Novembro de 2013.
Demitida. Novamente. Até quando isso iria continuar? Não me considero uma má funcionária, ao contrário, trabalho até demais e não tenho reconhecimento nenhum.
Enquanto eu tomava minha quinta dose de vinho, pensava em como iria pagar minha faculdade. Vim para a Alemanha estudar e consegui uma bolsa na Universidade de Munique. Deixei tudo para trás no Brasil, incluindo minha mãe e meu irmão, meu ex-namorado... Sempre fui obcecada pela Alemanha, então assim que fiz 18 anos foi a minha chance de viver este sonho. Agora já tinha 23 anos.
O barman perguntou se eu desejava outra rodada e com a minha mão acenei que não. Minha cabeça começava a rodar, era a bebida fazendo efeito rapidamente, razão para que eu não bebesse nem socialmente. Me apoiei na bancada para me retirar daquele local o mais breve possível. Não tive equilibrio de meu próprio corpo e eu jurava que iria me estabacar no chão, quando uma mão grande e masculina agarrou minha cintura.
Olhei para o homem brevemente e não o reconheci. Um estranho me ajudando? Com certeza tinha o intento de se aproveitar de mim. Procurei forças para me desvencilhar e não consegui. Ele andava colando meu corpo junto ao dele. Percebi que era musculoso. Minha visão turvou-se e não vi mais nada.
Minha cabeça pesava e eu mal podia abrir meus olhos. Eu estava atrasada pro trabalho, mas então lembrei que eu não tinha mais trabalho, e consequentemente, não teria mais faculdade.
Me sentei na cama confortável em que eu estava e esfreguei minhas mãos em meu rosto. Olhei ao meu redor, a grande suíte tinha as paredes em tons de lilás e preto. Os lençóis da cama eram brancos. Fitei a mim mesma e percebi que usava uma camisa social masculina azul claro. Fui verificar se minha calcinha ainda estava onde deveria e fiquei feliz ao saber que sim.
- De ressaca?
Virei-me para olhar o dono da voz e encarei um Toni Kroos só de toalha a minha frente. Toni Kroos! Jogador do Bayern de Munique. Meu coração disparou. Eu estava sonhando? Me belisquei discretamente.
Meus olhos se dirigiram até seu abdômen definido totalmente descoberto e por um momento torci para que a toalha que cobria o conteúdo abaixo de sua cintura caísse. Com outra toalha o alemão secava seu cabelo loiro molhado. Seu lindo sorriso tradicional era exibido.
- Acho que sim. - Respondi, após muito tempo de raciocínio. - Me desculpa, mas... Eu não sei como vim parar aqui. Você foi o estranho que me segurou?
Toni riu e jogou a toalha que secava o cabelo em uma cadeira de couro legítimo. Seus olhos azuis não desviavam de mim o que me fazia encolher.
- Eu te observava há um tempo e pensei comigo: ela não vai sair dali sem cair. - Fiz uma careta. - Nada contra! - Ele se defendeu rapidamente e rimos. - Me despedi do Müller e fui te socorrer, perguntei teu endereço pra te levar em casa, mas você literalmente apagou.
No mesmo momento senti vergonha de mim mesma. A primeira impressão é a que fica e agora sou uma beberrona para Toni Kroos.
- Me desculpe.
- Não! - O sorriso saiu e ele pareceu sincero. - Tudo bem, isso é... normal. Eu que devo pedir desculpas se te incomodou acordar em minha casa.
O quê? Ele bebeu também? Não era incômodo nenhum, era uma benção!
Não respondi e nos encaramos demoradamente. Toni notou que me fitava até demais e pela primeira vez olhou para um lugar qualquer.
- Ah... Eu... Preciso ir treinar. - Fez menção de entrar no closet.
Notei que essa era a deixa para que eu partisse.
- Sim, sim, claro. - Falei rápido - Mas antes, - Me levantei. - Que horas são, por favor?
- Antes de entrar no banho era 7 horas. Provavelmente já são 7 e meia.
Assenti.
- Obrigada, já vou sair. Desculpe pelo transtorno, er... - Falei na procura de minhas roupas.
- Você já vai? - Toni se mostrou surpreso. - Tome café comigo. Minha empregada já deve ter colocado tudo na mesa.
Espera um pouco... Toni Kroos estava me convidando para o desjejum? Evitei me beliscar de novo. Quem diria que após um dia horrível isso aconteceria?
- Tem certeza que ainda quer minha companhia? Não quero dar trabalho. - Falei, receosa.
Kroos bufou.
- Pegue toalhas no armário, - apontou para o mesmo, que ficava na parede oposta, próximo à janela de vidro - Tome um banho e desça. Estarei te esperando lá.
Me contive em pedir para que o jogador tomasse banho comigo. Seria sorte até demais. Sorri em agradecimento e fui pegar as toalhas.
* * *
Abotoei minha blusa branca e com as mãos tentei arrumar meus cabelos. Meu rosto estava natural, sem ao menos um pó. Aqui vai um mal sobre mim: não ando com maquiagem. O que me torna uma pessoa despreparada para situações inesperadas, como esta, onde Toni Kroos me aborda para sua casa.
Parecia até um sonho. Meus olhos eram verdes, senti falta de passar um lápis de olho. Encarei meu reflexo no espelho e suspirei. Era hora de descer.
Toni estava na mesa de café da manhã posta ao ar livre no quintal gramado e na beira da enorme piscina. O sol estava radiante e foi quando percebi que minha cabeça já estava melhor. Efeito Toni Kroos.
- Lydia! - O jogador chamou a empregada e sorriu quando me sentei ao seu lado.
Lydia veio em um átimo e o mesmo pediu para que a mulher trouxesse o alimento. Toni usava um óculos escuro, o que o tornava ainda mais charmoso, se isto era possível. Ele fechou o jornal e o deixou de lado.
- O que faz da vida, senhorita? - Ele perguntou. Só então percebi que eu sabia seu nome, porém ele não sabia o meu.
- Sou estudante de direito na Universidade de Munique e trabalhava como secretária em uma empresa de quinta, mas aí eu fui despedida e por isso você me encontrou bebendo no bar. - Ele ouvia tudo atentamente. - A propósito, sou Stephany Fidelis, brasileira.
Sim, eu sempre informava quando conhecia alguém. Já virara hábito. Ele pareceu não se importar com este fato.
- E sua família mora aqui contigo? - Perguntou.
- Não. - Respondi. A saudade do Brasil voltando à tona. - Tomei coragem e força e vim sozinha. Agora que não tenho emprego, não sei mais o que fazer e como pagar a faculdade.
Lydia trouxe a comida, interrompendo a conversa. Frutas picadas, cereal, leite, suco, bolo de cenoura e de ovos, waffles, café, panquecas... tudo à disposição. Toni agradeceu à empregada, que se retirou, e tomou a jarra de suco de laranja, se servindo.
- Pode pegar o que quiser. - Ele disse e tomou um gole do suco. - Nossa... Estou impressionado com a sua vida. E pensar que às vezes eu até reclamo quando algumas coisas não vão bem.
Não comentei nada e tomei do café forte. Peguei uma fatia do bolo de cenoura. Delicioso.
- Sabe... - Kroos continuou. - Vou te ajudar.
Quase me engasguei com o bolo entalado em minha garganta. Tive que engolir no seco às pressas para recobrar minha voz.
- Me ajudar? - Indaguei.
- Sim! - Ele respondeu e tirou os óculos, me fazendo fitar aquele céu. - Vou custear sua faculdade e se você quiser, pode morar aqui. Uma boa companhia para mim e Lydia será muito bem-vinda. - Sorriu.
- Onde estão as câmeras? Isso só pode ser uma pegadinha! - Falei e Toni gargalhou.
- Isso não é pegadinha. Sei que pega mal ouvir isso de alguém que conheceu há horas. - Ele hesitou e olhou dentro de meus olhos. - Você é interessante, sabia?
Seu tom calmo e sincero de certa forma me aquietou e eu vi que não tinha trolagem ali. Kroos não era um homem de mentiras.
A primeira impressão é a que fica.
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