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História Hogwarts Mystery - Nyx Morrigan - Valendo!


Escrita por: NyxMorrigan

Notas do Autor


Venho com a triste notícia que os capítulos tendem a demorar cada vez mais, em contrapartida, vão ficar mais longos... aliás, vocês gostam de capítulos longos? E outra: vocês gostam dos capítulos de quadribol (tem um ponto sobre isso nas Notas Finais)?

Bom, o Segundo Ano está quase acabando... Boa leitura! <3

Capítulo 15 - Valendo!


Fanfic / Fanfiction Hogwarts Mystery - Nyx Morrigan - Valendo!

Respiro fundo, o ar gélido machuca um pouco. Balanço os braços numa tentativa de me livrar da tensão.

Consigo ouvir um murmúrio ao longe e também próximo, da torcida acima dos vestiários e dos outros aspirantes a artilheiro que estão comigo na tenda. Os outros…

— Nyx!

— Ah, oi, Chiara — parei no meio da escada que leva às masmorras. — Aconteceu alguma coisa?

— Penny me falou que você vai fazer o teste para artilheiro da Sonserina hoje. Por que não me falou? Você não pode fazer o teste tendo praticamente passado a noite em claro!

— Relaxa, Chiara, eu só tenho que tirar um cochilo, está tudo bem — dei de ombros, voltando a descer. — Vou tirar esse teste de letra.

— Mas, Nyx…

— Você e Penny se preocupam à toa, sou a melhor aspirante dentre os que vão fazer o teste e eu nem sei quem são.

Aceno com a mão e me dirijo a comunal, só preciso mesmo de um cochilo, meu corpo clama por isso.

— Onde você passou a noite? E o seu teste?

— Falso ataque de lobisomem — é tudo o que digo antes de afundar no colchão.

Pensando nisso agora, não tenho mais tanta certeza. Odeio admitir, mas esses outros têm um certo potencial.

Skye me emprestou seu equipamento de segurança: as joelheiras, capacete e protetores de braços, que finjo apertar agora enquanto observo a concorrência, dois se destacam: uma garota alta e esguia, parece rápida, e um garoto loiro e corpulento, forte.

— Está quase na hora do seu teste — Skye vem de trás. — Como está se sentindo?

Sorrio. Percebo algumas olhadas tortas, invejáveis, dos outros presentes.

— Estou animada. Parece que eu estava esperando por essa oportunidade faz séculos. 

— Também acho! — ela ri. — Minhas chances de nos levar ao sucesso e ganhar a Taça das Casas ficam muito melhores com você no time.

— Nunca sei quando você está brincando, Skye.

— Os testes não são brincadeira, mas você caça maldições, Nyx. Você consegue.

Ela se aproxima, um passo curto e desajeitado. E me dá um soquinho no braço esquerdo.

— Vá com tudo. Mostre seu vigor e capacidade física — ela vai saindo de costas. — Nada é mais importante.

— Que bom que você está de volta.

Skye quase cai por conta de uma certa cadeira de rodas invadindo a tenda atrás de si. Entre resmungos e risadas, Murphy se desculpa e se aproxima.

— Meu conselho funcionou! Eu vi você falando com Orion da minha cabine, depois eu o vi falar algo de volta... Aí eu ouvi você gritar: FINALMENTE VOU FAZER O TESTE...

— O que é isso?! — o garoto corpulento, com cara de morsa, reclama. — A Pince está tentando ser artilheira agora?

— Acho que todos estão tentando se concentrar nos testes, Murphy...

— Melhor eles se acostumarem com o som da minha voz, certo? Falando do teste, está pronta?

— 100% pronta! Não consigo pensar em mais nada que poderia fazer para me preparar.

— Eu posso! Você poderia ter uma vassoura melhor, poderia ter estudado mais, você poderia...

— Cala a boca! — o cara-de-morsa grita.

— Povo divertido — Murphy ri e se cala, me fitando de canto. — Mas talvez seja parte da estratégia deles para enganar você em campo, fazer você pensar que estão nervosos... Não deixe te fazerem de boba, Nyx! — ele começa a dar ré na cadeira aos poucos. — Lembre-se, nada é mais importante do que estratégia. 

— Vou tentar não decepcionar.

Murphy para de frente para o garoto com cara de morsa, o olha de cima a baixo.

— Se eu fosse você, nem tentaria — diz ele, e sai da tenda. O garoto me olha feio.

— Eu daria ouvidos — dou de ombros, sorrindo. — Ele é olheiro de talentos.

Solto o ar, aliviada. Falar com esses dois me deixou mais leve.

Escuto um esguicho de grama na lama, e me viro para ver os concorrentes e o time tentando manter a postura quando Orion Amari entra na tenda, alguns acenam com a cabeça, mas ele caminha até mim, como os outros dois fizeram.

— A hora se aproxima. Sua mente está aberta e limpa?

Aceno com a cabeça. 

— Então, que nada a obstrua — junto as sobrancelhas.

— Às vezes, acho que entendo o que você fala, mas... 

— Não ache. Seja. Seus instintos e valores são mais importantes do que qualquer manobra ou estratégia — ele põe a mão no meu ombro, toda a tensão dissipada volta exatamente para aquele lugar. — Foque e confie.

Agradeço, mas minha confiança acabou de dar um salto, me pego um tanto incerta…

— Nyx? — minutos depois da saída de Orion, uma cabeleira trançada me procura. — Sei que eu não devia estar aqui, mas...

— Que bom te ver! — suspiro aliviada.

— Você conseguiu!

— Ainda não — corrijo-a —, os testes estão só começando...

— Mas você chegou até aqui, e começou do zero! É uma conquista incrível!

— Seria terrível chegar até aqui e não conseguir entrar no time... Mas recebi tantos conselhos que não sei qual seguir!

Madame Hooch se aproxima, Penny me puxa para um abraço. 

— Você vai conseguir!

— Artilheiros em potencial! — Penny escorrega para fora da tenda. — Peguem suas vassouras e sigam para o campo! Os testes de quadribol começam agora!

 

— Bem-vindos ao teste para artilheiro da Sonserina! — a voz de Murphy é projetada da cabine para todo o estádio pelo megafone. — Temos quatro aspirantes, ansiosos para voar com o time da Sonserina!

O teste é feito por ordem alfabética. Sou a última.

— ...O capitão Orion Amari — daqui não dá para ver, mas pelos gritos dos presentes nas arquibancadas, acho que ele está de pé. — e Skye Parkin — mais gritos. — estarão de olho nesta disputa.

A Hooch leva a caixa com as bolas até o centro do campo. O time, exceto os artilheiros oficiais, vão auxiliar o teste.

— O primeiro aspirante a se apresentar: Gunner Grayson! — o cara-de-morsa. — Quem será o próximo artilheiro? Há uma chance de 83,2% de uma discussão calorosa!

Não posso dizer que prestei atenção no teste dos demais, preferi me concentrar em mim mesma para minimizar possíveis erros ou nervosismo.

Quando entro em campo, mantenho a compostura e tento visualizar as virtudes dos meus tutores: estratégia, vigor e paciência. Ponho em prática tudo que aprendi, sem hesitar em nenhum momento para roubar a goles ou dar uma trombada em alguém.

É magnífica a sensação de marcar um ponto e olhar a arquibancada, onde Penny e Rowan, com seus rostos pintados, gritam meu nome. Até Chiara está lá, balançando um estandarte com a serpente da Sonserina.

Desço para o gramado, onde Madame Hooch espera o capitão, que se aproxima.

— Então, eu fui bem, Amari? — perguntei a ele, sem fôlego.

— Tenho muito a considerar junto de Murphy e a Hooch — ele respondeu. — Tenha paciência.

Passo o resto da tarde toda no dormitório, Rowan dorme ao meu lado na cama, seu rosto ainda com restos de tinta verde e prateada. Sorrio ao lembrar dela na torcida, pulando e gritando meu nome. A coitadinha ficou mais rouca que o habitual.

— Nyx Morrigan? — é Bean, a batedora. — Skye quer te ver no salão.

Agradeço e me levanto, cobrindo Rowan até o pescoço e retirando seus óculos antes de sair.

Encontro um trio um tanto improvável perto da lareira.

— Achei que ia encontrar apenas a Skye, para falar sobre o resultado do teste de quaribol…

— Certo… — Skye desvia os olhos. — Falando nisso…

— Nem todos os que desejam jogar quadribol entram no time da casa na primeira tentativa…

Quase me falta ar quando Orion fala, mas a incredulidade é mais rápida em assumir seu lugar. Não tem essa, sei que eu sou a melhor opção, de técnica a talento, só deu Morrigan naquele estádio!

— Mas você entrou! — McNully explode, sua cadeira rangendo dada a sua empolgação.

— Parabéns — Orion cruza as mãos na frente do corpo. — Você é a nossa nova artilheira, Nyx Morrigan.

— Show, não é? — Skye me abraça pelos ombros.

— Se você pudesse ver a sua cara, Nyx… — Murphy se aproxima com um sorriso enorme. — Fizemos você pensar que não tinha conseguido entrar no time?

— Admito que tomei um susto, mas não tinha como eu não conseguir!

— Seu teste foi entusiasmante — Orion diz, a meia luz da lareira revela um sorriso mínimo em seu rosto.

— Bem, eu tinha 81% de certeza que tínhamos enganado você…

— Números não valem nada a menos que estejam em um placar, McNully.

— Quadribol não é sobre pontuação — Orion cruza os braços, encarando Skye.

— É literalmente sobre pontuação — Skye coloca as mãos nos quadris, revirando os olhos. —, isso se quisermos ganhar a Taça das Casas — ela me fita: — E nossas chances só melhoram com você jogando ao nosso lado, Nyx.

— Obrigada, eu não teria conseguido sozinha.

— Sem problema! — ela me empurra de leve.

— Eu sei — diz Murphy.

— De nada — Orion fala ao mesmo tempo.

Ambos trocam olhares por um momento constrangedor.

— De qual de nós está falando, Nyx?

— Não posso estar falando… de todos vocês?

— De fato — Orion dispara. — Somos todos nós. E todos somos um.

Não posso dizer que entendi.

— Como você não se deixa absolutamente maluco, Orion? 

— Como alguém encontra clareza de mente no caos?

— Sabia que você responderia minha pergunta com outra pergunta… — Skye balança a cabeça com desdém.

— Não foi uma pergunta hipotética? — Orion diz, meio olhando para Murphy.

— Bem, vamos ver… — McNully começa a recapitular as frases de poucos minutos quando Skye o corta.

— Você é uma criatura interessante, McNully.

Orion bate as mãos, chamando nossa atenção, e as coloca atrás das costas.

— Vamos voltar a celebrar a entrada da Nyx no nosso time?

— Acabei de me tocar — dou risada. —, essa é a primeira vez que vejo vocês três juntos no mesmo lugar…

— O que você acha? — Murphy me acompanha na risada.

— Acho maravilhoso ver meus parceiros de quadribol juntos.

— O quadribol reúne bruxas e bruxos de todos os tipos.

— De todos os tipos — Skye se joga numa poltrona com um suspiro indiferente para Orion. —, de fato.

— Então somos companheiros de quadribol — Murphy se aproxima tanto que quase passa por cima do meu pé, mas Orion segura as costas da cadeira com uma mão. — Isso significa que você vai começar a me chamar de McNully agora?

Apenas inclino a cabeça com um sorriso mínimo, fitando Orion por cima de sua cabeça, pego de relance Murphy fazendo uma careta.

— Como vamos celebrar?

— Com quadribol, é claro! — Skye responde as nossas costas.

— Amanhã — Orion para ao meu lado para olhar por cima das costas da poltrona de Skye. —, vamos ver do que você é feita…

☆☆☆

Sou atacada por trás. Quer dizer, sou abraçada por trás, Penny nos faz rodar no corredor das masmorras, perto da Sala de Poções.

— Sabia que você conseguiria entrar pro time! — acompanho sua risada, é ótimo tirar a pressão de testes e testes das minhas costas. — Eu estava empolgada para ir às partidas de quadribol com você. Agora vou te ver jogando nelas!

Vemos Rowan pôr a cabeça para fora da sala, nos procurando.

— Já conheceu seus colegas de equipe?

— Já conheço a Skye e o Orion, é claro. E mais cedo acabei de ter meu treino oficial com os outros — Beck esbarra em mim de propósito ao entrar na sala, derrubando meu material, e Ophelia o empurra, fazendo os alunos que vêm atrás rirem. — E o Murphy é praticamente parte do time. Comentarista imparcial ou não, ele mal consegue esconder o orgulho da casa.

Ophelia faz seu irmão recolher minhas coisas do chão e colocá-las na bancada.

— Desculpe, Morrigan, ele só quer sua atenção — diz ela, antes de seguir um Beck emburrado até sua própria bancada.

— Olha só pra você — Penny sorri. —, com um grupo inteiro de novos amigos!

— …Com perspectivas completamente diferentes sobre quadribol, e possivelmente o resto.

— Mas perspectivas diferentes podem ser uma coisa boa. Preciso de mais detalhes…

— De acordo com o Murphy, ele e o Orion compartilham um respeito mútuo. Mas acho que existe algo além disso, sabe? Você tem que ver, parece que Orion orbita inconscientemente ao redor de Murphy quando estão juntos, ele sabe exatamente pra onde olhar e às vezes parece saber o que ele vai fazer!

— Seus companheiros de quadribol parecem ser uma galera animada! — diz Rowan, trazendo ingredientes para nossa bancada.

— Você deve ter um favorito entre esses amigos novos…

— Penny! — Rowan repreende. — Isso parece ser tão errado.

— Ué, vai me dizer que você não quer saber, Rowan? — Penny me fita. — Se você tivesse que escolher, quem seria?

Olho de uma para a outra, sem saber o que responder. Os três tem algo em que se destacam, e me ensinaram muito, mas um deles tem minha solidariedade desde o princípio…

— A Skye — puxo o caldeirão para perto. — Ela é leal e me treinou do início.

— Você sabe que ela também é a minha favorita!

— Por um momento, pensei que você fosse falar do cara dos livros — Rowan procura o capítulo do livro de poções. —, a capacidade estratégica dele é admirável, dá para ver pelas anotações… Como está o pai da Parkin?

— Nós ainda não tivemos a chance de conversar sobre isso. Ela está sempre focada no quadribol…

Um livro bate violentamente na bancada, fazendo até a Mérula entornar sangue de salamandra.

— Chega de conversa fiada na minha aula!

☆☆☆

— Vocês sabem por que teremos um treino especial? — pergunto a alguém quando paro no ar. As duas batedoras foram encarregados de notificar o time desse treino surpresa. Tive de correr para o estádio assim que a aula de Poções acabou.

— Não faço ideia — Skye responde. — Você não é tão mais nova que eu neste time.

— Eu sou muito mais nova no quadribol.

— Você é tão boa quanto todo mundo aqui, Nyx.

— Valeu, Skye — retribuo seu sorriso. — Como o seu pai está passando?

— Falamos disso mais tarde… — ela desvia seu olhar para frente. — Nosso “capitão” chegou.

— Amigos, estamos enviesados — diz ele, não está usando uniforme, o que me parece estranho.

— Enviesados?

— Tortos, desalinhados, oblíquos, desequilibrados… O treino recente prova isso.

— Não podemos todos voar na mesma altura ao mesmo tempo, o tempo todo — opina Taleya, a apanhadora.

— É claro que não. Mas podemos corrigir nosso desalinhamentos interior e encontrar nosso equilíbrio como equipe.

— Está acreditando nisso, Nyx? — Skye cochicha para mim.

— Sim, meio que acho que ele tem razão — ela arregala os olhos. — Ele me fez equilibrar na vassoura e pensar com clareza sem que eu percebesse o que estava fazendo.

— E daí? A única regra de “equilíbrio” no quadribol é não caia da sua vassoura, ponto final — ela bufa, olhando para frente.

— Então hoje nos unimos como um time, para melhorar nossa fortitude mental e sinergia…

— Droga, odeio quando o Orion começa a falar essas bobagens.

— …encarando um desafio em equipe de quebrar o meu recorde de equilíbrio sobre uma perna na vassoura.

— Como é? Quebrar recordes? Agora estou interessada — quase rio, ainda não sei como é a relação desses dois, mas Orion com certeza sabe como atrair a atenção dela.

— Qual é o seu recorde, capitão? — Azi, a segunda batedora, pergunta.

— 2 horas, 52 minutos e 3,2 segundos, conforme a cronometragem do McNully.

— Então, pelo menos, sabemos que é preciso… — Skye concorda comigo.

— McNully vai nos cronometrar da cabine de narração — Orion acena com o braço para a cabine, de onde Murphy acena de volta. — Começaremos agora…

Minuto a minuto, as horas se arrastaram. E um a um, nossos companheiros começaram a ruir. Taleya teve que ser resgatada pela batedora quando a câimbra em sua perna a derrubou da vassoura. 

Em 2 horas, 52 minutos e 3,5 segundos, Orion respirou fundo e voltou para a posição normal.

— E então restam dois… — Azi, está completamente inclinada no cabo da vassoura, com o punho apoiando o queixo, enquanto olha para Skye e eu.

— Elas não podem parar, Orion? — Cedar, pergunta, ele cedeu pouco antes de Orion. — Nós não conseguimos quebrar o recorde como um time.

— Mas se um de nós quebrar o recorde, todos nós quebraremos.

— Mas quem quebrar o recorde vai receber o crédito… né? — Skye sonda, tudo é sobre vencer.

— Já estamos perto, Orion? — estou esfregando as mãos, as luvas de lã que estou usando estão quase cedendo ao frio aqui em cima.

— Só o tempo dirá.

— Certo, essa foi a pergunta da Nyx — Skye bufa e revira os olhos. — Diga quanto tempo falta.

— O momento está próximo… Mas quem está contando?

— É melhor que o McNully esteja contando! — ela deixa escapar uma risada, daquelas estranhas, agudas e histéricas, estralando os dedos de uma mão. Rio junto, para o bem do nosso comentarista, é bom mesmo que ele esteja contando.

— Mas veja como esse exercício uniu você ao mais novo membro do nosso time, Skye — Orion gesticula para mim. — Nyx, não quer quebrar o recorde de equilíbrio na vassoura em conjunto?

— Para mim, o quadribol não é sobre definir e quebrar recordes — dou de ombros. Estou começando a ficar cansada, mas me recuso a perder na frente desses desconhecidos. — Eu quero estar num time vencedor, mas não preciso disso — Sou uma farsa.

— O estudante virou o mestre — ele põe a mão sobre um colar que carrega sobre o peito. — Fico honrado.

— Que conversa fiada! — Skye ri na minha cara. — Você não estaria mais aqui se não importasse para você.

Dou de ombros de novo, e Orion toma nossa atenção ao se virar para Murphy e erguer os braços numa comemoração.

— Então é isso? Um novo recorde? Finalmente — Skye suspira aliviada, e volta para a posição.

— Espera, quebramos o recorde? — estranho o silêncio de Murphy.

— McNully acaba de me dar o sinal de que estamos na contagem regressiva… 

— O quê?! — Skye esbraveja. — Eu não teria sentado!

— Por que se sentou? — Orion pergunta, apesar de tão sereno, percebo em seu tom frequentemente um nota de cinismo. — Eu achei que queria ser a última.

— Minha perna estava ardendo, Orion! Você me fez pensar que…

— Três, dois, um… E temos um novo recorde! — a voz de Murphy se espalha, abafando a de Skye.

— McNully confirmou! Parabéns, time, nós conseguimos!

— Nyx conseguiu — Skye está me olhando voltar para a posição. — Dessa vez — sorrio, piscando para ela. — Parabéns, Nyx.

— Valeu, Skye.

— Vamos precisar desse tipo de esforço de equipe no primeiro jogo da casa… contra a Lufa-Lufa!

Todos vibram com o anúncio da primeira partida da temporada.

— Vamos praticar novamente, como um time unido… — Orion anuncia e o time entra em posição. — Nyx! — paro no lugar enquanto ele se aproxima. — McNully quer que você fique no vestiário depois do treino. E, amanhã, quero que você me encontre aqui no estádio, antes do amistoso da tarde.

 

— E agora, entrando no vestiário a nova recordista do desafio de equilíbrio em vassoura… Com impressionantes 2 horas, 53 minutos e 4,9 segundos… A nova artilheira da Sonserina… Nyx Morrigan! 

Faço uma reverência floreada, jogando as abas da tendas ao meu redor quando entro.

— Sem pressão…

— Você está no time de quadribol. Não será nada além de pressão de agora em diante.

— Certo, certo… Orion disse que nossa primeira partida será contra a Lufa-Lufa. Qual será a melhor estratégia contra eles?

— Dirija sua atenção para meu quadro-negro… — diz Murphy, enigmático apontando a varinha para a lousa. — É assim que vai conseguir derrotar a Lufa-Lufa… Mas não fui eu quem te contou.

— Beleza, me fala tudo… — sento-me no banco em frente ao quadro.

— Entender o Ardil de Porskoff é fundamental para a estratégia…

Aproveito para polir minha Shooting Star enquanto Murphy fala, mas tem algo de errado nessa estratégia toda.

— Murphy, essa é a Manobra da Tampinha?! Você já me viu executá-la no treino.

— Mas ainda não tentou executar ela numa parida. É aí que importa, onde vai fazer a diferença! É aí que será seu verdadeiro teste…

— O verdadeiro teste da sua estratégia da Manobra da Tampinha? Ou você está me testando?

— Talvez as duas coisas? — ele coça a nunca. — Nenhum diabrete será solto, se isso te deixa mais tranquila.

— Achei que não seria mais testada agora que entrei pro time — suspiro, sentando-me novamente.

— Você foi testada para entrar no time. Mas agora será testada repetidamente… Navegando nas alianças e rivalidades da casa… Na politicagem e nas diferentes personalidades do time…

— É, já estou vendo isso…

Murphy se aproxima do banco.

— Às vezes sou mediador… Às vezes o instigador…

— Isso não é surpresa pra ninguém.

— Escuta, Nyx, se eu acho que a Manobra da Tampinha vai confundir a defesa da Lufa-Lufa? Acho… Se eu gostaria de ver minha estratégia ser colocada à prova? Também.

— Você sabe que sou nova no time, não decido nada… — levanto para colocar a vassoura no suporte. — Vim para ter um visão melhor sobre nosso rival, Murphy, só isso.

— Bingo! É aí que mora o verdadeiro teste: convencer o Orion a tentar a Manobra da Tampinha na partida — ele empaca a cadeira no meu caminho, impedindo-me de passar. — Pense na nossa casa!

— Você sabe que talvez seja o comentarista imparcial mais parcial de todos os tempos, não sabe?

— É exatamente o que minha mãe fala…

☆☆☆

— Parabéns, quebradora de recordes! — me sobressalto ao ouvir a voz de Orion tão alta.

— Oi, Orion!

— Que tal descolar um tempinho para encontrar equilíbrio?

— Na verdade, sabe a Manobra da Tampinha? Uma estratégia que o Murphy inventou. Tentei realizá-la em um dos nosso treinos…

— Eu me lembro. McNully puro e claro ali. Toda a magia da complexidade. E toda a complexidade da magia.

— O Murphy acha que a gente desbancaria a defesa da Lufa-Lufa se a usássemos na nossa primeira partida. Mas essa é uma decisão que cabe a você, como capitão do nosso time.

— Cabe mesmo — curto e grosso. — E tenho uma estratégia diferente em mente: a ausência de estratégia.

— Então você está me dizendo que não tem um plano para vencermos a nossa primeira partida?

— Sim — ela se põe de pé na Shooting Star. — Vou te mostrar…

— Você vai me mostrar… nada? — fico de pé também.

— Vamos apenas surfar pelos céus como ninguém jamais fez. Você verá…

Orion de repente dispara na vassoura, ele dá giros e piruetas no ar, nunca vi algo assim. Ele é incrível e de alguma forma parece estar super confortável fazendo isso.

— Esqueça técnica, esqueça formação, seja uma só com a vassoura — diz ele, voando em círculos ao meu redor. — Surfar no céu distrai os oponentes. 

— Então é essa a ausência de estratégica? Surfar sem nenhuma intenção em mente?

Ele voa perto de mim de cabeça para baixo, sorrindo.

— Quando posso tentar? Você tem alguma dica?

— Não surfe na vassoura com um intuito. Você saberá o que fazer quando for a hora.

— Sabe que isso não ajuda em muita coisa, não é, Amari? — rio, impulsionar a vassoura nessa posição é mais difícil do que parece.

— Vamos tentar assim — Orion me aparece segurando uma goles, só Merlim sabe de onde ele tirou isso. — Vamos jogar um para o outro, tente marcar quando se sentir segura para isso.

Existe uma certa beleza nessa manobra, a liberdade proporcionada aos membros superiores… 

Orion fica girando e acelerando ao meu redor, em todas as direções, e eu faço de tudo para acompanhar e parece que ele desacelera. Eu reclamo, ele dá risada.

— Me passa a goles, estou pronta para tentar! — grito. E ele vem do outro lado do estádio, arremessa a bola, mas não para de vir em minha direção.

Xingo mentalmente, ele e Skye adoram um empurrão. Antes que ele me atinja, desvio dele rodopiando, segurando a goles com uma mão e o cabo da Shooting Star com a outra, meu estômago dá um salto. Marco um ponto com a área limpa.

— Como me saí?

— Como se tivesse surfado na vassoura a vida toda — diz ele, percebo certo orgulho em sua voz monótona. — A Lufa-Lufa não vai conseguir tirar os olhos de você. Vamos marcar pontos enquanto estiverem distraídos.

— E eu posso surfar na vassoura assim, sem motivo, qualquer hora que eu quiser, durante a partida de quadribol?

— Você deve surfar na vassoura assim sem motivo. E agora que você sabe como, pode fazer quando quiser. Por exemplo, agora, no treino… — com um grito de emoção, o time invade o campo para o último treino do dia.

☆☆☆

O vento acaricia minha pele, deixando um rastro gélido em meu rosto. Estou no corredor que leva ao Pátio da Torre do Relógio desde que saí do estádio.

Depois do amistoso, Orion declarou uma reunião, a qual consistia em ele bisbilhotar sorrateiramente a conversa dos outros. Foi numa dessas que dei azar… 

— Só precisamos da Pinça de Parkin para ganhar a partida. Talvez até esperem por isso, mas não conseguirão impedir.

— Você, Murphy e Orion têm ideias bem opostas sobre como deveríamos jogar. E ainda assim não sei o bastante para entender se estão todos errados ou certos, ou…

— Adivinhe só? Você não tem que se preocupar com isso, Nyx!

— Não tenho? Mas estou no time agora — ela me segurou pelos ombros.

— Mas ninguém espera grandes decisões da nossa nova jogadora na partida…

— É isso! — Skye e eu nos separamos com o susto. — Exatamente isso que faremos!

— Mas não era uma ideia — balancei as mãos na frente do corpo. —, Skye só estava me tranquilizando e…

— Time, vamos realizar o inesperado para vencer a primeira partida da casa — Orion me ignorou. — Nossa nova jogadora vai decidir tudo. O destino de nossa primeira partida pela Taça das Casa está nas mãos de nossa nova artilheira, Nyx Morrigan.

Me vi o centro das atenções de seis pessoas que acabei de conhecer, todas transbordando de expectativa.

— Estamos ferrados — ouvi o goleiro sussurrar e estou inclinada a concordar, mesmo a contra gosto.

Sem mais nem menos, Orion jogou em meus ombros uma responsabilidade que só cabia a ele, e agora eu tenho que aturar o peso de todas as possibilidades pairando sobre mim até a hora decisiva, amanhã.

Me viro a som do tilintar de vidro, encontrando um garoto alto e ruivo vindo com um andar engraçado em minha direção. Me distancio um pouco da amurada de pedra. Faz bastante tempo que eu não via ou conversava com Gui, desde que ele e as meninas me encorajaram a pedir que Skye me treinasse.

— O que é isto?

— Cerveja amanteigada… — ele dá um sorriso daqueles. — Engarrafada! Cortesia de Madame Rosmerta, para a minha grande amiga que ainda não teve o prazer de conhecer o ilustre Três Vassouras.

— Você é mesmo muito bajulador, Weasley — rio, pegando a garrafa que ele me oferece. — A que se deve esse presente tão especial?

Gui se apoia na moldura de pedra da amurada, dando um gole na bebida.

— Não é óbvio? Para comemorar a mais nova artilheira da Sonserina!

— Você sabe que vou ser um empecilho e tanto no caminho da Grifinória para alcançar a Taça de Quadribol, não é? — sento-me na moldura de pedra, meus pés pairando no ar.

— Ah, não me preocupo com isso — ele dá de ombros. — Meu irmãozinho também entrou pro time da Grifinória. O mais novo apanhador da temporada.

A cerveja amanteigada é uma bebida estranhamente reconfortante, tem um gosto de caramelo, leite de amêndoa quente… felicidade.

— Não é estranho eu ainda não ter conhecido seu irmãozinho, apesar de estarmos no mesmo ano? — pondero, olhando para a vastidão da montanha sob meus pés inquietos.

— Quer conhecer o Carlinhos? — ele esvazia a garrafa. — Posso conseguir isso, mas garanto que ele não é tão legal quanto eu.

— E quem seria, Weasley? — rio, ficando de pé na amurada estreita, Gui se apressa em me alcançar, capturando minha mão na sua.

Ele tem esse instinto protetor, algo de irmão mais velho responsável. Queria que Jacob tivesse isso, e não um neurônio a menos a ponto de desaparecer atrás de criptas amaldiçoadas.

Vou pensando nisso até a próxima divisa de pedra, onde eu salto para o lado de Gui, em segurança.

— Você parece você de novo — diz ele, sem soltar minha mão.

— Não entendi…

— Você parecia tristinha, abatida… mas está fazendo uso de sarcasmo outra vez, então acho que está tudo bem — ele ri, eu o empurro de leve, mas ele mal sai do lugar.

— Valeu, Gui… de verdade.

☆☆☆

De manhã cedo, adentro o Salão com Rowan ao meu lado, ela está parcialmente furiosa com Orion Amari por passar sua autoridade para mim logo de cara no início da temporada.

Vemos Murphy acenar da mesa da Casa e nos aproximamos.

— Não sei se consigo me concentrar no xadrez de bruxo com a minha partida de quadribol hoje.

— Foi por isso mesmo que te chamei para jogar! — Rowan senta ao lado dele. — Assim posso acabar contigo no xadrez de bruxo enquanto está distraída.

— Murphy!

— Nada como um jogo de astúcia para te lembrar da importância da estratégia… É o que separa os vencedores dos perdedores… Os campeões dos fracassados… 

— Espere aí, esse convite para jogar é só um pretexto para me convencer a usar a sua manobra na partida de hoje?

— Que feio… — Rowan analisa as peças por cima do ombro dele.

— É o que acham? — ele se faz ofendido. — Você acha que meu convite não passou de um pretexto?

— Acho que é só mais uma das suas estratégias.

— E isso mostra como você progrediu em reconhecer uma estratégia! E pensar que, antes de mim, você não fazia nem ideia.

— Não subestime a Nyx — Rowan pega a rainha de Murphy.

— Dá licença… — ele toma a peça de volta, que reclama de como está sendo segurada.

— Só mesmo você poderia tornar o ato de ser pego no flagra um elogio.

— Ouça, eu não insistiria tanto na Manobra da Tampinha se não achasse que nos daria uma chance de vencer. Acontece que eu sei que Orion resolveu que a mais nova artilheira da Sonserina vai liderar nosso time à vitória hoje…

— Você sabe?! — Rowan ergue uma sobrancelha.

— Todo o plano de Orion se baseia na ideia de que eu definir a estratégia será algo imprevisível!

— Orion nunca tem um plano “completo” — Murphy ri de nós. — Ele segue o que dá na telha no momento. Às vezes, é um balaço perdido… 

— Murphy, você não está ajudando…

— Não fique em pânico. Há menos de 1,3% de chance de que a Lufa-Lufa saiba qual é o seu papel na partida de hoje…

— Ele tem razão, Nyx, sei que deve ser difícil, mas tente manter o foco. Uma coisa de cada vez.

— Mas ainda há muita pressão em cima de mim — choramingo.

— Deixa eu te dizer por que isso é uma boa coisa enquanto te derroto no xadrez de bruxo…

McNully inicia sua cartilha enquanto jogamos, me esforço, mas são poucas a partes que pego. Rowan está debruçada perto do braço dele, com a cabeça deitada sobre os antebraços enquanto observa minha torre ser destruída.

— Aquilo que você estava dizendo, sobre a pressão… Saber que todos os olhos estão em você… Ser visto como azarão… Você estava falado sobre si mesmo, não estava?

— É claro! — Rowan dá uma risada abafada pela resposta dele. — Você sabe o quanto gosto de falar sobre mim mesmo! Ouça, eu sei narrar um jogo. Sei fazer isso de maneira brilhante…. Mas quando chego em um novo lugar, sei o que tenho pela frente, e como serei lembrado depois… E não será como “Aquele bruxo com o corte bacana no cabelo”... Ou “Aquele bruxo que faz comentários maravilhosos”... Nem como “Aquele bruxo que é um gênio no quadribol e detona qualquer um no xadrez de bruxo”... Não — ele desvia os olhos para o tabuleiro. — Sempre serei “Aquele bruxo na cadeira de rodas”. O que sou, é claro. Mas também sou todas as outras coisas.

Rowan se espreguiça em seu lugar, apoiando o cotovelo na mesa para segurar o queixo.

— Então estou sempre tentando mostrar a todos tudo que sou, tudo de uma vez, e tudo no momento em que as conheço… Talvez seja o motivo pelo qual sou tão rápido para inserir minhas palavras e ideias no mundo do quadribol…

— Ideias como a Manobra da Tampinha…

— Mas já chega de tentar te convencer. Honestamente — ele cruza os braços, me fitando. — Agora é contigo. Mas vá àquela partida e mostre a todos a pessoa que você quer que seja lembrada, e não perca tempo.

Rowan sorri para a mesa. Talvez não com tudo, mas ela concorda.

— Você me deu muito em que pensar, Murphy…

— Quando você vai perceber que sou seu melhor amigo e que deveria começar a me chamar de McNully?

— Melhor amigo? — Rowan ri, escandalosamente. — Não me faça rir…

— E quem seria você, srta…?

— Rowan Khanna. Futura professora mais jovem de Hogwarts e a melhor amiga da Nyx!

Os dois se encaram com semblante fechado por longos segundos. 

— Nyx — Bean vem até mim. —, o professor Snape está te esperando ali no corredor.

— Sabe, vocês dois se dariam muito bem… Os dois são inteligentes e estrategistas — eles me encaram. — Tentem não se machucar até eu voltar…

 

É diferente ver o diretor da Casa em um lugar que não seja úmido, escuro e frio. O professor Snape está diante da Taça das Casas, decorada com as cores e adornos da Corvinal. Orgulhosamente exposta no corredor.

— O senhor queria falar comigo, professor?

— Eu queria falar com a nova artilheira da Sonserina, srta. Morrigan. Se for você, que seja — ele cruza as mãos. — Você deve saber que, como diretor da casa, tenho muito orgulho do time de quadribol da nossa Sonserina. Acredito que esteja preparada para a partida de hoje…?

— Mal posso esperar pra jogar diante de toda escola — ignoro o salto que meu estômago deu.

— Saiba que estarei assistindo… e esperando por uma vitória. A performance de hoje deve enviar uma mensagem clara e direta à Corvinal… a campeã atual de Hogwarts no quadribol.

— Erika Rath está no time deles. Me avisaram para tomar cuidado com ela.

— Mostre uma força maior ainda e traga a Taça de Quadribol para a Sonserina — ele olha para as fitas brancas e azuis que contornam o mostruário de madeira.

— …Sempre passei pela Taça, mas nunca a vi de perto.

— Prepare-se para erguê-la orgulhosamente quando a Sonserina tiver vencido todas as partidas.

— Mas não precisamos vencer todas as partidas para ganhar. Só fazer mais pontos do que qualquer casa.

— Ainda assim… vencer é importante — ele torce aquele nariz enorme. — Não há demonstração melhor da esperteza e da ambição do time da Sonserina. Tente vencer hoje, srta. Morrigan.

— Sim, professor Snape.

— Muito bem. E não faça nada estúpido. Estarei assistindo… — ele vai embora com um vento fantasma tremulando sua capa conforme ele anda.

A Taça prateada me observa do mostruário, os equipamentos usados no jogo também estão expostos. Chego mais perto, tocando no laço exageradamente grande que enfeita a estrutura.

Você vai ser minha!

 

Afasto a ponta da abertura da tenda para entrar no vestiário.

— Eu achei que esse lugar estaria pura agitação no dia da nossa primeira partida.

Orion, ao lado do armário, se vira para me encarar.

— E estava. Eu pedi a todos que saíssem para que pudéssemos ficar a sós — ele quase entra no armário.

— Está tudo bem? No recado você mencionou um presente…

— Os presentes podem assumir diversas formas… A maioria é intangível — ele sai do armário com um embrulho. —, mas esse não é. Nyx Morrigan, aqui estão suas vestes oficiais de quadribol…

Pego o embrulho completamente encantada, já havia esquecido que precisava de um destes ou então teria que jogar com o equipamento reserva da Skye. É tudo estonteante, do bordado do brasão da casa à qualidade do tecido e dos protetores.

— Vista.

Olho para ele, que espera ansioso.

— Mas… você vai ficar aí…?

— Uh…? Ah! — ele ri sem jeito e vira de costas, encostando-se na porta aberta do armário. 

— Não espia! — tiro o agasalho verde de lã grossa e fico com a camiseta branca de algodão, passando a sobreposição que cai em mim perfeitamente. Em seguida as calças, e agradeço por ter optando por meia-calça e saia hoje de manhã.

— Acho que estou pronta…

Orion se vira e me rodeia.

— Muito bom, agradeça a Skye por compartilhar as medidas. E agora, nas suas vestes de quadribol, você se sente pronta para liderar o time na primeira partida da nossa casa?

— Não, estas veste podem até me fazer parecer pronta, mas não me sinto assim.

— Eu entendo — ele se senta no banco ao meu lado. — São poucos os que se sentem preparados quando requisitados.

— Mas por que escolher a mim? — fico de frente para ele. — Se você quer fazer algo inesperado na partida, há outras opções.

— Eu te escolhi porque você não queria ser escolhida — ele me olha de cima a baixo, seu tom é hostil, incompatível com sua expressão neutra. — Da mesma forma como você não queria desfazer maldições e, mesmo assim, desfaz.

— Você nãos sabe — retruco. — Talvez eu goste de desfazer maldições.

— Mas você não gostaria que as maldições nem existissem, que a maldade não existisse? — ele está de pé agora.

— Não, o mal tem seu propósito. Se não houvesse o mal, como saberíamos o que é o bem?

— Parece uma pergunta que eu faria… — ele está sorrindo de novo. Estou confusa.

— Ainda não entendi. Pensei que era difícil entender a Skye, as você também é meio enigmático, Amari — estreito os olhos. — Talvez você e a Skye sejam mais parecidos do que você pensa.

— A Skye prefere seguir rotinas e planos. Aprende as regras só para dar um jeito de burlá-las — ele pega o que julgo ser seu próprio uniforme no armário. — Eu cresci sem regras, sem estrutura, sem casa…

— Sem casa? Onde sua família mora? — ele coça a nuca antes de me responder.

— Não tenho família.

Meu queixo cai. Isso… Isso explicaria muita coisa.

— Você é órfão? Quer dizer, sinto muito…

— Prefiro “livre de pais” — ele volta a se sentar no banco, retirando os coturnos de couro surrado. — O quadribol me deu uma família. Sendo assim — ele me fita de baixo. —, você é família pra mim.

Sorrio para ele, mas não consigo deixar de perguntar se os outros sabem.

— Não, mas confio a você a minha história porque quero que você confie em mim. Muitos duvidam dos meus métodos, mas existe uma razão para que eu seja o capitão do nosso time — ele está sério novamente, olhando para o nada, essa mudança de temperamento deve ser o que o deixa inquestionável. — Neste caminho que trilhei, você não tem ninguém para seguir. Sendo assim, você lidera. Mantém a mente bem clara porque a sua sobrevivência depende disso… Não questiona para onde suas decisões te levarão, porque você não tem um destino…

Ele ergue a cabeça para me encarar.

— Digamos que pratico Surfe de Vassoura Inspirado na vida em geral. E nunca fiquei na mão.

— Esse é o seu jeito de dizer que eu deveria surfar na vassoura durante a partida de hoje?

— Não, só estou dizendo que confio que você saberá a coisa certa a fazer. Agora, vá em frente e se prepare. Diga a Skye que estou enviando pensamentos positivos para ela…

— Skye? Tem algo de errado?

— Ela estava aqui mais cedo — ele começa a tirar o sobretudo marrom e suas luvas sem dedos. — Ela me pediu para te dizer, depois de conversarmos, que a encontrasse na arquibancada.

 

— Skye?

— Orion te deu as suas vestes, pelo que vejo — ela me olha de cima a baixo. Na pressa de encontrá-la, não troquei de roupa. — Não pretende usá-las por aí, né?

— E seu eu quisesse? — me sento ao seu lado.

— Não uso um suéter de “Eu amo Wigtown” quando estou em Wigtown, só digo isso.

— Essa é a Skye que eu conheço… — respondo, rindo.

— Sinto muito, Nyx — ela remexe os ombros. — Mais ou menos. Eu não queria descontar em você.

— Quer me contar o que está te chateando? Você devia estar mais animada, hoje é a primeira partida da nossa casa.

— Por que deveria?

— Porque você se importa demais em vencer a Taças de Quadribol.

— Certo, então eu não quero que nada fique no caminho… — ela respira profundamente. — Mas algo já entrou no meu caminho.

— Skye…

— É meu pai.

— Ah, não, ele se machucou de novo em uma partida?

— Não, ele está aqui — ela me encara, percebo que seus olhos não são exatamente azuis, suas pupilas são salpicadas de verde. — Decidiu vir a Hogwarts e me fazer uma surpresa.

— Para ver sua primeira partida pela casa? Que legal! Por que não está visitando a escola com ele agora?

— Porque estou me escondendo, obviamente. A primeira partida da casa já é uma pressão sem “Ethan Parkin, estrela do quadribol profissional”, na arquibancada — Skye se levanta e vai até a proteção. — Não te contei, mas enquanto estive em casa, ele só falava da Taça de Quadribol…

— Enquanto ele estava se recuperando de sua própria lesão?

— Né?! Ele só queria saber dos meus treinos, do meu time, se eu tinha estudado a competição…

— Talvez ele só esteja animado por você, Skye. Isso mostra que ele se importa — meus olhos desviam por cima das paredes do estádio. — Queria que me pai tivesse sido assim…

— Você não fala muito da sua família, né, Nyx? — ela inclina a cabeça e faço um gesto para ela deixar para lá. — Mas não se engane, ele se importa com a vitória. Comigo carregando o nome Parkin. Sou a única filha. Ele me trata diferente.

— Diferente de um jeito bom ou ruim?

— Só… diferente. Não posso decepcioná-lo. Eu só quero ir até lá jogar quadribol, mas agora tem mais coisa em jogo… Tipo, ele espera ver a Pinça de Parkin.

— Ah, entendi… — sinto a pressão em meus ombros outra vez.

— Mas depende de você. Orion te disse para decidir o que faremos — ela volta para o meu lado rapidamente. — Não estou tentando te dizer o que fazer…

— Ninguém que fazer isso, mas todos estão fazendo.

— Eu realmente não estou, Nyx — ela segura meu ombro direito. — Sei que você fará o melhor no momento. As vestes te caíram bem, aliás. Combinam com você.

— Vão combinar com você também, se você as vestir e se concentrar no jogo. Viemos até aqui juntas, Skye — me ponho de pé. — Esqueça que seu pai tá aqui e vamos lá jogar quadribol.

— Tem razão! — ela pula pro meu lado. — É melhor eu começar a me preparar. 

☆☆☆

— …É que talvez isso seja mais do que escolher com astúcia o que é melhor para a partida, entende? Cada um tem uma razão pessoal para preferir um movimento e não outro…

Chuto um bolinho meio comido que está enfiado na lama aos meus pés. De quem foi a ideia de fazer uma festa pré-jogo em um dia de chuva?

— Mas o que pode ser mais importante do que marcar pontos? A partida de hoje já está contando para a Taça de Quadribol… — Rowan estranha. — E não importam as vitórias ou as derrotas, a casa que pontuar mais, vence.

— Mas o Murphy quer mudar a opinião que os outros têm dele mostrando que suas táticas de quadribol funcionam — Penny está agitando a torcida em cima de uma estação de pintura que montaram mais cedo, Rowan e eu observamos do canto do muro. — Quanto ao Orion, sua liderança pouco ortodoxa é muito questionada, então ele quer muito que confiem nele.

— E a Parkin? — Rowan puxa seu casaco para mais perto do pescoço e acaba borrando a tinta na base de sua bochecha.

— Ela só quer mostrar serviço para sua família com tradição no quadribol. O pai dela vai estar na partida.

— O quê?! Ethan Parkin, jogador profissional do Vagamundos de Wigtown, está aqui em Hogwarts?! — nem vi quando Penny desceu da mesa. — Isso é demais! — ela me olha de cima a baixo e depois para Rowan. — Você não devia estar com seus companheiros de time, Nyx? A contagem regressiva para a partida já começou.

— É como eu estava dizendo para Rowan, tenho que escolher entre três amigos, três jogadas de quadribol…

— A verdadeira escolha é entre sua cabeça e seu coração — diz ela, e tira do bolso da saia dois potinhos de tinta, que entrega a Rowan para segurar. — Se você escolher com a cabeça, vai escolher uma jogada com base no que levará ao melhor resultado na partida… — Penny mergulha a ponta de dois dedos em cada tinta e passa na minha bochecha. O líquido gelado me faz encolher os ombros. — Se você escolher com o coração, vai escolher uma jogada com base nos sentimentos de quem mais te inspirou…

— Parece que não há uma resposta certa nem errada. Mas com certeza há consequências…

— “Toda ação tem uma reação” — Rowan cita.

— Então o que vai fazer, Nyx? Cabeça ou coração?

Suspiro, olhando para o céu. A vastidão cinza me encara de volta, parece um reflexo da minha mente: pesado, escuro e pronto para encharcar quem estiver por perto.

— Boas intenções são ótimas, mas elas não mudam os fatos. Eu quero vencer. Preciso pensar racionalmente se quiser levar a casa à vitória.

— Essa é a decisão mais sensata.

A grama esguicha conforme passos se aproximam de onde estamos, três pessoas param a menos de alguns metros de nós, e ficam ali, nos encarando. Duas garotas, uma loira, alta e corpulenta e a outra de cabelos vermelhos, baixa e sardenta, junto de um garoto sem sal. Os três da Corvinal.

— Erika Rath… — Penny sussurra quando eles se afastam.

— O que ela quis dizer com aquilo?

— Não tem como saber… Mas pelo jeito, a batedora mais agressiva da Corvinal sabe quem você é. E ela está indo para o estádio. Aposto que ela vai assistir à partida.

— Nyx! O que está fazendo aqui? Você tem que ir jogar quadribol! — Murphy chega berrando. — É a primeira das três partidas da nossa casa! Vamos, vamos, vamos… Tem muita coisa em jogo! — diz ele, querendo que voltemos para o estádio juntos. — Você tem noção de que seu futuro no quadribol depende do que acontecer no campo hoje?

— Como ele não atola? — ouço Rowan murmurar atrás de nós.
 

— Agora companheiros, vamos nos unir para um momento de vivificação antes de voarmos para o campo… — Orion chama atenção diante do quadro-negro que ainda regista a Manobra da Tampinha.

— Momento de vivificação? — estou sentada no banco, apertando as botas e os protetores nas pernas.

— Umas palavras de estímulo — Murphy responde, parado ao meu lado. — Os “orionismos” são lendários… É por isso que estou aqui!

Orion começa a falar e falar e falar, muita coisa sem sentindo, mas ninguém parece se importar. Na verdade, parece que ninguém está prestando atenção.

— Ele sempre faz isso? Parece que ninguém está levando a sério… — sussurro para Murphy.

— Sim, sim… Acredite, pode não parecer, mas este momento é crucial. Pergunte à Azi ou ao Cedar, até mesmo o Max.

— Max?

— O artilheiro que você está substituindo, Nyx — ele ri baixo. — Eles são os jogadores mais antigos do time, e não dispensam a vivificação. É uma tradição que começou com o Orion, há dois anos.

Minha mente para. Encaro Orion, que ainda está tagarelando algo sobre a calma na tempestade.

— Dois anos? Pensei que Orion tivesse a mesma idade que a gente.

— Ele tem a mesma idade que você. Só que está aqui há mais tempo — Murphy está encarando Orion e… Bem ali, eu vejo, algo mais que só respeito. — Orion joga no time desde antes de ser um membro oficial, ele viu muitos jogadores entrarem e saírem e serem substituídos.

— Murphy, espera, como assim a mesma idade que eu? — ele me olha de canto e sorri. — Você não parece mais velho, e está no primeiro ano… Não sabia que dava para repetir o primeiro ano em Hogwarts…

— Minha mãe não ficou nenhum pouco feliz com a minha decisão, acredite.

— Lembrem-se, nesta partida, quando estivermos voando, nossa líder será Nyx… — Orion encerra.

Todos me encaram, e Skye acena, me encorajando.

— Caramba, eu tenho que ir para a cabine de narração! — Murphy faz força para tirar a cadeira do lugar. — Uma ótima partida pra vocês! Não deixem de me dar assunto!

— Vamos lá, Nyx! — Skye me chama, pegando sua Comet do suporte. — Estamos todos contando com você!

— Farei o possível para atender às expectativas.

— Você tem o que é preciso para fazer o que for preciso, Nyx Morrigan — diz Orion, prendendo o cabelo.

— Vou tentar me lembrar disso, capitão.

— O que vocês estão esperando? — Madame Hooch invade a tenda. — A primeira partida deve começar agora!

 

— Bem-vindos à primeira partida da Taça de Quadribol: Lufa-Lufa contra Sonserina! — a voz de Murphy nos alcança atrás das paredes do gramado e a torcida vai à loucura. — Soltem suas tortinhas de abóbora e batam palmas para o time da Lufa-Lufa!

Uma luz púrpura ofuscante brilha atrás das montanhas que escondem o castelo dos trouxas, e não demora para outro raio cortar o céu.

— E agora, pelo time da Sonserina, com duas artilheiras novas: Skye Parkin e Nyx Morrigan!

Voamos para dentro do campo e a sensação é surreal. Os gritos e flashes da torcida nos acompanham enquanto damos uma volta para nosso lado do campo. Todo assumem um postura diferente aqui dentro, Skye acena como uma estrela profissional e Orion… Orion ainda é ele mesmo, mas está fazendo graça, soltando as mãos da vassoura e rodopiando.

— E finalmente, nossa árbitra, Madame Hooch!

Olho direto para Murphy, ele não está só em sua cabine, todos os professores estão lá. Snape quase me deixa petrificada, mas o semblante gentil do professor Dumbledore atrás dele me deixa mais tranquila.

— Peguem um binóculo e se preparem para a primeira partida do ano!

A multidão está em silêncio, a expectativa carrega o ar tanto quanto as pesadas nuvens cinza carregam o céu. O gemido distante de um trovão antecipa o apito estridente da Hooch, ao mesmo tempo que ela joga a goles para cima. 

Numa sucessão vertiginosa, Skye dispara com a goles na mão, Orion vai logo atrás. Estou sendo perseguida por um batedor, ele agita seu bastão atrás de mim, se comunicando com seu colega. Voo em zigue-zague, arquitetando um plano. Mergulho no instante em que o balaço é lançado em mim, e a bola de ferro acerta as cerdas da vassoura do apanhador deles, que sai rodopiando sem controle.

— Skye Parkin já marcou duas vezes — escuto o artilheiro Lufano reclamar. —, e nosso apanhador foi abatido! — isso ele diz me olhando feio, sorrio e me apresso até Orion, que acabou de roubar a goles.

Uma chuva fina começa a cair, a água vai aumentando gradativamente, e em poucos minutos uma chuva torrencial está caindo sobre toda Hogwarts, tornando as vassouras e as bolas escorregadias. Estamos ensopados. Mas o jogo não para, nem os gritos da torcida lá embaixo, que vão sendo, aos poucos, abafados pelo uivo do vento.

Orion marca. Skye dá a volta e pega a bola atrás dos aros antes dos artilheiros da Lufa-Lufa. Ergo a cabeça, vejo a silhueta com braço esticado de Taleya contra a luz roxa de um relâmpago, o outro apanhador se encolhe.

— É agora! — Skye grita, emparelhando ao meu lado. Ela renuncia a goles. Orion está na retaguarda e acaba de desviar de um balaço, que Azi rebate na mesma hora.

Murphy fala alguma coisa que faz a torcida gritar ainda mais. Engulo em seco, tentando fazer meu coração voltar para a caixa torácica.

Viro o rosto, para olhar Skye e Orion ao mesmo tempo, o movimento faz as gotículas de água do meu queixo voarem.

— Formação ataque Cabeça-de-Falcão! — grito para eles. Vejo a decepção perpassar o rosto de Skye.

Damos início a Manobra da Tampinha.

Sinceramente, não sei se teria dado tão certo sem a chuva para atrapalhar a visão dos outros jogadores, mas o importante é que marcamos e, graças a Comet da Skye e a distração de Orion e eu, marcamos mais duas vezes consecutivas.

— E o que é isso agora?! — escuto Murphy quando voo perto das arquibancadas, mantendo um dos artilheiros afastados dos gols. — Pegaram o pomo!

Eu paro, a água piga dos meus cílios, tento afastá-la do rosto. Olho em volta tentando descobrir em que área estou, ou quem ganhou, perdi o Lufano de vista. Voo mais alto e me pego de costas para a decoração azul e branca da Corvinal, ao meu lado, uma agitação verde e prateada.

— A Sonserina venceu sua primeira partida, ficando em ótima posição para levar a Taça de Quadribol!

Fogos de artifício são lançados ao céu por mágica. Uma serpente é desenhada no céu com brilho verde cintilante, e inúmeras outras faíscas explodem por trás.


Notas Finais


Todo esse processo de quadribol tem um significado para a Nyx, é a forma que ela achou de se distrair das Criptas durante o fim do ano, bem como os outros personagens estão fazendo. Mas, pessoalmente, acho que fica bem cansativo e longo toda essa narrativa, apesar de ser precisa. Quero introduzir isso, para puxar o assunto só quando necessário posteriormente, entendem?


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