(16/08/1979, quatro anos atrás)
Eram exatamente 22:34 da noite e a corça de 14 anos chamada Emmy tentava dormir em seu quarto, a lua ainda brilhava no céu azul escuro, iluminando seu quarto, ela se remexia na cama toda vez que abria os olhos, apesar da pouca idade, ela sabia que tinha que dormir pois no dia seguinte, era escola. Virou para a direita, depois para a esquerda, depois ficou de barriga para cima e depois de barriga para baixo, ela ficou repetindo isso várias vezes até enfim desistir e se sentar na cama.
Reclamando palavrões, ela acende o abajur e pega um livro que estava no criado-mudo, escrito por Charles Dickens, ela estava na página 125 de Oliver Twist, enquanto lia, ela esperava o sono chegar, olhou para o lado direito e viu que sua irmã, Meredith, não estava lá. Confusa pensando que era algo criado de sua mente, ela coçou os olhos e abriu, realmente ela não estava lá.
Ela se levantou da cama, pegou uma lanterna na gaveta e abrindo a porta devagarinho, ela saiu do quarto, o quarto dos pais estava fechado e trancado, a luz laranja do poste passa pela janela do banheiro, Emmy se sentia solitária, uma solitária noturna, com os pais dormindo e a irmã desaparecida, ela sabia que teria que resolver esse problema sozinha, se tudo for uma pegadinha da irmã, seus pais não a levariam em conta, afinal Meredtih sempre se safava das pegadinhas que fazia com ela.
*Emmy – Porra, espero que você não esteje tirando uma com a minha cara Meredith!!! – Com o pijama de manga longa rosa, ela encarou o assustador breu vindo da escada.
O batente da porta de madeira que ficava em volta da entrada da escada parecia mais um monstro do que um batente, ela agarrou o corrimão de madeira e começou a descer ainda com os pés tremendo, a luz branca iluminava a parede branca, baixinho, ela implorava para não ter nenhum monstro lá embaixo ou algo do gênero. Histórias diziam que monstros vivem embaixo da escada, da cama, dentro do armário, sótão ou pior, no porão. Claro, foi isso que Corino falou um dia só para aterrorizá-la.
Por ser uma casa de dois andares com um sótão e porão, Emmy se sentiu assustada e na merda, “Sou grande, não posso ter medo de monstros que vivem no fundo de nossas mentes!!” Ao chegar no último degrau, ela balançou a lanterna verificando se não tinha nada ou ninguém vindo. Emmy suspirou aliviada após verificar que não tinha nada vindo, botou o pé para fora da área de segurança e sentiu o piso gelado.
*Emmy – Meredith...que você não me assuste!!!
Aos poucos ela caminhou ainda procurando sua irmã, passou pela sala de estar e não tinha ninguém lá, a poltrona em que o pai ficava no lugar de sempre, o sofá em que a mãe e elas ficavam também e claro a solitária poltrona que pertencia a vovó, infelizmente ela morreu quando ela e sua irmã tinham sete anos. Próximo lugar, a cozinha.
A cozinha para ela, era o pior lugar da casa, as paredes pintadas de amarelo claro e o piso formado por ladrilhos pretos e brancos que oscilavam na organização, aquilo a incomodava demais. Solitária, ela ilumina a cozinha com a luz branca e percebe que apenas uma coisa faltava, uma faca tramontina que ficava no suporte de madeira destinado a esses utensílios.
Em seguida ela ouviu um barulho, algo motorizado como uma serra circular de serraria e para piorar vinha do porão. Emmy engoliu a seco e se preparou para o que der e vier, lentamente ela tocou e girou a maçaneta, abriu a porta e com a luz da lanterna, desbravou os degraus de madeira que rangiam.
*Emmy – Se eu morrer hoje, para meus pais minha bolsa de estudos para Oxford e para Meredith nada!!!
Ela pisou no primeiro degrau que rangeu, a corça engoliu a seco e continuou, segurando firme no corrimão de madeira, ela continuou e prendeu a respiração até chegar no fim da escada, quando seus pés tocaram no cimento, ela tornou a procurar o interruptor para ligar a luz. Assim que ela encontrou, apertou o interruptor fazendo o local ser banhado pela luz branca, Emmy desligou a lanterna e caminha nas pontas dos pés. O barulho ficou mais alto.
A corça havia percebido de onde vinha o barulho, uma porta de madeira misteriosa estava a sua frente, Emmy nunca tinha visto ela naquele lugar, logo ela ouviu uma voz.
- Cuidado com isso, é ácido fluorídrico. – Disse a voz grave do pai.
- Ok. Posso pegar aquele braço? – Perguntou Meredith com uma voz sombria que Emmy nunca tinha ouvido. Lentamente ela girou a maçaneta e abriu uma fresta na porta, lá dentro, ela pôde ver o pai, um cervo de cabelos grisalhos vestindo um jaleco branco que usava na fábrica de produtos químicos da cidade.
O pai estava de costas para a porta e muito concentrado em seu trabalho, de frente para ele estava a desaparecida Meredith que ajudava o pai em seu trabalho, Emmy arregalou os olhos e recuou assustada ao contemplar sua irmã levantando um braço sem corpo para o pai. O cheiro do cadáver era horrível e quase fez Emmy vomitar, por isso Meredith usava uma máscara em seu rosto. Emmy precisava voltar, ela não devia estar ali.
Antes que ela fugisse, a corça contemplou sua irmã fitando-a com um olhar de desprezo e o que parecia ser medo, Emmy assentiu e começou a fechar a porta, mas um barulho de algo caíndo a fez se assustar e bater a porta com força. Xingando a si mentalmente, ela correu rapidamente e se escondeu em uma pilha de caixas. Se encolheu e prendeu a respiração assim que ouviu os passos do pai e da irmã procurando quem ou o que fez aquele barulho.
Pai – Quem está aí?! Querida?! Emmy?! Algum invasor?!! – Questionou ele nervoso, seus oclinhos eram como farois na escuridão, Meredith vinha atrás, diferente do pai, ela não esboçava medo ou nervosísmo. – Merda, tem alguém aqui!! A luz tá ligada!!!
*Emmy – A LUZ!!! EMMY SUA BURRA DO CARALHO!!! – Xingou ela mentalmente para si mesma.
Meredith – Não tem ninguém, a porta batendo foi o vento e a luz ligada é que eu esqueci de desligar quando sai para beber água, desculpa.
Pai – Ah entendi. Não se desculpe querida, você não fez nada. Vamos voltar, você ainda tem muito o que aprender, desliga a luz para mim por favor.
Meredith – Sim senhor. – O cervo volta para a sala e Meredith caminha até o interruptor, aonde desliga e encara a pilha de caixas.
Meredith sabia que Emmy estava ali, suspirou e apontando para a escada com o polegar por trás do ombro, ela sussurrou.
Meredith – Corre... – A corça voltou para o local e fechou a porta banhando o porão em escuridão novamente.
Emmy saiu das caixas e correu para a escada de madeira, subiu calmamente até chegar na cozinha, aonde fechou a porta e vomitou no chão. Agora ela teria pesadelos depois de ver um cadáver todo desmembrado. Após um tempo, ela foi até a lavanderia e limpou o vômito, em seguida voltou para o seu quarto aonde se deitou e ficou de olhos bem abertos pois o monstro do porão estava à espreita.
{31/10/1982, atualmente...}
Mary correu até a corça estirada ao chão, ela lagrimejava e tocava no ferimento fazendo com que sua mão ficasse melada de cor vermelha. Emmy encarou a tigresa, ela havia perdido muito sangue, o projétil havia destroçado seu fígado fazendo ela cair no chão e morrer lentamente, antes que seu mundo ficasse escuro, logo, Mary foi a última coisa que ela viu antes de ir estudar geologia nos campos santos.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.