História Kitsune - NaruTsu - Sangue

                Fazia exatamente dois dias que Naruto havia sumido e deixado sua última mensagem com a Tsuna. O que essa raposinha está tentando provocar? Ele sabe que se sumir desse jeito, os youkais que vivem fora da muralha ficarão sabendo e tentarão fazer um ataque em conjunto. Tsk, esse garoto ainda me trará muitos problemas. Felizmente essa não foi a primeira vez que isso aconteceu.

            Terminei de enrolar o futon e guardei num canto, aquele era o novo quarto da humana. Esse cômodo anteriormente era onde os pais de Naruto dormiam, um dos lugares favoritos do imperador em todo o clã Kitsune. Suas lembranças de quando era apenas um filhote afloram nesse quarto.

            Sai do cômodo e fui direto para a enfermaria, onde a humana estava. Ao chegar lá, vi ela já conseguindo andar quase que perfeitamente. Me senti orgulhoso, já que meus conhecimentos médicos foram necessários para isso.

— Parabéns, Tsuna. — Eu disse num tom alegre para a loira, que se assustou ao me ver. Tenho que parar de chegar assim perto de outras pessoas, algum dia eu ou alguém pode morrer por causa disso.

— Mikazuki! — ela exclamou meu nome, vindo correndo um tanto desajeitada para me abraçar. — Tem alguma notícia do Naruto? — apenas discordei balançando minha cabeça, seu olhar ficou um pouco cabisbaixo.

— Qual seria o motivo da pergunta? — desde o último dia que ela fora pro quarto do imperador jogar Go ficou um tanto estranha. O que deu nesses dois?

— Diferente da primeira vez que a gente se encontrou, ele parecia triste. — Ah, pronto. Era só o que me faltava ele ter se lembrado da bendita da Bishamon, sua antiga amante e melhor amiga. De acordo com ele, “a única pessoa que entendia como eu me sentia”. Eu tenho ódio dessa mulher até hoje.

— Entendo. — Deixei um falso semblante preocupado aparecer, já eu estava me remoendo de ódio por dentro. Com a aparição de Bishamon na época que éramos um pouco mais novos, eu fui feito de segunda opção. Mas agora que ela já não está entre nós, tenho que fazer o papel que a mulher não fez direito. — Gostaria de ir atrás do Naruto?

            Eu consegui ver um fio de alegria no olhar da loira. Ela parecia não acreditar no que eu estava falando.

— Mas não será perigoso? — discordei, mas era totalmente o contrário. A região sul era com certeza um dos piores lugares para alguém conhecer. Lá existia apenas batalhas e mais batalhas, onde apenas os mais fortes sobrevivem. Mas ela estará comigo, um dos cinco mais fortes do mundo Youkai, então não teria com o que se preocupar.

— Estaremos saindo amanhã de manhã, tudo bem? Já está tarde. — Tsuna concordou. Ah, acabei de me lembrar sobre o quarto novo dela. Deixo isso para depois da janta ou agora mesmo? Acho que tanto faz, já que vai dar na mesma. — Tsuna, como estás melhor, eu arrumei um quarto decente para você passar as noites. Gostaria de vê-lo agora?

— Sério? Isso é uma gentileza sua, Mikazuki. — Ela disse com um sorriso doce no rosto. Resolvi imitá-la. Abri um sorriso doce também.

— Isso é o de menos! Agora vamos, eu terminei de arrumá-lo agora pouco. — A loira concordou e eu comecei meu caminho até o novo quarto da humana. Ela fazia algumas perguntas durante o caminho, e eu respondia todas com um tom de voz mais sincero possível.

            Ao chegar no novo quarto da Tsuna, ela ficou maravilhada com tudo. Não era de menos, peguei das melhores e mais caras coisas que já encontrei no mundo dos Youkais. A conta não vai ficar para mim, de qualquer jeito.

            A humana avaliou todo o quarto, e ao sair para a varanda que dava num dos maiores jardins do clã Kitsune, ela ficou ainda mais maravilhada. Não podia negar, até eu queria aquele quarto, só não fiquei com ele porque o imperador não deixou.

— Tudo isso é... maravilhoso. Nem no meu mundo é assim. — Apenas dei um sorriso doce e fui até seu lado. Ela observava o balançar de flores de uma grande árvore de cerejeira, maior que o normal, a qual os pais de Naruto morreram em baixo dela pelas mãos do próprio filho. História incrível, não?

            É apenas uma tradição dos Kitsunes, onde apenas o mais forte sobrevive e comanda o clã, querendo ou não.

— Seu jantar já está pronto, eu acho. Vou pedir para algum servo trazer sua comida, qualquer dúvida, estarei deixando uma chama mensageira em frente à sua porta. Durma bem. — Terminei fazendo um leve cafuné em seu cabelo e me dirigi até a porta, mas parei por um instante. Será se...? Não. Deixe isso de lado, Mikazuki.

            Limpei todos os meus pensamentos e sai do quarto da humana, indo até a cozinha. Por que estou tendo esses pensamentos novamente? A Bishamon já morreu faz tempo. Então... qual o motivo disso?

Dia seguinte

08:12

            Eu seguia até o quarto da humana com longos passos. Minha cabeça estava sendo consumida por vários pensamentos sobre diversos assuntos.

Hoje amanheceu num clima chuvoso. Será esse um bom dia para irmos atrás do Naruto? Ou deixamos para amanhã? Mas e se a humana insistir? O que faço? Ele está bem? O kitsune está bem?

Grr! Que ódio. Parei na frente do quarto da humana e chamei-a por seu apelido “Tsuna”, ela respondeu com um abafado “entre” e foi o que eu fiz. Pelo jeito ela já havia tido sua refeição matinal e colocado algumas roupas que Uka emprestou-a.

— Bom dia, Tsuna. Quer ir atrás do Naruto nessa chuva? — ela pareceu pensar um pouco, mas logo concordou. A humana realmente estava determinada a isso. Dei uma risadinha e fui até o guarda roupa, onde peguei um guarda chuva que tinha no cantinho e um haori totalmente preto.

            Entreguei os dois para ela e ajudei-a a se levantar. Seguimos até a saída da cidadela, onde dois guardas Oni nos pararam. Ao perceberem que era eu que estava com a Tsuna, deixaram-nos passar e seguimos o caminho até a região sul.

            Como percebi que iria demorar muito irmos andando naquela lentidão, tomei uma iniciativa.

— Posso te levar em meus braços? — a primeira reação de Tsunade foi confusa, mas rapidamente continuei. — Andando nesse ritmo, chegaremos só amanhã na região sul. — Tsuna concordou, eu rapidamente peguei-a em meus braços e comecei a correr numa velocidade incrível, que para humanos seria impossível.

            Chegamos em nosso destino em menos de uma hora. Tsunade estava com sua cara escondida em meu peitoral, e com todas as suas roupas molhadas, já que no meio do caminho ela deixou o guarda-chuva cair.

            Dei uma rápida olhada para o campo de batalha. Nunca pensei que veria tantos corpos mortos de uma única vez.

            Deixei a Tsuna pisar no chão, e no exato momento que ela olhou para os corpos mortos, paralisou. Ela não falava nada, apenas algumas lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Então me lembrei: ela tinha hematofobia. Apenas tranquei sua visão pondo minhas mãos em frente seus olhos.

— Tsuna, está tudo bem. Apenas olhe para trás. — Eu sussurrei para ela, que rapidamente me abraçou e escondeu sua cara em meu peitoral.

            Aos poucos eu conseguia ver uma cabeleira branca aparecer em meio corpos mortos de outros youkais. Era Naruto. Ele estava com alguns cortes profundos e suas roupas manchadas com sangue de outros demônios, e agora molhadas pela chuva.

            Seus cabelos que quase sempre estavam presos, agora jaziam soltos e totalmente molhados. Sua espada que antes era prata pura, estava totalmente vermelha.

            Ele se aproximava de mim e de Tsuna com um sorriso bobo no rosto, como se aquilo fosse uma das maiores diversões que poderia ter tido. Ele não estava reclamando disso alguns dias atrás?

— Heyyy, Mika!! — Ele exclamou feliz, aparecendo subitamente no meu lado. Primeiro ele estava alegre, ficou triste e agora está com esse sorriso bobo. Nunca vi o imperador tão bipolar quanto esses últimos dias.

— O que aconteceu com você? — Perguntei abraçando a Tsuna mais forte. — Qual o motivo desse sorriso? — ele aproximou-se ainda mais de mim e de Tsuna, agora tentando encostar nos cabelos da loira, mas rapidamente dei um tapa na mão do imperador.

— Eu só precisava de um tempo, sabe? — ele olhou para a mão dele que lhe dei um tapa, ela estava suja de sangue de lutas passadas. Como se fosse algo normal, ele lambeu todo o sangue youkai que estava ali. — Eu me lembrei dela.

            Ele disse fazendo referência à Bishamon. Mesmo depois de tantos séculos, ele ainda se lembra daquela mulher que só estragou com a vida dele.

— Naruto, aquela mulher só te cegou! Esqueça ela, por favor! — Estava começando a ficar exaltado. Mas vou tentar não ir mais longe do que isso próximo da Tsuna.

            O imperador apenas soltou um longo suspiro e passou sua mão pelos seus cabelos brancos, levando-os para trás.

— Vamos, não quero que a humana pegue um resfriado. — Ele ignorou o que eu disse e começou a andar em direção à cidadela. O que estaria se passando na cabeça dele nesse momento? Por que ele só me ignorou? Qual o sentido disso?

— Nós teremos uma conversa bem séria quando chegarmos lá, Naruto. — Alertei-o, pegando a humana em meus braços novamente.

— Tá bom, mamãe. — Ele simplesmente desapareceu de minha visão. Aquele maldito!