MA CONDUTA
capitulo 4
por heairtsjoy
Prorrogação: tempo adicional para uma partida que terminou empatada. Corresponde a dois tempos de 15 minutos.
Era o tempo que precisavam para decidir o placar.
Chanyeol estava radiante. A temperatura em Munique oscilava entre 5 °C e 10 °C, tudo que queriam era voltar para o aconchego quente do quarto, mas Baekhyun tinha decidido fazer massa no jantar. Cozinhar por si mesmo ou algo do tipo. Ainda não conseguia acreditar que estavam juntos há tanto tempo, e também não conseguia acreditar que Baekhyun estava lá, olhando prateleira por prateleira, no mercado perto de sua casa. Fazia mais de um mês que não se viam, os treinos incessantes os ocupavam, mas o Park estava se saindo muito bem no Bayern, com vinte e cinco gols acumulados no campeonato, não estava nem um pouco preocupado com seu desempenho. Já Baekhyun, não havia se dado bem com o novo técnico do Barcelona, na última noite, enquanto bebiam vinho, ele dividiu seu descontentamento e sua busca por um novo time, ele estava em negociação com o Manchester United. Gostaria de dizer que se sentia feliz por ele estar desbravando novos ares, mas sabia que ele não gostava de mudanças radicais, estava fazendo porque tinha sido obrigado a sair da própria zona de conforto, tudo que o Park pôde oferecer foi um meio sorriso e uma promessa de que apostava que ele seria contratado.
Fazia muito tempo que Baekhyun não ia até a Alemanha. Chanyeol costumava visitá-lo mais do que o contrário, talvez porque ele estivesse indo tão bem na própria carreira que não precisava dar tantas satisfações para a comissão técnica, ou talvez porque o Bayern de Munique realmente fosse um ótimo time. Ainda assim, era bom estar na casa dele. Rodeado pelas coisas dele e por ele. Se sentia em casa, uma calmaria anormal sempre o tomava quando estava em Munique, talvez fosse o outono chegando, às folhas douradas traziam uma sensação de paz e o frio que as acompanhava o deixava terno. Ainda assim, era frio demais para alguém que vivia em Barcelona. Enquanto lá estava 26 °C, em Munique estava 5 °C, nem tinha comparação. Ficar perto do namorado de certa forma ajudava, gostava de acreditar que as fases ruins sempre passavam, mas com a distância discrepante de seu pai desde o seu aniversário e o descontentamento no próprio clube, Baekhyun estava começando a acreditar que era ele mesmo que atraia má sorte.
Sorriu com gargalhadas pequenas enquanto observava Chanyeol tentar se decidir sobre os ingredientes que levariam. Ele era um péssimo cozinheiro. Logo retomou seu lugar ao lado dele, o ajudando a escolher os temperos que precisariam para uma Carbonara. Eles não precisavam realmente cozinhar, podiam pedir algo, já que era fim de semana e os funcionários do Park haviam sido liberados, menos os seguranças, é claro. Apesar de tê-los, Chanyeol não andava com eles pelas ruas de Munique, certa vez, quando perguntou, ele disse que a grande maioria da população já estava acostumada com a presença dos jogadores, eles eram muito respeitosos. Baekhyun achava estranho, em Barcelona as pessoas pagariam por um pedaço deles. — Acho que temos o suficiente — murmurou, sem perceber que Chanyeol o encarava de maneira apaixonada, enquanto o próprio Byun escolhia um vinho para acompanhar o jantar.
Poder viver uma vida normal era tudo que Chanyeol desejava, mesmo sabendo que nunca seria possível, se esforçava para que tivessem momentos como aquele, para que quando estivessem longe um do outro, pudessem lembrar. Baekhyun estava totalmente encapuzado, como se estivesse no polo norte, era, de certa forma, engraçado. Também era uma forma de se esconder, apesar de duvidar que alguém pudesse reconhecê-lo daquele jeito. Ele estava sempre preocupado demais. — Tem certeza? Não quero ter que voltar ao mercado até amanhã… — sussurrou no ouvido dele, envolvendo-o em um abraço carinhoso por trás, as duas mãos acariciavam o abdômen alheio por cima de tantos casacos, deixou que o queixo batesse no ombro dele e apreciou os poucos segundos que ficaram naquela posição.
Baekhyun sorriu, revirando os olhos ao mesmo tempo que virava de frente para o namorado, Chanyeol era tão carinhoso que às vezes o sufocava, curiosamente, aprendeu a gostar daquele traço de personalidade dele. Do jeito que ele se prendia ao seu corpo no meio da noite, o agarrando como se ele fosse um travesseiro, passando as pernas no meio das suas e só o soltando quando Baekhyun precisava ir ao banheiro. Do jeito que ele sempre estava o tocando a todo momento, nas mãos, no cabelo, nos pés, demonstrando o quanto queria estar perto, gostava do jeito que ele demonstrava carinho, mas se sentia inseguro quando o faziam fora de casa, onde qualquer um pudesse ver. — Você sabe o que eu penso sobre fazer “isso” em público.
— Isso o quê? Abraços? Afeto? — A resposta já estava na ponta da língua. Consciente de seus próprios atos, Chanyeol se desvencilhou, colocando uma distância segura entre os dois. Já tinham conversado sobre demonstrações de afeto em público, mas Chanyeol sempre acabava ultrapassando a linha, sempre sem querer, quando menos percebia, já tinha feito. Baekhyun semicerrou os olhos e ergueu uma sobrancelha. Chanyeol, em contrapartida, levantou as mãos em rendição. — Tudo bem, tudo bem…
O caixa parecia estar demorando de propósito, talvez para conseguir um autógrafo ou uma foto, Chanyeol não sabia dizer. Enquanto Baekhyun admirava a vista lá fora, Chanyeol pagava pelas compras, muito mais acostumado com as regras do lugar em que morava e de ter a liberdade de poder ser visto, foram os principais argumentos de Baekhyun para o incutir da tarefa árdua de esperar na fila. Já o Byun preferiu ficar no estacionamento, o esperando, mas escolheu não entrar no carro, o sol começava a se pôr lentamente e o tom alaranjado que pintou o céu o deixou deslumbrado, se sentia em um filme, com a brisa fria congelando seu nariz mesmo que estivesse todo enrolado em um cachecol vermelho, de repente, se sentiu muito sortudo por estar onde estava.
Naquele momento, Chanyeol se aproximava, as duas mãos cheias de compras, ele vestia apenas uma blusa azul-escuro de manga longa, acostumado com o frio, era como um dia comum para ele. — Você acredita que ele pediu mesmo uma foto? E depois todas as senhorinhas da fila também? — Chanyeol se justificou, mas antes que ele pudesse continuar contando, Baekhyun sentiu uma súbita vontade de retribuí-lo, virou-se o puxando pela blusa, puxando o tecido de algodão até que ele se esticasse, até que estivessem próximos o suficiente para manifestar sua intenção. O beijou de maneira apaixonada, aprofundando o beijo em poucos segundos, deixando que seu fôlego fosse tomado e seus sentimentos transparecessem. Quando se separaram, Chanyeol deixou uma das sacolas de compras cair no chão, só para acariciar a bochecha de Baekhyun, visivelmente preocupado com a urgência do carinho trocado. — Tudo bem, amor?
Baekhyun encostou a testa na dele, roçando os narizes de maneira amável, arrependido por repreendê-lo tantas vezes. — Tudo bem, só queria dizer que eu te amo. Me desculpe por ser tão… — engoliu em seco, respirando fundo — chato.
Chanyeol riu, o puxando pela nuca para outro beijo, mais casto, apenas um encostar de lábios. — Tudo bem, eu tenho uma queda por jogadores de futebol marrentos, e que me humilham nas horas vagas.
— Você adora estragar nossos momentos, né? — Baekhyun revirou os olhos, empurrando o Park para que abrisse a porta do carona, agora lembrava exatamente o porquê de não ser tão romântico como ele. Chanyeol era insuportável com o ego elevado. Nem se ofereceu para ajudá-lo com as compras, dando um pouquinho do gosto do veneno que ele mesmo havia provocado, logo depois, ele também entrou no carro, era o motorista da vez. — Impressão minha ou você disse que tem queda por “jogadores” e não por um jogador em específico, que sou eu?
Chanyeol piscou repetidas vezes, o olhando de canto de olho e depois desviando. Canalha. — Eu me expressei mal! Só existe você, meu amor.
— É bom mesmo — rebateu, erguendo a sobrancelha.
Se envolveram em uma conversa divertida sobre apostas no mundo futebolístico e o quão viciantes e prejudiciais elas podiam ser, se feitas erroneamente, Baekhyun particularmente odiava investir dinheiro na própria sorte, era familiarizado com o azar e também era um mau perdedor. Já Chanyeol rebateu que adorava apostas que não envolvessem dinheiro e o Byun se viu obrigado a encará-lo duas vezes, ele era impossível. Depois que chegaram em casa, puderam finalmente se livrar das roupas acolchoadas, das luvas e das malhas. Já passava das sete quando começaram a fazer o jantar, Chanyeol havia dado a ideia de maratonarem filmes da Marvel e já estavam naquilo há dois dias, assistindo um após o outro sem parar, o próximo era Guerra Civil. Lavou as mãos, pronto para começar a preparar a massa e os ovos, Chanyeol pegou todos os ingredientes e os deixou dispostos na bancada, para facilitar a vida do novo chef.
Ele adorava a comodidade da Alemanha: o clima frio, as pessoas reclusas, o cheiro de Chanyeol impregnado pela casa. Gostava de como o ambiente refletia a personalidade de Chanyeol, com objetos pessoais e quadros emoldurados nas paredes. Sentia-se muito mais à vontade ali do que em Barcelona. Se fosse comparar, sua casa parecia uma clínica odontológica, todo branco hospitalar, pretendia mudar algumas coisas quando voltasse. Logo o calor do aquecedor o deixou mais confortável, cortava os legumes com maestria, porque havia aprendido a cozinhar quando começou a morar sozinho, gostava de seguir uma dieta estruturada e gostava de ter um tempo para se desligar do mundo exterior, mesmo que pouco. Franziu o cenho quando Pony de Ginuwine começou a tocar em alto e bom som da sala, e não conseguiu segurar o riso quando Chanyeol caminhou até a bancada, enquanto dançava de maneira sensual. — O que você está fazendo?
— Dançando? — Chanyeol rebateu, virando de costas e dando um tapa fraco na própria bunda, provocando um ataque de risos em Baekhyun, que até esqueceu que precisava pôr o macarrão na água quente. — Te seduzindo? — Sorriu, sarrando a bancada, o que obviamente fez o Byun arregalar os olhos, era o que queria há horas, o divertir, tirar aquele ar de seriedade que o rodeava constantemente.
— Transando com os azulejos? — Baekhyun perguntou, divertido, enquanto observava com os braços cruzados, Chanyeol sensualizar cada vez mais com a música. Não podia negar, adorava aqueles picos de energia que consumiam seu namorado de vez em quando. Às vezes ele não podia dormir antes de dar uma corrida em volta do quarteirão, quando Baekhyun não conseguia convencê-lo de que podiam transar ao invés de fazer exercícios, ou às vezes eles passavam a noite inteira se emaranhando nos lençóis. E também tinha vezes, como esta, que Chanyeol agia simplesmente como um adolescente. Secretamente, Baekhyun achava que ele nunca tinha saído do ensino médio.
Chanyeol ergueu uma sobrancelha, um tanto indignado com a pergunta que havia recebido, o sorriso debochado de Baekhyun entregava o quanto ele estava se divertindo com a provocação velada entre os dois. Eram sempre assim, mesmo que já tivessem deixado as apostas de lado, de alguma forma, sempre encontravam um jeito de implicar um com o outro. A música estava perto do final quando se aproximou dele, não se deixou abalar pelo comentário e o encarou, se apoiando na pia enquanto erguia uma sobrancelha em puro desafio. — E como você seduzia suas presas?
Baekhyun segurou uma risada, enquanto balançava a cabeça em negação. Era demais até para si mesmo. — Quem disse que alguma vez eu precisei me esforçar?
— Quanta arrogância… — Como cereja do bolo, Chanyeol ergueu a barra da camisa e a prendeu nos dentes, deixando o abdômen à mostra enquanto rebolava, a música acabou no mesmo segundo que Baekhyun revirou os olhos e voltou aos próprios afazeres, desistindo aparentemente de comentar sobre a aleatoriedade que comandava o cérebro do Park. Ainda assim, ele possuía um sorriso nos lábios, divertido. Aproveitou do bom humor para assumir seu lugar ao lado dele, lavando algumas louças que ele havia sujado. — Não sente falta? De mulheres?
Baekhyun franziu o cenho, distraído, enquanto mexia o macarrão na panela e torcia para ele não ficar salgado. — Não! — respondeu, meio bufado e um tanto surpreso com a pergunta, se voltou para ele, aproximando-se até estarem com os ombros encostados um no outro de novo. Decidiu cortar o bacon. — Por que esse tipo de pergunta agora? Você não vai dizer algo como: “vamos abrir o relacionamento”, né? — Afinou a voz, demonstrando o quão ridículo era pensar em levar a sério um relacionamento aberto.
Chanyeol segurou uma risada enquanto tentava em vão se manter sério. Raramente conversavam sobre aquele tipo de assunto e normalmente, não gostavam de reviver o passado, apesar de ambos terem ciúmes retroativos, não costumavam enviar farpas um para o outro sobre, e o Park adorava o jeito como eles só focavam neles mesmos, antes de dar ouvidos as próprias inseguranças, mas também sentia que Baekhyun falava pouco sobre os próprios gostos. — Não acho que eu consiga te dividir com alguém… — rebateu a pergunta, de forma sincera demais, uma música desconhecida tendo como base o piano tocava ao fundo, deixando o clima entre eles reconfortante, estava falando a verdade. Não era conservador, mas só de ter que pensar em dividir o Byun com outra pessoa na cama, Chanyeol se tornava o papa. — Só estou dizendo que nós sempre podemos trocar de posições, sabe?
— Ah, era nessa parte que você queria chegar… — Baekhyun murmurou, voltando ao bom humor normal, menos arisco com a pergunta repentina, encarou o namorado pelo canto de olho e o empurrou devagar com o ombro, adorava como Chanyeol era cuidadoso com as palavras, nunca o pressionando ou questionando, sempre trazendo um ar de leveza entre eles. O fazia sentir-se mais à vontade. Saber que ele simplesmente confiava, significava muito. — Se você quer ser passivo, Chanyeol, é só pedir.
O Park balançou a cabeça em uma negativa velada, rindo enquanto finalmente terminava com as louças, praticamente ao mesmo tempo que Baekhyun terminara com o restante dos ingredientes, agora precisavam apenas montar os pratos. E claro, escorrer o macarrão. Antes que pudessem se atarefar novamente, envolveu o Byun em seus braços, o rodeando com as duas mãos enquanto se encostava na pia, os apoiando em seu próprio peso, não o deixando fugir da conversa, como ele sempre fazia. — Só estou dizendo que não tenho problema algum em ceder, se você quiser.
— Há quanto tempo você queria conversar sobre isso?
Chanyeol confessou. — Há muito tempo. Você não costuma dividir seus pensamentos comigo.
Baekhyun sorriu compreensivo, enquanto levava a mão livre para acariciar os cabelos vermelhos desgrenhados, um tanto desbotados, não imaginava que aquele assunto o incomodava tanto, tinha o péssimo costume de guardar tudo para si mesmo, e às vezes, esquecia que Chanyeol se preocupava demais com o que sentia.
— Eu gosto de estar por baixo, se quer saber. E não, não sinto falta de estar com mulheres — respondeu, suspirando por precisar conversar sobre um assunto que para si era irrelevante, contudo, sabia que o namorado não descansaria até saber se Baekhyun estava completamente satisfeito. Era o jeito dele. — A maneira que eu me enxergo hoje em dia é diferente, isso não quer dizer que nunca mais irei sentir tesão em corpos femininos, mas não preciso de ninguém quando estou com você. Não penso em outra pessoa ou sinto falta de como minha vida era antes. Ou até mesmo de estar por cima… — Rolou os olhos, sorrindo fraco enquanto percebia que o Park estava começando a ficar com vergonha pelo rumo que se estendiam. — Se eu mudar de opinião, você será o primeiro a saber.
— Eu só queria ter certeza que está tudo bem entre nós dois… — Chanyeol se justificou, suas mãos pararam no quadril de Baekhyun, e buscando aliviar a tensão momentânea, apertou devagar. Não tinha ciúme e desconfiança, mas sabia que Baekhyun tinha uma fama longa de ex-namoradas antes de se envolverem. Elas não o incomodavam, mas o sentimento de estar o obrigando a fazer algo, o perturbava. — Não quero que nosso relacionamento se torne algo pré-determinado onde você tem que ficar por baixo sempre, ou que caia na rotina, não quero que seja uma ditadura onde eu mando e você obedece.
O bico nos lábios do Park foram o suficiente para Baekhyun não segurar mais o riso, se jogando um pouco para trás, explodiu em gargalhadas a ponto de sentir as lágrimas se acumulando no canto dos olhos. Chanyeol parecia confuso. — Ai, Chanyeol, não precisa se preocupar, eu sei que você não manda em nada no nosso relacionamento. Na verdade, você só está por cima porque eu deixo, então no final, quem obedece é você. — O Byun se desvencilhou, empurrando o Park para o lado enquanto continuava o jantar, escorrendo o macarrão que talvez estivesse empapado, voltou a se concentrar em organizar os pratos, enquanto o próprio Chanyeol ainda estava estático no meio da cozinha, sem acreditar na resposta que havia ganhado.
— Por que eu sinto que essa última frase foi dita com sarcasmo? — Chanyeol perguntou, ainda confuso sobre o rumo da conversa, achou que estivesse sendo compreensivo, abrindo os termos e demonstrando que tudo bem mudarem de vez em quando, mas tinha a impressão que o jogo havia virado contra si.
— Está imaginando coisas — Baekhyun rebateu, montando pacientemente o espaguete nos pratos, com molhos, ervas finas e bacon, Chanyeol logo se aproximou, sem conseguir ficar um segundo longe, sentiu o peso do queixo dele em seu ombro de maneira imediata. — Seja sincero, todo esse monólogo foi para você admitir que quer dar seu cuzinho hoje a noite?
— Cala a boca.
Focaram em terminar o jantar enquanto dividiam sorrisos silenciosos, era estranho conversar sobre aquele tipo de assunto sem uma piadinha para aliviar o clima de tensão entre eles. Principalmente quando Baekhyun era péssimo em falar sobre os próprios pensamentos e sentimentos, no entanto, gostava que Chanyeol tivesse a coragem necessária para iniciar aqueles embates, sentia que ele se importava verdadeiramente e o admirava por ser tão corajoso até em assuntos delicados, gostaria de ser mais como ele, apesar de sempre fugir de conflitos. Não estava mentindo quando dizia que suas relações anteriores eram diferentes do relacionamento que vivia com o Park, encontrou um prazer peculiar em não precisar ser a pessoa que faz tudo pelo relacionamento, pela primeira vez se permitiu ceder, aproveitar o prazer, o carinho e o aconchego sem pensar que era menos homem por causa disso. Gostava de estar por baixo quando estava com ele, mas duvidava que pudesse sentir-se assim com outra pessoa.
Estava feliz de ele se importar o suficiente para perguntar. Já Chanyeol não era o maior fã de ser passivo, mas não desgostava de nada no sexo, não se restringia a apenas uma posição, apesar de ter preferencias claras, estava disposto a ceder se fosse o caso. Se Baekhyun se sentisse incomodado de estar sempre por baixo, não pensaria duas vezes em trocar de posição com ele, era quase um alívio saber que ele gostava. Também tinha a impressão que focar em outro assunto o distraía de lembrar da quietude de sua família, Baekhyun sabia esconder muito bem quando estava triste, mas Chanyeol também o conhecia bem demais para perceber quando ele estava mentindo.
O próprio Park vivia tranquilamente sem contato próximo com sua família. Enviava flores no aniversário, uma mesada gorda para a mãe e o pai, mesmo que eles não merecessem, pagava a escola dos sobrinhos e comparecia um natal sim e outro não. Se assumiu na mídia no início da carreira e não teve apoio algum, não foi a decisão mais sábia para a época, sua família não gostou nem um pouco, mas o Park não conseguia viver em paz enquanto mentia e se escondia, tinha sorte de ter talento e ser tão bom a ponto de fazer os outros engolirem os comentários ruins. É claro, também foi uma jogada de mestre anunciar que jogaria na Europa uma semana depois, abafou a notícia sobre sua sexualidade e de repente, todos queriam saber em qual time ele estaria. Também possuía um psicológico inabalável. Não olhava comentários ruins, não controlava as próprias redes sociais e se afastava de qualquer um que pudesse interferir em suas noites de paz. Era solitário às vezes, mas era silencioso. Estava tão ocupado consigo mesmo, que não sobrava tempo para perder com os outros.
Sabia que Baekhyun era diferente. Ele se importava demais com coisas pequenas. Já havia o pegado lendo comentários de ódio sobre si mesmo mais de uma vez, sobre seu estilo de jogo, suas lesões ou seu jeito recluso. Ele sabia esconder muito bem quando algo o incomodava, mas nunca tinha o visto tão aéreo como agora. Não sabia se ele já havia se resolvido com a própria mãe, mas tinha certeza que a opinião do pai dele era a que o influenciava, e não queria tocar no assunto e remoer lembranças ruins, ao mesmo tempo que estava a ponto de surtar por ele não dizer nada. Pelo menos, ele estava seguindo a vida normalmente, treinando, jogando bola e comparecendo aos eventos que era convidado, ele era influente na Espanha, adorava moda, trabalhava de maneira impecável mesmo que não fosse tão ativo nas redes sociais, ele tinha seus próprios fãs, equipe, fotógrafos, tudo do melhor para ter uma boa assessoria. O que ele não tinha era coragem. Anotou mentalmente que marcaria um psicólogo para ele. Se Baekhyun ainda tinha amarras no peito para se abrir consigo, talvez ele conseguisse com um profissional.
Porém, aquela conversa teria que ficar para outro dia.
Baekhyun se sentia mil vezes melhor envolvido no abraço de urso de Chanyeol, o sofá se tornava minúsculo quando queriam usá-lo como cama, mas nenhum dos dois se importava. O filme já estava perto do fim quando o ronco de Chanyeol começou a ressoar baixo, ele afundou no sofá e Baekhyun sabia que ele tinha adormecido, era sempre assim, não estava surpreso. Estar com ele o fazia esquecer dos problemas rotineiros, da mensagem que seu pai nunca respondeu, da promessa de sua mãe de tentar resolver as coisas, quando era Baekhyun que havia estragado tudo. Não deveria ter contado. Eles não estavam prontos para lidar com aquele segredo, e Baekhyun descobriu que não estava pronto para lidar com o desaparecimento deles de sua vida. Sabia que havia feito o certo, sabia que era significativo, também era sufocante, tanto para si quanto para Chanyeol, não poderem dizer nada, mas tinha escolhido o momento certo? Usado as palavras certas?
A indecisão o corroía lentamente, mesmo que em seu íntimo soubesse que nada poderia mudar o passado. Se perguntava até quando ele o odiaria, seu maior apoiador, agora era seu maior problema, se perguntava se ele ainda o amaria, se ele aceitaria. Desligou a televisão, nem se preocupando sobre os pratos ainda estarem na mesa de centro, os deixaria para o outro dia, virou-se de frente, esfregando a bochecha contra a camisa de algodão de Chanyeol, pensou que tudo bem, uma hora as coisas se resolveriam, precisava dar tempo ao tempo, esperar que seus pais se acostumassem com a ideia, em um mês estaria de volta à Coréia, para jogar um amistoso contra Camarões, poderia conversar com eles novamente e acertar as pontas soltas.
Logo caiu no sono, enquanto tentava dar um passo de cada vez.
Chanyeol não sabia que horas eram quando acordou com o celular tocando, tentou ignorar, mas o aparelho soava estridente de maneira incessante, abriu os olhos em meio ao breu e se odiou por ter que se desvencilhar do abraço de Baekhyun para sair em busca do barulho. Baekhyun resmungou e pediu para Chanyeol não ir, mas não tinha como voltar a dormir com aquele som chato invadindo seus pensamentos, só queria colocar o celular no silencioso quando o pegou, mas quando viu o remetente, atendeu na mesma hora. Já havia dezessete chamadas perdidas de Jongin. — Jongin, meu Deus, o que houve?
“Você está em casa? Estou chegando. Não olhem as redes sociais, não liguem a televisão ou vão para fora. O Baekhyun está com você?”
— Sim, estamos juntos — respondeu, passando a mão no rosto para afastar o sono, Baekhyun se aproximava, também sonolento, mas curioso para saber o porquê Chanyeol ainda não havia desligado, perguntando baixinho quem era. Automaticamente, colocou a chamada no viva voz, ainda bêbado de sono. — Porra, são 04:17 da manhã, o que você quer dizer com não olhem as redes sociais?
Baekhyun subitamente estava muito acordado, em busca do próprio celular. — O que aconteceu? Por que tem sessenta chamadas perdidas do Sehun no meu telefone?
“Vamos tirar vocês de casa antes que os jornalistas cheguem. Já estamos preparando uma declaração, chego em quinze minutos.”
Chanyeol sentiu um frio aterrorizante subir por suas pernas, trocou olhares com Baekhyun e sentiu medo. Pouco a pouco, enquanto Baekhyun checava as mensagens no celular, sem ele dizer nada, Chanyeol desconfiou do que se tratava. Não era difícil adivinhar o que havia acontecido com as pistas de Jongin. Repórteres, declaração, a urgência na voz. Encarou o namorado que estava sentado na beirada da cama e sentiu apreensão pelo modo que os olhos dele estavam arregalados. — Baekhyun, me dá seu celular — pediu, estendendo a mão enquanto finalmente ligava os pontos depois de finalmente acordar. — Vamos esperar o Jongin chegar e resolver isso.
Baekhyun negou, sem nem mesmo olhá-lo, enquanto se levantava da cama e seguia para o banheiro. — Não. Eu preciso falar com o Sehun. — Estava nervoso. Só havia visto algumas mensagens do empresário, assim que rolou a tela para baixo, conseguiu perceber a gravidade da situação: uma foto sua beijando Chanyeol. No estacionamento do mercado naquela tarde. O estômago revirou, engoliu em seco, se perguntando quem havia vazado, quem já havia visto, se a foto já estava circulando pela internet… é claro que estava. Quando Chanyeol segurou em seu braço para que não pudesse se trancar no banheiro, se desvencilhou do toque dele, como se queimasse. — Nem tente me impedir.
Se trancou no banheiro, lendo cada mensagem enviada pelo empresário, sem falar nas dezenas de mensagens apitando, enviadas por amigos próximos, família, seu pai havia finalmente respondido. Que surpresa, não? Agora que as coisas estavam ruins. Respondeu Sehun com um simples: “Oi, me liga.” e cometeu o fatídico erro de abrir o Twitter, o ar de repente parecia estar rarefeito, havia dezenas de menções, seu rosto no trending topics coreano, e em décimo lugar do mundo. Os jornais podiam não ter acordado ainda, mas a internet nunca parava, todos só comentavam sobre o mesmo: o relacionamento deles, desde quando Baekhyun não era hétero, a explosão de homossexualidade entre companheiros do mesmo time… As mãos tremiam e lágrimas ameaçavam escapar por seus olhos. Abriu o Instagram, pouco se importando se estava fazendo a coisa errada, as reações eram piores, pelo menos nos poucos tuítes que havia passado o olhar, havia discordâncias de opiniões: alguns achavam ridículo, outros haviam adorado. No Instagram todos haviam odiado. Com as mãos suadas, deslizou o dedo pela timeline, tendo que engolir que em poucas horas seria alvo de chacota nacional em todos os jornais, nem queria ver o que os outros jogadores falariam ou o que seus fãs diriam, estava em pânico. Não precisava ser arrancado do armário antes da convocação oficial para a Copa. Não queria ter sua vida revelada sem o mínimo de consulta. Sua maré de azar nunca ia embora.
Chanyeol estava a ponto de enlouquecer do lado de fora. Andava de um lado para o outro na sala quando Jongin chegou, já eram quase cinco da manhã e sua cabeça latejava de dor por ser acordado daquela maneira. Não havia lido as mensagens no celular, muito menos visto qualquer rede social, sabia como aquilo funcionava, sabia que não conseguiria parar uma vez que começasse, não estava preocupado com sua posição ou com sua braçadeira de capitão, apenas com Baekhyun. Em como ele reagiria. Nas consequências que aquela foto geraria na vida deles naquela altura do campeonato, Jongin havia enviado no chat de mensagem e Chanyeol havia visto. Era uma sequência de fotos com qualidade, o que indicava que realmente haviam sido tiradas por um paparazzi com câmera profissional, eles estavam sem o capuz se beijando e em seguida, sorrindo um para o outro. Mostrando seus rostos. — O que vamos fazer? — perguntou, enquanto abria a porta, pelo menos estavam seguros nos arredores da mansão. Só não sabia até quando.
Jongin nunca se sentiu tão cansado como nos últimos meses. Em tanto tempo trabalhando com Chanyeol, nunca foi tão estressante lidar com uma situação como aquela: o relacionamento dele com Baekhyun. Foi uma surpresa, não acreditou quando ele contou, jurou que era alguma piada, até os ver juntos pela primeira vez. E apesar de estar feliz pelo amigo, ele e Sehun compartilhavam do mesmo pensamento. Em algum momento daria errado. Também tinha um sentimento em particular que o incomodava. Não gostava da indecisão do Byun, do jeito que ele lidava com as coisas e da maneira que ele parecia jogar tudo em cima de Chanyeol. Não desgostava dele, mas precisava pensar no melhor para o Park, para a pessoa que trabalhava e durante aquele um ano e meio, não achava que Baekhyun era o melhor para ele. De qualquer forma, não era sua função achar algo. Só precisava lidar com compras de diversas passagens de avião, suborno, conversar com o empresário de Baekhyun, alugar apartamentos e locar carros. Ah, e ter certeza que nada iria vazar. Era estressante e cansativo, mas já estavam fazendo aquilo em conjunto há mais de um ano.
E aquele, era o pior momento para eles serem descobertos. — Acho melhor tirarmos vocês da sua casa por enquanto, quando amanhecer os jornalistas estarão do lado de fora querendo mais fotos ou entrevistas — explicou, mostrando as reservas que havia feito em um hotel cinco estrelas em Berlim. Passariam despercebidos pelo elevador dos funcionários e somente o próprio gerente do hotel, extremamente confiável, sabia quem Jongin era e para quem ele trabalhava. — Quando estiverem a salvo no hotel, onde ninguém saberá onde estaremos, podemos soltar a declaração oficial, conforme o combinado.
Chanyeol engoliu em seco, não gostava de fugir, não precisava se esconder, muito menos ter que sair de sua própria casa por algo que não era do interesse de ninguém além do seu, mas sabia que como figura pública, todos se sentiam no direito de opinar. Geralmente, os enfrentaria de queixo erguido, mas sabia que Baekhyun não conseguiria. — Okay, parece um bom plano, obrigado por pensar em tudo. Você e o Sehun. — Suspirou, passando a mão no rosto, no pouco tempo que ficou sozinho, jogou uma água no rosto e escovou os dentes para acordar. Não tinha funcionado muito. Tudo ainda parecia um pesadelo. — Tenho que convencer o Baekhyun a sair do banheiro.
— Você deixou ele pegar o celular?
— E como eu iria impedir? Amarrando ele?
Jongin revirou os olhos, estressado com a situação. Ainda nem era dia, mas já ansiava pelo momento em que todo o alvoroço acabaria. — Ótimo! Tudo que precisamos agora é do drama dele.
— Jongin! — Chanyeol o repreendeu, com as mãos apoiadas na cintura enquanto não entendia a opinião do próprio funcionário. — Ele está assustado. É difícil para ele lidar com tudo ao mesmo tempo, ninguém gosta de ser exposto na mídia do dia para a noite.
Jongin revirou os olhos. — Ele está sempre fugindo, Chanyeol. É o que ele vai fazer de novo.
O sentimento de raiva rapidamente o tomou, e quando menos percebeu, estava perigosamente próximo do próprio empresário, nem havia percebido quando havia encurtado a distância entre eles em simples passos longos. — Não vou admitir que você fale dele na minha frente! — A mandíbula bem trincada mostrava o quão estava irritado com o comentário fora de hora. — Nem por trás. Guarde seus pensamentos só para você.
Jongin sabia reconhecer quando havia ultrapassado a linha e também admitia que estava precisando de férias. — Me desculpa — resmungou, respirando fundo para controlar a própria ansiedade. — Não dormi uma hora sequer, estava tentando resolver a situação, mas você tem razão. É melhor chamá-lo, não temos muito tempo.
Chanyeol assentiu, aceitando as desculpas do amigo, apesar de ter se chateado com as palavras duras dele. Não foi preciso, no entanto, invadir o banheiro como achava que seria necessário, Baekhyun saiu do quarto, os surpreendendo enquanto surgia na sala, andando na direção deles. — Baekhyun, você está bem? — Praticamente correu até ele em passos rápidos, envolvendo as mãos nas dele, que rapidamente se desvencilhou, se afastando. O ato por si só magoou o Park, e quando prestou um pouco mais de atenção, percebeu que o Byun nem mesmo o olhava.
— Não quero falar sobre isso… — Baekhyun respondeu, estava abalado, com medo e ansioso. Tinha a impressão que explodiria a qualquer momento, ou de raiva pelos comentários que havia lido na internet, ou de tanto chorar com as mensagens de desprezo recebidas pelo pai, de preocupação sobre como lidaria com sua própria carreira de agora em diante. Estava na beira do abismo e não queria levar Chanyeol junto. — O Sehun me explicou sobre o plano de vocês, não há como irmos em carros separados?
Jongin, um tanto surpreso pelo jogador estar falando diretamente consigo ao invés de falar com Chanyeol, que geralmente intermediava a conversa entre eles, demorou a raciocinar. — Não consegui ninguém de confiança para dirigir outro carro. Acho melhor irmos todos juntos.
— Okay… — Baekhyun murmurou, assumindo uma postura mais séria, encarou Chanyeol e Jongin, revezando o olhar entre um e outro. — Não vou para o hotel. Vou direto para o aeroporto, vou pegar o primeiro voo de volta para a Espanha e quando eu chegar, Sehun vai estar me esperando com vários seguranças.
Chanyeol, pouco a pouco, se sentia como um peixe fora d’água. Estava odiando a maneira que Baekhyun falava. Como se ele não tivesse nada a ver com a sua vida. Como se eles não estivessem enfrentando todo aquele martírio juntos. — Não acho uma boa ideia. Você acabou de ler um milhão de besteiras na internet e simplesmente vai aparecer no aeroporto? Eles vão saber que é você. — Tentou se aproximar, pegando no ombro dele, acariciou a parte coberta pela blusa e sentiu um frio percorrer sua espinha quando ele o encarou de volta, olhares totalmente sem vida. — É melhor resolvermos isso com calma, Baekkie.
— Não podemos estar juntos no mesmo lugar, isso só vai aumentar os rumores… — Baekhyun murmurou, tomado pela insegurança e pânico do que estava por vir, desviou o olhar de Chanyeol para Jongin. — Sobre uma declaração oficial, não quero que publiquem nada agora.
Chanyeol rebateu. — Não são rumores.
Jongin franziu o cenho, meio assustado sobre estar no meio de uma quase briga. — Você sugere não fazermos nada? Se ficarmos em silêncio, isso vai dar margem para falarem sobre vocês, se o relacionamento de vocês é verdade ou não, sobre suas índoles, seus interesses românticos… — Balançou a cabeça, estressado e impaciente. Estava desacreditado. — Já conversamos sobre isso mais de uma vez. É melhor que o comunicado oficial seja divulgado pela equipe de assessoria de vocês do que simplesmente deixarmos os boatos aumentarem.
— Não quero que divulguem nada. Vamos esperar um pouco mais. — Baekhyun reforçou o que preferia, focado no que ele e Sehun haviam conversado. Focado no quanto confirmar algo no momento poderia prejudicá-lo com o clube ou com os próprios pais. Se deixassem a mídia esquecer um pouco, talvez pudessem pensar em uma estratégia melhor, anunciar depois da convocação oficial. Estava perdido. — Vou pegar minhas coisas.
Chanyeol continuou estático no meio da sala, sem conseguir acreditar no que tinha ouvido, sem conseguir controlar os próprios pés quando o seguiu até o quarto, este que havia sido prova de longas juras de amor entre eles por muitos dias. — Baekhyun, você não precisa fugir, podemos lidar com tudo isso juntos! — Tentou convencê-lo de que era uma péssima ideia, porque era. As fotos eram verídicas e em alta qualidade, não havia dúvidas de que eram eles dois, não tinha como desviarem da verdade. — Não me afaste, por favor.
Baekhyun suspirou, socando tudo que era importante em uma mochila preta: passaporte, carregador, fones… Não queria olhar para Chanyeol. Não queria hesitar naquele momento. — Chanyeol, por favor. Eu preciso de um tempo sozinho para pensar no que fazer, tudo bem? Você pode respeitar meu espaço?
Olharam um para o outro de um jeito doloroso. Não era assim que Chanyeol esperava que ele reagiria quando se assumissem. Sabia que não tinha sido por uma escolha deles, mas eles sabiam dos riscos, uma hora ou outra, aconteceria. — Você me disse que não estava mais confuso — murmurou, com a terrível sensação no peito de que, na verdade, Baekhyun nunca tinha planejado sair da escuridão. — Você mentiu?
Queria que Baekhyun gritasse em alto e bom som: não! Queria que ele dissesse que estavam juntos naquilo, mesmo que fosse um problema terrível e que estivessem com muito medo. Porque Chanyeol estava com medo e sabia que ele também estava. Não foi o que ele fez.
— Me desculpa, mas eu realmente não quero falar sobre isso.
Ele saiu com a mochila pendurada nas costas e Chanyeol sentiu como se o mundo estivesse desmoronando. Por um minuto, tinha acreditado que as coisas dariam certo. Eles tinham sido descobertos, mas tudo bem. Eles já tinham conversado sobre esse tipo de situação antes e não era aquele comportamento que ele esperava de Baekhyun. Não esperava ter que lidar com tudo sozinho enquanto ele se escondia, nem esperava ter que lidar com a frieza dele no carro, sentado do outro lado do banco de trás, imerso nos próprios pensamentos. Frustrado pelo jeito que Baekhyun parecia querer estar longe, se afogou em seus próprios pensamentos inseguros e retribuiu a distância, se era espaço que ele queria, era espaço que daria a ele.
Contudo, quando ele desapareceu pela entrada privada do aeroporto sem nem olhar para trás, Chanyeol percebeu que também estava chateado, mas não deveria ter deixado ele ir. Não quando ele estava visivelmente abalado; não quando ele era o único que sabia como era a sensação. Era tarde demais.
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Baekhyun nunca se sentiu tão solitário como durante aquelas semanas. O primeiro dia foi o pior. Não podia sair de casa e para falar a verdade, nem queria. Sehun o obrigou a fazer o que deveria ter feito desde o início, desinstalou as redes sociais, quase todas pelo menos, o aplicativo de mensagens sendo o único que ainda usava com frequência, a escapatória pelo aeroporto havia dado certo, mesmo que houvesse fotógrafos na saída, atravessaram até o carro rapidamente, os seguranças praticamente atropelando quem estava na frente.
Ainda assim, Baekhyun ouviu as perguntas: “Há quanto tempo você é gay?”, “As fotos são montagens?”, “Você e o Park Chanyeol estão namorando?”, era insuportável. Toda a sua integridade, sucesso, esforço, reduzido a nada, enquanto sua vida particular era o alvo do mundo inteiro. Não foi corajoso o suficiente para ler os comentários dos jornais coreanos, ou de qualquer rede social de seu país, sabia bem como eles lidavam com aquele tipo de escândalo. O que não esperava, no entanto, era ser prejudicado no Barcelona. Nunca pensou na Espanha ou no próprio time como intolerantes, mas talvez houvesse subestimado o novo técnico. Ficou no banco em todos os jogos que ocorreram naquele mês, a desculpa era que ele havia atraído comentários de ódio contra o próprio clube por não agir com responsabilidade em sua vida pessoal. Era ridículo. Sehun havia se tornado seu porto seguro naqueles dias, sempre o visitando com frequência, trazendo seu almoço, perguntando sobre como estava se sentindo, mas nem ele era capaz de extinguir todos os sentimentos ruins.
Uma semana depois, quando estava mais calmo e precisava retornar às atividades normais, o treino do Barcelona foi lotado por jornalistas que tiveram que ser expulsos para os jogadores conseguirem se concentrar. Era tudo culpa sua, todos sabiam. E quando ficou no banco de reserva durante o primeiro jogo depois de sua foto ser exposta em todos os cantos do mundo, tudo que conseguia ouvir eram xingamentos dos torcedores, frases pejorativas e vaias. Fingiu que não ouvia, enquanto tentava encobrir a vontade de sumir daquele lugar, correr direto pro vestiário e se esconder em uma das cabines. Além disso, ele e Chanyeol estavam estranhos, conversavam por mensagem, mas não haviam mais tocado no assunto, nem sobre uma declaração oficial, nem sobre como estavam chateados, trocavam simples cumprimentos e mensagens do dia a dia. Baekhyun estava chateado com o mundo e Chanyeol com ele. Conforme os dias passavam, sem uma perspectiva de explicação, os jornalistas esqueceram ou fingiram esquecer, os torcedores focaram em alguma outra crise momentânea e até os telespectadores coreanos pareciam ter cansado de especular algo que não havia sido explicado. Seu pai, contudo, mandava mensagens todos os dias, aparentemente preocupado com a reação pública e a gestão de sua carreira, era sua vez de dar o troco agora, por isso não respondeu nenhuma mensagem. Sabia que tinha que fazer algo, precisava acabar com aquele assunto de maneira definitiva, ou se explicando como era o combinado ou se escondendo, deixando sua vida particular no particular, mesmo com o risco de que os boatos nunca cessassem.
E tinha Chanyeol. Seu orgulho o impedia de tentar falar com ele pelo telefone, havia fugido, como um covarde, mesmo que eles já tivessem conversado sobre aquele assunto um milhão de vezes, Baekhyun tinha medo. Deixou que ele tomasse conta de todo o seu corpo até que não sobrasse mais nada além do desejo irrefutável de voltar ao passado. Talvez, se não tivesse o beijado naquele dia… se tivessem sido mais precavidos… mas, não. Se tornaram confiantes sobre o próprio segredo, esquecendo de onde havia nascido, Baekhyun tinha se permitido viver uma vida normal, sem recordar do ambiente preconceituoso que trabalhava, do estilo de vida que esperavam de um jogador de futebol.
Era estranho pensar que já havia sido como eles um dia, feito as mesmas piadas, olhado com o mesmo olhar para pessoas que não mereciam seu desprezo. Não queria perder ele, não queria terminar o relacionamento, ou fazê-lo pensar que não o queria, mas ele era fogo e brasa, corajoso e impetuoso, sem pensar nas consequências, ele faria qualquer coisa para o defender. Baekhyun sabia. Ele acabaria estragando sua própria carreira, a temporada gloriosa que ele estava fazendo, só para bater boca com a imprensa. Não era o que desejava. Era por isso que se mantinha afastado, talvez, se pudessem conversar sozinhos, sem a presença de mais ninguém, o Park poderia entender o quanto ser reservado era benéfico para eles. Mesmo que não fizesse o estilo dele.
De qualquer forma, seu monólogo não era importante. Não quando estava sendo cercado por toda a mídia coreana enquanto desembarcava do avião. Eles haviam esquecido o assunto durante aquele último mês, mas agora, com todos os jogadores da seleção coreana em Seul, incluindo Baekhyun e Chanyeol, prontos para jogarem um amistoso contra Camarões, eles tinham dois alvos em suas cabeças novamente.
A primeira diferença explícita foi o modo como os outros jogadores o olhavam. Eles que haviam crescido juntos, até mesmo treinado juntos antes de virarem profissionais, mas ainda assim, eles o encaravam como se Baekhyun fosse um extraterrestre, como se ele tivesse cometido um terrível crime, e embora se sentisse um tanto enraivecido, descobriu que também não estava pronto para suportar aquilo, olhares julgadores e de desprezo por pessoas que tinha um grande apreço. Eles eram um time, haviam vencido e perdido tantas vezes juntos. Enquanto calçava sua chuteira, Baekhyun não sabia o que pensar ou que atitude tomar, só desejava estar totalmente imerso no futebol, talvez para se distrair dos próprios pensamentos negativos, antes de qualquer outra situação, queria mostrar o quanto era valioso para o time, para esconder seus próprios defeitos, para encobrir o boato de sua vida pessoal. Era quase um costume eles ficarem livres para estar em casa quando estavam na capital, mas Baekhyun havia preferido passar toda sua estadia em um hotel, mesmo que sua mãe tivesse insistido que eles precisavam de uma conversa. Ultimamente, parecia que estava devendo a todos.
— Baekhyun, tudo bem? — Nem percebeu quando Junmyeon estava em sua frente, e também não percebeu que Chanyeol estava atrás dele, apertou bem o cadarço, tirando o pé do banco no mesmo segundo. — Só queremos saber como você está…
Respirou fundo, sentindo uma vontade grande e súbita de cruzar a linha e abraçar o namorado. Junmyeon também havia mandado várias mensagens, mas não era como se Baekhyun quisesse falar com alguém, então simplesmente não respondeu. Mesmo que quisesse pedir conselhos a ele. — Tudo bem, acho que eu só precisava ficar sozinho para reorganizar meus pensamentos.
— E você conseguiu? — Dessa vez, Chanyeol quem fez a pergunta, de braços cruzados atrás de Junmyeon, ele simplesmente parecia intocável. Inabalável. Baekhyun queria perguntar se ele estava bem também, se ele havia sentido sua falta, como estava a vida social dele, mas não podia. Não na frente de tantas pessoas.
— Sim — respondeu, de forma simplista, umedecendo os lábios com o nervosismo aparente. — É melhor irmos, Donghae não gosta de atrasos. — Usou a desculpa perfeita para sair do meio da conversa, sabia que devia uma explicação a Junmyeon e principalmente, a Chanyeol. Sabia que precisava resolver o problema que tanto havia adiado, mas o medo ainda estava lá, sussurrando em seus ouvidos que era ele que atraía o azar para vida de todo mundo.
Todos já estavam posicionados no campo, o mesmo de sempre, testes de bola, ataque, defesa e muita corrida. Foram divididos em dois grupos, sem camisa e com camisa, foi o treinador que escolheu os integrantes e Baekhyun desconfiava que ele tinha o colocado no time rival de Chanyeol de propósito. Ainda assim, não reclamou. Era melhor que ficassem longe um do outro para não atrair mais atenção para si mesmos, a imprensa e os fotógrafos haviam sido dispensados. É um treino fechado, foi o que a seleção divulgou. Entretanto, todos sabiam. Era por causa deles, dos boatos, da integridade mental, a comissão técnica não queria se envolver em um espetáculo, mas a grande questão é que eles eram uma bomba relógio. Seu time estava perdendo, para variar, lentos e inquietos, não conseguiam acertar um passe, Baekhyun precisava admitir que por mais focado que tentasse estar, a preocupação excessiva só atrapalhava, pensar o tempo inteiro no que os outros pensavam sobre si, o adoecia. Em uma falta importante, chutou a bola para fora e suspirou com o erro miserável. Nem percebeu a má intenção do outro jogador, somente quando já estavam cara a cara, somente quando Kwan topou em seu ombro tão forte, que Baekhyun vacilou um pouco para o lado.
— Não consegue se concentrar, Byun? Desaprendeu a jogar bola agora que virou uma bichinha?
Desacreditado, franziu o cenho. — Qual é o seu problema?
Kwan riu debochado, com mais dois colegas de time, eles eram do mesmo grupo escolhido pelo treinador, Baekhyun não esperava por aquilo. Não deles. Já haviam bebido várias vezes juntos. — Você é o passivo, não é? Tá gostando de dar seu rabo pro Chanyeol? Virou mulherzinha agora?
Lentamente, sua respiração aumentou em uma velocidade surpreendente, arfando como se não pudesse respirar, Baekhyun estava ardendo em raiva, um misto de descrença e vergonha tomava sua boca. Por que havia pensado que seria diferente? Eles eram da porra de um país asiático, a maioria daqueles jogadores eram homofóbicos de merda e ainda assim, ele havia achado que sairia ileso. É só não tocar no assunto, foi o que pensou. Percebeu tardiamente que eles nunca esqueceriam, uma vez descoberto, não havia como se esconder novamente. Ele nunca mais seria um deles. Estava estático, sem reação, apesar da raiva esquentando seu sangue, não queria pôr tudo a perder, mas Chanyeol chegou tão rápido, que o próprio Byun nem percebeu que ele também escutava a conversa. Arregalou os olhos assim que Chanyeol simplesmente o empurrou para trás com uma mão e socou Kwan com a outra. Um soco muito forte e muito bem-dado. Em segundos, o Park estava em cima do outro jogador, os joelhos bem apoiados na grama sintética, em volta do quadril do outro, enquanto as mãos dele não paravam, desferindo um soco após o outro.
— Repete, seu filho da puta — Chanyeol mandou, a voz alta se sobressaía no campo, e logo uma roda foi formada em volta deles. Precisaram de outros quatro jogadores para tirarem o Park de cima do Kwan, este que agora tinha um olho roxo e um corte no supercílio. — Eu quero ver se você tem coragem, desgraçado. Vou quebrar todos seus dentes, seu merda!
Kwan tinha uma expressão assustada no rosto, ainda estirado no chão, ele olhava para Chanyeol com pavor, nunca tinham o visto daquele jeito. Todos sabiam o quanto o capitão era esquentado, mas ele nunca havia saído no soco com ninguém. A coragem que ele parecia ter, sumiu rapidamente e ele foi ajudado pelos outros colegas de time, o sangue escorrendo pelo rosto lentamente, o trouxe de volta a consciência, e ele começou a ficar indignado por ser atacado. Já Baekhyun, ainda estava parado no mesmo lugar, percebendo que não havia feito ou dito nada, mesmo que todos os xingamentos fossem para si. Se odiou, por não ser rápido o suficiente. Era ele que deveria ter dado um soco na cara do Kwan.
— Que merda tá acontecendo? Chanyeol, vai esfriar essa cabeça! — Donghae chegou atrasado, depois que a briga já tinha sido separada, então ele não tinha como saber o motivo por trás dela, mas ele sabia quem estava envolvido. E ele não admitiria que sua ordem fosse questionada. — Kwan, tá suspenso.
— O quê? Foi ele quem me atacou! — O jogador, histérico, apontou para Chanyeol, que agora, já se desvencilhava do aperto dos outros jogadores.
— Você tá suspenso, caralho. Ainda lembra quem manda aqui? — Donghae conseguia ser intimidador quando queria. O jogador só acenou. — Ótimo, então some da minha frente. — Ele deu seu ultimato, se virando para encarar o capitão, que também seguia suas ordens de forma velada. — Chanyeol! Na minha sala em cinco minutos.
Chanyeol também acenou sem questionar, e agora liberto do aperto dos colegas de time, se afastou até chegar na arquibancada, tirou a camisa e pegou uma garfada de água, fazendo literalmente o que Donghae havia mandado. Esfriando a cabeça, jogou todo o conteúdo em seus cabelos, nuca e pescoço, deixando-se cair na cadeira de plástico, esticou as pernas e se permitiu fechar os olhos para que conseguisse esvaziar toda a raiva que o compunha.
Quando lembrou que aquilo tudo havia acontecido por sua causa, Baekhyun fez seu percurso até Chanyeol, com um pouco de vergonha e inquietude na voz, estava chateado, mas descontava na pessoa errada. — Eu não preciso que você me defenda. Eu tinha tudo sob controle, não quero dar atenção a esse tipo de comentário, Chanyeol!
Chanyeol estava farto daquilo. De não fazer nada. Foda-se a imprensa, fodam-se os rumores, ele não queria mais ficar de braços cruzados. — O que você esperava de mim, Baekhyun? Você acha que eu ia mesmo deixar aquele filho da puta falar de você de qualquer jeito? Desculpa, se eu não sou tão paciente quanto você. — Levantou-se, os cabelos batiam em sua testa e Chanyeol cheirava a suor, mas não com odor. Ele exalava cheiro de homem. Se aproximou de Baekhyun sem se importar com a plateia que os rodeava e por um momento, eles pareciam que iam brigar, como há anos atrás. — Se você não precisa de mim, então por que você mesmo não se defende? Até quando você vai fugir?
Baekhyun sentiu a raiva finalmente tomar conta de sua mente. — Cala a merda da sua boca — rebateu, engolindo em seco quando Chanyeol ao invés de ficar chateado pelo seu tom de voz, abriu um sorriso safado, orgulhoso, bonito demais para o Byun não reparar.
— Por que você não vem calar?
Automaticamente, Baekhyun desviou o olhar para a boca dele, carnuda e vermelha, como sempre. O desejo corrompeu sua mente e por alguns segundos, não tinha mais certeza se estavam brigando ou fazendo as pazes. Felizmente, antes que tomasse qualquer decisão, que seu coração e seus pés o traíssem o levando diretamente para Chanyeol, ele cortou o contato entre eles, se afastando, o seguiu lentamente com o olhar, se dando conta de que ele havia ido conversar com o técnico do time. Quase. Quase tinha se deixado levar. Frustrado, desceu para o vestiário, agora era ele quem precisava esfriar a cabeça.
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Ter que esperar, era uma merda. Chanyeol não se considerava uma pessoa paciente, muito menos passiva. Durante aquelas semanas intermináveis, tudo que queria era ir até Baekhyun, fazê-lo enxergar, brigar ou gritar se fosse preciso, mas assim como antes, ele sabia que o pressionar não ajudaria. Ao mesmo tempo que entendia, também se mostrava inconformado, nunca pensou que passariam por uma crise de indecisão naquele momento, contudo, sabia que apesar de tudo, ele estava com medo. Não o julgava, porque também estava, não por si mesmo, mas por ele, pela forma que ele seria afetado, tudo por causa daquela maldita foto. Era mais simples para si, apesar dos comentários homofóbicos terem aumentado, estava acostumado. Já tinha se assumido há muito tempo e de certa forma, não era uma surpresa que estivesse se envolvendo romanticamente com alguém, tanto tempo sem aparecer com um affair o deixavam na lista de celebridades que estão namorando escondido, mas não era uma novidade, todos já sabiam de sua índole, de sua sexualidade, de seu jeito irritado nos campos de futebol, mas eles não sabiam nada sobre Baekhyun.
Não era a opção de ficar quieto que o magoava, era a distância. Estavam juntos naquele relacionamento, entre os altos e baixos, mas ainda assim, juntos. Era o silêncio mórbido e o jeito que Baekhyun respondia às mensagens que o deixava chateado, como se a culpa fosse sua, como se ele nunca tivesse a intenção de tornar a relação deles pública, mesmo que ela beirasse os dois anos. Entre dias de treino e dias solitários, percebeu ser malditamente fraco por Baekhyun, pela presença dele, pelo sorriso, pela voz em uma ligação, percebeu querer que eles tivessem um relacionamento público, onde pudessem andar sem se esconder, nem disfarçar que estavam juntos, mas queria que Baekhyun também quisesse. Não saberia como reagir se tivesse uma resposta diferente de um sim, depois de tanto tempo idealizando o momento pelo qual não precisariam mais fugir como se estivessem fazendo algo errado. Nem queria pensar naquela possibilidade. Durante a viagem de volta para Coréia, Baekhyun ficou incomunicável, Sehun também não respondia as malditas mensagens de Jongin e o estresse começou a tomar Chanyeol lentamente, sem saber em qual voo ele estaria, ou onde estaria hospedado, só esperar por uma resposta não o agradava mais. Precisava falar com ele.
O comitê coreano fazia tudo fora do prazo e a desorganização com os jogadores desestimulava o Park a continuar renunciando a jogos importantes na Bundesliga para estar presente em um simples amistoso. A Copa do Mundo seria em um mês e eles não tinham uma lista de convocados, os empresários e os técnicos estavam segurando os nomes até o último segundo, a grande maioria estava apreensiva, reservas sonhando em virarem titulares, algum outro jogador que nunca fora convocado idealizando pela sua chance de representar seu país, e tinha Chanyeol, intocável, sem um pingo de insegurança em suas veias, ele sabia que estaria no Qatar. Não existia naquele time um jogador melhor do que ele. Ele tinha confiança de que representaria seu país, pelo menos, até os primeiros trinta minutos de treino, onde colocou tudo a perder.
Ele sabia que tinha algo errado com Baekhyun, quando o cumprimentou no vestiário, quando o olhou durante o treino, já havia sido alvo de piadas homofóbicas, xingamentos e olhares tortos um milhão de vezes. Sabia reconhecer. Mesmo assim, esperou. Esperou que o Byun reagisse, esperou que ele xingasse o outro jogador como xingou Chanyeol várias vezes, por anos, esperou pela postura ameaçadora que ele sempre tinha quando alguém pisava em seu sapato, esperou pelo olhar feroz e a voz raivosa. Nada veio. E quando percebeu que ele não faria nada, uma fúria descontrolada tomou seu corpo. Não precisava escutar diretamente o que o Kwan havia dito porque sabia que ele era um homofóbico de merda, ele nunca tinha tido coragem de dizer qualquer coisa em sua cara, porque ele sabia que Chanyeol não deixava nada barato. Avançou contra ele com tanta rapidez e força, que ele não foi capaz de impedir o primeiro soco, nem o segundo, ou o terceiro, caído feito merda no chão, ele gemia de dor, quando o sangue grudou em seu punho, sendo arrancado de cima dele por outros jogadores, Chanyeol ainda não estava satisfeito. E ele não era um cara violento. A voz potente e repreensiva de Donghae, o chamou de volta para o mundo real, e em poucos segundos, se tornou consciente de que sua ação teria uma reação, ainda assim, não poderia se importar menos.
Bateria nele de novo se aquilo fosse para proteger Baekhyun, que depois de semanas, falou consigo sem fingimentos, sem podar as próprias palavras, sem disfarçar o que estava sentindo. Não era capaz de ignorar aquele tipo de situação tão facilmente quanto o Byun, e nem tinha a mínima vontade de fingir que não ligava. Queria ver quantos deles seriam homens o suficiente para soltar alguma piadinha de novo. E mais do que tudo, queria que Baekhyun reagisse. Queria beijar ele, foder até descontar toda a raiva em uma cama de hotel, queria que ele escolhesse parar de fugir, mas seus olhos grudados um no outro não duraram mais de cinco segundos, ainda assim, continham calor. Sentiam o mesmo. Estavam rodeados por uma plateia e Chanyeol precisava colher os frutos de sua ação inconsequente, com a cabeça no lugar, caminhou por todo o gramado, até alcançar o prédio da comissão técnica, quando abriu a porta da sala onde ninguém gostava de estar, Donghae já o esperava, com um olhar feroz e um sermão julgador.
— Pode me explicar porque você resolveu cair na porrada com o Kwan? — Donghae perguntou, de forma simplista, as mãos cruzadas na mesa mostravam que cada palavra era proferida de maneira articulada, enquanto ele escondia seu verdadeiro humor.
Deu de ombros, sentando na cadeira à frente dele. Estava acostumado a estar naquele lugar como Capitão, mas não para uma chamada, era sempre em bons lençóis, para conversarem sobre as táticas dos próximos jogos. Era estranho sentir que havia decepcionado alguém que admirava tanto. — Nunca fui com a cara dele.
— Como se eu fosse acreditar numa mentira dessas… — Donghae suspirou, batucando os dedos na mesa. — É por causa do Baekhyun? Do seu relacionamento com ele? Você tem que me falar a verdade, se quiser que eu faça algo em relação a isso. — Donghae era uma boa pessoa, talvez uma das únicas que Chanyeol conhecia, mas ele não podia mudar a ordem dos fatores e de forma alguma, queria envolvê-lo naquilo. Escolheu ficar calado, enquanto o técnico o olhava com apreensão. — Você sabe, não posso aplicar uma punição sem justificativa.
— Não é nada de mais. — Negou com a cabeça, não deixaria que mais uma pessoa sofresse os respingos de suas próprias decisões ou de suas ações inconsequentes. Apesar de Donghae ser o técnico, não era ele que mandava na seleção coreana. — Eu só tava de saco cheio da cara dele.
O técnico suspirou e o olhou de maneira demorada, ele sabia, mas queria ouvir a verdade, uma verdade que Chanyeol não poderia contar sem falar demais. — Tudo bem, você não é mais o capitão do time.
— Não pode fazer isso — esbravejou, desacreditado enquanto se inclinava até a mesa, apoiando a mão de maneira nervosa na madeira, nunca achou que ele iria tão longe por algo tão simples. — Eu sou o melhor para minha função!
— Você era! Até bater em um companheiro de time… — Donghae passou as mãos pelos cabelos grisalhos, se jogando um pouco para trás para apoiar as costas na cadeira reconfortante. Ele parecia cansado, como Chanyeol nunca tinha visto. Esgotado. — Estou te punindo, é o que esperam de mim.
Demorou a levantar da cadeira, confuso demais ao perceber que teria que lidar com as consequências de seus atos, nunca havia perdido a braçadeira do time sul-coreano. Já havia sido substituído algumas vezes, quando estava doente, quando estava ocupado, mas sempre de maneira temporária. Nunca definitivo. — Obrigado, treinador. — Levantou-se de um jeito quase robótico, focado em deixar aquela sala e liberar toda sua frustração lá fora. Não conseguia acreditar.
— Chanyeol! — Donghae o chamou, fazendo o Park virar imediatamente para olhá-lo, ele tinha um olhar preocupado e seus lábios estavam fechados em uma linha reta. — Só quero que se pergunte se o Baekhyun teria feito o mesmo por você.
Sem nem hesitar, Chanyeol o encarou por cima dos ombros. — Ele faria. — Não ficou lá tempo suficiente para outra pergunta ou para encarar o treinador novamente, quando voltou para o campo de gramado sintético, percebeu que a maioria já havia ido embora. Procurou por ele em todos os cantos possíveis, no banheiro, no vestiário, na sala de conveniência, tudo em vão, até perceber que Baekhyun havia ido embora mais cedo. Era possivelmente a pessoa mais confiante do mundo, mas odiava esperar.
Baekhyun se enganou ao pensar que poderia estar tão perto de Chanyeol e ainda assim conseguir focar inteiramente no futebol. Agora, não era o jogo do dia seguinte que o deixava ansioso, era a perspectiva de vê-lo de novo, mandar uma mensagem, se encontrar às escondidas, mesmo que soubesse que não deveria e que não podia. Sehun havia deixado bem claro o quanto ser fotografados juntos em solo coreano podia terminar o estrago em sua carreira e ele gostava de Chanyeol, mesmo que tivesse um pé atrás no começo, ele apoiava o relacionamento deles. Estavam cercados de pessoas, os comentários haviam retornado e percebeu tardiamente que eles nunca cessariam, não enquanto estivessem juntos no mesmo lugar, não quando eles não haviam emitido uma declaração sobre, estava começando a ficar desesperado quando notou que talvez, estivesse errado desde o começo. Deveriam ter seguido o plano, a linha que traçaram juntos desde o princípio, não deveria ter mostrado sua fraqueza, ou ter deixado que aquele fodido do Kwan Eunbi o ridicularizasse na frente dos outros jogadores. Devia ter feito alguma coisa. Qualquer coisa.
Não costumava dividir seus próprios pensamentos com ninguém e era difícil para si se abrir até com o próprio namorado, não porque não queria, mas porque havia sido ensinado dessa forma. Fingir que estava tudo bem era um de seus grandes talentos, que aos poucos, se mostrava cada vez mais falho. Junmyeon era polido demais para o aconselhar sem dar um sermão antes, Sehun havia sido o primeiro a apontar que Baekhyun devia deixar para conversar com Chanyeol depois do amistoso, quando os dois já estivessem bem longe do solo coreano. Precisou recorrer a alguém que ele sabia que seria sincera até demais: Krystal.
— Não acredito que você escondeu isso de mim por tanto tempo… — Ela parecia realmente surpresa enquanto estava deitada na beirada da cama, Krystal era espaçosa e Baekhyun se arrependia por não compartilhar seu segredo com ela antes de tudo explodir. De certa forma, havia criado um bloqueio assim que percebeu que seus pais não haviam recebido a notícia bem, automaticamente, pensou que todos reagiriam como ele. Com decepção nos olhos. — Eu já quis ficar com ele, sabia? Ele é um gostoso.
— Dá pra você focar no meu problema ao invés de falar sobre o meu namorado? — rebateu, estava sentado na poltrona disposta no meio do quarto e se sentindo imaturo por ter que pedir “conselhos” a alguém mais novo, mas Krystal era sua melhor amiga há anos e mesmo assim, eles nunca haviam tido um interesse amoroso um pelo outro. Na verdade, ela era secretamente apaixonada por Junmyeon.
Ela ergueu a sobrancelha com um sorriso debochado entre os lábios. — Namorado? Você nunca me disse que era ciumento, Byun Baekhyun. Okay, qual o grande problema?
Baekhyun a poupou da terrível história de como se conheceram, até porque se deixasse, ela iria querer falar sobre eles dois e fazer piadinhas a noite inteira. Conhecia bem a personalidade da modelo, ela era divertida, animada e desconfiada, uma grande amiga para festas e ainda melhor para conversar, se sentia acolhido com ela como se ela fosse sua irmã, confiava nela e consequentemente, precisava deixar a vergonha de lado se quisesse consertar a burrada que havia feito. — Além de sermos demitidos dos nossos clubes e descartados de várias marcas famosas? Os comentários de ódio e a reação das pessoas me preocupa muito, para ser sincero.
Krystal se sentou, parecendo mais séria do que brincalhona como costumava ser. Já passava das sete da noite, haviam jantado sushi enquanto colocavam o papo em dia, mas é claro que ela sempre desviava o foco para o Byun. Estava preocupada com o amigo e com o tempo que se distanciaram, sabia que tinham vidas agitadas, mas nunca haviam passado tanto tempo sem se falar. — Você sempre deve esperar o pior das pessoas, Baekhyun, mas não acho que será tão ruim quanto você espera.
— Acho que já está sendo ruim o bastante… — comentou, amassando a almofada em suas mãos, raramente falava sobre os próprios problemas, não fazia seu estilo ser um reclamão, ironicamente, era o que mais estava sendo nos últimos dias.
Krystal sorriu com empatia. — Você ama mesmo ele? A ponto de assumir esse relacionamento para todo mundo? — Ela não esperou que Baekhyun respondesse para continuar. — Eu nunca te vi tão apaixonado por alguém e é até estranho dizer isso, mas não fico chateada por você não ter me contado antes. Acho que é normal você ter medo das consequências porque elas existem e não vai ser fácil, mas se você ama mesmo ele, não acha que vale a pena?
Por um momento, Baekhyun ficou sem fala. Krystal, sua melhor amiga, não estava dizendo nada de mais, apenas o que ele já sabia, mas ainda assim era importante ouvir de outro alguém. Era bom ser acolhido. Era bom ser ouvido e compreendido. Jongin o olhava como se estivesse usando Chanyeol e Sehun o olhava como se ele fosse um louco por querer abrir mão de tudo por eles dois. Não os julgava, no entanto, sabia que eles só queriam o melhor para eles de maneira individual. Seus pais, o olhavam como se sua situação fosse de dar pena. E tinha Junmyeon, Natalie e agora, Krystal, que pareciam estar felizes com sua decisão. Se todos pudessem ser assim. — Acho que eu sinto medo porque nunca amei tanto alguém como amo ele — comentou, a voz mais baixa mostrava o quanto estava fragilizado com toda a situação. — Não quero estragar tudo, sabe? Não suporto pensar que os sonhos dele podem não se tornar realidade por minha culpa. Chanyeol é muito bom no que faz e saber que eu vou arruiná-lo, faz eu me odiar.
Era a primeira vez que falava sobre aquilo. Sobre o quanto se sentia culpado por atrair momentos ruins para vida de Chanyeol, por sufocá-lo com aquele relacionamento às escondidas, por atrair mais comentários de ódio nas redes sociais, que de certa forma, eram por sua causa. Chanyeol era bem resolvido, assumido, confiante e ele já havia passado por tudo aquilo uma vez, não merecia passar de novo, mas era Baekhyun que estava atraindo toda aquela confusão para cima dele. Mais uma vez. E tinha aquele sentimento ambíguo em seu peito, de não querer decepcionar ninguém, mas acima de tudo, não querer decepcionar o Park.
Krystal levantou da cama, pegando a bolsa na mesa de descanso, caminhou até Baekhyun em passos lentos, os dedos gentis pararam nos ombros dele, enquanto ela o encarava com grande afeto. — Você devia ir até ele e dizer tudo que acabou de dizer para mim. Eu vi a foto de vocês em Munique. Esse cara é doido por você.
Baekhyun sorriu minimamente, para segurar a vontade de dizer que também era doido por ele. Não entendia como uma conversa poderia ser tão esclarecedora. De tarde, estava puto por Chanyeol ter brigado por sua causa, por ele ter se arriscado e atraído atenção indesejada, quando tudo que eles queriam fazer era passarem despercebidos. Pelo menos, em tese. Depois, no entanto, sentiu uma pontinha de felicidade inundar seu peito por ter alguém do seu lado, mostrando para todos que não estava sozinho, o defendendo. Honestamente, foi um tesão quando viu o Park meter a porrada no outro jogador. Chanyeol estava lá, de peito aberto, pronto para suportar tudo que viria e agora, Baekhyun se sentia um covarde por não estar fazendo o mesmo. — Tudo bem, acho que você tem razão.
— Eu sempre tenho! — Krystal declarou enquanto caminhava até a porta, ela era sempre assim, sabia quando chegar e quando sair, sem nunca ser inconveniente. — Vou me inspirar em você e convidar o Junmyeon para jantar. Me deseje sorte!
Ela saiu antes que Baekhyun pudesse dizer algo, mas sabia que ela teria sucesso. Junmyeon também parecia ser caidinho por ela. Ela tinha razão, não devia mais perder tempo, nem dar ouvidos a pessoas que não sabiam como se sentia. Estava na hora de parar de fugir e enfrentar as consequências, como deveria ter feito desde o início.
E o primeiro passo era ligar para Jongin.
Baekhyun percebeu que não saberia o que fazer se Chanyeol não abrisse a porta. Deveria ter enviado uma mensagem, ou ligado, mas agora o telefone jazia descarregado no bolso da calça jeans e o táxi que havia pego já tinha ido embora. Os seguranças que guardavam o apartamento disseram que o avisariam, então Baekhyun precisou esperar na frente da pequena portaria como se ele fosse um fã ou um estranho qualquer, mesmo que eles soubessem exatamente quem ele era e de que forma ele estava relacionado ao Park. Tentou não se sentir ofendido por precisar ficar plantado esperando, mas Baekhyun nunca conseguiu disfarçar muito bem sua cara de raiva.
Quando foi escoltado até a porta, Baekhyun se sentiu imensamente envergonhado, por estar lá naquele momento, às nove da noite, um dia antes do jogo, quando, na verdade, deveria estar descansando. E Chanyeol também. Agora, estar lá parecia uma ideia idiota, mesmo que quisesse loucamente se resolver com ele, ainda assim, parecia ridículo. — Ah, oi! — exclamou, como um idiota assim que ele abriu a porta, conseguiu perceber facilmente que ele estava pronto para dormir, com uma calça de moletom folgada e uma blusa branca no mesmo estilo.
Chanyeol precisou perguntar duas vezes ao segurança se era mesmo Baekhyun que estava lá fora. E a resposta positiva não encaixava em sua mente. — Oi, não esperava ver você antes do jogo… — respondeu, os cumprimentos soavam estranhos, principalmente quando eles tinham intimidade o suficiente para pular essa parte, mas de alguma forma, estavam fingindo que não. — Como descobriu onde eu estava?
Baekhyun engoliu em seco, tentando não levar como um mau presságio o fato de ainda não ter sido convidado para entrar ou o jeito estranho que Chanyeol franziu o cenho. — Eu liguei pro Jongin, ele não queria me contar, a princípio, mas depois ele concordou que precisávamos conversar. Eu e você — Suas mãos suavam frio enquanto observava Chanyeol não mover um músculo sequer. Tinha sido uma péssima ideia. — Eu deveria voltar outra hora?
— Não! — O Park foi rápido em negar e mais rápido ainda ao pegar a mão de Baekhyun, que já colocava um passo para fora do hall de entrada, mesmo que ele não tivesse um plano B, mesmo que tecnicamente, não tivesse como voltar para casa. — Só estou surpreso… — Andou para o lado, abrindo mais a porta e puxando o Byun gentilmente para dentro. Estava confuso. Uma hora Baekhyun o mandava embora e na outra, ele queria conversar. — Você não queria um tempo sozinho?
Não queria se colocar na defensiva ou justificar seus próprios erros, mas não era um confronto que Baekhyun esperava quando fora atrás dele. — Já tive o suficiente. Podemos conversar?
— Agora você quer conversar? — Chanyeol rebateu, fechando a porta atrás de si, caminhou até estar cara a cara com Baekhyun, dessa forma, a diferença de altura entre eles era evidente, atenuando o contraste. Não estava com raiva, mas não podia esconder o quanto estava chateado, tentou inúmeras vezes se comunicar com o Byun e ele o ignorou todas as vezes, não podia ou não conseguia, mas justamente agora, no tempo dele, ele queria conversar. — Beleza, sobre o quê?
Baekhyun suspirou segurando a vontade de revirar os olhos, a tensão entre eles era tão palpável que nem o próprio Byun sabia se queria mandar Chanyeol ir para merda ou o agarrar naquele momento. — Sobre o quê? — repetiu a frase, o imitando, meio surpreso com a acidez na voz dele, sua respiração ameaçou falhar e Baekhyun não queria brigar, também não queria chorar, sabia que merecia aquele tipo de tratamento, mas definitivamente não era o que estava esperando. — Sobre o nosso futuro, talvez? Porra, se você vai me xingar, faz isso de uma vez.
— Você foi um babaca por ter sumido… — Chanyeol tirou as palavras do fundo da garganta, sem pensar pela primeira vez no outro, mas em si. Em todas as vezes que ligou e ele não atendeu, nas vezes que precisou se acostumar com a ausência dele ou imaginar como ele estava, sem nem uma mensagem respondida porque ele não queria conversar sobre aquilo. — Não podia ao menos ligar? Eu também estou lidando com as consequências daquela foto, eu também tive que escutar xingamentos, eu também perdi muita coisa! — Aquela altura do campeonato, Chanyeol praticamente berrava, muito mais chateado, do que enraivecido. — Sabe o quanto eu me preocupei com você?
Ter Chanyeol tão perto deixava Baekhyun sem palavras. Sem sentido. Enquanto ele reclamava, Baekhyun só conseguia pensar no quanto ele ficava ainda mais gostoso com raiva e no quanto estava com saudades dele. Foi pego em flagrante enquanto olhava para boca alheia e com pressa, desviou o olhar de volta para os olhos dele. — Eu sinto muito… — deixou sair as palavras que queria dizer desde o início, desde quando entrou no apartamento, precisava deixar o orgulho de lado. Precisava parar de ter medo. — Eu deveria ter ligado ou dado um sinal de fumaça, foi irresponsável da minha parte te deixar sem nenhuma explicação.
— Foi para caralho… — Chanyeol concordou, a irritação momentânea sendo substituída pelo ardor, pela carência e saudade de tê-lo por perto, pelo cheiro que emanava diretamente dele, de repente, não fazia mais sentido brigar. Principalmente quando Baekhyun não queria brigar de volta. Não importava se eles não tinham se falado direito no último mês, ele estava lá agora. O olhou dos pés a cabeça, se perdendo nos lábios dele, no olhar intenso que escorregava até si, precisou se esforçar para não beijá-lo naquele momento e sufocar aquele sentimento de insegurança que os dominava de forma igual. — Não importa mais… — murmurou, agora estavam tão próximos que poderia tocá-lo, foi o que fez. Chanyeol levou as duas mãos até o rosto de Baekhyun, acariciando as bochechas com os polegares, tentava extinguir a saudade que o perturbava dia e noite. — Não sabe o quanto senti sua falta.
Era incrível o quanto ser acolhido por Chanyeol o transformava em outro alguém. Quando estavam juntos, Baekhyun sentia que podia aguentar qualquer coisa, enquanto os polegares acariciavam sua pele e o cheiro dele estava impregnado em si, o Byun tinha certeza que não queria de forma alguma se afastar. — Por quê? — fechou os olhos de maneira dolorosa, ainda prendendo as lágrimas que ameaçavam fugir. — Por que você tem que ser tão bom comigo o tempo todo? Você deveria estar com raiva. — Abriu os olhos, percebendo que Chanyeol franzia a testa em confusão. — Eu sou o único que deveria enfrentar as consequências, não é justo você ter que passar por tudo isso de novo.
Era estranho para Chanyeol ver Baekhyun expor as próprias fraquezas de forma tão sincera, geralmente, ele não o fazia. Baekhyun era o tipo de pessoa que sempre tinha um plano A e um B para tudo na vida, metodicamente organizado, ele raramente se arriscava. — Eu já estive no seu lugar… — murmurou, estendeu as carícias para os cabelos escuros do Byun, suspirando quando percebeu que aos poucos, ele se acalmava e consequentemente, o acalmava. Sem se afastar, o puxou para o sofá, o guiando com uma das mãos, até que estivessem sentados lado a lado. — Uma coisa é você mesmo ter conhecimento sobre sua sexualidade, é totalmente diferente quando você precisa contar para os outros. É normal sentir medo porque a gente nunca sabe o que esperar, mas eu não quero que você passe por isso sozinho — explicou, agora, as mãos de Baekhyun estavam envoltas nas suas e ele tremia, Chanyeol podia sentir. — Baekhyun, por favor, não me afaste mais.
— Eu nunca menti para você, Chanyeol… — Baekhyun estava tremendo, as mãos suadas demonstravam todo o nervosismo, por um momento, achou que o perderia. Achou que tinha fodido com tudo. Esperava que ele entendesse que aquela era a resposta para a pergunta que ele havia feito um mês atrás. Não havia mentido, Baekhyun nunca esteve confuso sobre eles dois, sempre sentiu medo do “depois”, era verdade, mas nunca teve dúvidas sobre ele. — Você é tudo que eu quero.
Chanyeol não precisou de um pedido para juntar os lábios nos de Baekhyun. Ansiava por ele e depois de ouvir com todas as letras que ele também sentia o mesmo, tudo havia sido esquecido. As brigas sem sentido, a distância e o escândalo que os afetara, nada importava. Era tudo sobre como eles se encaixavam perfeitamente um no outro, como Baekhyun conseguia ser a pessoa mais forte que ele conhecia, como amava todas as partes imperfeitas dele, que o faziam ser quem ele era. Como poderia julgá-lo por sentir medo? Quando o próprio Park sabia como era a sensação de ser odiado por todos à sua volta? Todos que antes o adoravam. — Eu não vou a lugar algum — sussurrou contra os lábios dele, suspirando entre um beijo e outro com a intensidade que compartilhavam.
Baekhyun se sentia nas nuvens, era como voltar para casa depois de um longo tempo fora. Chanyeol era o amor da sua vida, a pessoa que mais havia amado durante tanto tempo, nunca havia se sentido daquele jeito, a ponto de arriscar tudo por alguém, era estranho perceber que não valia a pena sem ele. Quando entraram naquele relacionamento, Baekhyun não imaginou sentir metade do que sentia por ele, nunca pensou que fosse capaz de um amor tão puro, e não queria perdê-lo, agora que o tinha. Quando estava lá fora, estava rezando para Chanyeol abrir a porta, sem saber que ele nunca a fecharia. — Eu te amo… — sussurrou, entre a respiração entrecortada dele, enquanto ele tomava seus lábios de maneira doce, Baekhyun suspirava, deixando o pescoço pender para trás.
Eles sempre trocavam palavras de amor, mas ainda era bom demais ouvir Baekhyun dizer com todas as letras. Chanyeol não era uma pessoa insegura, ele não tinha dúvidas do que ambos sentiam um pelo outro, o que o preocupava era a importância que o Byun dava a opinião das pessoas. De sua família, dos amigos, do público. No entanto, estavam lá, matando a saudade no sofá da sala, da maneira mais íntima e amorosa que podiam se doar, enquanto o olhava com tanta ternura e carinho, Chanyeol encontrou finalmente a certeza conhecida nos olhos dele, a certeza de que o medo não o tomaria novamente, a certeza de que nada mais importava a não ser eles. — Eu também te amo.
Uma forte chuva caía do lado de fora, batendo contra o telhado, mas Baekhyun não podia ligar menos, enquanto suas pernas estavam envoltas no quadril de Chanyeol e ele o levava para o quarto, seus pensamentos estavam completamente nublados enquanto se dedicava a sentir ele por completo. — Você fica ainda mais gostoso quando tá com raiva… — confessou, assim que foi jogado na cama, Chanyeol logo se encaixou entre suas pernas e sorriu de canto, enquanto erguia uma sobrancelha.
— É por isso que você gosta de brigar? — Chanyeol perguntou, beijando a coxa de Baekhyun mesmo com a calça atrapalhando, mesmo com o tecido sob sua boca, queria se esfregar nele. Sentir o cheiro e o gosto dele. — Por que você fica com tesão? — Foi rápido em desprender o botão da calça e puxá-la para baixo, Baekhyun foi mais rápido ainda em ajudá-lo, levantando o tronco para facilitar o trabalho. A atmosfera de chateação e mágoa havia se dissipado, só restava a necessidade, a urgência de estarem juntos, do jeito mais carnal possível.
Baekhyun segurou um gemido na garganta, já não se viam há um mês e não tinha se tocado nenhuma vez durante aqueles dias, mas intencionalmente, havia se preparado antes de ir até lá. Riu, assim que Chanyeol notou, seu corpo inteiro estremeceu quando os dedos habilidosos o acariciaram com destreza, sem o masturbar ou atiçá-lo, o Park apenas o admirava, começando uma trilha de beijos desde o osso de seu quadril até sua virilha. — Gosto mais do sexo de reconciliação… — murmurou, mordendo os lábios assim que Chanyeol deixou um beijo na polpa da sua bunda.
— Você tinha certeza que eu ia te foder… — Chanyeol afirmou, não pôde deixar de notar a maneira que Baekhyun estava lisinho, em todos os cantos. Claramente, ele tinha se preparado antes de ir até lá, o que só deixava o clima entre eles ainda mais excitante. — Eu sou tão previsível? — Mordeu a pele levemente bronzeada, descarregando a excitação latente que rapidamente tomava conta de seu corpo, a saudade o dominava e mesmo com tão pouco, Chanyeol já estava excitado.
Baekhyun tentou rir, talvez brincar com a situação, mas não conseguiu, não quando seu pau duro foi tomado pelos lábios habilidosos de Chanyeol, precariamente, tentou raciocinar alguma frase, mas as palavras se perderam em sua garganta, deixou a cabeça cair sob o travesseiro, aproveitando o calor da boca dele em volta de sua glande, a comichão característica de excitação em seu umbigo, perdido em seus próprios pensamentos, começou a estocar levemente, até que estivesse alcançando a garganta dele, provocando pequenos engasgos, orgulhoso de si mesmo. — Eu não tinha certeza… — sussurrou, mordendo os próprios lábios quando Chanyeol soltou sua ereção com um barulho muito instigante — só estava torcendo para você fazer amor comigo.
O jeito que seu próprio pau pulsou com a confissão, foi pornográfico. Chanyeol estava cheio do gosto dele em seu paladar e não parecia o suficiente, nunca seria suficiente. — É o que você quer fazer hoje? Amor? — perguntou, enquanto colocava a língua para fora e lambia os testículos do Byun, os olhos sempre grudados nos dele, guardando cada arfar, cada suspiro lento que saía pela boca delineada, Chanyeol não queria perder nada. — Eu vou cuidar de você.
— Oh, sim, desse jeito… — Baekhyun não sabia mais dizer qual era seu sobrenome enquanto Chanyeol chupava dedicadamente suas bolas, ora rodeando a língua, ora chupando com um pouco mais de firmeza. Tentou não parecer muito ansioso quando a língua dele desceu até seu períneo, mas as mãos agitadas foram imediatamente para os cabelos ruivos, puxando-os, incentivando a descer mais. Baekhyun adorava quando Chanyeol chupava seu cuzinho, quando ele o fodia sem parar, o deixando completamente molhado e preparado. — Por favor…
Chanyeol queria poder torturar Baekhyun um pouco mais, talvez, se recusar a dar o que ele pedia, por vingança pelo tempo sem ter ele em sua cama, mas era fraco demais por ele. Adorava os gemidos, os suspiros, os pedidos sem limites, adorava fazer amor com ele, foder ele até se cansarem, adorava estar por cima apreciando o momento que ele teria sua liberação. Se levantou, sem dar explicações e sorriu de canto quando Baekhyun soltou um muxoxo magoado. — Eu adoro quando você implora, sabia? — confessou, o pau duro marcava a calça de moletom e para aliviar a dor, se livrou da peça de roupa enquanto pegava o tubo de lubrificante na gaveta da cabeceira. Ele também estava torcendo pelo sexo de reconciliação. — Se você não viesse atrás de mim, provavelmente, eu iria atrás de você…
Baekhyun mordeu os lábios, quando Chanyeol despejou um pouco de lubrificante no próprio pau duro e começou a bater uma punheta lenta, gemendo sozinho enquanto se aliviava devagar da dor de manter uma ereção por certo tempo. A boca salivou e precisou se controlar para não implorar para chupar ele. — Vem cá, deixa eu te tocar — pediu, estendendo a mão, o chamando. Chanyeol imediatamente se arrastou pela cama como um felino, fazendo Baekhyun ficar ansioso pelo momento que o teria nas mãos, tentou não se sentir tão decepcionado quando ele voltou a ficar entre suas pernas ao invés de fazer o que o Byun havia pedido. — Está me castigando?
Chanyeol tinha outros planos para eles dois. — Ah, você vai saber quando eu estiver te castigando de verdade — murmurou, esfregando o dedo médio na entrada do Byun, para depois enfiar devagar, enquanto voltava a enfiar a cara entre as coxas dele, para chupar o cuzinho com devoção, metendo e o deixando molhando ao mesmo tempo. Em seguida, adicionou mais um dedo, o alargando mais, não foi difícil notar que ele não havia se tocado no último mês. Ao contrário de si mesmo, Baekhyun estava descontrolado, agarrava os lençóis e rebolava contra sua língua, pedindo por mais. Sentiu os dedos finos puxarem seu cabelo, a queimação no couro cabeludo foi instantânea e a fisgada de excitação em seu pau duro também. — Se eu enfiar sem te preparar direito, vai doer.
— Eu gosto quando dói. — Baekhyun estava em seu limite. Não havia se tocado nenhuma vez no último mês, mas estava acostumado com a grossura do pau de Chanyeol. Podia suportar. Tudo que queria era ele naquele momento, o fodendo como se nada no mundo existisse a não ser eles dois. Puxou os cabelos vermelhos feito fogo, mais uma vez, o incentivando a subir, e com os olhos nublados de um desejo intrínseco, Chanyeol o obedeceu, colando o corpo no seu, tão rápido que o pegou de surpresa, estavam desesperados, o beijou com tanta veracidade e desejo, que os dentes bateram um no outro primeiro, antes que suas línguas se encontrassem fora das bocas, de um jeito enlouquecedor. — Ah, Chanyeol…
Como podia não ser louco por ele? Quando respirava o mesmo ar que saía da boca dele, Chanyeol só conseguia pensar no quanto era obcecado por tudo em Baekhyun. Nos ombros largos, na pintinha perto da boca, no jeito que ele falava e no jeito que ele mandava em si, mesmo estando por baixo. Seu pau vertia pré-gozo e sem conseguir se conter, encaixou a cabecinha no cuzinho molhado, esfregando, enfiando devagar, até que apenas a glande estivesse dentro. — Sou viciado em você, Baekkie — sussurrou no ouvido dele, mordendo o lóbulo, chupando até sentir os pelos dele se eriçarem, sem nunca deixar de vir contra ele, deixava a cabecinha escapar de propósito e se esfregava na entradinha, sentindo ela piscar para si. — Vou te comer tão gostoso, Amor.
Baekhyun tentava a todo custo conter os gemidos altos que ameaçavam escapar de sua boca, mas Chanyeol tornava sua tarefa impossível, enquanto brincava com sua mente. — Enfia, Chanyeol… — pediu baixinho, a boca colada na dele, rente a pele, deixou um longo suspiro sair quando seu pedido foi atendido, enquanto Chanyeol enfiava lentamente, até que Baekhyun estivesse completamente cheio, com a dor já conhecida se alastrando por seu corpo, mas o prazer a acompanhava, de um jeito tão viciante que se viu obrigado a fechar os olhos. — Porra!
— Você é tão gostoso… — Chanyeol murmurou, era sufocante o quanto Baekhyun estava apertado, mesmo que tivesse o fodido com a língua e o alargado com dois dedos, ele ainda conseguia o apertar muito bem. O prazer era indescritível, o jeito que ele rebolava em seu pau fazia Chanyeol querer murmurar o quanto o amava, só pelo jeito que eles fodiam, o jeito que se encaixavam, o jeito que ele o deixava sem limites. Estava tão excitado que tinha certeza que não duraria muito. Em poucos segundos, a lentidão que os acompanhava não era mais o suficiente, e quando Baekhyun fechou mais as pernas em volta de seu quadril e guiou a boca do Park em direção aos próprios mamilos, Chanyeol não conseguiu mais se segurar.
Baekhyun rebolava no pau de Chanyeol, o incentivando a ir mais fundo, a ir mais rápido, a alcançar o ápice dentro dele. Não conseguia pensar em mais nada há não ser eles dois naquele momento, fodendo, amando o corpo um do outro, queria tudo dele, queria ele por inteiro. — Você é tão bom para mim — sussurrou, gemendo quando Chanyeol mordiscou seu mamilo direito, só para chupá-lo novamente em seguida, fazendo o local arder com a fricção, sua próstata estava sendo esmagada diversas vezes enquanto o Park socava em seu cuzinho, sem parar e sem diminuir o ritmo, Baekhyun sentia o ápice se aproximar a cada segundo. — Quero gozar com você… — Puxou o rosto dele até o seu, juntando os corpos e o beijando com intensidade, roubando a respiração e a saliva alheia, seu pau duro era esfregado contra o abdômen de Chanyeol a cada segundo, e era difícil tentar se segurar quando já estava vertendo pré-gozo em abundância.
Chanyeol queria resistir mais um pouco, levá-los até o limite, mas assim que Baekhyun enfiou uma das mãos entre os corpos e acariciou seu próprio cacete, enquanto ainda enfiava nele, raspando os dedos em suas bolas, o incentivando a ir mais fundo, foi impossível suportar. — Goza para mim… — sussurrou, enquanto gozava dentro dele, de maneira descontrolada, o esperma vertia grosso e escorria pela entrada molhando as bolas do Park.
Com a próstata sendo esmagada repetidamente e Chanyeol sussurrando tão baixinho em sua boca, Baekhyun se deixou levar pelo prazer e gozou praticamente ao mesmo tempo que ele, sem nunca parar de rebolar contra o pênis duro que ainda socava em seu cuzinho, estava cheio, com a porra de Chanyeol escorrendo por sua entrada e não podia estar mais satisfeito por estarem completamente sujos de gozo. Se perderam no próprio gosto enquanto se beijavam, as respirações sôfregas entregavam o quanto havia sido bom fazer amor, e Baekhyun precisou de um bom tempo para conseguir convencer o Park a sair de dentro de si.
Continuaram no meio da bagunça, deitados na cama espaçosa, Baekhyun estava sonolento enquanto Chanyeol tinha o rosto apoiado em seu peitoral, instintivamente, levou as mãos até os cabelos vermelhos, acariciando-o. — Chanyeol, eu sinto muito por ter me afastado quando eu deveria estar seu lado. Você tem razão, você também está lidando com as consequências e eu fui egoísta…
— Ei, shh… — Chanyeol levantou a cabeça imediatamente, quando Baekhyun começou a falar sem parar, ele tinha aquela mania feia de achar que tudo era culpa dele. — Está tudo bem, você está aqui, é o que importa. — Se apoiou no próprio cotovelo, para acariciar os cabelos castanhos, como Baekhyun fazia consigo minutos atrás. Sentiu ele relaxar em suas mãos conforme os minutos passavam.
Baekhyun mordeu os lábios, tentando deixar o sentimento de insegurança para trás, mas não podia negar que ainda sentia medo. — Eu não quero perder você.
— Você não vai… — Chanyeol subiu mais na cama, somente para esfregar o nariz contra o dele, para beijá-lo com ternura até que Baekhyun estivesse relaxado mais uma vez. — Vamos passar por isso juntos, como deveria ter sido desde o começo, okay?
O jeito que Chanyeol transmitia segurança era acolhedor, fazia seu coração acelerar e seu rosto se aquecer, o quanto ele o compreendia e era gentil, o deixava ainda mais apaixonado. Como não havia se apaixonado por ele antes? Sorriu com o pensamento, talvez já gostasse dele quando tinham a mania de brigar um com o outro. — Okay! — Sorriu de canto, deixando um beijo estalado nos lábios alheios e enrolando os pés nos dele. — Precisamos falar com o Sehun e o Jongin, vamos seguir o plano, confirmar com uma declaração, sem revelar muito sobre nós dois, apenas o suficiente para que todos tenham certeza de que estamos juntos.
Àquela altura, Chanyeol já havia se apaixonado cem vezes mais por Baekhyun. Era bonito ver ele superando os próprios medos. — Quando? Essa é uma boa hora para eu revelar que não sou mais o capitão do time?
Baekhyun automaticamente se levantou de supetão. — Como assim? Eles não podem fazer isso com você!
Era melhor nem ter aberto a boca. — Por causa da briga, segundo o Donghae — Chanyeol explicou, e puxou Baekhyun para que ele se deitasse mais uma vez. — Deixa isso para lá, não faz diferença para mim.
— Não — Baekhyun negou, assumindo uma postura que Chanyeol não via há muito tempo, quase semelhante a que ele tinha em campo, com um olhar obstinado e emoldurado de confiança, o Byun sabia exatamente como reagir ao que a própria mídia e o comitê haviam feito com eles. Se eles queriam a verdade, Baekhyun daria a verdade a eles. — Se querem mesmo falar sobre nós, vamos dar um bom motivo para eles. O que acha de confirmarmos nosso namoro amanhã?
Chanyeol franziu o cenho. — No dia do jogo? Você sabe que eles podem nos deixar no banco de reserva, né?
Baekhyun sorriu, de um jeito desafiador e divertido, enquanto se erguia e puxava Chanyeol em direção ao banheiro. Precisavam de um banho antes de pensar em dormir. — E arriscar perder o jogo? Eu aposto que não.
— Devo te lembrar que você sempre perde suas apostas? — Chanyeol rebateu, o encoxando contra a parede, só para roubar outro beijo, de maneira apaixonada.
Baekhyun tentou se desvencilhar, mas quando percebeu, já estava envolvido demais para negar uma segunda rodada. — Tenho certeza que vou ganhar dessa vez.
— Eu prefiro você assim, confiante — Chanyeol segredou, enquanto amava cada parte de Baekhyun. A chuva nunca havia parado e a madrugada os alcançava, mas não fazia diferença, estavam imersos na paixão que sentiam um pelo outro. — Não temos nada a perder e eu acho que você tem razão, já passou da hora de reagir.
Se beijaram na parede ao lado do banheiro, esquecendo-se por vários minutos de que precisavam tomar um bom banho, ligar para os próprios empresários e avisar de que haviam tomado uma decisão: eles iam enfrentar as consequências de cabeça erguida.
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Quando entraram em campo pelo último amistoso antes da Copa do Mundo, os adversários não eram apenas os jogadores de Camarões. Na verdade, se pudessem ser sinceros, eles eram os mais irrelevantes. Tanto Baekhyun quanto Chanyeol sabiam que a torcida era seu maior rival naquele momento, instintivamente, desde os primórdios, o mundo futebolístico era baseado em machismo e patriarcado, saber que dois jogadores do mesmo time tinham um relacionamento amoroso, era um pouco demais para muitas pessoas. Principalmente, para os sul-coreanos. E obviamente, para todo o comitê de futebol que ainda esperava que os rumores fossem apenas rumores.
Estaria mentindo se dissesse que não estava ansioso ou preocupado, agora que Chanyeol não era mais capitão do time, Baekhyun conseguia ver claramente que todas as suas atitudes teriam punição dali em diante, mas ainda assim, não iria mais se segurar. Naquele momento, a declaração de que estavam em um relacionamento amoroso já deveria estar circulando em todas as redes sociais, Jongin parecia orgulhoso da atitude que decidiram tomar, quando se falaram por telefone naquela manhã, embora a considerasse arriscada, ele também achava que já tinha passado da hora dos dois confirmarem o que tinham. Deixar as pessoas falarem o que quisessem não era um bom plano, ainda mais, diante de fotos irrefutáveis onde seus rostos podiam ser vistos nitidamente. Sehun, parecia surpreso por eles terem escolhido justamente o dia do jogo para oficializar o namoro, mas ele sabia exatamente onde eles queriam chegar, a relevância das informações, a margem que alcançariam, todos os olhos estariam voltados para eles. Como estavam, naquele momento.
Chanyeol não era mais o Capitão, em seu lugar, Junmyeon apertava a mão do melhor atacante de Camarões. Em sua opinião, Donghae não podia ter escolhido alguém melhor para substituí-lo, o lateral era habilidoso, centrado e profissional, era o que eles precisavam, alguém que não fazia distinções. Era bom para o seu ego ver o Kwan derrotado no banco de reservas, suspenso por ter se envolvido na briga, mesmo que ele não houvesse perdido algo tão precioso quanto a braçadeira da seleção representava para o próprio Park. Ainda assim, valia a pena e faria tudo de novo se precisasse.
Jogavam em um dos maiores estádios da Coreia do Sul, o Estádio Sang-am de Seul era um estádio de Copa do Mundo, era uma honra jogar em casa e jogar em um lugar tão importante para o próprio país. Camarões era uma seleção formidável, mas não poderia se comparar às recentes táticas e atualizações da seleção coreana, assim como as experiências de seus jogadores. — Vamos para cima. — Junmyeon estava com a mão no centro, mas era Chanyeol que havia dito a frase costumeira, a que ele sempre dizia quando era Capitão. Suho não pareceu se importar enquanto dava tapinhas no ombro dele, reconhecendo que uma vez no comando, Chanyeol sempre seria o líder, mesmo sem braçadeira.
Por mais surpreendente que pudesse parecer, Baekhyun não estava nervoso. Não sabia dizer porque havia deixado o medo tomá-lo tão duramente durante aqueles dias, não sabia o que queria adiar quando já haviam sido descobertos. Era difícil encarar a realidade, mas sua sexualidade não estava mais no anonimato. Muito menos seu relacionamento. Sehun havia descoberto o fotógrafo que havia tirado e vendido a foto, por um milhão de dólares, estavam o processando, assim como o primeiro jornal que a publicou sem consentimento, mas ainda assim, não era como se pudessem processar todos os internautas que compartilhavam. Não tinha percebido o quanto adiar a confirmação e estender o silêncio o prejudicaria ainda mais, não só publicamente, como em seu próprio relacionamento, agora, precisava correr atrás de uma prorrogação.
Um tempo curto para resolver todos os problemas que o rodeavam e alcançar um placar vitorioso. Era bem mais fácil com Chanyeol ao seu lado.
Quando acordou naquela manhã, sua mente estava limpa, como naquele momento, conseguia ler todos os passos do adversário de forma clara, e marcando o atacante do outro time, Baekhyun dificultava uma investida. A posse de bola era quase totalmente da Coreia do Sul, mas a defesa era a que mais estava falhando, abrindo brechas, possibilitando um retorno quando a bola se perdia nos pés do jogador adversário. Alguns colegas de time o olhavam com nojo, outros com decepção no olhar e pouquíssimos o tratavam do mesmo jeito, tocando a bola para si, acertando os passes, jogando um futebol limpo sem serem influenciados, mas ninguém poderia prever o quanto ele e Chanyeol estavam conectados, até mesmo, na ponta dos pés.
Estavam brilhando no amistoso. Chanyeol não errava um chute, sendo o principal culpado pelo avanço do time de Camarões não conseguir evoluir. A posse de bola focava-se entre ele, Baekhyun, Son, os meios campos e os laterais, na maioria das vezes, Suho. Os zagueiros e o goleiro tinham pouco trabalho quando eles estavam jogando tão bem como naquele dia, a conexão que tinham no próprio relacionamento parecia fluir para o gramado, e assim que o Byun tinha um vislumbre dos cabelos ruivos, ele sabia para onde tinha que mirar. Tentaram uma investida oito vezes, nenhuma bem sucedida, por pura sorte, mas o time inimigo estava sendo firmemente pressionado a recuar quase completamente até a zona do gol.
— Não me lembrava que você era tão bom em assistências — Baekhyun se permitiu parar na frente de Chanyeol, quando um dos zagueiros sofreu uma falta forte e precisou de atendimento médico. Um pouco de tempo para respirarem. Dividiram a mesma garrafa de água, bebendo do gargalo onde suas bocas haviam encostado, agora, Chanyeol já não tentava esconder o quanto estavam envolvidos, só o jeito que ele olhava para o Byun, o entregava completamente.
Era bom se sentir livre. Plenamente solto em meio a um campo enorme. Chanyeol nunca teve medo de nada, mas experimentou o terrível gosto de ser assombrado pelo medo de perder o amor da sua vida. Estavam sendo pressionados, a torcida atrás na arquibancada, vaiava toda vez que a bola estava nos pés deles, mas eles estavam resistindo, ignorando, mostrando que não se importavam com a opinião deles. — Você esqueceu que eu sou bom em tudo? — perguntou, sem conseguir resistir ao levar a mão até a testa suada, despregando os fios escuros do lugar, em uma carícia escondida. Tentou não mostrar o quão satisfeito estava por Baekhyun nem ter se movido, ou demonstrado vergonha, pelo contrário, ele revirou os olhos, sorrindo com as palavras.
Uma chave havia virado para eles. Práticos e responsáveis, eles sabiam que somente eles poderiam decidir o placar. Baekhyun sabia o que era mais importante e mais do que ninguém, sabia o que era jogar sob pressão. Não deixaria que mais ninguém o abalasse de novo. — Sua arrogância, estranhamente, combina com você.
Junmyeon surgiu ao lado deles, passando um braço pelo pescoço de Baekhyun, o agarrando e o trazendo para perto, bagunçando os cabelos dele, como se fazia com um irmão mais novo. — Os pombinhos se acertaram e nem me contaram? Que maldade.
Chanyeol riu, gostava da amizade deles dois. Gostava ainda mais do jeito que havia se aproximado de Junmyeon naquele último ano. — Acredite em mim, você não gostaria dos detalhes.
— Chanyeol! — Baekhyun chamou a sua atenção, as bochechas ficando levemente rosadas por vergonha, não que Junmyeon conseguisse diferenciar da vermelhidão de suor, mas o Park, sim, ele conseguia perfeitamente. — Tenho que te recompensar pelo sumiço repentino, jantar hoje à noite na sua casa?
Junmyeon franziu o cenho, se desvencilhando assim que o técnico apitou, os chamando de volta. Haviam ganhado acréscimo de três minutos. — É impressão minha ou você está se autoconvidando para minha casa?
Chanyeol rebateu, antes que eles estivessem longe demais um do outro para ouvir. — Ele está nos convidando para sua casa!
Junmyeon riu, acenando positivamente, Baekhyun já sabia que ele diria sim de qualquer forma. Voltaram a focar no jogo, mesmo com as vaias a cada vez que a bola tocava em seu pé, mesmo com os colegas de time carrancudos ao seu lado, decidiu que não pararia, ia mostrar para todos eles o quanto eram importantes para a seleção coreana. Iria se provar dia após dia, para calar a boca deles. Nunca mais aceitaria uma derrota.
O primeiro tempo acabou sem nenhuma surpresa ou qualquer gol para liderar o placar de uma das seleções que estavam em campo. Apesar da posse de bola ser da Coreia do Sul, os zagueiros de Camarões sabiam fazer bem seu próprio trabalho. Tinham quinze minutos para trocar de roupa, beber água, ir ao banheiro e voltar para o gramado. Baekhyun sempre considerou o tempo longo o suficiente, era o bastante, até o Presidente da Confederação Coreana de Futebol invadir o vestiário e parar na frente deles dois. Do Park e do Byun.
— Quero que apaguem aquela publicação agora! — Ele era um homem bem menor do que parecia pelas fotos, ranzinza e mal-humorado, ele estava furioso. Chanyeol sabia quem ele era. Todos sabiam. — Estão atraindo vergonha para seu próprio país! Não deveriam nem estar em campo! Vocês dois atraíram esses malditos boatos que prejudicam nossa seleção!
— Nunca pensei que fosse conhecê-lo pessoalmente, mas eu devia imaginar que você era um babaca de merda. — Chanyeol não conseguia segurar a própria língua e não precisava. Ele tinha tudo que os outros não tinham. Poder, coragem e talento.
— Chanyeol! Mais respeito… — Donghae chamou sua atenção, fazendo seu papel de técnico, Chanyeol nunca poderia julgá-lo por seguir ordens, ele, na verdade, admirava o treinador. Ele nunca baixava a cabeça e ele havia o ensinado a fazer o mesmo. — Senhor Presidente, creio que o senhor nem deveria estar aqui, meus jogadores estão descansando no momento, é melhor para todos que essa confusão seja resolvida fora do campo.
Baekhyun, que até então apenas escutava, estava farto de ser um jogador exemplar. Às vezes, situações drásticas pedem medidas drásticas. — Não vamos retirar a declaração e a Confederação não tem domínio ou poder para nos obrigar. Sugiro que vá embora, antes que eu resolva processá-lo por assédio moral no trabalho.
A risada daquele homem mesquinho era ridícula, e era ainda mais estranha a maneira que ele se sentia dono do mundo. — E quem vai te dar uma causa ganha? Não há leis na Coreia para proteger bichas que nem vocês dois. Você não sabe onde está se metendo, Byun.
Antes que Chanyeol pudesse abrir a boca, Baekhyun rebateu ferozmente, mostrando que não estava brincando quando havia dito que estava cansado de fugir. — Você tem razão, não ganharíamos um processo nesse país de merda, mas eu tenho uma lista de vários jornais que adorariam saber que o Presidente da Confederação de Futebol da Coreia pratica homofobia de forma deliberada. Me pergunto como ficaria a sua reputação? Como ficaria a reputação da Seleção? Não melhor do que está agora, tenho certeza.
O presidente riu e Baekhyun fingiu que não estava fervendo de raiva quando ele apontou o dedo na sua cara. — Vocês não vão ter outra chance.
— Não vamos mudar de decisão. Espero que goste de ser desapontado, coroa. — Os minutos estavam quase esgotados quando Chanyeol rebateu e puxou Baekhyun pelo braço para se distanciarem dos demais, uma rodinha havia sido feita ao redor deles, os jogadores curiosos e até mesmo alguns funcionários, todos querendo saber o que realmente havia acontecido. — Você sabe que ele pode fazer mais do que só ameaçar, não é? — perguntou para o namorado, enquanto eles trocavam de uniforme, o suado por um limpo. Logo um funcionário trouxe mais garrafas de água, estavam no limite para retornarem.
Baekhyun suspirou, já estava farto de se sentir intimidado, era do jeito que havia pensado, eles nunca seriam aceitos. Não adiantava se esconder ou confirmar, seriam perseguidos ano após ano, simplesmente por nascer onde nasceram e por terem aquela profissão. De qualquer forma, Baekhyun não pretendia mais abaixar a cabeça. — Eu entrei em campo pronto para qualquer coisa, Chanyeol. Eu sei os riscos, mas não pretendo abrir mão do que nós temos. — Encarou o Park com determinação nos olhos, agora, terminava de se vestir e eles precisavam voltar. — Acho que dessa vez, eu quero pagar para ver.
Chanyeol poderia dizer que estava orgulhoso, porque era assim que se sentia vendo Baekhyun superar todas as inseguranças que tinha, mas ele também gostava de provocá-lo. E aquilo nunca acabaria. — Acho que eu poderia te beijar agora.
— Só se você quiser ganhar um chute no saco. — Baekhyun sorriu, dando dois tapinhas gentis no rosto do Park. — Não vamos abusar da nossa sorte.
Ah, como Chanyeol gostaria de poder se trancar com ele em alguma cabine. Infelizmente, os quinze minutos de intervalo tinham acabado. E dessa vez, eles precisavam de um placar positivo. O segundo tempo começou com ainda mais garra do que o primeiro, talvez fosse a confusão do vestiário, mas excepcionalmente, todos os jogadores sul-coreanos pareciam estar jogando com um pouquinho mais de garra do que o comum. Ainda assim, a linha de defesa de Camarões era bem instruída, seriam adversários formidáveis se tivessem o mesmo empenho para o ataque. Não estava sendo tão fácil quanto pensaram que seria, sem torcida alguma para incentivá-los, precisavam lidar com a pressão do público e do treinador, que queria ver eles aplicarem em campo o que tanto haviam treinado anteriormente. Uma oportunidade surgiu perto dos vinte minutos do segundo tempo, uma falta em um dos jogadores coreanos e naquele momento, a Coreia do Sul tinha a chance de sair do 0 × 0. Era uma pena que eles houvessem escolhido um péssimo batedor.
Kangin era terrível em bolas curvas. Ele não conseguiu passar pelo bloqueio e a bola explodiu na barreira, Chanyeol aproveitou o rebote para roubar a bola e tentar uma jogada solitária pela lateral, mas ele estava cercado. Foi muito rápido ao ver o número nove do outro lado do campo e numa jogada arriscada, chutou para Baekhyun, fazendo a bola rodopiar no ar até ele, que a recebeu no pé direito.
Baekhyun estava ciente de tudo ao seu redor. Da textura da grama, dos jogadores adversários tentando chegar nele a tempo, da abertura que haviam conseguido, porque o goleiro ainda estava muito inclinado para o lado esquerdo da rede. Nem ajeitou direito a bola no pé, apenas o suficiente para pará-la no chão e um segundo depois, já havia chutado, como um torpedo. Foi lindo e o Byun demorou a correr para comemorar, suas pernas só se moveram novamente quando teve certeza que a bola havia entrado no gol, quando o goleiro já estava caído no chão de maneira derrotada.
Naquele momento, a mesma torcida que o vaiava, agora gritava em plenos pulmões, em comemoração. E de forma automática, Baekhyun correu até ele. Diretamente para o seu Capitão, era significativo, a maior prova de amor que o Byun podia dar, porque eles dois nunca haviam comemorado um gol juntos. Seus corpos se encontraram em um abraço caloroso e Chanyeol encostou a testa na sua, as mãos firmemente dispostas dos dois lados de seu rosto, enquanto seus olhos nunca se desgrudaram, firmemente entrelaçados e naquele momento, praticamente esfregavam na cara de qualquer um, que realmente estavam juntos. “Golaço, porra! Muito bem”, ouviu Chanyeol sussurrar para si, antes que fossem sufocados pelos outros jogadores da seleção, que pulavam um em cima do outro e deixavam palminhas no ombro do Byun. — Bela assistência, Chanyeol.
— Você pode me recompensar mais tarde — Chanyeol murmurou, só para Baekhyun ouvir e os dois dividiram sorrisos secretos, enquanto ouviam a torcida vibrar. Haviam dado a resposta para eles, e o placar final, não deixariam de jeito algum o time adversário virar o jogo. O único resultado possível era a vitória.
Os torcedores de repente pareceram esquecer que não estavam torcendo para eles dois e que estavam vaiando eles até minutos atrás, eles simplesmente não podiam questionar quando haviam dado a eles o que queriam. A Seleção de Camarões ficou visivelmente abalada, principalmente quando começaram a investir e não obter sucesso algum, conforme os minutos passavam, a confiança já estava em um pico elevado demais para os adversários poderem alcançá-los. O jogo acabou minutos depois, com Baekhyun sendo o único a fazer o gol e com a Coreia do Sul provando que estava preparada para a Copa do Mundo, vencendo em casa.
Recusaram todas as entrevistas porque sabiam exatamente sobre o que os jornalistas iriam perguntar, mas não se recusaram a posar para fotos com alguns fãs e com o próprio time, sem saberem que não jogariam com eles por um longo tempo. Pela noite, se reuniram na casa de Junmyeon e explicaram quase todo o contexto dos dias em silêncio, pelo menos, Baekhyun explicou, confessando o quanto estava com medo da reação do público e conseguiu rever Natalie, sua amada segunda mãe, antes de viajar novamente. Como imaginou, Junmyeon o aconselhou a não ceder, e segredou que Krystal havia convidado-o para um encontro. Eles comeram comida coreana tradicional, beberam soju e cantaram até às três da manhã, felizes demais para quem havia acabado de passar por um problema imenso, estavam mais bêbados do que o normal e tiveram que aceitar a carona do motorista de Junmyeon, esperando que daquela vez, nenhuma foto deles dois vazasse repentinamente.
No dia seguinte, viajariam de volta para casa, para Barcelona e pela primeira vez, viajariam juntos, sem precisarem se esconder, sem inventar desculpas de bons amigos, e sem subornar nenhum fotógrafo. Acordaram perto do meio-dia, sonolentos demais para tentarem não enrolar na cama, teriam estendido o tempo nos lençóis perfumados por mais meia hora, se Sehun e Jongin não houvessem chegado sem serem anunciados. Como eles tinham as chaves? — Vamos dar dez minutos para vocês tomarem um banho — Sehun praticamente mandou da porta, fechando-a em silêncio.
— Por que eles estão aqui? — Chanyeol parecia confuso com a visita repentina, além de sustentar uma dor de cabeça terrível. Tinham um voo antes do anoitecer, mas ainda assim, não estavam atrasados, as malas já estavam todas prontas e em sua concepção, eles não precisavam de babás para acompanhá-los.
Baekhyun sabia que a visita surpresa não deveria vir acompanhada de boas notícias, para Sehun e Jongin se juntarem, tinha que ser a pior notícia do mundo. — Não sei, mas acho que não é uma coisa boa, afinal de contas, eles estão juntos. — Terminou de escovar os dentes, ainda se sentindo meio alcoolizado pelo excesso de álcool do dia anterior e pelo fato de que ainda não havia nem tomado café. Deixou um beijo singelo nos lábios do namorado assim que saíram do banheiro. — Mesmo assim, bom dia.
— Bom dia, meu amor — Chanyeol murmurou, com os lábios rentes aos seus, retribuindo o carinho.
Baekhyun sempre tinha razão. Demoraram exatamente os dez minutos exigidos para trocarem de roupa e estarem no mínimo apresentáveis, quando sentaram à mesa. Sehun e Jongin esperavam na sala de jantar, sentados nas cadeiras acolchoadas, como se estivessem prontos para uma reunião de alguma empresa corporativa. Sentaram do lado um do outro, curiosos e apreensivos demais para esperarem. — Vocês vão falar alguma coisa ou vão fazer eu ter um ataque cardíaco antes dos trinta?
Chanyeol estava mais calmo que Baekhyun, quase nada o surpreendia, mesmo que fosse ruim, ele não acreditava que a situação deles poderia piorar. Estava enganado. — Por que vocês nem avisaram que estavam vindo? E se estivéssemos transando? — Os dois haviam os acompanhado até Seul por conta do amistoso, para protegê-los da imprensa, dos repórteres e até de si mesmos. Estavam hospedados em hotéis diferentes quando receberam a notícia.
— Não achei necessário, devido à gravidade da situação. — Sehun era o mais sério dentre os dois, ele estava aflito e olhava para Jongin a todo instante, quase como se estivesse pedindo socorro. Era mesmo a merda de uma notícia ruim, Baekhyun constatou, antes mesmo que seu empresário abrisse a boca. — A lista de convocação para Copa do Mundo saiu hoje pela manhã.
Baekhyun sentiu rapidamente as mãos gelarem e todo seu corpo parecia ter se desprendido de sua alma, enquanto Chanyeol ainda tinha o cenho franzido, meio confuso para entender as entrelinhas, quando o próprio Byun já imaginava o que havia acontecido. — E isso não é bom?
— Vocês estão fora. — Foi Jongin que reuniu coragem o suficiente para falar de vez, sem mais enrolações ou palavras chamuscadas. — Não foram convocados. Vocês não vão para a Copa.
Baekhyun levantou, andando de um lado para o outro pela sala, enquanto tentava inutilmente se manter calmo. A Copa do Mundo era o desejo de qualquer jogador de futebol, assim como ir para as Olimpíadas era o desejo de qualquer atleta, estar fora da lista de convocação era fracassar. O que mais deveria esperar? Era óbvio que suas atitudes teriam consequência, mesmo que não imaginasse que chegaria naquele ponto. Eles eram uns dos melhores jogadores do país, com experiência e que, certamente, faziam diferença no time. — Era previsível, mas não achei que eles teriam coragem.
— Filhos da puta — Chanyeol xingou, socando a mesa para descontar a própria raiva, ainda desacreditado, nunca achou que eles iriam tão longe. Tirá-los da Copa era mostrar internacionalmente que eram homofóbicos e isso estragaria toda a reputação da Seleção Coreana, afinal de contas, quase todos os países iriam levar símbolos de apoio para o Qatar, que há décadas estava parado no tempo. — Tomara que sejam eliminados ainda na fase de grupos. Não podemos recorrer?
— Não, é uma decisão irrevogável. O anúncio foi feito no canal aberto, não tem como voltar atrás — Sehun explicou, de mãos atadas. — Honestamente, vocês precisam de um tempo fora dos holofotes para as pessoas esquecerem esse escândalo. Talvez, tenha sido melhor desse jeito.
Jongin concordou do outro lado da mesa e sorriu fraco. — Além disso, temos uma boa notícia: a Adidas entrou em contato e os convidou para um editorial exclusivo, os dois, como um casal.
Baekhyun arregalou os olhos, muito mais surpreso com o último anúncio do que com a Convocação, aquilo definitivamente era algo que ele não esperava. — Vocês aceitaram?
Sehun quem o respondeu. — Respondemos que avaliaríamos o pedido.
Baekhyun dividia um misto de sensações, estava eufórico pela maior marca do mundo querer eles dois em todos os seus outdoors, mas, ao mesmo tempo, sabia que modelar juntos, atrairia ainda mais atenção para eles. Contudo, não era isso que queriam? Mudar a opinião pública? Poder serem vistos de outra maneira? — Deveríamos aceitar. Dar um bom motivo para eles falarem de nós, o que você acha, Chanyeol?
O Park até havia escutado, mas estava bem longe do presente, os olhos focados no vidro limpo da mesa denunciavam que não prestava atenção alguma na discussão que ocorria na mesa. Pelo contrário, estava firmemente focado na Convocação e na Copa do Mundo. — É inútil cancelar todas as reservas que já fizemos nos hotéis do Qatar, tenho uma ideia melhor… O que vocês acham de torcer para a Alemanha nas melhores fileiras?
Chanyeol tinha um plano perfeito. Além de mostrarem publicamente que não aceitariam a afronta como um empecilho, eles também mostrariam a eles que não voltariam atrás em suas decisões. Eles iriam para a Copa do Mundo, mesmo que fossem apenas como torcedores, e daquela vez, o Park teria prazer em torcer contra. Baekhyun parecia desacreditado com a ideia absurda, até pensou em negar e dizer que eles podiam acompanhar pela televisão, mas Chanyeol tinha razão. Era uma ideia genial. Eles precisavam mostrar que não iam voltar atrás. Nunca mais.
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Baekhyun carregava a última caixa para o apartamento novo. Os últimos meses haviam passado como um borrão, tão rapidamente que eles mal conseguiam acompanhar, a Copa havia sido um quase desastre para a Coreia do Sul, alguns jogadores, felizmente, haviam treinado imensamente, como seus amigos mais próximos, Son e Junmyeon, mas nenhum deles estava pronto para jogar contra o Brasil em uma oitava de final, eles estavam indo bem até enfrentar os deuses do futebol, a goleada de 4 × 1 que tomaram, enfraqueceu a seleção que perdeu todos os jogos seguidos, sendo eliminada, mais uma vez da Copa do Mundo.
Não era culpa deles, mas foi satisfatório saber que o time não ganharia sem eles dois. Chanyeol foi o que mais torceu contra, e Baekhyun desconfiava que daquele jeito era bem capaz da Coreia ter perdido só pela negatividade que o Park vibrava, em contrapartida, a Alemanha também não venceu. Baekhyun tentou não parecer tão feliz pela Argentina ter sido a grande vencedora, justamente porque estava torcendo para ela, mas Chanyeol conseguiu perceber facilmente que era por causa do Messi, e se manteve carrancudo pelo restante da viagem de volta para casa.
Sehun e Jongin os acompanharam em quase todos os jogos, quando não estavam fugindo durante a noite para se encontrarem na surdina. Eles não eram muito bons em se esconder, mas Chanyeol gostava de alimentar a farsa deles, como um dia, eles haviam alimentado a sua. Já Baekhyun, demorou semanas para perceber que os dois empresários estavam saindo juntos, não podia culpá-lo, ele era meio lento para aquele tipo de coisa. E também, muita coisa havia mudado, os pais de Baekhyun tinham aceitado o relacionamento dele com Chanyeol, a força, mas tinham aceitado. O Byun não os via mais com tanta frequência, mas sempre ligava para a própria mãe, era muito mais fácil conversar com ela, do que lidar com o gênio terrível de seu pai.
A negociação com o Manchester City foi um sucesso, o Barcelona o vendeu para o time inglês por 334 milhões de euros, e Baekhyun não poderia estar mais feliz em se livrar de um time que já não era mais sua casa. Havia vivido bons momentos no time espanhol, mas tudo tinha um prazo, e poder jogar com outros jogadores, com um novo treinador que expandia ainda mais seus limites e uma nova camisa para chamar de sua, era surreal. Era um pouco mais longe da Alemanha, mas ainda assim, bastava apenas poucas horas de avião para se encontrarem. Era uma pena não poder jogar no mesmo time de Chanyeol.
— Não vai achar estranho? Vestir outra cor? Vermelho e azul-escuro ficam tão bem em você — Chanyeol elogiou Baekhyun, o puxando pela cintura para roubar um beijo demorado, o encostando na parede da sala. Os últimos dois meses haviam passado rápido demais e quando menos percebeu, Baekhyun já estava se mudando para a Inglaterra. Agora, eles teriam que treinar bastante o inglês dele, e para todos os efeitos, Chanyeol era um ótimo professor.
— Vai ser diferente, mas digamos que estou aprendendo a gostar de mudanças. — Baekhyun tocou os cabelos recém pintados de Chanyeol, agora eles estavam escuros, depois de tanto tempo mantendo-os ruivos, era difícil se acostumar. Ainda assim, havia gostado, o deixava com um ar de maturidade e ainda mais gostoso, se é que era possível.
Chanyeol se inclinou para receber o afago, era uma pena ter que ir embora em três dias, a alta temporada da Liga dos Campeões, já havia começado e ele precisava estar na Alemanha, treinando incessantemente. — Fico feliz em poder ver você crescer. — Baekhyun franziu o cenho e Chanyeol engoliu um sorriso debochado. — Se bem que é meio impossível por causa da sua altura…
— Você tem que estragar nossos momentos, né? — Baekhyun rebateu, enfiando os dedos pelo couro cabeludo só para puxá-los um pouquinho mais forte, fazendo o namorado resmungar e inclinar a cabeça para trás. De maneira sensual, aproximou a boca da dele e mordeu o queixo alheio, provocando uma dor fina, mas prazerosa. — Sabe o que eu gostaria de fazer? Testar o quarto novo.
Chanyeol suspirou, fechando os olhos por um momento, o celular tocava em cima do balcão, era um comunicado importante, mas não tanto quanto matar a saudade de Baekhyun. — É uma ideia maravilhosa, mas… — sussurrou, desceu as mãos pelas costas do Byun até chegar na bunda dele, em devoção, apertou rudemente. — Eu aposto que vamos nos atrasar para o almoço.
— Eu aposto que não, temos quarenta e cinco minutos. Uma rapidinha? — Baekhyun foi rápido em se impulsionar para colar a boca na de Chanyeol, o sufocando com um beijo de tirar o fôlego, em poucos segundos, já estavam batendo em todas as caixas dispostas na sala, andando em passos desordenados para o quarto novo.
— Por que você tem que ser tão teimoso? — Chanyeol rebateu, mordiscando o lábio inferior de Baekhyun e o tomando para si. O beijando como se fosse a primeira vez.
O celular, ainda esquecido na mesa, continuava tocando com uma ligação de Jongin e várias mensagens dos dois empresários, uma ainda mais importante de Sehun. Era uma lista de convocação da seleção coreana para os próximos jogos, eles tinham voltado atrás na decisão deles depois da Copa do Mundo. Chanyeol e Baekhyun estavam na lista. Eles os queriam de volta. Só olharam a mensagem horas depois e também perderam o almoço, como o próprio Park havia apostado, ele que era o melhor em apostas, nunca errava uma.
Mesmo enquanto estavam separados, a quilômetros de distância, ainda estavam juntos. Agora, sem medo, postavam fotos um do outro no Instagram, modelavam juntos para várias marcas famosas, mas ainda mantinham a vida pessoal em sigilo, comemorando aniversários e adotando cachorros em segredo, escondidos no calor de casa, onde ninguém era capaz de afetá-los. No mesmo ano, Baekhyun jogou contra Chanyeol mais uma vez, não só uma, como duas vezes e o Manchester City foi o responsável por eliminar o Bayern de Munique da Liga naquele ano, mostrando para o mundo do futebol, que a contratação milionária em cima do jogador coreano havia sido um bom investimento.
Baekhyun realizou um sonho que há muito tempo achava que não seria capaz de viver, ele era um campeão. O Manchester City havia ganhado a taça da Liga dos Campeões daquele ano, a primeira do Byun e a primeira de seu novo time. Uma noite épica que nunca seria esquecida.
Chanyeol voltou a ser o Capitão da Seleção Coreana, unindo o time como um, dessa vez, sem mais rivalidades, pois seu maior rival, agora era o amor da sua vida. Ele estava em negociação para migrar para o Real Madrid e Baekhyun havia apostado que ele estaria usando o uniforme branco até o ano seguinte.
Dessa vez, Chanyeol precisou concordar com ele, então a aposta não estava valendo, mas o espírito competitivo nunca havia morrido entre eles. Eram viciados em ganhar, desde escolher o próximo filme até sobre quem corria o campo inteiro mais rápido, Baekhyun ganhava todas as vezes, porque ele era mais rápido. E Chanyeol fingia que odiava, mas, na verdade, adorava ver o sorriso quadrado do namorado quando ele vencia. Era a melhor sensação do mundo, saber que o fazia feliz. Saber que ele estava feliz. E o Byun estava, de tal forma que ele nunca pensou ser possível.
No fim das contas, apostar valeu a pena.
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