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História Lar é onde o coração está - Capítulo 79


Escrita por: persefone_tenou

Capítulo 79 - Capítulo 79


Diego não dormiu direito naquela madrugada de sexta para sábado. Cada vez que Paulo levantava para vomitar, ele também acordava e ia checar o menino.  Mesmo após Marcelo se oferecer para ir em seu lugar algumas vezes, o rapaz não conseguiu retomar o sono.

Ver o garoto passando mal daquele jeito cortava seu coração, porque ele queria poder fazer algo para que Paulo melhorasse, mas, segundo tinha pesquisado na internet, naquela primeira fase da virose, tudo o que podia fazer era oferecer água e comidas leves para o menino.

Quando foi checar a temperatura do irmãozinho em certo momento, se assustou em como ele estava frio de suor, sendo que até algumas horas atrás seria possível até ferver água na testa do menino.

Depois de levantar pela enésima vez naquela madrugada, ao voltar para o quarto e se deitar ao lado do marido, Diego declarou categórico que, “assim que amanhecer, eu vou ligar pra Mayara e pro Joaquim e dizer que vamos precisar adiar nossa saída”.

— Tem certeza? Virose de criança costuma melhorar em pouco tempo... — Marcelo não achava justo o marido abrir mão de algumas horas de folga para cuidar de Paulo, mas compreendia a preocupação do outro.

— Eu já disse, não ia ter cabeça pra sair e deixar ele nesse estado. Mesmo sabendo que você ia cuidar bem dele, eu só não conseguiria curtir a noite e... — parou a frase no meio ao ouvir a porta do quarto na frente do deles se abrir mais uma vez e fez menção de levantar, quando foi impedido com delicadeza por Marcelo.

— Deita e tenta dormir um pouco. Se você ficar doente também, como vai poder cuidar dele? Eu vou. — antes de sair do quarto, Marcelo deu um beijo gentil nos lábios do marido e o viu suspirar cansado e aceitar a sugestão, se aninhando sob as cobertas.

Assim que saiu do quarto, encontrou o menino que vinha do banheiro, pálido e tremulo a ponto de quase desmaiar em seus braços. Marcelo o amparou e ajudou o garoto a ir até a cozinha, onde serviu meio copo de água sem gelo.

— Não quero água... — resmungou o menino, ao que Marcelo insistiu com gentileza, dizendo que bebesse só um pouquinho. Enquanto falava, o rapaz pensou que se o menino não parasse de por tudo pra fora, logo teriam de correr com ele para uma UPA, para tomar soro.

Só de pensar naquele braço tão frágil sendo furado por uma agulha rombuda de soro, ele já sentiu um calafrio de pavor e considerou que precisariam dar um jeito de cortar aquele vomito em casa mesmo. Se até para ele, que era um adulto, ir na UPA era algo traumático, imagina para uma criança?

— Marcelo... Eu tou com fome. — acabou rindo ao ouvir o pedido do garoto, cujo estomago parecia finalmente ter assentado. Após dar uma conferida rápida pelo celular no que se podia comer estando com virose, viu que sopa era uma opção.

— Tem um pouco de canja de galinha que a Mayara fez hoje cedo pra você. quer? Certo, eu vou esquentar, vai bebendo a água por enquanto. Um golinho por vez. — enquanto esquentava a sopa, conferiu outros pratos sugeridos e relembrou para quais deles tinham ingredientes na geladeira.

Eram três horas da manhã e Marcelo estava sentado à frente de Paulo, assistindo o menino tomar colheradas de canja como se não comesse há dias. Teve de alertá-lo para diminuir o ritmo algumas vezes e até ameaçar que se continuasse daquele jeito, iria passar mal de novo.

— Pronto! Acabei. — declarou o garoto enquanto empurrava o prato vazio para o meio da mesa. Marcelo lavou as poucas peças de louça e acompanhou Paulo de volta até o quarto, para então cobri-lo e lhe dar um beijo de boa noite na testa.

— Tá tudo bem? O mal estar passou? — perguntou enquanto olhava para o rostinho bem menos abatido do menino que concordou com um meneio vigoroso de cabeça.

— Certo então rapaz. Agora, vá dormir e já sabe né? Qualquer coisa, só bater aqui na porta do nosso quarto. Dorme bem. — acendeu o abajur de Homem-Aranha na mesinha de cabeceira e ao sair, ainda deixou uma fresta da porta aberta. Paulo já tinha caído no sono antes que ele estivesse fora do quarto.

Quando Marcelo enfim deitou ao lado de Diego, sentiu o outro envolvê-lo com os braços e perguntar meio sonolento como Paulo estava, ao que respondeu que estava bem melhor. “Até conseguiu comer um pouco”.

— Que bom... Obrigado por cuidar dele. — Marcelo esboçou um pequeno sorriso e abraçou o marido pela cintura, sentindo ele se aconchegar ao seu corpo. Pensou em dizer que não tinha do que agradecer, pois também gostava do menino como se fosse seu filho, mas no fim, achou melhor não falar nada.

***

Joaquim acordou animado naquele sábado, pois ia sair mais tarde. Os últimos dias foram bem solitários para ele, já que Francisco precisou fazer hora extra na editora. O loiro vinha saindo do trabalho, indo até o apartamento, onde tomava um banho rápido e corria para o curso técnico. Na volta pegava o metrô cheio, como uma lata de sardinhas e ao chegar em casa, só queria tomar outro banho e dormir. Às vezes de madrugada acordava e encontrava Francisco dormindo ao seu lado e ele até o abraçava, mas continuava adormecido.

Mas hoje ele ia sair e amanhã era domingo.

Foi por volta do meio-dia que recebeu a ligação de Diego. Apesar de todo o trabalho, Francisco ainda fazia questão de lhe levar o almoço e comer com ele, então, também estava ali quando o celular de Joaquim tocou.

— Diego, oi, tudo certo pra hoje a noi... — Francisco observou o rosto do namorado sofrer uma mudança brusca de expressão, da pura felicidade para uma total decepção em questão de segundos.

— Sei, certo, eu entendo... Melhoras pra ele. Não, claro! Nem tem como. Ah sim, essa época de frio dá muito mesmo. Tudo bem, a gente remarca pra depois. Espero que o Paulo melhore logo. Obrigado por avisar. Até. — após desligar, Joaquim ainda ficou segurando o aparelho mais alguns segundos antes de depositá-lo sobre a pequena mesa que havia na copa da loja.

— O que aconteceu? — perguntou Francisco, mas já tendo uma suposta idéia do motivo. Ouviu o namorado contar sobre como o irmãozinho de Diego voltou doente da escola e que por ainda não estar bem, o outro rapaz não se sentia confortável de sair e deixá-lo sozinho.

— Poxa... Que chato isso. Mas, vocês vão remarcar essa saída, certo? — Joaquim disse que sim, mas sua voz saiu meio abatida, como se tudo não passasse de uma promessa por educação.

— Não fica assim... — tentou segurar a mão do loiro, mas o rapaz se esquivou com um movimento reflexo.

— É só que eu tenho tão poucos amigos e... Ah, deixa pra lá. — o loiro esboçou um pequeno sorriso doloroso e começou a se ocupar de juntar as marmitex e talheres de plástico.

Estava descartando o que tinha coletado, quando se sentiu ser abraçado por trás e experimentou o aroma delicioso do perfume amadeirado de Francisco e em resposta acabou relaxando dentro do abraço.

— Eu sinto muito que isso tenha acontecido, mas, você poderia sair com a Mayara e a Letícia, o que acha? — ouviu em resposta “e ficar segurando vela?”. Francisco queria fazer algo para animar o namorado, mas não podia não ficar até mais tarde na editora. Por fim, beijou a curva do pescoço do namorado, aproveitando a diferença de altura e fazendo-o caber todo dentro do seu abraço.

— Olha, eu preciso ir, mas, você sai agora a uma certo? Então, por que não vai no shopping? Assistir um filme ou algo assim. — Joaquim pensou em responder “ir sozinho?”, mas, no fim acabou aceitando a sugestão.

— Vem, eu te dou uma carona. — no trajeto até o shopping que escolheu, o loiro conversava com o namorado, chegando a conclusão de que ele precisava começar a sair sozinho.

— É, não é ruim passar um tempo sozinho. Claro que eu adoro sair com você e tenho certeza que o resto do pessoal também gosta, mas às vezes, a gente tem de ser a nossa própria companhia. — se despediu de Francisco beijando-o nos lábios com certa urgência e pensando mais uma vez quando é que eles teriam um tempo para fazer algo mais intimo de novo.

— Me manda uma mensagem quando estiver indo pra casa. Talvez eu te faça uma surpresa. — concordou enquanto descia no estacionamento e chamava o elevador para subir ao shopping.

***

Mayara desceu para tomar café, apesar de já ser mais de uma da tarde, mas era final de semana e por isso suas mães a deixavam dormir o quanto queria. Assim que a viu, Lola a cumprimentou com “Apareceu a margarida” enquanto a seguia até a cozinha.

— O que você quer comer, filha? — ao que a moça respondeu que ia se virar e para que a mãe não se preocupasse. Em resposta, recebeu um beijo suave no topo da cabeça e um afago gentil da mãe.

— Eita menina, quase mandei a Lola lá em cima te chamar. Tá tudo bem, filha? — Joana perguntou enquanto enchia uma caneca com café da garrafa térmica e ouvia a filha contar que Paulo estava com uma virose.

— Diga para o Diego que o menino tem de beber muita água e comer coisas leves, sopa, purê, nada com molho ou muito açúcar. — informou Lola, ao que Mayara respondeu sorrindo com gentileza que já havia informado o rapaz sobre isso.

— Pobrezinho. Virose num final de semana. — murmurou Lola ao mesmo tempo em que retornava para a sala.

— Quando ele melhorar peça para que o tragam aqui para passar umas horas com a gente, filha. Aquele garoto é um raio de felicidade. — comentou Joana enquanto puxava uma cadeira e se sentava perto de Mayara.

— Pode deixar mãe, eu vou falar. — estava para morder o pão com manteiga que tinha preparado, quando sua mãe Joana perguntou sobre Letícia, como iam as coisas e quando elas a veriam de novo.

— Ah mãe, está tudo indo... Bem. A gente se gosta e se dá bem. Agora, sobre ela vir aqui de novo, vai depender da folga dela... — Letícia tinha folga naquele sábado e elas iam sair com Diego e Joaquim, mas por conta do probleminha de saúde de Paulo, o passeio foi adiado.

— E quando seria essa folga? — após ponderar muito sobre contar ou não, Mayara informou que Letícia estaria em casa naquele final de semana, ao que Joana gritou para Lola “O que acha de convidarmos a namorada da Mayara para jantar aqui hoje? Dá pra receber?”

Em resposta, Lola veio da sala, dizendo para a esposa parar de gritar, porque “o bairro inteiro vai te ouvir e você vai forçar seu coração, mulher!” ao que Joana rebateu com “E desde quando a corda vocal fica no coração?” e a discussão teria durado horas, se Mayara não tivesse interferido e falado que ia convidar Letícia.

— Ótimo! Então está combinado. — declarou Joana, ignorando a filha que frisava que a outra moça talvez não pudesse vir.

***

Enquanto isso, na casa de Diego e Marcelo, o estomago de Paulo parecia ter afirmado, mas eles ainda não queriam arriscar dar nenhum alimento com tempero mais forte para o menino.

Naquele momento Marcelo espremia algumas batatas que tinha cozido e estava preparando um purê, enquanto Diego embrulhava o irmãozinho em mais um cobertor, transformando-o em um rocambole humano.

— Di, você vai superaquecer o menino assim. — Marcelo comentou enquanto misturava os ingredientes do purê e recebia em resposta um olhar meio enviesado por parte do marido, que resmungou “Ontem ele tava gelado de suor...”.

Era verdade, na madrugada o menino estava coberto de suor frio, por conta do mal estar constante, mas agora as coisas pareciam ter melhorado. Claro, ele ainda estava febril e não conseguia manter nada muito sólido no estomago, mas teve  alguma melhora.

***

Joaquim voltava para casa. Tinha ido ao cinema e visto alguma bobagem que estava em cartaz e apesar de ter servido para ocupar o dia, não foi assim tão satisfatório quanto ele esperava.

Durante o trajeto de volta para casa, ele pensava sobre como apesar de toda a estabilidade, sua vida parecia chata. O trabalho, o curso, tudo parecia tão monótono e previsível e claro, ainda tinha seu relacionamento com o namorado que estava dando uma esfriada e o fazia se preocupar.

Quando entrou no apartamento, se surpreendeu ao encontrar a luz da sala acesa. Chamou por Francisco, mas antes de receber uma resposta, viu a mesa que ficava na pequena cozinha, arrumada para dois.

— Oi, gostou da surpresa? — viu o namorado saindo do pequeno corredor que levava ao quarto e sorriu. Ele estava com o cabelo úmido e cheirando a sabonete e quando se aproximou e o beijou com suavidade nos lábios, aquele aroma delicioso de banho tomado envolveu Joaquim.

— É, adorei encontrar você aqui em casa mais cedo. — Francisco trajava um pijama de malha macia e o contato do tecido contra o rosto de Joaquim lhe causou um arrepio gostoso.

— Mas esta não é a surpresa... Vem comigo. — Francisco segurou a mão do namorado e o puxou com delicadeza até a mesa, onde o outro rapaz enfim viu o que havia sobre a mesa. Duas porções de pad thai, um prato da culinária tailandesa. Ele sabia o quanto Joaquim gostava de comida asiática e achou que seria uma boa forma de tentar animá-lo.

— Você... — murmurou o loiro enquanto exibia um diminuto sorriso de satisfação para o namorado, que estava puxando a cadeira para ele se sentar.

— Eu sei que não é tão legal quanto sair com os amigos, mas... — impediu Francisco de terminar a frase, tomando seus lábios em um beijo. A diferença de altura de alguns centímetros entre eles obrigava Joaquim a ficar na ponta dos pés para beijar o namorado, mas ele não se incomodava.

— Foi uma surpresa incrível. Agora vamos aproveitá-la. — Pois é, sua vida podia ser meio monótona, mas quando estava com Francisco, ela saia um pouco daquele padrão chato.

***

Durante o resto do dia, a febre de Paulo foi baixando e os demais sintomas da virose foram começando a querer abrandar. Claro que o menino ainda correu para o banheiro algumas vezes e teve variações de temperatura constantes, mas comparado com o dia anterior e com a madrugada daquele dia, havia ocorrido alguma melhora.

Naquele momento Diego estava sentado no sofá, Marcelo do outro lado, com o menino entre os dois, enrolado em um cobertor, meio acordado, quase cochilando. E então, o casal exausto trocou um olhar de alivio ao notarem que o menino tinha adormecido.

Diego mediu a temperatura do irmãozinho com as costas da mão, constatando que a febre havia baixado e não havia suor frio. Ele em seguida fez menção de se levantar e pegar o menino no colo, para levá-lo até o quarto, mas Marcelo o impediu, carregando Paulo primeiro.

— Eu não estou doente, sabia? — resmungou Diego, meio ofendido, ao que em resposta o outro disse.

— Sei que não está, mas ontem e hoje foi bem cansativo, não é? Você tá exausto, posso ver isso no seu rosto. Só vou colocar ele na cama e volto pra cuidar de você, ta? — Marcelo deu uma piscada marota com o olho direito e em seguida saiu da sala, para colocar o menino na cama.

Voltou alguns minutos depois, munido de um cobertor da cama deles, no qual envolveu o marido e a si mesmo enquanto puxava o outro para perto de si. Em resposta, Diego suspirou cansado e se permitiu ser envolvido pelo abraço morno de Marcelo.

Tomar conta de Paulo havia sido cansativo, isso não podia negar, mas não se arrependia nem um pouco de ter desmarcado de sair para ficar em casa e cuidar do menino. Ele se aconchegou ao marido e pensou em como o apoio dele era importante.

Quando ergueu o rosto para agradecer por Marcelo ficar ao seu lado, descobriu que o outro havia adormecido e em resposta apenas sorriu e apoiou a cabeça no peito macio do marido.

Continua...

 


Notas Finais


Nota da autora:

O plano era terminar esta história agora em 2024, mas por conta de todos os hiatos que eu acabei caindo, acho que não vou conseguir – tudo bem, digo, acho que quem está acompanhando não tem a mesma pressa que eu para que a história chegue ao fim.

Eu já comentei no capt anterior que acredito que ninguém lê as notas finais, mas mesmo assim quero continuar fazendo-as, porque é aqui que eu compartilho um pouco do making of da história, o processo de desenvolvimento dos capítulos, é aqui que eu tento conversar com você, pessoa que está lendo e acompanhando a história.

Prometo que em breve teremos mais uma cena quente entre algum dos casais, mas, como isso aqui é uma história slice of life/cotidiano, tal cena precisa de um contexto prévio.

Enfim, espero que tenha gostado deste capitulo, se puder deixar um comentário, me faria muito feliz.

E também gostaria de convidar você a ler meus outros projetos completos aqui no perfil – e alertar que se tudo der certo, em 2025 teremos projetos novos, um deles será um isekai e outro será uma narrativa de fantasia, se você se interessou, fique de olho nas atualizações do perfil.

Obrigada por ler até aqui e nos vemos no próximo capitulo.

Perséfone Tenou.


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