No 63º dia de seu nome, o Senhor do Vale, Jon Arryn, casou-se com Lysa Tully. A moça tinha quinze anos, mas faria dezesseis em um mês, logo do início do novo ano. Isso não era um problema, afinal ela não era mais donzela.
- Eles ao menos disseram o nome do sujeito que a desvirginou? - Jon Arryn perguntou ao seu sobrinho. - Seria bom se eu soubesse disso pra não acabar colocando ele como um de meus assessores mais confiáveis e sendo traído.
- Não, esse Hoster é um trouxa mesmo, só tem gente fraca lá em Correrrio e ele não sabe de nada do que acontece no castelo – respondeu Elbert. - Tipo o escudeiro dele, o filho do Lorde Baelish. Ficou sabendo que ele quase morreu num duelo de espadas pra pegar mulher? Revoada demais.
- “Revoada demais”? O que isso significa?
- Nunca ouviu antes não? Revoada é conjunto de pássaros, tipo matilha, gado, cardume… É uma expressão que temos aqui no Vale – riu. - Está mesmo velho, tio Jon.
Jon Arryn estava idoso e não entendia muito sobre os jovens, mas sabia que sua nova esposa não o desejava. Ele não queria se casar pela terceira vez e estava contente em deixar Elbert como seu herdeiro, porém o cavaleiro de vinte e nove anos estava mais interessado em tentar entrar para a Guarda Real, agora que Arthur Dayne estava sendo julgado e provavelmente perderia o posto, por ter sido encontrado “em estado alterado” após ter abandonado Príncipe Rhaegar.
- Ouvi dizer que Lysa é uma garota doce, você vai gostar dela - disse seu sobrinho. - Conversei com ela quando fomos ao Torneio de Harrenhal esse ano.
- O Torneio de Harrenhal nesse ano de 281? - ele questionou sua memória. - Tem certeza de que não foi ano passado?
- Não, foi nesse ano e isso com certeza não tem nada a ver com questões de enredo feitas pelo autor dessa história, e aliás isso quebra a ordem cronológica dos fatos da Parte 1 tipo o casamento do Rhaegar e da Elia e a menção de que não havia ocorrido o nascimento do Príncipe Aegon – disse Elbert. - Sim, acabei de quebrar a quarta parede, mas prometo que isso só acontece uma vez por parte da história. Isso foi um spoiler.
No seu casamento, realizado no Ninho da Águia, haviam vindo pessoas de várias Casas do Vale e do Tridente. Um homem que lhe era estranho também estava presente, o tempo todo o observando. Tinha cabelo loiro trançado, baixa estatura, barba rala e usava uma túnica vermelha e uma muleta devido a ausência da perna. Quem é esse, um Senhor? O brasão em sua camisa é da Casa Grafton e ele está acompanhado do Lorde Marq, mas ele não se parece com ninguém de lá. Ele passou a festa inteira seguindo Jon e o fitando de longe. Uma hora cansou-se daquilo e moveu-se em sua direção, mas foi interrompido por um cavaleiro meio-dornês com nome de um número, que disse o ter conhecido quando era criança, mas o Senhor Arryn não recordava.
Após isso chegou a hora de fazer os votos e então despir os noivos e levá-los para a cama. O homem loiro perneta ofereceu-se para carregar o casaco do Lorde, e nele viu colocar um pergaminho. Foi levado para o quarto, e em seguida sua noiva chegou, também nua, e trancaram as portas. Lysa tinha o corpo de uma mulher em crescimento que ele achou desejável, porém, em vez de ir para a cama, ela ficou de pé, virada para a parede. Depois de um minuto, Jon a chamou e ela se pôs de frente, porém recuada no canto.
- Eu não quero me deitar com você – e cuspiu.
- Você sabe como funciona. Ou não te ensinaram? – Jon estava de pé, ainda sem sair do lugar. - Agora que é minha esposa, deve se deitar comigo para gerar filhos para herdarem minha Casa.
- E você acha que isso é certo?! - Lysa gritou. - Não sou sua égua de cria!
- Não importa se é certo, é a forma como o mundo funciona – ele tentou explicar, frustrado pelos simples fato de estarem tendo aquela discussão. Se fosse Robert, provavelmente já teria perdido a paciência. - Você pode ser a Senhora de uma Grande Casa de Westeros, é a escolha honrada a se fazer. Porém, se recusar e ficar se revoltando, terá consequências.
- Aos sete infernos sua honra! - ela continuou sua revolta. Seus olhos ardiam em chamas e tinha a respiração ofegante. - Acho que prefiro viver para ficar casada com você? Um homem velho, com um bafo horrível e metade dos dentes? Pode me prender, me torturar ou me matar! Minha família se voltou contra mim, perdi o único que amava e meu pai matou o meu bebê – sua voz enfraqueceu após dizer isso. - Minha vida já acabou.
- Então se lembra de seu pecado - Jon Arryn havia perdido a calma. - Sabe que também não queria me casar com você, uma mulher impura, que não soube se guardar até o casamento e se deu para um serviçal qualquer de Correrrio?! Você acha que a vida é uma canção romântica em que deve ficar com seu “amor eterno” apesar das dificuldades. Sabe o que isso lhe custou? Agora é desprezada por qualquer senhor de Westeros, é chamada de puta, e com razão, inclusive Hoster Tully deu sorte de ter conseguido casá-la comigo – suspirou. - Se tivesse se mantido donzela, como sua irmã mais velha, poderia ter chance de se casar com um herdeiro jovem de uma casa de igual importância. Está satisfeita com o resultado de sua desonra, Lysa Tully?
- Ótimo – disse ela, com o rosto ainda franzido agora em lágrimas. - Prefiro ter vivido amor verdadeiro por alguns meses do que passar a vida inteira sendo estuprada por um homem que não conheço.
Lorde Arryn se vestiu novamente e deitou-se para dormir. Como era a única cama do quarto, sua senhora também estava deitada ao seu lado, e enquanto tentava dormir a ouviu soluçando. Decidiu que, por enquanto, não consumaria o casamento. Sabia como mulheres eram temperamentais e Lysa ainda não tinha se acostumado à nova vida, então era melhor progredir nesse assunto aos poucos.
- Bom dia, Senhor Arryn – Lysa o disse quando o recebeu na mesa do café da manhã no dia seguinte. Ainda tinha o semblante abatido da noite passada, mas pelo menos estava sendo educada na frente de outras pessoas.
- Bom dia, Senhora Arryn – Jon respondeu. Tomava café com o manto da noite passada, e então lembrou que o Grafton estranho havia deixado um bilhete nela.
Leu-o quando terminou a refeição. Ele falava de um assunto importante que precisava ser tratado sobre Vila Gaivota, a maior cidade portuária do Vale, e que não devia ser do conhecimento de outras Casas, por isso esperaria as outras comitivas irem embora para ter uma audiência com o Lorde Arryn. Jon encontrou-se com Marq Grafton mais tarde, e ele confirmou o bilhete.
Lysa havia se fechado totalmente. Passava os dias no quarto, às vezes chorando, outras vezes apenas com um olhar frustrado e abatido. Refletiu sobre o que a mulher lhe dissera. Ela coloca seus sentimentos acima da honra, não tem medo de mim nem aceita sua posição. A imagem da jovem despida em fúria veio novamente na sua cabeça. E do jeito que fala, realmente parece estar convicta a não ser tocada por nenhum homem que não queira.
“Estou orgulhosa de ser sua esposa, Senhor Arryn” Jeyne Royce costumava lhe dizer, com um sorriso estampado no rosto e passando a mão na barriga. “E estou orgulhosa em ser mãe de seu futuro herdeiro. Ser sua foi uma dádiva para minha vida, e nosso filho será uma dádiva para sua Casa”.
“Não entendo como não tive um filho ainda, Lorde Jon” Rowena Arryn, sua prima e segunda esposa, passava dias sem sair do septo. “Tenho feito tantas preces à Mãe e aos outros deuses, mas não dá certo. Por favor, Senhor, não me odeie, eu juro que estou me esforçando ao máximo, sabe que faço tudo pelo senhor”. Mal sabiam as duas, mas os únicos filhos que Jon teria seriam Ned Stark e Robert Baratheon, garotos dos quais fez cavaleiros.
Lysa Tully não se assemelhava nada às suas esposas falecidas há décadas. Ela era muito menos simples, e tinha algo que despertava curiosidade. Um dia, ele a serviu café da manhã em seu quarto.
- Por favor, fale-me sobre você – ele disse, para sua surpresa.
Respondendo seu pedido, Lysa falou em tom calmo e detalhado sobre sua vida em Correrrio, porém não citou nada sobre o romance com o homem que a havia fodido, para não irritar Lorde Arryn. Contou sobre a infância, os abraços de sua mãe, as brincadeiras com as outras crianças e a época em que fora feliz.
- Depois de eu ter… - ela reprimiu a fala sobre seu caso, mas como Lorde Arryn havia pedido, ela contou sobre o resto. - Revelei ao meu pai que estava grávida e ele me obrigou a tomar um chá estranho. Ele matou meu bebê e me fez sangrar até ele sair de mim. Eu também quase morri com isso.
Na sétima noite após o casamento, fizeram-se dois dias que havia se cessado uma chuva que tornou as estradas de terra em lama e as comitivas estavam aos poucos indo embora, incluindo parte da Grafton. Também foi o dia em que os medalhões ficaram prontos.
- Um presente, minha lady – sabia que já havia dado vários a ela, e ela não gostava de suas tentativas de amenizar sua condenação ao matrimônio. - Quero que use este.
Lysa pegou o cordão com um medalhão de prata. De um lado havia sido desenhada a truta da Casa Tully, e do outro o falcão da Casa Arryn.
- Por que usaria isso? - ela perguntou. - Tenho que deixar na cara que sou sua propriedade agora?
- Eu usarei um igual – ele mostrou um cordão idêntico e o pôs no pescoço, com o brasão Arryn na frente.
Ela ficou genuinamente surpresa.
- Nos votos de casamento, disse que você era minha, mas também disse que eu também era seu – Jon continuou.
- Mas, sua honra…
- Honra é diferente de orgulho – respondeu.
- Lorde Arryn! - o meistre do castelo apareceu na porta. - Chegou uma mensagem, e acabei lendo seu conteúdo. É urgente.
Era de Rickard Stark, Senhor de Winterfell. Ele dizia que Lyanna Stark havia desaparecido após o Torneio de Harrenhal e a suspeita caía sobre Príncipe Rhaegar. Ele pedia o apoio da Casa Arryn para acompanhar o grupo de Brandon até Porto Real e confrontar o Rei Aerys II sobre o desaparecimento da garota. Espere um pouco, pensou Jon Arryn. Rhaegar não é amigo próximo do meu primo distante, Jon Connington? Ele é um jovem treinado na técnica Hamon, assim como eu fui. Ele também me disse que caso houvesse um problema no reino e ele não estivesse por perto, eu devia resolver. Decidiu que ele mesmo iria, e de imediato. Ainda com o medalhão, pôs uma roupa simples de viagem e por cima um gibão azul-claro e branco da Casa, no qual colocou um broche do falcão de sua Casa. Pediu ao seu escudeiro que pusesse sua armadura na carruagem e mandou os cavaleiros se prepararem para uma partida no portão principal.
- Será o Protetor do Vale enquanto estiver fora – disse ao seu sobrinho Elbert. - Se algo acontecer comigo, apenas faça o que eu faria.
Despediu-se de sua esposa, que não expressou nada com sua súbita partida. Antes de ir, foi à tenda da Casa Grafton, a última do casamento ainda no Ninho da Águia. O homem loiro barbado que havia o observado no dia do matrimônio que veio atendê-lo, porém agora usava roupas negras e um capuz.
- Lorde Marq teve que retornar à Vila Gaivota – disse o homem, servindo um copo de vinho para ambos. - Mas o assunto não era exatamente com ele, e sim comigo.
- E quem exatamente seria você? - perguntou Jon.
- Eu cuido das importações no porto da cidade, mas eu me veria mais como um amigo em comum entre a Casa e a Coroa – ele bebeu o líquido de seu copo. - O Rei gosta de me chamar de O Alquimista.
Com essas roupas, ele deve ser da Guilda, então deve saber muito sobre poções, inclusive antídotos… Lorde Arryn estava para devolver o copo calmamente para a mesa e terminar aquela conversa de forma discreta, mas o Alquimista segurou seu braço e tentou forçá-lo a tomar.
- Você vai me agradecer por isso, velho – disse ele.
Jon sacou sua espada e a girou ao pescoço do Alquimista.
- Fieri enim – recitou e parou a espada com a outra mão, que emitia um brilho verde.
A espada de aço de Jon Arryn havia se dobrado de modo que faltou um dedo para encostar no invasor. O choque o fez perder o controle e caiu no chão junto a taça.
- Guardas! - gritou, mas logo foi calado com o jarro sendo posto em sua boca.
- Pelo que parece você também duvidava do poder dos alquimistas de Westeros – disse ele com um sorriso. - Contenha suas emoções. Algo ainda mais inacreditável está para acontecer com você.
Os guardas Grafton à porta não atenderam o chamado, mas os Arryn ouviram de longe, e após minutos de uma discussão e ameaças, entraram à força.
- Guardas, o homem loiro perneta! - chamou Jon Arryn. - Não deixem que ele escape!
Mas ele não estava mais na sala, e uma de suas muletas de ferro haviam sumido. O capitão de guardas Spikius entrou na frente e observou o interior da pequena tenda.
- Onde está Lorde Arryn? - ele perguntou.
- Como assim onde está Lorde Arryn? - ele questionou, se levantando e apontando para si. - Eu sou Lorde Arryn!
- Hã… não – ele discordou. - Quem é você?
Gesticulou a mão para frente para dizer algo e viu que ela estava menos enrugada, assim como a outra. Então percebeu que sua voz tinha estranhamente ficado mais jovem quando falou com os guardas. Correu ao espelho que havia na tenda e se assustou com a imagem no espelho: Estava idêntico a como era quando tinha trinta anos, cabelo loiro, barba raspada, todos os dentes, mas com um corpo muito mais atlético do que já teve.
- Esse homem está usando as roupas de Lorde Jon? - perguntou um dos guardas.
- Peguem ele! - ordenou Spikius.
Jon fugiu dali o mais rápido que pode. No caminho, teve que derrubar alguns de seus próprios guardas e se sentiu mal por isso. Assim que saiu de Ninho da Águia, percebeu que não teria como voltar à sua vida a não ser que voltasse ao normal. Então resolveu ir atrás do maldito Alquimista.
Há cinquenta anos, ele havia treinado a técnica Hamon com sua mãe, Delylah Connington Arryn. Nunca houve uma mestra melhor que ela, e seu treinamento havia sido bem usado dias após a fuga de Jon, quando ele chegou em Vila Gaivota. Foi difícil alcançar Marq Grafton na estrada, já que ele havia tido dois dias de vantagem, então teve que entrar em seu castelo.
- E-Eu só estava seguindo ordens da coroa – ele disse enquanto Jon o segurava pelo pescoço. - Eu juro!
- Oh my Gods! – exclamou Jon. - Então tem dedo do Rei Louco nisso.
Cerrou o punho e o fitou nos olhos.
- Me diga, Grafton. Você sabia que seu Alquimista faria isso comigo? - fechou ainda mais o rosto. - Que me deixaria irreconhecível e me faria perder o controle de minha Casa?
- N-Não, S-Senhor Jon, eu não sabia de nada!
- Mas você acabou de dizer meu nome sendo que nem me apresentei ou disse o que havia acontecido! - Jon o estrangulou. - Desgraçado!
- Então você realmente é ele! - disse uma voz atrás de si.
Era um homem de cabelo castanho que ia quase até o pescoço e com um morcego desenhado no peitoral da malha. Se vestia de branco, traje que incluía ombreiras e uma capa, mas o resto da armadura estava danificada e alguns pedaços faltavam.
- Um guarda real – disse Jon Arryn. - Quem é você?
- Ei, acalme-se, Lorde Arryn! Estou do seu lado! - fez uma reverência. - Permita-me me apresentar. Sou Oswell Whent, mas pode me chamar de Speedhorse.
- Hmmm… Speedhorse? - a memória de Jon se acendeu. - Ah sim, Jon Connington me contou sobre você. Como veio parar aqui?
Escutaram um barulho e, rapidamente, os dois fugiram do castelo para não serem pegos pelos guardas que estavam vindo ao quarto do Senhor. Como Jon Connington havia permitido, Speedhorse o contou sobre a morte de Armond Connington e Rhaegar Targaryen, sobre o qual também falou uma história resumida dos poderes que havia ganhado, o desaparecimento de Gerold Hightower, e que Connington estava num navio a caminho de Volantis com Lyanna Stark.
- Então eu fui falar ao Rei Aerys sobre o que havia acontecido, aquele lance lá de tacar a culpa nos Blackfyre – ele explicou. - Só que aí eu cheguei lá e o Rei não quis saber, falou que o Rhaegar era mais inútil que mamilos em cota de placa de peito e me mandou voltar pro serviço. Mas tinha algo errado, eu, que morei muito tempo no castelo de Harrenhal e vi traíras como Rhaegar podia sentir isso! Rei Aerys estava cercado de pessoas da Guilda dos Alquimistas, alguns deles musculosos demais! Eu aproveitei o foco do pessoal na execução e vazei de Porto Real o quanto antes.
- Espere, que execução?
- Ah é, eles queimaram vivo o Arthur Dayne em praça pública, junto com a Mariye, uma bastarda de um castelo de uma Casa das Terras da Tempestade que a gente tinha ficado.
- Arthur Dayne está morto?!
- Sim – confirmou. - A Mariye também, não sei se ouviu essa parte. Bem, aí eu ia falar com o Senhor, como o Connington havia me indicado caso as coisas desse errado, cheguei ao Ninho da Águia alguns dias depois do seu casamento, usei meu traje de Guarda Real pra entrar e falar com o Senhor.
“O regente está viajando, e Jon Arryn está desaparecido” disse um dos guardas. “Pode falar com o Denys Arryn se quiser, ele é o regente do regente”.
“Fazem alguma ideia de onde Lorde Jon pode ter ido?” perguntou Speedhorse.
“Provavelmente comprar presente pra pegar a Lysa” disse o outro guarda. “Revoada demais”.
- Eu fiz uma busca no último lugar que o tinham visto entrar e vi um copo de bebida derramado no chão. Farejei e não senti nada, então bebi um gole e, de repente, algumas de minhas rugas haviam sumido e fiquei um pouco mais forte – bateu o punho na palma da mão. - Só podia ser obra de um bruxo ou um alquimista poderoso! Ouvi o relato dos guardas sobre o que havia acontecido naquela noite, formulei uma teoria, fui direto à Casa aliada ao Alquimista e então o encontrei!
Speedhorse havia concluído seu falatório e Jon de estrangular o vassalo traidor. Aerys está usando a Guilda dos Alquimistas, que tem poder real, para alguma coisa. E seja lá o que for isso, teve que me envolver me dando aquela poção pra me deixar mais jovem e mais forte. Mas por quê? Droga, onde está você, Jon velho e sábio?! Sempre o disseram que com a idade vinha a sabedoria, mas nunca tinha achado que isso seria tão literal.
Havia conseguido tirar de Marq que o Alquimista havia ido para um ramo da guilda na Cidade Livre de Pentos. Pegou o ouro do Senhor para pagar a passagem de navio e as despesas que teria no caminho. O honrado Lorde Arryn jamais concordaria com o roubo, mas o Jon jovem e desesperado para salvar sua Casa, os Stark e possivelmente os Baratheon, não teve escolha.
- Vamos precisar de aliados para derrotar a Guilda dos Alquimistas – disse Speedhorse. - Na cidade vamos encontrar um Redwyne.
- Redwyne como o mestre do Connington? - perguntou Jon Arryn.
- Exatamente.
A viagem não foi muito demorada, mas só foram chegar após ano novo, 282 após a conquista de Aegon. Logo será o aniversário de Lysa, pensou.
A última vez em que viera a Essos fora há pouco mais de quarenta anos, para a cidade de Volantis. Havia vindo com seus pais. Em uma das noites da viagem, Lorde Jasper saiu pelas ruas da cidade com Delylah, quando foram atacados por salteadores, que levaram a mulher. Dias se passaram e Jon teve que retornar a Westeros para ser o Senhor da Casa, enquanto seu pai continuou na cidade junto aos Triarcas de Volantis, numa incessante busca por sua amada, até que voltou após meses, sozinho e com uma tristeza inconsolável, que durou até sua morte anos depois.
Pentos era muito diferente de Volantis. A escravidão era proibida por lei, mas existiam escravos, porém, a maioria fazia trabalhos domésticos. Além disso, era em quantidade menor comparado à outra cidade e punições públicas eram menos frequentes, o que atraía turistas.
- O local de treinamento do Redwyne é por aqui – disse Speedhorse, enquanto andavam pela cidade. - Acho que devo ir falar com ele sozinho, depois eu te chamo.
- Tive outra ideia. Eu tenho o endereço da Guilda dos Alquimistas, porém preciso saber mais sobre o que fazem nessa cidade para não ser pego desprevenido – disse Jon.
- E onde pretende obter informações?
- Aquilo é um restaurante caro?
Speedhorse suspirou.
- Vai almoçar sem mim, é? - fez beiço. - Tá bom, apenas não se perca, JonJon.
Ele acabou de me chamar de JonJon? Eu nem tenho esse apelido. Quer dizer, acho que me lembro de alguém ter me chamado assim antes, mas foi há muito tempo.
“Mãe, meu braço...” dizia uma memória de mais de cinquenta anos. “Um menino dos Royce quebrou ele.”
“Oh, JonJon, deixe-me ver” ela limpou o sangue e a sujeira que havia saído, e então amarrou uma faixa para servir de apoio. “Vai melhorar. Só tome cuidado pra não se meter em confusões”.
“Devo falar sobre isso ao pai?”
“Nada disso. Se seu pai souber, ele vai brigar com Lorde Royce, que vai falar pra todo mundo que o herdeiro da Casa é um fraco que não aguenta uma briga” Delylah segurou sua mão não machucada. “Você ainda é pequeno. Um dia, vou te ensinar a lutar e você vai se tornar o maior guerreiro do Vale. Aí vai poder dar na cara desse moleque!”
A rapidez dos movimentos, o ânimo e o vigor de quando era jovem haviam voltado a si agora. Infelizmente, a energia nova em seu corpo muitas vezes falava por si só e não conseguia se comportar direito.
- Mas que merda é essa?! - raivoso, puxou o garçom pelo colarinho. - Estão me servindo tripas de porco?! Que tipo de restaurante é esse que quer me vender restos?!
Sentado numa mesa próxima e acompanhado de uma dama, um homem de cabelo claro fez “tsc” vendo a situação.
- I-Isso n-na verdade é m-macarrão pentoshi, s-senhor – disse o jovem garçom, suando frio. - É um tipo de massa mais grossa que as de Westeros, e como a cobrimos com nosso molho vermelho o senhor pode ter essa impressão.
- Macarrão pentoshi, é? - soltou o garçom e levou uma garfada à boca. - Yes! É realmente bom!
Passou a comer tudo de uma vez enquanto o garçom suspirou aliviado e foi embora. O homem mulato de cabelo prateado voltou à sua conversa com sua acompanhante.
- O nível desse Palácio-Hotel-Restaurante deve ter baixado, já que agora deixam animais comerem aqui, gevie riña – disse ele, e Jon reconheceu que havia dito algo em Alto Valiriano e passou a ficar atento à conversa. O homem de pele castanha, que estava no auge de seus trinta anos e se vestia como um dos príncipes mercadores, embora não parecesse um deles, mostrou uma corrente de ouro. - É para você. Eu amaria que, com isso, se lembrasse de mim toda vez em que for dormir.
- Oh, que lindo – ela disse, mas o olhou com desconfiança. - Espere um pouco, você não pegou isso de um de seus espólios, não é?
- Nada disso, minha querida, eu comprei pra você – tossiu. - Com o dinheiro dos espólios.
- Ah sim, é que havia me dito que era mercenário.
- Eu disse, é? - riu. - Eu me vejo mais como um Administrador de um grande e lucrativo negócio.
- Oh no! - gritou Jon Arryn, indignado. - Que esnobe! Como ele pode dizer algo assim com um rosto tão sério e confiante? Está me dando nojo.
O homem olhou com o canto de olho para Jon e deu um riso curto demonstrando desprezo, voltando-se rapidamente à mulher.
- Agora que dei algo simbólico para enaltecer nosso amor, vamos selá-lo com um beijo.
Mas que exibido! Ele está fazendo isso pra me provocar! Vou acabar com isso com minha técnica Hamon. Pegou três fios de macarrão e usou seu poder para deixá-los duros. Esse molho vermelho vai acabar com essa cara limpa dele! Quero ver como ele vai fazer depois disso! Lançou o macarrão pentoshi na direção do homem distraído, porém eles foram parados pela mesma força ao chegarem no garfo dele. O quê?! Em seguida o sujeito girou o garfo e lançou de volta o macarrão, acertando o copo de vinho de Jon Arryn e fazendo o líquido se espalhar como uma chuva de sangue. Ele usou Hamon?!
O garçom veio ao encontro do mulato.
- Com licença, chegou um tal de Speedhorse para ver o senhor, senhor Ben Redwyne.
- Muña yno - Ben soltou. Aquilo era uma expressão valiriana que ele havia ouvido do povo de Essos, significava algo como “Mãe minha”. - Já irei.
- Espera um pouco, Redwyne?! - disse Jon. - O guerreiro que cruzamos o Mar Estreito para vermos é esse mercenário esnobe?!
Terminou de comer e voltou correndo para Oswell Whent.
- Olá, gevie riña, você é muito bonita, seu corpo parece o de uma escultura valiriana. Sabia que sou pintor em horas vagas? Posso fazer uma representação artística nua de você quando quiser.
- Não daria tanto crédito ao trabalho dele se fosse você, milady – disse JonJon, em contrapartida. - A única tinta que esse mercenário usa é vermelho-sangue!
Sentado entre os dois no chafariz da praça, Speedhorse tentava uma conciliação. Ben Redwyne, entretanto, não deu trégua:
- Sor Oswell, você chega aqui, anos depois da morte de meu pai, me falando que esse sujeito é o sucessor do homem que não foi competente o suficiente para impedir sua morte, e ainda quer que seja razoável?
- Eu não tive nada a ver com isso, trate do assunto com Jon Connington quando ele voltar de Volantis – respondeu Jon Arryn. - E tem certeza de que esse homem é um Redwyne, Speedhorse? Já conheci a família de Paxter Redwyne, e tenho que dizer, não se parecem nada com ele.
- Está falando da minha pele escura? - Ben mostrou o braço coberto por sua pele cor castanha. - Eles me chamam de “mulato” por algum motivo. Minha avó paterna era do Sothoryos. Mas às vezes eu costumo usar o sobrenome que ela adotou quando veio a Westeros, Plumm.
- Não foi só disso que eu quis apontar – JonJon manteve o tom de suspeita no rosto. - O que há com esse seu cabelo branco e suas frases em Alto Valiriano?
- Ah – Ben entendeu e apontou para os olhos púrpura. - É que minha mãe era Blackfyre – disse casualmente.
Ele disse Blackfyre? O Dragão Negro, traidor da coroa, conta o qual lutamos bravamente por décadas? A mão da honra chega a tremer… Não resistiu e sacou a espada roubada de Lorde Grafton.
- Desgraçado! - Arryn a encostou em seu pescoço. - Como pode se dizer algo assim com tanta indiferença?! Sabe quantas guerras nós tivemos?!
- Parece que não usa sua técnica Hamon quando é necessária – disse Ben, terminando o ciclo de respiração e concentrando a energia na mão para explodir a espada. - E só vocês westerosi ligam para isso de sobrenome, aqui em Essos quem quer saber de qual Casa você é e quanto ela vale é o pessoal dos bancos. E a maioria das pessoas de seu país aqui são lordes endividados – coçou a cabeça e Jon se soltou. - Ou viajantes. Tomei umas com um Martell semana passada, ele parecia ser interessante, porém se importava demais com a procedência do vinho para meu gosto – olhou de relance ao Jon. - Mas era um sujeito decente, comparado a outros westerosis.
- Está fazendo menos de mim do que Oberyn Martell, a víbora exilada? - Jon Arryn cerrou os punhos.
- Estou. Oberyn ao menos me dava certeza de quem ele era, e você? - olhou para Oswell. - Não fosse Speedhorse, que conheço e confio na palavra dele, estar aqui para contar sua história, eu teria lhe dado como um impostor. Não só por sua aparência jovem, mas pela forma que age. Estive no Vale há muito tempo e soube do Senhor de lá: Um homem sério, firme e honrado. Nem um pouco impulsivo ou mal-educado. Tem certeza de que ele continua aí?
JonJon franziu o rosto, inclinou o corpo para a esquerda, fitou Ben e cobriu o rosto abaixo do nariz com a palma aberta da mão esquerda. Esse era a sua posição de ataque, que havia aderido há mais de quarenta anos.
- Que merda você disse da minha honra?
To be continued
[INTERVALO COM O LOGO DE JONJON'S BIZARRE ADVENTURE AQUI]
Semanas antes, em Porto Real, uma legião de estandartes roxos e brancos estava às portas.
- A situação está complicada, Vossa Graça. Há lá fora um monte de dorneses zangados.
- Queimem todos.
- Mas – disse Jaime.
- QUEIMEM TODOS! - gritou Aerys.
- Sério, tem mais alguém ouvindo isso? - perguntou Jaime.
- Estamos todos ouvindo, Jaime – disse Barristan.
- Alguém não tá pensando em fazer algo a respeito disso? - olhou para os outros guardas. - Tipo, a gente vai deixar mesmo o Rei fazer isso aí?
- Ué, virou rebelde o menino Lannister – disse Jonothor Darry, guarda real. - Tá contrariando ordens já.
- Entrou pra guarda não tem nem dois anos e já quer sentar na janela da carruagem – disse Lewyn Martell, guarda real. - Dá a coroa pra ele logo, ele acha que sabe de tudo.
- Não sabe obedecer – apontou Barristan. - Essa juventude tá assim mesmo.
- Mas se vocês pensarem pelo menos um pouco... – disse Jaime.
- Nunca capinou cedo pra acordar um lote e fica nessa – disse Lewyn.
- No dia que você trabalhar e… - disse Jonothor.
- Ninguém tá entendendo o que ele tá querendo fazer? - perguntou Jaime.
- COMO ASSIM NINGUÉM ENTENDEU? EU DISSE PRA QUEIMAR TODOS! QUAL PARTE DO QUEIMAR TODOS VOCÊS NÃO ENTENDERAM? ENTENDAM QUE QUERO QUE QUEIMEM TODOS OU IREI QUEIMAR VOCÊS TODOS!
- Vossa Graça – chamou o Grão-Mestre Rossart, da Guilda dos Alquimistas, um homem ruivo de feições amargas. - Acho que temos uma solução.
A comitiva da Casa Dayne foi convidada a entrar na Fortaleza de Maegor. Lorde Dayne e sua irmã mais nova, Allyria, vinham de armadura. Foi ordenada a saída dos conselheiros, exceto Rossart, e de alguns soldados, ficando na sala apenas o mestre alquimista, os irmãos, Aerys, Jaime e Lewyn. O Rei, assim que havia sido chamado pelo Grão-Mestre, havia tomado um gole de um frasco verde-escuro.
- Rei Aerys II Targaryen, Vossa Graça tem o nosso irmão, Sor Arthur, em suas celas negras e disse que ele seria executado – disse Lorde Dayne. - Nós viemos até aqui pedindo sua liberdade.
- Sim, o Arthur – disse Rossart, um homem com a forma física de um touro, fazendo as introduções enquanto o rei esquelético estava ocupado limpando o sangue de quando se cortou numa das espadas do trono, minutos atrás. - Ele ficou encarregado da segurança do herdeiro do trono, porém, no meio da viagem ele abandonou o grupo para ficar com uma mulher estranha. Nós encontramos ambos, porém não dizem nada sobre o paradeiro do Príncipe e o mesmo se encontra desaparecido, junto a Jon Connington e dois guardas reais. Recebemos a notícia recente de Lyanna Stark também está desaparecida e a suspeita é de que esteja com Rhaegar, mas não podemos confirmar isso, pois Arthur também não tem informações sobre ela.
- Se os Stark descerem aqui, vão sair desse castelo num cinzeiro – sussurrou Aerys.
- Vossa Graça, meu irmão Arthur é um bom homem e um bom cavaleiro – disse Allyria, a irmã mais jovem, em um tom afetivo quase angelical. - Ele sempre foi um membro leal de sua guarda, tenho certeza de que ele nunca faria algo contra o senhor, e o que quer que tenha acontecido não deve ser culpa dele. Peço que, se não puder mandá-lo de volta a Tombastela, ao menos o deixe servir o resto da vida na Patrulha da Noite.
- Para que me serviria mandar o dornês pra virar gelo?! - gritou Aerys. - Prefiro que vire fogo!
Lorde Dayne ergueu uma sobrancelha.
- Espere, pretende queimá-lo vivo?
- Finalmente, alguém entendeu! - disse Jaime.
- E a puta dele também – disse Aerys.
- Rei Aerys, isto é loucura! - Lorde Dayne e Allyria brandiram as espadas, e em resposta Jaime e Lewyn também sacaram as suas. - Nós não aceitaremos isso! Exigimos a liberdade de Arthur!
- Está em posição de exigir algo para um Rei? - perguntou Aerys. - O que uma Casa média como a Dayne pode fazer?
- Bom o senhor ter mencionado, pois já falaria do assunto – disse Lorde Dayne. - Nós fechamos a estrada que liga Dorne à Campina e estamos confiscando toda a mercadoria que vem ou vai de lá, isso inclui suprimentos para algumas Casas. Também temos nossos próprios vassalos e o apoio de outros de Dorne, somando doze mil espadas.
- A Casa Martell sozinha pode desbancar esse número – disse Lewyn.
- Nós não precisamos da Princesa de Dorne – ele respondeu. - Temos outros aliados. Nós estamos dispostos a evitar o massacre de milhares de soldados de ambos os lados, tudo o que precisa fazer é libertar Sor Arthur.
Rei Aerys pareceu pensativo por um momento, examinando as palavras ditas pelos Dayne, os rostos tensos de Jaime e Lewyn e o rosto confiante de Rossart. Então cansou-se daquilo e mandou levar ambos a uma câmara de queima que tinha no subterrâneo da Fortaleza. Deixou-os amarrados e dispensou os guardas, ficando na pequena sala com o Grão-Mestre, a quem mandou trazer mais dois convidados que estavam por perto. Allyria chorava, enquanto seu irmão dizia aos gritos:
- Rei Louco, você não vai sair dessa impune! Nos matando agora, só aumentará a ira de Dorne! - caído no chão, ele levantava os olhos para ter uma visão de cabeça para baixo de Aerys. - Enquanto a Casa Dayne viver, não ficará livre de nossa vingança.
- Daor nak to – Aerys disse “Mas que inútil” em Alto Valiriano. - Matarei você e sua irmãzinha agora, o guarda dopado semana que vem e depois vou atrás da mais velha, que deve estar no castelinho de vocês.
- Boa sorte com isso! – disse Lorde Dayne. - Nós só viramos vassalos dos Martell por um acordo de mútuo benefício. Tombastela nunca foi tomada! Ela está num monte alto e antes de vir para cá, reforcei as defesas e enchi o castelo de suprimentos. A única forma de você tomá-lo seria usando dragões, coisa que você não tem.
- É mesmo? - Rei Aerys terminou de tomar o seu frasco. Estendeu sua mão que, de repente, se transformou numa garra escamosa. - E se estiver errado sobre isso?
Ambos ficaram chocados.
- C-Como isso é possível?! - disse Allyria. - Se esse é o poder que você tem, então...
- Não interessa – disse Lorde Dayne. - Mesmo que mate Ashara, não conseguirá ter o controle da região. Nossa Casa está lá há séculos, apenas um Dayne será aceito pelos outros senhores.
Aerys mandou chamar os dois que estavam lá fora. Uma mulher de olhos claros, loira e gos-, quer dizer, falando em termos eufemistas geralmente usados nessa história mas querendo dizer exatamente a palavra de antes porém de um jeito mais bonito, uma mulher de olhos claros, loira e voluptuosa entrou na sala junto a um garoto de dez anos, de cabelos prateadas com uma mecha preta e uma espada na mão.
- Meu filho Rhaegar é um fascinado por uma máscara de aço valiriano, ou valyrio korzo gelte. Meu tio George havia trago uma de Valíria e ela acabou sendo perdida na tragédia em Solarestival – disse o Rei. - O que nunca contei a ele é que George não foi o primeiro a trazer tal máscara para Westeros. Corvo de Sangue amava sua mulher e queria que vivessem para sempre com sua aparência jovem e bela. Porém, depois que pôs a máscara nela e a transformou em vampira, ela fugiu com a mesma sem o transformar também. Apresento a vocês minha amante, Shiera Seastar, e nosso filho, Gerold.
- Shiera Seastar?! Mas ela parece tão jovem – disse Allyria. - Se é realmente ela, devia estar apodrecendo de velha.
- Você realmente não sabe o que é uma máscara de aço valiriano, não é? Ah, esses plebeus westerosis – Shiera suspirou. - Os poderes que recebi dela me conservaram. Vivi por cento e dois anos esperando aparecer alguém diferente do pau-mandado de Brynden Rivers, alguém de grandes ambições, digno de meu amor eterno. E esse alguém me encontrou.
O garoto brincava com a espada e a deixou cair próxima ao Lorde Dayne.
- Essa é a Alvorada, de meu irmão? - perguntou o Senhor.
- Assinarei um decreto declarando que Gerold é um Dayne, um primo distante que vai herdar a Casa após a morte dos traidores. Considerem ele zobrie otor, a ovelha negra da família – Aerys sorriu. - Ou no caso de vocês, Zobrie Qelos, Estrela Negra.
Agora era o Lorde que estava em choque. Furiosa, a irmã interveio.
- Você pagará por isso – disse Allyria.
- Estou farto de tanta blasfêmia – disse Aerys. - Zalagon ajomemeys!
Shiera e Gerold se retiraram. Rossart entendeu que era para queimar os irmãos com fogovivo e assim o fez, atirando uma tocha em seus corpos já cobertos do líquido. Enquanto o Grão-Mestre se afastava, Aerys se aproximou das chamas. Seu rosto tomou proporções ainda mais pálidas e sua língua estendeu-se fina como a de uma cobra. Ouvindo os irmãos darem gritos agonizantes no fogo, ele inspirou profundamente, expirando da mesma forma, e então inspirou fortemente, puxando para dentro de si as cinzas dos seus corpos se desfazendo junto ao fogovivo, fortalecendo seu corpo, que por alguns segundos aparentou ser escamoso e de cor vermelha. Segundos depois, não havia um rastro dos Dayne.
- Então, Rossart, parece que sua poção de Draconismo funciona – disse Aerys, já em sua forma normal. - Quando iremos encontrar aquele seu aprendiz e conseguir meu novo corpo?
- Em algumas semanas ele estará em nossa outra sede, em Pentos. Acredito que lá ele terá concluído a fusão da poção de Juventude com a de Força, que testou nos meus outros alquimistas e no velho Lorde Arryn, em quem tentou a poção fundida. Nós estamos estudando uma maneira precisa de fazer ambas há décadas, Vossa Graça, e pela graça que deu a nossa Guilda, temos orgulho de dar as três poções ao Senhor e ajudar a torná-lo no Ser Perfeito.
- Certo, até lá provavelmente receberei alguns Stark, que virão perguntar sobre sua querida Lyanna e o imprestável do Rhaegar – riu. - E junto a esses soldados Dayne, logo terei alimento o suficiente para me tornar o ser perfeito que estou destinado a ser.
Voltando a tempo presente, em Pentos.
- Essa deve ter sido a luta mais ridícula que já vi – disse Speedhorse.
JonJon e Ben estavam caídos após terem se ferido de diferentes formas com Hamon. Jon Arryn argumentou que isso havia servido para diminuir o atrito entre os dois, e logo puderam conversar normalmente. Ben disse que honraria o compromisso de seu pai com o antecessor de JonJon e o ajudaria a ir atrás do tal Alquimista. Porém, parecia ter outro motivo para querer fazer isso. O sol se pôs e esperaram no local de treinamento do Renegados de Essos, grupo mercenário de Ben, até um motorista chegar com uma carruagem. Era um jovem um pouco acima do peso, simpático, cabelo castanho um pouco longo, bigode e barba.
- Boa noite, pessoal! - ele os cumprimentou.
- Um de seus escravos? - perguntou Jon, enquanto entravam na carruagem. Ele foi atrás com Speedhorse.
- O quê?! Que absurdo pensar isso de mim, eu não tenho escravos! - disse Ben Mulato, indo ao lado do motorista. - Este é o Illyrio Mopatis, ele era um mercenário barato que não servia muito bem para a profissão, então dei um emprego novo a ele. Não é mesmo, Illyrio?
- Sim, sim! - ele concordou.
A carruagem passou a andar por Pentos, cruzando as ruas, passando por casas, bares, praças e ruas com vista para palácios à distância. Após ter passado aquele dia com Ben e ver como se referiam a ele, JonJon viu que, dentro de seu grupo mercenário, Ben preferia ser chamado pelo sobrenome falso de sua avó. Provavelmente não quer sujar o nome da Casa do pai. Isso me leva a crer que ele realmente se importava com Will, o mestre de Connington.
- Olhe pelo lado bom, JonJon – Ben disse na discussão que estavam tendo enquanto passavam pelas ruas da cidade. - Agora que está mais jovem, sua esposa vai te achar mais desejável.
- Se eu não recuperar meu corpo de velho, não terei como provar que sou quem eu sou – respondeu. - Mesmo com a palavra de um mercenário e de um guarda real desertor.
- Esse tal de Alquimista vai ter que dar um jeito de te trazer de volta ao normal – bateu o punho cerrado na palma da outra mão. - Senão, deixo você acabar com ele.
O motorista também resolveu conversar quando se encerrou o assunto:
- Senhor Plumm – disse Illyrio. - Estou pensando em parar de trabalhar como motorista. Como há muito eu disse que faria, vou passar a investir no ramo de queijos, o que agora vai ser possível com o dinheiro que ganhei trabalhando para o senhor.
- Não era isso mesmo que você queria? Parabéns! - Ben sorriu. - E falando em você, como anda aquela sua namoradinha, a Serra?
- Ah, sobre isso, convenci o pai dela a não vendê-la para comerciantes de escravas sexuais de Lys – Illyrio corou o rosto e disse entusiasmado. - Vamos nos casar mês que vem!
- É mesmo?! Muña yno! - bradou, abraçando o motorista e o fazendo perder controle das rédeas dos cavalos, o que quase resultou em vários acidentes na rua. No banco de trás, Speedhorse se segurava e JonJon teve vontade de gritar palavrões. - Lembra que fui eu que dei uma força com ela? Agora vai com tudo e me chama pra festa!
Chegaram ao estabelecimento. A Guilda dos Alquimistas em Pentos estava oficialmente desativada há anos e a entrada era proibida. Porém, como o Príncipe devia favores ao grupo de Ben, deixaram-no ocupar o lugar com seus Renegados de Essos a fim de investigações. O grupo de quatro homens entrou e foi descendo pelos vários andares até chegar ao mais profundo. Dos cinquenta do grupo de Ben, trinta haviam sido emprestados para a segurança de Pentos e os outros vinte ocupavam o prédio, mas não havia sinal deles até o momento.
- Senhor Plumm, esta é a última sala – disse Illyrio, na porta.
- Ei, espere um pouco – disse Speedhorse. - Você não acha estranho nenhum de seus mercenários ter aparecido até agora?
- Acha que aconteceu algo com eles? - Ben questionou. - Os alquimistas de Westeros devem ser mais fáceis de matar que ratazanas, e só um deles, o que enfrentou JonJon, se mostrou um perigo até agora.
- Eles estão diferentes agora – disse Speedhorse. - Enquanto estive em Porto Real, eu tinha visto uns muito fortes.
- Talvez fossem só seguranças disfarçados de alquimistas – respondeu Ben. - Meus homens devem estar vasculhando a sala adiante.
Ben foi o primeiro a entrar, acompanhado de Jon Arryn e Oswell Whent, seguidos por Illyrio. O lugar parecia abandonado, com teias de aranha e paredes à ruína, porém, as tochas das paredes estavam todas acesas. Andaram um pouco e o Plumm chocou-se ao ver os corpos de seus Renegados de Essos jazendo sem vida no chão da sala, num mar de sangue.
- Pelos deuses! - gritou Illyrio. - O que aconteceu aqui?!
- Quem quer que tenha feito isso provavelmente não pretendia ficar preso – respondeu Ben, e então chamou gritando. - Apareça!
Um vulto pulou na frente deles com uma besta larga e atirou outros quatro projéteis que, após acertarem a parede, passaram a pegar fogo. Ele fez um som de frustração, havia errado o alvo.
- É a porra do Alquimista – JonJon o reconheceu.
Jon correu em direção ao loiro perneta, que mirou o último projétil diretamente no líder mercenário.
- Senhor Plumm, cuidado! - o motorista o empurrou para tirá-lo do caminho do tiro.
A lâmina que o acertou não causou um efeito anormal, mas atravessou seu corpo, o fazendo sangrar pelo peito e pelas costas.
- Illyrio! - gritou Ben.
- Faceoff Overdrive! - gritou Jon Arryn, enquanto aplicava um dos seus golpes de Hamon no rosto do Alquimista.
Ele grunhiu de dor e segurava os braços de Jon, tentando afastá-los de si. Ele fez mal achando que teria tempo para atirar e fugir. Agora, sua cabeça vai derreter! Foi quando o corpo dele caiu no chão, deixando Jon segurando o rosto recortado de um homem de cabelo loiro trançado e barba rala. Mas… O quê? Como? Atrás, o Alquimista se levantava, com seu verdadeiro rosto: Um homem jovem de aparência bela, corpo forte e um cabelo estranho, sendo sua metade direita ruiva e a metade esquerda branca. Ele se afastou de JonJon e logo chegaram mais dois homens: Um alto, forte, ruivo e de feições amargas que também se vestia como alquimista, e um homem esquelético, com olheiras e unhas grandes. Espera um pouco, Rei Aerys?!
- Não nos disse que receberíamos mais visitas, Jaqen H'ghar – disse o rei.
- Desculpe, Vossa Graça – ele respondeu, se ajoelhando. - Não pensei que Ben Redwyne viria tão cedo.
- Um dos homens com ele é o Sor Oswell Whent, o guarda real desertor – examinou o ruivo. - O outro seria…
- O outro é Lorde Jon Arryn, Grão-Mestre Rossart – Jaqen apontou o tipo de vestimenta e as cores dela, usada pelo loiro encorpado. - Ele ficou assim após eu ter lhe dado a poção.
- Fascinante – disse Aerys, coçando a barba fina e prateada. - Analisando daqui, ele parece tão musculoso quanto como o Rossart ficou, após ter aplicado a poção de Força nele, dias atrás.
- Ele está tentando melhorar a poção que funde as duas de Arryn, a Suprema Vis – disse Rossart, em defesa do aluno. - A de força parece estar estável, mas a da juventude o deixou com o corpo de trinta anos.
- Então se essa redução de idade fosse aplicada em mim eu voltaria a ter cinco anos?! - gritou, tentando puxar o mestre alquimista pelo colarinho com suas mãos trêmulas. - Me toma por um velho nostálgico por sua infância?! Eu sou um Rei e devo estar em idade para governar como tal!
- Me desculpe, Vossa Graça – Rossart também se ajoelhou.
O que está acontecendo? JonJon se perguntou, assistindo à cena. A poção usada em mim foi um teste para usar no Rei Aerys, então? Speedhorse estava ao lado dele, igualmente curioso. E-Esse é o Grão-Mestre Rossart, da Guilda dos Alquimistas?! Pensou o guarda real. Ele era um homem baixinho e gordo da última vez que o vi!
- Se não tem mais nada para ver aqui, vamos indo – disse Aerys, caminhando em direção à porta. - Jaqen, leve os livros.
Os dois os olharam caminhando até a saída. Espere, eles vão nos ignorar e simplesmente ir embora? Pensou JonJon. Nesse momento, Ben deixou o corpo de Illyrio descansar e se levantou.
- Não pensem que sairão dessa com vida! - gritou Ben, pegando um cantil de vinho da Árvore que carregava na cintura, aplicando Hamon e jogando no ar. - Averilla daomio!
Dito o nome de seu golpe, uma chuva de vinho separada em quantidades para gole flutuou rapidamente até os homens. Rossart levou o dedo indicador até um deles, e como resultado, sofreu um corte profundo na pele. Cercado, o Grão-Mestre tirou um frasco do bolso, derramou o líquido verde nas mãos, esfregou-as e gritou:
- INCAENDIUM! - e numa rajada de fogovivo, o vinho se desfez e Ben foi um pouco acertado.
- Redwyne, cuidado! - exclamou JonJon, indo vê-lo com Speedhorse.
Ele estava com uma queimadura não muito grave, e mesmo com o rosto ardendo, se levantou novamente e encarou os três, que agora tinham sua atenção.
- Meu amigo acabou de ser morto por vocês, assim como dois quintos de minha companhia – com uma mão sobre o ferimento, usou a outra para apontar para os três. - Não vou recuar por causa de um pouco de queima!
Jaqen carregando os livros de alquimia, Rossart com os braços cruzados e Aerys com a mão alisando o rosto, os três riram do mercenário.
- Os usuários de Hamon sempre falam as mesmas palavras – disse Jaqen. - A ciência de nossos alquimistas supera seu estilo de luta há mais de mil anos, e ainda sim, pensam que podem nos derrotar se se esforçarem bastante.
- Isso está sendo um desperdício de meu valoroso tempo – resmungou Rei Aerys. - Vamos embora logo.
- Esperem um pouco! - gritou JonJon. - Não vão nem falar nada comigo? Onde está a honra de vocês?
Os três lhe deram atenção. Jon deu alguns passos à frente, sorridente e confiante. Isso, mais uma vez, era uma coisa nova para ele: Tomar riscos. O velho e pragmático Jon Arryn jamais faria tal coisa, ele ficaria calmo e sério e, dialogando, exigiria o que lhe era de direito. Mas agora ele não estava em condições de pedir nada.
- JonJon! - Speedhorse o chamou. - O que está tentando fazer?
- Vocês fizeram meu corpo ser como era quando jovem, o experimento de vocês deu certo, meus parabéns, senhor Jaqen H'ghar – Jon o estendeu sua mão, gesticulando um cumprimento. - Agora, teria como me trazer de volta ao normal?
- Não está satisfeito em voltar a ser jovem? - perguntou Rossart.
- Sim, quer dizer, é bom ter todos os meus dentes de volta, enxergar e ouvir direito e tudo mais, mas eu ainda sinto falta de algumas coisas – explicou. - Como a senhoria da minha Casa, que perdi por não convencer ninguém de que sou Jon Arryn, minha família, a esposa que acabei de conseguir e meu castelo.
- Ele só quer saber do que aconteceu com a vida dele – Ben pensou alto, ainda sentindo a adrenalina e a queima do embate. - Desgraçado, se importe um pouco com os outros!
- Ei, desperdiçador de vinho! - Jon o cortou. - Eu me importo com os outros, sim. Na verdade, tenho dois filhos de criação, Ned e Robert, e a Casa do primeiro estava precisando de ajuda na última vez que ouvi deles, e estava indo fazer isso até tomar o veneno desse alquimista.
Aerys não ligou para a situação e Jaqen ficou calado. Rossart voltou a falar:
- Lorde Arryn, sinto que, como o usamos como cobaia para testar a Suprema Vis, o mínimo que lhe devo é uma explicação. Eu mandei meu aprendiz usar sua poção no senhor pois era um velho, e simplesmente não está em nossos interesses trazê-lo de volta ao normal. Além disso, graças ao Príncipe Rhaegar, Westeros entrou em guerra e nos seria desvantajoso tê-lo de volta ao comando de sua Casa.
Jon ficou desconfiado.
- E o que a Casa Arryn tem a ver com uma guerra causada pelo príncipe?
Rossart e Jaqen se entreolharam, então olhou para Aerys e ele fez um sinal de que queria falar.
- Por que não falam? Não faz diferença esse ex-lorde saber, ele não pode fazer nada – disse Aerys. - Meu primogênito inútil sequestrou a noiva do Lorde Baratheon e filha do Stark. Depois disso, o Stark veio com o filho mais velho, o seu sobrinho Elbert e uma comitiva pra exigir a cabeça do Rhaegar. Queimei todos eles.
Jon correu em fúria na direção do rei. Elbert… Lembrou-se do sobrinho, um adulto feito e herdeiro orgulhoso da Casa. Não, não é possível, ele morreu na missão que eu devia ter ido. Veio em sua memória a imagem dele criança, quando o ensinou a usar uma espada pela primeira vez. Depois, o que ele disse após concluir ser ungido cavaleiro.
“Tio JonJon, como meu pai Ronnel morreu quando eu era bebê, sinto que o senhor é o que eu tenho mais perto de um pai. Farei seu esforço valer a pena, e um dia entrarei para a Guarda Real!”
Ele tinha um futuro pela frente, como o herdeiro de uma grande Casa, e estava disposto a abrir mão do mesmo para servir esse homem, que o matou.
- Desgraçado!
Os livros caíram empilhados no chão. Jaqen entrou na frente de seu rei, sacou as barras de ferro que sempre levava consigo na cintura e as cruzou.
- Inpulsa – recitou as palavras na Língua Antiga, e uma onda de energia parecendo pequenos raios passou a sair delas.
Ser acertado pelo metal deixou Jon um pouco atordoado e teve que recuar. Jaqen sussurrou outra coisa e o atacou com as barras, agora fazendo Jon sentir sua pele queimar a cada golpe. Merda, como eu luto contra isso? Usou do pouco que se lembrava de Hamon para lançar um golpe, gritando “Eyrie” e acertando o rosto de Jaqen H'ghar. O Alquimista reagiu lançando uma transmutação no chão, fazendo a parte do piso em que JonJon estava se elevar e lançá-lo ao teto. Depois, aplicou a mesma coisa na parede e o lançou à outra, onde também aplicou novamente. JonJon levantou-se para reagir mas foi facilmente nocauteado por uma das barras. Por fim o puxou pelo colarinho e transmutou uma barra para ficar afiada. Certo, ele está em total vantagem e eu tenho que sair dessa de qualquer modo possível. Velho Lorde Arryn, preciso de você.
- Espere um pouco, tem uma coisa que eu ainda quero saber – disse Jon. - Como você fez para mudar de aparência mais cedo?
Jaqen achou justo responder, e confirmou a suspeita de Arryn.
- Há um tempo eu fazia parte de um templo do Deus-de-muitas-faces – disse ele. - Lá aprendi muitas coisas, algumas das quais eu ainda faço uso.
- Então você fazia parte dos Homens sem Rosto? Eu já li sobre vocês enquanto estudava a história de Essos, quando era mais novo – disse Jon Arryn. - Como era o lema de vocês? Ah sim, “Todos os homens devem morrer”. Parece que você ainda o leva consigo e não tem misericórdia na hora de matar alguém, até mesmo um velho como eu.
Jaqen franziu o rosto.
- Do que está falando? Você não é um velho!
- Não sou, é? Tenho sessenta e três anos - deu um sorriso, agora sem buracos na boca. - Já perdi metade desses dentes, perdi o cabelo no topo da cabeça – a região agora estava cheia novamente. - Me casei três vezes, criei três garotos como meus filhos, presenciei três Rebeliões Blackfyre e os reinados de Aerys I, Maekar, Aegon V, Jaehaerys II…
Foi interrompido.
- Que seja, você não é mais um velho – Jaqen o corrigiu, frisando. - Você é um homem adulto, com um corpo jovem e muito capaz de se mover.
- Então é assim? Você me coloca num corpo jovem e, depois de um mês e meio, em que não tive treinamento algum e só fiquei viajando, você vem me dizer que eu sou o mesmo que você? - riu. - Sabe há quantas décadas não entro numa luta de verdade? Talvez até pudesse ter alguma chance contra você, se estivesse em meu auge.
- O que está dizendo, JonJon?
- Eu, um senhor de idade, consegui te acertar no rosto. Acho que com um ano de treinamento eu conseguiria te derrotar – sorriu. - Ou então, você me derrotaria mesmo após eu ter passado esse tempo todo treinando, provando que pode derrotar até mesmo um forte usuário de Hamon em seu máximo vigor – recuou os braços, expondo o peito. - Mas esqueça, mate-me e mantenha sua honra com o juramento que fez aos Homens sem Rosto. Valar Morghulis.
O episódio que havia feito Jaqen H'ghar deixar a organização agora voltava à sua cabeça.
“Quem veio ao meu chamado?”
“Ninguém.”
“Um homem pagou o preço, e agora outro precisa morrer” tinha lhe dito seu mestre, o a quem chamavam Homem Amável. “Seu nome passará a ser Ponko Ni-Hon, um mercador de tecidos de Yi Ti, e fará entregas diárias na loja de aviamentos de um homem chamado Nerhai.”
“O comerciante é o alvo?” quis logo saber. “Talvez algum de seus vizinhos?”
“Nerhai tem uma filha chamada Suzi, ela ajuda a limpar o chão e brinca com suas bonecas num canto da loja” mostrou-lhe um frasco já conhecido. “Quando ninguém estiver olhando, misture isso na água dela.”
“O quê?! Você quer que eu mate uma criança?!” Jaqen tirou o recipiente das mãos dele, deixando o chão com cacos de vidro e uma poção mortífera desperdiçada. “Eu não concordei com isso quando entrei aqui!”
“O preço já foi pago ao Deus-de-muitas-faces, e cabe a ele decidir a hora de cada um” respondeu o Homem Amável. “Valar Morghulis.”
- Você quer que eu faça algo pela honra daquele clã de lunáticos?! - esbravejou e o soltou no chão.
- Ei, Jaqen – Rossart se aproximou, curioso. - O que está acontecendo?
- Mestre – Jaqen o chamou. - Estou pensando em deixar Jon Arryn vivo. É contra meus princípios matar alguém indefeso, deixarei-o se acostumar com esse corpo por um ano, tempo o suficiente para que ele se torne um oponente capaz, então aceitarei a luta.
- Certo, de qualquer forma, sua arte marcial não supera o poder dos alquimistas – olhou para o Rei. - Vossa Graça.
- Façam o que quiserem – Aerys estava alheio à situação, visando a saída, o caminho para seu destino. - Meu único interesse é me fortalecer e obter a valyrio mele doron. Não se esqueçam disso.
Mais palavras em valiriano, pensou JonJon. O que é isso, agora?
- Tenho que ter uma garantia de que ele não fuja – Jaqen olhou para o pescoço de Jon, onde estava seu medalhão, virado, mostrando a truta da Casa Tully. Arrancou o acessório e tirou um pequeno frasco da bolsa que trazia, o qual derramou na boca do rendido. - JonJon, para ter certeza de que vai honrar seu compromisso, tive que te envenenar.
- O quê?! - Jon se surpreendeu. - Mas e aquele seu papo de não matar alguém indefeso?!
- O veneno que coloquei em você chama-se Morte de Meereen, ele ficará em seu corpo por um ano sem fazer efeito, até que, um ano após hoje, ele agirá e o fará definhar até a morte – com a transmutação metálica, deixou o medalhão oco, e fez um buraco nele para despejar um líquído transparente. - O antídoto ficará comigo neste seu cordão. Assim que me derrotar, poderá bebê-lo e impedir sua morte.
- Quero ver fugir agora – riu Rossart.
Os três foram embora com as coisas que precisavam, deixando Arryn machucado no chão. Speedhorse correu até ele, acompanhado de Ben Mulato Plumm.
- JonJon, me desculpe por ter duvidado de você. Sua coragem e honra são admiráveis até mesmo por um mercenário como eu, e prometo que te ajudarei a tomar aquele antídoto e voltar para sua família – disse Ben, enquanto o ajudava a se levantar. - Está na hora de te apresentar para minha mestra.
358 dias até a intoxicação
Plumm havia decidido deixar um subordinado no comando quando foram embora da cidade. Speedhorse se separou deles, dizendo que ia à Volantis para procurar por Jon Connington. JonJon e Ben caminhavam pelas ruas da cidade, passando ao lado dos canais e dos costumes exóticos da população.
- Braavos, a cidade com um banco que manda nas Casas de Westeros, canais de água passando no meio da cidade como ruas, monumentos estranhos incluindo um titã gigante na entrada, portos barulhentos, gente bizarra, prostitutas anômalas, frases estranhas em Alto Valiriano e uma religião de homicidas agindo livremente pela cidade, que te dá a sensação de que a qualquer momento alguém pode te matar e roubar seu rosto – JonJon suspirou. - Claro, teria alguma outra das nove cidades livres em que uma mestra de Hamon poderia ter sua academia?
- Ei, também não fui eu que escolhi. Por mim, faria em Lys. Já soube como são as mulheres de lá? - disse Ben. - Mas nesses lugares não tem muita gente querendo aprender a nossa técnica de luta, sem falar que a maioria dos habitantes são escravos. E Braavos não é tão diferente de Pentos depois que você se acostuma.
Estavam andando por um dos portos na região oeste da cidade, até que JonJon segurou Ben pelo ombro e o mandou olhar para um dos navios, com velas do dragão de três cabeças da Casa Targaryen. Perguntaram-se o que estariam fazendo ali, então viram Rossart sair do barco, acompanhado por uma dúzia de guardas. Ele não estava vestindo mais o negro cinzento das roupas de alquimista: Agora usava um traje de couro fino, cor marrom-clara. Estava vestido como uma de suas profissões, Mão do Rei. Logo um grupo de funcionários do Banco de Ferro vieram o receber.
- Não é estranho alguém nesse cargo vir até aqui? - perguntou Ben. - Sei que me disse que Aerys é louco e não confia em quase ninguém, mas seu país está em guerra. O que teria de tão urgente a ser resolvido no Banco de Ferro que o faria mandar o pilar de seu reinado tratar?
Um homem veio por trás e esbarrou em JonJon.
- Não fique no caminho, westerosi verde – ele disse, passando. Era um homem jovem de cabelos pretos que quase chegavam aos ombros, olhos azuis e usava uma jaqueta de marinheiro por cima da roupa de couro com um kraken.
Em seguida passaram vários homens, que deviam ser seus marinheiros. Olharam para o navio aportado e eles tinha velas negras com o mesmo símbolo. Era da Casa Greyjoy.
- Isto está ficando cada vez mais bizarro – disse Jon.
Horas se passaram e a noite caiu em Braavos. Numa taverna um pouco afastada do centro da cidade, o Greyjoy acabava de chegar num salão de rostos familiares e logo falou ao balconista:
- O seu melhor malte lorathiano – mostrou dois dedos. - Para mim e para meu amigo aqui.
- É pra já, senhor Greyjoy – o homem, chamado Pynth, tratou de os servir. O capitão e os tripulantes de sua pequena frota de cinco barcos eram seus clientes mais leais.
O “amigo” examinou a cor do líquido e bebeu.
- Não sabia que os Lorath faziam maltes.
- Eles fazem, mas poucas pessoas conhecem o lugar ou alguma coisa de lá.
- Pois é, às vezes só falamos das cidades maiores e esquecemos que existem nove filhas de Valíria – deu outro gole. - Mas aqui temos bancos, políticos, pessoas de alta influência, nobres westerosi, assassinos… Por que tudo tem que acontecer em Braavos?
- Porque Lys só tem puta e Volantis só tem retardado?
Rossart coçou o queixo e fez um murmúrio concordando.
- Não vou discordar de alguém que conhece o mundo como o senhor, Euron Greyjoy. Eu ouvi algumas histórias sobre você. Aos vinte e um anos, é capitão de um grupo de nascidos de ferro e marinheiros e mercenários de outros lugares, abandonou suas Ilhas de Ferro e sai por aí se enfiando em conflitos das Cidades Livres, onde saqueia navios e mata seus tripulantes sem misericórdia. E parece conhecer muitas pessoas importantes por aqui.
- Quase tudo que ouviu está correto, exceto que não fico me enfiando em guerras. Quando uma começa, o Príncipe da cidade implora para que eu trabalhe para ele – sorriu. - O exército dos nascidos de ferro é o mais forte do mundo!
Rossart estava interessado na localização de mestres de Hamon e requisitava o auxílio de Euron em lhe dar a informação, por ordens de seu Rei. O Greyjoy sempre pegava uma parte pequena nos saques que fazia, então não poderia ser comprado com dinheiro. Segundo Aerys, ele parecia ter ambições maiores, então o deram o tratamento Shiera Seastar.
- Eu poderia ficar imortal com essa tal máscara de aço valiriano? Isso seria interessante – disse Euron.
- Você também ficaria muito mais forte e não envelheceria – completou Rossart. - Soube em Pentos que nessa cidade há uma mestra de Hamon. Preciso saber se é a única, e onde ela reside. Se colaborar comigo, Rei Aerys Targaryen lhe dará sua recompensa.
- Mas me diga – Euron se focava na promessa dada. - Se tal máscara é tão boa assim, por que você, Aerys e Jaqen não a usam? - deu um sorriso irônico. - Não é algo grande o suficiente para vocês, não é? Estão atrás de algo maior, provavelmente relacionado àquela joia rubra valiriana que estão procurando.
Rossart ficou surpreso.
- Como…
- Ora, Grão-Mestre, estive observando vocês desde que queimaram o Dayne – e dito isso fez um sinal, a conversa nas outras mesas parou e todos os homens passaram a olhar pra ele. - Em Westeros chamam Aerys de louco, mas eu pergunto, existiu alguém que foi capaz de mudar o mundo que não era um pouco? Os alquimistas existem há milhares de anos e sabem o que é isso. Então eu me pergunto, Lorde Rossart, Mão do Rei, por que eu me contentaria com apenas essa máscara medíocre, se eu sei que há algo ainda melhor?
Rossart se levantou e deu as costas para Euron.
- Mercenários devem saber se pôr em seus lugares – foi caminhando em direção à saída. - Até mesmo nobres.
A porta do bar foi fechada. O bando de Euron o cercava, apontando suas espadas, lanças, machados e flechas. O Greyjoy o olhava, sorridente, esperando sua rendição.
- INCAENDIUM! - gritou.
Uma rajada de fogovivo saiu das duas mãos que estendeu em direção ao capitão. Os que estavam próximos tiveram queimaduras graves, mas ele só perdeu um pouco de cabelo. As flechas foram atiradas dos arcos e carbonizadas antes que sequer alcançassem o alvo. Rossart fechou os olhos por alguns segundos, inspirou lentamente e expirou, criando um círculo de fogovivo ao redor de si. Usando a alquimia na parede, fez o teto cair no centro do bar, esmagando cinco soldados. Três pularam sobre as chamas pela sua esquerda, e em seguida outros quatro vinham pela direita. Abaixou-se e aplicou a alquimia no chão, fazendo as chamas subirem momentaneamente, criando uma cortina de fogovivo que pegou os que vieram depois. O círculo havia sido desfeito, os três de antes o atacavam e ele defletia os golpes com a força de lançamentos de fogo. A mão de um ficou próxima o suficiente para ele queimá-la, fazer o indivíduo perder o controle e deixar o machado cair no próprio pé. Os outros dois foram pegos simultaneamente pelos braços fortes do alquimistas e tiveram seus rostos sofrendo queimaduras graves. Caíram no chão, agonizando.
Euron ordenou ataque total e Rossart tirou outro frasco da cintura, passando a criar fogovivo com a mão esquerda e pingar uma gota do líquido em cada quantidade criada. Em seguida cada chama caía no chão, criava quatro patas e corria para cima dos soldados.
- AHHH! O que é essa coisa? - perguntou Euron.
- São criaturas vivas feitas de fogo – disse Rossart. - Já foi o auge da criação dos alquimistas.
Então um homem vestido de um traje negro com uma lula gigante da Casa Greyjoy o acertou com uma garrafa de vidro. Em seguida ele tentou criar mais fogo, mas não conseguiu.
- Mas o quê?!
- Então é esse o seu segredo! Antes eu não havia percebido, você sempre passa fogovivo líquido nas mãos antes de lançar o fogo, mas não pode fazer isso se ele estiver impuro - disse o soldado, sorrindo e o mostrando uma garrafa. - Malte lorathiano para você!
- Hã? - Euron o observou, tentando o reconhecer. - Você não é nenhum de meus tripulantes.
- Jon Arryn! - gritou Rossart.
Ele quer dizer o velho Lorde Arryn do Vale? Euron só havia visto-o num torneio que foi quando era criança, e lá ele já parecia velho. Esse senhor não parece ter sessenta e poucos. Os alquimistas realmente têm o poder de rejuvenescimento! Ele estava falando a verdade!
- Você apareceu cedo demais, JonJon – disse Rossart. - Queria deixar que Jaqen acabasse com você. Mas, já que está aqui, imagino que saiba algo de que preciso.
- Deixa eu pensar – disse JonJon. - Sua próxima fala será: “Onde estão os mestres de Hamon?!”
- Onde estão os mestres de Hamon?! - perguntou Rossart.
- Eu também não sei! - riu. - Eu só queria descobrir o que estava aprontando. Agora, se me dá licença, vou correr.
Esse é um plano bem idiota, será que este homem é de fato Jon Arryn? Euron indagava enquanto o Arryn fugia. Rossart o parou transmutando o chão onde estava, o fazendo subir e derrubá-lo. O capitão de ferro viu seus soldados a espera de um comando, após terem conseguido tomar conta das criaturas de fogo, que juntas tinham matado quatro de seus tripulantes e causado ferimentos graves em mais alguns. Ele é muito forte e não vai se render de forma alguma, e ainda preciso sair daqui vivo.
- Nascidos de ferro! - os chamou. - O alquimista ruivo que estão vendo não é imbatível. Avancem nele e o rasguem o suficiente para virar isca de peixe!
Cercado num canto e vendo uma legião avançar, Rossart usou sua alquimia para quebrar a parede, e com isso saiu da taverna. Euron mandou abrirem a porta novamente e saírem às pressas dali.
- Não deixem que ele escape! - gritou, correndo atrás do grupo.
- Greyjoy, espere! - JonJon passou a acompanhá-lo. - Não viu os poderes dele? Ele pode ter tido o lançamento de fogovivo desfeito temporariamente, mas ainda deve ter muitas cartas na manga! Se não recuar, ele pode acabar com todos vocês, igual estava fazendo antes!
- Antes? HAHAHA! - Euron gargalhou de sua inocência. - Aqueles eram mercenários e marinheiros agregados, não meus soldados de verdade. Apenas nos observe a lutar. A Casa Greyjoy tem a melhor ciência militar do mundo!
Rossart elevou o piso ao redor de si, para se colocar num terreno um metro e meio mais alto que os demais. Alguns avançavam nele e ele os repelia transmutando suas espadas para dobrarem os gumes contra seus donos. Passou outro frasco de fogovivo nas mãos e lançou outra rajada nos soldados. Euron tomou a frente, sacando as duas espadas que carregava, pulando alto o bastante para jogar-se em Rossart e gritando “Pyke!”. Rossart lançou suas chamas, mas não foram o suficiente para parar Greyjoy. Ele segurou o gume de ambas com suas mãos.
- O aço das Ilhas de Ferro é mais resistente que qualquer um de Westeros – Euron riu. - Seus feitiços de fogo não o derreterão facilmente!
- INCAENDIUM! - gritou Rossart.
Ambas as espadas de Euron passaram a pegar fogo, e ele mostrou-se assustado e deu alguns passos para trás, na borda do terreno alto. De repente, um chute o acertou atrás das pernas e o forçou a ajoelhar. O Greyjoy se aproveitou da ajuda de JonJon e veio com uma espada em chamas para o braço de Rossart, decepando-o um pouco abaixo do ombro.
- Um Mão do Rei sem uma mão – riu Greyjoy, jogando fora a espada. Ele havia continuado a segurá-la mesmo em chamas para fazer o golpe, e com isso sua mão direita estava gravemente queimada.
Rossart estava furioso. A primeira coisa que fez foi transmutar o chão para lançar JonJon e Euron para fora. Em seguida queimou o cotoco do braço direito para cauterizar o ferimento e parar de sangrar, então pegou o restante dos frascos de fogovivo que carregava consigo e os quebrou na única mão. O vidro deixou um ferimento na palma da mão, de onde sangue saiu. Você é burro, Rossart! Pensou JonJon. De novo, os líquidos vão se misturar, deixando a substância impura e impedindo a queima! Porém, havia realmente muito fogovivo, que caía de sua mão, jorrava da plataforma e ia até o solo. Por fim, ele lançou o excesso para o ar, de onde respingaria nos soldados. Arryn gritou para se esquivarem, mas foi tarde, pois ele já havia atirado fogo de suas mãos e houve uma explosão.
Euron levantou-se com dificuldade e pegou uma espada que havia sido lançada perto de si na explosão. Estava de noite e cheio de poeira, o que dificultava sua visão, mas conseguia ver vultos de chamas verdes a distância. Viu o inimigo se aproximar e, com a mão esquerda, que estava boa, empunhou a espada e lançou o golpe, mas foi ferro no ferro.
- Desgraçado – Rossart grunhiu. Com a única mão, travava Euron num embate de espadas.
O Greyjoy estava para agir com a mão ruim, mas o alquimista levantou um dedo e, para sua surpresa, lançou um tiro de fogo em sua direção. Cambaleou, ardendo com a queimadura no ombro. Ouviu dois de seus soldados gritarem seu nome e se aproximarem. Rossart dobrou a perna direita, e a estendeu, apontando a ponta do pé para trás, e dele soltou mais chamas verdes, de dois metros de altura e três de comprimento. Ele está lançando de outras partes do corpo. Como isso é possível? Pensou Euron, enquanto via o adversário começar a tremer e a soltar fogo pelos ferimentos. O sangue na mão. O fogovivo entrou no corpo dele e por isso consegue soltá-lo por feridas abertas e debaixo das unhas. Mas parece que é fraco demais para aguentar o líquido dentro de si, e agora está tentando o tirar.
Euron tentou atacá-lo novamente com a espada, mas teve o braço queimado e deixou a espada cair. Rossart usou a sua para golpeá-lo, fazendo aberturas na pele do braço direito, peitoral, coxas, abaixo dos joelhos e finalizou a enfiando no olho esquerdo. Mais soldados chegavam, e talvez ele não conseguisse acabar com todos eles, então simplesmente foi ateando fogo no chão e nos que se aproximavam. Sentiu-se tonto e viu Arryn chegar, e enfim saiu dali, correndo e ateando fogo em seus rastros. JonJon foi até Greyjoy, agonizando em dor e sangrando.
- Jon Arryn… Ele e os amigos dele que te puseram nesse corpo, não foi? - cuspiu um pouco de sangue. - Eles parecem ser realmente poderosos, esses alquimistas…
- Greyjoy, peça para ser tirado daqui! - disse JonJon. - Se você não for tratado por um meistre logo, irá morrer.
- Meistres das terras verdes? Não tenho tais coisas, a ciência Greyjoy é a melhor do mundo – disse Euron. - Faça-me um favor, Lorde Arryn, algo por mim e por si mesmo. Acabe com esses homens.
- Acabarei.
357 dias até a intoxicação
Na manhã seguinte foram se encontrar com a mestra. Ben o repreendeu por ter saído sozinho, mas não bateu nele, por já estar acabado demais. Já a mestra não mostrou tanta piedade. Ela apareceu de surpresa, quando estavam a caminho do templo, os bateu com remos de uma gôndola braavosiana e os criticou por serem lentos demais.
- Sou Lyla Lyla – ela se apresentou para JonJon, após ter derrubado ele e Redwyne numa luta de Hamon.
A mulher era uma adulta com aparência jovem, cabelos ruivos e olhos azuis. JonJon tentou usar com ela o máximo que conseguia da educação que seus pais haviam lhe dado, mas Lyla Lyla era rude e indiferente como nenhuma mulher jamais havia sido consigo, o que o deixava em ira.
- Então, JonJon, você saiu ontem para apanhar do Grão-Mestre Rossart – disse Lyla Lyla. - Descobriu alguma coisa, pelo menos?
- Sim. Rei Aerys havia falado algo sobre uma valyrio mele doron, que Euron Greyjoy e Rossart também se referiram como joia rubra valiriana – respondeu JonJon. - Euron disse que ela pode ser uma fonte de poder ainda maior que a máscara de aço valiriano, mas Rossart não falou nada a respeito.
A mestra pareceu preocupada.
- A tal joia a qual ele se refere está guardada comigo, e o poder que vem dela é imensurável se conseguir ser usado – fitou JonJon, cansado e tonto, e Ben Redwyne, calado e atento. - Se Rei Aerys conseguir usá-la, ele poderá cumprir uma profecia antiga de sua Casa.
Cinco meses depois, 205 dias até a intoxicação
Rei Aerys da Casa Targaryen, Segundo de seu nome, sentava-se novamente para uma reunião do conselho, formado por ele, o Mestre das Leis, o Mestre dos Navios, Mestre dos Sussurros, Grande Meistre e o Mão do Rei. O antecessor desse último, numa cadeira de rodas, rosto pálido quase azul e um braço. Ao redor de todos, vários alquimistas vigiando a sala.
- Pelo visto, sua falsa ciência não consegue te curar mais que isso – disse Pycelle, quando o viu após meses.
- Dispenso opiniões de ordens decadentes, velho Pycelle – disse Rossart. - Todas as nossas pesquisas foram investidas em um só caminho. O que é meu corpo, perto disso?
Aerys observava a Fortaleza Vermelha e Porto Real através da janela. Sua cabeça estava em outro lugar, e teve que ser chamado pelo seu novo Mestre da Moeda, o alquimista Jaqen. Ele pediu para que ouvisse o relatório da guerra.
- Vossa Graça, Robert Baratheon teve sucesso em derrotar as Casas em seu território que era leais ao senhor – disse Lorde Qarlton Chelsted, o ex-Mestre da Moeda e atual Mão do Rei, desde que Rossart voltou ferido de Essos e teve que abdicar do cargo para ficar meses de cama. - Ele está se juntando a Lorde Eddard Stark e o regente do Vale, Sor Denys Arryn.
- A palavra nas ruas é que estão chamando a guerra de Rebelião de Robert – completou Varys.
Aerys suspirou.
- Está mais para Guerra do Usurpador – disse o Rei. - E os reinos que não são governados por traidores?
- Mace Tyrell e Doran Martell estão apoiando o senhor e aguardando seus comandos sobre a movimentação militar – disse Chelsted, olhando novamente a pilha de documentos que tinha na mesa. - Não temos nenhuma palavra ainda de Tywin Lannister, Hoster Tully e Quellon Greyjoy.
- O segundo filho dele não cortou o braço do Grão-Mestre Rossart? - Lucerys Velaryon, Mestre dos Navios, apontou o acontecimento de cinco meses atrás. - A Frota de Ferro é uma força marítima poderosa. Se eles resolverem se juntar à coalizão contra a coroa, devemos estar preparados.
- Quellon não fará nada, ele não é sedento por sangue como os outros de sua Casa – disse Chelsted. - Tywin é um perigo maior, mas não creio que se aliará com os Starks. Já o Tully tem uma filha para casar com Eddard Stark e a outra já está casada com Jon Arryn.
- Não há mais Jon Arryn, ou pelo menos não como Westeros conhece – Aerys interrompeu. - Ele será dado como desaparecido para a eternidade, assim como foi com a mãe dele. Sem seu Senhor, os cavaleiros do Vale virarão cinzas – fitou a mesa cheia de documentos e cartas e uma maquete de Westeros com os exércitos de cada reino. - Então iremos para a guerra. Arrumem minha armadura, já que o inútil do Rhaegar não está mais aqui para liderar os Targaryens, eu mesmo o farei.
Aerys terminou a reunião dando uma ordem para cada membro de seu conselho, exceto Qarlton, e os dispensou. O Mão estava acompanhando-os na saída, quando o Rei o chamou.
- Você não, Chelsted.
Além do Grão-Mestre e do Mestre da Moeda, que havia ficado, havia outros seis alquimistas na sala, todos com vestes negras, capuz e corpo forte o suficiente para vencer um leão na porrada.
- Pois não, Vossa Graça?
- Você ficará em cargo do Reino enquanto eu estiver fora – disse Aerys. - Há uma última solução para caso o Usurpador e seus aliados tomem a cidade: Embaixo de toda Porto Real, há milhares de barris de fogovivo. Quero que dê a ordem para queimar todos caso isso aconteça.
O homem ficou branco.
- Vossa Graça, isso… Isso é loucura! - gritou. - Não há possibilidade alguma de eu fazer isso! Está sugerindo que eu mate...
- Se preocupa-se tanto assim com sua patética vida medíocre humana, pegue um barco e fuja antes. Leve sua esposa que não o ama, e suas filhas, a donzela feia que nunca encontrará um esposo e a outra, que já fodi três ou quatro vezes em minha cama. Vá para Pedra do Dragão, onde será ajudado pela guarnição Targaryen na ilha.
- Não é apenas isso! Há tantas pessoas inocentes… Porto Real tem quinhentas mil pessoas apenas dentro das muralhas. Está realmente me ordenando matar a todas?!
A paciência nobre de Aerys havia acabado. Ele cerrou o punho, se cortando com as unhas grandes, e arregalou os olhos.
- Zalagon ajomemeys.
Dois alquimistas seguraram os braços dele e Qarlton foi levado, aos gritos, para o mesmo lugar visitado pelos irmãos Dayne. Ele fez exatamente o que pensei que faria. Rossart não é menos inteligente que este homem, e não se prende às morais retrógradas dos humanos. Agora que ele está de volta, pode reocupar o cargo.
Horas depois, já havia se alimentado e o exército Targaryen estava reunido pronto para marchar, na grande praça no centro de Porto Real. Numa plataforma alta estavam sua irmã-esposa Rhaella e seu filho e herdeiro, o garoto Viserys, de seis anos. Com eles estavam todos os sete membros de sua Guarda Real: O Comandante Lewyn Martell, Jonothor Darry, Barristan Selmy, Jaime Lannister, o Sábio Pollitor, Sábio Garigus e o Sábio Belis, os três últimos, sendo alquimistas. Acompanhado da Guilda dos Alquimistas, Rei Aerys subiu no palanque e disse, em alto e bom som:
- O Usurpador Robert Baratheon está lá fora neste momento, dizendo que tomará meu trono. A imagem que os traidores têm de mim é a de um rei fraco, velho e fácil de derrotar. Mas, isso muda hoje.
Jaqen H'ghar lhe entregou a poção final da Suprema Vis. Ali, na frente dos seus soldados, dos Senhores de Casas e dos plebeus da cidade, tirou a camisa e tomou todo o líquido.
- O Príncipe Rhaegar, que muitos adoravam, era nada mais que uma lagartixa que repetia canções tristes, reflexo de sua própria imagem medíocre – disse, enquanto se transformava. - Contemplem o verdadeiro dragão!
A multidão o ovacionou ao verem-no jovem, com cabelos longos e não mais quebradiços, sem barba e um corpo ainda mais musculoso que o de JonJon. Sua imagem era melhor do que já havia sido em qualquer momento da vida, e sorria. Com essa guerra estúpida de meu filho mais velho terei alimento o suficiente, pensou, E então, depois de obter aquela joia, concluirei meu destino.
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