeom e Jackson se defenderam, me fazendo rir ainda mais. — Mas, falando sério, não ter notícias suas foi simplesmente insuportável. Fico feliz que esteja de volta, muito feliz mesmo. Você é a minha melhor amiga há anos, temos um laço muito forte que nunca irá se romper. Mesmo com o tempo, com a distância, com a interferência de terceiros — ele olhou para Woo —, nada vai nos afastar. Somos um quarteto inseparável e vai ser assim até o dia que nós morrermos. Hana, eu te amo muito, lembre-se disso sempre. Um brinde aos noivos!

Todos ergueram suas taças e brindaram. Abracei meu amigo com força, apertando-o contra meu corpo. Era incrível sentir seu calor novamente, saber que ele e os outros meninos são reais. Durante todo o tempo que passei em cativeiro, Woo me fez acreditar que ninguém estava procurando por mim, que ninguém se importava mais comigo, que só tinha ele. Mais uma de suas manipulações ardilosas. Agora, escutando o discurso dos meus três melhores amigos, me senti amada de novo, querida, importante. Era incrível sentir isso depois de tanto tempo.

— Também queremos discursar — Jin Jin informou, se levantando e puxando Moony junto. — Afinal, somos os melhores amigos do noivo.

— Só não me façam chorar mais, por favor — Cha pediu, limpando os olhos.

— Tarde demais, eu e o Moon escrevemos nossos discursos ontem e foram justamente feitos para que o rei do campus se acabe em lágrimas — Park brincou, ajeitando a pequena flor no bolso externo de seu terno também preto. Os convidados riram, assim como meu marido. — Eun Woo, você é um pé no saco. Nunca vi um cara tão chato e convencido como você, sinceramente. Mas não posso julgar, certo? Não é sua culpa ser bom em tudo e ter esse charme natural que faz com que todos gostem de você. — Cha riu novamente. — Sempre foi assim, desde a escola. No começo você era um garoto tímido, quase não conversava comigo embora eu puxasse papo o dia inteiro. Até que você começou a fazer piadas, ir na minha casa e então eu, você e o Moon nos tornamos esse trio que eu tanto amo. Vocês dois são os melhores amigos que eu podia pedir e agradeço todos os dias por os ter em minha vida. Quando você me contou que estava apaixonada pela Hana, eu quase caí duro no chão. Em sete anos de amizade, nunca tinha visto se apaixonar, principalmente dessa forma. Quando você aceitou namorar com ele, Kim, deveria ter visto como esse bobão ficou.

Engoli em seco. Eu sabia muito bem como aquele dia, a festa de Moon Bin, tinha sido importante para mim e como eu fiquei feliz quando Woo me pediu em namoro. A lembrança me causou uma dor inimaginável, cutucando uma ferida ainda aberta e sangrenta. Moony pareceu ficar desconfortável com a menção do pedido de namoro, mas não tirou o sorriso do rosto.

— Eu fico muito feliz por você ter a encontrado — Jin Jin continuou. — Você se tornou ainda melhor depois que ela entrou na sua vida, nunca te vi tão contente. Apesar de ser sociável e muito amado por todos, você sempre foi muito fechado em relação aos seus sentimentos. Sabemos que tem seus próprios demônios, suas próprias cicatrizes e, se um dia quiser compartilhar conosco, estaremos aqui para ajudar. Eu te amo, cara Estou muito orgulhoso de você, da família que está construindo, da carreira profissional que você está começando, estou orgulhoso de nós três. Felicidades aos dois!

Eun Woo queria manter a postura séria, queria se manter forte, mas eu vi as lágrimas que ele tentava segurar. Levantou-se para falar com Jin Jin, o abraçando com força, verdadeiramente. Acho que a única coisa real em Woo é sua amizade com os dois garotos, eles realmente se amavam e se apoiavam, mas não sabiam quem era o verdadeiro Cha Eun Woo, nem de tudo o que ele é capaz de fazer e que fez.

— Sempre imaginei esse dia, o dia do seu casamento — Moon Bin interviu, apertando o ombro de Park antes que ele se sentasse de novo. — Imaginei várias vezes que iria travar na hora de discursar, que iria sair correndo antes mesmo que o microfone chegasse na minha mão. Eu comentei isso com você e lembro muito bem das suas palavras: "Não se preocupe, Bin. Você é o meu melhor amigo e só a sua presença me acalma". Eu me senti bem naquele dia, me senti suficiente. Sempre fui um garoto muito tímido e fazer amizades era o meu maior medo, mas você me ajudou. Devo muito do que sou hoje a você, Woo, porque você me ajudou a superar meu medo de pessoas, me apresentou gente nova e me inventou a conhecer o mundo.

Cada palavra de Moon fazia meu coração bater mais rápido. Acho que nunca o vi falar tanto como naquele instante. Ele estava lindo, com uma das mãos nos bolsos da calça escura, com a sua gravata azul e a flor no bolso esquerdo. Ele fez uma pausa e me olhou, seus olhos cheio de explicações que só eu entendia e me dei conta de como Moony era leal a quem amava.

Ele nunca ficaria comigo, porque jamais trairia o melhor amigo.

— Quando você me contou que tinha pedido a Hana em namoro, enquanto limpávamos minha casa depois da festa, fiquei surpreso. Confesso que já tinha reparado no jeito que você a olhava, mas foi um choque mesmo assim — ele prosseguiu, sorrindo fraco. — Nem eu nem o Jin Jin esperávamos que você fosse namorar tão cedo, mas a vida é uma caixinha de surpresas, não? É impossível negar o quanto você ficou feliz depois que a Hana apareceu na sua vida, e não posso ficar mais contente por ver que você foi agraciado com uma pessoa tão doce e especial. — Senti as lágrimas voltarem a descer pelo meu rosto. — Agora vocês vão ter uma família, estão casados e eu desejo tudo de melhor. E, é claro, eu serei o padrinho do bebê. Perdeu, Jin Jin — brincou, ignorando os protestos de Park. — Eu amo você, amigo. Obrigado por fazer parte da minha vida e por tudo. Felicidades aos dois.

Moon ergueu sua taça e os convidados os imitaram, brindando pela segunda vez. Eun Woo, já mais calmo, foi até o amigo e o também o abraçou, dando tapas em suas costas. Enxuguei as lágrimas das bochechas e me levantei ao mesmo tempo em que a pista de dança foi liberada e a música se fez presente no ambiente. Abracei meu irmão e os meus outros garotos, me sentindo tranquila pela primeira vez naquele dia. Falei com meu pai e minha madrasta, esta última não tão irritante como de costume. Meu objetivo era pelo menos receber um abraço de Moony, mas tive que falar com o resto da minha família antes.

— Parabéns, Hana. Você está linda — tio Namjoon elogiou, me recebendo com um abraço.

— Não sei como você vai aguentar ficar casada — comentou Taehyung, beijando minha testa rapidamente. — Eu não aguentaria.

Soltei uma risada fraca. Meu primo foge de relacionamentos sérios como o diabo foge da cruz.

— Claro que não aguentaria, bobão. Não consegue ficar com uma única pessoa nem por uma semana.

Ele riu e deu de ombros.

— A vida de solteiro é muito melhor — opinou, varrendo o salão com o olhar. — À propósito, aquela garota que trabalha com você está solteira?

Bati em seu ombro, sorrindo com o ar divertido.

— Taehyung!

Meu primo riu novamente e Woo apareceu, me beijando rapidamente.

— Acho melhor você cuidar bem da minha prima — Taehyung ameaçou, mas tinha um sorriso no rosto. Meu marido também sorriu e apertou firmemente a mão do meu parente.

— Essa mulher é tudo pra mim, Tae. Vou cuidar muito dela e do nosso filho, seremos uma família feliz. Eles são os maiores tesouros que já tive.

Me segurei para não revirar os olhos. Meu primo e Woo conversaram um pouco, mas confesso que não prestei atenção. Estava procurando Moony quando Seokjin apareceu em meu campo de visão, com um enorme sorriso. Quando se deu conta de quem se aproximava de nós, meu marido ficou tenso e seus músculos ficaram extremamente rígidos.

— Gostaria de agradecer novamente pelo convite, Hana. Estou muito honrado de estar aqui — ele informou, me cumprimentando com um beijo rápido na bochecha. Sorri.

— Imagina, Jin. Nós que temos a honra de tê-lo aqui.

Seokjin negou com a cabeça e riu, voltando seu olhar para o meu marido. Ele estendeu a mão para o rapaz ao meu lado, que ficou no ar por alguns minutos antes de Woo finalmente apertar, bem mais forte do que com os outros. Meu marido estava desconfiado, tenso e diria que até mesmo um tanto intimidado pela presença do mais velho, e, óbvio, sem motivo algum.

— Parabéns, Eun Woo. Como já disse antes, você é um cara de sorte.

Seokjin sorriu e apertou levemente o ombro do meu marido, que estremeceu sob seu toque. Eu e o mais velho estranhamos, mas não dissemos nada.

— O-Obrigado. — Woo limpou a garganta. — Por favor, aproveite a festa.

— Obrigado. Vejo vocês depois.

O Kim acenou e voltou para onde meu primo e tio estavam sentados, na mesa principal. Como da primeira vez em que se falaram, Eun Woo ficou atordoado, perdido, parecia estar em outro lugar.

— Você está bem? — perguntei, sem realmente querer saber, mas para me previnir caso ele tenha outra mudança de comportamento repentina.

— Estou. Vamos aproveitar a festa.

Antes de obter alguma resposta minha, Woo me puxou pela mão e me levou para a pista de dança. Depois de partir o bolo, posar para as fotos e jogar meu buquê — que Arya pegou e Taehyung aproveitou para fazer uma cantada ridícula que a fez suspirar —, eu já estava exausta. Meu marido continuava bebendo com os amigos, mas não ao ponto de se embebedar porque iríamos viajar naquele mesmo dia para a lua de mel, e curtindo a festa. Não parei de procurar Bin por nenhum segundo sequer, mas me arrependi por não ter desistido de encontrá-lo, pois teria doído menos.

Quando meus olhos pousaram na figura alta de Moony, agarrado com uma garota também alta e de lindos cabelos longos, senti meu coração se despedaçar pela segunda vez no mesmo dia. Ele a segurava com toda o seu esplendor e a beijava da maneira mais quente que já vi, parecia estar dando tudo de si. Me senti tonta no mesmo instante e me segurei para não vomitar, porque meu corpo todo estava estranho, não respondia aos meus comandos Aproveitei a distração de Cha e tirei os saltos, saindo do salão para respirar um pouco de ar puro.

Fui para o jardim da parte detrás da casa, onde tinham dois balanços e respirei fundo, tentando acalmar os nervos. Eu vinha passando muito mal naqueles últimos dias e estava começando a ficar preocupada, mas talvez fosse apenas o calor de Seul que estava insuportável. Queria tirar logo aquele maldito vestido, contudo Woo parecia não querer ir embora. A cena que vi só piorou tudo e meus ouvidos chiavam.

— Hana? — aquela voz me chamou, vindo em minha direção com rapidez. Moony tocou delicadamente minhas costas e um arrepio percorreu minha espinha. — Você está bem?

Soltei uma risada sarcástica e me desvencilhei de seu toque.

— Ah, agora você se importa?

Ele franziu as sobrancelhas e eu caminhei até um dos balanços, me sentando ali para não acabar caindo no chão. Moon Bin, embora receoso, se sentou no outro balanço, ao lado do meu.

— Hana, do que está falando?

Revirei os olhos.

— Por que não volta para a sua amiguinha? Tenho certeza que ela deve estar te esperando, morrendo de saudades do beijo que trocaram.

Moony abriu a boca várias vezes, mas nada saiu. Ele cruzou os braços e me encarou com incredulidade e revolta.

— Você está chateada por que eu e a Jihyo nos beijamos?

Jihyo. Eu lembrava com clareza do que Jin Jin disse sobre ela, da forma maliciosa que olhou para o amigo. Agora eu sabia que os dois tinham sim alguma coisa, e como tinham. Burra! Não acredito que quase joguei toda a minha vida no lixo por causa dele e desse sentimento estúpido que tenho por ele.

— Estou esperando uma resposta, Kim.

— Não tenho nada a falar, Moon. Não devo satisfações a você.

Foi a vez dele de rir. Nunca vi o agir desse jeito, acho que chegou em seu limite. Moony passou a língua entre os lábios, negando com a cabeça antes de se levantar e me encarar com olhos cheios de raiva.

— O que você quer de mim, Hana? — ele falou, um pouco mais alto do que seu tom de voz normal. — Eu não te entendo. Porra, você é a esposa do meu melhor amigo. O que quer eu faça?

Me levantei de uma vez, sem me importar com a tontura ou qualquer outro sintoma. A adrenalina pulsava em minhas veias e a raiva estava estampada no meu rosto.

— Só uma palavra, Moon Bin! Uma mísera palavra sua e eu cancelava essa merda de casamento na mesma hora! — confessei e ele arregalou os olhos, completamente surpreso. — Mas você não disse nada, absolutamente nada! Quis que me beijasse duas vezes, e nas duas vezes você recuou. Então parou de falar comigo e hoje me mandou casar com o Eun Woo.

Ele abriu um sorriso sarcástico e balançou a cabeça.

— Está dizendo que a culpa é minha?

— Interprete do jeito que quiser.

Me virei para sair, mas Moony me agarrou pelo braço e me virou em sua direção novamente.

— Como pode acreditar que não me importo com você? — perguntou, sua voz saindo machucada. — Quando você sumiu, foi como se tivessem tirado uma parte minha. Aqueles seis meses foram os piores da minha vida, e, acredite eu já passei por muita coisa ruim. Quando pensei que fosse te perder, no hospital, me desesperei e rezei como nunca. Sabe quanto tempo fazia que eu não me ajoelhava e implorava para ter alguma coisa?

Engoli em seco. Nossos corpos estavam próximos demais e ele continuava segurando meu braço, mas sem nunca me machucar. Mesmo estando com raiva de mim, mesmo que eu tenha o acusado de não se importar comigo, ele continua se preocupando de mim. Ele jamais iria me machucar, nem se sua vida dependesse disso.

— Mas você escolheu o Eun Woo — ele prosseguiu, a dor presente em cada uma das suas palavras. — Eu apenas respeitei a sua escolha.

Ri. Ele não fazia idéia que eu não tive escolha alguma.

— Você não entende. Não é assim tão simples.

— Não? — ele perguntou, sem acreditar. Aquilo me machucou mais do que tudo que passei naqueles últimos meses. — Hana, eu passei... Eu passei os últimos dois anos da minha vida esperando por uma resposta sua. Você começou a namorar meu melhor amigo, me disse que o amava várias vezes e acaba se casar com ele. Vai ter uma família com ele. — Moony olhou para minha barriga, completamente destruído. — Para mim parece bem simples. O que mais você quer de mim? Estou cansado de sofrer por você.

Eu não tinha uma resposta pronta para aquilo. Sei que demorei demais para perceber meus sentimentos por ele e sei que ele está cansado. Não posso pedir para que continue a me esperar, não quando sei que nunca poderemos ficar juntos.

— Você também nunca fez nada para me ter — sussurrei, em um fio de voz, tentando distribuir a culpa para outra pessoa.

Moon Bin me soltou de forma abrupta. Encarei-o assustada, sem entender sua reação.

— De tudo que passei durante esses dois ano e de tudo que tive que aturar para permanecer ao seu lado, essa foi a coisa que mais doeu. — Ele negou com a cabeça, sorrindo de forma sarcástica. — Como você ousa falar uma coisa dessas? O que mais você queria que eu fizesse?

— Queria que tivesse sido homem o suficiente para me contar seus sentimentos quando teve a chance! — gritei, colocando para fora toda a minha dor. — Queria que tivesse me contado o que sentia antes que Woo entrasse na minha vida, pois teria sido você, seu filho da puta. Teria sido você.

Ele engoliu em seco. Olhou para baixo, para o céu e por fim para o meu rosto.

— Estou cansado de permitir que você parta o meu coração, Hana. Não é justo o que está fazendo comigo, suas palavras são cruéis — informou, segurando, assim como eu, as lágrimas teimosas que insistiam em cair. — Se está esperando que eu tome alguma atitude, pode desistir. Não vou trair meu melhor amigo e nem vou continuar me maltratando desse jeito.

— Então acabou?

Seus olhos escuros estavam brilhando por conta das lágrimas, cintilantes como duas navalhas que me cortavam ao meio.

— Nunca nem mesmo existiu.

As lágrimas caíram sem consentimento. Me sentia destruída, perdida, completamente sem chão e nem rumo. Não me senti assim nem mesmo quando descobri a verdadeira identidade de Eun Woo, nem com nenhuma surra que levei, nem com as decepções com meu pai, nem com nada que um dia vivi. Olhei para Moony uma última vez e dei costas, caminhando para longe, deixando para trás todo o nosso pequeno infinito que era meu porto seguro.

Dessa vez ele não me impediu.


Notas Finais


E novamente FOGO NO PARQUINHO
Eu realmente amo essa frase KSMWMKSMWKSKS
Sei que foi um capítulo cheio de emoções e muitas lágrimas, mas esse é o ritmo da história! Ainda tem bastante coisa para acontecer e acho < ACHO > que a fanfic terá vinte, ou vinte dois capítulos.

Espero mesmo que tenham gostado e me digam o que acharam! O feedback de vocês é muito, muito importante para mim. Devo atualizar novamente ainda esse mês, mas como minhas aulas voltaram, minha rotina está um pouco puxada.

↬ Outras fanfics minhas:
↬ Suplício (Drama)
https://www.spiritfanfiction.com/historia/suplicio-21728219
↬ 10 dias no paraíso (Romance - Kim Taehyung)
https://www.spiritfanfiction.com/historia/10-dias-no-paraiso-short-fic--kim-taehyung-19190899

Beijinhos, coisas lindas!
💖⭐


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