- Ryan ... Ryan ... Ryan acorda ...
- ... Hm ... ? ... - encarei o vulto no meu quarto - O que foi agora ... ?
- Anda , levanta dai . Já anoiteceu .
Me ergui com dificuldade e liguei a luz do abajur azul ao lado da minha cama .
- ... Eu não tenho imaginação o suficiente pra que você apareça com outra roupa ... ? ...
- Eu não sou fruto da sua imaginação ... - bufou .
- Então por que você não aparece com outra coisa à não ser essa fantasia de mágico ... ? - o encarei sério .
- Isso não é uma fantasia ... ! - trincou os dentes - Eu sou um mágico ... !
- Que seja ... - me levantei e caminhei até a comoda , pegando uma camiseta vermelha listrada de manga longa .
Puxei a parte de baixo da camisa que estava usando e a tirei sem me preocupar muito .
- ... Você está ficando cada vez mais magro Ryan ... Desse jeito vai desaparecer em pouco tempo ...
- Com tanta coisa tentando me matar lá fora , essa é a última coisa com que eu vou me preocupar ... - vesti um dos braços da camiseta - E você é só uma parte do meu subconsciente , não tem que se meter nisso ...
- Você quer parar com isso ?! ... Eu não sou um amigo imaginário criado pela sua mente perturbada de adolescente ! Eu sou real ! A questão é que só você pode me ver ... !
- E porquê só só eu posso te ver , hein Brendon ?! - o fitei furioso .
- Isso já é outra questão ... - virou o rosto .
- Viu ?! Sempre que chega nesse assunto você se cala ! - gritei - Você é algum tipo de espirito ?! Acho que não , já que você parecer envelhecer exatamente como eu ! Se duvidar você é só um pouco mais velho que eu !
- ... Isso não importa ...
- Importa sim ! - vesti o restante da camisa- Por quê até hoje eu não sei se você é realmente um aliado nessa porra , ou só está esperando a hora certa pra me matar !
- Eu te conheço desde pequeno ... E você ainda tem dúvidas sobre isso ... ? - se sentou ao meu lado .
- ... Semana passada a minha avó Abigail apareceu na porta do meu quarto possuída por uma daquelas coisas ... Ele falava comigo comigo como se fosse realmente ela ... - cerrei o punho e fechei os olhos com raiva - ... Mas ela já estava morta há sete anos ...
- ... Mas eu sou diferente - sorriu fraco -... E ninguém além de você sabe sobre essas coisas entre os humanos ...
- Você está esquecendo daquelas seitas secretas feitas no subterrâneo da igreja dessa cidade ... Eles sabem quem eles são ... Sabem até demais ...
Pegou a minha mão com cuidado e entrelaçou os dedos .
- Brendon ... Como eu posso sentir você ... ? - fiquei olhando aquele gesto - Se você fosse um fantasma ... Isso não aconteceria ...
Ele riu baixo ignorando o meu olhar fulminante sobre ele .
- Não sou um fantasma ... E mesmo que eu fosse , em alguns casos a ligação espiritual de um fantasma é forte o bastante pra que isso aconteça . Sabe disso . O exorcista aqui é você não eu - sorriu .
- Hm ... - semi-cerrei os olhos - Tá me escondendo alguma coisa .
- Eu não sou um fantasma ...
- Demônio ? Incumbus ? ... Vampiro ? ... Transmorfo ?
- ... Não ...
- Anjo ... ?
- Muito menos ... - apertou a minha mão - Eu sou apenas um humano como você ...
- Bem , mas as pessoas conseguem me ver e me tocar ... - sorri .
- E dái ? ... Eu não ligo pra isso .
Respirei fundo ao perceber que aquela conversa não ia avançar nem um passo . Era impossível conseguir uma resposta se ele não quisesse me dar .
Me levantei e o puxei pra fora da cama .
- Anda ... Não temos muito tempo ...
Abri a porta do meu quarto e sai com certa cautela . Afinal , nem a minha casa era segura .
Desci as escadas e fui até a sala onde eu imaginava que as chaves da porta estariam .
- ... Mas onde ...
- Tadam ! - tirou as chaves do bolso - Por essa você não esperava ... - sorriu .
- ... Certo Brendon , você realmente não é um bom mágico ... - as tirei da mão dele com pressa .
- Você ficou surpreso sim ...
- Não - coloquei a chave no trinco - . Definitivamente não - a girei três vezes .
- Poxa Ryan ... Isso desanima qualquer um ... - fez um bico .
- Quem sabe isso te faça praticar mais em vez de ficar me seguindo em tudo quanto é canto ... - abri a porta e guardei a chave no bolso do jeans .
- Eu preciso ficar te seguindo , você é muito distraído ... Pode acabar se metendo em mais problemas ainda ...
- Eu sei me cuidar ... - fechei a porta e andei alguns passos .
- Não vai trancar ? ...
- Aquelas coisas querem à mim e não a minha família .
- Hm ...
Um costume estranho que eu adquiri foi o de caminhar de madrugada na rua . Por mais estranho que pareça era o horário mais seguro pra sair de casa . Poucos fantasmas apareciam naquele período . E as demais criaturas não caminhavam pela Terra por questões pré-estabelecidas pelo soberano delas .
Uma brisa fria passou por nós e senti um arrepio perturbador percorrer a minha espinha .
- Ryan ... Escuta ...
- ...
Sons de choro de uma criança . Eram um pouco abafados e pareciam vir de alguns arbustos .
- Vem ... - o puxei .
- Não ! - me segurou - É perigoso ... ! E caso seja uma armadilha você nem vai estar preparado ... Fica aqui ...
- É o meu dever ... Não importa as condições ... - sorri - Anda ... Ou eu vou sozinho .
- ... - virou o rosto - Se acontecer algo errado , eu posso não conseguir te ajudar ...
- Anda ...
Caminhei até os arbustos e soltei a mão dele .
Havia uma garotinha de cabelos de tom acobreado até os ombros , sentada no chão abraçando os joelhos . Ela era pequena , aparentava cinco ou seis anos de idade por conta do tamanho diminuto .
- Olá ... ?
Ela levantou o rosto revelando uma face esbranquiçada . Tomei um pequeno susto ao perceber que estava sem os olhos .
- O que foi pequena ? ... - me agachei .
- ... Helena não ir ... Pra casa ... - soluçou - Mamãe ficar brava com Helena , se Helena não voltar pra casa ...
- E onde é a sua casa , Helena ?
- Helena não sabe ... - sacudiu a cabeça para os dois lados e voltou a abraçar os joelhos .
- Quem é a sua mãe ? ...
- Helena não lembra ... - murmurou .
- Eu levo você - sorri - podemos tentar achá- la ...
- É ? - sorriu .
Ela tinha um sorriso certinho , os dentes estavam impecáveis .
- Sim ... - me levantei - Levante-se ...
Ela o fez e então eu percebi o quanto ela era pequena e fofinha . Usava um vestido azul com algumas frutinhas coloridas .
A peguei pela mão .
Me virei e encarei o mágico .
- Vamos ? - o encarei com um sorriso .
- Uhum ...
- Dá a mão pra ela Brendon .
Ele virou o rosto e arqueou as sobrancelhas .
- M-mas ...
- Anda ...
Ele deu a mão ainda meio relutante à ela .
- Quem é você ? ... - o encarou .
- Um mágico .
- Um mágico ? - sorriu - Helena nunca viu um mágico .
- Nunca foi num circo ? ...
Ficaram conversando enquanto caminhávamos e ela dizia o que conhecia no decorrer do caminho .
Depois de uma longa caminhada , ela nos levou à uma casa abandonada .
Pior do que abandonada ela parecia emitir uma energia ruim .
- É aqui , Helena ?
- Sim ...
A porta da frente rangeu e logo caiu no chão , fazendo um enorme barulho .
Arregalei os meus olhos .
Um vulto escuro e opaco surgiu entre a poeira segurando algo pequeno e pontiagudo .
A menininha se escondeu atrás de mim .
- H-Helena ... ? Quem é ele ?
- O papai ... - aperto a minha camisa .
- RYAN TEM UM BISTURI NA MÃO DAQUELA COISA ... ! - me encarou .
- ... - me virei e a segurei pelos ombros - Helena , por quê está com medo dele ?!
-P-papai beber muito ... P-papai vai punir a Helena ... Por chegar tarde ... - começou a soluçar - Ele vai punir ... Vai machucar a Helena ... Helena não vê mais nada ...
Entendi finalmente tudo aquilo .
O pai tinha lhe arrancado os olhos e a matado em seguida , jogando o corpo naquele local onde a encontrei .
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