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História Guerra e Paz - Capítulo LXXVII Batalhas milenares -


Escrita por: KimonohiTsuki e JonhJason

Capítulo 78 - Capítulo LXXVII Batalhas milenares -


Fanfic / Fanfiction Guerra e Paz - Capítulo LXXVII Batalhas milenares -

Capítulo LXXVII –Batalhas milenares –

- Muita coisa pode acontecer nesse jantar no castelo de Heisteim, mas sinceramente, eu estou otimista sobre finalmente existir uma trégua entre os três exércitos, mesmo que seja devido a um quarto inimigo. Quem sabe Soleil poderia ser um diplomata, como aquela tal de Thetis. Ele seria bom nisso.

Quanto a isso Aquário não respondeu, se limitando a baixar a cabeça pensativo.

- Como eu já percebi que você não vai desistir de tentar salvar a minha alma, e eu não vou mais permitir que você faça mais nenhuma idiotice, ao menos, não sozinho, eu proponho um acordo, um último acordo.

- Um acordo? – Franziu o olhar.

- Isso mesmo, sejamos egoístas juntos Camus, porque por mais que eu odeie admitir, e me enjoa só de me imaginar seguindo por esse caminho, é a melhor escolha nesse cenário, levando-se em conta tudo que você já fez até agora – Voltou-se ao melhor amigo, encarando diretamente seus olhos – O melhor para mim, para você, e para Soleil também.

O aquariano não respondeu a princípio, vendo como o escorpiano voltava a retirar o colar do submundo de suas vestes, e para sua surpresa, começou a puxar sua corrente, para lados opostos, como se quisesse quebrá-lo.

- O que está fazendo?! – Exaltou-se, uma vez que sabia de antemão que sem aquele objeto, o outro morreria em pouquíssimo tempo. – Pare com isso!

Porém Milo não lhe deu importância e continuou sua ação, quando Camus estava a ponto de levantar-se para impedi-lo, a corrente cedeu, e o colar se dividiu em dois. Na mão esquerda o grego segurava o Pentagrama, e na direita, a corrente partida.

Por alguns segundos o francês prendeu a respiração, mas nada aconteceu.

- Por que você fez isso? – Questionou em tom irritado, encarando o outro em seus olhos, que se mostravam verdadeiramente decididos.

- Camus – Mencionou, oferecendo ao amigo a corrente partida – Vamos nos tornar espectros juntos. Esse é o meu acordo, leve consigo essa corrente, e você também estará sob efeito do ritual de hiketeia, sob a proteção do senhor do submundo. Pelo que me disseram, para aceitarmos servir esse novo senhor precisamos suplicar sua proteção e como pagamento dar nossa alma como se esse colar fosse o próprio Shun. O resto da cerimônia será no submundo.

- Hiketeia? – Repetiu impressionado, aceitando a corrente – Não escuto o nome desse ritual há séculos.

- Pois é, aparentemente Shun fez sua lição de casa – Ironizou guardando sua parte em suas roupas – Porém eu tenho mais uma condição para aceitar servir ao nossos velhos inimigos.

- Eu me tornar espectro contigo não é o suficiente? – Questionou, franzindo as sobrancelhas.

- Não. Sinceramente, depois de todas essas besteiras que você fez, é uma compensação muito mínima – Disse com descaro – Além do que é a saída mais fácil quando você for considerado um grande traidor. Por isso quero outra coisa.

- Saída mais fácil? – Repetiu com sarcasmo o francês  - Sabe o significado de Hiketeia?!

- Um pacto mutuo e irrevogável entre amo e senhor, aquele que o profere, perde toda sua honra e livre arbítrio, viverá simples e exclusivamente pelo seu senhor que tem o dever de protegê-lo, caso contrário, ambos pereceram perante o castigo das Eumênides. – Respondeu prontamente e sem hesitar o escorpiano – Eu não nasci ontem Camus, tampouco sou ignorante, eu conheço os velhos rituais.

- Não é como se fosse algo óbvio, mesmo para alguém que viveu na era mitológica – Defendeu-se com um suspiro cansado – Não me surpreenderia se Shion ou Dohko sequer suspeitassem que algo assim existe, a literatura a respeito é praticamente nula, e é um ritual muito obscuro devido ao seu “extremismo”. É verdade que todo o servo de um deus abdica de tudo em nome de seu senhor, porém o Hiketeia impõe também uma grande responsabilidade ao “amo”. Se algo acontecer ao seu servo, o senhor sofre a fúria das Eumênides, como bem disse. Mesmo que seja impossível negar um Hiketeia, nunca em toda minha vida, vi um senhor, muito menos uma divindade, sugerir o ritual a um servo. As desvantagens são muito maiores que as vantagens ao meu ver. Além disso, não consigo imaginar você abdicando de sua honra de forma tão absoluta para aceitar condições assim. Tem certeza que quer seguir esse caminho?

Foi a vez do grego respirar fundo, como se meditasse sua resposta.

- Nós perderemos toda honra de um dia termos sido cavaleiros de ouro, seremos marcados e desprezados por toda a eternidade pelo estigma da indignidade. Seria um ato ainda mais vil do que utilizarmos a Exclamação de Athena ou armas no campo de batalha sem o consentimento de Libra. Mesmo no submundo seriamos vistos como sujos traidores por negarmos Athena de tal modo covarde, recalcando nossas fraquezas perante um novo senhor. – Declarou, pensativo – Eu sou alguém extremamente orgulhoso Camus, não nego isso – Disse voltando-se diretamente ao outro, encarando-o nos olhos – Porém, da mesma forma que vocês abdicaram de tudo, há mais de vinte anos, naquele teatro de espectros, para avisar Athena de sua armadura, eu estou disposto a sacrificar muito mais para liberar sua alma, Eri, do tormento da culpa e dor que a assola há milênios. Todo o meu orgulho e honra não são sequer metade do que eu estou disposto a fazer por ti, meu amigo, e por Soleil. Sob estas recompensas, ser um espectro pelo resto da eternidade me parece um preço módico.

Aquário não respondeu a princípio, sentindo-se igualmente culpado e comovido por essas palavras.  

- Deveria esperar uma atitude assim... – Disse enfim, com certo pesar – Vindo de quem se lançou ao Flegetonte condenando sua alma por milênios apenas para me proteger das consequências de minhas próprias ações, como se nós dois tivéssemos um Hiketeia em nossa primeira vida, em que o servo parecia ter mais direitos que o senhor.

- Vou dizer de forma clara, para ver se você entende – Decretou Milo sem muita paciência, tomando ambos os lados do rosto do francês com as mãos, de forma meio agressiva, deixando a pele pálida contrária avermelhada e fazendo-o franzir a expressão pelo incomodo – Tornemo-nos espectros, e desse modo, vamos deixar todo esse passado e suas consequências para trás, vamos recomeçar, desde o início, juntos, mesmo que seja como vermes. Está bem?

Sem esperar resposta, o soltou bruscamente.

- E isso nos leva a minha condição. É muito simples, eu não sei quanto tempo ainda irei viver, mas mesmo com esse pingente não devo durar muito, ainda mais numa guerra. -Ponderou com fria calma - O que eu quero, é que você desapareça do santuário, vá para um lugar que ninguém seja capaz de te encontrar e permaneça lá pelo resto de sua vida, com essa corrente, Soleil poderá te encontrar, como também o submundo. E enquanto, e apenas enquanto, permanecer com ela estará protegido pelo ritual. Se você ficar, e tudo que fez for revelado, o que é uma questão de tempo, a desonra de um Hiketeia será um grão de areia comparado ao seu julgamento no santuário e sua execução. Manchará não apenas sua imagem, como a de Soleil também, e isso seria insuportável para mim, quando sei que foi por minha causa. Não quero que ele passe o mesmo que Aioria com Aiolos.

- Eu não irei prometer nada – Disse simplesmente o ex cavaleiro, massageando seu rosto ferido – Irei desertar, porque sei que se disser que não farei isso, você me deixaria inconsciente aqui e agora, aproveitando meu estado, e me jogaria em algum lugar desconhecido. Por isso eu irei, mas não posso prometer que não retornarei pelo resto de minha vida, ou mesmo que não irão me encontrar. Porém eu me ocultarei o máximo que eu puder. Por que sei que Shiryu jamais permitiria que condenassem Soleil em um julgamento incompleto, e se nenhum de  nós estiver lá, assim seria, sem testemunhas, sem evidências. É o mínimo que posso fazer pelo meu filho depois de tudo.

Milo bufou, um pouco contrariado.

- Suponho que é o máximo que conseguirei de uma cabeça dura como a sua, Camus. Então temos um acordo – Esticou a mão para selar o pacto – Mantenha-se afastado o máximo que puder, e em morte, serviremos a desonra juntos.

Aquário esticou a mão e firmou o contrato tácito.

   -.-.-.-

Entrou no templo obscuro e sem quase iluminação segurando uma ânfora sobre sua cabeça, preenchida com uma água cristalina. Adentrou pelo enorme quarto da construção, preenchido com dois leitos, de lados opostos, dois armários do mais negro ébano, fechando com duas enormes mesas com cadeiras de estilo barroco, aparentemente feitas de ferro e couro escuro.

 Era claramente um aposento conjugado, o que se estranhava devido a riqueza e exuberância dos móveis, os quais se esperaria que estivessem em suas próprias habitações, mesmo que o quarto em si era tão espaçoso que duas pessoas no mesmo cômodo teriam que aumentar seu tom de voz para poderem se escutar, se estivessem sentadas nas camas contrárias. 

No leito da direita havia um homem deitado, aparentemente morto, seus olhos fechados, corpo rígido, e pele absolutamente pálida. O outro descanso, aparentemente também estava ocupado, porém o cadáver estava completamente coberto por um lençol branco da cabeça aos pés.

Sem se importar com a fúnebre cena, o homem se posicionou até a primeira cama, deixou a ânfora ao chão, dela tirou uma espécie de escova negra, e com ela pôs-se a limpar o corpo completamente nu.

Apesar de também ser um indivíduo masculino, o homem não pareceu se incomodar minimamente com aquela nudez, como se tal serviço triste fosse algo que muito já havia realizado e se acostumado. Com respeito e esmero limpou cada parte, pedindo licença nos pontos mais delicados, mesmo que o morto jamais pudesse lhe responder. Tomou ainda mais atenção e cuidado a cicatriz reta em cima do coração, como se ainda houvessem pontos frescos ali.

Quando viu seu trabalho finalizado, levantou-se e foi até o armário direito, tirando de lá vestes brancas gregas e uma toalha felpuda, tornando a fechar o móvel. Voltou ao seu paciente e calmamente o secou, jogando depois a toalha úmida sobre o ombro, contudo, não o vestiu, apenas deixou a toga atenciosamente dobrada sobre o cadáver, como se esperasse que o mesmo acordasse de seu sono eterno e se vestisse por si mesmo. Retomou a ânfora para si e se retirou do templo. 

Os outros 54 templos não possuíam qualquer movimento aparente, passava por uma estrada com paralelepípedos romanos, de cada lado enormes templos gregos completamente iguais e de mármore negro, como se fossem uma imensa maquete com apenas um estilo de construção que se repetia.

Estava perdido em seus pensamentos, pensando se deveria pegar mais água do Cócitos para banhar o segundo corpo, quando percebeu que alguém saía de um dos templos.

Um espectro, reconheceu imediatamente a armadura, Flégias de Lycaon, tinha lido tudo a respeito sobre os espectros nos últimos dezenove anos em que serviu o submundo, para chegado o dia, pudesse reconhecê-los e melhor atendê-los.

Prontamente se curvou quando o homem de cabelos loiros escuros e postura arrogante se aproximou, esquadrinhando-o com seus olhos azuis claros, em evidente arrogância.

- O que faz um esqueleto, um soldado da mais baixa patente, na região dos templos que pertencem aos espectros? – Questionou em tom seco.

- Sinto muito senhor, mas eu sou-

- Eu não perguntei quem você é – Seguiu Flégias impaciente – Perguntei o que está fazendo aqui.

- O senhor Daidalos me pediu que cuidasse pessoalmente do espectro que recém se junta a nós. – Explicou calmamente, sem erguer o rosto, e sem se abalar pelos maus tratos, sabia que a personalidade de Lycaon era difícil, e não parecia ter mudado nessa última reencarnação.

- Ah...Isso – Colocou com claro desgosto, cruzando os braços – Eu fui informado, e acho uma ideia repugnante, eles já nos traíram uma vez, por que não fariam de novo?!

Não respondeu.

- Ei, esqueleto – Seguiu com prepotência – Onde eles estão? – Sorriu com arrogância – O novo imperador me mandou vigiar o Aqueronte e seus entornos, mas eu me entediei e vim ver como ficou a reforma por aqui, visitar nossos “Novos amigos” com certeza será mais divertido.

Frente a isso, o esqueleto exasperou-se, levantando o rosto.

- Não, por favor! – Exclamou o jovem servo, seus longos cabelos castanhos compridos, presos num rabo de cavalo, caíram por suas costas pelo repentino movimento – Eles ainda não estão prontos para-

- Como um esqueleto ousa aumentar a voz para um espectro?! – Bramou, irritado, estava erguendo a mão para dar um tapa, quando repentinamente algo tomou a sua mão, surpreendendo ambos.

- Eu estava tentando dormir, está bem? – Resmungou Kairos, esfregando os olhos e bocejando, sem soltar seu agarre, para então notar o jovem servo – Velhote? Você não estava na mansão cuidando do meu ex filho Seiya?

- A-ah...Sim – Apesar do susto, se reincorporou e respondeu prontamente e naturalmente -  O meio irmão de nosso senhor ficou sob os cuidados de Byaku, e eu fui enviado para cá para cuidar dos dois receptáculos.

- Hmmmm, certo – Disse entre um longo bocejo.

- Qual é o seu problema?! – Flégias, porém, parecia completamente transtornado agora, especialmente por um motivo – Maldito traidor, Yohma! Coloque suas malditas roupas!

Em resposta o antigo deus do tempo apenas colocou uma das mãos na cintura, com arrogância.

- Por quê? Toda a minha protuberância grega te incomoda? Eu estou apenas seguindo minha natureza*, estava nu em meus próprios aposentos até você surgir por aqui e me acordar tão rudemente, e ainda por cima, atacando o velhote. – Então sorriu com malicia – Sabia que ele é o alcaide da Necrópoles? Se você o machucasse Shun não ficaria nem um pouco feliz -  Então o puxou pelo pulso, enchendo o outro ainda mais de aversão pela proximidade com suas partes – E você não gostaria de ver o lado “desagradável” do nosso senhor, acredite.

Com claro nojo, Lycaon se soltou, dando alguns passos para trás.

- Você é completamente doente!

- Obrigado – Disse fazendo uma falsa reverência – Mas tente se comportar lobinho, eu sou egoísta e quero manter o pior lado do imperador apenas para mim, se você não se importar. Orgulho, arrogância e estupidez só vai te levar a derrota amigo. É melhor voltar para seu posto antes que eu informe esse “deslize”.

Com extremo ódio, o espectro lançou um olhar de desprezo para ambos, e deu as costas, se retirando a passos ecoantes e firmes, enquanto Kairos soltava outro bocejo, enquanto coçava suas partes.

- Senhor Kairos, não é melhor se vestir? – Tentou o servo.

- Como estão nossos “amiguinhos”? – Perguntou, ignorando o comentário contrário.

- Mortos – Foi a resposta direta, que apenas fez o deus caído rir.

- Claro, claro – Concordou - Combater e morrer, é pela morte derrotar a morte, mas temer e morrer é fazer-lhe homenagem com um sopro servil.- Declamou, tomando para si a toalha no ombro do esqueleto, ignorando seus avisos de que ela estava molhada, e a enrolou em sua cintura. – Quem diria que um sono de beleza me faria tão bem~ Raíz de asfodelo continua sendo o melhor sonífero do mundo.

- Não quer mesmo que eu pegue uma roupa? – Tentou uma última vez o pobre médico, seguindo pela estrada.

Porém ambos pararam, quando uma nova figura se encaminhava em sua direção.

- Senhor Lycaon está voltando? – Perguntou-se o jovem  preocupado.

- Não. – Foi a resposta seca de Kairos – Daidalos.

- O general deixando a sala do trono?! – Alarmou-se.

Quando a figura foi se tornando mais visível, imediatamente o servo deixou sua ânfora de lado e prontamente se ajoelhou.

- Não é necessário, Iatrós – Disse em tom empático o general, mesmo que seu andar fosse imponente, ainda que não trajasse sobrepeliz. -  Por favor, se levante.

O mesmo o fez, porém, permanecendo de cabeça baixa.

- Pelo menos dessa vez está vagando pelos templos com uma toalha, Kairos – Não pôde deixar de observar o ex cavaleiro. – É um avanço.

- Sim, mas é claro – Seguiu a história, descaradamente, enquanto Iatrós franzia a expressão – Porém meu companheiro de quarto vai ficar muito desapontado quando descobrir que estou criando pudor. 

- Tenho certeza que Verônica irá sobreviver – Retou importância Daidalos, e sua expressão foi tornando-se séria. – Nosso senhor ainda não acordou Kairos.

Isso fez o deus caído franzir o cenho.

- Então por que está aqui, senhor general que nunca abandona seu posto? – Disse num misto de sarcasmo e antecipação, cruzando os braços. – Eu disse para me chamarem apenas quando nosso senhorzinho acordasse.

- Eu preciso me retirar para a Terra, não posso esperar que ele desperte – Disse com urgência, porém sem perder sua pose – E quero que você fique o meu lugar, no comando do submundo.

- Quê?! – O médico foi incapaz de se conter, olhando desesperado de um para outro.

Mesmo Kairos, havia descruzado os braços, deixando-os cair ao lado de seu corpo, sua boca abrindo de estupefação.

- Pela sua reação, assumo que suas habilidades divinas não te apontaram esse momento – Concluiu o general calmamente.

- E como espera que eu previsse isso?! – O espectro exaltou-se – Eu? Como líder substituto do submundo?! Você ficou louco Daidalos?  

Em resposta, o general suspirou longamente.

- Iatrós, poderia buscar as roupas dele para mim, por favor? – Pediu educadamente retirando assim o esqueleto de seu estupor.

- A-ah sim, claro meu senhor – E com uma nova reverênciaz se afastou com passos rápidos, deixando ambos sozinhos.

- Kairos – Seguiu em tom sério assim que o civil estava longe o suficiente – Estamos numa situação crítica, ainda falta algum tempo para as três da manhã, não posso esperar que Shun desperte, e não há garantia que ele faça isso mesmo nesse horário.

- Mas eu não sou sua única opção – Refutou prontamente – O que há de Ikki e Minos? Ou mesmo Orphée e Eurídice?

- Ikki foi ao santuário.

- Eu deveria imaginar – Revirou os olhos o espectro com desgosto. – Esses dois irmãos compartilham muito desse lado “sentimentalista”, mesmo que tentem negar.

- Quanto a Minos, ele estava para retornar ao submundo – Seguiu o general sem responder o último comentário – Porém, pedi que buscasse Hécate no castelo antes de retornar, suspeitamos que ela que tenha adormecido Shun, então não posso pedir para que ele retorne antes de encontrá-la.

A face do mais velho agravou-se.

- Uma deusa ctônica atentando contra o imperador do submundo? -  O argentino confirmou com a cabeça – E onde estão as Eumênides?!

- Provavelmente esperando o desfecho de tudo antes de agirem.

- Claro – Seguiu com sarcasmo – Claro! Esperando que façamos todo o trabalho! Pois quando o assunto foi me castigar elas atuaram bem prontamente!

- Por outro lado, Orphée e Eurídice ainda estão no salão divino entretendo os deuses.  -Findou. – Ainda assim, ordenei que Orphée retornasse imediatamente ao Submundo se alguma espécie de ataque acontecer.

-E por que não deixá-lo no comando? – Inqueriu, curioso.

- Como bom escorpiano, Orphée é demasiadamente passional para uma função dessas. - Ponderou o general – Para um trabalho desses, precisamos de alguém que não coloque seus sentimentos acima de sua razão.

- Só diz isso para não afirmar que eu sou basicamente sua única opção – Esnobou o deus caído. - Eu não gosto de termos justos na mente de um vilão.

 - Não, eu ainda podia pedir que Verônica fizesse isso, sua experiência como estrategista seria bem útil – Confessou com sinceridade – Valentine também seria uma opção bem forte.

Kairos franziu sua expressão.

- Então qual seu ponto? – Declarou roçando o mau humor, tornando a cruzar os braços.

- Seu senso de oportunidade, algo que apenas você possui, a capacidade de prever um momento oportuno, como fez com o avião que a família de Soleil embarcou, ou mesmo prevendo quais seriam as empresas mais vantajosas para os Solo investirem no mercado de ações, um vislumbre desses é o que precisamos agora.

- Não é tão fácil assim e você sabe, eu não posso prever o futuro nem avaliar as consequências das oportunidades, eu perdi muito do meu poder com o selo de meu irmão, como não pude prever o acidente aéreo ou as empresas que vieram a decair depois de breves altas. – Explicou com grande seriedade para um homem de toalha – O tempo e suas vertestes são como um dado sendo lançado do topo de um penhasco, quase impossível prever seu resultado, e uma simples brisa pode mudar as probabilidades.

- Porém, se estivermos usando os equipamentos adequados, podemos encontrar esse dado e a consequência de sua face.  – Contrapôs.

- Daidalos – Sorriu de lado – Está querendo apostar o destino do submundo num jogo de azar, se for assim, não deveria ter dito para o velhote ir embora – Disse apontando para Iatrós que retornava às pressas com seu típico terno em mãos – Seria um ótimo teste para saber se ele já se recuperou do vício que o colocou aqui em primeiro lugar. – E então sua expressão tornou-se grave – Porém tenha em mente que eu não estarei aqui por muito mais tempo.

- Eu sei disso. - Confirmou com o mesmo sentimento - Não iremos demorar.

- “Iremos”? – Perguntou interessado, porém foi interrompido por um esbaforido servo

– Suas roupas, senhor.

- Obrigado~

- Muito bem, Kairos, então irei retirar-me, não faça com que eu me arrependa – Estava a ponto de dar as costas, quando se recordou de algo mais – E não sente no trono de Shun.

O deus caído se limitou a confirmar, fazendo uma exagerada reverência, e mantendo essa posição mesmo enquanto Daidalos dava a Iatrós suas últimas instruções, escondendo um sorriso travesso que deixava claro que sentar nos aposentos imperiais seria o primeiro que iria fazer.

-.-.-.-

Por entre o capuz pôde observar como alguém montava um túmulo improvisado, empilhando pedras de forma piramidal. Ironicamente seu sangue ferveu ao presenciar tal ato, aproximando-se a passo lento.

- Eu estava me perguntando onde iria te achar, então pensei. Conhecendo-o, provavelmente ele irá correndo para onde sentiu a alma de escorpião uma última vez. – O homem agachado frente as pedras, virou-se, encarando-o – Pelo jeito, eu não estava errado, Camus de Aquário.

Suavemente retirou o capuz, revelando seus longos cabelos verde água. Sua expressão normalmente fria estava contraída, enquanto apertava os punhos com força, um deles, levando consigo na altura do pulso, uma pulseira de corrente.

- ....Por que o estou enterrando? Você deve estar se perguntando Camus. Depois de todos esses séculos reencarnando como companheiros, eu duvido que você não sentiu a alma de escorpião se partindo – Levantou-se, sem desviar o olhar-  Então, é verdade que um enterro seguindo as tradições tornou-se algo inútil, já que não há alma a ser guiada para o submundo. Porém, depois de milênios inteiros pagando o preço pelos atos de uma criança mimada, eu acho que o mínimo que Escorpião merecia era um enterro.

- Por isso você me odiava tanto? – Respondeu em tom ríspido – Porque era tratado como um órfão, quando na verdade era o filho da própria deusa.

Erictônio abriu os olhos surpreso, como havia acontecido com Milo antes, de algum modo o aquariano parecia ter se lembrado de sua existência.

- Ora, ora, ora, parece que nosso “Princepezinho” recobrou as memórias e agora está colocando as garras para fora.

- Eu não sou um príncipe – As palavras do ex cavaleiro eram cortantes – O garoto que você desprezava morreu milênios atrás, afogado, incapaz de aceitar as consequências de seus próprios atos. Eu sou apenas Camus Sintès, um ex cavaleiro de Athena e bibliotecário. A sua insanidade não te levou a lugar algum.

Ao invés de abalar-se com a resposta, Erictônio apenas sorriu de lado, com clara sorna.

- E mesmo sendo apenas um bibliotecário, aposentado do campo de batalha há vinte anos, ainda pretende lutar contra um deus e cavaleiro de prata? – Questionou, sorrindo de lado. – Essa é sua resposta a derradeira morte de Escorpião? Cometer suicídio agora que perdeu tudo?

- Eu não vou morrer, não agora – Com um puxão, arrancou a capa que o cobria, lançando-a sobre o túmulo de Milo – Eu ainda não perdi tudo, por isso irei me vingar e te matar pelo que fez. Eu continuarei vivo, para fazer tudo que precisa ser feito antes de  poder partir desse mundo!

Em resposta o deus caído começou a gargalhar, praticamente curvando-se sobre seu próprio eixo.

- Muito bem! – Disse com um brilho de insanidade em seus olhos – Porém vamos dar um pouco de paz a nosso velho amigo – Indicou o túmulo coberto – Vamos para um lugar onde ninguém possa nos interromper, como da última vez, e acertar nossas contas de uma vez por todas.

-.-.-.-    

Shiryu respirou longamente, parado frente a uma porta fechada, até que sentiu uma mão em seu ombro.

Reconheceu imediatamente aquele toque gélido como uma forma de Suikyo dar-lhe ânimos para prosseguir. Confirmou com a cabeça, e assim o fez, abrindo a porta e passando, Saga e Taça logo em seus encalços, o geminiano se responsabilizou por fechá-la, enquanto todos já presentes naquele cômodo voltaram-se para os recém chegados.

Seiya estava novamente acordado, sentado em sua cama, de seu lado esquerdo encontrava-se Suite e Saori, essa última, instantes antes da porta abrir, mal encarava o homem parado ao lado direito do leito, Fausto, cuja identidade de espectro era Byaku de Necromante.

Aparentemente, o médico de longos cabelos loiros queria realizar um novo exame, porém Athena, desconfiada, o impedia.  

- Nos chamou, minha deusa – Disse respeitosamente e formalmente o antigo Grande Mestre.

- Sim – Respondeu ela em tom frio - Precisamos discutir o que está acontecendo no santuário. Recebi um relatório de Dohko, mas não sei até onde ele é confiável.

O chinês se limitou a franzir a expressão, mas uma reação atrás de si não foi tão contida.

- Meu mestre jamais mentiria sobre algo tão sério! – Atreveu-se a defender Suikyo, ignorando o olhar desgostoso que Byaku lhe lançou – Mestre Dohko e Mestre Shion sempre fizeram o que era melhor para o santuário e para todos ali.

Uma mão sobre seu peito o impediu de criar mais argumentos, voltou-se para o lado e viu Saga, fazendo sinal negativo com a cabeça para que não continuasse.

- Suikyo de Taça – Nomeou Athena, estudando seu cavaleiro – Você foi criado por esses dois, desde que era tão somente um adolescente, temo que seu julgamento está comprometido graças a isso – Voltou seu olhar severo a Shiryu – Dohko de Libra, a igual que Shiryu de Libra esconderam muitas informações de mim durante os últimos anos, porque eu duvido que ele não sabia sobre a identidade de Shun ou mesmo Soleil. Quanto a Shion de Áries, lhe darei o benefício da dúvida, por enquanto, mesmo que ambos sejam grandes amigos seria injusto da minha parte condenar o antigo Grande Mestre sem mais provas.

- Ainda assim, minha deusa, condena meu mestre pelas minhas ações – Apesar de sua fala, o tom do Dragão era extremamente polido.

- Sou ciente que nenhuma de suas ações, Libra, eram feitas sem consultar seu mestre, por isso é natural que a culpa se expanda. – Declarou a deusa, sem encarar o outro, chamando-o simplesmente por seu signo.

Shiryu não respondeu quanto a isso, e custou todo o autocontrole de Suikyo não encarar grosseiramente sua divindade.

- Ehem – Byaku pigarreou para chamar a atenção, vendo que todos estavam tão imersos nesse clima pesado de conflito, que sua permanência no recinto havia caído para segundo plano. – Senhora Athena, tudo que eu quero é medir a temperatura do cavaleiro de Sagitário. Como eu disse, além de espectro eu sou médico.

Saori o observava com completa desconfiança, enquanto Seiya mantinha o rosto baixo, pensativo, aparentemente sequer havia notado que outros haviam entrado naquela ala hospitalar.

- Está tudo bem senhorita Athena, eu o estive observando todas as vezes que ele veio verificar meu pai, em nenhum momento tentou atentar contra ele de qualquer forma. – Tranquilizou Suite em seu tom delicado – Ele não deseja fazer mal.

- Minhas ordens são velar pela saúde do meio irmão de meu senhor – Argumentou o alemão em tom estoico aproximando-se com um termômetro.

- Se Shun não tivesse feito o que fez, Seiya não precisaria de cuidados em primeiro lugar. – Espetou a divindade, porém não fez mais qualquer gesto para impedir que o doutor atuasse.

Todos mantiveram um silêncio que beirava o incomodo enquanto o loiro media temperatura, pressão e batidas do cavaleiro, que se mantinha imóvel, quase como se a espada de Hades estivesse novamente em seu peito.

- Está regularizando, porém o mais aconselhável é que ele se mantenha em observação – Informou para Suite, que mostrava-se gentilmente disposta a escutá-lo – Porém vinte e quatro horas de repouso e ele estará bem.

- Não podemos permanecer aqui por mais um dia, precisamos urgentemente retornar ao santuário – Interveio Athena.

- Como eu disse, não é aconselhável que ele saía daqui tão cedo, deveria manter-se em repouso absoluto por pelo menos seis horas, no mínimo. Senhora Athena – Acrescentou o último para salvar algum respeito em sua frase.

- E por que acha que pode decidir isso por nós?

- Fausto Von Spiess, médico formado com honras, que fez residência a agora representa internacionalmente o hospital Asklepios Klinik Barmbek, de Hamburgo, um dos dez melhores do mundo. – Delineou com demarcada arrogância, recolhendo seus equipamentos – Mas claro, se optar por ignorar meus avisos, também ofereço meus serviços como espectro de Necromante, porque é de um necromante que irão necessitar para estar com seu companheiro outra vez.

Sob o olhar ultrajado da deusa, Byaku colocou seus equipamentos numa bolsa negra, para então fazer uma suave reverência.

- Com vossa licença, me retiro – E sem esperar resposta, encaminhou-se em direção a porta, não sem antes esquadrinhar com o olhar Aiacos, que em troca lhe lançou um suave sorriso.

-.-

Fausto andava pelos corredores do castelo em direção a segunda ala hospitalar, quando se aproximou das portas de vidro, não impressionou-se ao ver Minos do lado de dentro.

- Senhor – Disse assim que abriu passagem, fechando-a logo depois.

Minos estava debruçado sobre uma grande e tecnológica incubadora, porém ergueu-se ao ver seu servo entrar.

- Byaku, como está Pégaso?

- Parece que em estado catatônico, embora há alguns minutos atrás ele parecia razoavelmente normal, parece que a mente dele o está perturbando mais que o corpo. – Informou aproximando-se – E quanto a Lune, senhor?

O juiz suspirou longamente.

- Sinceramente estou com um mau pressentimento. Já não confiava em Poseidon antes, mas agora que ele não é mais que um adolescente inconsequente, tudo parece ter mudado para pior. – Disse franzindo a expressão, cruzando os braços.

- O senhor acha que ele é ainda mais perigoso do que antes? – Questionou com um deixe de preocupação, colocando sua bolsa de lado e analisando a incubadora.

- Não. Talvez perigoso não, mas sem dúvida ele continua tão ou mais inconsequente quanto antes – Bufou – E quanto a Arthur...?

Para então, finalmente o alemão se permitiu sorrir.

- Não se preocupe meu senhor, seu filho está evoluindo muito bem.

A expressão do norueguês suavizou-se.

- Que bom, pelo menos uma boa notícia – Então começou a andar até a saída – Meus planos iniciais eram retornar ao submundo e meu trabalho como juiz, porém depois da informação que você conseguiu, Byaku, sobre o possível ataque de Hécate contra o imperador do submundo, Daidalos me ordenou que a buscasse.

- Sozinho? – Novamente mostrou preocupação, afinal, tratava-se da bruxa do Olimpo.

- Não, eu me reunirei com outros espectros no salão onde estava acontecendo a festa dos humanos, e partiremos em grupos pelo castelo.

- Entendo...Eu o informarei se alguma coisa acontecer – Minos se limitou a confirmar com a cabeça e saiu.

-.-.- 

Poseidon observava perdido em pensamentos uma enorme tábua feita de alguma espécie de cristal translúcido, que se erguia do chão  até quase a  doma que contornava toda a cidade.

 Gravados sobre a superfície encontravam-se centenas e centenas de nomes,  Neroda deu um passo à frente e passou a mão sobre um em particular,  na parte de baixo, próxima ao chão, o nome de Sólon de Atenas escrito em grego antigo, estava quase que completamente riscado e ilegível. Seu dedo indicador seguiu deslizando sobre a superfície dos cristais,  o rosto de cada um passando por sua mente  quando delineava seus nomes.  A linha dos seus pensamentos, porém, foi interrompida  quando sentiu a aproximação de Havok.

-  Meu Senhor, já reunimos água da fonte o suficiente para banhar meu pai e os outros, para que consigam chegar aqui em segurança -  Informou lealmente seu Dragão Marinho.

-  Eu já irei então- E apesar de dizer isso, não se moveu de seu lugar.

 Curioso o pequeno grego se aproximou mais para ver também.

-  Esses são os guerreiros do passado? -  Questionou com curiosidade.

-  Sim, desde os tempos mitológicos.-  Respondeu com simpleza.

-  Mas o nome do meu pai, meu e dos outros não está aí - Observou desanimado.

- Isso é porque Atlântida ficou congelada por muito tempo, mas vamos providenciar isso em breve, não se preocupe. -  Tornou a responder sem desviar o olhar do grande mural.

 Havok  também passou a observá-lo com mais cuidado.

- Senhor, por que esse nome está riscado? - Por coincidência ou não, sua mão indicou justamente o nome de Sólon.

- Ele foi nosso maior traidor, porém, também foi aquele que espalhou o boato sobre Atlântida pelo mundo. - Explicou calmamente. -   Responsável por nossa ruína, e responsável pela nossa perpetuação na história humana.

-  Isso é um pouco contraditório -  Disse, confuso, aproximando-se para vê-lo melhor, tocando os também, principalmente aqueles com a gravura de um dragão embaixo. – Esses foram todos os meus antecessores? – Neroda confirmou com a cabeça – Foram muitos!  E alguns tem um nome meio engraçado. – Então seus dedos vacilaram pouco antes do limite que sua altura alcançava, quando notou que em determinado momento no século XIII, acabavam os nomes de seus antecessores.

- Depois desse século, todos aqueles que vestiram a sua armadura não eram dignos dela – Poseidon respondeu a pergunta muda, fazendo seu servo se virar para ele com rosto franzido em dúvida – Eram basicamente usurpadores, apenas um deles, na minha reencarnação passada, foi o que chegou mais perto de um Dragão Marinho real, mas ele acabou deserdando, sem mencionar que foi sua indireta culpa Atlântida ter sido congelada, então seria injusto seu nome estar com os demais.

- Qual era o nome dele? – No entanto, Poseidon não respondeu, limitando-se a respirar fundo - Também nunca me disseram quem foi aquele capaz de congelar todo o reino.

- O antecessor de Aquário – Foi a única resposta que recebeu, fazendo o incomodo do pequeno grego aumentar, novamente nenhum nome havia sido dito, não conseguia entender o porquê desse mistério.

- Poseidon – Ambos se voltaram para ver a figura de Asclépio aproximando-se lentamente, carregando consigo uma ânfora vazia – O ferimento do peito de Kiki já estabilizou, e a anestesia que eu apliquei em suas pernas logo perderá o efeito. Já é mais adequado que vocês possam conversar sobre as expectativas que você tem sobre ele. Já pode acordá-lo, se quiser. – Declarou em tom neutro –Porém, antes disso, gostaria de explicar para ti, Soleil e seus Marinas, sobre mim, Escorpião e Aquário. Prometo que serei breve, mas se vamos trabalhar juntos, creio que é importante que saibam quais foram minhas motivações para fazer o que fiz, como também as de Camus.

- Isso significa que irá conosco para o Santuário? – Épios se limitou a confirmar com a cabeça, embora não parecia nem um pouco feliz com sua própria decisão – Isso é maravilhoso! Sem dúvida irá ajudar muito, não é senhor Nero...Da?

Sua frase foi morrendo aos poucos vendo a expressão contraída de sua divindade, tentando parecer natural, e falhando miseravelmente, o imperador voltou-se ao seu servo.

- Havok, enquanto irei pelos demais na Grécia, e durante a explicação de Esculápio, você poderia olhar por Kiki? Na verdade eu não preciso anular o que fiz, logo ele irá acordar naturalmente, e eu gostaria de evitar que ele fizesse alguma bobagem nesse meio tempo.

O dragão não respondeu imediatamente, sua expressão denotava um misto doloroso de decepção e tristeza. Ainda assim, se forçou a sorrir, inclinando-se em respeito.

- Claro meu senhor. – E sem mais se retirou.

- Havok é...Especial – Disse o imperador, assim que o mais novo se retirou. O médico voltou-se para ele.

- Em que sentido?

- Sua alma. Ela é a mistura dos fragmentos da alma do verdadeiro Dragão Marinho e de um ex cavaleiro de Athena, um cavaleiro azul, que em outra vida forjou laços muito fortes com Kárdia de Escorpião e Dégel de Aquário, principalmente.

Um brilho de entendimento surgiu nos olhos do mais velho.

- Unity?

- Há quantos séculos você segue esses dois?  - Questionou Poseidon em tom irônico voltando-se ao mais alto.

- Há alguns milênios – Confessou com melancolia – Mas de todo o modo, é por isso que não quer que ele escute minha história? Por que ele é um Marina artificial?

- Soa horrível quando você fala assim! – Exclamou com claro desgosto.

- Bem, é o que chamamos algo que foi criado artificialmente para ter uma função. – Declarou com obviedade.

- Eu não sei como explicar isso para ele, não me parece algo “explicável”, também não sei o que pode acontecer se ele ouvir sobre algo relacionado a Kárdia e Dégel. – Bufou em frustração bagunçando o próprio cabelo – Eu tenho medo de como ele possa reagir.

Qual foi sua surpresa e desconcerto quando Épios começou a rir, muito sutilmente.

- Qual a graça?! – Questionou claramente ofendido.

- “Eu não sei” , “Eu tenho medo” ou mesmo se preocupar sobre o que outro irá pensar – Respondeu o médico com um sorriso – Parece que sua humanização definitivamente deu certo “Neroda”. Afinal, um deus jamais diria coisas assim.

- Eu não sei se deveria ficar feliz com isso – Confessou cruzando os braços – Eu ainda não sei o que fazer a respeito desses sentimentos.

- Sim, e é isso que nos faz humanos. – Completou Esculápio – Talvez trabalharmos juntos não seja tão ruim quanto eu pensei, as ações desse “Shun” que todos vocês falam, definitivamente tem uma ação interessante. – Dito isso, atreveu-se a colocar a mão na cabeça do outro e bagunçar seus cabelos, irritando o menor.

- Pare com isso! Eu sou um adolescente! Não sou mais uma criança!! – Exclamou infantilmente, como uma criança faria, inflando as bochechas, lutando para se afastar  -  Eu vou pegar a água das fontes de Atlântida que meus homens separaram, banhados nisso duvido que meus Marinas em terra terão alguma consequência de saúde mesmo vindo para cá rapidamente.

- Muito bem, mas eu esperarei aqui caso você esteja enganado e eles precisarem de algum atendimento médico. – Contrapôs, levando umas das mãos a cintura.

- Eu nunca estou enganado! – Declarou o deus humano com firmeza, enquanto Épios franzia as sobrancelhas para ele. -...Mas para o caso hipotético de eu não estar, você pode ficar aqui, mas não vai precisar.

- Claro.

- Certo! Depois eu penso sobre Havok, há outras coisas que preciso me focar agora! – E dito isso saiu correndo para o local que havia indicado.

Asclépio se limitou a observá-lo.

- Shun... Aquele capaz de amansar, finalmente, o deus dos mares, ao menos, por enquanto. Estou cada vez mais interessado em conhecê-lo.

-.-.-

Erictônio então parou frente a um grande campo devastado, aparentemente era uma plantação de pequenas mudas de árvore até ter sido destruido pelo miasma,  que ainda era abundante em toda a região,  graças a corrente que levava no pulso, Camus era capaz de ver a fumaça arroxeada dominando tudo.

-  O miasma irá impedir que alguém apareça e nos interrompa -  Disse simplesmente voltando-se ao outro -  E julgando por isso que carrega no pulso, imagino que o miasma não será qualquer impedimento para você.

 O aquariano olhou ao redor, além das árvores murchas e quase mortas,  havia também grandes e pequenos pedaços de pedras dispersos por toda a parte, como se tivesse acontecido uma explosão por ali.

- Vamos começar! -  Gritou entusiasmado o filho dos Deuses, correndo rapidamente na direção do mais velho.  A partir de suas costas uma intensa escuridão começou a se estender, cobrindo tudo como uma gigantesca redoma. -  Nesse ambiente eu posso controlar tudo, até mesmo os órgãos dentro de seu corpo!

-  É o golpe que você usou contra Kiki antes. – Analisou calmamente Camus.

Uma vez formado sua proteção, Erictônio flutuou no ar, olhando para baixo com deboche.

- Que tal começarmos comigo vendo um pouquinho do que os séculos reservaram para você enquanto eu estive fora, heim? – Sua voz vinha de nenhum lugar especifico, confundindo a audição do francês, sua visão tampouco era utilizável em meio a todo o breu.

Uma dor alucinante o atingiu, como se algo estivesse andando por dentro de sua carne, levou a mão o máximo que podia para suas costas, arranhando sua própria pele, mas não obteve nenhum efeito, e no momento seguinte, uma enorme dor de cabeça o atingiu, fazendo-o tremer e as imagens vieram a sua mente como se fossem um filme.

Seu corpo tremulo e choroso era abraçado por alguém.

- O-onde está...Onde está Épios? Talvez se formos juntos de volta ao submundo senhor Sólon, possamos trazê-la de volta!!

-...Eu... Nós não sabemos onde Asclépio está, eu sinto muito Eri, mas mesmo que ele retorne, não há nada mais que possamos fazer por...Astéria, eu realmente sinto muito”

-...Eu lembro desse dia, eu estava observando vós, de outra sala – Falou para si mesmo, a divindade.

Camus gemeu de dor, suas pernas querendo falhar, não possuía mais a resistência de antes, não havia experimentado uma dor assim há mais de vinte anos, em sua morte como espectro.

“ – Ele morreu jovem, como sua antecessora, mas sem dúvida morreu com honra, por isso devemos honrar a memória de Escorpião e vencermos a guerra! – E urros de concordância se assomavam, enquanto um menino ruivo de cabelos curtos lutava para segurar suas lágrimas”

“ – Ei, por que tu estás a chorar? Os aquarianos não deveriam de ser insensíveis? – Perguntava um menino de aparência enferma e esquelética – Vamos, ainda tens que defender Athena em meu nome, recor-da...te...

E a fraca mão que segurava com a sua, desvaneceu, e por alguns instantes pôde sentir que o mundo caía ao seu redor”

De novo

E de novo.

“ – Foi uma doença misteriosa”

“- Seu coração não bate mais, sinto por seu amigo, Aquário”

“- A peste, teremos que queimar o corpo dele, Atenas inteira está morrendo por causa disso, senão todo o mundo, não podemos deixar que chegue ao santuário!

- Me custa acreditar que algo tão terrível não seja obra de Hades ou Poseidon, quem sabe mesmo Ares.

Apenas observava imponente, trêmulo, como o corpo deformado se consumia em chamas, e uma dor dilacerante o perfurava ao vê-lo”

“-Seu coração não resistiu Krest, nada pôde ser feito”

“-Você os matou Krest, mas e se eles apenas estivessem sendo controlados pelas borboletas do submundo?

- Isso não importa, eles desonram as casas que juraram proteger”

“- Mestre Krest – Um jovem de cabelos azuis curtos debruçava-se sobre o senhor de idade – Como o senhor sabia como curar minha doença?

- Infelizmente eu não a curei, apenas a retardei, um médico peregrino há muito tempo me ensinou como, quando o contei como perdi um grande amigo quando era jovem”

“- Kárdia, nunca pensou...Na possibilidade de ser curado?

- Claro que já – Respondia o mencionado, comendo uma maçã despreocupadamente – Mas eu sei que não é possível, por isso eu apenas tento viver ao máximo.”

“- Por que você veio até a Sibéria, mesmo sabendo que não suportaria?! – Sua voz saía com uma intensa cólera.

- Eu sei lá, é estupido, mas eu já sabia que iria morrer há meses, pensei em todas as possibilidades e acho que no final tinha medo de morrer sozinho como aconteceu com Kárdia, eu queria ao menos ter a possibilidade de me despedir...Você deve achar isso muito sentimental, não? Mas acho que nos tornamos estúpidos quando não temos mais nada a perder...Mas eu não sei se você entenderia isso... ”

Erictônio estava imerso naquelas lembranças, em sua maioria recordatórios das diferentes mortes que Escorpião sofreu devido a sua alma vulnerável, não sabia ao certo o que sentir sobre isso, ainda mais recordando-se de sua última e derradeira morte.

A enorme dor de cabeça que sentia, a igual que sua tontura, o impediram de perceber que suas reflexões afrouxaram o domínio que possuía sobre o outro.

- Geysir Contraire!* – Então foi com absurdo choque que presenciou uma torrente de água, partindo da direção de Camus, grande o suficiente para tomar toda a redoma, rapidamente a transformando num tanque, forçando-o a desfazê-la.

Incapaz de enxergar, ainda mais desnorteado do que antes, e sentindo espasmos musculares, Erictônio teve dificuldades de encontrar Camus em meio aos vestígios das partículas que caíam por todos os lados, como uma suave chuva.

- Água?! Realmente atacaste com água?! – Tentou dizer sem fôlego. – Parece que o Mago do gelo retorna as suas raízes!

E então foi sua vez de sentir uma dor sufocante, e ao olhar para baixo, ironicamente, da mesma forma que Chronos havia feito com Kiki, viu como uma espada de gelo havia atravessado seu peito, numa região que, no entanto, não iria matá-lo.

-...Uma espada? Para um cavaleiro da deusa....? – Decretou arfante, e um temor percorreu-lhe a espinha quando Camus o tomou pelos cabelos com força, murmurando a resposta em sua orelha, num tom de cólera tão frígido como seus piores golpes.

- Eu já disse, não sou mais um cavaleiro de Athena, é-me indiferente suas leis agora. Eu te matarei como bem quiser, mesmo que seja em um ataque covarde pelas costas, a honra tampouco me importa mais, Erictônio – Sentiu o agarre aos seus cabelos se intensificar ainda mais – Tudo que eu quero agora é te matar da forma mais dolorosa que eu puder, para que sinta, nem que seja um pouco, toda a dor que você nos causou. E isso inclui Asclépio.

O deus engoliu em seco, mas logo começou a rir, quebrando a espada com as mãos nuas, e saltando para se afastar, tropeçando em seu pouso, porém sem perder sua pose.

- Então, mais do que nunca, lutaremos como iguais!

 - Grande Círculo de Gelo! – Foi a única resposta que partiu de Camus, de suas mãos saindo visíveis círculos compostos por ar frio, que foram rapidamente na direção de seu adversário, com o objetivo de prendê-lo.

- Grande Python! – Porém em contrapartida, uma enorme serpente se formou a partir do cosmo da divindade, servindo como barreira protetora, sendo presa em seu lugar - Boa Constrictor!

Uma serpente menor surgiu por trás do antigo prateado, longa o bastante para começar a cercar Camus, como o se fosse seu próprio circulo de gelo.

- Trovão Aurora Ataque – Num movimento igual a execução aurora, porém em velocidade muito superior, Camus disparou contra a Boa, conseguindo dissipar assim o cosmo que o atacava.

- Piquete de Hefesto!* – A cobra sequer havia se dissolvido e Erictônio partia para um novo ataque, dessa vez empunhando outra vez a estaca de forja que havia usado como apoio para enterrar Milo, porém agora ela parecia banhada em um cosmo quente como o fogo da forja do monte Etna.

- Escudo de gelo! – Por poucos segundos, conseguiu criar sua proteção, porém seu corpo não era capaz de aguentar o impacto. Sua perna direita fraquejou, criando assim uma abertura. De suas vestes, tirou o martelo preto e dourado que também usava na cova, e impulsionando a mão esquerda para trás, acertou com tudo a maçã do rosto do aquariano, forte o suficiente para quebrar seus dentes de trás.

Porém, mesmo depois desse movimento, Camus manteve o escudo erguido, embora estivesse sofrendo para manter a estaca fervente afastada usando gelo. Por sua vez, Erictônio, repetidas vezes, parecia perder a firmeza e cambalear, como se algo externo o estivesse enfraquecendo.

- Sabe, essas ferramentas, elas estavam com Kiki, por alguma razão. Quando eu as vi pela primeira vez e as lancei ao mar, não senti nada de especial, mas elas responderam ao meu cosmo depois e obedientemente voltaram para mim, só então eu pude perceber, que essas são ferramentas divinas, pertencentes ao pai que eu nunca conheci. Sabe o que isso significa?

Dizendo isso, chutou o escudo para frente, sabendo que a força atual do aquariano, ainda mais depois do golpe no rosto que o atordoou, não seria suficiente para mantê-lo de pé.

Assim foi, Camus perdeu o equilíbrio, caindo de costas, seu escudo se desfazendo, enquanto tossia sangue do golpe anterior. Porém ao invés de atacá-lo com essa grande oportunidade, as pernas de Erictônio também fraquejaram, caindo sob seus joelhos, arfante, até que repentinamente vomitou.

O mais velho, conseguindo se recuperar de sua queda, observou abismado a peculiar cena em meio de uma batalha, mas somando isso as vacilações que havia presenciado antes, uma conclusão chegou a sua mente.

Esses sintomas nada tinham a ver com o golpe de espada deferido, mesmo assim, os reconhecia muito bem, como não o faria, depois de séculos.

- Picada de escorpião... – Disse sentando-se para recuperar um pouco de fôlego, vendo como Erictônio largava o piquete, segurando sua mão como se seus músculos estivessem se contraindo.

O ex prateado riu com ironia.

- Ah sim, muito perspicaz da sua parte, me desculpe a cena, mas acidentalmente essa coisinha repugnante me atacou. Um escorpião de verdade pode ser ainda mais dolorido do que a Antares de seu velho amigo.

Porém dessa vez, Camus não se deixou levar.

- Você deixou ser picado – Acusou – Eu estava estranhando a luta estar tão parelha, quando eu deveria estar em total desvantagem.

Em resposta, o mais novo sorriu com ironia.

- Era a única forma de estar no mesmo nível de um bibliotecário – Provocou.

- Eu não vou agradecer o gesto – Disse ríspido, levantando com certa dificuldade, sentindo sua coluna latejar. Caminhou até a estaca perdida do deus – Você perguntou se eu sabia o que isso significava – Com as mãos passando por toda a lâmina, criou uma nova espada de gelo, como um suporte para a ferramenta em si, estando ela cravejada na ponta – Significa que eu também posso usá-la como arma divina, capaz de matar um deus.

Erictônio levantou-se, bamba, mas sem deixar de rir, segurando agora seu martelo com as duas mãos.

- Muito bem! Parece que você continua inteligente, depois de tudo.

Camus levou uma das mãos as costas, em clara pose de esgrima, em seus milênios reencarnando como francês, tinha visto algo dessa arte, mas não a manejava desde o século XVII quando as primeiras escolas haviam surgido em sua terra natal.

Mesmo com armas completamente diferentes, ambos se chocaram, Aquário sempre mantendo uma posição mais vertical, e Erictônio apenas lançando golpes cegos.

Milhares de anos haviam se passado, e novamente lutavam um contra o outro numa luta mais bárbara, sem o adjunto de cosmo, dessa vez não porque não sabiam manejá-lo, e sim porque pouca energia lhes restava, seja pelo destreino, seja pelo veneno, e se os dois últimos golpes chocassem, não teriam um vencedor. Então usaria do golpe final, aquele que resistisse ao confronto armado.

Não era um confronto bonito. Por mais que Camus sim recordasse de alguns movimentos de estocada e de floreio, a maior parte do tempo passava verticalizando a espada defendendo-se dos golpes contrários. Se continuassem em um teste de resistência, perderia, precisava terminar esse duelo o quanto antes.

Então uma ideia lhe surgiu, com a mão que se encontrava nas suas costas, rasgou um pedaço de sua própria roupa, sorrindo sutilmente de lado.

Esse sorriso, tão fora de lugar, desconcentrou Erictônio, dando a abertura que Camus necessitava. Fez um giro com os pés,  posicionando-se mais em noventa graus, levou a outra mão para frente, e usou a flanela que havia arrancado para prender um dos pulsos contrários rapidamente, para então puxar-lhe, desestabilizando Erictônio completamente, assim conseguiu dar uma estocada na altura do pulmão contrário, varando-o do outro lado, sem ter tempo para se recuperar, o deus viu como o aquariano entrelaçava as mãos sobre sua cabeça.

- Dessa vez, Sólon não irá te ajudar. EXECUÇÃO AURORA!

Uma potente rajada de gelo formou-se, enviando o ex cavaleiro para longe, caindo sobre os destroços do rochedo que havia destruído durante sua conversa com Medusa.

A espada ainda cravada em seu corpo.

- Eu ganhei.    

A resposta de Erictônio foi uma risada esganiçada.

- Eu conheço essa “técnica” do pano! Parece que tu tens....Uma boa memória...

- Eu não te derrotaria de forma digna, você não merece – Disse aproximando-se do corpo tendido, trêmulo e esbranquiçado pelo gelo. Ao parar do seu lado, pisou na empunhadura de sua lâmina enterrando-a mais no tronco de seu adversário.

Um urro de dor cortou o ar, a sesação era tão absurda que lágrimas de reflexo despontaram por seus olhos.

- Não vai usar mais nenhum truque sujo?

-...Por quê...Eu faria...Isso? – Isso fez o mais velho franzir a expressão – Eu...Consegui o que eu...Queria. Morrer, pelas suas, mãos...

Cuspiu uma quantidade violenta de sangue, seu corpo convulsionando, porém, nada disso fez Camus tirar o pé sobre a lâmina, sequer piscou quando parte do sangue expelido atingiu seu rosto.

- Por quê? – Foi a única pergunta, enquanto limpava o rosto na parte atingida.

- Eu não...Deveria ter....Existido, filho de...Hefesto e....Athena, que ....Ridículo – Lágrimas reais começaram a escorrer por seus olhos – Eu te...Darei uma informação...Importante sobre Chronos se você...Dizer algo a...Épios.

- O que seria? E por que eu manteria a palavra para você? – Questionou seco.

-    Porque tu também....Te importas com ele – Seu corpo parecia aos poucos perder a força – Diga a Asclépio...Perdão por não....Ouvir.

Camus franziu a expressão, mas confirmou com a cabeça.

- Quanto a informação?

- Hyoga....Chronos o....- Sua tosse se intensificou ainda mais - ...Usa como....Receptáculo....Hyoga é....Chronos.

O Aquariano recolheu o pé, o choque estampado em seu rosto, enquanto Erictônio dava seus últimos espasmos.

-...Épios...Eu queria ter...- Porém suas palavras não se completaram, sua boca ficou aberta, e seus olhos perderam qualquer foco. Estava morto.

Por sua vez, Aquário cambaleou, trêmulo, até cair ao chão, com as pernas laçadas, tal qual bêbado, ao lado do cadáver, sua expressão presa em choque.

- Hyoga? Não...Isso não pode ser possível....Hyoga jamais... – Porém seu raciocínio foi completamente interrompido com uma dor latente no meio de seu rosto, foi tentar esfregá-lo, porém, havia caído sobre o sangue de Erictônio e assim, sujou sua face ainda mais com o liquido carmesim.

Então a sensação em seu rosto tornou-se insuportável, como se estivesse em brasa. Incapaz de se conter, gritou de dor, contorceu-se no chão, apenas se manchando mais e mais com o Ikhor

“ Está vendo Camus? Se tivesse ficado do meu lado, isso jamais teria acontecido". Uma voz idosa, que nada parecia-se com Hyoga, soou em sua mente “ Eu sabia que Erictônio iria falhar novamente, por isso devolvi seu sangue divino, e providenciei que ele tivesse as armas certas para cumprir seu desejo. As ferramentas de Hefesto, junto com meu sangue, são até mesmo capazes de matar um deus e destruir sua alma. “

Aquário era incapaz de responder, enquanto presenciava como seu corpo, suas unhas, e até mesmo suas íris e cabelo eram tomadas por manchas vermelhas.

“Ah sim...Subjugar um deus nesse nível  é um imenso pecado, não por menos as próprias Eumênides criaram essa ‘doença’ para condenar aqueles mortais que se atreviam a executar um ser completamente divino, uma condenação dolorosa no corpo e triste no destino, como aconteceu com Aquiles. Porém, nada que você não esteja acostumado, não é mesmo? “

A voz nada mais disse, e o silêncio reinou, enquanto Camus começava a se arrastar dali, o desespero começando a tomá-lo, enquanto o corpo do deus morto começava a se desintegrar, tal qual Shaka, após receber a exclamação de Athena.

- Não posso...Não vou morrer assim...! – Exclamou num misto de agonia e determinação - ...Soleil...Eu ainda....

Contudo, suas lamurias foram interrompidas, quando viu um homem de armadura aproximando-se de si.

Ou ao menos, o que parecia ser um homem.

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Notas Finais


Dedico esse capítulo a Cacau, mais uma que partiu enquanto escrevo essa estória e espero que seja a última, ela nossa cachorra companheiro, nos deixando em seus tenros oito anos, depois de 1 ano de luta contra sua doença.

* Na mitologia, Kairos era frequentemente representado como um homem que andava nu, por isso diz q faz parte de sua natureza, sua preferência por ternos surgiu quando ele se juntou a Mefisto, um deônio/Daemon com preferencias a por roupas elegantes.

*Geysir Contraire - Golpe criado por mim com a ajuda de Dannilo, um de nossos leitores. Gaysir é a palavra islandesa que deu origem ao termo em português Gêiser, enquanto Contraire é "Ao contrário/Inverso" em francês.

* Piquete de Hefesto! - Golpe criado por mim. Piquete é um dos objetos usados geralmente para entalhar madeira ou pedras, mas também pode ser usada na forja.


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