Tom me guiou para dentro do restaurante sem aparentar preocupação. O aconchego de seu toque na base de minhas costas em tempo que passávamos entre as mesas vazias, rumo a uma especialmente reservada próxima ao vidro fez-me endurecer o tremor das pernas diante dos olhares de reconhecimento que recebíamos. Tornei-me alheia à atenção desnecessária, direcionando minhas pupilas sobre a decoração estarrecedora do local. A ambientação era espetacular. Extensas mesas de madeira polida com brilho caramelo adornavam o centro, oferecendo seis lugares para convidados em maior número; acompanhando as paredes translúcidas, pequenas mesas para duas pessoas estavam dispostas como um pedacinho íntimo e especial do estabelecimento. Ainda não satisfeitos com a beleza exótica da paisagem inteiramente coberta de neve, abajures que aparentavam terem sido resgatados da Segunda Guerra Mundial iluminavam aos arredores num jogo de luz e sombra bastante peculiar e agradável.
— Aqui dentro é ainda mais bonito do que lá fora, puta que pariu. –exclamei involuntariamente, atraindo a ligeira atenção dos demais. — Perdão. –sussurrei em seguida, tendo a risada baixa de Hiddleston como acompanhamento.
— Sim, principalmente na primavera. –adiantou-se ao afastar a cadeira para mim. Sentei-me, agradecendo seu cavalheirismo. Assisti-o desabotoar seu paletó antes de reivindicar o assento em minha frente, ajeitando-se de forma veementemente cortês. — É incrível a mudança que esse parque faz nessa estação do ano. Tudo o que se pode ver são piqueniques sobre o gramado, debaixo das árvores carregadas de frutas. Crianças jogando migalhas de pão para os patos no lago. Uma visão agradável.
— Um comercial de margarina. –gracejei.
— Ou você pode simplificar desse modo. –riu, pegando o cardápio. — Já tem algo em mente para comer?
— O que há de bom aqui? –perguntei com interesse, apoiando meus cotovelos sobre a superfície.
Tom estreitou os olhos para a lista elegante em suas mãos, encarando-a em quase inquisição. Pude notar um brilho de satisfação em seu rosto ao fazê-lo.
— Bouillabaisse comme à marseille acompanhado de uma garrafa de Château Bellevue Saint-Émillion está bom para você? –questionou em seu francês impecável, fazendo-me cruzar as pernas em reação imediata. Embora não fizesse a mínima ideia se aquilo era realmente um prato ou um xingamento à minha pessoa, respirei fundo.
— Espere um momento, você pode repetir isso novamente? Para o tradutor. –fiz menção em apanhar o celular na bolsa, induzindo um sopro de diversão em Hiddleston.
— É um caldo enriquecido de frutos do mar. Muito apetitoso, caso queira minha humilde opinião. –explicou.
— Eu pediria pra você não ser o apresentado de sempre e se limitar a falar palavras fáceis, mas o seu francês faz minha calcinha pedir socorro. Mesmo que esteja falando sobre um prato de caranguejos, lulas ou... quaisquer que sejam os componentes disso.
— Fico feliz em desconcertar suas peças íntimas. –deu-me uma piscadela cafajeste. — Tudo bem, nada de frutos do mar. Talvez Ratatouille pareça melhor pra você?
— O rato do desenho? –repliquei.
— O prato, Amélia. –foi firme, apesar de descortinar seus lábios presos em sorriso contido. — Você não o conhece? Berinjela, abobrinha e tomate...
— Só porque minha mãe é uma alpinista social sem coração e me criou dentro dos costumes da elite, não significa, necessariamente, que eu conheça a culinária rebuscada. –argumentei com sinceridade. — Então quer dizer que aquele prato que o mini-chefe faz é verdadeiro?
— Por que eu estou me segurando para não rir? –retrucou de bochechas róseas, assemelhando-se a um garoto travesso que aprendera uma piada.
— Qual é, Hiddleston!
— Eu não acredito que você não sabia que Ratatouille é um prato verdadeiro. –pousou as mãos sobre a face, abafando sua crise de risos. — Por onde você esteve?
— Comendo comida de verdade, no Brasil. –pontuei em rebatimento. — É por isso que eu perdi tanto peso aqui! O que vocês têm contra arroz e feijão?!
— Eu imaginei que você entendesse um pouco desse mundo sofisticado, a julgar por suas companhias...
— Minhas companhias? Está falando do Jay? Ele prefere vodca, whiskey e algumas merdas que colocam pessoas em coma. E quanto à comida, ele tem ataque de raiva em restaurantes, prefere comer em casa. Cuidado com os arquétipos dados aos italianos, Shakespeare. –justifiquei-me em imediato, inclinando-me para tomar o cardápio de suas mãos. Rolei meus olhos acima das opções de pratos, evitando não me espantar pelo preço da carta de vinhos ao lado. Um desejo gritante por carne me obrigou a suspirar ao me deparar com o nome bife quase ao término da lista. — Wellington Beef e uma garrafa de Primitivo di Manduria Rosso 1947. Porque eu sei que você está ansiando por vinho e não quero desapontá-lo, mesmo que você esteja se esforçando bastante para me fazer sentir como uma alienígena por não entender de Ratatouille.
— De onde você tirou esse vinho?
— É o mais barato desse cardápio.
— Céus. Estou notando agora que você é um pouco maníaca por economia.
— Você percebeu meu apartamento em um bairro de subúrbio, com apenas livros e o necessário como mobília, minhas roupas repetidas e os lugares estranhos que levo você? Eu te dei tantas dicas, cara. –zombei.
Hiddleston mordeu o lábio inferior em sátira em tempo que maneava a cabeça em concordância. O garçom, notando que enfim havíamos entrado em um consenso, aproximou-se para anotar nosso pedido e rapidamente partiu em direção à cozinha. Fitei atenciosamente as mãos de Tom, enxergando cada singela veia ressaltada em suas costas, dando-lhe uma aparência máscula e atrativa. Foi-me impossível afastar as lembranças de seu toque em meu corpo, trilhando e demarcando minha pele com tamanha segurança que me induzia a questionar quem de nós melhor me conhecia. Me dei conta que desde que havíamos nos distanciado depois de meu incidente com Jane, aquela era a primeira vez que estávamos tendo realmente um momento de diversão à sós. Lembrei-me de nosso beijo afoito pela manhã, o ofego incessante que ele aplicava contra minha boca, o calor de seu tórax prendendo-me na parede. Ergui minhas pupilas a seu semblante silencioso, o qual apenas dedicava um olhar minucioso sobre mim. Dava-me a impressão que lia meus pensamentos.
— Você parece distraída. –comentou, trazendo-me de volta à realidade.
— Minha mente está em constante traição comigo mesma. –sibilei simplesmente, sem quaisquer vestígios de tensão em minha voz. — Há tanto para digerir.
— Talvez você devesse esquecer essas muitas variáveis e dar-se ao prazer da impulsividade. Fazer o que seu ímpeto necessitar. –aconselhou cúmplice.
— Não é uma boa ideia falar isso para uma pessoa com transtorno de personalidade. –brinquei.
— Você não é o seu transtorno. Não deixe que ele dite suas regras.
Soprei o ar em resiliência, assentindo lisonjeada por suas palavras.
— Obrigada por não fugir, de novo. Sei que tudo o que ouviu hoje não foram diálogos fáceis de lidar e talvez haja uma parte de você que está prestes a correr e pedir ajuda. –sorri nervosa.
— Eu também não sei como estou me mantendo calmo. –admitiu. — Mas há certas coisas que estão além de nossa capacidade, e essa situação é uma delas. Tudo o que eu posso lhe oferecer é um abraço apertado, apoio e um jantar.
Uni os lábios em rubor.
— Isso é tudo o que eu poderia desejar.
Shakespeare ergueu uma das sobrancelhas, lotando sua face com expressão de curiosidade.
— Então... sua mãe é uma alpinista social? –iniciou, fazendo-me arfar uma risada.
— Que ótima forma de começar uma conversa, Hiddleston.
— Eu tenho alguns questionamentos sobre sua família miserável. Por mais que eu os odeie, gosto de ter a segurança que os conheço, mesmo que parcialmente. Quero retomar a conversa que tivemos em meu apartamento de manhã. –revelou. — Quero dizer, se isso não a incomodar.
— Vá em frente. –dei-lhe liberdade.
— Conte-me um pouco sobre seu pai. Você quase nunca o menciona. –cruzou os braços, estendendo suas íris esverdeadas sobre as minhas.
Remexi meus dedos na barra de meu vestido, buscando encontrar alguma forma de falar sobre um homem que eu tão pouco conhecia.
— O nome dele é Daniel, é proprietário de um hotel à beira-mar em Fortaleza e Fernando de Noronha, um arquipélago paradisíaco no estado ao lado do meu. Isso já foi o suficiente para despertar amor em minha mãe. –falei. — E meu pai, que tem duplamente culpa nesse incidente, se apaixonou por ela. Eu acho que até você se apaixonaria por ela, se não a conhecesse bem.
— Eu duvido muito disso. –interrompeu, negando.
— Imagine a Monica Bellucci com olhos claros e cabelo acobreado. É a minha mãe. –montei o comparativo. Tom se espantou momentaneamente.
— Tudo bem. Fico eternamente grato em saber o quão infeliz ela é antes de vê-la pessoalmente. Prossiga.
— Meu pai sempre foi um ambicioso incurável, nunca se satisfazia com o dinheiro que tinha. E isso o levava a ficar constantemente em seus negócios e quase nunca nos visitava em casa. E minha mãe o seguia. Então, enquanto eles esqueciam que tinham filhos, eu pegava as minhas malas e passava várias semanas com meus avós paternos, cujos meu pai também não tinha contato algum desde que saíra de sua casa.
— Ele parece um babaca para mim.
— Babaca é um elogio para ele. –umedeci a garganta. — E assim como Elizabeth, meus avós me fizeram ser essa pessoa que sou hoje. E eu posso dizer que minha personalidade nada fácil é idêntica a da minha avó Rosa. Ela me ensinou a ser dura na queda e a nunca me deixar contaminar pelos vislumbres do dinheiro. Por isso sou mão-de-vaca. Ela odiava riqueza. E eu acho que foi isso que alimentou a ambição de meu pai. E meu avô era um grande contador de histórias, tocava sanfona e também era um ótimo dançarino de forró. O que eu o ensinei em sua cozinha, aprendi com ele.
— Você nunca me contou sobre eles. –apoiou o queixo em seu braço direito, elevando as pontas dos lábios em resposta.
— Meu avô faleceu pouco depois que fui internada e minha avó logo após que me formei na faculdade. Eu acho que é um gatilho emocional falar sobre pessoas que amamos e que já não estão entre nós. Parece machucar mais do que qualquer outra coisa. –respirei fundo.
Nisso eu entendo Jay.
— Então você é a ovelha negra da família muito antes de enlouquecer? –surpreendi-me com o tom brincalhão em sua voz.
— Eu sou a ovelha colorida, inglesinho. Eles é os que vivem no preto e branco. –pisquei de volta.
Adiantando quaisquer outros diálogos, o par de garçons surgiu pela porta de acesso com uma bandeja prateada em mãos e a garrafa de vinho em outra. De bom grado Tom ajudou-lhes a repousar os pratos sobre a mesa, enquanto reivindicava para si o comando do líquido vermelho escuro. Agradecemos em conjunto.
O cheiro estava formidável. O simples aroma da carne entre a massa dourada e de aparência crocante despertara uma fome descomunal em meu interior, suscitando-me o impulso de prová-la antes de Tom sequer nos servir a bebida. Rolei os olhos em prazer com o gosto perfeitamente temperado da carne macia em minha boca, mastigando-a como se aquele pedaço fosse o primeiro que eu provava em décadas. Repreendi um gemido de satisfação em minha garganta. Hiddleston assistiu-me com o semblante humorado.
— Não vá se engasgar.
— Bardo, isso aqui está muito bom. –garfei novamente, dessa vez direcionando o alimento para a boca de Hiddleston. — Prove.
Ele entreabriu os lábios receosamente com a pressa de meu pedido, porém, rindo com minha ação repentina, somente mastigou a mistura. A reação foi a mesma. Suas orbes coloridas desapareceram por trás das pálpebras fechadas em expressão de satisfação, o grunhido de sua voz rouca acentuada enfatizou sua aprovação.
— E eu queria comer frutos do mar. Obrigado por me impedir. –deu o braço a torcer.
Alcancei a taça recém servida nutrindo expectativas para com o vinho. Tom seguiu-me atenciosamente, levantando a sua em brinde com a minha e inspirou delicadamente em tempo que remexia o líquido em movimentos circulares. Antes de provar, imitei-o em humor.
— Você não fez isso na última vez que tomamos vinho. –observei.
— Na última vez que a levei para jantar, estava prestes a contá-la sobre a Olsen e com muita certeza que você jogaria o vinho na minha cara. Não tive tempo para formalidades. –sua sobrancelhas se uniram, dedicando um fitar quase perigoso de suas órbitas. — Não engula isso como se fosse um copo de cerveja, por favor. Deguste. Perceba o cheiro adocicado, não te lembra chocolate?
Atentei à fragrância, surpreendendo-me com a verdade de suas palavras.
— Sim, parece.
Hiddleston maneou a cabeça lentamente, como se ainda estivesse em busca de novos odores.
— Frutas vermelhas e... baunilha. –complementou, desta vez com timbre libidinoso.
— Você está flertando enquanto prova um vinho, filho da puta? –reclamei com o interior em chamas.
Shakespeare apenas aquiesceu. Tentada a devolvê-lo na mesma moeda, encostei a taça minha boca e encarei-o enquanto bebericava o sabor acentuado e incorporado. Então, percebi a razão das pessoas pagarem tão caro por aquilo. Meu globo ocular se revirou involuntariamente, enfatizado pelo som longínquo que escapou de minha garganta. Mordi meu lábio inferior entre um riso rápido, notando a feição desnorteada que se formara em Tom.
— Estamos transformando isso em algo perigoso. –disse, ajeitando-se na cadeira.
— É bom ver que algumas coisas nunca mudam.
— É reconfortante ver que você continua sendo a mesma criatura provocativa de sempre. –comentou.
Jantamos envoltos de um ambiente cúmplice e humorado, porém repleto da mais densa tensão sexual. Era um jogo de excitação mútua, provocações não verbais, toques aleatórios de seus longos dedos em meus braços e a ponta de meus pés em suas pernas por baixo da mesa. Nos divertimos com esse comportamento adolescente até o término da refeição.
— Quais são os seus planos para o próximo ano? –dei voz a minha curiosidade, alimentando minhas expectativas para seus novos projetos. Havia algo mágico em não pesquisá-lo na internet ou procurar notícias de seus feitos. O simples fato de perguntá-lo diretamente deixava-o mais humano para mim, como ele sempre havia sido.
— Oh. Você não tem ideia da quantidade de coisas que estou planejando. –sorriu, entusiasmado. — Alguns de meus maiores trabalhos pós-Thor serão lançados, você poderá me ver como Hank Williams e como um homem decaindo à insanidade em High-Rise.
— Estou louca para vê-lo mostrar esse corpinho nas telas de novo, inglesinho. Sua bunda vai estrear alguma cena, também? –interessei-me.
— Por que eu já imaginava que você iria perguntar isso?
— Porque eu sinto falta de vê-la.
Shakespeare soprou uma gargalhada abafada, brotando vermelhidão em seu rosto franzido.
— Não irei estragar a surpresa. Se eu aparecer nu novamente, você saberá junto às outras mulheres. –pontuou. — E, também, vou mergulhar de cabeça nas causas para a UNICEF e viajarei novamente para a África.
— Realmente? –espantei-me, mas animada. — Para qual país?
— Sudão do Sul. Há uma campanha nova, também, em pró de educação para as crianças da Síria e refugiados. Estou prestes a entrar em um colapso de ansiedade e animação para começar com tudo isso.
— Isso parece incrível! –vozeei. — Há algum lugar que me caiba em sua mala?
Tom alargou o sorriso.
— Se você quiser me acompanhar, eu ficaria lisonjeado. Nada me faria mais feliz do que viajar ao seu lado e dividir essas experiências com você. –anunciou, fazendo-me suspirar interiormente. — Isso, é claro, se não atrapalhar seus planos. Essas viagens são longas. O que tem em mente para o próximo ano? –perguntou-me informalmente, enquanto finalizava mais uma taça. — Vai voltar a trabalhar?
O questionamento replicou nas paredes de minha mente como um novo lembrete que deveria colocar minhas decisões de volta ao primeiro plano. Suspirei a ansiedade para longe.
— Eu realmente não sei. Recebi uma oferta para substituir o antigo editor-chefe, mas particularmente não me sinto preparada para esse cargo. –cocei a nuca. — Veja bem, eu não consegui me estabilizar em meu simples trabalho de corretora de textos, quem dirá tomar a cadeira do departamento.
— Você não vai saber se está pronta até tentar.
— Eu sei. –grunhi, apertando meus dedos contra o tecido de meu vestido.
— E você estará em um território conhecido. A ideia de conhecer o proprietário da empresa não te faz respirar melhor? –indagou.
— Quando coloquei meu currículo na editora, sequer sabia que encontraria Martini por lá. Foi outra coincidência inexplicável. Trícia já estagiava desde a faculdade naquele lugar e me convenceu a ir, numa tentativa de me tirar da depressão pós-Phillip. Uma semana antes de minha entrevista, fomos ao clube para comemorar sua pós-graduação e encontrei-me com o infeliz. –detalhei-o, mas Tom aparentava não estar surpreso. — Enfim, eu acabei lá por conveniência. Próximo a meu apartamento, pagava bem e o chefe não se surpreenderia se eu tivesse uma crise no expediente.
— Você enfrentou isso sem saber se estava preparada. Pode arriscar novamente. –encorajou-me, sutilmente. — Há mais planos em sua cabeça, eu vejo isso em seu olhar.
— Você virou médium, agora? –repliquei.
Tom inclinou-se sobre os cotovelos, aproximando sua face da minha. Senti o frescor do hálito cítrico em sua respiração contra mim, suscitando uma súbita vontade de beijá-lo. E quase o fiz, mas relembrei-me que estávamos em público.
— Eu sou muito bom em ler pessoas. Principalmente você. –vangloriou-se, dando espaço para que eu pudesse prosseguir.
— Eu andei repensando e... talvez eu faça a minha pós-graduação em literatura clássica. –falei com incerteza, porém recheada de esperança.
— Sonhe mais alto, garota. Diga-me tudo o que há nessa sua cabeça doida. –atiçou de voz rasgada.
— Mestrado, algum dia. –arrisquei. Uni ar em meus pulmões e, concentrada a não rir de mim mesma, continuei. — Doutorado e, depois, me tornar especialista em Shakespeare.
Tom formou uma expressão de deleite.
— Eu estou tão excitado agora. –rangeu, acalorando minhas bochechas rapidamente.
— Você me pediu para sonhar alto e eu sonhei alto e distante. Tudo o que eu tenho agora é um diploma em letras inglês e especialização em literatura, um trabalho do qual não sei se retornarei e uma longa jornada de terapias. Estou com 28 anos e me sinto uma inútil.
— Ei, não se cobre tanto. Assim você me faz sentir tão velho. –ralhou.
— Você é um dos melhores profissionais na sua área que, convenhamos é muito difícil se destacar e não irei enfatizar seus outros talentos. Eu jamais foquei em minha carreira e agora vejo o tempo que estou perdendo.
— Você não pode se culpar por...
— Meus transtornos? Com 29 anos, Jaime já era diretor executivo da editora e aos 31 se tornou doutor em história. E ele tem um transtorno pior do que o meu. –contra argumentei.
— Ele é um gênio do mal. –brincou. — E você certamente já sabe o discurso de não se espelhar nos outros.
Suspirei longamente, abanando as frustrações para o lado.
— Não vamos estragar nosso jantar com derrotas da vida, por favor. –sorri, voltando a bebericar o vinho. — Conte-me, qual foi o desfecho da novela da Jane?
— Essa é outra derrota da vida. -Hiddleston torceu os lábios em aparente frustração, porém, momentos depois, sorriu. — Você estava certa. Quando a pressionei para levá-la ao meu médico para confirmar a gravidez, ela se esquivou e se irritou. Até tentou jogar a carta do processo contra o braço quebrado, mas quando eu a disse que você mesma tinha dado a ideia, desistiu.
— Ah, eu também sou uma gênia do mal. Estar rodeada de homens de negócios desde criança é uma dádiva, às vezes. Chantagens movem o mundo. –brindei ao ar, libertando uma risada extasiada de sua parte.
Com a garrafa pela metade, dividimos a conta. Surpreendentemente Tom sequer levantou protestos quanto a isso. À caminho da saída do restaurante, deparei-me com alguns casais dispersados pela área externa, dançando de corpos unidos às últimas notas de uma canção. E antes de sequer deixar-me inspirar por tal romantismo clássico, senti os dedos gélidos de Hiddleston firmarem-se em minha cintura e induzirem-me a girar os calcanhares subitamente. Encostei-me em seu tronco em imediato, num movimento aparentemente coreografado por ele. Em batida sincronizada, o instrumental de A Natural Woman, de Aretha Franklin se iniciou. Entreabri a boca em reação, entretanto, o sorriso irresistível de Tom me correspondeu.
— A senhorita me dá o prazer dessa dança? –inquiriu de timbre rouco, sussurrado da forma mais segura possível.
Circundei seu pescoço, incapaz de camuflar o contentamento.
— Se eu negasse, seria uma afronta contra minha amada Aretha. –aceitei. — Ah, você precisa ouvir Alcione comigo. Preciso te apresentar o hino das suas fãs brasileiras.
Com ambas as mãos em meu corpo, Hiddleston moveu suas longas pernas em elegância invejável. Segui-o com lealdade, fazendo ressoar o bater de nossos calçados contra o piso de madeira; senti seu diafragma contrair e expandir colado ao meu tórax, evidenciando sua respiração compassada. Meu estômago esfriou torrencialmente, como se gritasse em alerta junto às minhas borboletas poéticas.
— Você tem contato com elas, agora? –retrucou.
A visão de seu rosto próximo ao meu, perpetuando longos olhares compenetrados em mim e a firmeza de seu toque na base de minha coluna era o suficiente para me sentir como a única mulher existente no planeta.
— Querido, agora eu sou uma delas.
Ele gargalhou baixo.
When my soul was in the lost and found
(Quando minha alma estava nos achados e perdidos)
You came along to claim it
(Você veio para reclamá-la)
I didn't know just what was wrong with me
(Eu não sabia o que estava errado comigo)
Till your kiss helped me name it
(Até que seu beijo me ajudou a nomear)
Como sempre me sentia em seus braços, tornei-me normal. Apenas uma garota normal, dançando com um homem incrível que, mesmo receoso, aceitava todas as faces que eu podia oferecer. E, por breves segundos, o tempo parecia ter voltado ao momento em que havíamos saído juntos pela primeira vez. Quando ele não sabia meus segredos e eu não sabia os dele. Quando a única preocupação que tínhamos era, simplesmente, nos divertir e esquecer das tragédias pessoais.
You make me feel
(Você me faz sentir)
You make me feel like a natural woman
(Você me faz sentir como uma mulher natural)
Oh baby what you done to me
(Oh, baby, o que você fez comigo)
(What you done to me)
(O que você fez comigo)
You make me feel so good inside
(Você me faz sentir tão bem por dentro)
O verde azulado de suas íris fixadas nas minhas transmitia um brilho sincero e inocente quase tão estarrecedor que senti que ele se comunicava comigo através delas. A fragrância cítrica amadeirada de seu perfume exalava por seu pescoço, fazendo-me inalar em companhia de seu cheiro natural. A barba não tirada dava-o a impressão neutra e, ao mesmo tempo, bagunçada de sua personalidade nos últimos dias.
— Desculpe por colocá-lo nessas sequências de problemas da minha vida. –pedi pela décima vez, ciente que não existia um número correto de perdões que eu poderia implorar para concertar tantas polêmicas.
— “A paixão aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõem” –citou Shakespeare em um murmúrio, causando-me uma reviravolta estomacal digna de contorção.
Maldito inglês.
Beijei-o rapidamente, incapaz de segurar o impulso. Porém, açoitando-me como um soco, lembrei-me que estávamos em público e me distanciei.
— Perdão, perdão, perdão. –rezinguei sequencialmente. — Esqueci que estávamos entre pessoas.
Tom sorriu-me torto enquanto me fitava com travessura em seus olhos.
— Para o inferno com isso. –redizendo a frase de nosso primeiro beijo, Hiddleston puxou-me de volta a seus braços. Sorri espantada, assistindo-o entrelaçar os dedos em meus cachos e tomar posse de minha boca com tamanha despreocupação e lascívia que, por fim, somente me rendi.
And I just wanna be
(E eu só quero estar)
Wanna be
(Quero estar)
Close to you
(Perto de você)
You make me feel so alive
(Você me faz sentir tão viva)
Eufórica por seu ímpeto irresponsável, sequer percebi que nos afastávamos rumo à Haverstock Hill quando enfim enxerguei a penumbra dos casarões enfileirados na avenida, esboçando a arquitetura clássica da velha Londres. Apesar da escuridão, era visível a semelhança entre as casas, todas erguidas em tijolos aparentes e cores terrosas. Hiddleston mantinha a mão sobre a minha perna, se divertindo em me causar arrepios.
— Para onde estamos indo? –questionei de olhos atentos, à procura de quaisquer vestígios de familiaridade na região.
— Estamos em Belsize Park. O que você acha? –replicou de forma óbvia, causando um rebuliço em minhas entranhas.
— Finalmente vou conhecer sua casa verdadeira?! –entusiasmei-me como uma criança prestes a entrar num zoológico. — Bardo, estamos caminhando com passos longos, não acha?
— Estamos saindo há um ano e você não conhece a minha casa. Os passos estão quase parados, Amélia.
Havia humor em sua postura. Poucos minutos depois aportamos diante de uma residência de fachada elegante, discreta e de aparência aconchegante. O jardim de entrada descortinava o perfeccionismo, com a grama inteiramente podada como um tapete verde salpicado de neve; luzes coloridas enfeitavam o trajeto do portão ao interior, assim como a frente da garagem. Arbustos iluminados seguiam até a porta principal como um labirinto em miniatura, suscitando uma risada minha.
— Isso é tão diferente do que eu esperava. –comentei, aconchegando-me em meu casaco enquanto Shakespeare relutava em encontrar a chave certa.
— O que você esperava? Uma mansão de quatro andares, seguranças e portas eletrônicas?
— E mordomos. Anjos feitos de luzes de natal e esculturas de gelo no jardim. –gracejei.
— O meu estilo é clássico. Gosto de me manter assim. –enfim abriu a porta, dando-me acesso. — Sinta-se em casa.
O interior me fez apaixonar à primeira vista. O teto alto, em contraste com as paredes totalmente brancas adornadas de quadros abstratos e luzes de led em pontos estratégicos embutia um ambiente acolhedor. O piso de madeira lustrada, assim como a estrutura de apoio do telhado assemelhava-se com a parte interna de uma casa de campo. Vaguei os olhos por cada centímetro de sua residência, apaixonando-me por sua essência, sua organização e a pessoalidade de Tom em cada singela decoração. Porém, como cereja do bolo, visualizei uma parede repleta de livros na área reservada abaixo da escada. Boquiaberta, exprimi um grito contido. Tom e eu nos entreolhamos, cúmplices, e com um aceno de cabeça dele, corri até sua preciosa coleção com êxtase.
— Puta merda. –percorri seus exemplares com a ponta dos dedos, encantada. Perdi-me nos grandes autores, lidando com um frio na barriga infantil ao ler sua grade preferida. Dickens, William Boyd, T.S Elliot, Austen, Lord Byron, as irmãs Brontë, Wordsworth, Agatha Christie e, em um local específico e particular, William Shakespeare. Eu poderia ter um orgasmo literário ali mesmo.
— Tenho algo para mostrar a você –disse, erguendo o indicador até um exemplar bastante familiar para mim. — O Alquimista.
— Você leu Paulo Coelho? –rezinguei.
— Eu sou fascinado pelas obras dele. –confirmou veemente. Respirei fundo, obrigando meu útero a não deixar de existir.
— O que eu faço com você, Tom Hiddleston? -suspirei. — Eu tenho alguns problemas políticos com esse cara, mas, não vou culpar os livros. -alfinetei. Segurei sua gravata, contendo-me em vão. — Vamos à pergunta primordial. Onde está Machado de Assis? -ele franziu o cenho. — Ah, cacete. Você nem reconheceu os olhos de cigana oblíqua e dissimulada quando eu citei na sessão. Por onde você esteve, homem?
Ele circundou minha mão, mantendo os dentes descortinados em riso.
— Isso me parece mais grave do que não conhecer Ratatouille. –semicerrou as pálpebras.
— Que bom que sabe. –articulei. — Vou te dar uma lista de escritores que você precisa conhecer, urgentemente.
— Eu aceito.
Reprimi um sorriso, revirando-me novamente para a estante descomunal. Constatei, mais uma vez, nossa semelhança em gosto literário. Reconheci exemplares dos quais havia em casa, até mesmo de autores menos consagrados. Tínhamos tanto o que debater, tantas obras para discutir e teorizar, inúmeras histórias em comum para se conversar que, naquele momento, percebi que havíamos voltado a ser como as pessoas do início, os dois sem rumo que preferiam dialogar sobre Shakespeare num pub do que qualquer outra coisa no mundo.
— Qual é o seu livro favorito? –perguntei, ciente da dificuldade da resposta.
Hiddleston, porém, sequer ponderou.
— Anna Karenina.
— Liev Tolstói? Por essa eu não esperava. –encarei-o. — Apreciou as paranoias sobre infidelidade amorosa?
— Pode-se dizer que fiquei tão paranoico quanto ela. –deu o braço a torcer.
— Você vai adorar Machado de Assis. –reafirmei, rindo.
— E quanto ao seu livro favorito? –rebateu.
— Senhora, de José de Alencar. Certamente você não conhece. –pausei. — Mas, de modo geral, meu segundo favorito seria O Código Da Vinci, do Dan Brown.
— Teorias da conspiração. Você não sai da linha da loucura nem nos livros –motejou em tempo que retirava o paletó e o jogava sobre o sofá. Ofereceu-se para pegar meu casaco e eu o dei. — Quer um pouco de chá?
— Por favor.
Seguimos até a cozinha, a qual também arrancou um suspiro de encanto por minha parte. Apesar de ser apenas um pouco maior do que a de seu apartamento, essa exalava uma familiaridade íntima. Tom parecia um gigante em suas dependências. Movendo-se com graciosidade, conhecendo-a perfeitamente bem, apanhou o bule e os saquinhos de chá com uma rapidez invejável. Encostei-me no balcão, assistindo-o tomar as rédeas do fogão. Com as mangas da camisa arqueadas, seu antebraço desnudo o deixava com aparência sensualmente masculina. O colete, demarcando seu tronco e os músculos de seus braços causou-me um rápido grunhido em minha garganta, o que me induziu a morder a parte interna de minhas bochechas. Maldita tensão sexual.
Os vestígios do beijo recente ainda permaneciam em mim, como uma lembrança programada para me inflar.
— Leite? –perguntou, descontraído.
Sacodi a cabeça, retomando o controle de meus pensamentos.
— Não, obrigada.
Tom se abeirou, a colocar a água para ferver. Ele certamente notara meu estado de nervos desde que começara a me atiçar no restaurante e, naquele instante, sua postura sóbria e centrada parecia ser outra provocação intencional.
— Você está se divertindo, não está? –interroguei, quase descrente com sua paciência.
— Ver seu rosto corado em excitação é quase tão recompensador que notar que você não para de apertar as pernas uma na outra. –observou de modo sutil, dissipando seu timbre rouco com despreocupação. Quis socá-lo.
Em contradição, puxei a saia de meu vestido até à altura do quadril, desvelando a cinta liga preta presa à minha coxa. Hiddleston fixou suas pupilas na novidade, desprendendo um sopro pesado pelo nariz. Ergui uma das sobrancelhas, oferecendo-o uma olhadela travessa.
— Você acha mesmo que eu sairia com você despreparada, Hiddleston? –aticei.
— Eu fico feliz que não. –balbuciou.
— Você me viu com algo semelhante ontem, quando fui parar em sua porta. Contudo, as circunstâncias não eram muito boas pra você se divertir com a visão. –ergui a perna ao ar, com humor. — Amostra grátis.
Os dedos de Tom rodearam meu tornozelo, deslizando por todo o trajeto de minha perna enquanto se encostava a meu tronco. Grudada em seu corpo, levantei a cabeça para fitá-lo. Com a mão em minha coxa arqueada e a pélvis entre minhas pernas, senti o volume de suas calças contra o tecido de minha calcinha. Arfei.
— Você me deixa perturbado. –sussurrou.
— Isso é bom? –articulei em um murmúrio, incapaz de retirar meus olhos dos dele.
Em reação imediata, Hiddleston forçou seu quadril contra o meu. Com o nariz tocando no meu, inspirei a fragrância sensual do vinho em seu hálito quente e respirei com dificuldade após observar sua boca entreaberta. Mordi seu lábio inferior, puxando-o com lascívia. Tom inspirou o ar para fora.
— Isso é perigoso.
Sua boca capturou a minha em seguida, sugando meu fôlego em um beijo violento. Gemi com sua língua na minha, desbravando cada centímetro de meu interior como se estivesse em busca de algo que somente ele podia encontrar. Com as mãos na parte traseira de meus joelhos, colocou-me sobre a superfície do balcão. Segurei-me em seus ombros, trazendo-o para mais perto de mim, como se isso ainda fosse uma opção viável. Entrelacei minhas pernas ao redor de sua cintura, movendo-me contra seu membro desperto em tempo que ele alçava minhas costas e me prendia contra si. Seus beijos se redirecionaram para meu pescoço, dando-me acesso para afrouxar sua gravata e tirá-la num puxão abrupto; abri seu colete apressadamente e o escorreguei por seus braços até que caísse no chão em descuido. Ele sequer se importou. Desfivelei seu cinto, mergulhando minha mão em sua calça. Tom solavancou de prazer ao meu toque em seu membro, apertando-o e massageando-o com tamanha avidez que acabei por culpar o tempo que passamos sem sexo um com o outro. Deslizei por suas veias ressaltadas, friccionando contra a pele quente de sua rigidez. Relembrei-me do tamanho indiscreto de Hiddleston e torturei-me com a lembrança de senti-lo dentro de mim, tirando minha sanidade por longos minutos. Impaciente e tentada com a ideia, resgatei o preservativo de sua carteira com rapidez e o entreguei, porém, acenando negativamente com a minha pressa, Tom se abaixou repentinamente.
Então, soube o que ele tinha em mente.
O vi morder a cinta liga em minha coxa, desprendendo-a somente para tirar minha calcinha. Com a peça fora de jogo, voltou a firmá-las novamente. Apertei os lábios, observando-o afastar minhas pernas e colocá-las sobre seus ombros e puxar-me ligeiramente contra seu rosto. Segurei-me na beirada do balcão antecipando o contorcer de minha coluna com a sensação de sua boca em minha intimidade úmida. Ecoei um gemido alto, concentrando-me no prazer de seus movimentos sobre meu ponto de prazer. Ele brincava ao friccionar seus lábios em meu clitóris e se arrastar até minha entrada, afundando-se nela com a ponta da língua. Agarrei seu cabelo em busca de abafar o deleite, porém, a visão de sua cabeça entre minhas pernas era o suficiente para me tirar quaisquer forças. Ele parecia focado, faminto, degustando meu gosto como se fosse a primeira vez. Fazia-me sentir como uma especiaria rara, da qual somente ele tinha acesso. E esse pensamento aparentava não ter lógica em minha mente, mas nada mais tinha sentido naquele momento. Movi meus pés por suas costas, torcendo meus dedos em tempo que chamava seu nome com dificuldade. Meu corpo tremeu violentamente, fazendo-me sentir o aperto em minhas paredes ao libertar um orgasmo forte. Ofeguei de voz perdida.
Hiddleston resvalou os dedos por seu queixo, sugando minha umidade sem vergonha alguma. Só tive forças para sorrir frustrada.
— Me fode de uma vez. –sibilei em tom pedinte, inquieta com a visão de sua masculinidade diante de mim.
Ele retirou meu vestido quase simultaneamente ao meu pedido, jogando-o em direção à porta. Cobriu-se com o preservativo e, seguidamente, mergulhou dentro de mim em uma lentidão quase torturante. Meu rosto se esquentou em reação a sensação avassaladora, suscitando um calor irresponsável em meu baixo ventre. Perdi as estribeiras em sua primeira investida, fazendo-me soltar um palavrão sujo que o fez rir. Desci até a curva de sua coluna, firmando minhas palmas em seu traseiro enquanto ele golpeava duramente contra mim, possuindo-me com tanta vontade que junto de minha voz, o barulho de nosso choque corporal preenchia o cômodo. Fechei os olhos, mordendo seu ombro e permitindo que ele avançasse sobre mim da forma que desejasse. Seu rosnado cortado acima de ouvido fazia-me arrepiar por inteiro, como um urro contido que ele não tinha vergonha de soltar. Com o torpor, contorci em súbito minha coluna para trás em um grito; Tom lambeu minha clavícula, resvalando caminho até meus seios, abocanhando-os em tempo que os apertava sutilmente.
Ao voltar para minha boca, beijei-o com urgência. Visualizei seu rosto suado, vermelho, ofegante e franzido em uma expressão animalesca quase desesperadora. O que, de fato, não o diferenciava de mim. Nos entreolhamos, incapazes de piscar ou mudar o foco de visão. Assistimos um ao outro gemer, balbuciar frases desconexas e sujas, pedidos descorteses e palavras proibidas em uma conversa civilizada. Era como uma terapia verbal. Insaciado, Hiddleston carregou-me até o sofá e colocou-me em seu colo. Com os joelhos apoiados nas almofadas, segui o movimentar de suas mãos em meu traseiro, forçando-me a cavalgar sobre suas pernas. Eu não podia descrever a sensação de tê-lo daquela forma brutal, senti-lo o mais profundo dentro de mim, possuindo-me sem cuidado algum e ao mesmo tempo tão conectado comigo. Mesmo sem fôlego, Tom procurava me beijar. E somente dessa forma meus gritos foram camuflados.
— Eu estava enlouquecendo sem te comer. –soprou entredentes. — Sem a sensação do meu pau dentro de você.
— Você não parece tão cortês agora. –relutei em provocar.
— Você me faz virar um animal descontrolado. –afundou seu rosto na curva de meu pescoço, mordendo o lóbulo de minha orelha. — E eu sou incapaz de tentar ignorar isso. –sussurrou.
Tom guiou meus quadris num rebolado voluptuoso, suscitando o toque de seu membro em um ponto de prazer desconhecido. Arfei.
— Não ignore.
Senti suas estocadas se tornarem mais rápidas, evidenciando que seu ápice estava prestes a vir. Ainda sobre meu ponto de prazer, Hiddleston perpetuou seus movimentos coordenados e impacientes enquanto abraçava meu tronco, fazendo-me debruçar sobre ele. Encostei minha testa na sua, exausta, prestes a ceder. Ele veio primeiro, grunhindo rasgado contra minha face. Em sequência, eu, num gemido longo que quase me fizera chorar. Meu corpo agradeceu pelo novo Tom agressivo, mas minha mente brincou com a dualidade mais uma vez. Ignorei-a, totalmente.
Hiddleston retirou os cachos bagunçados de meu rosto, dedicando-me um sorriso cansado irresistível. Suas íris me miravam com um brilho encantador, quase apaixonados. E eu não soube lidar com aquilo. A resposta à sua declaração quase escapou de minha boca.
Eu também te amo.
Mas só vou dizer isso quando meus sentimentos pertencerem somente a você. Porque você não merece menos que isso.
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