História Gyeoul Seuta - Contratempo

Sábado, 18 de Fevereiro.

BTS Live Trilogy Episode III: The Wings Tour @ Seoul.

— "Você faz shows nos Estados Unidos para uma audiência de mais de dez mil pessoas? E todos os ingressos são vendidos?" Claro, eu te mostro!

Um documentário.

Já haviam discutido sobre o prospecto de filmarem um "diário de bordo" ainda nas primeiras reuniões de planejamento da tour, no semestre passado, mas foi somente em Janeiro daquele ano que decidiram, de fato, como iriam proceder. Os rapazes queriam mostrar algo mais realista aos fãs, algo cru e sem censura, como em suas "férias" pelos Países Baixos no Bon Voyage, só que desta vez nos bastidores de seu trabalho. E se no final das contas, depois de avaliadas as gravações e estas fossem aprovadas pela equipe de marketing da produtora, o material poderia ser disponibilizado ao público.

Então, depois de meses se preparando, além de gastar as últimas semanas ensaiando, o Bangtan pisava outra vez no palco do Gocheok Sky Dome para fazer o show de abertura. E poder abrir a turnê "em casa" já deixava-os mais calmos, mais confiantes até.

— Espero que lembre do cronograma, porque agora já está um pouco em cima da hora para tentar decorar a ordem de apresentação... — brincou Yoongi se aproximando sorrateiro por trás do Park, o mesmo só faltou derrubar o celular que estava em mãos tamanho o susto.

— Ya, hyung! Me assustou! — o loiro o repreendeu, com uma mão no peito para enfatizar. — E essa piada não tem nem mais graça.

— É, Suga-hyung, ele já teve toda a passagem de som de hoje pra decorar! — o maknae deu corda, tirando onda da cara do esposo. — O que tanto faz nesse celular, já não está na hora de ir se maquiar?

— Já estou indo, só estava checando com a produção se o bolo do Hobi-hyung já chegou. — segredou exibindo a conversa na tela do seu smartphone para os outros dois.

O dia não era especial apenas por conta do primeiro concerto de Wings, não, havia mais uma coisa que tornava aquele sábado particularmente importante para a família Bangtan. Tratava-se do aniversário de Jung Hoseok, o sol particular do grupo.

...

Três horas mais tarde. Encerramento do show.

— Boa noite Seoul! — a voz do líder foi a última a verberar pelo auditório cheio, quase sendo engolida pelas outras milhares gritando de volta em puro delírio.

O show foi um sucesso! Ninguém saiu ferido, não houve problemas técnicos e o público pôde fazer cada minutinho na fila do lado de fora valer a pena. E mesmo agora, depois que os telões se apagaram e os rapazes se juntaram no backstage, ainda era possível ouvir a comoção dentro do estádio.

— Eu não vou chorar! Eu não choro mais em dias felizes! — Hoseok declarou abrindo um largo sorriso para a câmera, enquanto fazia o caminho de volta para o camarim.

Bem, ele já tinha uma idéia do que o aguardava lá, mas era sempre tão empolgante ter todas aquelas pessoas, seus amigos mesmo, seguindo a tradição e lhe cantando parabéns tão entusiasmados. Bastou pisar no cômodo e o coro começou, deixando-o todo bobo. Foi uma noite tão feliz, embora claro, Jimin tenha lhe desequilibrado e o bolo foi parar metade nas costas de Yoongi e a outra parte em cima da bolsa de alguém, mas foi uma noite espetacular. Sem tirar nem pôr.

Ah, nada lhe tirava aquele calor gostoso do peito. Algo lhe dizia que 2017 seria o ano do Bangtan!

— Vai me contar o que pediu? — Yoongi inquiriu curioso, no processo de se despir da camisa suja de glacê, se referindo as velinhas que tiveram que reacender para o aniversariante poder assoprá-las enfim.

— É surpresa! E se eu contar e no fim não se realizar? — Hoseok contornou a situação, entre uma garfada e outra do bolo. — Mas e quanto ao meu presente, hein hyung?

— Está bem aqui, ué! — respondeu de pronto o Min, apontando para si mesmo num pose que julgou descolada, e fez toda a equipe reagir aos risos. Afinal, mesmo que a staff não soubesse ainda da relação de ambos, a piada não deixou de ser engraçada.

Do outro lado do camarim era possível ouvir Jimin e Jin gargalhando até perder o fôlego, um escorado no outro.

— Essa foi a coisa mais gay que eu já vi hoje, e eu sou casado com um homem. — comentou consigo mesmo o maknae, brincando com a filha em seu colo, esta que já tinha seus olhos na fatia de bolo mais próxima.

...

Sexta-feira, 24 de Fevereiro.

'WINGS: You Never Walk Alone' Fansign @ Myeong-dong

Sendo o último fansign promocional de Wings, era esperado que o número de espectadores diminuísse, mas pelo o que os garotos souberam da produtora, o terceiro e último evento teve a Loteria mais disputada de todas!

O sistema de Loteria para os bilhetes de fansing funcionava sorteando aleatoriamente o número de série dos álbuns vendidos em todas as lojas físicas – ou seja, era uma questão de sorte pura conseguir participar de fansings – e, como de praxe, para aumentar as chances, muitas fãs exageravam e compravam dezenas deles. Mas, desta vez, aparentemente uma das sortudas teve o feito de comprar mais de 85 cópias numa tentativa desesperada de ser escolhida para participar do evento.

Bem, souberam que pelo menos ela conseguiu.

E, era por demonstrações assim por parte das fãs, que os garotos se cobravam tanto para dar apenas o seu melhor em retribuição, fosse nos palcos, nos eventos ou em qualquer situação. Pois possuíam um fandom muito dedicado!

— ... que belo nome você tem. Acho até que somos parentes, Jeon JiYoung! — riu-se Jungkook ao autografar o caderninho decorado da nova moça à sua frente. Esta lhe sorria envergonhada, agradecendo profusamente.

— Posso tocar suas mãos? — ela pediu num só fôlego, atrapalhada, apenas para ficar adoravelmente corada logo em seguida.

— Não sei, você pode? — pirraçou o maknae, largando o marcador para estender suas palmas na direção da morena. Mas quando a fã tentou tocá-las, ele as afastou rindo-se, e ela o acompanhou. Jungook repetiu a brincadeira mais uma vez antes de dar-se por satisfeito. — Desculpe. Agora é pra valer.

— Mesmo?

— Mesmo.

Dito e feito, Jungkook permitiu que ela finalmente pudesse colar suas palmas. As mãos da moça, pouco menores que a sua, tremiam e até suavam um pouco; mas o maknae realmente não se importou quando ela entrelaçou-as. Ela ficou tão feliz só com esse pequeno gesto que por um momento seus olhos encheram-se d'água por detrás das finas lentes do óculos que usava, amolecendo o maknae.

Ah! Era com esses pequenos momentos que o idol ganhava o seu dia!

Dado seu tempo de interação, a moça agradeceu e despediram-se antes que ela seguisse para o próximo. Jungkook procurou checar então o andamento da fila e percebeu que a próxima fã ainda estava no começo da bancada, à três hyungs de distância, encaixando presilhas de orelhinhas de gato no cabelo de Yoongi. E o maknae não pôde deixar de notar como os acessórios eram de bom gosto.

Ficariam tão fofas nela. — pensou absorto o maknae, imaginando a filha com orelhinhas felpudas embrenhadas no cabelinho escuro e espesso.

E antes que percebesse estava rabiscando numa folha de rascunho, e logo os rabiscos tomavam forma. O Jeon tem feito muito isso ultimamente, era como se Gyuri fosse seu modelo e inspiração para voltar à desenhar. Ele nem percebeu quando se fechou do mundo exterior, mergulhado em sua arte por alguns minutos.

— Oh, o que está fazendo? — Jin quis saber, esgueirando-se para ver o que ele desenhava. — Que fofo!

Antes que o maknae pudesse reagir, uma nova menina se acomodava de joelhos à sua frente, trazendo uma sacolinha com presentes. Ela vislumbrou rapidamente o desenho e demonstrou interesse.

— Jungkook-Oppa! Que desenho lindo! — ela elogiou parecendo surpresa ao encontrar o esboço na mesa. Se sua memória não lhe falhava, aquela moça se chamava Hyerin, e ela comparecia com grande assiduidade aos fansigns – e praticamente à todo evento do BTS também –, sempre carregada de presentes e cartinhas para distribuir. — Eu posso ver?

— Hm... claro. Mas são só... só uns rabiscos... — de repente o Jeon entrou em pânico. Sentindo como se tivesse acabado de se delatar.

— Daebak! Ficou incrível! — ela voltou à elogiar sincera, debruçada sobre a mesa para poder ver melhor. — Oppa, posta no Fancafe mais tarde! Por favor, por favor! — ela pediu enérgica, juntando as mãos em oração para enfatizar seu pedido.

— Eu... prometo que vou pensar. — respondeu evasivo, coçando a nuca desconcertado. — Está bem?

— Tudo bem. Mas quem é que você desenhou?

— É. Quem é, Jungkook-ah? — seu hyung insistiu, pressionando-o com um olhar de que sabia bem de quem se tratava.

Pensando rápido, o maknae sorriu amarelo ao responder:

— Army...?

...

Duas semanas mais tarde.

À quem perguntasse, Yoongi diria que era um sujeito de personalidade simples. Empático, porém reservado e também bastante objetivo... menos, é claro, quando se tratava do seu próprio aniversário. Era difícil dizer o que ele esperava dos outros, logo então era difícil escolher presentes para ele. Por isso os amigos improvisavam, e, com o passar dos anos, os presentes foram ficando cada vez mais... aleatórios. Beirando à bizarrice muitas vezes.

Desde a aceitável escova de dentes infantil do Pororo que Taehyung lhe deu, à um jogo de almofadas no formato do emoji de fezes que Seokjin até hoje jura ter lhe presenteado com a melhor das intenções.

Contudo, este ano a família Bangtan se superou. Era como se eles tivessem combinado entre si apenas para deixá-lo embaraçado! Felizmente ele decidiu abri-los no jatinho à caminho da segunda parada da tour, lhe conferindo assim privacidade o bastante do resto da equipe. Não queria ninguém mais presenciando seu embaraço.

— Isso é tão conflituoso... quer dizer, eu amo vocês, mas ao mesmo tempo eu quero enfiar peças de lego numa meia bem desgastada e usar para infligir dor em cada um de vocês. — declarou o Min depois de abrir o terceiro embrulho e perceber que havia um padrão ali.

Os demais, reunidos à sua volta, gargalhavam entretidos. Aquilo era simplesmente divertido demais!

Seokjin, Jungkook e Taehyung haviam lhe presenteado, respectivamente, com algemas felpudas rosa, uma mordaça de bola e uma palmatória de silicone com o formato de uma "mãozinha". Yoongi tinha até medo de abrir os próximos! Mas se bem que ele conseguia entender de onde veio essa idéia inadequada para os presentes, afinal estavam todos o sacaneando desde o episódio em Hong Kong quando, na manhã seguinte ao MAMA quando foram fechar a conta do hotel, uma arrumadeira encontrou, higienizou e devolveu o plug anal que encontrou abandonado no quarto do Min. Como foi encontrado justamente no quarto dele, Yoongi se tornou o alvo principal e malmente pirraçavam Hoseok também.

— Eu preciso mesmo continuar com isso...? — perguntou suspirando exasperado, embora pelo canto de seus lábios levemente repuxados era fácil dizer que ele próprio estava encontrando humor naquilo.

— Sim! — responderam em uníssono, o apressando para abrir os próximos.

E Yoongi o fez, decidindo se desfazer de sua máscara de indiferença e acompanhar os demais na brincadeira.

— Velas aromatizadas? Eu te respeito cada dia mais, Kim Namjoon. — declarou ao abrir o embrulho seguinte, tendo o líder como remetente.

— Hyung! Essa foi fraca! — Taehyung criticou decepcionado.

— Ué, eu achei que cera de vela também fosse bondage! — se defendeu Namjoon encolhendo os ombros, e os demais concordaram então que era uma boa idéia. — Eu pesquisei, okay?!

— High five! — Jin anunciou erguendo a destra e Namjoon respondeu entusiasticamente ao seu cumprimento, rindo cúmplice do olhar abismado de Yoongi.

— Ok. Esse é do Jimin... e considerando o seu histórico, Chim, eu espero um pouco mais de empatia da sua parte. — o rapper avisou ao recolher o penúltimo presente da mesinha retrátil ao lado, tateando brevemente o pacote antes de decidir rasgar o papel de presente, encontrando uma embalagem mediana de um sex shop. — Oh.

Era um conjunto. Uma tiara com um par chifrinhos vermelhos e então uma cauda também de "diabinho" na mesma cor, e uma das extremidades dessa cauda tinha – não para a sua surpresa – um plug anal de silicone. E, embora aquilo tudo não passasse de uma piada interna entre seus amigos, a mente do Min não pôde deixar de traí-lo, plantando depravações em sua mente acerca daquele conjuntinho. E em como ele poderia fazer bom proveito do mesmo exclusivamente com seu namorado.

Merda! Jimin era bom nisso!

— Okay... antes que eu ponha fogo em tudo e enterre os vestígios, Jung Hoseok! Você é minha última esperança. — concluiu o Min, tentando se livrar daqueles pensamentos inadequados imediatamente. Quando, entretanto, Suga violou o pacote de presente ligeiramente menor do namorado, sua boca se abriu num perfeito 'O'. — Ah, sério?!

— Não me leve à mal, a gente já tinha combinado os presentes. — o Jung deu de ombros como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Meu nome é Jung Hoseok, e eu defendo o sexo seguro! — completou com solenidade, como se fosse um aspirante à político num discursinho brega.

Yoongi se entregou de vez ao embaraço, escondendo imediatamente o rosto ao que sentiu as bochechas aquecerem muito rapidamente. Pois a pior parte do presente que Hoseok lhe deu, é o fato de que este sim estariam com certeza usando em breve. Eram camisinhas e, por Deus! Elas brilhavam no escuro!

...

A viagem até o Chile foi longa embora menos desgastante que um voo comercial, com uma curta escala no Hawaii inclusive para repor o combustível, e então pousaram no Aeroporto Internacional de Santiago pelo começo da tarde. Sendo imediatamente recepcionados de forma calorosa pelas fãs, que além de fazerem bastante barulho para recebê-los, ainda cantaram parabéns em um grande coro para Yoongi.

Desnecessário dizer o quão ficaram empolgados, e impressionados, claro.

Os rapazes num primeiro momento foram direto para o hotel se instalarem, para poder tomar banho e repôr as energias, e mais tarde no mesmo dia decidiram ir jantar fora – com exceção de Yoongi que decidiu prolongar sua soneca – num restaurante coreano. E, para sua estupefação, não só a entrada do hotel esteve cercada desde que chegaram horas atrás como também foi cercada a van que os conduziu até o restaurante. Foram praticamente escoltados pelas fãs chilenas o tempo todo.

Era fofo, mas um pouco preocupante, elas não se cansavam de ficar lhes seguindo para todo lado o dia inteiro?

— O ensaio aberto amanhã... é pra quantas pessoas? — Taehyung quis saber.

— Quinhetas. — o líder respondeu e logo então estavam tentando decidir quais musicas cantariam para o próximo show, conservando de forma descontraída, aos risos.

— Vamos cantar Lie, Stigma, Begin e pronto!

— E a do hyung que não está presente. Qual era a música dele mesmo?

— First Love! Você esqueceu mesmo?! Hahaha!

Jungkook, o próprio, bastou estar de barriga cheia para começar com as palhaçadas que tanto entretinham seus hyungs. Ele adorava imitar as coreografias dos solos de seus hyungs, em particular "Lie", porque nunca falhava em fazer Jimin rir.

No final das contas não conseguiram decidir nada, apenas brincar entre si, simplesmente empolgados. Como se houvessem absorvido a energia das fãs internacionais por osmose! Já fazia por volta de dois anos desde a The Red Bullet, voltar enfim à estrada e poder fazer uma nova turnê mundial deixava-os ansiosos, eufóricos! Era tão bom poder voltar à se apresentar em palco estrangeiro, cantar para rostos novos e igualmente felizes em recebê-los.

Não eram mais os mesmos da última turnê, sentiam-se mais preparados desta vez, confiantes até. E com tamanho entusiasmo assim, não tinha como nada dar errado.

Exceto quando dava algo errado.

...

Domingo, 12 de Março.

BTS Live Trilogy Episode III: The Wings Tour @ Santiago, Chile.

— Olha lá, Gyul! Uau, é o papai! — Jimin apontava enérgico para o telão enquanto balançava a filha nos braços, incentivando a bebê à reconhecer o rosto de Jungkook nas imagens rodando. Gyuri o olhou com estranhamento por um instante e então procurou para onde ele tanto apontava, ficando de pronto entretida pela tela gigante cheia de cores e luz.

O grupo já estava reunido na Moviestar Arena desde o começo da tarde, ensaiando as coreografias, fazendo reconhecimento de palco e checando os elementos de luz e som. O ensaio aberto seria apenas mais tarde, e enquanto isso Jimin passeava com a filha por ali, fazendo questão de cumprimentar toda a staff da BigHit que ficavam bobos com a presença da menina.

— Oh, mas já? — o Park surpreendeu-se quando a filha começou à fazer manha, puxando sua camisa em sinal de fome. Ele procurou então retornar para o camarim, aconchegando-se num canto mais reservado – vulgo, onde ninguém da staff o visse – para poder amamentar a marrentinha que já grunhia em estresse. — Tá bom, tá bom! Eu já entendi, você está com fome!

Frustrado por roupa masculina ser tão imprática, Jimin levantou a barra da camiseta com alguma dificuldade e posicionou Gyuri deitada em seu colo, deixando que ela o abocanhasse como se estivesse sem comer à dias.

— Au, au, au! — choramingou de dor com a força em que ela sugava o leite, machucando-o. — Não faz assim, meu amor. Assim faz dodói em mim.

Jimin ficou ali por alguns minutos, aconchegado no sofá amamentando Gyuri, afagando seus cabelinhos lisos enquanto a observava com um sorriso permanente nos lábios. Ah, como ele amava aqueles momentos de intimidade que só ele podia ter com a filha! Poder alimentá-la do seu próprio peito sem restrições – afinal lactava com incrível abundância –, brincar com seus dedinhos minúsculos enquanto cantava ou apenas conversava aos sussurros com ela, fascinado pela maneira com que a própria Gyuri lhe observava de volta. Seus olhinhos ímpares mal piscavam. Seu papai era tudo que ela via. Vez ou outra ela ainda esticava uma mãozinha e tentava tocar seu rosto, afagando com carinho, e aquilo derretia o coração do papai.

O Park só foi tirado de seu mundinho particular quando ouviu alguém pigarrear, levantando o olhar assustado para encontrar Namjoon.

— Isso... isso vai demorar muito ainda? — perguntou o líder um pouco sem graça, apontando para Gyuri. — O ensaio já vai começar. E você tem que tentar controlar o maknae também, ele parece um roedor que comeu açúcar! O garoto já deve ter feito quase uma hora inteira de repetição do solo dele.

Só alguns minutos mais tarde e Jimin pôde comprovar com os próprios olhos o quão enérgico o esposo estava, de fato. Durante a passagem de som o que se leva em consideração é mais a parte técnica, como as posições no palco, os microfones e a sincronia do grupo; é importante poupar o corpo durante coreografias mais intensas pois não muito mais tarde estariam se apresentando pra valer. Era necessário moderar a estamina para manter o ritmo durante o show. E, mesmo sabendo disso, Jungkook não estava moderando nem um pouco.

Jimin ficou apreensivo com a maneira em que o marido estava dançando, nem mesmo os dançarinos estavam acompanhando seu ritmo. A coreografia de Begin era intensa demais no refrão e ele estava fazendo pra valer, mesmo que ficasse clara a sua fadiga.

— Ei, vai com calma. É só o ensaio, lembra? Guarde suas energias para mais tarde. — Jimin teve de lembrá-lo, no curto intervalo em que o Jeon descia do palco e ele próprio subia.

Jungkook na verdade estava assim desde o primeiro show na cidade, ainda no dia anterior, tanto que ele tirou uma soneca ininterrupta de quatro horas só de cansaço depois do concerto no sábado. Aquilo preocupou o Park, e ele não conseguia concentrar-se muito bem no que estava fazendo, com receio de que algo acontecesse.

E infelizmente aconteceu.

Jungkook começou à sentir o desconforto antes mesmo de pisar no palco àquela noite, mas julgou que a tremedeira e o suor fossem apenas nervosismo, e fez pouco caso da situação. Entretanto as coisas foram piorando gradativamente, deixando-o vertiginado, febril e até com dificuldades para respirar; o Jeon resistiu com pura força de vontade até o terceiro ato, e somente depois da décima canção (I Need You), ao retornar para o camarim para a pausa de apresentação do VCR, ele cedeu à exaustão.

O pobrezinho desfaleceu sobre o sofá do camarim, calculando mentalmente quanto tempo os quatro solos restantes de seus companheiros lhe confeririam para que pudesse repor as energias, e isso assustou os seus hyungs e o pessoal da staff. Não demorou muito para os paramédicos serem acionados e irem ao seu socorro; eles lhe despiram da parte superior do figurino, fizeram uma massagem terapêutica, aplicaram compressas de gelo e ainda fizeram exercícios de respiração com a ajuda de uma bombinha de ar. O Jeon estava se sentindo muito mal, todo seu corpo protestava de dor, sua cabeça latejava e ele sentia que ia chorar à qualquer momento naquele estado.

Os solos de Namjoon, Taehyung, Hoseok e Jin combinados e somado aos "curtas" reproduzidos durante os intervalos do concerto deram à Jungkook uma janela de tempo de aproximadamente trinta minutos para descansar. Não era muito, mas já fez uma grande diferença. Jimin não saía de seu lado, claro, mas de longe o líder parecia o mais angustiado em vê-lo daquele jeito, andando de um lado para o outro e perguntando repetidas vezes como ele estava. Ele quase se atrasou para a apresentação de "Reflection" porque estava preocupado demais com o maknae.

— Deve ser o clima dessa cidade, é verão e o tempo aqui é seco e absurdamente quente nessa época do ano! — o líder racionalizava, assistindo-o se hidratar com as garrafinhas geladas. — Jungkook-ah, não se preocupe, você vai ficar bem...

O Jeon não estava exatamente 100% recuperado quando precisou retornar para o palco, para concluir o concerto, mas ele foi mesmo assim. E com grande profissionalismo ele agiu como se nada estivesse acontecendo, mesmo que em alguns momentos, como durante a coreografia de "Fire", ele tenha vacilado. Mesmo os maiores cartazes ficavam borrados em sua visão, e se o rapaz não tivesse adquirido um bom senso de espaço por conta dos ensaios, já teria trombado com os demais durante as coreografias ou até pisado para fora do palco. Seus hyungs o vigiavam preocupadíssimos, embora tentassem não externar e causar pânico, incertos se era mesmo uma boa idéia Jungkook se puxar tanto até o fim.

Foi com tremendo alívio que as últimas notas de "Spring Day" ecoaram pelo auditório acompanhados de estouros de confete, permitindo que o Bangtan agradecesse mais uma vez a presença das fãs e então se retirassem em meio às ovações e despedidas. Um paramédico já aguardava pelo maknae nos bastidores e o guiou até uma saleta onde ele foi deitado no chão e novamente recebeu assistência médica imediata. Mas felizmente não estava tão mal quanto da primeira vez, apenas precisou de alguns minutos deitado para aliviar as pernas bambas.

— Não me assusta mais assim! — Jimin resmungou em distresse quando Jungkook tornou à se recompor, liberado pela equipe médica. — Vamos, eu vou te levar para os hyungs.

— Okay... eu mandei bem, hyung? Você acha que elas perceberam?

 A preocupação genuína do maknae abalou o esposo. Jungkook era realmente um garoto de ouro.

— Mandou sim. Você foi o melhor hoje, meu amor!

Jungkook sorriu fraquinho, satisfeito ao receber do amado um beijinho de reconhecimento em sua bochecha.

"Não vamos ver esses fãs por muito tempo. Gostaria de ser lembrado do melhor jeito possível. Acho que foi por isso que me esforcei tanto."