— Ei, o que vocês acharam dos novos vizinhos? — Todd Morrison perguntou aos seus amigos no momento que entraram na sala de aula.
O garoto de cabelos ruivos se sentou na penúltima cadeira da fileira ao lado da janela. Seus amigos ocuparam seus respectivos lugares, tomando conta do fundo da sala.
— Os caras do 402? — Chug, questionou enquanto arruma seu boné em sua cabeça. — Meus pais me falaram que eles parecem ser legais, que eu deveria ir lá fazer amizade, mas fiquei com muita preguiça e acabei nem indo.
Todd revirou os olhos, nem um pouco surpreso com aquilo, e ajeitou seus óculos de armação redonda.
— Minha mãe falou o mesmo para mim — Larry Johnson disse, jogando seus longos cabelos castanhos para trás dos ombros. — Não achei que fosse valer a pena, então fiquei em casa.
— Que belos filhos da puta vocês são — o ruivo falou, levemente irritado, mas nem um pouco surpreso com eles. — Bom, eu fui lá com meus pais. Meus pais estavam chapados, então causamos uma ótima primeira impressão!
O sarcasmo na voz de Todd fez Larry e Chug rirem, junto a Ashley que está apenas ouvindo a conversa enquanto mexe em suas redes sociais. Como a garota de olhos verdes e cabelos não é uma moradora dos apartamentos Addison, ela não tem muito o que falar sobre o assunto então prefere ficar quieta.
— Fora isso, adorei conhecê-los. São pai e filho, que se mudaram de New Jersey para cá. E a propósito, o garoto tem a nossa idade e vai começar a estudar aqui hoje! — Todd exclamou animado, pois ele realmente adorou conhecer o garoto do 402 e quer muito conquistar sua amizade. — Acho bom nenhum de vocês, idiotas fodidos, fazer nenhuma pergunta indelicada para ele.
O olhar fulminante de Todd fez os três se encolherem em suas cadeiras, principalmente Ashley que Todd encarou por mais tempo.
— Por que você acha que faríamos algo assim? — Ash perguntou, se fazendo de desentendida.
— Por que ele é… diferente — explicou, enquanto tira seus materiais de sua mochila e observa os outros alunos entrarem na sala e ocuparem os lugares vagos.
— Diferente como? — Larry perguntou, se sentindo estranhamente interessado por aquilo
Antes que Morrison pudesse responder a pergunta do amigo, a professora de matemática entrou na sala e mandou todos se sentarem e ficarem em silêncio.
— A partir de hoje vocês terão um novo colega, sejam gentis com ele. — A Sra. Packerton pediu, com um tom de voz gentil. — Pode entrar, querido.
O garoto entrou na sala, receoso, e parou ao lado da professora. Seus cabelos lisos são azuis e estão bem presos em maria-chiquinhas. Ele está trajando uma calça vermelha com rasgos nos joelhos, um moletom preto, sem zíper, um tanto largo por cima de sua camiseta branca e tem um par de all star pretos em seus pés. Sua pele é tão pálida que faz parecer que ele nunca tomou sol na vida e é bem menor que a maioria dos alunos da classe. Mas o que é mais peculiar em sua aparência, que fez a maioria dos alunos arregalarem seus olhos: é a máscara branca em seu rosto.
— Seu nome é Sal Fisher — a professora continuou a apresentação, notando o nervosismo do garoto. — Pode se sentar em algum dos lugares vagos.
Assim que ela terminou a frase, Todd começou a apontar freneticamente para o lugar vago ao seu lado. Sal sorriu timidamente por trás de sua máscara e andou até o garoto ruivo, se sentando no lugar indicado. Todd sorriu para o azulado, depois tornou a olhar para a professora no momento que ela começou a escrever a nova matéria na lousa.
Sal se ajeitou na cadeira e começou a copiar a lição, sem desviar seus olhos azuis da lousa com medo de flagrar alguém lhe encarando descaradamente. O nervosismo começou a abandonar seu corpo conforme ele foi copiando a matéria em seu caderno. Seu pai, Henry Fisher, lhe disse que tudo daria certo e ele estava certo. Pelo menos até o momento, tudo foi melhor do que o adolescente de cabelos azuis esperava.
Larry coçou a nuca, enquanto olha “discretamente” para Sal. O olhar do maior é diferente dos outros alunos que encaram Sal e riem baixo de tempos em tempos, caçoando do garoto que está fingindo não notar. Larry observa Sal com curiosidade, cogitando o que pode ter atrás de sua máscara e observando atentamente cada gesto dele enquanto copia a lição. Ash apertou os punhos e mordeu o lábio inferior, ao perceber os olhares que o moreno está direcionando ao azulado, se sentindo incomodada com aquilo.
As aulas passaram rapidamente, tão rápido que Sal só se deu conta que era hora do intervalo quando viu os alunos saindo da sala e sentiu alguém tocar seu ombro. Ele se virou lentamente, vendo o ruivo de óculos ao seu lado.
— Quer almoçar conosco, Sal? — Todd perguntou, com os olhos castanhos brilhando com expectativa.
— S-sim… — o azulado respondeu baixo e olhou para trás de Todd, vendo os amigos do ruivo a espera do mesmo.
Seu olhar se encontrou com o de Larry, fazendo-o virar o rosto rapidamente para frente, sentindo suas bochechas esquentarem por trás da máscara. Sal Fisher é um garoto tímido com pessoas que não conhece, ainda mais com pessoas que lhe encaram de uma forma tão intensa quanto Larry Johnson.
Eles saíram da sala juntos e Todd começou a apresentar todos para Sal, que apenas balançou a cabeça em suas direções para cumprimentá-los.
Sal secou suas mãos suadas em sua calça vermelha, enquanto observa Todd que não parou de falar desde que saíram da sala de aula. O ruivo quer fazer o possível para Sal se sinta à vontade e aceito por eles, e sua forma de fazer isso é falar desenfreadamente. E está funcionando, pois geralmente as pessoas não costumam conversar tanto com o azulado. A timidez impede de Sal dar respostas mais animadas para Todd, no máximo ele balança a cabeça ou responde “é”, mas isso não desanima o garoto de cabelos ruivos.
O grupinho se sentou em uma mesa vazia do refeitório, após pegarem seus lanches. Todd franziu a testa ao ver que o azulado não pegou nada para comer.
— Não vai comer, Fisher? — Chug perguntou e deu uma bela mordida em seu sanduíche de peito de peru.
— Não estou com fome… — Sal respondeu com um tom de voz baixo.
Na verdade, ele está com um pouco de fome sim, mas só de pensar em afastar um pouco sua máscara para passar a comida por debaixo dela na frente de tantas pessoas lhe faz querer sair correndo de lá e se esconder no banheiro.
— Então, Sal, porque você e seu pai se mudaram para cá? — Todd perguntou, querendo mudar de assunto.
— Por causa do trabalho dele — respondeu, com um tom de voz mais baixo do que gostaria. — Ele recebeu uma promoção ou algo do tipo e disse que teríamos que nos mudar para cá.
Todd confirmou com a cabeça e ajeitou seu óculos, contente em ter finalmente arrancado uma frase completa de Sal. O ruivo estava bem curioso para saber o motivo da mudança, pois é bem raro alguém se transferir para a escola no meio do ano letivo, ainda mais alguém que está no terceiro ano do ensino médio.
— Está gostando dos apartamentos Addison? — Ashley perguntou, depois seu olhar transitou entre seus amigos. — Eu acho aquele lugar tão sinistro, nem sei como vocês conseguem morar lá.
— É… legal — Sal disse, e ajeitou seu fone em seu ouvido direito.
Larry está focando em algo que está desenhando em seu pequeno bloco de anotações, então nem está prestando muita atenção na conversa deles.
— Que música você está ouvindo? — Todd questionou, curioso.
— A música nova do Sanitys fall, conhece? — a voz do azulado soou de forma mais clara dessa vez, ele sempre se anima um pouco ao mencionar uma de suas bandas favoritas.
Nesse momento, Larry largou o que estava fazendo e olhou diretamente para Sal, inclinando seu corpo em sua direção.
— A música nova é incrível! — o moreno exclamou e o menor concordou com a cabeça.
Antes que Sal pudesse falar alguma coisa, Ash ergueu o braço em sua direção e tocou sua máscara sem fazer a menor cerimônia.
— Qual é a da máscara? — a morena perguntou, olhando friamente para o azulado.
Sal se afastou dela tão bruscamente que quase caiu do banco. Graças a Chug isso não aconteceu. Por reflexo, o esverdeado segurou o novato com firmeza, impedindo-o de cair.
— Ash! — Todd exclamou, irritado, querendo arrancar a cara da amiga. Ele conhece a garota bem o suficiente para saber que ela fez aquilo de propósito para interromper a conversa do garoto com Larry e isso só deixa o ruivo com mais raiva.
— O que? Foi só uma pergunta — a morena respondeu sorrindo, fazendo Todd arquear uma das sobrancelhas e apertar os punhos.
O sorriso de Ashley Campbell se desmanchou no momento que percebeu a forma como Larry está lhe encarando, com desapontamento e reprovação.
— Desculpe, Sal, eu costumo agir sem pensar às vezes — Ash falou rapidamente.
O garoto de cabelos azuis respirou fundo, tão forte que fez barulho contra sua máscara. Mas o susto já havia passado, então ele apenas concordou com a cabeça. Ele sabia que logo lhe fariam essa pergunta, mas não imaginava que essa seria a abordagem, por isso se assustou daquela forma.
— Minha máscara… é prostética — explicou, olhando fixamente para suas mãos.
Ash comprimiu os lábios, sentindo uma leve pontada de culpa pela pergunta que acabou de fazer. Todd bufou, ele não queria que as coisas tivessem sido dessa forma. Ele explicaria para os amigos depois, e deixaria para que Sal lhes falasse quando se sentisse à vontade com isso. Mas agora a garota de olhos verdes estragou tudo, por conta de seu ciúme infantil. Na noite anterior, quando conheceu o azulado, o pai do garoto aproveitou um momento que Sal estava entretido com os pais do ruivo e lhe explicou sobre a máscara prostética do filho e contou um pouco sobre o acidente que ele sofreu há anos atrás.
Henry Fisher também lhe contou um pouco sobre como Sal é solitário por causa da máscara, que faz o azulado ser excluído por todos que não se esforçam nem um pouco para conhecê-lo e resolvem apenas o julgar. Naquele momento, Todd Morrison, decidiu que se tornaria amigo de Sal. Ele não iria se afastar, nem abandoná-lo, estaria com o azulado para o que der e vier. O ruivo também prometeu que iria quebrar a cara de qualquer um que fizesse mal para seu novo amigo, e nem mesmo Ashley vai ser privada de receber uma bela surra se continuar agindo dessa forma.
— Vocês podem me chamar de Sally face também, se quiserem — Sal falou, querendo quebrar aquele silêncio horrível que se estabeleceu entre eles.
— Sally face? — Larry questionou intrigado, apoiando seu queixo nas costas de sua mão.
— Na escola que eu estudava, uns filhos da puta começaram a me chamar assim — Sally explicou. — Eu resolvi adotar o apelido, assim eles não poderiam continuar usando-o contra mim.
Todd riu e bateu palmas, adorando a atitude do azulado. Eles começaram a conversar sobre assuntos aleatórios e aos poucos Sally começou a se soltar mais, falando com mais clareza e interagindo mais com eles. Larry não participou do restante da conversa, ele ficou apenas observando o garoto a sua frente. O moreno está fascinado no belíssimo tom de azul dos cabelos e olhos do novato.
[...]
No final da última aula, Sal suspirou aliviado por finalmente seu primeiro dia de aula estar terminando. Tudo ocorreu muito bem, se deixar de fora o incidente com a Ashley, ninguém lhe perturbou ou zuou (pelo menos não diretamente) em nenhum momento do dia. Mesmo sem Sal saber, isso é tudo graças a Todd que manteve uma postura protetora ao seu lado durante o dia todo, e só pessoas sem noção ou inteligência compram briga com Todd Morrison. Apesar da aparência, ele é um dos maiores barraqueiros daquela escola. Sal está um tanto temeroso em se afeiçoar a Todd, pois já foi iludido por diversas pessoas ao longo dos anos, mas algo no ruivo faz com que Sally se sinta à vontade ao seu lado, uma sensação que ele desfrutou com poucas pessoas ao longo dos anos de sua vida.
— Vamos embora, Sally face? — Larry perguntou ao azulado, surpreendendo-o.
Sal não havia notado a aproximação do moreno enquanto guardava suas coisas. O sinal tocou há alguns minutos, todos os alunos já saíram da sala, estão apenas os dois ali.
— O Todd e o Chug estão nos esperando lá fora — Larry explicou, analisando o menor atentamente.
Sally está se sentindo extremamente pequeno ao lado dele, afinal Larry é o mais alto da sala, além de ter o maior nariz também.
— Você vai vir conosco? — o moreno questionou, e Sal confirmou rapidamente com a cabeça balançando as maria-chiquinhas. Larry achou aquilo muito fofo, mas manteve a expressão serena em seu rosto. — Então vamos, cara.
Sal seguiu Larry para fora da sala, sorrindo com as bochechas coradas por trás de sua máscara prostética. Seu coração está batendo forte no peito, ansioso para saber o que vem a seguir em sua nova vida.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.