O sistema de compatibilidade existia para que todos os lupinos estivessem com os parceiros perfeitos. Isto é, na maioria das vezes, a relação se tornava a mais comum; alfa x ômega.
Ele existia justamente para que quando se encontrassem, o casal fosse atrelado e a chance de procriar fosse ainda maior, com uma porcentagem mínima de separação. Então, era o sistema perfeito para uma sociedade quase completamente monogâmica e conservadora.
Ele não era usado por toda a população, mas era quase um serviço militar; algo tradicional do mundo, que existiria mesmo sem necessidade.
O sistema tentava encontrar pessoas próximas a si, com aspectos e gostos em comum. Entretanto, a nossa protagonista, não sabia quem escolher. Os seus “pretendentes perfeitos” em seu bairro eram apenas dois, uma alfa e uma ômega.
O site não era dos melhores, mesmo que usado por quase todo o mundo, já que promovia um encontro às cegas. Não dava mais informações se não as básicas, como idade, aparência mínima, altura, casta e, claro, se era submisso ou dominador. O motivo de precisar saber daquilo? Também não sabia.
Yerim mordia ansiosamente as unhas, encarando a lista de informações na tela do computador.
Estava ficando velha, e ômegas novas não iriam querer uma alfa sem experiência alguma com 24 anos. Era comum o casamento e os filhos precocemente, mas chegava a lhe assustar a forma como os anos se passaram rápidos depois de seus 16.
A compatibilidade era algo que se não a tivesse, era capaz de matar - durante o nó ou períodos assíduos de cio - o parceiro, por mais bem que se dessem. Não era só sobre a personalidade, mas também as castas. Era sim um sistema preconceituoso, não negava, mas era o meio mais rápido de conseguir uma namorada, que ainda combinava consigo e teria uma personalidade parecida. Entretanto, por mais que um sistema preconceituoso, às vezes, o próprio fazia match com castas iguais, o que significava o óbvio; não depende da casta, mas sim das pessoas. A casta nunca impediria duas pessoas de se amarem.
Então, com o coração na boca da garganta, clicou para convidar suas pretendentes, enquanto o site programava o dia para o encontro. Sentia na pele o nervoso daquela esfera rodando para carregar, até que o pedido havia sido aceito! Teria dois encontros no mesmo dia, porém, um pela parte da manhã e outro, de noite.
O local seria escolhido pelo convidado, então apenas esperou a notificação aparecer em sua tela com o nome do local.
Tudo estava indo muito bem, Yerim se imaginava conhecendo aquelas duas pessoas maravilhosas, entretanto... Esqueceu-se de um detalhe.
O maldito nome. Não havia nem mesmo nome, apenas a casta pertencente de cada uma.
Aquilo significava que ambas estavam pedindo algo no sigilo, mesmo que o site promovesse casamentos instantâneos, afim da procriação. Talvez a desesperada por filhotes e família fosse apenas Yerim.
Porque sim, o site era usado primordialmente para aquilo, mas havia caído na graça dos jovens e era mais interessante transar com alguém que tivesse compatibilidade consigo, então o que era um “site de casamentos”, se tornou um “site para melhor transa da sua vida”. O principal erro era que não havia chat, apenas notificações para saber se o pedido foi aceito ou interações mínimas, o que complicava a vida dos jovens que precisavam daquilo para acordar a transa.
Era de se esperar de um site público, já que mais parecia que se estava marcando uma consulta médica do que buscando alguém para ter filhotes, hilário.
#partiuabotinder
Depois de sentir minha bunda dormente de tanto ficar sentada – isso não soou bem... -, me levantei rapidinho só para estalar as costas. O que eu não esperava era o rugido de dinossauro que sairia da minha boca enquanto quebrava a minha coluna igual bolacha creme craque. Aquela sensação gostosa da porra de dar uma espreguiçada passou, e eu fiquei é irritada com o maldito crachá da empresa, porque era eu me mexer um teco e o plástico vagabundo me arranhava a barriga.
Sabe aquele cartão que tá no fundo da tua gaveta faz oito anos, você nunca mais usou na vida, mas pensou “vai que eu uso”, e ele começou a desintegrar cada vez que você mexia nele? Então, era desse jeito.
Aquele cordão que mais parecia o cadarço de um mendigo amarrado no meu pescoço como se eu fosse uma vaca leiteira me dava uma raiva, não sabiam medir a porcaria do fio e ele quase passava da minha cintura.
Se pegasse no meu pau, primeiro dia ia ser slim, perdi meu pau.
“Tá procurando foda, Yerim?” A gansa engasgada praticamente esbaforiu no meu ouvido, o que me fez sutilmente dar um moonwalk inverso e enfiar o joelho na mesa porcaria.
“Ai, porra! Não me assusta assim, caralho!” Xinguei mesmo, me virando com a mão na perna igual uma velha, pensando se amputar doeria menos.
Falta de cálcio aos 24 era complicado.
“Se assustou porque tá procurando putaria no computador da empresa.” Cruzou os braços, com aquele olhar de que ficou no lol até quatro da manhã. Como Hyejoo conseguia sempre parecer estar sensualizando para alguém? Zói finin, rapaz.
“Não é putaria, eu quero um match.” Fui sincera, era o jeito né. “Se você não percebeu, jovem Padawan, eu sou uma alfa velha. Estou ficando sem saída.” Reclamei da lolzeira e usei padawan de gíria.
Tudo farinha do mesmo saco.
“Lembrei, você tem oitenta e dois.” Hyejoo soprou, fazendo aquela mesma cara de descontente.
Coloquei a mão no peito, ofendidíssima. Tá, eu sou velha, mas também não tava com um pé no caixão!
“E você que tá no auge da juventude e não conseguiu nem transar ainda?” Tome, virjona!
A Son(sa) me mandou o dedo do meio, azedando a cara leitosa dela. Se era possível, eu vi os olhos se estreitarem em pura ofensa, me empurrando de volta para a mesa.
“Tá, velhota! Vai morrer na mão.” Resmungou, saindo de perto de mim.
Voltou a fazer o percurso que deveria, que no caso, era entregar a papelada para o pessoal da edição. Imprimir matérias e jornais era osso, ainda mais quando o material do papel se assemelhava à estrelas ninjas que te cortavam só de aproximar um átomo teu do negócio.
Bem, eu falei de Hyejoo, mas o meu ralo deveria ter mais espermas do que o meu saco, digamos assim. Solteira há quatro anos, sem nunca ter batido num bundão depois de terminar meu único namoro. A lolzeira tava melhor que eu.
Que mundo é esse tão cruel que a gente vive?
Tá, tá, chega de drama. Eu sei que vou morrer entravada na punheta e que nunca vou apresentar meus filhotes pra minha mãe...
Hm? Não vou fazer um discurso motivacional não, só quis destruir minha auto-estima mais um pouquinho. Quem precisa de um inimigo quando se tem a si mesma, bicho.
E o cu na mão do patrão me mandou ir pegar as assinaturas para lançar os balanços, o pior era a nossa supervisora, a única ômega que havia naquele escritório, que eu quase chorava de passar perto. O cheirinho doce, aqueles olhos azuis que ela usava quando tava com raiva, a única pessoa gentil no meio daquele monte de saco suado.
Ai, papai! Meu sonho.
Óbvio que eu me arrumei. Apertei mais o cinto na calça azul marinho, enfiei a camisa toda amassada na calça, arregacei as mangas e deixei o relógio do Power Rangers amostra. Era presente, tá? Desdenha não!
Quase roubei o bom ar que tinha na minha mesa para jogar no pescoço, mas acho que cheiro de lavanda não iria realçar minha potência muito menos mostrar o quão pica de alfa eu sou.
E eu quase ri, juro mesmo. Minha auto-estima é boa assim não.
Peguei a papelada como se fosse um clitóris para não machucar as minhas mãos másculas e sai da mesa. Antes eu fechei rapidinho a aba do site, vai que... Né.
Fui primeiro no pessoal da edição, pedi para o supervisor daquela área assinar e papo reto, me mandei de lá. Depois, cheguei na revisão e o mesmo processo se repetiu, até que eu voltasse para o comercial – minha área -, e me direcionasse ao cubículo de vidro cheio de persianas pretas.
Bati na porta delicadamente, entrando quando ouvi aquela vozinha de antipática fofa me mandar entrar.
“Sunbaenim, você pode assinar para liberar os balanços agora? Se não puder, eu volto às seis.” E menina... Deixa eu te contar, na hora que aquela mulher tirou os olhos do computador e me lançou aquele olhar 43 pelos óculos...
Aí ela falou, com a voz grossa e rouca, querendo me seduzir. “Deixa na mesa.”
Me aproximei devagarinho, vai que ela mordesse. Coloquei do lado daquele bubble head da Lady Gaga que ficava em sua mesa e, não me contentando, dei um tapinha naquela loira. O olhar de leoa prenha e faminta que Jung Jinsoul me lançou deixou satã com medo, e eu me distanciei tão lentamente quanto me afastei.
Jinsoul era verdadeiramente linda, eu não conseguia nem falar o contrário.
As madeixas – ai que frescura de palavra – pretas, com as franjas fofas na lateral, dando aquele volume e aparência um tanto desgrenhada, mas como se fosse uma atriz. Aquela boquinha bicudinha toda vermelha, talvez do café pelando na caneca da Sonserina, talvez pelo liptint que costumava usar normalmente. O suéter que não deveria ser colado estava completamente abotoado, mas como sua abertura era em v, deixou aquele pescocinho de baunilha exposto, junto do vão dos seios e a alça do sutiã.
Nisso eu entendia o motivo dela sempre conseguir o que quer.
Epa, calma a militância! O que eu quero dizer é que Jinsoul era a inteligente da empresa, a cabeça, que sempre pensava no marketing e no acesso ao público, mas que normalmente ninguém ouvia. Apenas os alfas apresentavam os slides e pior ainda, com idéias que atrasariam o prejuízo, mas não resolviam de fato o problema. Quando Jinsoul começou a ser mais impulsiva, dominante acerca dos alfas cachorros nas reuniões, eles passaram a aceitar, mesmo contragosto, suas decisões.
Como eu bem sabia, só aceitavam porque Jinsoul era uma tremenda gostosa e se aproveitava disso para trabalhar bem, mas era triste pensar que não a viam como ela merecia.
Logicamente, eu não merecia um prêmio por notar aquilo; entretanto, fazia da nossa convivência mais amigável, mesmo que sutilmente desse em cima dela. A carne é fraca, amigos.
Eu voltei para a minha mesa e me senti satisfeita. Tinha zoado a boss, arranjei paqueras e militei.
Biscoitos para mim!
Melhor ainda, era sexta-feira, meu expediente tava acabando, logo ia encher a cara assistindo uma comédia de qualidade – As Branquelas - e finalmente ter a oportunidade de desencalhar.
Era o meu momento, dá licença!
#partiuabotinder
Senti os meus ombros se embolarem que nem nós de fone de ouvido. A dor de ficar o dia inteiro tapeando o teclado, lendo e-mails e rebolando na cadeira quebrada do escritório me matou completamente.
Para piorar, sentia bolhas nos pés pelo maldito sapato social encourado e frescurento. Salto seria bem pior, mas ainda assim, sapatos sociais eram justos e apertados, sem possibilidade do meu precioso pé de guerreiro asteca respirar.
A primeira coisa que eu fiz quando cheguei em casa foi, obviamente, destrancar a porta. Porque eu não sou louca de não passar a porta no trinco né, vai achando.
A segunda foi trancar.
Óbvio, caralho! Nenhum assaltante no meu turno.
Meu deus, Yerim, foca na narrativa! N-a-r-r-a-t-i-v-a!
Eu tomei um banho gostosão, daqueles que você se ensaboa completamente e finge que a espuma é uma armadura que não é aprova d’água. Lavei o cabelo com o melhor shampoo que tinha – minha mãe que comprou, porque eu pra escolher produto de beleza é... putz -, até depilei zonas sensíveis que uma unha arrancava pedaço.
Deixei tudo bonitinho, aquela espuminha para barbear os pentelho que deveria ser barba – a sorte que eu tinha era não ter tanta testosterona em mim -, esfregar o rosto com loção como se fosse uma panela de brigadeiro e ó, chique!
Claro, ainda não era o santo dia do meu encontro. Eu só queria preparar antes do dia para que não me atrasasse, já que um dos encontros seria logo de manhã. Teria que me portar como uma alfa responsável que trabalhava o dia todo e comprava o carro do ano.
Só a parte do carro que é mentira. Eu parecia um pastel rolando no óleo no metrô lotado.
Sai do banho com aquele boost de endorfina, serotonina, sei lá que porra de hormônio que era que fazia a gente se sentir benzão, limpão, leve até. Só era ótimo sentir aquele arzinho entrar pelo samba canção e os mamilos livres de camisas de botões. Ou vai me dizer que não é gostoso sentir o vento bater nas tetas? Claro que é, mentir é feio!
Sentei calmamente na minha cama de solteiro, que gemia mais do que eu, que nem um velho querendo escorar as costas.
Puxei meu celular para fuçar a vida alheia, sendo a única coisa que eu consegui comprar de bom com a mixaria que ganhava. Fui rolando o Twitter num misto de emoções; fome da porra com o burgão, triste por quotes de séries teens, fofura extrema por ver um gatinho filhote e do nada meu pau quase acertou a moleirinha no celular pela foto que passou no meu feed.
Era Hyejoo curtindo putaria? Claro que era, virgem é assim mesmo!
A foto era um corpo esguio, com pouquíssimas roupas. Uma saia minúscula plissada com babados e laços branca e um sutiã igual. O tesão da foto era o pênis mirado na câmera, enquanto o dono ou dona do pauzão gostoso se masturbava vividamente, o leitinho chegava a escorrer.
Papai, que delícia!
O quê? Chocou que eu sou uma alfa que já levou jatada na cara?
Modernidade, meu amor! Abrace a diversidade, bota a cara no sol, mona!
Meu deus, que vergonha alheia de mim por usar gíria de Twitter, ew. Twitteiro de 14 anos deveria ser banido.
Bem, não vou mentir. Eu me atraía por todas as castas, todas eram especiais e tinham seus pontos altos para mim; o problema mesmo era que por mais que eu gostasse da rachada, ainda precisaria ter filhos e um bom casamento.
Óbvio, adoção e barriga de aluguel era uma opção que eu não me preocuparia de usar, só que existia algo chamado “estimativa de reprodução”, isso é, todo alfa precisa ter pelo menos um filho vivo antes de poder se casar oficialmente ou adotar um filho. Por quê? Porque haviam descoberto a gravidez dupla, a qual um delta poderia ser pai ou mãe de um filhote, inseminado por um alfa. O problema disso era que só se era possível – ao menos pelos dados recentes -, nascer deltas dessa criação. Então, alfas começariam a entrar em escassez, já que apenas “alfas corrompidos” seriam procriados. O gene alfa puro começara a quase não existir, então a lei entrou em vigor.
Sim, era extremamente preconceituoso e conservador. Mas eram dados científicos, biológicos que confirmavam a estimativa. Os casais com deltas, após essa descoberta, haviam crescido. Deltas passaram a compor classes e cargos altíssimos, ocupar escolas.
O que eles achavam errado era que os “verdadeiros alfas” parariam de existir, e apenas as cópias malfeitas perambulariam por aí. Então, era tudo na base do preconceito, por mais que fosse uma estatística.
E isso me entristecia toda vez que via os protestantes da janela do escritório. Os deltas, tão escorados pela nossa sociedade tradicionalista, finalmente haviam dito a sorte de encontrar um método para que fizessem o que metade deles sempre quiseram; ter uma família. Mas não, os líderes religiosos não poderiam deixar algo assim passar em branco.
As gamas, tão esquecidas, também sofreram. Assim como deltas, elas podiam engravidar agora! Porém, apenas se os óvulos ômegas fossem implantados, mas apenas alfas e ômegas sairiam dessa mistura. O motivo? Não havia gene gama, já que os próprios óvulos não eram delas. O filhote poderia ter características da mãe, mas nunca seria como ela. Por isso a lei não se aplicava à gamas, mas mesmo assim, o procedimento ficara ainda mais caro e de alto requinte por causa da nova medida.
Insuportável saber disso e pensar que... Uma das minhas pretendentes era alfa.
Eu presaria doar esperma o quanto antes, engravidar uma mãe solo e vazar. Isso é, se eu fosse ficar com a alfa.
Ainda havia a ômega.
O encontro de manhã era num café chique, menina, tinha até comida estrangeira e frescurenta, croasã quentinho com manteiga francesa, achei a maior boiolice. Ah, qual é! Era um encontro de pretendentes, eu sei, mas não precisa ser num lugar que custava mais do que a minha vida! No bar Doku eu comprava treze pães por dois e noventa, ainda vinha com corote.
E a ômega ainda era muito jovem! Tinha lá seus 18 aninhos – novinha, ui, ui -, era alta e segundo o site, era bem tímida. Recatada e do lar, perfeita! Vai querer casar comigo só de sentir meu perfume da Avon.
Tirando que... Ela era riquinha. Aí é complicado lidar com burguês, sabe.
“Se eu tive, foi porque eu m e r e c i”, eu via ela facilmente falando isso. Mas a gente sabe o final da mamata; filhinha de papai.
Eu só esperava que ela não fosse tão recatada assim, que soubesse conversar, não precisasse ficar me achando de sunbaenim, ia ser constrangedor... Ia parecer que eu era um velho de oitenta e quatro anos dando em cima de uma novinha, comendo uva passa, enchendo a cara com velho barreiro e chamando ela de novinha.
Bem, novinha eu já chamo... Pelo menos ela é maior de idade já.
Pela criança eu dou a minha vida, graças a deus!
[ 1:46 ]
Tudo bem, eu juro que ia dormir cedo.
Eu até coloquei o meu celular para despertar, e era sábado! Botei um Skrillex como toque só para ver se fazia efeito.
Mas a única coisa que eu não consegui fazer foi pregar os olhos.
Eu tava achando suportar o dia e a ansiedade na barriga fácil até o momento, só que quando eu deitei, não tinha asmr que me fizesse dormir. Eu nem gostava, mas diziam que funcionava, então precisei testar. Tentei maracugina, mas preciso pedir reembolso. Funcionou nada! Propaganda falsa e enganosa. Tava quase optando pela cabeçada na parede, mas eu prezava pela minha vida.
Se deus quiser, eu morro amando!
E mesmo assim, o horário cedo, nove da manhã, não saia da minha cabeça. Dava aquela ânsia só de imaginar as vergonhas que eu passaria, e nada me fazia parar. Era como se eu fosse um mico ambulante, que derrubaria o café pelando nos peitos dela ou que ia assoprar farelo de pão no cabelo dela. Terrível.
Eu pensava no que iria vestir, como chegaria. O sentimento que eu teria de ver a pretendente, como seriam os nossos diálogos. Se ela ia rir com a mão na boca toda tímida ou falar sobre política. Eu até suportava que fosse uma nerdzinha que quisesse debater sobre os multiversos da DC, mas política não. Glória a deux!
Óbvio que uma tarada como eu pensou em bater uma, porque sabe, relaxa, é gostoso... Eu só ia precisar lavar a mão depois.
Sendo a minha última chance, me ajeitei na cama, abaixei o cobertor e deixei a samba canção no cós, porque tirar eu não ia. Abri aquela conta no twitter e fui descendo, lendo aqueles posts cringes de sub e dom, mas quando eu cheguei nos vídeos... Foi perfeito. Eram compartilhados de outra conta, fui fuçar e que delícia de rabeta!
O século vinte e um é maravilhoso, eu já disse isso?
Uma perfil privado, uma camgirl. Se chamava Yuyu e era alfa, com aquele corpo escultural dela.
Ela interagia com os fãs – que eram bem civilizados até – nos comentários, sempre respondendo às perguntas. Eram do tipo “você se sente confortável?” até “posso leitar a sua cara?”, normal, coisa de punheteiro na internet.
Quis ver a belezura daquela alfa, passei as perguntas do curiouscat e cheguei no paraíso; os vídeos, que haviam sido recentes.
Ela postava trechos pequenos baseados em comissões e depois fazia uma sessão de perguntas, uma verdadeira empreendedora! Palmas para essa mulher.
Foi eu ver aquela bundinha empinada numa saia rosa que as primeiras fisgadas atingiram até meu coração, mas eu me concentrei. Pensei em rasgar aquela roupa curta e inapropriada, espalmar as mãos naquela carne e beijar, chupar, morder tudo que eu podia. Com muito carinho, claro. Nada que um beijo grego não resolvesse.
Já dizia a minha vó; com um beijo no cu é impossível não se apaixonar!
Eu só não sabia se funcionava, porque... Vovó morreu encalhada.
Antes de começar a fazer amor com a minha mão, eu primeiro tive que pegar uma pinça na gaveta pra achar meu pau.
Brincadeirinha! Precisava de um microscópio.
Puta merda, Yerim, tu não consegue mesmo focar! Foca na bunda, foca na bunda, foca na bunda!
Respirei bem fundo, idealizando na minha cabeça o que faria. Me concentrei o máximo que pude, para então, começar.
Fui devagar, tentei fechar os olhos e tirar o celular da mão, gravando aquela imagem na minha mente, apertando o colchão entre os dedos apenas para simular a maciez.
Tão bom... Eu sentia uma coisa crescer em mim, mal conseguia conter a respiração dentro dos pulmões. Aquela sensação gostosa de apertar o membro, mas ainda com jeitinho para não machucar. Rodar o punho na glande, acariciar o freio devagarinho, como se fosse um cafuné. Escorria os dedos por toda a extensão, apalpando as poucas veias enquanto ouvia aquele barulho molhado da pele e o pré-gozo, não quis abrir os olhos para não tirar a imagem da minha cabeça.
Aquele corpo trabalhado e esguio, bronzeado. As sardas pela base das costas, o cabelo curto na altura do ombro. E claro, um sorriso tão bonito, tão safado que eu não pude me agüentar.
Me imaginei indo fundo, agarrando aqueles cabelos mas sem desgrenhar. Senti quase na pele o gemido rouco que arrepiava qualquer um, a respiração acelerada e aquela sensibilidade só de assoprar. Fui com tudo, e tive que me segurar para não gemer.
A velha do apartamento debaixo começava a achar que minha casa era um puteiro, de tanta playlist da Rihanna, barulho de salto e gemido que tinha.
E foi no momento em que eu idealizei aquela bunda batendo em mim que o ápice chegou. O balão inflou, explodiu e jorrou na minha cara.
VAI TER LINGUIÇA NO JANTAR.
Fiquei olhando meia hora para minhas próprias mãos, meu pau murcho, ressecado, encolhido, tadinho, quase se escondendo na peça íntima depois de leitar minha própria cara. Era quente, muito viscoso e eu sentia aquele cheiro de porra inundar meu apartamento. Se eu pegasse uma conjuntivite numa dessas...
Me levantei, era o que tinha para fazer. Fui lavar minha cara com os olhos fechados, trupicando na casa inteira com a samba canção sambando no meu joelho, quase me matando sozinha. O ralo colecionou mais gozo, e eu sequei a minha cara num ódio de pensar que meu pau tava contra mim.
Olhei para ele, com a roupa abaixada, e apontei como se lhe desse um sermão. Numa dessas, menino, eu ia pro hospital com porra no cérebro! A sorte é que ele não era grande, nem grosso, nem bonito... Meu pau era uma bananinha-maçã. Só tinha de bom o sabor.
E sim, eu sei. Não é a primeira vez que levei jatada própria na cara. Era isso que eu quis dizer com jatada lá em cima... Porque nem alfa me quer.
Mais uma noite chega e com ela, a depressão.
#cansei
Mete com força e com talento
Estou ofegante e você percebendo
Bate e maltrata essa puta safada
Quero jatada de leite na cara
Acordei parecendo boneco de posto, querendo tacar aquele celular longe só pela maldita música do despertador. Quem não acordaria com uma jatada de leite na cara?
Eu! Porque eu fui dormir com uma.
Mãe, eu juro que era Skrillex, eu posso ser hétero top mas funkeira jamais!
Levantei no passinho do romano só para aquecer, como se fosse aquele yoga pela manhã. Mas, yoga é coisa de burguês, aqui eu aqueço metendo o pé na quininha do móvel.
Só que como eu bem sabia, aquele frio na barriga não era diarréia. Tava parecendo um pinscher de tanto tremer, a escova de dente pareceu automatizada que em dois segundos, minha boca tava com mais espuma que velho tento convulsão.
Ofendendo velho logo cedo, ê coisa feia!
Eu precisei tomar um outro banho – porque minha higiene é impecável! ... às vezes -, e tratei de me perfumar todinha. Loção no corpo, sabão de romã, parecia até que eu era uma simpatia ambulante. Faltou mel e São Valentim de ponta cabeça num copo d´água.
Dei dois tapas na pomba para ficar nos trinques, passei creme até no saco – mentira, meninos e meninas, não façam isso! -, joguei um frasco inteiro de perfume na jaqueta e atrás da orelha, esfreguei os pulsos e óbvio, na virilha. Ou eu ficava muito cheirosa, ou todos os compostos químicos iam me dar uma puta alergia.
Fazer o quê, escolho a sedução.
Escolhi a melhor cueca da minha gaveta na cômoda, uma pretinha da lupo, ó, sem costuras, recomendo menines. Coloquei uma calça skinny preta, uma camisa quadriculada e uma jaqueta jeans por cima. Aquela gola espumadinha que praticamente me acariciava o pescoço era confortável, então preferi mantê-la. Tinha bastante bolsos e tava meio frio mesmo, então parti para o meu cabelo.
Hm... Essa parte é difícil.
Eu sinceramente deveria cortar de uma vez, porque não sabia arrumar. A melhor coisa que eu fiz foi pentear, como minha mãe me ensinou, e amarrar num rabo de cavalo médio, baixo, sei lá, cara! Eu sou um desastre em moda, piorou se for me falar um produto de beleza. Eu só sei o que a minha mãe compra para mim, mas não consigo entender a diferença. Loção? Creme? Óleo??? Perfume ou colônia? Não me pergunte, pois eu não sei!
Mas de uma coisa eu sabia; ia me esforçar ao máximo para tentar ao menos manter uma amizade, mesmo que não desse em nada. Do que não achava, enquanto procurava, conseguia metade. Se procurei por morangos e apanhei limões, faço uma limonada para refrescar.
Resumindo: ninguém entendeu nada. Mas eu quis dizer que mesmo se não saísse com uma namorada, queria ao menos ter alguém para conversar.
Me leva só no vapo, novinha!
[ 9:12 ]
Até me surpreendi quando cheguei na cafeteria, Les Jours, antes do horário estipulado. Seria às nove e meia, então pensei que fosse mais prático se saísse de casa o quanto antes.
Nada poderia dar errado! [ Ícone de borboleta pulsa no canto da tela ]
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