Law era um garoto quieto. Um tanto reservado, mas não porque queria. Ninguém quer chegar perto de si por conta do Chumbo Branco — uma doença que embranquece a pele pouco à pouco —, e por causa de outras de suas doença; como a asma e a intolerância a lactose.
Timidamente, o garoto foi se aproximando de outro. Em suas mãos, havia uma pequena vasilha com biscoitos — todos feitos sem leite. Estava trêmulo, porém, encorajou-se a chegar mais perto.
— Ei, vamos ser amigos? — Balbuciou em voz trêmula, estendendo o pequeno pote.
— Claro que não! — O menino ruivo respondeu. — Se eu pegar isso aí, não haverá nada que possa me ajudar! — indagou, referindo-se as manchas de Law.
— O Chumbo Branco? Pode ficar tranquilo, não sai! Olha. — Sorriu meigo, encurtou a manga do casaco e esfregou seus dedinhos na mancha, mostrando que não saía. — Não é contagioso. — afirmou.
— Quem garante? — Voltou alguns passos. — Não quero ficar com manchas feias no meu corpo! — Deu língua para o Trafalgar, que ainda mantinha sua vasilhinha nas mãos. — E a mamãe disse para não ficar perto se você. Seu monstro! — Saiu, derrubando os biscoitos de Law.
Mordeu os lábios, contendo suas lágrimas. Ajeitou a manga de sua roupa e começou a catar seus biscoitos do chão. Um por um, colocando-os novamente na vasilha.
— Melhor comê-los assim mesmo... São caros, e o Corazón diz que não devemos desperdiçar comida. — Sentou-se num banquinho no pátio, começando a comer seus biscoitos.
Enquanto isso, balançava suavemente seus pezinhos no ar — já que eles ainda não alcançavam o chão — e observava os garotos e garotas correndo para lá e para cá, alguns jogavam bola e outros conversamos alegremente com os amigos. Law queria ser assim: poder correr, gritar, conversar... Queria ser uma criança normal.
Porém, toda vez que acelera um pouco o passo, seus pulmões o lembra que não pode correr e que o ar para si é rarefeito. E isso o entristecia.
Terminou de comer, tampou sua vasilha e seguiu para sala em passos lentos. No corredor, acabou esbarrando numa garota.
— Desculpa. — Sorriu suave, recebendo um olhar de medo da menina.
Imediatamente, todos olharam para os dois e começaram a gritar:
— Que nojo! A Alvida encostou no Law! Ele está infectada!
E todos se agitaram e saíram correndo, tentando se afastar da "nova doente". Law tentava explicar ou se desculpar, mas ninguém parecia ouvi-lo.
— Viu só o que você fez?! — A morena esbravejou. — Agora eu peguei a sua doença nojenta e ninguém vai querer chegar perto de mim! É tudo culpa sua! — Saiu correndo pelo corredor, com lágrimas nos olhos.
O Trafalgar não teve nem tempo para desculpar-se ou explicar que o Chumbo Branco não é contagioso. Entretanto, de nada adiantaria (nem mesmo as professoras acreditam em si).
Não conseguiu se segurar, começou a chorar ali mesmo. Praguejava-se por ter nascido assim, praguejava-se por tudo ser culpa dele.
— Corram! As lágrimas dele são venenosas!
E todos fugiram, deixando apenas Law chorando sozinho. As lágrimas escorriam e ele, inutilmente, tentava limpá-las e impedí-las de cair.
[...]
A hora de ir para casa havia chegado. Fechou seu caderno, o colocou na mochila, e esperou que todos formassem a fila para sair da sala. Como sempre, Law era o último a sair, até mesmo a professora ia primeiro que ele. Assim que todos saíram, este foi. Sentou-se nas escadas da entrada da creche, esperando Corazón chegar para buscá-lo.
O loiro não tardou em chegar, e Law levantou-se prontamente, correndo para abraçar o homem.
— Law! Como foi a aula? — questionou, com um "sorriso meigo".
Corazón mal sabia sorrir, porém, queria que o pequeno visse-o sempre sorrindo — mesmo que o seu sorriso seja amedrontador de feio.
— Seu sorriso me dá medo — pontuou, rindo.
"Pai! Aquele que é o doente da nossa escola! Ele é um monstro sabia?!" — Eram os comentários que as crianças davam para seus pais, que os olhava torto.
Rosinante suspirou, sua vontade era quebrar a cara de todos que chamavam Law de monstro ou qualquer outro apelido pejorativo. Eles não sabem o que aquele o Trafalgar sofre: desde pequeno, já passou por diversas cirurgias, perdeu a mãe e o irmão gêmeo ainda bebê e foi abandonado pelo pai logo em seguida.
— Vamos? — Corazón questionou, ajeitando-o em seu colo.
— Sim. — Apoiou sua cabeça no ombro largo do homem, que começou a caminhar lentamente.
[...]
Law e Rosinante estavam sentados no sofá, zapeavam pela televisão à procura de algo interessante para assistir. O Donquixote percebeu que o moreno estava meio tristonho. Mesmo assim, não perguntou nada — já sabia o que era.
— Corazón... — chamou o rapaz. — Chumbo Branco não tem cura, né? — O encarou.
— Infelizmente não, Law — pontuou, vendo-o colocar novamente a cabeça contra seu peito. — Mas, não o acho nojento por isso. São só manchinhas brancas que crescem um pouco...
— Elas doem, Corazón... — Balbuciou com os olhos marejando.
Cora sabia que elas doíam... E não era só no corpo, doía na alma. Ver as noites agonizantes de Law machucava o âmago do Donquixote, porém, saber que ninguém quer ficar perto dele por suas doenças era uma dor igual — ou até pior.
— Eu sei, Law... — Acariciou os fios negros. — Entretanto, você é um garoto muito forte. Suporta todas essas dores e o fato de ser isolado... Eu, certamente, não conseguiria.
Rosinante era péssimo com conselhos ou qualquer coisa motivadora. Tentava, ao máximo, animar Law com palavras; contudo, não sabe como ou qual usar. O Trafalgar sabe que Cora não é a pessoa mais conselheira do mundo, porém, gosta de conversar com este. Às vezes, sai alguma coisa boa de sua boca.
— Eu te amo, Law. — disse, com um sorriso horripilante.
— Eu também te amo, Corazón-ya. — Riu. — Mas o seu sorriso é feio.
[...]
Law e Cora estavam na frente do colégio. O Water desceu de seu colo e o loiro entregou sua mochila. Corazón lhe deu muitos e muitos beijos antes de ir para o hospital — o que não era tão incomum.
O moreno apertou as alças de sua mochila e adentrou a escola. Foi em direção a sua sala e, ao chegar, sentou-se na carteira que era separada para si. Debruçou-se sobre a mesa e cantarolou alguma musiquinha que havia escutado num desenho.
Havia poucas crianças na sala, e as que estavam, mantinham uma distância de Law. Algumas pessoas haviam adentrado no recinto, porém, o Trafalgar nem sequer levantou os olhos para ver de quem se tratava.
As pessoas eram Monkey D. Luffy, Shanks e a Diretora Monet. O Monkey havia sido transferido para esta escola depois de se mudar. Monet explicava tudo sobre as aulas e os alunos para os dois. Todavia, não era como se Luffy estivesse escutando.
Sem que percebessem, o moreno escapuliu da conversa "chata" e começou a caminhar na sala. Queria fazer amigos, e a primeira pessoa que avistou foi Law. Aproximou-se do garoto e ficou maravilhado com as manchinhas brancas que vislumbrou nas mãos deste.
— Que legal! Você tem manchinhas! — ditou, olhando para estas com um sorriso enorme.
Law assustou-se e, por sua vez, recuou e esticou as mangas de sua camisa de frio.
— Oh, por que escondeu? Elas são legais! — falou, deixando o Water ainda mais confuso.
— Q-quem é você? — questionou.
— Ah, esqueci de me apresentar! — Riu. — Meu nome é Monkey D. Luffy, e o seu? — perguntou, estendendo a mão.
Ninguém nunca havia perguntado o nome de Law, não desta forma. Arregalou os olhos ao ver que ele queria cumprimentá-lo com um aperto de mão.
— M-Me chamo Trafalgar D. Water Law... — pontuou, sorrindo fraco. Suas mãos estavam trêmulas.
— Que nome grande! — Sorriu. — Tral... Traf... — ponderou um pouco, tentando pensar num apelido pro seu novo amigo. — Torao! — Sorriu ainda mais.
Law estava confuso, e feliz ao mesmo tempo. (Mesmo sem saber, exatamente, o motivo disso).
— Você não tem medo? — Law questionou, com os olhos genuínos e uma entonação um tanto apreensiva.
— De quê? — perguntou, sentando-se ao lado do menino.
— Da minha doença, o Chumbo Branco... — indagou, direcionando seu olhar as manchas em sua mão.
— Das manchinhas? Não! — afirmou. — Por que teria? — disse, como se aquilo fosse uma coisa absurda de se dizer. — Elas são legais.
— As pessoas têm medo delas... de mim. Acham que é contagioso... — ditou, tentando entender o garoto ao seu lado.
— No fundo, elas tem inveja, porque a sua pele é linda e única. — falou, com um sorriso que não cabia no rosto.
Law, de fato, não entendia. Ficou perplexo com as falas do menino. Não sabia o que fazer, ou o que falar. Por isso, apenas ficou em silêncio — esperando as frases ofensivas. Entretanto, elas não vieram. Luffy apenas sorria, balançava os pés e dizia coisas aleatórias.
— Puxa, você é muito legal, Torao! — ditou em meio ao seu falatório. — É um único amigo que eu tenho que ainda não me mandou calar a boca de tanto que eu falo! — Riu.
"Amigo". Ele lhe chamou de amigo. Seu âmago estava quentinho e vibrante. Law não sabia que aquele título lhe traria tanta felicidade e confusão interna. Estava tão contente que sentia seus olhos marejar.
— A-amigo... — Balbuciou, com um meio sorriso.
— Já fez amizade, Luffy? — Um ruivo sorridente aproximou-se, e Law intuiu que fosse o pai do menino.
— Sim! — Sorriu.
Monet — a diretora com ar gracioso que na verdade é uma tremenda mal-amada — arregalou os olhos e tentou impedir que Luffy continuasse onde estava.
— Mas o Law é meu amigo! — Fez bico.
— Eu não vejo problema algum no Luffy fazer amizade com Trafalgar. — Sorriu para Law, que ruborizou.
— Olhe para ele... — A mulher apontou para o garoto com desprezo. — O chumbo Branco é uma doença terrível e incurável. Quer mesmo que o seu filho seja...
— Permitir que as pessoas se afastem do garoto apenas por manchas em sua pele que é horrível — indagou. — Deixe os meninos se conhecerem; conversamos em outro lugar.
A esverdeada sentiu as veias de seu corpo alterarem, porém, não disse ou fez nada desrespeitoso.
— Luffy, venho te buscar depois da aula, tudo bem? — Bagunçou os cabelos pretos.
— Sim! — Sorriu.
— Seja um bom menino e se comporte! — disse num tom severo e divertido. — Nada de beber tinta, pular muros, arranjar briga por comida, dormir ou ficar zanzando no meio das aulas, ouviu?
— Sim! — respondeu prontamente.
— Divirta-se e faça muitas amizades. — Sorriu, beijando o topo da cabeça de Luffy. — Tchau, Law — Passou, por curtos minutos, sua mão nos cabelos pretos do Trafalgar.
"Ele não teve nojo de mim..." Law pensou.
— Ei, Torao, qual a sua idade? — perguntou animadamente.
— Tenho seis anos — disse, com um pequeno sorriso. — E você?
Seu interior estava gelado e confuso... nunca havia tido um contato tão tenaz com alguém — exceto com Rosinante.
— Oh, eu também! — Riu, abrindo sua mochila. — Olha! Eu tenho um robô! — Mostrou o brinquedo. — O nome dele é Ciborg-Franky, e ele solta raio-laser!
— Que legal! — exclamou.
— Você gosta de brincar de quê?
Aquela pergunta foi um tanto difícil para Law formular uma resposta. Por conta de suas doenças e não ter ninguém com quem brincar, ele não sabe muito bem o que gosta nesse sentido. Acha que nunca viveu verdadeiramente como uma criança.
— Eu gosto de jogar baralho com o Corazón-ya.
— Ba... ra... lho? — Tentou pronunciar a palavra esquisita. — O que é 'Corrazão?
Law sentiu vontade de rir com a forma em que Luffy pronunciou os nomes.
— Sim, é um jogo de cartas que você joga e faz estratégias... É bem legal! E o nome correto é Corazón — corrigiu, com um sorriso. — Na verdade, o nome de é Donquixote Rosinante. Porém, muita gente o chama de Corazón por ele de vestir de palhaço os hospitais e gostar dos Corações de Copas.
— Oh... — ofegou arrastado. — Não entendi nada, mas parece ser legal — Riu, e o Trafalgar o acompanhou.
— Sim... — falou, com um sorriso pulcro.
— Você tem irmãos? Eu tenho dois irmãos, sabia? Um se chama Sabo e outro se chama Ace. Mas a gente não é irmão de sangue, somos adotados, porém, não me importo muito com isso. O meu pai se chama Shanks e o meu outro pai se chama Mihawk. Eu tenho um amigo que ele tem o cabelo verde e ele se perde toda ho... — Começou o falatório.
Law não tinha nem chance de responder as perguntas feitas, porque Luffy já emendava outro assunto. Porém, tampouco Trafalgar reclamava. Monkey tinha uma áurea pueril e bela, e o Water encantou-se pelo garoto e sua vozinha doce e alegre. Seu primeiro amigo.
[...]
— Eba!! — Luffy exclamou assim que ouviu o sino para o intervalo.
Levantou-se da cadeira prontamente e pegou sua lancheira.
— Você não vai lá 'pra fora? — Luffy questionou.
— Não... pode ir sozinho. — respondeu, deitando a cabeça sobre os braços. — Seu pai disse para fazer amizades... Não vai conseguir se sair comigo.
— Deixa de bobagem! — esbravejou. — Pega sua merenda e vamo 'pro pátio!
Law não deixou de ficar surpreso com a resposta do menino, que continuava pedindo para que saísse da sala. Não objetou; levantou-se e pegou sua vasilha e garrafinha, caminhando com o moreno até o pátio.
— 'Vamo apostar corrida até o pátio? — questionou animadamente.
— Eu não posso correr... — segredou, um tanto tristonho.
— Por que? — Mordeu o grande pedaço de carne que estava em sua vasilha.
— Tenho asma e mais algumas doenças... se eu correr, vou sentir falta de ar.
Luffy ponderou um pouco, tentando compreender o que era "asma". Mordeu novamente a carne e olhou para o garoto com um sorriso.
— 'Esma deve ser muito chato...
— É "Asma", Luffy-ya — Riu. — Você come carne fora do almoço? Que estranho. — Mudou o tópico do assunto.
Luffy era um garoto absorto o bastante para mudar de assunto sem nem perceber.
— Eu amo carne! — Deu um sorriso enorme. — Quer? — Estendeu um pedaço do alimento.
A boca do Monkey estava levemente suja, assim como suas mãos.
— Não, obrigado — Sorriu, sentando-se na escada do pátio, sendo acompanhado por Luffy. — Quer maçã?
— Maçã é gostoso, mas eu prefiro carne! — Ergueu o pote, como se fosse algo divino.
Law não sabia fazer outra coisa a não ser sorrir. Luffy era um garoto alegre — isso era inegável — porém, o que fazia o Trafalgar realmente sorrir feito um bobo era o fato de ter um amigo; uma companhia.
— Torao, 'tá quente... Por que você não tira o casaco? — questionou com curiosidade. — Eu quero ver as manchinhas...
— Eu... tenho vergonha — pontuou hesitante. — As pessoas tem nojo delas... Não quero que ninguém grite comigo, de novo.
— Se alguém gritar com você, eu encho ele de porrada! — Estufou o peito, mostrando toda sua "força".
— Não pode bater em ninguém, Luffy-ya — repreendeu num tom divertido.
— Ninguém pode ter nojo de um amigo meu! Ou melhor, de ninguém! — falou duramente, com um bico raivoso nos lábios.
Law — apesar de estar ciente de que agredir uma pessoa é totalmente errado — mantinha seu coração quentinho por saber que Luffy estava disposto a fazer isso por ele.
— Mesmo assim, não gosto de tirar meu casaco ou mostrar minhas manchas... Sinto vontade de chorar e...
— Por quê? Suas manchinhas são legais — Engoliu o último pedaço de carne. — E você nasceu com elas.
— Elas me trouxeram muitas coisas ruins, sabe? — Desviou o olhar.
— Entendi... mas vai me deixar vê-las, não é? — perguntou, com os olhos brilhantes.
Law hesitou um pouco, mas aquelas olhinhos âmbar reluzindo para si deixava-o em um marasmo. Era um microcosmo perfeito que só os olhinhos de Luffy possuíam.
— Se eu mostrar, você não vai sair correndo e gritando que eu sou um monstro, rindo de mim... né? — questionou, receoso.
— Não — afirmou. — Eu já disse que nunca iria rir de você, Law!
— Está bem. — Sorriu simples.
Puxou seu casaquinho preto devagar, e Luffy esperou ansiosamente. Por baixo, estava sua farda escolar. O Monkey encarou maravilhado para aquelas manchinha brancas espalhadas pelo corpo pequeno do Water — As que podia ver em seu braço.
— Luffy-ya... está todo mundo me olhando com nojo... — ditou, vendo os olhares perplexo e julgativos.
— Olha, essa parece um coração! — Praticamente gritou a frase, apontando pro ombro do de cabelos escuros.
— Um coração meio deformado... mas parece um pouco. — disse, nunca havia notado aquilo.
— Um gatinho! — Pegou o braço de Law, olhando encantado para o que achou parecido com um gato.
— Não tem nada haver com um gato. — pontuou, rindo.
— Parece sim! Olha: aqui tem uma patinha, aqui é a cabeça com as orelhas e aqui é um rabinho! — objetou.
Law não via gato algum naquela manchinha, no entanto, não refutou Luffy. Já que ele dizia parecer com tal animal, é porque o viu — mesmo sendo um gatinho bem esquisito.
Luffy apontou para várias manchinhas, dizendo o que cada uma — ao seu ver — assemelhava-se. Law nunca havia pensado ou visto sua "mácula" desta forma... E confessa que gostou de ver o Monkey mostrando suas manchas e rindo com as formas que elas tinham — contudo, não de uma forma pejorativa.
— Eu também queria ter manchinhas... — Luffy ditou com um meio sorriso. — As suas são fofas! Igual a sua mania de falar "ya". — Riu, e Law ficou extremamente rubicundo.
— Elas doem, às vezes... — indagou, com um ar um tanto tristonho.
— Por quê? — questionou genuinamente.
— Não sei dizer exatamente... Elas crescem conforme o tempo e, quanto mais muda de tamanho, mais dói. Principalmente pela noite...
— Entendo... — ponderou. — Dói tipo assim? — Luffy esticou os braços para o lado o máximo que pôde, tentando medir o tamanho da dor que Law sentia.
— Não sei calcular a dor desta forma. — Riu.
— Oh... Mas deve sarar com muita carne e beijo! — exclamou. — O meu pai, Shanks, me dá beijinho sempre que eu me machuco, e para de doer na hora! — ditou com uma euforia descomunal.
— Cora me dá beijos sempre. — Sorriu.
— Oh, essa parte do tratamento já está em prática — falou, com seriedade. — Então, sempre que as manchinhas 'doer, fala pro 'Corrazão te beijar e me ligar! — completou, fazendo Trafalgar rir.
De súbito, escutaram o sino para retornar à sala de aula. Luffy fez bico, queria ficar mais tempo no recreio conversando com Law. Enquanto retornavam — com o Monkey falando coisas aleatórias e arrancando sorrisos de Trafalgar — cruzaram com um ruivo, Eustass Kid: O garoto do Segundo Ano C, o mais temido da escolinha e, posteriormente, o arqui-inimigos de Luffy.
— Seu corpo é cheio de creca, eca. — Kid demandou, fazendo as veias do Monkey saltar.
— Repete. — Luffy indagou, com ódio.
— Luffy-ya... — Law segurou seu braço, tendo impedi-lo de fazer alguma besteira.
— O Law é nojento. — Deu língua pro moreno, que continuava segurando o braço de Luffy.
— Cala a boca! — Monkey gritou, cerrando os punhos e franzindo o cenho.
— Luffy-ya, não dê ouvidos a ele. Eu já estou acostumado com isso, vamos embora. — Law implorou, contudo, tampouco o moreno ouviu.
— Cala a boca quem já morreu, quem manda na minha boca sou eu! — Kid pontuou irônico. — O Law é todo manchado e feio! Ele é um idiota cheio de creca branca!
— Pede desculpa. — Luffy pediu respirando fundo.
— Não quero. — O ruivo deu de ombros.
— Luffy-ya... — Law puxou seu braço novamente, mas o garoto continuou imóvel.
— Eu vou falar de novo: Peça desculpas pro Law, agora! — esbravejou.
— Não vou pedir desculpas pra ele! Ele que deveria se desculpar por ter nasci...
Antes que pudesse completar sua frase, Luffy avançou no menino e lhe deu vários pontapés, tapas e puxões de cabelo; não dava nem tempo para que Eustass se defendesse. Law estava desesperado, não sabia o que fazer. Sentia sua visão turva e uma vertigem invadir sua visão. Por sorte, a diretora chegou e apartou a briga.
[...]
— Eu exijo a presença do meu advogado! — Luffy indagou, tirando a mulher ainda mais do sério.
— Luffy, o que eu disse sobre não arranjar briga?! — Shanks berrou.
— Mas foi o Kid que começou! — Fez bico.
Enquanto isso, Law estava encolhido em sua cadeira ao lado de Luffy. Sentia-se culpado por tê-lo metido naquela situação. Pensava que Kid pudesse estar certo quando falou que o Trafalgar não merecia viver...Ele nem ao menos sabe se está vivo.
Quando seu irmão gêmeo morreu, ninguém sabia dizer se o que restou vivo era Law ou Arthur, pois eles eles eram idênticos e as pulseiras que os diferenciava se soltou no meio da confusão.
— Ele xingou o Law! Isso é argumento o suficiente pra que eu chute a bunda dele! — Luffy praticamente gritou para a diretora.
— Eu disse que esse menino seria uma má-influêcia! — A esverdeada afirmou. — Só o mantenho nesta escola por pura misericórdia e porque tenho certo apreço pela família Donquixote. Caso contrário, já teria transferido-o para o quinto dos...
— Você está falando com uma criança, Monet! — Shanks interveio. — O Law não tem culpa! Aliás, o Kid é o maior culpado aqui e não digo isso para defender meu filho, pois sei que ele também está errado. — Puxou a orelha de Luffy, que reclamou.
Trafalgar encolheu-se ainda mais. Segurava-se para não chorar, mas não deu. Chorou baixinho, culpando a si mesmo por tudo que estava acontecendo: por ter metido Luffy nisso tudo, por tê-lo feito receber uma advertência e por fazer Corazón tentar sair do hospital para ir na escola por sua causa.
— M-Me desculpa... E-Eu não fiz por mau... — Soluçou, tentando limpar seu aljôfar.
Assim que Luffy viu o garoto chorando arregalou os olhos.
— Law... Por que esta chorando? 'Tá doendo? Onde está doendo? — questionou preocupado, tocando cada parte do corpo de Law. — Machucou em algum lugar? 'Tá doendo muito? 'Foi eu ou o Kid que te fez chorar? É as manchinhas? É aqui? — Tocou o coração do menino, sentindo-o acelerado. — O coração do Law 'tá doendo, pai. — constatou em voz chorosa e olhos marejando.
Trafalgar respirava com certa dificuldade e tentava se acalmar para que o choro cessasse. Os soluços tomavam todo seu fôlego e o ar parecia ainda mais rarefeito.
Monet — a diretora — não parecia se preocupar tanto, achava que era drama do menino para não levar anotação/advertência.
Shanks aproximou-se de Law e segurou suas mãos. Notou que este estava com falta de ar, seu peito subia e descia rápido e o pequeno puxava o oxigênio com força. Havia esquecido seu nebulímetro na mochila.
— Fique calmo, Law. Nada disso é sua culpa... O culpado é Kid por te xingar e do Luffy por ser tão bruto e impulsivo. — Sorriu. — Respire fundo e devagar... — instruiu, acariciando os fios do menino.
Luffy tinha o coração apertado e não sabia o que fazer ou dizer. Mordeu os lábios e tocou sutilmente seu dedo na destra trêmula de Law, que puxava o ar com força. De súbito, um loiro entrou na sala atordoado. Foi até o Trafalgar e o abraçou, dando-o a broncodilatadores, com aerolin e corticoide, para que o garoto possa respirar melhor.
— O que aconteceu? — referiu-se para a diretora. — Saí do hospital o mais rápido que pude…
— Law brigou hoje na escola. — demandou a esverdeada.
— Mentira! — Luffy soluçou. — O Law não fez nada! Eu que bati no Kid por ele ter xingado o Law… — E caiu no choro.
Monet respirou fundo, buscando paciência. No fim, o resultado foi que os três receberam uma suspensão de um dia — apesar de que o Water quase não teve culpa no ocorrido.
— E isso serve de lição, Luffy, pra não brigar mais na escola! — Shanks repreendeu o garoto, que mantinha o semblante emburrado. — E perdão pelo transtorno que o meu filho impulsivo casou.
— Tudo bem, crianças são imprevisíveis… — Rosinante sorriu.
Law saiu de trás do loiro, indo até Luffy. Ainda estava hesitante e com medo de sofrer alguma represália por parte deste.
— Luffy-ya… — O chamou. Ainda segurava sua bombinha de asma. — Você ainda é meu amigo? — perguntou, escondendo-se atrás da perna de Corazón, que conversava com o ruivo pai do Monkey.
— Mas é claro que sim! Você não fez nada de errado. Como meu pai mesmo diz, eu sou "impiussivo". — Riu.
— Impulsivo. — Corrigiu sorrindo.
— Pai, dá o seu número 'pro pai do Law 'pra gente conversar… — pediu em voz arrastada.
— Está bem Luffy, desde que Rosinante esteja de acordo e que você não ligue para eles em plenas três da manhã. — pontuou.
— Se o Law quiser conversar com ele, tudo bem. — O Donquixote sorriu.
— Eu quero! — exclamou animadamente.
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