Paris, Junho de 2027.
Sean caminhava de volta, com duas garrafas de água nas mãos, sentindo o calor do asfalto parisiense subir por seus pés. A brisa que soprava trazia consigo o aroma de flores e o som distante de risadas, mas seus pensamentos estavam todos voltados para uma única pessoa. Ele abaixou os óculos de sol, desejando ver claramente a imagem que tanto amava. À distância, Lana estava parada perto de um dos bancos do parque, o sol da tarde iluminando seus cabelos, enquanto ela segurava a filha com delicadeza.
Aquela viagem a Paris tinha sido um misto de trabalho e momentos roubados para si mesmos. A convenção os mantinha ocupados, mas naquele dia específico, eles haviam decidido que nada importava mais do que passar tempo juntos, longe do caos. E agora, ali estava ela, sua esposa, uma figura serena e envolta em um raio de luz, como se o próprio sol a destacasse do resto do mundo.
Hazel, no colo de Lana, se mexia inquieta. O cansaço começava a dominá-la, e ela esfregava o rostinho contra a blusa da mãe, um pequeno sinal de sua batalha contra o sono. Sean percebeu a irritação sutil em seus gestos, mas também notou a paz nos olhos da mulher. Ela não estava preocupada. Apenas acariciava as costas da bebê com ternura, um leve balançar que trazia conforto tanto para Hazel quanto para ela mesma.
O homem se aproximou devagar, quase sem querer interromper a cena que parecia ter saído de um sonho. Ele entregou a garrafa para a esposa, cujos dedos tocaram os seus por um breve segundo, um gesto silencioso de gratidão e cumplicidade.
A menina, ainda lutando contra o sono, abriu os olhinhos quando sentiu a presença do pai se aproximando. Mesmo cansada, ela o reconheceu imediatamente e, com um esforço adorável, esticou uma das mãozinhas para ele. Seus lábios se abriram em um sorriso sonolento, e então ela pronunciou aquela palavra que, nos últimos dias, se tornou a favorita dele:
— Papapa.
Sean não pôde evitar o riso suave que escapou, sentindo o coração derreter com aquela cena. Era engraçado, e emocionante ao mesmo tempo, observar Hazel descobrindo as palavras, mesmo que fossem apenas sílabas repetidas. "Papapa", ela insistia, como se estivesse determinada a se comunicar, a deixar claro que sabia quem ele era.
Ele se abaixou um pouco, tocando a mãozinha estendida, sentindo a suavidade da pele dela contra a sua. Cada vez que sua filha dizia "Papapa" ou "Mamama", parecia um pequeno milagre. Era um simples som, mas para ele, era como testemunhar o início de algo grandioso, uma nova fase em que cada palavra dita seria uma conquista.
E, enquanto ele observava sua filha se aninhar de volta nos braços da mulher, o cansaço finalmente vencendo, Sean se sentiu grato por estar ali, por poder ouvir aquele "Papapa" e saber que ele significava o mundo para aquela pequena criatura, assim como ela significava tudo para ele.
Quando o homem levantou o olhar, encontrou Lana sorrindo para ele, aquele sorriso que sempre conseguia acender algo dentro dele, como se todas as preocupações do mundo desaparecessem por um momento. Ela abaixou a cabeça, afundando o rosto nos cabelos castanhos de Hazel, inalando o suave aroma de bebê. Ele observou como os fios de cabelo da criança, que cada vez mais se assemelhavam aos da mãe, brilhavam sob a luz suave da tarde.
Era curioso, o ator pensou, como a vida funcionava de maneiras misteriosas e maravilhosas. Sua filha não carregava uma grama sequer do DNA deles. Ainda assim, ela parecia cada vez mais uma parte inseparável do que eles eram, refletindo traços físicos e maneirismos que ele reconhecia em Lana, e até mesmo em si mesmo. O jeito como Hazel franzia o nariz ao tentar se livrar do sono, a forma como seu sorriso se abria preguiçosamente, tudo isso era tão familiar.
Ele se perguntou como poderia ser possível que uma criança que não compartilhava seus genes pudesse se parecer tanto com eles. Mas talvez, pensou, isso fosse o que realmente significava ser uma família. Não era apenas sobre genética ou biologia; era sobre os momentos partilhados, os gestos repetidos, os sorrisos que Hazel via e imitava, os abraços que recebia e devolvia com seu próprio carinho inocente.
Sean abriu a própria garrafa de água, sentindo o líquido fresco descer pela garganta enquanto desviava o olhar para o parque à sua volta. Ele observava as pessoas caminhando despreocupadas, famílias estendendo cobertores sobre a grama, crianças correndo e rindo sob o sol da tarde. Era uma cena tão alegre e vibrante, mas ele não conseguiu evitar um suspiro leve, carregado de uma pontinha de tristeza.
Flynn e Leo teriam adorado aquilo ali. A energia do lugar, o espaço para correr e brincar, o simples fato de estarem juntos em uma cidade tão icônica. Mas os meninos não puderam vir dessa vez. Com a escola em pleno andamento, eles ficaram com a mãe em Los Angeles. Era difícil não sentir a ausência deles, especialmente em um momento como aquele, onde ele sabia que a felicidade seria completa se pudesse ter toda a família reunida.
Ele estava perdido nesses pensamentos quando, de repente, a voz de Lana o trouxe de volta à realidade:
— Você lembra a primeira vez que viemos a Paris?
O homem se virou para ela, um sorriso melancólico tocando seus lábios ao lembrar. Foi em 2014, outra convenção que os trouxe à cidade. Naquele tempo, ambos ainda eram casados com outras pessoas, e Paris tinha sido um cenário inesperado para o início de algo que mudaria suas vidas para sempre. Ele se recordou do nervosismo, da excitação crescente, e do momento em que, finalmente, se renderam à atração que sentiam, culminando no primeiro beijo deles.
Era uma lembrança cheia de significado – uma mistura de nostalgia, de decisões difíceis, mas também de gratidão por terem encontrado um no outro algo que valia a pena lutar.
— Como poderia esquecer? — ele respondeu, a voz suave, mas carregada de emoção.
Lana sorriu e mordeu o lábio em seguida, o gesto sutil que Sean conhecia tão bem, aquele que sempre entregava quando ela estava perdida em pensamentos ou recordações. Ele sabia que ela provavelmente estava pensando na mesma coisa que ele. O peso da memória caiu sobre ele como uma onda.
Ele se lembrou de como naquela noite eles tinham bebido mais do que deviam, deixando o vinho francês afrouxar as barreiras que mantinham entre eles. Era como se, de repente, todo o desejo reprimido, toda a tensão que havia se acumulado ao longo dos meses, finalmente encontrasse uma saída. Aquela pequena dose de coragem líquida foi o empurrão que precisaram para fazer o que ambos queriam há tempos, mas nunca tinham se permitido admitir.
Ele recordou vívida e claramente a sensação de senti-la pela primeira vez, os lábios dela nos seus, a forma como o corpo dela se pressionava contra o dele. Era tudo o que ele tinha fantasiado e mais, como se uma energia crua e intensa os conectasse de uma maneira que nenhum deles estava preparado para lidar. Mas então, quando as coisas começaram a esquentar, Lana de repente se afastou, os olhos arregalados, o medo claro em sua expressão. Sem dizer uma palavra, ela saiu do quarto, deixando Sean sozinho com uma mistura de confusão, desejo e arrependimento.
As semanas que se seguiram foram difíceis. A mulher evitava qualquer contato além do estritamente necessário, mantendo as interações frias e profissionais enquanto gravavam juntos. A distância entre eles parecia um abismo, e ele não sabia como cruzá-lo sem afastá-la ainda mais.
— Quem diria que essa seria nossa vida agora?
Ao ouvi-la dizer aquela frase, Sean sentiu um calor de reconhecimento e carinho preencher seu peito. Eles haviam percorrido um longo caminho desde aquele momento de incerteza e medo. Ele olhou para Lana e viu o reflexo do que haviam construído juntos, superando o passado, enfrentando os desafios e criando algo bonito, algo que, naquela época, eles jamais teriam imaginado.
— É — ele respondeu com um sorriso —, quem diria?
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