Naquela noite, a chuva caía sem parar, não dando sinais de que iria dar uma trégua. A pequena garota terminava de fechar a lanchonete onde trabalhava. Em suas mãos, sustentava o guarda-chuva, impedindo que as gotas grossas batessem contra o próprio corpo. Ela suspirou, cansada, enquanto organizava a mochila nas costas e o casaco para não sentir frio.
No estabelecimento ao lado, um garoto de longas mechas pretas com as pontas pintadas de verde menta olhava distraído os pingos de chuva bater contra o chão. A pequena ficou encarando-o até tomar coragem para chegar perto, afinal, ele era seu crush desde o colegial. Muichiro nunca deu atenção às investidas dela, nem parecia que ela existia para ele. Ao longo do tempo, aquele amor que sentia por ele foi se esvaindo aos poucos. Mas isso não significava que estava morto por completo, sempre suspirava apaixonada ao ver o garoto distraído.
Cuidadosamente, ela chegou perto, parando ao lado dele. Tokito era tão distraído que nem percebeu a chegada da menor, foi preciso que ela chamasse sua atenção tossindo falsamente. Aqueles olhos verdes lentamente prenderam-se na garota, era sempre assim quando ficava perto dele, tudo ficava em câmera lenta. Respirou fundo, virando sua atenção para outro lugar, percebendo que havia ficado com as bochechas quentes.
— O-oi! Quer vir comigo? Moramos quase perto um do outro. – ela se amaldiçoou por gaguejar no início, se achava aquela menininha do colegial novamente, onde mal conseguia formar uma frase sem errar.
— Vou esperar passar. – Tokito respondeu simples. Seria mentira falar que não se arrepiou ao escutar a voz dele, agora madura e firme, mas sem perder sua essência calma.
— Tá muito forte! Não vai passar tão rápido. – sempre foi uma garota insistente e não aceitaria um "não" tão fácil assim, e por incrível que pareça, ele sabia disso.
— Ok... – decidiu não contrariar. Pegou o guarda-chuva, visto que ela era um pouco mais baixa, porém nem tanto. Muichiro também era baixinho, achava até que a diferença era de seis centímetros.
Ambos tiveram que encostar os braços um no outro para que coubessem bem abaixo da proteção contra a chuva. Nervosismo era a emoção que dominava a garota. Não devia estar assim, disse várias noites de frente ao espelho que esse amor iria sumir e nunca mais voltar. Mas talvez devesse confessar tudo novamente, ele já estava mais maduro, poderia entender bem os sentimentos dela agora. Ela só precisava buscar coragem antes de tal ato, sentia que agora seria diferente.
Muichiro, por outro lado, estava perdido em pensamentos, como sempre. Mas os pensamentos sempre eram em como amava o perfume de rosas que exalava da garota, e em como aquela voz suave ecoava em sua mente, não entendia o motivo. Tokito era horrível com palavras e sentimentos, não sabia agir bem, por isso, na primeira vez que a garota se declarou, não deu a mínima. Até ambos se formarem, ele sentia, de alguma forma, saudades de ter a companhia dela no intervalo e de ver as expressões envergonhadas e as falas tímidas. Era uma leve paixão, porém Muichiro não entendia.
Um suspiro longo e alto escapou dos pequenos lábios da menor. Muichiro tratou de prestar atenção, só que não direcionou o olhar para ela, deixou os sentidos bem alertas.
— Muichiro! Bem, aproveitando o momento, eu queria dizer que não aguento guardar isso pra mim. Sabe, cansei de me declarar e tudo ser em vão, cansei de ser idiota! Eu passei muito tempo tentando me ajeitar do jeito que eu acho que você gostava. – fez uma pausa, sentindo as mãos trêmulas e o coração acelerado, se continuasse assim, iria chorar.
— Eu... – Muichiro tentou falar. Mas rapidamente você se colocou na frente dele, negando com a cabeça.
— Me escuta! Como sempre fez.. Só quero dizer que vou fazer o possível pra te eliminar de vez, e jamais ele vai renascer de novo. Por mais que isso machuque meu coração! Eu sei que vou conseguir. – seu tom de voz era determinado, estava disposta a matar de vez aquele sentimento, coisa que nunca deveria ter sentido antes, se ao menos tivesse superado na época.
— Eu não sei o... – novamente foi interrompido, dessa vez com um beijo na bochecha. Tokito sentiu elas esquentarem, indicando que havia corado rapidamente.
— Tudo bem! Minha casa é aqui, pode levar o guarda-chuva. Amanhã você me entrega. – ela sorriu, acenando, enquanto corria até sua casa o mais rápido possível, sem dar tempo de escutar o maior.
Muichiro levou a mão até sua bochecha beijada, paralisado ali no meio da calçada. Lembrou de algumas conversas dos amigos, valia a pena deixá-la ir? Perder a pessoa que trazia tranquilidade a si apenas com a voz?
Quando a garota conseguiu entrar em casa, encostou na porta, deixando o corpo escorregar sobre ela. Queria muito chorar, mas não podia, e nem iria, chega de chorar por amor não correspondido, não ia ser mais aquela menininha boba. Mas será que havia feito certo?
Uma explosão de sentimentos invadia o garoto. Ele largou o guarda-chuva e direcionou o olhar até a porta da casa dela.
A garota se permitiu chorar, precisava tirar tudo aquilo de dentro. Doía, porém seria pior conviver com isso pelo resto da vida.
A campainha tocou, rapidamente a garota limpou as lágrimas e colocou um sorriso no rosto. Ficou confusa ao ver ele molhado enquanto ofegava pela pequena corrida até sua porta, pensou em questionar. Mas não deu tempo, quando parou para raciocinar, Muichiro já havia colado corpo ao dela e capturado os lábios da menor. As mãos suaves pousaram na cintura dela, possessivo, como se a qualquer momento ela pudesse fugir, de novo. Enquanto ela rodeava seus braços no pescoço dele, mal conseguindo acreditar naquilo.
De início, era apenas um selado. Mas a cada segundo se tornava intenso, quando menos se esperava, o beijo se tornava algo profundo. As línguas travavam uma guerra, meio desajeitadas, buscando explorar uma à outra. Tanto a garota quanto Muichiro eram inexperientes, mesmo assim, pareciam conhecer a boca um do outro há anos. O ar faltava aos poucos. Tokito mordeu o lábio inferior dela, como havia uma vez visto Inosuke fazer, colando as testas logo em seguida, tentando controlar a respiração.
— E-eu... – dessa vez, você quem foi cortada, com uma risada fofa ao seu ver, Tokito conseguia te deixar encantada com tudo que fazia, sem nem perceber.
— Desculpe! Eu não sei me expressar bem, me acho um bobo por isso. Mas gosto do seu sorriso, da sua voz perfeita, do seu olhar encantador, principalmente do seu cheiro. Acredita que, em sonhos, consigo sentir ele!? É estranho! A sensação que tive sabendo que poderia perder isso tudo foi um aperto no meu coração. – Muichiro sorriu igual uma criança inocente, talvez ele ainda fosse uma criança doce, fofa, inocente e muito confusa.
— Muichiro! Isso foi lindo! V-você gosta de mim? – seus olhinhos brilharam em expectativa, esperava uma resposta positiva, mesmo que todas palavras já tivessem dito tudo.
— Desde a primeira vez que escutei sua voz, eu acho. – ele descolou a testa da sua, olhando seu rostinho corado. Ambos eram fofos demais juntinhos, diga-se de passagem, um par fofo.
— Não sabe o quanto eu sonhei com você falando isso. — ela abraçou ele, não ligando em molhar suas roupas. Mas logo desfez o abraço.
— Fofa! – as mãos dele foram cada uma até suas bochechas, as apertando sem usar muita força.
— Vai pegar o guarda-chuva. Vou buscar uma toalha pra você. – seu sorriso bobo não saía de jeito nenhum, não poderia estar mais feliz.
Muichiro logo obedeceu, indo pegar ele na calçada. Entrou, desarmando o objeto, e saiu pela casa, buscando a garota. Ela apareceu com uma toalha, sorrindo.
A pequena deixou ele se secar no banheiro e foi para a sala. Já estava com uma blusa seca e se perguntava como Muichiro trocaria as dele. Para a sua surpresa, ele apareceu sequinho e com roupas trocadas, ou você era distraída demais, ou ele usou mágica para que uma mochila brotasse do além com roupas dele.
— Seca meus cabelos? – Tokito sentou no chão, porém entre suas pernas, já que estava sentada no sofá. Você nem questionou, ficou feliz com o pedido vindo dele.
— De onde veio essa mochila? Nem reparei nela. – o viu colocar a mochila de lado.
— Yui sempre manda eu sair com ela, para casos de emergências. – Muichiro fechou os olhos, apreciando a delicadeza com que secava os fios longos.
— O Yuichiro pensa em tudo mesmo. – Deixou uma risadinha escapar. O irmão gêmeo dele sempre foi daqueles que bate nos valentões que olham feio para o irmão, super protetor e responsável.
— Preocupado demais. Afinal, eu demorei, né? – referiu-se ao corresponder seus sentimentos, foram anos e anos para conseguir falar isso.
— Muito! Até o professor Tomioka foi mais rápido, e olha que ele gostava da Kocho, e ela odiava ele com todas as forças do universo. – mordeu os lábios só de lembrar como a professora de Química sempre tentava tacar os experimentos no professor de Educação Física.
— Ninguém nunca esperou que eles dariam certo. Anos atrás, ela estava tentando afogar ele em ácido, e hoje em dia já vão ter o sexto filho. – a risada dela saiu mais alta, sendo acompanhada pela do outro. De fato, Giyuu e Shinobu eram o típico casal envolvidos por amor e ódio.
— E todos achando que Obanai e Mitsuri iam ter um time de futebol. – balançou a cabeça negativamente, terminando de enxugar os cabelos de Muichiro.
— Obanai e Giyuu estão competindo para ver quem tem mais filhos. – lembrou, fazendo uma careta e sentando-se ao seu lado, abraçando você de um jeito grudento.
— Céus! Mas você quer comer algo? – perguntou, achando que ele poderia estar com fome.
— Não! Quero ficar assim. – ele apertou ainda mais seu corpo e fechou os olhos.
— Está bem! – começou um carinho nos cabelos dele, se era um sonho, não queria acordar nunca.
Ambos ficaram assim até pegar no sono, ali mesmo, sem se importar com a dor que sentiriam no dia seguinte. Só queriam aproveitar um ao outro.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.