Adrien
Mais outro dia se inicia... e adivinha como? Obviamente, com muita dor... Era basicamente o mesmo de sempre, eu não conseguia nem se movimentar; não era como se aquele chá fizesse milagre a vida toda...
Eu olho ao meu redor, e surpreendo-me ao ver o meu criado mudo, pois nele tinha uma xícara do chá de antes e um recado que dizia:
“Bom dia! Apenas descanse e tenha um ótimo sábado!
~Alícia “
Mas... o que? Já é sábado e eu nem percebi... Realmente, o tempo passa rápido. Principalmente quando tantas coisas assim estão acontecendo ao meu redor; e com tantas questões pendentes a serem resolvidas...
Mesmo eu tentando ignorar ou esquecer todas essas dúvidas, elas sempre voltam para perturbar a minha vida, como se realmente tivesse algo a descobrir.
Essas cruéis e incessantes dúvidas... vêm de um passado, um passado coberto por mistérios... mistérios que talvez eu deva descobrir...? Ou mistérios que eu me arrependeria pelo resto da vida por ter descoberto...
Mas, como essas dúvidas não pararão de me perturbar de repente, só há um jeito de cessa-las: descobrindo; seja valendo a pena, ou não...
Eu tomo o chá que descansava em meu criado mudo enquanto pensava em tais assuntos, assim, recuperando as minhas forças de antes. Depois, eu me levanto da cama como se eu nunca tivesse passado mal ou com dor, pois eu sabia que eu tinha muitas coisas ainda para resolver no dia; de fato, este será um longo sábado...
Quando eu ia direto ao escritório de meu pai, as minhas falhas tentativas ao abrir a porta indicavam que alguém havia trancado a mesma, e também que a chave deveria estar em algum lugar.
Descendo as escadas, logo vejo na cozinha a minha tia Alícia -como se ela conseguisse mudar de lugar com tanta bagunça...- arrumando algumas coisas. Surpreendentemente, ela tinha conseguido arrumar e organizar toda aquela papelada, agora deixando, em montes, todos os papéis em suas respectivas categorias.
Alícia: Oh, você dormiu bem, querido?- Pergunta ao perceber a minha presença
Adrien: ... Que? Ah sim, claro... Eu dormi bem sim, tia Alícia...- Digo meio distraído, ainda perdido em meio à pensamentos
Alícia: Pois bem, parece que não, você está com cara de que nem sabe o que está acontecendo envolta, mas enfim... Veio falar alguma coisa?-
Adrien: Na verdade... Você sabe aonde está a chave do escritório de meu pai?-
Alícia: Eu sei sim, a Natalie me entregou depois que eu soube da emergência... Mas, porque você quer essa chave?- Diz se aproximando de mim, suspeitando de alguma coisa.
Adrien: Bem, Eu acho que você sabe muito bem o porquê... enquanto o meu pai ainda não está aqui, eu tenho que aproveitar para... bem, resolver-me com o meu interior...- Digo apreensivo.
Alícia: Certo... Se você não se importar, eu irei com você.- Disse pegando a chave de seu bolso e indo até as escadas, passando ao meu lado. Ela parecia incomodada?
Adrien: Er... Tudo bem? Eu acho... Afinal, não temos nada a esconder um do outro, certo?- Afirmo um pouco confiante
Ela de costas a mim, ainda perto das escadas, para de repente com uma pausa. Logo, ela vira a cabeça em minha direção e me observa um pouco séria:
Alícia: Certo...- Disse voltando a subir as escadas um pouco apressada, ou incomodada... tentando segui-la em seu ritmo, eu me estranho e pergunto:
Adrien: Está tudo bem, tia Alícia?-
Alícia: Está sim, Adrien. Eu apenas já sei em que ferida você quer tocar, ou melhor, em quais feridas...-
Adrien: Feridas? Como assim?- Digo enquanto já terminávamos de subir as escadas e íamos novamente na porta do escritório.
Ao chegar lá, a minha tia Alícia usa a chave para destrancar e apoia a mão na maçaneta, como se fosse abrir.
Alícia: Bem, veja com os seus próprios olhos...-
Alícia abre a porta para mim, mostrando aquele horrível cenário...
Sangue e caos em todos os cantos, móveis revirados, papéis ensangüentados e sujos sobre o chão, sujas pegadas de varias pessoas... Enfim, uma cena realmente aversiva, repugnante ...
Ao entrar na sala, me arrepiava inteiro só de me lembrar daquele horrível dia. Terríveis pensamentos me ecoavam, assombramentos em minha mente na qual nunca abandonarei, um aperto no coração... e cada vez mais parecia esplandecer as lembranças dentro do meu consciente; “Você é um ingrato de merda!”, “Sua mãe se envergonharia do que você se tornou”... Ah, me lembro daquelas falas como se fossem ontem, aquilo me machuca tanto...Mas, eu tenho que me concentrar, manter o foco... Eu não posso deixar essas coisas me impedirem.
Eu respiro fundo, e vou até o centro do escritório. Adentrando mais no local, logo em seguida, a Alícia entra também e fecha a porta, depois se sentando em uma cadeira ainda intacta no canto do cômodo. Eu olho melhor ao meu redor, procurando coisas interessantes ou suspeitas de serem algum segredo...? Bem, que comece a investigação.
Eu apanhei todas as folhas no chão e examinei uma por uma. Toda aquela papelada até lembrava a mesma que a de Alícia, porém menos interessante; no máximo de arte que tinha nos papéis eram alguns rascunhos de modelos de roupas que nunca foram feitos na prática. Como eu estava mais concentrado do que o normal, ao olhar melhor esses rascunhos, eu percebi uma mera semelhança entre todos os rascunhos:
Adrien: Por que em todas as criações de roupas do meu pai tem um símbolo de uma borboleta?- Digo pegando esses rascunhos e folheando eles
Alícia: Hm, talvez seja a marca de suas criações, eu sei que alguns estilistas fazem isso, não?- Diz se levantando da cadeira e se aproximando dos rascunhos
Adrien: Talvez, mas...- Ao olhar ao meu redor, observo melhor os ladrilhos do chão, as janelas da sala...
Adrien: Espera... Não é só as roupas, mas também pelo visto a mansão inteira? O chão, as janelas, o design... Como eu morei aqui a vida inteira e nunca percebi??- Digo indignado
Adrien: Enfim, deve ter mais coisas importantes a ver do que marcas de borboletas...- Digo folheando os papéis mais rápido ainda.
Aparecia de tudo que era inútil: contrato, propostas de agências, documentos, contas e, uma foto da minha mãe e meu pai...? Ao pegar a foto, ela parecia grudada com mais outras folhas por um clips. Na foto haviam meus pais juntos, aparentemente felizes com a vida que tomaram... mas porque o meu pai guardaria uma coisa dessas? Logo ele, um cara tão frio e racional...
Alícia: Oh, essa foto é real mesmo? É uma plena raridade vê-lo sorrir, tanto que, eu quase nunca vi ele sorrindo de verdade...- Disse surpresa, pegando a foto da papelada para ver melhor, tirando o clips que estava encima.
Adrien: Sério? Eu achava que ele era assim apenas comigo...-
Alícia: Com certeza não, Adrien! Ele nunca foi bom em mostrar seus legítimos sentimentos, de fato.- Disse devolvendo a foto ao monte de papéis.
Quando a Alícia tira a foto do conjunto de papéis com o clips, eu percebo um documento de... divórcio?
Adrien: O… que? Por que o meu pai divorciou-se com uma mulher que ele nem vê mais? Quero dizer, os boatos dizem que ela está morta ou sumida, então não faria sentido…- Ao falar isso, a Alícia parecia paralisar de surpresa.
Alícia: B- Bem, deve ter algum motivo… certo?-
Adrien: E esse motivo envolve o que? Apenas para ele atualizar uma futilidade civil? Ou por que ele queria se envolver com outras pessoas depois de ficar viúvo? Eu não duvidaria muito, para quem mantém um documento desses tão bem guardado em um escritório…-
Alícia: E- Eu não sei, querido… Mas eu não acho que ele realmente faria uma coisa dessas. O seu pai tem um coração muito fechado, seria difícil ele ter compaixão novamente…-
Adrien: Será mesmo? Bem, só tem um jeito de descobrir o quanto meu pai ainda se importa com a minha mãe…- Ao falar isso, eu guardo a foto para mim e rasgo ao meio o documento do divórcio. (Nossa Adrien, quanta agressividade guri kk)
Adrien: Se ele ainda ama a minha mãe de alguma forma, ele vai procurar pela foto; mas, se ele se preocupa tanto em ter um documento para afirmar um divórcio, além de ele procurar o culpado, isso também significará que esse tal “divórcio” não foi só para marcar um estado civil na vida dele…-
Alícia: Adrien?? Não precisava disso! Você sabe o quão difícil pode ser caso ele queira recuperar esse documento?-
Adrien: Para que ele iria querer isso? Para mostrar a alguma garota de que ele está solteiro? Já está no estado civil dele, ele não é obrigado a guardar uma réplica de um documento do cartório. Mas de qualquer forma, agora já era… Enfim…- Digo meio seco e talvez indignado com alguma coisa
Olhando por baixo do documento, havia vários papéis grampeados com o mesmo assunto: Uma… transferência financeira para a China…
Adrien: Espera… Por que o meu pai estaria enviando dinheiro para a China? Aqui não apresenta o nome do destinatário. Claro que talvez poderia ser uma empresa ou algo do tipo… Mas, mandar dinheiro para lá regularmente durante anos? Por que ele faria isso??-
Alícia: O- Olha, Adrien… Pelo que eu saiba, a China tem um ótimo mercado de economia e industrialização. Não duvido muito que o Gabriel Agreste estoque os seus recursos de tecidos e materiais por lá durante anos…- Disse tomando toda aquela papelada da minha mão.
Alícia: Por acaso, eu não acho que tenha algo realmente relevante nesses papéis, talvez você deva procurar em algum outro lugar…-
Adrien: Tia Alícia? Por que você está protegendo tanto o meu pai? Você não acha nada disso suspeito?-
Alícia: Porque… E- Eu ainda quero acreditar que o meu irmão é uma pessoa boa, eu sei que ele é uma pessoa boa, ele apenas não gosta de mim…-
Adrien: Não gosta de você? Por que você acha isso?-
Alícia: Adrien… Você sabe muito bem o porquê de eu não ter mais visto você durante anos… Sem falar que, ele trouxe uns hábitos um tanto maldosos comigo desde a nossa infância, como falar coisas horríveis a mim, e- e as vezes bater em mim, fazendo o meu nariz sangrar muito, na maioria das vezes…- Disse meio apreensiva.
Adrien: Sério?? D- Desculpa, tia…- Digo cabisbaixo ao imaginar a situação
Alícia: Mas você não tem culpa de nada, querido…- Disse colocando a pilha de papéis na cadeira que estava no canto e levantando a escrivaninha de volta.
Alícia: Que tal voltarmos ao seu assunto?- Disse sorrindo
Adrien: C- Certo…- Digo olhando para o quadro de minha mãe, me lembrando da mesma.
Eu decido chegar perto do quadro, e desço arrastando levemente os meus dedos sobre o quadro, até atrair o meu olhar para o buraco no quadro; lembro-me na hora da briga em que o meu pai estragou o quadro, tentando me socar…
Alícia: Aliás… Ficou pendente de você me contar porquê vocês brigaram, lembra? O que você acha de aproveitar para me contar agora?-
Adrien: O- Okay…- Digo cabisbaixo
Adrien: Basicamente, eu acabei faltando uma sessão fotográfica para sair com os meus amigos, mas ele acabou levando muito para o pessoal… Mas, dessa vez, eu tinha reagido a tudo o que eu não aguentava mais. Acabou que ambos discutimos, até que, ele ia tentar me bater, como sempre… Como eu não estava aguentando, acabamos brigando feio, provavelmente até a morte… Resultado? Apenas parei de brigar quando eu ouvi o barulho da Natalie chegando…-
Alícia: Wow, deve ter sido muito tenso. Ainda bem que pelo menos você se saiu melhor na situação... Mas, você quer um conselho? Não se importe muito com o que ele diz. Por ele ter um coração muito fechado, ele acaba falando muita besteira, pois apenas se fala a verdade com o coração, coisa que ele não sabe usar direito... hehe...- Disse tentando descontrair
Voltando a me concentrar, eu percebo que o buraco era maior do que eu pensava. Eu dou uma olhada por dentro e eu vejo o livro do miraculous, uma foto da minha mãe, um livro sobre uma cidade na China, um recibo de um hotel do mesmo lugar e um belo adorno de um pavão.
Quando meu olhos foram para este mesmo, eu sentia que aquilo com certeza era da minha mãe, eu queria muito pegar aquilo...
Mas, como eu não queria que a minha tia soubesse que eu estava pegando mais alguma coisa de lá, eu guardo o acessório discretamente em meu bolso, o suficiente para ela não desconfiar de minhas ações ou intenções.
Mas sem falar desse acessório, o que me chamou a atenção novamente foi o livro da cidade e o recibo. Eu peguei os dois e joguei na escrivaninha.
Adrien: Um recibo de um hotel na China e um livro cultural e turístico do Tibet? Agora vai me dizer que isso faz parte dos negócios dele??-
Alícia: ...-
Adrien: Tem alguma coisa muito errada aqui... eu já pesquisei tudo o que tinha para examinar por aqui, e eu achei apenas umas pistas estranhas sobre a China, mas nada de minha mãe... Eu não entendo, tia Alícia... O que aconteceu com a minha mãe? Porque ninguém sabe nada sobre ela? Quase ninguém conhecia ela?? Por que ela não está mais aqui comigo? Parece até como se ela nunca tivesse existido para os outros...- Digo encostando-me na parede e deslizando nela até eu cair sobre o chão e me sentar sobre o mesmo, abraçando as pernas.
Alícia: Adrien, a sua mãe... ela está morta...-
Adrien: Mas por que ela morreu? Por quem? Como ela morreu? O que aconteceu de verdade? Por que a sua morte passa tão despercebida pelos outros? Por que ela não podia ter ficado comigo só um pouquinho mais?? Por que... *suspiro*... P- Por que o mundo foi tão cruel em criar uma mãe tão perfeita em que morreria antes mesmo de fazer diferença na minha vida ou em de outros? Eu a amava tanto, ela podia ter feito a diferença em tudo na minha vida... eu só quero ela de volta, poder vê-la mais uma vez...- Digo melancolicamente, com as mãos enfiadas em meu cabelo, segurando a minha cabeça e apoiando os meus cotovelos sobre os joelhos
Alícia: ...Como? Você está me dizendo que você acha que a sua mãe morreu antes mesmo de fazer diferença na vida das pessoas? Querido, eu te contarei uma história...- Disse se aproximando de mim e se agachando, para poder ficar ao mesmo nivelamento que o meu.
Alícia: Você consegue ouvir os meus batimentos cardíacos direito?- Disse pegando uma das minhas mãos e a posicionando sobre o colo dela, dando para sentir batidas firmes e serenas.
Ao falar aquilo, eu apenas afirmo com a cabeça.
Alícia: Ele parece perfeitamente normal, certo? Mas ele não era assim antes... Sabe... Quando eu era mais nova, eu tinha uma séria doença no coração por causa de minha genética. E com o tempo, ela foi só piorando, até mesmo os médicos me disseram que a minha expectativa de vida não era mais do que 15 anos de vida... até que, eu havia chegado exatamente na idade que os médicos falaram... Eu era tão jovem, e já estava internada em um hospital, prestes a morrer...
E o pior? Era que não tinha nenhum coração compatível para substituir o meu doente órgão, e eu realmente precisava de um transplante... Mas, antes da sua mãe morrer, ela decidiu ser doadora de órgãos enquanto ainda tinha vida. Por algum milagre, o coração dela era compatível para o meu corpo...-
Alícia: E este foi, com certeza, o melhor presente que eu pude ter ganhado na minha vida. Este presente era, simplesmente, mais uma chance para eu provar que eu era capaz, ter mais uma chance para viver... E Adrien, se esse coração hoje bate saudável e forte, é por causa de sua mãe...
Ela sempre tinha amor por tudo e todos, via beleza em tudo e ajudava sempre o máximo que podia, um jeitinho de se ser que sempre me encantou...
Ela não fez diferença só na minha vida, mas também na sua, do seu pai, na da família e na vida de milhares de pessoas, só tendo que parar quando morreu...-
Alícia: E por mais que ela tenha morrido, mesmo assim, ela teve bondade o suficiente para me ajudar. Se não fosse por ela, talvez não seria só a vida dela que teria ido embora naquele ano...- Disse docemente à mim enquanto soltava a minha mão.
Adrien: Então... a minha mãe era especial e gentil?-
Alícia: Com certeza, era a minha jóia mais brilhante e perfeita...- Disse lacrimejando.
Sem aguentar mais, por puro impulso, eu abraço a minha tia o mais forte o possível, para soltar tudo aquilo o que as minhas lágrimas já iriam soltar se ela não tivesse ali para me ajudar...
Quando ela retribui o meu abraço, eu apenas conseguia sentir em meus ombros as tristes e molhadas lágrimas dela. Parecia que eu não era o único que ainda sentia falta dela... Cada vez mais, a minha tia me abraçava com mais força ainda, até se cansar; no caso, depois de alguns minutos paramos de nos abraçar.
Adrien: V-... Vamos acabar a investigação por hoje...- Digo meio triste, me levantando.
Alícia: Claro, querido...- Disse enxugando as lágrimas enquanto se levantava.
Admito que hoje eu não consegui saciar minhas dúvidas, elas só aumentaram mais ainda. Tantas coisas a descobrir, tantos mistérios...
Mas, de qualquer forma, nenhum de nós dois conseguiríamos prosseguir mais nada, já era muita informação. Até voltarmos aqui para investigar novamente, as ideias já vão estar esclarecidas em minha mente. Mas enquanto esse dia não chega...
E essa foi a minha investigação de hoje.
Continua...
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