Eu não sei bem por onde começar, porém prometo que vou tentar meu melhor. Tudo começou quando eu tentei realizar um dos meus sonhos. Bom, só para você saber eu já tive centenas deles e posso te confirmar que continuam sendo apenas um sonho. No decorrer dessa história não tão normal que foi minha vida, juro que vou me esforçar para lembrar alguns deles e te deixar à parte, mas antes queria que você conhecesse um mito grego, tudo bem, eu sei, cortei o clima mas essa parte é um pouco importante, então guarde isso no seu brilhante cérebro, promete?
De acordo com a mitologia grega os seres humanos foram criados com quatro braços, quatro pernas e duas cabeças com duas faces, então Zeus temendo do poder desses seres dividiu-os em dois, separando-os e, consequentemente condenando-os a passar o resto de suas vidas em busca de sua outra metade, almas gêmeas. Um dia achar minha outra metade já foi um sonho porém creio que se tornou um pesadelo, um lindo, por sinal.
Emily, esse é meu nome, desculpe por não me apresentar antes, o problema é que não sou muito boa com introduções e pior ainda em despedidas, então espero que não tenha me entendido mal, não sou mal educada, minha mãe me educou muito bem. Sim, minha mãe, não sei como descrever meu pai sem ser desrespeitosa, então vamos apenas pular essa parte? Obrigada. Continuando minha descrição, não tenho muito o que dizer, você prefere um panorama da minha personalidade ou do meu físico? Vou ficar encarregada dos dois, porém minha personalidade você pode conhecer ao longo da narrativa.
Emily Evans, meu nome, já é um bom começo, não? Bem, então acho que devo prosseguir, eu gosto de me descrever como uma menina, ariana (não conheço muito sobre signos, para ser sincera, quase nada). Sou difícil de lidar, eu admito. Posso te dizer que também sou um pouco incompreendida e raramente falo sem pensar, isso eu agradeço a minha timidez pelas pouquíssimas vezes em que me ajudou. A Emily de hoje não se preocupa com a perfeição, não mais. Chega disso, eu sei que você quer saber como eu sou, fisicamente, tudo bem stalker.
Quando me olho no espelho, meus longos cabelos castanhos quase negros se destacam e meus olhos, bom, eles são comuns - assim como eu - castanhos. Uma vez eu li na internet que uma das únicas cores que os daltônicos conseguem ver assim como nós enxergamos é o castanho de nossos olhos, isso me instigou um pouco por um tempo e caso eu descubra se é verídico eu te conto, promessa de dedinho ok? Eu não sou alta e nem tão baixa, estou muito bem com meus 1,65 metros. E então, chegamos na parte que me incomodou durante anos, principalmente na minha adolescência, sempre tive aquela barriguinha e minha mãe me dizia que isso era por causa das besteiras que eu gostava de comer, mas tudo bem, todos temos imperfeições, e a minha barriga era a menor delas.
Eu comecei minha faculdade de literatura e eu já estrava completamente frustrada, nunca foi meu sonho até porque eu não tinha vocação mas assim que adentrei naquela sala, nem um guindaste me tirava. Timothée, eu ainda só sabia o seu primeiro nome, graças a sua participação naquela aula. Aquela voz, nunca vou esquecer, nem em um milhão de anos. Primeiro ele disse seu nome e logo após, sua pergunta que mais parecia uma afirmação para mim:
— Timothée e eu acho que toda essa revolta das pessoas que não aceitam que a Capitu traiu o Bentinho é por conta de, hoje, quererem pintá-la como uma heroína proto-feminista a frente de seu tempo. No livro, ela é uma jovem manipuladora e mentirosa que estraga um garoto inocente. Ela não é a heroína. — ele disse com sua voz emanando uma carga enorme de ódio no ambiente. Ele parecia ferido e a única coisa que eu queria saber: quem te machucou Timothée?
E foi nesse exato momento, a primeira vez depois de 45 minutos de aula que eu levantei minha cabeça, desculpe mãe mas eu estava concentrada desenhando no meu caderno, não é sempre que tenho inspiração. Bom, e se eu te contar que no meu ensino médio esse livro, "Dom Casmurro" era leitura obrigatória e eu nunca me dei o trabalho de ler, pois bem, exatamente, literatura não é para mim.
E com essa fala a classe inteira virou um pé de guerra, Timothée levava o caos ou ele era o próprio caos? Eu apenas fiquei sentada observando tudo e pensando que eu tinha que ler esse livro, porém analisando a sala discutindo seus pontos e eu nem tendo um, me fez enxergar o que talvez ninguém percebeu. E se Machado queria exatamente isso? Pelo o que ouvi Bentinho narrava a história, não é? Então ele não é um narrador confiável, obviamente, e era exatamente isso o que ele queria, certo? Deixar essa dúvida pairando eternamente em nossas cabeças e se não há evidências concretas no livro dessa suposta traição, então é óbvio que cada um vai concluir uma coisa por interpretações subjetivas. Capitu traiu Bentinho? Cabe você leitor escolher.
Talvez eu não fosse tão ruim em literatura quanto pensava, me senti em um dos episódios de "How to get away with murder", tudo bem que não houve nenhum assassinato no livro, pelo menos eu acho. O professor continuou a aula com um sorriso de canto, ele parecia feliz pela participação dos alunos e até passou um dever para casa para nos enturmarmos. A atividade consistia em: escrever um poema sobre ou para alguém da sala e deixar a pessoa no anônimo e por último e mais frustante... Ler para a sala inteira.
Eu precisava voltar a rabiscar no papel do meu caderno caso contrário eu ficaria ansiosa sobre isso o dia inteiro e foi exatamente isso o que eu fiz, rabisquei meu caderno, porém dessa vez eu estava prestando atenção no que o professor dizia.
x x x
Depois de longas horas conhecendo nossos professores, finalmente, eu poderia desfrutar da minha liberdade. Então me apressei, coloquei meu caderno e estojo rapidamente na minha mochila e somente nesse tempo de arrumar as coisas, praticamente, não havia mais ninguém ali, porém Timothée continuava com a cabeça encostada na parede ao fundo da sala, não dei importância e continuei meu caminho.
Emily não seria Emily caso não esbarrasse em alguém, droga, achei que pelo menos no meu primeiro dia de aula o azar me deixaria em paz, pelo visto não. O garoto na minha frente parecia super feliz por eu ter derrubado sua garrafinha e todos seus livros, tudo bem, essa faculdade está completa de loucos.
— Me desculpe, não foi minha intenção.— falei ainda estranhando esse sorrisinho no rosto dele porém me acelerei para pegar suas coisas do chão e devolver para suas mãos.
— Garota, tá tudo bem, relaxa. Posso te perguntar uma coisa? — ele disse baixinho como se fosse um super segredo e eu concordei com a cabeça.
— Timothée Chalamet é dessa sala? — ele continuava com seu tom baixo e eu só conseguia pensar, será que é o mesmo Timothée? Se for eu acabo de descobrir seu sobrenome.
— Não sei. — falo simplesmente e ele só falta voar na minha garganta.
— Como assim não sabe? Garota não brinca comigo, eu tenho quase certeza que ele é dessa sala. — ele disse
— Tem um Timothée nessa sala se você quiser falar com ele, é só passar por essa porta. — dito isso ele logo se esguia pelo batente da porta e quando seu corpo elegantemente alto volta, o corredor inteiro é preenchido por seu grito.
— É ELE. Preciso de um favor seu, pela misericórdia você poderia perguntar qual o Instagram dele? — ele disse e eu no mesmo instante discordei da ideia, eu ainda não estou nesse nível de loucura.
— E por que não vai você? — eu o cortei e ele já foi me colocando dentro da sala. Emily.não.surta. Timothée continuava no mesmo lugar porém agora com os olhos em mim. DROGA. EU NÃO VOU FAZER ISSO, rapidamente me retiro da sala. Esse garoto é doido ao quadrado, só pode ser.
— E se eu te pagar um salgado? — ele oferece e eu maneio um pouco a cabeça, talvez não seja tão ruim, duas palavras por um salgado, me parece uma boa, além do mais eu me esbarrei nele e derrubei tudo do coitado, não é?
— Tudo bem, mas isso é pelo salgado ok? — digo tentando enganar ele e a mim mesma, lá vou eu Timothée.
Respiro fundo e entro de vez na sala, ainda consigo escutar um "É isso aí garota" sorrio porém com meu corpo inteiro tremendo, me sinto uma gelatina nesse momento. Eu consigo fazer isso, certo? O caminho parecia nunca terminar porém uma Evans nunca desiste. E então eu me sento na cadeira em frente a ele, me viro um pouco e pergunto de vez.
— Qual seu user no Instagram? — falei tão rápido, merda, talvez ele não tenha entendido, onde eu fui me meter Deus?
— Claro, espera. — ele rapidamente escreve no seu caderno, arranca a folha e logo coloca em minhas mãos, nossa, isso foi bem fácil.
— Por que você ainda continua aqui na sala enquanto todos foram para casa? — eu digo tentando não ser evasiva, talvez eu tenha falhado nisso.
— Pelo mesmo motivo que o seu — ele disse simplesmente.
— Pedir meu Instagram? — deixo escapar um risada de nervoso, esse garoto ainda vai me enlouquecer.
— Quase isso, estava esperando você vir falar comigo. — ele diz com naturalidade e eu tento de todos os jeitos processar essa informação.
— Estranho... Como você sabia que eu viria falar com você? — Emily eram só 5 palavras, cala essa boca e vai embora.
— Eu não sabia para falar a verdade, mas se você não viesse eu iria procurar por você — ele disse.
— Você é estranho... e obrigada pelo Instagram — eu precisava sair dali, essa conversa estava indo levando um rumo muito louco.
Abro a porta de madeira e assim que o faço aprecio a cena do menino que me obrigou a fazer tudo isso quase se espatifando no chão, além de tudo é um belo de um fofoqueiro. Me adianto e entrego o papel com o Instagram de Timothée, sem ao menos ler.
Apresso meus passos tanto que se eu desse um mínimo deslize eu cairia bem feio. Que incrível começo de ano Emily, parabéns por ser uma tremenda estúpida.
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