"Uma vez que você tem algo, algo tão bonito você nunca será o mesmo. Uma vez que você tem o gosto de viver à minha maneira você será mudado para sempre."
-Eu achei que ela teria mais consideração por você.
-Ela tem, Rebbie. Brooke é apenas tímida e prefere guardar para si certas coisas. Eu também faço isso.
-Guardar certas coisas é bem diferente de mentir...
Brooke Shields havia concedido uma entrevista para um jornal, onde obviamente foi questionada sobre Michael Jackson. Já fazia um mês desde a última conversa entre eles e de repente sai a notícia de que, de acordo com ela, eles nunca se envolveram e jamais se envolveriam.
-O conceito de mentira dentro do nosso mundo é diferente, você sabe.-O rapaz de cabelos castanhos e encaracolados respondeu pegando Bubbles, seu chimpanzé de estimação, e colocando-o em seu colo.
-Tudo bem, se você quer se iludir com essas explicações genéricas que aprendeu na Montown vá em frente. Fique repetindo isso na sua cabeça até acreditar.-A irmã Jackson mais velha deu de ombros e bebeu um pouco da sua limonada naquele início de primavera de 1986.
-O que você quer que eu faça? Não posso controlar o que ela diz.
-E nem precisa. Só que se ela não quer ser sincera sobre você, então que nem te mencione. Não aceite que ela te coloque na geladeira e ainda consiga atenção com o seu nome.
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-Nós não estamos mais juntos. Ele é uma pessoa maravilhosa. Mas há algumas coisas que temos que melhorar. Eu não vou explicar em detalhes. Isto foi forte para o nosso relacionamento, eu não me sentia livre. Nós vamos ver como ficará.-Priscilla Presley disse durante uma entrevista em um programa qualquer ao ser perguntada sobre seu último relacionamento. Lisa Marie assistia jogada na cama pela televisão de seu quarto.
Lisa sempre admirou o jeito elegante e maduro de sua mãe para lidar com a vida pública, coisa que ela jamais conseguiria. Porém, se existe alguma coisa que elas possuem em comum, essa coisa é o azar para relacionamentos amorosos. Assim como na vida de Priscilla, qualquer envolvimento que lhe surgia parecia estar fadado ao fracasso.
Ela tentava. Claro que tentava. Mas suas relações não foram feitas para durar. E de quem é a culpa? Por mais que Lisa se achasse uma louca sem noção, não se sentia culpada. Talvez ela nem seja louca, talvez as pessoas que a deixassem assim. Ela era uma criança selvagem, uma criança brilhante batendo à porta. E eles escolhiam ser cruéis e a mandavam embora.
Houve um tempo em que ela já estava cansada de se comprometer e levar a pior. Então decidiu curtir a vida. James Edwards era o nome dele. Mas todos os chamavam de Jim.
Ele se mudou de Boston para Los Angeles e sete meses depois conheceu a herdeira Presley em uma festa qualquer. O que começou para durar apenas um verão acabou se prolongando. Foram deixando as desculpas para depois, depois e depois... Até Lisa se apaixonar.
Os dois criaram seu próprio mundo. Marie nem imaginava uma vida diferente daquela e ele a provava todos os dias que eles poderiam dar certo. Surfavam, andavam de moto, curtiam as festas. A companhia dele lhe era suficiente para qualquer coisa. Finalmente ela havia se tornado uma criança prodígio com um grande sorriso, morando em Los Angeles.
Mas o tal mundo começou a desabar em outubro de 1985. As brigas eram cada vez mais rotineiras, Jim já não tinha mais os olhos só para Lisa. A garota já nem se importava mais em chorar em público durante as discussões. Ela só queria que ele a entendesse.
Terminaram tantas vezes, mas nunca demoravam para voltar. Até chegar o dia em que ela o flagraria com outra. Mais uma tentativa fracassada. Ele a procurou pedindo perdão, mas Lisa queria mais. Ela sempre queria. Já ele não fazia tanta questão.
O que era engraçado, pois eles nunca fazem.
Naquela noite Presley sonhou com o tempo em que perdeu seu pai. Não era apenas um sonho, parecia mais um conjunto de lembranças. Nunca soube dizer a razão, mas sempre lembrava daqueles dias em momentos aleatórios. Como se sua mente quisesse avisar que nada se compara àquele sofrimento que precisou enfrentar mesmo com apenas 9 anos.
Conseguia se lembrar das luzes monocromáticas dos carros que machucavam seus olhos com aquela frequência irritante. Sempre que piscava sentia mais lágrimas queimar suas bochechas rosadas. Ela se sentia sozinha.
Como uma criança americana, Lisa Marie passou anos assistindo televisão e, durante os filmes, os personagens que morriam ou iam embora deixando um legado de tristeza para trás nunca a comoveram. Apenas quando seu pai se foi que Lisa conseguiu entender do que esses filmes falavam.
Ela chegou a sentir ódio por ele tê-la abandonado, o que só a fez se sentir pior. Não queria sentir sentimentos grosseiros pelo seu falecido pai, queria apenas se sentir "triste pela perda", como todos os outros ao seu redor diziam.
Na hora do funeral sentiu calor e estava inquieta. A igreja estava lotada e o pastor enchia o ambiente com sua voz pastosa e cheia de eufemismos e tragédias. Sua mãe segurava sua mão, completamente chorosa.
Lisa não chorou naquele momento. Ver o caixão bem na sua frente, cheio de flores coloridas e rendas lhe soou estranho e falso demais. Não queria estar ali, mas se forçou a se comportar. Afinal, queria ser uma boa menina para o seu pai, nem que fosse a última vez.
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Michael Jackson até tentava se concentrar em seu trabalho no estúdio, mas sua mente acabava remoendo cada ato e palavra da última vez que viu Lisa Marie. Sempre tão cheia de si e entregue, como se pertencesse à época passada, como uma Scarlett O'Hara da cena principal.
Soltou um suspiro e pediu um tempo para os músicos. Saiu do local, atravessou o corredor de lâmpadas fluorescentes e foi para a entrada do prédio respirar um pouco de ar puro. Estava no estúdio desde as 05:30 AM e o dia já estava escurecendo. Após 10 minutos voltou e continuou seu trabalho ao lado de Quincy Jones.
-Já é bem tarde, Mike.-O produtor falou horas depois.
-Tem razão, Quincy.-Respondeu checando o horário em seu relógio de pulso e se dando conta que já era quase meia-noite. Se levantou da cadeira e pegou o seu casaco que havia deixado no sofá próximo a eles.- Vamos parar por aqui, pessoal. Boa noite.
-Boa noite.-Os músicos responderam em uníssono.
Atravessou os corredores, cumprimentou os dois guardas que sempre ficavam lá e abriu a porta que dava para a frente e para o estacionamento do prédio. Seus olhos passearam em busca do seu carro, mas sua atenção foi direcionada para outra coisa. Lá estava ela, de costas, sentada num banco de concreto. Mesmo de costas ele sabia que era ela.
O rapaz de 27 anos soltou o ar em seus pulmões e seguiu pelo gramado em sua direção. As luzes fracas das lamparinas velhas iluminavam-na mal, a deixando com um ar suspeito.
-Lisa?
Ela virou-se cabalmente para fitá-lo, encarou-o por alguns segundos e se levantou. Se aproximou um pouco, fazendo com que seu rosto pálido contrastando com seus cabelos tingidos de preto ficasse mais claro para ele. Sua aparência era de uma cantora de pop blues daquela década de 80.
-Pensei que não quisesse mais falar comigo, então vim aqui perguntar. Mas não queria atrapalhar o seu trabalho lá dentro, então esperei.
-Por que eu não iria querer falar com você?
-Eu não sei, talvez tivesse se cansado de mim.-Ela deu de ombros.- Janet me disse que havia te avisado que eu queria te ver, mas você não me procurou. E eu liguei algumas vezes para a sua casa, mas a empregada sempre dizia que você não estava. Então eu achei que você estivesse me evitando, talvez...
-Eu não estava. Nesses últimos dias eu trabalhei muito, por isso não te procurei. Me desculpe.
-Eu que peço desculpas por ficar te procurando o tempo todo.-Ela respondeu com uma voz baixa fitando seus próprios pés.
-Você não me incomoda, sabe disso.
Ela apenas levantou o olhar, sorriu sem mostrar seus dentes e envolveu seus braços na cintura dele, que retribuiu o abraço. O cheiro da garota chegava forte em suas narinas, um perfume doce. Os dedos dela pressionavam suas costas por cima da camisa social azul. Num ímpeto sua mão acariciava os cabelos dela que chegavam até os ombros. Uma vez que se tem algo tão bonito, você nunca será o mesmo. Você será mudado para sempre e Jackson se deu conta disso ao sentir seu abraço.
-Vamos?- A garota o olhou, ainda abraçada.
-Para onde? Já são meia-noite.-Ele diz olhando de relance o seu relógio.
-Ótimo, uma razão para comemorar! -Percebendo que a feição de Jackson continuava interrogativa, ela emendou.-Hoje é oficialmente dia 1 de junho, meu aniversário de sobriedade.
-Sério?! Eu não sabia, parabéns!-Ele a abraça de novo.
-E você é oficialmente o primeiro a me parabenizar hoje.-Falou calma, afastando-se do abraço.-Podemos dar uma volta? Eu te levo, depois você pede para alguém buscar seu carro.
-Tudo bem, você venceu. Mas só porque é um dia especial.
Ela sorriu e o abraçou de novo.
-Vem, vamos.-Lisa Marie o guiou pelo gramado, não se atreveu a soltar sua mão da dele até chegar no estacionamento.
Parou abruptamente, virou-se e o encarou séria. O rapaz se sentiu desnorteado só de olhar de tão perto aquela boca pintada com o batom vermelho, estaria ele sonhando? Os dedos delicados e macios ainda seguravam sua mão e ela parecia a única coisa quente em torno do vento frio que soprava.
-Promete que nunca vai se afastar de mim?-A moça indaga.
- Por que está pedindo isso agora?
-Precisamos conversar sobre... Sobre nós. E eu não quero que se afaste. Promete?
-Eu prometo.-inconscientemente ele se aproxima mais um passo.
Ela sorri e deposita um beijo em sua bochecha.
-É tarde, mas estamos em Los Angeles. Ou seja, nunca é tarde.-Lisa comenta abrindo a porta do carro.-E eu já tenho 18 anos, o que me dá liberdade para fazer algumas coisas no estado da Califórnia.
-Não é melhor você ir pra casa? Damos uma volta de carro e você me deixa no meu apartamento.-Ele propõe enquanto entravam no mustang branco.
Ela revirou os olhos.
-Não, eu não quero. Eu sei que eu exagero, mas, baby, que mal faria um pouco mais?
-É tarde, sua mãe ficará preocupada.
-Isso nunca foi problema pra mim e você sabe.-Ela rebate dando partida e dirigindo até a saída.
-Então... Você é daqui mesmo?-Jackson perguntou quando Lisa já dirigia livremente pelas ruas de LA.
-Não, sou de Memphis. Por que?
-É que você parece amar morar aqui.
-Quem não ama a Califórnia?-Ela retruca sorrindo.-Aqui tem tudo. Praias, festas, sol, turistas engraçados, gente famosa... Um belo paraíso de Tijuana até a costa. Eu sinto que estou em cena aqui.
-Realmente. Eu me lembro quando eu vi uma palmeira pela primeira vez. Havia acabado de me mudar com os meus irmãos e estava fascinado pela Califórnia.
-Eu imagino...-Ela respondeu.-Escute, eu acho que precisamos conversar sobre... Você sabe...
-Ah, claro... Er... Bom... Eu não sei como começar.-Ele diz por fim, soltando uma risada tímida.
-Nem eu.-Logo os dois começam a rir.-É só que eu não quero perder a sua amizade.
-Nem eu quero. Por isso acho melhor a gente tentar preservar isso. E apenas isso.
-Sim, eu concordo. Somos muito diferentes e a melhor forma de ficarmos bem um com o outro é mantendo a amizade.
-Isso. Para o bem de todos seremos bons amigos.
-Ótimo. Até que essa conversa foi mais fácil do que eu imaginei.-Lisa comenta rindo, parando o carro no sinal vermelho.-É por isso que eu gosto de você, Mike. Você me entende.
-Eu também gosto de você.
-Ah, eu não tenho nada de especial. Sou uma adolescente como tantas outras. Você é o Michael Jackson!
-É, mas você não liga pra isso.
-Realmente não ligo.
-O que prova que você não é como as outras adolescentes.
-É, faz sentido... Não importa o quanto você hesite, você gosta de mim ainda mais quando sou malvada.-Ela sorri mostrando a fileira de dentes perfeitos.-Admita, você briga comigo, mas se eu não aprontasse tanto você não ligaria pra mim.
-É, talvez...-Michael sorri.-Gostei dos seus brincos, mas não são muito chiques para se usar com uma jaqueta jeans surrada?-Ele indaga olhando para os diamantes presos na orelha da moça ao seu lado.
-Meu pai me deu quando eu tinha 9 anos. Ele não era muito bom com presentes para crianças, perdi a conta de quantos casacos de pele eu ganhei dele.-Lisa responde fazendo Michael rir.- Minha mãe nunca me deixou usá-los, dizia que eu não tinha idade para eles. Mas como hoje é uma data importante, imaginei que eles seriam perfeitos para a ocasião. É a maneira de tê-lo comigo.
-Tenho que admitir que você está fazendo ótimo uso deles, ficaram ótimos em você.-Jackson fala e recebe uma piscadela de Presley como agradecimento.-Já passeamos demais, é melhor você ir pra casa.
-Tá bom, já vou te deixar no seu apartamento.-Ela responde revirando os olhos.
Após alguns minutos chegaram em frente ao prédio. Se despediram com um abraço e Michael a fez prometer que iria para casa. Ao sair do carro ele deu um último aceno e sumiu porta adentro. Por dois segundos Marie ficou inerte dentro do automóvel ainda sentindo o aroma amadeirado pairar no local. Sua jaqueta agora tinha o cheiro dele.
Partiu rumo à mansão Presley, mas chegando o sono demorou a vir.
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