Leila acordou sentindo uma umidade anormal na sua calcinha. Levantou da cama e ligou a luz, se perguntando se havia feito xixi. Ao ver o short do pijama sujo de vermelho, sua mente rapidamente processou o que estava acontecendo. Claro, estudou sobre aquilo nas aulas de ciências e suas amigas falavam sobre na maioria do tempo, mas a situação não deixou de ser assustadora para si. Sem saber o que fazer, foi correndo bater na porta dos únicos que poderiam lhe ajudar.
— Pai! Papai!
Estava chorando sem nem saber o por que. E quando um de seus pais abriu a porta, o cabelo ruivo bagunçado e os olhos entreabertos— totalmente confuso, um novo sentimento a acometeu. Vergonha. Eles não sabiam como lidar com isso, nunca tiveram, como explicaria o que estava acontecendo? Sem saber o que fazer, correu para o banheiro.
Dentro do quarto, Andrew foi despertado do seu sono por sacudidas no ombro.
— Hm?— Resmungou totalmente perdido.
— Amor, acho que aconteceu alguma coisa com a Leila.
Andrew despertou rapidamente, sentando na cama e olhando preocupado para o marido.
— Cadê ela?
— Ela bateu aqui na porta, mas quando eu abri, ela saiu correndo pro banheiro. Eu não sei o que aconteceu, Drew, ela estava chorando.
O sono rapidamente foi embora e o casal seguiu a filha. Deram batidas na porta do banheiro mas não receberam resposta.
— Leila?— Andrew chamou— O que aconteceu?
De novo sem resposta, apenas soluços. Ela estava chorando e aquilo estava deixando os pais mais aflitos.
— Filha, nos responda, por favor! Estamos preocupados.
Tentou novamente. Seu marido estava inquieto, andando de um lado para o outro com o olhar fixo na porta. Estava difícil manter a calma. A garotinha não queria preocupar os pais, mas não sabia o que fazer. Ela teria que falar.
— Pai…
— Sim, amor?— Quem respondeu foi Neil, soltando um suspiro enquanto falava.
— E-eu sangrei.
— O quê? Você se machucou? Leila, abra essa porta!— Ele disparou, imaginando cenários horríveis com a sua menina ferida.
— Raposinha…— Andrew botou a mão no ombro do marido na tentativa de lhe transmitir calma. Ele era sempre o mais racional dos três.
— N-não. Eu sangrei lá...embaixo.
Demorou um tempo para que eles entendessem. E quando entenderam, não sabiam o que fazer. Sabiam que deveriam aprender sobre menstruação desde quando Leila chegou aos 10 anos, mas nada os preparou para aquilo, ainda mais no meio da madrugada. Andrew segurou a mão do marido e o olhou nos olhos— esse era um daqueles momentos em que conversavam por olhar. Leila, no outro cômodo, estava mais nervosa ainda, mas seu coração tranquilizou quando ouviu a voz de Neil.
— Amor, toma um banho. Eu vou comprar absorvente, seu pai vai ficar aqui.
×
Neil encontrou uma farmácia 24 horas não muito longe de casa. Foi até a ala de absorventes, mas eram tantas opções que ele não sabia a diferença entre nenhuma delas. Céus, e se comprasse uma errada? Tinha como comprar uma errada? Suspirou e foi até a balconista, ela deveria saber lhe ajudar.
— Boa noite, a senhorita pode me ajudar?
— Claro, o que deseja?
— Bem, a minha filha teve a primeira menstruação agora, a senhorita sabe que tipo de absorvente seria...bom?
Coçou a nuca, se sentindo envergonhado por não saber algo básico. A balconista sorriu e lhe acompanhou até as prateleiras.
— O senhor pode levar dois pacotes, um noturno para ela usar enquanto dorme e um diário para ela usar durante o dia. Com o passar dos meses, vocês vão saber qual é melhor porque depende do fluxo dela, se é muito ou pouco— Prestava atenção em cada detalhe— Eu recomendo levar com aba, porque ajuda a prender na calcinha. Mas se causar incômodo, pode comprar sem abas também.
— Ótimo, então...— analisou os preços na prateleira— Vou levar esse noturno. Com abas?
— Isso.
— Certo, obrigado pela ajuda. Eu ainda preciso aprender muito— Suspirou.
—Quantos anos ela tem?— Continuou a conversa enquanto voltavam para o balcão.
— Onze anos, mas não estávamos esperando.
— Sempre acontece quando menos esperamos. Mas você não precisa se preocupar muito, a mãe dela saberá o que fazer.
— Somos dois pais— falou de forma mais dura do que pretendia. Houve um silêncio constrangedor enquanto ele remexia a carteira para tirar o dinheiro.
— Desculpa…
— Tudo bem.
A vendedora entregou a compra em uma sacola para ele, mas antes que o mesmo pudesse sair do lugar ela chamou sua atenção.
— Faça uma compressa de água quente, é bom para as cólicas. E chocolate piora a dor, então é bom evitar— Sorriu envergonhada.
Neil devolveu o sorriso e agradeceu. Ao entrar no carro, respirou fundo, tentou ao máximo diminuir aquela agitação. Ele estava com medo de não saber fazer o suficiente pela sua filha. Algumas mulheres se envergonham de falar sobre o assunto com homens, mas não tinha outra figura feminina na casa deles. E se ela não confiasse neles para pedir ajuda? Ele não queria que ela aprendesse a se cuidar sozinha por ter vergonha de falar com os pais. O telefone vibrou com a notificação de uma nova mensagem de Andrew perguntando se ele já estava voltando. Parecia que o mais velho adivinhou a tortura mental que estava fazendo a si mesmo. Respondeu o marido e ligou o carro.
×
Andrew bateu na porta do banheiro, o chuveiro já foi desligado há um tempo mas a menina não queria sair de lá enquanto seu outro pai não chegasse com absorvente.
— Vida, já troquei os lençóis. Me dê suas roupas para eu botar no cesto.
— Estão manchadas, pai.
— Leila— suspirou— você não pode ter vergonha das manchas, elas vão fazer parte das nossas vidas agora— Ouviu ela sorrir fraco e fez o mesmo— o que está acontecendo com você é completamente normal. Eu e seu pai não sabemos como é menstruar, por isso vamos precisar que você fale com a gente para podermos te ajudar.
Neil entrou em casa, jogou as chaves no aparador e foi direto para o corredor do banheiro. Andrew pegou a sacola da sua mão.
— Neil chegou. Se enrola na toalha e abre a porta, eu vou te ensinar a colocar na calcinha.
Ele já estava com a peça de roupas em mão, mas Chaeyoung nem ao menos se moveu. Os pais se encararam ao perceberem.
— Raposinha, eu sei que isso é novo. Você deve estar assustada, e envergonhada, mas isso vai passar. Você vai se acostumar, vai saber exatamente o que fazer e como se cuidar. Mas você precisa nos deixar te ajudar— Neil começou, segurando a mão de Andrew que deitou a cabeça no seu ombro— Você não precisa ficar com vergonha de falar sobre isso com a gente. Somos os seus pais. Por favor, nos deixe cuidar de você.
Eles esperaram pacientemente enquanto o silêncio se mantinha do lado de dentro. Quando Andrew pensou em dizer algo, a porta finalmente é aberta.
— Eu não tranquei. Vocês poderiam ter entrado.
— Nunca vamos invadir sua privacidade assim, vida— Andrew sorriu. Seus olhos estavam marejados e ele precisou se manter forte para não chorar em frente à garota.
— Você está sentindo alguma dor?— Neil perguntou, acariciando os cabelos que ela manteve secos.
— Não. Mas tô com medo, a da Martha veio mês passado e ela disse que sentiu muita dor.
— Não se preocupe com isso. Eu vou pedir um remédio para a sua madrinha. Agora vamos aprender a colocar a fralda, bebêzona.
Leila fez uma careta de desgosto com a brincadeira de Andrew, mas não conseguiu segurar a risada por muito tempo. Após ela voltar para a cama, os pais se sentaram no chão em frente ao seu quarto.
— Nossa menininha está crescendo muito rápido, Drew. Daqui a pouco eu estarei com os cabelos brancos.
Andrew riu fraco e beijou a bochecha do marido.
— Então terei que procurar outro marido, não quero um velho ranzinza ao meu lado.
Neil fez careta.
— Você não sabe ser romântico, deuses! O velho ranzinza da relação será você!
— Até parece, você já está falando como um.
Suas mãos se entrelaçaram no colo do ruivo. As alianças brilhavam contra um feixe de luz que entrava pela fresta da cortina da sala. Vinte e um anos juntos, dez como namorados e onze como— oficialmente— casados. Contando com os anos de amizade, eles tinham mais tempo do que qualquer um acharia ser possível. E sabiam que iam permanecer por muitos anos juntos, até o fim de suas vidas. Porque agora eles tinham um fruto, a sua pequena Leila que chegou em sua casa com dois anos de idade. Uma mudança e tanto na vida deles, mas que os deixou mais unidos. E agora a pequena estava entrando em uma nova fase em sua vida, dali para frente as coisas seriam muito diferentes, mas eles estavam preparados para qualquer mudança.
— Eu amo vocês— Andrew declarou no escuro— Você e a Leila, se hoje eu estou vivo, é porque eu tenho vocês.
— Você sabe que eu não seria quem sou se não fosse por você, Drew. E eu não poderia desejar nenhuma outra vida além dessa.
Eles se beijaram. E então choraram. E então se beijaram de novo, para enfim voltar ao quarto. No dia seguinte, Andrew chamaria a madrinha de Leila para confortar a garota sobre este assunto. Tudo ficaria bem, porque eles são uma família, e sempre irão cuidar um do outro.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.