a k a l i
Passei o almoço inteiro bufando igual um dragão furioso, nada conseguia acalmar meu coração e me fazer tirar da cabeça a imagem de Evelynn me esnobando antes de ir, sabe-se lá pra onde, com a Sivir. Fiquei morrendo de ciúmes e com um sentimento de traição crescendo dentro de mim, quando eu sei que não deveria. Eve não é minha propriedade e, por mais que esteja me esforçando para convencê-la a pelo menos me dar uma chance de provar que posso valer muito mais a pena do que os seus outros casinhos, a Siv não tem culpa de o destino colocar a mesma mulher por quem estou interessada, no seu caminho.
O lado bom é que descobri que Evelynn gosta da pizza da Myeong Dong, e posso usar isso a meu favor um dia desses.
O lado ruim é que nesse exato momento ela pode estar de pernas abertas pra minha amiga e colega de trabalho, e não pra mim.
Que saco, meo’... Não gosto de me sentir desse jeito e isso tá me distraindo num nível preocupante. Depois que o horário de almoço terminou, Sivir voltou a dar as caras na pizzaria e eu me segurei para não a chamar e questionar como tinha sido seu encontro com Evelynn. Atreus me torrou a paciência sobre isso e eu preferi não falar nada, já que eu queria esquecer que as duas estavam possivelmente trepando por aí. A morena até tentou se aproximar de mim, contudo, tínhamos muitas entregas a fazer e eu também não me encontrava no melhor dos humores para iniciar uma conversa com ela. Ainda sentia vontade de bater em alguém e não queria que o alvo do meu punho fosse minha amiga, pois eu sei que essa raiva que está se apoderando de mim é fruto do desdém de Eve.
Ela não me via como mulher, ou apenas queria evitar de me ver como uma mulher. E isso me dá raiva!
Durante todo o tempo de serviço eu evitei até mesmo olhar para a Sivir e evitava ficar perto dela por mais do que cinco segundos. Sempre que meus olhos se demoravam na sua imagem, a cena com a Eve no estacionamento me vinha na cabeça e me torturava. O olhar de prepotência, a pose de gostosona, o tom de deboche... Argh! Ela me irritou mais do que eu pensava que conseguiria, aguentei as suas patadas sem reclamar e continuei mantendo minha cabeça erguida, mas me chamar de criança presunçosa e me comparar com a Sivir e seus outros amantes foi demais pra mim!
Eu... Eu não estou só com raiva. Eu estou magoada.
Cacete, não acredito que vou viver o clichê de chorar no meio do expediente...
— Kali, agora que o movimento melhorou, podemos conversar? — dessa vez eu não consegui me desvencilhar da Siv e, pra piorar, ela testemunhou minha cara de quem tá querendo chorar — Kali? Meu Deus do céu, você tá chorando?
— Tá vendo lágrima na minha cara? — resmunguei já com a voz ficando embargada. Que merda, nem pra disfarçar eu sirvo.
— ‘Tô vendo sim, elas se juntando no teu olho! Nem tente fingir que comigo isso não cola! — antes que Atreus viesse se intrometer onde não foi chamado, Sivir me puxou para os fundos da pizzaria, onde normalmente deixamos as nossas coisas e trocamos de roupa — Olha, eu não sei o que a Evelynn te falou, mas eu juro pra você, não fizemos nada!
— É sério que tu vai me mandar uma dessa? Porra, Siv! — balanço a cabeça em negação, totalmente descrente.
— Akali, esses dias mesmo você ‘tava me contando sobre estar afim de uma mulher ricaça e gostosa. Quando eu descobri que era a Evelynn, eu não consegui ir com ela pra um Motel nem nada, nós apenas almoçamos juntas! — Sivir segura meu rosto pra me fazer encará-la, porém, fujo dos seus olhos ao mirar pra baixo — Hey, Kali, não tente me ignorar! Olha pra mim!
— Vocês não fizeram nada mesmo...? — pergunto num murmúrio.
— Só almoçamos e conversamos. Eu juro. — sua voz fica mais baixa e mansa, isso me ajuda a me acalmar, mas não faz a vontade de chorar passar completamente e isso fica visível pela minha boca trêmula — Ei, ei! Kali, olha pra mim! — Sivir encosta sua testa na minha e eu acabo por olhá-la de volta — Não chora, que ela não merece.
— Eu ‘tô bolada com a Evelynn, Siv. — admito — Tudo bem me rejeitar, mas não precisava me comparar contigo ou outras pessoas, né? Isso dói, cara!
— Ainda mais que você adora se fazer de cega pras suas qualidades, né sua tonta? — riu — Akali, você é incrível, cara. Você sabe disso!
— Parece que não sou incrível o bastante pra chamar a atenção dela.
— Muito pelo contrário. Você foi o tema da nossa conversa durante boa parte do almoço. — mesmo com ela me revelando isso, só consigo pensar que Eve falou mal de mim à beça.
Em como eu sou irritante, como sou imatura demais pra uma mulher como ela, coisas desse tipo.
— Akali, você não me contou toda a história. A sua amiga, Seraphine... Você sabe que ela gosta de você, não sabe?
— Eu sei, sim... Eve acabou contando isso pra mim hoje de manhã e foi por isso que nós brigamos, e agora estamos assim, com ela me evitando! — solto um suspiro de cansaço — Não queria que as coisas tivessem chegado nesse ponto, mas... Eu não consigo me arrepender por ter tentado beijar a Eve. Foi por tão pouco...
— Bem, a arrependida sou eu, de ter largado um mulherão daqueles por uma chorona que quer desistir! — provocou.
— Sério, Siv. Eu não consigo acreditar que você desperdiçou a chance por minha causa! — eu poderia me irritar com ela por ter me chamado de chorona, mas não consigo, já que eu realmente estava agindo como uma trouxa — Agora não posso desistir de jeito nenhum!
— Isso aí! Você e a Eve tem uma tensão sexual tão exorbitante que não acredito que não se pegaram ainda! — Sivir se afasta de mim com um sorriso ladino — Sabe, a Eve ter te tratado tão mal hoje só comprovou minha teoria de que ela está fazendo o possível pra te afastar, pois sabe que a relação de vocês tem a tendência de ir para outro caminho!
— Quer dizer que ela está me rejeitando porque... Me quer? Isso faz algum sentido? — questiono tanto a ela quanto a mim mesma.
Hoje de manhã, depois de termos discutido no seu quarto, no momento em que fiquei tão perto de beijá-la sem o olhar da Seraphine pra estragar tudo, Evelynn afirmou desesperadamente que não podia.
Mas ela não disse que não queria!
— Aconselhei Eve a esclarecer as coisas com a irmã dela. — a fala de Sivir me traz de volta à realidade e meus olhos se esbugalham.
— Espera! Ela vai falar pra Sera-chan? — puxo meus cabelos em um sinal de surto — Meu Kami-sama, isso vai dar muito ruim! A Sera-
— Akali, ou ela fala com a Seraphine, ou você a rejeita de uma vez! Não acha que será ainda pior se nenhuma de vocês tirar a coitada dessa confusão? — a morena cruza os braços numa pose intimidadora e, diante disto, eu apenas me encolho e desvio o olhar para o chão.
— Isso vai ser um desastre, Siv... Essas duas estão voltando a se falar agora e eu posso atrapalhar tudo...
— Bom, não posso dizer que a verdade fará o bem para todos os envolvidos... — suspirou — Mas a mentira com certeza fará mal e irá atingir vocês três de uma vez! O caminho menos doloroso é o da verdade, pois pelo menos a dor já vem de uma vez. — Sivir toca meu ombro numa tentativa de me dar conforto e enfatizar a razão de cada palavra que está me dizendo agora — A mentira, Kali, é o pior caminho! Tanto você quanto a Eve só atrasarão uma dor que deveria ser rápida, e quanto mais atrasarem essa conversa franca com a Seraphine, maior será a dor que ela vai sentir e a culpa de vocês vai se estender até o limite. O relacionamento de vocês, que deveria ser algo benéfico pras duas, vai se transformar numa culpa torturante e isso talvez faça com que a Evelynn se arrependa de tudo antes mesmo de começar.
— “A mentira é como um castelo de cartas”. — repeti o que ela me disse um tempo atrás, voltando a encará-la — “É lindo e perfeito enquanto é construído, mas é tão frágil que basta um sopro para despencar tudo de uma só vez”.
— Exatamente! — sorriu orgulhosa — Não desanima, Kali. Você ainda tem o contato da Evelynn, então tente estabelecer uma conversa. Se Eve for a mulher sensata que desconfio que é, não vai te ignorar se você disser que vai contar tudo à Seraphine.
— Isso vai pressioná-la. — concluí o raciocínio de Sivir — Está decidido então! Se a Eve não contar pra Sera o que tá rolando, quem vai contar sou eu!
e v e l y n n
Depois de um almoço estranhamente agradável com Sivir Alahair, retornei à Vulpes Style para me inteirar dos detalhes sobre o ensaio que realizei com Kai’sa – embora meu objetivo real fosse verificar como anda certa raposinha depois do incidente do banheiro –. A recepcionista velha voltou a revirar os olhos quando apareci e se essa chata do caralho comentar mais alguma coisa sobre a minha aparência ser indecente, com o mal humor que encarnou em mim, eu juro que vou desfazer o penteado horroroso dela na base do soco!
Kai veio fofocar comigo sobre as edições que Rakan estava fazendo e ele nos convidou a dar uma olhada no processo – além de disponibilizar algumas fotos dos bastidores para que postássemos em nossas redes sociais –, subimos até um andar a qual não tinha visitado ainda, o vastayês foi me explicando que aquela era a área das equipes de Fotografia e dos Designers Gráficos e, por isso, ninguém tinha me levado até lá ainda. Entramos em uma saleta rodeada de terminais de computador e tinha muitos funcionários trabalhando em edições, não apenas de fotos como também da campanha de lançamento do perfume da Kai’sa – no caso, estavam terminando os esboços do frasco e da temática da propaganda que será feita em formato de comercial televisivo –, e todos se encontravam tão absortos nas suas funções que nem repararam na minha chegada com a Suriphorn e o Llotlan.
O trabalho de Rakan era muito mais necessário do que eu pensava. Claro, uma modelo mais arrogante diria que não precisava editar tanto as fotografias, mas eu admito, os efeitos de luz da cenografia ficando mais evidenciados, a mudança de tonalidade e a harmonia empregados pelos filtros especiais deu uma cara ainda mais sensual ao ensaio e ver isso em primeira mão valeu minha tarde. A luxúria esbanjada por mim e Kai nas poses se transformou em algo esteticamente agradável ao olhar. Óbvio que o mérito da sensualidade fica por conta da minha performance com a tailandesa, uma grande parcela do sucesso desse ensaio pertence à química inigualável entre mim e Kai’sa, e isso não seria possível caso não tivéssemos uma relação que permitisse toques e trocas de olhares tão ousados e verdadeiros. Ainda assim, bato palmas para a capacidade e o talento incrível de Rakan em tornar o que já era envolvente em algo tão perfeito, se eu pudesse iria imprimir essas fotos, pois estão lindas demais.
— Eu não me canso de dizer que você é maravilhoso na edição, Rakan! — elogiou a Suriphorn — A Vulpes tem a melhor equipe, meu Deus!
— Sou obrigada a concordar. Vocês são tão atenciosos com o trabalho que nem parece que acabei de entrar aqui. Já me sinto como parte disso! — meu comentário sincero parece ter pegado meus colegas de surpresa, tanto o francês quanto a tailandesa viraram seus rostos para mim, descrentes do que ouviram sair da minha boca — O quê? É a verdade!
— Saiba que é uma honra ouvir isso de uma modelo tão admirável, mademoiselle! — Rakan sorriu radiante — Sua passagem por outras agências não parece ter sido das melhores.
— Ah, pode acreditar quando digo que a Vulpes está se saindo como a melhor de todas até agora. Há algo de acolhedor aqui dentro, talvez seja pela sintonia dos envolvidos? — ri ao fim da frase — Bem, não importa. Creio que todos faremos um bom trabalho juntos.
— Acho que você tem essa sensação das peças sendo encaixadas porque a senhora Kwon é muito inteligente quando se trata de reunir elementos para uma equipe! — a menção de Rakan ao nome de Ahri chamou minha atenção — Quer dizer, ela é incrível, né? Criou uma empresa que cresceu muito rápido, reuniu modelos excepcionais como você e a KaiKai num só lugar, resgatou talentos que provavelmente seriam excluídos, como os meus. — o sorriso brilhante do Llotlan aumenta de largura a medida que vai listando as conquistas de sua chefe, e eu fiquei intrigada com a sua última colocação.
— Como assim, excluído? — ouso dar voz a minha dúvida.
— Sabe como é... Vastayas não recebem muita atenção em mercados disputados como o Design, ainda mais alguém com TDAH como eu e-
— Você tem TDAH? — o meu espanto fica mais do que nítido quando o interrompo.
— Pois é. — ao menos ele não levou minha surpresa como uma ofensa, o que é um alívio — Mesmo depois de formado, várias empresas fecharam a porta na minha cara, e na da Xayah também, por sermos vastayas. Mas a senhora Kwon entende o que é ser rejeitado pela sua raça, ela estendeu uma mão que ninguém quis estender antes, e não foi apenas porque somos vastayeses, mas porque nossos talentos agregaram aos seus planos.
— Rakan e Xayah são uma dupla fenomenal, comentei isso quando você fez o ensaio de teste. — elucidou Kai’sa — Essa harmonia dos dois não funciona com qualquer projeto, e a nossa querida “Raposa Megera” sempre sabe quando deve encaixá-los num projeto ou não.
— A senhora Kwon é um gênio na arte de juntar pessoas num grupo! Toda equipe que ela monta faz um trabalho fenomenal e acho que por isso ela gosta tanto da senhorita! — queria fazer um comentário debochado sobre essa última parte da fala de Rakan, já que é evidente que Ah-Ri não me contratou apenas pelo meu talento.
Contudo, fico com esses pensamentos rodeando minha mente até o fim da tarde e o início do anoitecer. Ahri confia plenamente na minha capacidade de entrega quando se trata do ofício de ser modelo e saber que ela me escolheu não apenas porque eu tenho uma aparência que chama a atenção me deixa, de algum modo, genuinamente lisonjeada. É o tipo de reconhecimento que ninguém se propõe a me dar, nem mesmo meus pais acreditaram que o mundo da Moda seria um bom caminho – inclusive, tentaram me empurrar várias vezes para diversas profissões alternativas.
— Vieram bisbilhotar o trabalho do Rakan? — a voz graciosa se faz presente no local e todos param o que estão fazendo para encarar e reverenciar formalmente a chefe.
O olhar que Ahri dirige a mim é enigmático, não sei dizer com clareza se ela ainda sente raiva pelo que aconteceu no banheiro ou se o almoço e as horas de trabalho foram suficientes para aplacar sua fúria e a euforia de quase ter cedido. Só sei que não quebro a troca de olhares intensa e permaneço tão inexpressiva quanto ela, disfarçando o ataque nervoso que ocorria dentro de mim.
— As fotos ficaram ótimas, presidente! — comentou Kai, tão mais a vontade do que eu, que me causou inveja pela sua tranquilidade em comparação a inquietude em meu ser — Mas uma coisa me deixou intrigada... Todos esses ensaios com a Evelynn são para dar um gás na produção do desfile de Verão?
— Faz parte dos meus planos, sim. — admitiu Ahri, se aproximando de nós três — Não somos a única marca planejando uma coleção de Verão, e como se não bastasse a grande disputa entre empresas, temos que lidar com uma mídia que quer destruir a carreira consolidada da senhorita Stelle-Wong devido às polêmicas com a saída sorrateira da FF. — a seriedade com que ela diz isso faz com que eu me sinta culpada.
Existia sim, muito apoio dos meus fãs com a minha saída mais do que suspeita da Felix-Fate Group. Porém, não podemos ignorar os sites de fofocas e os haters apostando que tanto o desfile de Verão quanto os próximos projetos da Vulpes Style serão um fracasso por causa do meu nome relativamente manchado na mídia global.
— Não que isso seja culpa sua, é claro. A mídia é cruel desde que o mundo é mundo. — inesperadamente, a loira dirige a palavra diretamente à mim, abrindo um sorrisinho convencido — Todos os meus esforços não serão em vão, Evelynn. Pode deixar sua carreira em minhas mãos...
Consigo sentir os olhares surpresos de cada um no recinto, e pior, eu mesma não consegui ficar indiferente quando a destra de Ah-Ri subiu até a lateral do meu rosto num gesto íntimo demais, os orbes turquesa com traços cerúleos estando presos à minha figura com um brilho distinto enquanto ela anunciava para quem quisesse ouvir:
— Farei com que brilhe mais do que qualquer um já tenha feito!
A carícia sutil em minha face, o olhar penetrante e o sorriso de canto foram mais do que suficientes para me fazer entender que ela ainda estava disposta a jogar comigo, e pior, provou que essa pirralha insolente tem tanto poder sobre mim, que uma mera provocação como essa gerou um reboliço interno tão grandioso que minhas bochechas simplesmente ficaram vermelhas do nada! Eu perdi a capacidade de fala e minha única reação foi corar igual uma adolescente estupidamente apaixonada, enquanto ela se afastava e continuava o assunto com os demais:
— Claro que não vamos deixar todo o trabalho com a Evelynn. Quero que todos os holofotes estejam na Vulpes, então todos os meus modelos farão seu melhor trabalho nesse desfile. Estou trabalhando para que seja perfeito do início ao fim!
— Não iremos decepcioná-la, presidente! — afirmou Kai’sa com empolgação.
— Sei que não irão. — a risadinha graciosa de Ahri espanta o climão instaurado pela sua interação comigo — Falta muito pouco para os detalhes serem acertados, Lux irá avisá-los quando agendarmos uma reunião sobre.
Quando penso que nada mais poderia me abalar ainda hoje, após encerrar a conversa e estar prestes a se retirar da saleta, a raposa interrompe seu percurso e volta a me encarar ao olhar para trás e diz:
— Já ia me esquecendo... Pode me acompanhar até minha sala, senhorita Stelle-Wong?
Pela expressão sorridente, sei que Ah-Ri vai fazer alguma coisa comigo no escritório e a ansiedade me ataca mais uma vez. Não digo uma só palavra e abandono a área sem nem me despedir direito de Kai e Rakan, seguindo a coreana até o elevador. O silêncio entre nós e a falta de uma comunicação visual fica insuportável, entretanto, contenho minha vontade de me voltar para ela para perguntar o que estava querendo comigo e aguardo que a própria Kwon responda essa dúvida posteriormente. O trajeto da sala dos computadores até o escritório da vastaya no último andar do prédio foi tão silencioso que me deu a falsa sensação de que eu estava pirando por pouca coisa, e me iludiu de que Ahri não ia me atacar ali dentro.
— Achou mesmo que podia dar um show e que eu não responderia à altura? — lá vamos nós, ser prensada contra a porta de novo.
Sério, qual o problema das pessoas em conversar comigo sem me fazer bater as costas numa parede ou numa porta de madeira? Isso dói, droga! E eu estou com um vestido que deixa minhas costas nuas, doeu muito mais do que nas outras vezes e eu acabei soltando um grunhido.
— Que inferno... — resmunguei — Precisava me fazer bater as costas assim? Porra...
— Eve, Eve... Não gosto quando se comporta tão mal... — nem um pouco interessada nas minhas reclamações, a vastaya segura meu queixo com força — Está tão desesperada pra me ter, que não consegue controlar seus impulsos? Eu pensei que seria mais paciente comigo...
Ao contrário do que eu pensava que faria, ela não tenta avançar no meu pescoço ou coisa semelhante, nem se esforça em me manter presa contra a porta. Na verdade, ela se afasta de mim, caminhando indolente para trás com o mesmo sorriso malicioso no rosto, os olhos azuis presos nos meus, até chegar à refinada mesa de mogno. Sem se preocupar com os papéis e o que mais tinha em cima da mobília, ela simplesmente se sentou na beirada, cruzando as pernas numa pose elegante e instigando meu olhar a descer para aquela área, logo resgatando minha atenção quando vejo sua mão indo de encontro aos botões da camisa azul claro. Com certeza eu devia estar com a expressão mais patética possível diante desta cena tão provocativa, Ahri está se divertindo com o meu olhar embasbacado enquanto continua a abrir a bendita camisa, tudo o que faltava para me deixar mais ridícula ainda era a baba escorrer da minha boca entreaberta.
Deus do céu, que mulher...
— A verdade é que, quem não aguenta mais esse jogo, é você, não é? — assim que termina de desabotoar sua camisa, ela faz um sinal com o indicador para que eu me aproxime — Porque você me deseja tanto, e eu estou agindo como uma garota tão má...
O timbre lascivo encanta meus ouvidos e eu atendo seu chamado sem pensar duas vezes. O fato é que não consigo desgrudar meus olhos da sua figura belíssima e a minha vontade era de tirar peça por peça do seu corpo, contudo, a curiosidade fala mais alto e, quando finalmente estou perto, resolvi questioná-la:
— O que está fazendo, raposinha?
— Não é o que você quer? — insinuou, descruzando as pernas para que eu pudesse ficar entre elas e trazendo meu rosto para perto do seu com ambas as mãos — Só preciso que seja sincera, Eve... — com a face tão próxima da minha, era impossível que minha atenção não se voltasse aos lumes azulados e encará-los assim era como um mergulho profundo num oceano de desejos impuros — Se você pudesse, me comeria aqui e agora, não é?
O sussurro sedutor, em conjunto com o olhar indecente, fora capaz de acender de novo a chama do desejo em meu interior. Fiquei tão envolvida nessa atmosfera promíscua que não hesitei em respondê-la de imediato:
— Sim.
Não foi necessário nenhum movimento da minha parte, tendo em vista que a própria Ahri pegou minhas mãos e as direcionou às partes descobertas do seu torso. Por debaixo da camisa azul, meus dedos tatearam lentamente a cintura alheia, subindo até encontrar o que deve ser o fecho do seu sutiã branco. Vi-me tentada a abri-lo, porém, ainda não entendia o motivo para que ela estivesse permitindo que eu chegue tão longe ainda dentro da empresa, e por isso, paro por ali.
— Isso é algum truque? — indago e ela ri, tombando a cabeça para o lado.
— Que tal descobrir? — instigou — Teria feito a mesma coisa na toalete, estou errada?
— Mas você ficou reclamando que não podíamos-
Num ímpeto, ela me interrompe ao me beijar com voracidade. Meu estado de torpor é tanto que até me esqueço do bendito fecho do sutiã e volto a descer minhas mãos, chegando no final da sua coluna e num punhado de pelos macios – sua cauda –, a carícia que faço naquela região é automática e ouço um arfar de contentamento abandonar os lábios alheios, ainda entre o beijo. O som da cauda felpuda batendo contra os papéis e os derrubando da mesa é captado por mim, entendo isso como um sinal verde para avançarmos, ela está tão ou mais ansiosa do que eu, e pior, bastou um beijo e um diálogo curto para que eu me excitasse muito mais do que antes.
Preciso dela agora, que inferno!
— Senhora Kwon? — a batida de Lux na porta me dá um susto tão grande que me afasto de Ah-Ri mais rápido do que um relâmpago.
— Sim, Lux? — diferente de mim, a loira encarnou sua postura de presidente num segundo, disfarçando muito bem o que estávamos fazendo.
— O senhor Kazemoto confirmou sua presença na Coréia ainda nesta semana, junto do irmão, para a reunião do desfile de Verão.
— Ótimo, comunicaremos os demais amanhã, pode se retirar. — assim que ela dispensa Luxanna, pudemos ouvir seus passos se distanciando e solto um suspiro de alívio que nem me apercebi de ter prendido — Está vendo o porquê não é possível fazer isso aqui dentro?
O modo como ela me perguntou isso, com uma sobrancelha erguida e um sorriso divertido me acorda para o óbvio: isso foi planejado! O possível flagra, o susto, a excitação, merda! Essa... Essa vastaya de araque me fez de boba de novo!
— Você- É sério isso? — meus olhos continuam arregalados enquanto ela dá risada e abotoa a camisa, despreocupada — Me seduziu até aqui pra me deixar na vontade, e pior! Me fez ter um ataque do coração por nada?
— Foi totalmente de propósito, foi sem querer querendo! Foi sem querer de propósito! — sorriu, terminando de se vestir como se nada tivesse acontecido e descendo da mesa.
— E se ela tivesse entrado aqui? A porta não foi trancada!
— Impossível. Luxanna sabe que só pode entrar se eu solicitar a sua presença pelo interfone, o que não foi o caso. — ainda não consigo acreditar que ela arquitetou todo esse teatro só pra me fazer de idiota, e agora ela estava rindo da minha cara sem nenhuma vergonha — Ops!
— Sua-
— É bom ser malvada, não é? — a risadinha debochada faz meu sangue ferver em puro ódio — Não me arrependo!
— Vai me pagar por isso, sua raposa atrevida! — fiquei tão furiosa que nem pensei muito antes de avançar sobre ela, cercando-a contra a mesa.
— Acho bom você se controlar, Evelynn! — ameaçou num tom frio, nem um pouco intimidada por mim — Não queremos um escândalo, queremos? E, se não me falha a memória, você já está envolvida até o pescoço em vários boatos que podem simplesmente destruir sua carreira tão preciosa. Imagino que será ótimo adicionar no seu currículo um ataque à tua nova chefe.
— Não me diga que até aquele papinho de “vou te fazer brilhar” foi teatro seu, sua raposa malandra! — esbravejo.
— Hm... Não. Isso é verídico, eu quero te fazer brilhar daqui em diante... — sua mão volta a dançar sobre meu queixo, o sorriso descarado brota novamente em seus lábios — Está tão irritada porque pensou que eu fosse ceder?
— Estou irritada porque você instigou algo que não vai acontecer! Já não bastou me deixar frustrada no banheiro?
— Own, que tistinha’! — o fato de ela continuar zombando de mim com uma voz fofa só piora minha raiva — Vai ter que descontar essa frustração por si mesma, hoje não posso te dar mais do meu tempo e atenção.
Com o mínimo de paciência que me restou, fecho os olhos, conto até cinco o mais lento que consigo na minha cabeça, engulo os resquícios do meu orgulho que foi feito em frangalhos e pergunto:
— Quando?
— O quê?
— Já entendi que o que está nos atrapalhando é o seu trabalho. Está mais do que na cara que as duas estão com vontade, mas nunca temos a oportunidade certa. Então, quando?
— Quer que eu consulte minha agenda? — se ela vir com mais deboche pra cima de mim, eu juro que arranco a língua dela pela nuca — Já te disse que pode me procurar no meu apartamento. Não hoje, porque tenho uma papelada pra ordenar, mas... — com a mão que ainda estava no meu queixo, ela aproxima nossos rostos novamente e me dá um selar breve — Amanhã à noite. — outro selinho rápido — Depois de amanhã... — e mais um — Todas as minhas noites podem ser reservadas única... — de novo — ...E exclusivamente à ti.
— Já entendi qual é seu jogo, vastaya de araque. — solto uma risada forçada — Está tentando me controlar até mesmo no dia e na hora em que posso te encontrar?
— E funcionou, não é verdade? — gabou-se — Você não tem alternativa melhor.
Ah-Ri estava certa. Se iremos adiante com essa relação estranha que estabelecemos desde que me tornei modelo oficial da Vulpes, então teria de ser nos seus termos.
Tudo bem, deixe ela pensar que ganhou...
— Ok, você venceu essa, pequeno chacal. — ergo minhas mãos em rendição — Sem mais ataques no ambiente de trabalho até segunda ordem.
— Não é tão difícil se comportar melhor, não acha?
— Não provoca... — alertei.
— Melhor você sair daqui, antes que mude de ideia. — riu, me empurrando em direção a porta — Boa noite, senhorita Stelle-Wong.
— Boa noite, senhora Kwon. — praticamente rosnei, me retirando do escritório antes que eu cometesse um crime de ódio.
Uma hora dessas eu já deveria ter voltado pra casa, Seraphine me deixou uma mensagem de texto perguntando sobre meu paradeiro e no caminho até meu carro no estacionamento, digitei uma resposta rápida e um pedido de desculpas. Não quero que ela pense que estou me atracando com algum peguete aleatório sem avisar de novo. Assim que a tranquilizo, tomo meu caminho para voltar pra casa, me sentindo mais frustrada do que nunca.
Eu caí no pior truque de todos, permiti que Ahri dominasse o jogo. Porra, me deu vontade de invadir seu apartamento e arrancar aquele sorrisinho do rosto dela, me enganar daquele jeito foi o ápice do absurdo. Ela não conhece a lei da salada não, caralho? Se não vai comer, não tempera!
— Raposa dos infernos! Vastaya dissimulada do cacete! — eu devia estar dormindo e não atacando os travesseiros como se eles fossem sacos de pancada, porém, eu não dormiria em paz se não descontasse minha fúria em algum objeto.
— Tá tudo bem, jiejie? — estou agindo tão estranho que até Seraphine bateu na minha porta.
— Sera’er, eu ‘tô bem! Só ‘tô tendo um surto! — elucido.
— Ih, vazei! Quanto tu fica assim, melhor sair da frente! — riu, provavelmente voltando para o seu quarto.
Continuei a sessão de espancamento nos travesseiros por um tempo considerável, já não tinha mais fôlego para amaldiçoar Kwon Ah-Ri em voz alta e, por isso, apenas grunhia igual um animal enlouquecido. Esse descaramento dela é tão, mas tão... Irresistível.
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Na manhã seguinte, consegui deixar Seraphine na League University no horário certo e, graças ao bom Deus, o capeta debochado que eu tenho que chamar de irmã mais nova não soltou nenhum comentário sobre o meu surto no meio da noite. Quando cheguei no prédio da Vulpes, fiquei contente pela recepcionista bonitinha – que se chama Ashe Avarosa, pelo que li no crachá – ter voltado, contudo, a velha chatonilda também estava com ela e, mesmo que eu estivesse com uma roupa menos provocante – estou me sentindo até coberta demais para um dia que já começou calorento –, a insuportável estreitou os olhos em reprovação. Segurei-me ao máximo para não dar um murro na face da velhota e cumprimentei ambas com a mesma educação de sempre.
A minha morte veio na forma de uma raposa dos infernos que estava estupidamente mais linda hoje – ou talvez eu esteja vendo-a desta forma devido ao dia decepcionante de ontem –. Não importa como se vista, é evidente que Kwon Ah-Ri consegue chamar minha atenção de modo automático quando aparece na minha frente, tudo nela é gracioso demais, perfeito demais. O cabelo loiro se encontrava preso em uma longa trança chamativa, vestia uma camisa social branca simples e uma saia azul escuro, tão escuro que podia ser confundido com preto. Nada de tão extravagante, e ainda assim, linda. Queria ter avançado nela assim que a vi, porém, não posso me precipitar. E não, não é porque ela me mandou um xeque-mate na noite passada, está mais para uma retirada estratégica.
Meu plano agora é atiçá-la com gestos mínimos e fazê-la me esperar. Eu bem que poderia esperar a noite cair e encontrá-la no seu apartamento hoje mesmo, contudo, ainda preciso resolver um assunto pendente: Seraphine.
Além da revolta por Ahri ter me enganado, o que me tirou o sono ontem fora a conversa que tive com Sivir. Não preciso mais tentar enganar a mim mesma, eu sei que Akali me despertou um desejo insano com aquela porcaria de lap dance, e isso está me matando de culpa por dentro. Nem que seja apenas por uma vez, eu sei que quero Kinkou Akali. E isso nunca acontecerá enquanto não me resolver com a minha irmã, pois novamente, Sivir estava certa: não posso esconder por muito tempo o que vem acontecendo entre mim e Akali, a verdade vai vir à tona cedo ou tarde e seria melhor que viesse da minha boca, e não do abacaxi ambulante.
Duvido que Akali teria algum pingo de sensibilidade pra rejeitar Seraphine decentemente, mais fácil ela estragar tudo falando bobagem.
Ahri andou de um lado para o outro essa manhã, mal tendo tempo de me dar um “bom dia” rápido ou sequer trocar um olhar comigo, Kai’sa comentou que esse era o “modo workaholic” da Kwon; ela fica cega e surda para os demais e se foca inteiramente ao trabalho – me pergunto se isso é saudável, considerando que da última vez ela quase desmaiou em serviço –. Com Ahri ocupada demais para dar atenção a mim e à Suriphorn, Senna me apresentou para Gwen Lowe, uma galesa que faz parte da equipe de Designers de Moda da Vulpes – ou melhor dizendo, do trio das rainhas da Moda, junto com Ahri e Senna –. A garota parecia uma boneca de porcelana viva devido ao penteado de maria-chiquinha e ao vestido com ar vitoriano, os cabelos e olhos eram de um azul muito chamativo e seu rosto era delicado ao extremo.
— Por incrível que pareça, fui caloura da Ahri no curso de Moda. Assim que me formei, ela veio me procurar. Aprendo muito com ela e com a Senna. — revelou a azulada enquanto me fazia provar algumas roupas — Hm, você combina com todo tipo de cor, Eve. Isso é fascinante!
— Agradeço o elogio. — sorri cordial — Gwen, me diga que eu não sou a única preocupada com a saúde da minha chefe. Hoje ela parece pior do que na semana passada.
— Ah, não é. Senna já deu uma bronca nela por ter passado mal por não se alimentar direito. Juro pela minha tesoura da sorte... — a galesa ri enquanto me mostra o objeto, era uma tesoura azul maior que a mão dela, como ela usa isso? — ...Que todos da Vulpes já tentaram mudar esse comportamento, mas não conseguimos convencê-la nunca! Nem a Senna, que praticamente foi a inspiração dela para começar a cursar Moda, conseguiu em todos esses anos.
— Não é possível, ela não ouve ninguém? — resmunguei, Gwen soltou uma risada — O que foi?
— Essa sua preocupação com a Ahri é muito... Cativante, se me permite o comentário.
Mais uma pro time “você deve estar apaixonada por ela rs”, não acredito! Eu acabei de conhecer Gwen e ela me lança esse olhar de “shipper”.
— Eu nunca tive um chefe que pudesse me causar problemas, se essa vastaya desmaia em serviço, como ela pretende aumentar o meu brilho? — minha fala pode soar um pouco arrogante, mas a culpa não é minha se a própria presidente declarou que seu objetivo era elevar meu status no mercado da moda.
— Se ela prometeu, ela cumprirá. Tenha um pouco mais de fé na minha veterana! — afirmou confiante.
Nem mesmo o bate-papo divertido com a designer galesa e o almoço na companhia de Kai’sa, Irelia e Ashe – outra fofoqueira de marca maior – conseguiu me deixar menos preocupada com a raposa idiota. Pela segunda vez na semana, Seraphine afirmou que não precisava que eu a buscasse na LU e que almoçaria fora, isso também tem me deixado desconfiada de que minha irmã está aprontando alguma e não quer me contar o que é. Quando retornamos do almoço, Gwen e Senna estavam discutindo com Ahri no meio do saguão e ninguém denotou querer se intrometer no que parecia ser uma briga.
— Você tem que parar de fazer as coisas sozinha! Nós estamos aqui pra ajudar! — nunca pensei que veria Senna tão furiosa.
— Não estou fazendo isso! — refutou Ahri com a voz tão elevada quanto a da texana — Eu só estou fazendo o meu trabalho!
— Unnie, você está se matando de trabalhar. — argumentou Gwen, que parecia bem mais calma do que a mais velha do trio — Só estamos pedindo para que pegue um pouco mais leve, você quase não saiu pra almoçar hoje.
— Eu sei que estão preocupadas, mas não precisa-
— Ah, Evelynn, você voltou! — Senna notou a minha presença e interrompeu a fala da loira, isso fez com que todos voltassem seus olhos para mim. Normalmente eu amo ser o centro das atenções, mas nessa situação é desconfortante — Você, que tem mais juízo do que essa menina, me ajude a convencê-la.
Parece que ter levado Ahri pra jantar da última vez fez com que eu ganhasse uma fama dentro da empresa: a única que consegue arrastá-la pra fora do escritório.
— Vai lá, salvadora Eve! — Kai’sa, que adora um barraco armado, sussurrou no meu ouvido e foi me empurrando na direção do trio de designers, enquanto Ashe e Irelia mal disfarçavam o riso.
Eu tento fugir dos problemas e eles vêm até mim numa velocidade absurda, essa semana já começou dando errado!
— Isso não é necessário. — suspirou Ah-Ri, falando comigo pela primeira vez no dia — Deixem a senhorita Stelle-Wong fora dessa discussão.
— Da última vez que você disse que minha opinião não era necessária, quase desmaiou de cara na mesa. — quando eu vi, já tinha soltado a primeira frase que me veio em mente. A coreana me fuzila sem nem tentar mascarar sua desaprovação, Gwen e Senna concordam comigo e isso me dá forças pra prosseguir — Um descanso de vinte minutos no mínimo, e prometo que vamos parar de te encher o saco!
— Temos uma sala de descanso no décimo oitavo andar. — sugeriu a Lowe.
— Eu não vou descansar enquanto não terminar de-
— Você vai sim, estou mandando! — impassível como uma boa texana, Senna cruza os braços e interrompe novamente a fala da Kwon, que revira os olhos e bufa.
— Unnie, você está tirando toda a minha autoridade aqui... — resmungou num tom baixo e constrangido.
— Se eu preciso te tratar como criança pra você aprender a se cuidar, então o farei, você sabe disso. — os olhos verdes me fitam, um sorriso malicioso brota dos lábios cheios — Evelynn, sinto muito, mas preciso que você fique na sala de descanso com essa teimosa, pra garantir que ela não vá correndo pro escritório.
Ah, ficar sozinha em uma sala com Ahri, isso é música para os meus ouvidos...
— Será um prazer! — o sorriso praticamente se escancara em minha face.
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— Não acredito que me convenceram a fazer isso... — no caminho inteiro até a tal sala de descanso, a vastaya reclamou entre resmungos — Nada de gracinhas aqui dentro, Evelynn!
— Relaxa, querida. Já entendi seu recado. — dou de ombros enquanto ela destranca a sala.
O antro parecia um salão de festas, as paredes eram coloridas, a vidraçaria permitia que a luz do sol iluminasse cada canto e deixava o ambiente bem agradável, possuía uma mesinha de centro em vidro ornamentada com madeira de mogno, cercada por vários sofás e puffs, tinha até mesmo uma mesa de ping-pong – suponho que seja para passar o tempo – e uma área para fumo em um cantinho. Como não me apresentaram essa sala antes? É com toda a certeza o melhor lugar dentro do prédio da Vulpes.
— Tudo o que você precisa fazer é sentar aí e esquecer seus compromissos por alguns minutos, não vai doer. — debochei.
— Isso é uma perda de tempo. O desfile está batendo na porta e vocês querem que eu descanse?
— Sim. — respondi num tom irônico — A ideia de passar vinte minutos presa comigo não te agrada?
— Fazendo nada? Não, não agrada. — retrucou com mal humor.
— Olha, quem impôs que não fizéssemos nada foi você, por mim... — lanço uma provocação na primeira oportunidade, me sentando em um dos sofás — ...A gente poderia fazer muito mais do que só descansar...
— Se continuar com essa petulância, eu te tranco aqui e saio!
— Como se a Senna fosse deixar! — gargalho — Não seja tão chata, chacalzinho. Podemos aproveitar a deixa e relaxar de verdade. Alguém elogiou sua trança hoje?
— Por que está falando da minha trança, do nada? — ergueu uma sobrancelha em confusão.
— Pra te distrair do trabalho. E você não me respondeu.
— N-não, ninguém falou nada. — enfim, ela está colaborando com o rumo da conversa. E pelo leve gaguejar, sei que a deixei encabulada por ter citado seu penteado repentinamente — Por que alguém iria reparar nisso?
— Normalmente você está com o cabelo solto, uma mudança obviamente chamaria minha atenção, raposinha. — dou um tapinha leve no assento ao meu lado, chamando-a para se sentar comigo, e ela me obedece — Fez isso sozinha?
— Sim, eu não tenho quem faça por mim. Moro sozinha, afinal. — reiterou.
— Ficou muito boa.
“Dá vontade de puxar enquanto te fodo”, adoraria ter complementado meu elogio com essa sentença, porém, me contive.
— O seu cabelo está sempre tão bem cuidado que dá vontade de te fazer um cafuné. — ri.
— Um “cafu” o quê? — uma interrogação enorme surge nas feições da Kwon.
— Vai me dizer que não sabe o que é? — a minha pergunta não tinha sido séria, entretanto, pela careta que ela fez, não devia saber mesmo o que era e isso me surpreende — Mentira!
Minha exclamação revoltada a assusta, não é possível que ninguém nesse planeta tenha olhado para esse cabelo e essas orelhas fofas de raposa e não fez um carinho ali! Devia ser lei mundial!
— Como pode isso, gente? — balanço a cabeça em negação — Isso não pode ficar assim. Pode deitar aqui. — bato nas minhas próprias coxas num convite.
— Eve-
— Deita a cabeça aqui agora!
Ainda sem entender o que eu estava sugerindo, Ahri torna a atender meu pedido e se estica no sofá, colocando a cabeça no meu colo. Com cuidado pra não acabar destruindo a trança perfeita, levo minha destra ao topo de sua cabeça e inicio uma massagem leve, subindo devagar até a base das orelhas caninas. Não demora muito para que a coreana relaxe conforme toco suas orelhas, soltando um suspiro aprazível e fechando os olhos.
Sinto-me como se estivesse com um cachorrinho no colo, chega a ser cômico.
— É ruim receber carinho, raposinha? — questiono sarcástica.
— Vou permanecer no direito de ficar calada! — resmungou.
— Olha o lado bom, você relaxa, eu relaxo... O tempo vai passar tão rápido que você nem vai perceber. — prossigo com as carícias, aumentando um pouco a intensidade do toque — E, se você relaxar de verdade, vai trabalhar melhor.
— Tem razão. — concordou.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, continuei com o cafuné e isso estava funcionando melhor do que eu esperava. As orelhas de Ahri eram macias e isso me deixava igualmente relaxada, não sentia vontade de parar de tocá-las e vê-la tão à vontade me deu a sensação de que estou cumprindo a missão que Senna me entregou. Por um minuto, pensei que ela tivesse caído no sono enquanto permanecia acariciando suas orelhas, no entanto, um barulhinho estranho chamou minha atenção assim que o captei e resolvi mencioná-lo em voz alta:
— Está ouvindo isso?
As pálpebras da coreana imediatamente se abriram, como se ela tivesse levado um susto. Noto que a cauda de raposa – que estava balançando levemente até agora – ficou paralisada em alerta.
— I-isso o quê? — sua voz vacilou e isso me fez suspeitar ainda mais.
— Espera, fica quieta! — solicitei.
O rosto de Ahri foi ficando vermelho, não interrompi o cafuné em momento algum e isso me ajudou a descobrir que o som não era coisa da minha cabeça, no silêncio absoluto ele ficou ainda mais evidente, parecia uma risadinha de bebê.
— É você quem está fazendo isso? — resolvi interrogá-la de uma vez, e nem precisei ouvir uma resposta, tendo em vista que Ahri cobriu a boca inutilmente para tentar conter o barulho que provinha da sua garganta — Por um acaso... Esse é o som que as raposas fazem?
— Está bem! Eu admito! Sou eu! — bradou envergonhada, escondendo o rosto com ambas as mãos — Que droga!
— Own, não acredito, que adorável! — sorri, verdadeiramente encantada com a sua fofura.
— Isso é constrangedor... — choramingou.
— Hey, calma. Eu disse que é fofo! — ri da sua vergonha — Qual o problema em ser fofa, Ahri?
— E-eu não sabia que ainda fazia isso! — murmurou, afastando as mãos da face. Suas bochechas ainda se encontravam avermelhadas e os barulhinhos de raposa não cessaram mesmo com ela falando — É coisa de criança. Um v-vastaya adulto não faz essas coisas...
Tão fofa...
— Relaxe, esse vai ser nosso segredinho. — pisco um olho — Gosto de torturar as pessoas, mas não farei isso contigo. Ninguém vai ficar sabendo, agora aproveita a minha boa vontade e tenta descansar.
Descobrir mais uma característica relativamente fofa de Ah-Ri me cativou tanto que nem quis fazer algum comentário maldoso, minha mão continuou seu trabalho de fazer carinho no topo de sua cabeça e, principalmente, nas orelhas pontudas, e mesmo com o breve momento de embaraço, ela se permitiu esquecer do trabalho assim como Senna ordenou e voltamos a ficar caladas por um longo período. Massagear as orelhinhas fofas era terapêutico demais e óbvio que eu me aproveitaria para matar um pouco do horário de serviço, se fosse para me beneficiar com um momento tranquilo com ela.
— Então além de carícias na cauda, você gosta de cafuné. — constato com um sorriso convencido. Já estamos nessa há bem mais do que vinte minutos, os barulhinhos de raposa continuavam a ser emitidos pela Kwon e ela permanecia constrangida com este fato.
— É estranho quando você descobre coisas sobre si mesma dessa maneira. — comentou.
— Tem mais alguma coisa sobre suas particularidades vastayesas que eu deveria saber? — interrogo.
— Eu não ligo tanto de receber puxões nas orelhas, já deve imaginar que recebi muitos quando estava na escola. — pelo seu tom de voz, creio que não esteja falando isso no sentido de receber um "sermão" dos pais.
E sim, de ter sofrido algum tipo de bullying na escola por ser vastaya. Pensar nessa possibilidade me entristece por um instante.
— ...Mas odeio que puxem minha cauda. Eu sou sensível demais aí. — suspirou.
— Certo, então eu nunca vou tentar puxar. — afirmo, levando a canhota até a cauda dançante — O que você sente quando eu acaricio aqui?
— V-você sabe o que acontece! — reclamou com a voz vacilando num gaguejo de vergonha.
— Mas eu quero que você me diga. — provoco, alterando o tom amistoso da conversa para um flerte óbvio.
Claro que eu não perderia a chance de seduzi-la mais um pouco. Toda essa situação faz parte do meu plano de enlouquecê-la, e sem que ela percebesse, já estava me dando informações preciosas sobre seu próprio corpo. Meus dedos ainda estavam mergulhando no amontoado de pelos macios, subindo lentamente até a base deles. Ahri fica paralisada no lugar quando toco o início da cauda e o fim da sua coluna, tanto os pelos claros quanto a pele ficam arrepiados e ela solta um suspiro baixo de contentamento.
— Isso te deixa tão mais dócil, chacal... — prossigo com as carícias naquela região específica, notando que a cauda parou de balançar e apenas ficou erguida e arrepiada — É fofo, sabia?
— Pare de dizer essas coisas! — reclama — Isso não está me deixando relaxada!
— Não? Então, como você se sente? — pergunto com um ar de ironia, meus dedos voltam a subir e afastam-se da cauda felpuda, adentrando as roupas e tocando apenas a pele.
— Chega! — ergueu-se num rompante, me impedindo de continuar a provocação — O que está tentando fazer, Evelynn?
— Ora, nada demais, chacalzinho. — sorri inocente.
— Já disse que se quer fazer algo inapropriado, que não seja aqui! Esta sala é para descanso, não para-
— Ué, isso é inapropriado?
— É claro que é! — chiou, mais vermelha que um tomate.
— Não tenho culpa se você é sedutoramente fofa, paixão. — brinco — Enfim, está descansada agora?
— Estou. — afirmou. Uma pena a pausa ser muito breve, sinto que poderia facilmente ficar o restante do dia aqui, brincando com as orelhas e cauda fofinhas de Ah-Ri, mas ela me mataria se ficássemos postergando nossas obrigações, portanto, interrompo os toques e permito que ela se levante.
— Viu? Foi tão difícil tirar meia hora de folga? Não sente a mente mais leve?
— Só quer ouvir que estava certa, não é? — sorriu — Eu admito, estava certa, Evelynn. Ficou feliz agora?
— Bem feliz em saber que ajudei de alguma forma. — levanto-me do sofá também, sustentando uma troca de olhares próxima com a Kwon — Você pode construir seu império, mas ninguém quer fazer parte de um onde a imperatriz surta com seu trabalho. Mente e corpo precisam estar saudáveis pra criatividade vir, raposinha.
— Por acaso seu empregador na Felix-Fate também recebia esse tratamento especial? — sua indagação me diverte e apenas reviro os olhos, não contendo uma risada breve.
— E por que deveria ser igual? Eu tive ótimos motivos pra sair de lá! Um deles sendo a falta de conexão com a equipe.
— Não gostava do seu chefe anterior?
— Bailey Felix não é o tipo de chefe que se dá ao trabalho de estabelecer boas relações com seus funcionários. Ele não me tratava como eu mereço.
— E eu te trato como você merece, por acaso?
— Hm, quase. Ainda falta um pouco para que você me mereça! — desdenho e ela ri, negando com a cabeça.
— Inacreditável... Bem, Senna não vai poder reclamar, já que ficamos um bom tempo aqui. Vamos voltar a trabalhar.
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Você deve estar imaginando o quanto Kai’sa encheu meu saco assim que Ahri e eu saímos da sala de descanso, a tailandesa queria saber se eu tinha dado o bote e sua insistência no assunto me estressou, e pior, ela compartilhou informações com Irelia e Ashe, e agora eu não tinha apenas uma, mas três fofoqueiras de plantão aguardando as cenas dos próximos capítulos do meu joguinho com a nossa chefe. Omiti grande parte do que realmente aconteceu entre nós e joguei ao vento que descobri uma maneira fácil de fazer Ah-Ri relaxar sem envolver sexo, o enigma deixou as três confusas e loucas por uma resposta a qual não lhes ofereci.
Se ontem foi o dia das decepções, hoje foi o dia das surpresas. Assim que o expediente se encerrou e retornei ao meu lar, doce lar, avistei um carro estacionado perto da mansão e eu não estava esperando por nenhuma visita. Parecia ser aqueles carros alugados e isso não me cheirava coisa boa, guardei meu veículo junto dos demais na garagem e abri a porta. Meus olhos se arregalam com o choque que me acomete quando reconheço a figura que me aguardava na sala de estar ao lado de Seraphine. Cabelos loiros penteados com gel, olhos azuis safira, um terno que me recordo de ter comprado antes de me mudar definitivamente para a Coréia.
— O que você está fazendo aqui? — praticamente gritei.
— É assim que você recepciona as pessoas, Evelynn? — ele nem disfarça o desgosto e engoli em seco.
Diante de mim estava William Stelle, meu pai.
— Eu queria ter falado contigo sobre isso, jiejie. O papai que não deixou! — explicou Sera, visivelmente nervosa com a minha reação não muito boa.
Então os almoços com os amigos, na verdade, eram com o nosso pai, que veio para Coréia do Sul sem nem me avisar! Por isso ela respondeu tão seca quando perguntei por mensagem, provavelmente ele a impediu de dar mais detalhes porque queria fazer essa surpresa estúpida.
— Respondendo sua pergunta... Eu vim para a Coréia porque meu pequeno serafim completou seus vinte anos. — sorriu orgulhoso, bagunçando os cabelos rosados da caçula — Sua mãe queria ter vindo comigo, mas sabe como a Meiling é...
— Ela está esperando que eu peça desculpas por ir embora. — afirmo com raiva, William me olha com tristeza.
— Filha, você não precisa ser tão dura com a sua mãe. Nós apenas desejávamos o seu melhor.
— Vocês queriam controlar minha vida, isso sim! — rebato com amargor — Eu não vou ficar aqui pra ouvir mais um discurso ridículo de pai aborrecido!
— jiejie! — Seraphine até tenta, mas não lhe dou ouvidos e volto para a garagem em passos apressados — Volta aqui! O papai só quer conversar!
— Ele que se foda! Eu não quero conversar!
— Está agindo como uma criança, jiejie! Não faça isso com os nossos pais! — acusou, perdendo a paciência — O que custa você ouvir o que eles têm a dizer? Eles sentem nossa falta, só isso!
— Seraphine, eu não estou em condições de olhar pra ele agora! — na correria eu peguei uma chave aleatória, quando destravo o alarme percebo que escolhi meu Chevrolet Camaro SS 2018 azul.
— Não pode fugir pra sempre, jiejie. — grunhiu irritada, vendo-me adentrar o veículo sem hesitar.
— Se desculpe com ele por mim, mas eu não fico aqui nem mais um minuto.
Fui embora mesmo com os protestos de Seraphine – meu pai, por outro lado, ficou dentro de casa e nem solicitou minha presença, e foi melhor assim –, precisava espairecer e fiquei rodando a cidade por um longo tempo, sem um destino definido.
Mas que inferno! Eu sei que estou agindo errado com meus pais, fiquei anos longe deles e mantendo contato mínimo, até deixá-los no escuro e nunca mais procurá-los. A recente vinda de Seraphine para a Coréia era a única coisa que me fazia lembrar deles, quando eu só queria esquecê-los. Nossa última discussão pessoal foi um verdadeiro caos e eu precisava manter essas memórias distantes para não me machucar ainda mais.
Tenho que me distrair antes que elas voltem, e eu já sei para onde devo ir.
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Não tinha certeza se ela estaria acordada ainda, só sabia que já deveria estar em casa à essa hora e espero que eu esteja tomando uma decisão acertada em vir até aqui. Tolero a subida chata pelas escadas e ignoro os olhares dos demais residentes do prédio, chegando ao apartamento 403.
— Evelynn? — Ahri abriu a porta pouco depois que bati, ainda vestia as roupas de trabalho, mas a longa trança havia sido desfeita e as madeixas loiras estavam bagunçadas — O que faz aqui?
— Pelo único motivo a qual você me deu permissão de vir te encontrar privadamente... — dou um passo para dentro do apê e por instinto, a vastaya caminha para trás, me dando espaço — Deveria ter avisado que viria? — questiono, abrindo um sorriso lascivo.
— Bem... Admito que não esperava que viesse hoje, e tão tarde da noite. — ela imita meu sorriso, compreendendo minhas intenções — Se recorda do aviso que lhe dei por telefone?
— Hm... Pode refrescar minha memória, boss? — assim que digo isso, Ahri fecha a porta atrás de mim, sem desviar o olhar do meu.
— Eu disse que, caso viesse... — ouço o barulho do trinco enquanto ela prossegue com sua fala, alternando para um timbre luxurioso — Não sairia tão cedo daqui.
— Estou consciente disso e pretendo continuar. — desdenho.
— Ah, está consciente... — Ahri solta uma risadinha maliciosa, antes de me dar um susto ao me prensar contra a porta com força, arrancando-me um suspiro — Então tenha em mente que, essa noite, eu não tenho pretensão alguma de te deixar... Consciente. Pelo contrário. — suas mãos agarram minha cintura com firmeza e sua boca se aproxima do meu ouvido para sussurrar: — Eu vou te enlouquecer e te deixar inconsciente até do próprio nome, pois a única coisa que você vai conseguir pronunciar, é o meu nome!
E bastou ela dizer isso para que a excitação tomasse conta, o calor do desejo já se alastrava por cada parte de mim como fogo encontrando um caminho de pólvora e sei que ela percebeu isso. Ainda assim, não me deixaria abalar pelos seus joguinhos de palavras – e nem pela onda de mordidas que iniciou no meu pescoço – e responderia à altura:
— Que tal me provar que é capaz disso? — aproximo meus lábios de sua orelha, tão fácil de alcançar pelo fato de serem orelhas vastayesas e estarem bem perto de mim — Foxie...
Sussurro com o tom mais sedutor e manhoso que consigo, Ahri suspira em ansiedade e não tarda em me beijar, sem me dar espaço para qualquer tentativa de recuar. Seu corpo pressiona ainda mais o meu contra a madeira da porta, minhas mãos vão parar nos seus cabelos, se embrenhando ali no meio, enquanto as suas acabam por descer, percorrendo um caminho perigoso entre o fim da minha cintura até as minhas coxas, provocando-me arrepios involuntários pelo toque.
Mesmo que beijos não sejam nenhuma novidade entre nós, é incrível o quão viciante sua boca pode ser. E olha que eu nem ligo para isso, se fosse com qualquer outra pessoa já estaria tomando as rédeas da situação, partindo para as preliminares e arrancando cada peça de roupa que aparecesse em meu campo de visão. Mas estamos falando de Kwon Ah-Ri, a vastaya que faz de tudo para me subjugar e acaba por conseguir, na maior parte do tempo, me fazer ceder aos teus caprichos com uma velocidade absurda de ridícula! E, claro que dessa vez não seria diferente, pois foi só abaixar um pouco a guarda para que a coreana agarrasse minhas coxas com força o suficiente para me impulsionar para cima e me fazer ficar no seu colo, com as pernas enroscadas em sua cintura. E é desta forma, ainda aos beijos, que ela me carrega até o seu quarto.
Pouca luz se fazia presente no antro e isso me agradava, embora estivesse louca pra tirar as suas roupas e ver por mim mesma quão gostosa ela é e a falta de iluminação seja inadequada para realizar tal fantasia. Ahri interrompe o beijo assim que me joga contra o colchão da cama sem delicadeza nenhuma, se afastando de mim com uma expressão totalmente lânguida.
— Imagino que não esteja tão acostumada a ficar por baixo, Eve. — comenta, tão despretensiosa que quase acredito que isso não seja uma provocação de sua parte — Farei o meu melhor para que goste, à partir de hoje, de ficar abaixo de mim.
Tenho certeza de que ela está falando isso não apenas porque está literalmente por cima de mim, como também por possuir um cargo na empresa que evidentemente está acima do meu mero contrato como modelo exclusiva da Vulpes. E eu me dou conta do quão superior Ahri quer parecer ao perceber que ela não tinha mesmo intenção alguma de me ceder o mínimo de controle.
Mesmo sabendo disso, eu não tinha força alguma para contestá-la. Eu sequer desejo que ela não o faça, quero ser dominada!
Achava impossível essa raposa ser tão sensual assim ao expressar dominância, contudo, apenas o ato de sorrir pra mim ao mesmo tempo em que sua mão vai abrindo os botões da sua camisa branca me faz morder o lábio. Droga, ela consegue me fazer ter mil reações só existindo na minha frente! E a minha ansiedade só piora quando ela engatinha lentamente na minha direção, a cauda de raposa se mexendo logo atrás em curtas ondulações, os olhos azuis brilhando de ansiedade e me encarando como se eu fosse uma presa a ser caçada e encurralada, os lábios esticados em um sorriso pequeno, porém, que exibia a sua cobiça promíscua em relação à minha pessoa.
— Sabe que ainda temos trabalho amanhã, né? — alerto — Deus, vou estar destruída pra trabalhar...
— Não vamos pensar nisso agora. — reitera, se divertindo com a minha ansiedade explícita nos diversos suspiros que solto — Vamos apenas aproveitar a oportunidade... O resto, fica pra depois.
Óbvio que ela aproveitaria a posição em que ficamos para me beijar mais uma vez, prendendo minhas mãos no alto da minha cabeça sem nenhuma dificuldade, já que me distraí com esse bendito e delicioso beijo. Nem ouso tentar me soltar, a força que ela está impondo sobre meus pulsos é maior do que eu poderia esperar e praticamente grita para que eu obedeça às suas vontades e permaneça imobilizada. Por mais domme que eu seja, agir como uma submissa não estava sendo tão ruim assim, na realidade, acho que estou gostando de estar nessa posição, mesmo que seja intimidante perder o controle da situação.
— Disse-me que gosta de torturar teus alvos... Estou enganada? — questionou-me, quase sem parar de me beijar, o que evita uma resposta minha — O que acha de provar um pouco do próprio veneno, Evelynn? Ser dominada e torturada por mim... Gosta da ideia?
Se fosse qualquer outra pessoa tendo a audácia de me propor algo assim, eu poderia ter diversas reações. Talvez rir na cara da pessoa e dizer "Nunca", talvez simplesmente usar minha força para inverter as posições e responder "Hoje não". Só que eu não disse nem fiz nada disso, não escolhi nenhuma dessas alternativas por estar vidrada nos olhos azuis que me encaravam com tanta ânsia em tomar-me. Podia sentir meu rosto ficando vermelho – não sei dizer se por vergonha do que vou fazer a seguir, ou qualquer outra possibilidade –, enquanto me permitia desarmar todas as minhas defesas e me entregava àquela irresistível loucura ao proferir:
— Faça como quiser. Essa noite, eu sou toda sua!
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