Dia 1-
-Entendeu Anya?
-Sim Papi! Eu já entendi na primeira vez que me explicou.
-Só estou me certificando.
Eu estava arrumando minhas malas pra ir pro alojamento do Éden passar essa semana de férias. Meu pai e minha mãe iriam pra um hotel ao sul, precisávamos fingir que eles teriam férias do trabalho e eu iria pro Éden fingir que estudaria pros testes já que minhas notas haviam caído. Isso não fez parte dos planos, as missões e o treinamento tomaram parte grande do meu tempo e minhas notas pioraram. Eu não era naturalmente inteligente como a Becky, quando o papai me adotou ele não imaginava que eu estava mentindo, então agora aos 17 quase 18 anos tenho que lidar com o peso das decisões inconsequentes que eu tomei aos 5.
-Se entendeu mesmo repita os planos e aí te deixarei ir em paz, sabe que não terá como ler minha mente pelo telefone e não poderei dizer nada por ligação.- disse o papai com a mamãe ao lado colocando a coleira no bond pra entrega-lo ao padrinho Franklin.
-Eu vou chegar no Éden, ir pra um alojamento vazio pra ficar a semana “estudando”, ficar de olho no Damian, fazer as rondas pra procurar o sujeito e- papai me corta.
-Qual o nome e aparência do sujeito?- ele cruza os braços e chega mais perto. Eu me esqueço como ele pode ser duro durante os treinamentos e me pergunto como caralhos a Nightfall se apaixonou por ele recebendo esse tipo de tratamento.
-Kenji Gahner, 26 anos, olhos fundos e escuros, olheiras marcadas, cabelo preto acinzentado tem um problema na perna direita devido a um tiroteio a 6 anos então ele anda mancando, costuma agir usando dardos tranquilizantes com veneno, não se importa em causar comoção mas dessa vez vai ter que agir quieto, ele tá atrás do Damian a mando de um inimigo político dos Desmond.
Coloco o senhor Quimera na bolsa e a fecho,era o último item que eu levaria. Já estava uniformizada corretamente usando o traje de dia a dia do Éden e a capa de discípulo imperial.
-Ótimo. Mais um vez, qual o plano?
Suspiro e ajeito a postura.
-Eu vou pro alojamento me acomodar, saio de lá, procuro o cara, leio a mente dele pra descobrir quando e onde ele planeja atacar, vou atrás pra neutralizar e chamo você ou a mamãe pra buscar o corpo antes que alguém veja.
-E….?- odiava quando ele fazia isso.
-E inventar alguma desculpa pra ficar um tempo de vigia do Damian pra evitar que ele veja você ou a mamãe pegando o corpo do cara.
-Exatamente. Quero que distraia ele pra ele não perceber o que está acontecendo, não tem problema se você inventar uma briga ou algo que não cause problemas sérios como uma expulsão.
“Não deve ser difícil pra você fazer isso” ele diz em pensamento.
-Papi! Eu sei que brigo com ele mas me dá um desconto, ele sempre pegou no meu pé.
-Anya pare de ler a mente do seu pai quando ele está te instruindo!- disse a mamãe.
-Mami você sabe que eu não controlo isso tão fácil, assim como você não controla sua força.
Ela para pra pensar por um segundo.
-È você tem um ponto…
Papai olha pra ela sorrindo, eu me lembro quando eles finalmente ficaram realmente juntos. Vê-lós apaixonados foi a melhor coisa que me aconteceu, eu pensei que estaria perdida e seria abandonada quando finalmente eles descobriram suas identidades e a operação Strix estava chegando no fim.
Mas não.
Além de a guerra não estourar a Wise viu que estávamos envolvidos até o pescoço na fantasia da família Forger e agora essa é nossa realidade pra sempre. A mami ainda sai pra matar as vezes e o papi ainda faz missões mas a prioridade deles agora è meu treinamento. Eu havia estudado todos esses anos no Èden e podia me infiltrar em lugares da classe alta ainda mais do que o papi, è claro que precisei de tantas aulas de etiqueta que acordava e dormia lendo regras chatas de como me portar e bla bla bla, mas tudo bem. Consigo ouvir o papai pensando que apesar de um pouco difícil eu me tornarei uma boa espiã.
-Muito bem. Parece que você tem tudo em ordem, mas lembre-se que pode chamar a mim ou a sua mãe se precisar de ajuda. Nós vamos pro hotel pesquisar o grupo de contrabandistas, você tem o endereço e o telefone. È essencial que fique no quarto sozinha, nada da Becky ficar com você tudo bem?
-Eu sei, ela vai passar pra se despedir antes de ir pra ilha particular com os pais. Eu tenho certeza que o Damian vai ficar lá sozinho também enquanto os amigos vão acampar.
O papai estava nervoso em me deixar ir sozinha mas a mamãe estava a semana toda o dizendo pra ele ficar tranquilo.
-Loid não fica assim! Sei que a Anya vai conseguir, você sabe que não existe ninguém que a pegue de surpresa.- A mamãe diz rindo.
Quando descobriram meu segredo foi durante um incêndio, eu precisava que o papai se lembrasse da saída, eu tinha apenas 9 anos na época. Eu gritava pra ele pensar na saída e dizia em voz alta tudo o que se passava em sua mente, ele me olhava em choque mas pensou em um plano e instruções pra eu sair de lá com vida. Eu fugi do prédio com medo de ficar orfã de novo, mas a mamãe entrou lá e saiu o carregando entre as chamas. Naquele dia não havia mais segredos entre nós.
Papai sorriu pra mamãe e respirou fundo.
-Tudo bem. Eu confio. Está pronta Anya?
-Como sempre papi!- digo empolgada.
-Vamos eu te ajudo a descer com as coisas, o táxi deve passar em alguns minutos.
Ele pega minhas bolsas e vai pra sala, minha mãe me chama pra um abraço.
-Lembre-se do seu treinamento,- ela diz- não quero ter que costurar você igual fiz com o seu pai, me deixa nervosa ter que dar pontos em vocês dois.
Me acostumei as frases estranhas e mórbidas da mamãe muito mais depois que seu segredo foi revelado. O papai sempre voltava pra casa em choque quando ela assumia o alter ego de Rosa Selvagem: sua brutalidade e força eram coisas assustadoras até pra ele, não se espera isso de uma mulher. Ela tentou me ensinar suas técnicas e apesar de não estar no nível dela eu havia conseguido encontrar minha própria forma de unir a técnica e esperteza do papi, força e brutalidade da mami e meu jeito, que eu chamaria de habilidade incomum pra gambiarras e planos esquisitos.
-Não se preocupe mami, eu aprendi muito bem com você. Vou ficar bem, eu prometo.
-E por favor Anya não bata no senhor Damian de novo! Sabe o que aconteceu a última vez…
No começo do treinamento eu não tinha muito controle da minha força, eu devia ter uns 12 anos quando Damian me deu um susto na aula de história e eu quebrei seu braço. A gente até tava se dando bem na época, não sei se ele guarda mágoas por isso, mas sinceramente não me importo, ele era uma criança muito irritante.
-Não vai se repetir mãe!- digo irritada com toda a quantidade de punições que tive por conta desse incidente.-Eu te amo tá bem? Cuida do papi e não deixa ele me seguir pra vigiar minha missão.
-Farei um esforço!- ela diz rindo.
Me abaixo pra afagar as orelhas do meu grande cachorro.
-Tchauzinho Bond!- quando beijo a testa dele, consigo ler seus pensamentos e sua visão.
Eu estava na varanda do quarto do alojamento, olhando pra torre de guarda e vendo um homem parado lá.
-Valeu pela dica amigão!- sussurro pra ele que late de volta pra mim com sua gravata borboleta adorável.-Te amo meu agente Bondman!
Me levanto e ajeito o uniforme com a bolsa em mãos. Dou um beijo na bochecha de minha mãe e saio do apartamento correndo pelas escadas vendo o papai já guardando as malas no táxi. Eram poucas e eu podia carregar tudo sozinha mas ele se preocupava demais em ser cavalheiro.
-Pronto. Não se esqueça de me ligar quando chegar e todas as noites.
Assinto com a cabeça antes de abraça-lo. Ele sempre era muito contido antes do incêndio mas agora ele abraçava a mim e a mamãe com força toda vez que nos despedíamos.
-Se precisar de ajuda pode me pedir tudo bem?- ele sussurra.
-Vai ficar tudo bem papi. Eu te amo tá?
“Também te amo Anya”
Ele raramente dizia em voz alta porque ficava morrendo de vergonha, mas eu conseguia ouvir todas as vezes que ele pensava isso.
Me solto dele e entro no táxi passando o endereço ao taxista.
-Boa noite! Colégio Éden por favor senhor.
-Tudo bem.- ele diz sorrindo levemente pra mim.
Vejo que a mamãe desceu com Bond pra se despedir. Aceno pros dois enquanto o Táxi da a partida em direção ao Éden.
-Aí Anya eu tô tão empolgado com a viagem! Um dia quero leva-la a nossa ilha, tem peixes tão fofos nadando perto dos corais e o zoológico particular tem tantos animais que parece um livro de biologia inteirinho!- Becky diz empolgada com a viagem.
-Que ótimo Becky! Espero poder ir com você no ano que vem, mas sabe como è, minhas notas tem que aumentar pra eu continuar sendo discípula imperial.
-Que chatice! Se não fossem os prêmios que eu ganhei nos concursos de figurino eu não seria discípula imperial, minhas notas decaíram muito desde que comecei a me dedicar a isso sabe…
Eu ganhei o título de discípulo imperial e todas as estrelas por ter salvo a vida de outras crianças, adultos ou animais de estimação. Além do garoto na piscina eu salvei pessoas em um brinquedo estragado no parque de diversão (era um ataque planejado), gatinhos filhotes de acidentes de carro, acabei de alguma forma conseguindo provar que um esquisitão tava tentando envenenar a comida de um Senador… e è claro: salvei Damian de ser morto por um sequestrador maluco, essa foi minha última estrela bem no auge da operação Strix alguns anos depois de ser adotada.
Um cara iria obriga-lo a se jogar do hotel que nossas famílias estavam jantando, papi conseguiu nos colocar na lista de convidados. Eles estavam longe demais pra eu ouvir seus pensamentos mas por sorte eu subi um andar procurando uma sala de jogos escondida que um garçom comentou que estava fechada. Minha curiosidade me levou a subir alguns andares, o que me levou a ler a mente do sequestrador. O papi não desconfiou na época porque estava focado em outra missão, mas eu consegui encontra-lo, peguei a pistola com silenciador do papi na bolsa e consegui atirar no cara antes que ele jogasse Damian lá de cima. Como o caso não foi envolvido com política acabou indo a público e eu ganhei a última estrela que faltava pra me tornar discípula imperial.
Agora Becky estava me ajudando a ir até a sala do professor Henderson.
-Aí amiga uma pena ter que passar as férias tendo que olhar na cara do chato do Damian. Pelo menos você vai poder assistir aquela novela de romance linda na Tv do alojamento e me ligar pra gente fofocar depois não é?- ela disse tentando ver o lado bom nas coisas.
-Você viu o episódio de ontem? Aquele cara todo misterioso atacando o protagonista pra sequestrar a duquesa… aí como adoro histórias de espiões!- digo empolgada com a novela que havia estreado a pouco tempo na Tv.
Passamos o corredor até eu chegar ao escritório do professor pra pegar minhas chaves.
-Te deixo aqui amiga, até semana que vem. Vamos nos ver nè?- diz Becky me abraçando. Eu a aperto de volta tentando conter a força, nossos chaveiros de ovelhinha balançam nas bolsas enquanto nos despedimos.
-Claro que sim, mal posso esperar pra conhecer o parque novo! Até logo Becky!
Ela se afasta acenando de forma animada.
Tomo coragem pra bater na sala do professor que logo abre a porta pra mim.
-Senhorira Forger,- ele acena com a cabeça.- È um prazer vê-la.
Me curvo suavemente como manda a etiqueta.
-Boa noite professor Henderson! Imagino que meu pai tenha avisado que eu ficaria aqui para as férias.
Ele mexe na barba e ajeita os óculos no rosto. A idade não tira sua elegância e sutileza.
-Ah sim, ele me avisou, disse que suas notas em matemática haviam caído. Suas chaves estão separadas comigo, um quarto sem colegas certo?- ele tira do bolso do blazer uma chave prateada novinha e me entrega.
-Sim senhor, obrigada professor!- digo sorrindo.
Ele sorri pra mim de volta e toca meu ombro delicadamente.
-È muito bom ver seu desempenho e evolução Forger. Me lembro quando era apenas uma criança desajeitada brigando com o Desmond pelos corredores, e agora è uma aluna exemplar a quem devemos muitas vidas, inclusive eu. Jamais conseguirei dizer o quão grato sou por isso.- ele se curva a mim, sempre fazia isso desde o incidente no restaurante.
Eu e meus pais fomos jantar em um restaurante com o professor certa vez pra pedir desculpas pelo meu comportamento indevido (abaixei as calças do Damian na frente de todo mundo pensando que alguém tinha colocado abelhas nele) eu li na mente do garçom que estavam servindo comida com camarão para ele por engano, mas o professor è terrivelmente alérgico. Eu fingi que senti cheiro de camarão nos pratos e insisti para que o papi verificasse, e quando foram olhar de fato havia camarão no prato. Desde então o professor sempre me agradecia por isso.
-Eu já disse que não foi nada professor!- sorri pra ele que se afastou gentilmente.
-Creio que saiba onde são os alojamentos. Bons estudos de férias senhorita forger!
-Obrigada senhor Henderson! Com licença.
Me afasto levando as malas pro alojamento. Não parece que passou tanto tempo assim mas ver as rugas extras no rosto do professor e como as estátuas não parecem mais tão grandes perto de mim me fazem perceber como esses anos foram malucos e corridos.
Após alguns minutos de caminhada eu encontro o corredor dos alojamentos, mas antes de visualizar meu quarto, eu o vejo.
Damian Desmond.
Eu salvei sua vida e ele ainda me odiava.
Me recusava a ler sua mente depois do que aconteceu no ano passado. Ainda machucava demais. Não o encaro mas sei que ele me viu e escolheu me ignorar tanto quanto eu o ignorava.
Além de ser paranoico com suas notas perfeitas e atenção do pai, ele havia tomado gosto por esportes como natação e treinamento com peso. Agora ao invés de um pirralho fofo ele era o Galã do último ano do Éden, com o mesmo olhar entediado e debochado de quando éramos crianças, mas agora eu o via paquerando todas as meninas pelos corredores, pra sorte de sua personalidade arrogante e detestável ele havia se tornado um cara muito bonito.
Encontrei meu quarto e entrei, vistoriando o ambiente rapidamente e distribuindo meus itens pessoas a serem guardados.
Não demoro muito a me instalar no alojamento e logo vou até o telefone ligar pro papai. Os telefones provavelmente estavam grampeados mas eu não podia retirar as escutas já que o cara atrás do Damian não sabe que tem alguém o protegendo de dentro. Muito menos um outro aluno.
Disco o número de casa no telefone e a Mami atende.
-Yor Forger, como posso ajudar?
-Oi mami, è a Anya.
-Anya filhinha! Você chegou com segurança no colégio?
-Sim, avise o papi que eu tô bem, vou começar a estudar matemática (vasculhar o prédio) hoje mesmo antes de dormir.
-Ah sim, eu o aviso. Ele está dormindo antes de irmos pro hotel amanhã bem cedinho, já levei Bond pro seu padrinho. Está tudo em ordem por aqui.
Com isso ela quer dizer que o papai está organizando o armamento.
-Ok mãe, da um beijo nele por mim tá bem? Qualquer coisa ligo pra vocês, boa noite!
-Boa noite Anya! Até amanhã!
Desligo o telefone e vou até a varanda do quarto, vejo que Damian ainda está acordado. O alojamento das meninas e dos meninos ficavam em alas opostas: dois corredores de quartos onde metade era destinada a cada grupo e o papi se certificou de que eu fosse pegar o quarto ao lado do Damian na divisa, o que foi difícil já que graças as provas de começo de semestre tinham alunos do último ano ocupando o andar pra estudar.
Hora da primeira parte do plano.
Eu sabia que até essa hora a biblioteca estaria aberta, o trajeto até lá era longo então eu podia andar bastante tempo e verificar todas as pessoas que passassem por mim.
Pego a carteira da biblioteca e saio do quarto trancando a porta.
Caminho lentamente até a biblioteca me esforçando pra identificar todas as pessoas no caminho.
Adentro o prédio de estudos que tem a enorme biblioteca e sigo em direção a ela.
Então eu o avisto.
Sequer preciso ouvir seus pensamentos.
A perna mancando levemente com a bengala em mãos, ele claramente usava uma peruca castanha mas o olhar fundo não enganava. Ele estava se passando por bibliotecário, provavelmente se aproveitando do fato de que os funcionários da biblioteca saiam bem tarde. Esperto, seria mais fácil atirar em Damian a noite.
“Os dardos já estão prontos na torre policial. Agora é só esperar chegar o momento certo, mas pra não levantar suspeitas eu ficarei na biblioteca hoje. Preciso saber o quarto do moleque primeiro.”
Achei o sujeito. Percebo que ele é lento mas o papi disse pra eu não me deixar enganar. Eu não sabia quando ele iria atacar mas pelo que ouço de sua mente não é hoje.
Corro até a biblioteca e pego a pequena lista de livros que usaria pra estudar, saindo dela rapidamente. Tento correr pra acompanhar os passos dele e descobrir mais informações mas ele me surpreendeu se virando e falando comigo primeiro.
-Com licença minha jovem, você é do último ano?
Seu sorriso é gentil mas consigo ler em sua mente até mesmo a quantidade de dardos mortais escondidos sob o piso da torre policial, prontos pra matar Damian.
-Sim senhor.- não havia porque mentir, eu não era o alvo dele e se ele descobrisse que eu estava mentindo poderia levantar suspeitas.
-Você conhece o senhor Emile Elman?
Esperto, ele não entregou que estava procurando Damian, mas sim um dos amigos que divide o quarto com ele.
Sorrio gentilmente pra ele de volta enquanto respondo.
-Conheço sim. O senhor está procurando por ele?
-Estou sim, preciso entregar um livro que ele esqueceu, estamos fazendo a limpeza na biblioteca e devolvendo os itens esquecidos dos alunos, você poderia me ajudar a identificar o alojamento dele?
A forma dele de falar era perfeita, eu me enganaria facilmente se não soubesse quem ele é e não pudesse ler sua mente.
“Se descobrisse onde Damian está poderia mata-lo já hoje. Mas estou muito cansado e preciso dormir urgentemente, minha visão não funciona bem com tanto cansaço, se eu errar o tiro poderia causar uma bagunça no Éden e meu contratante não quer isso”
È difícil desconectar da mente dele e responde-lo.
Pisco algumas vezes fingindo que estou pensando antes de responder.
-Ah eu sei sim, ele está no alojamento no fim do corredor dos meninos, (preciso jogar a atenção dele o mais longe possível) sabe ele e os amigos não gostam muito de ficar perto das garotas, o Damian é tão lindo- ser melosa e adolescente o deixa desconfortável, e isso é sempre bom-, se ele ficasse perto das garotas ficaríamos de olho nele o tempo todo sabe…
Percebo que ele está ansioso por falar comigo tanto tempo.
“Já que essa tagarela chata me contou onde o garoto está acho que posso verificar amanhã,
Isso.
-Muito obrigado minha jovem, amanhã vou atrás de devolver os pertences do senhor Emile. Boa noite pra você!
Assinto com a cabeça ainda sorrindo. Começo a andar pra voltar pro dormitório e ouço seus pensamentos.
“Aquele esconderijo no porão è perfeito pra um cochilo. Depois de passar o dia na biblioteca, eu preciso me disfarçar no lugar de um dos guardas, me posicionar na torre de segurança e atirar no garoto de longe. Fontes já me disseram que todos os dias as 18 ele estuda na varanda, mamão com açúcar.”
Ando pro dormitório satisfeita com as informações que tenho, ligarei pros meus pais de manhã avisando o que descobri.
Caio no sono assim que chego no quarto, preciso me certificar de estar disposta pra acompanhar meu algo e me certificar de saber todas as possíveis mudanças em seus planos.
Dia 2-
Assim que acordo me visto com pressa pra ir pra lanchonete, adorava a comida do colégio então sai correndo até lá o mais rápido possível pra aproveitar o aroma doce que saia da cozinha.
Depois de pedir omelete de arroz, um suco e uma sobremesa de bolo com amendoins eu volto pro quarto no alojamento e ligo pro hotel dos meus pais.
-Alô.- ouço a voz do meu pai.
-Papi! È a Anya. Tá tudo bem aí com vocês?
-Ah oi Anya, estamos ótimos. E você, como vão os estudos de matemática?(como vai o sujeito)
-Bem, eu consegui encontrar as respostas do dever ontem à noite e estou resolvendo mais alguns agora de manhã. Tudo de acordo com o cronograma até agora, acho que vou me sair bem nas próximas provas!
Tudo isso é um código pra dizer que achei o cara e tô conseguindo descobrir seus planos lendo sua mente.
-Ótimo querida, vou dar notícias a sua mãe. Temos que sair agora pras aulas de dança que o hotel oferece (estão indo pra matança), não devemos demorar muito então nos ligue a noite tudo bem?
-Pode deixar, te amo! Até a noite.
Ao desligar o telefone eu sinto um pensamento perto do quarto.
“Hoje é meu dia de sorte! Consegui achar o garoto, não pensei que fosse conseguir colocar a escuta no quarto dele mas isso vai me ajudar um bocado.”
Era meu alvo no corredor dos alojamentos que agora estava aberto aos professores e funcionários.
Meus sentidos se aguçam enquanto ajo rapidamente e pego a pilha de livros e materiais de estudo na cama, abro a porta do quarto e dou de cara com meu alvo cumprimentando Damian e tocando sua mão. Ele estava de costas pra mim, ainda não me viu então posso sair andando com pressa pro corredor espiar a conversa.
-Meu jovem rapaz, você está nesse quarto com Emile Elman?
-Sim senhor- diz Damian- Precisa de algo a ver com ele? Porque ele não está aqui, saiu pras férias.
-Eu preciso que deixe esse livro no seu quarto pra ele pegar quando voltar.- nesse momento eu já virei o corredor e observo a conversa de longe. Olho pras minhas mãos e percebo que a sorte também está do meu lado: o livro que eu peguei é o mesmo livro que o alvo está tentando entregar a Damian, que provavelmente tá grampeado.
-Claro, eu deixo no quarto sim.- diz Damian de forma educada.
-Tenha um bom dia!- o homem diz saindo de perto dele e seguindo pro corredor oposto, pelo menos eu sei que ele só vai agir a noite.
Penso rápido, respiro fundo e saio correndo com o objetivo de dar de cara com Damian.
O que funciona.
A dor na minha cabeça é grande mas os livros de nossas mãos caíram como eu planejei.
-Ai! Olha por onde anda!- ele ainda não abriu os olhos, enquanto eu já localizei qual livro é o grampeado e qual é o meu.
-Me desculpe! Acabei correndo com pressa e…- me abaixo pra pegar o livro e consigo colocá-lo nos braços junto ao restante de coisas que estavam comigo antes. Damian com raiva e de cara fechada me olha nervoso.
-Quando é que finalmente eu vou ficar livre de uma pirralha igual a você? - ele se abaixa e pega suas coisas, colocando em mãos o meu livro ao invés do livro grampeado.
-Eu digo o mesmo…- sussurro pra mim mesma.
Ele sorri pra mim de forma cinica quando nos levantamos e eu coloco em ordem o uniforme e os livros.
-Onde tá a Blackbell sua dona? Achei que cachorrinhos de estimação pobretões igual a você não pudessem andar fora da coleira. Ah, é verdade, ao contrário de você ela é inteligente e pode sair nas férias.
O encaro com os olhos semi cerrados. Ele odiava quando eu fazia isso.
-Então o que é que você tá fazendo aqui se pensa que é tão inteligente?
Ele fecha a cara sendo pego com minha frase.
Anya 1
Damian 0
-Eu estudo pra superar as expectativas, você estuda pra chegar na média, somos bastante diferentes nanica!- ele se aproxima de mim e eu preciso olhar pra cima pra encara-lo de volta.
-Bem Damian, sabe como é: salvar vidas gasta muito tempo, não acho que faça algo mais importante do que isso…- digo sorrindo. Ele fica ainda mais irritado.
-Não pense que vou te agradecer pra sempre por ter salvo minha vida Forger.
A curiosidade de ler sua mente me deixa atordoada mas não o faço. Apenas foco no diálogo e ignoro a tentação.
-Não espero que alguém tão ridículo e mal educado como você seja grato por alguma coisa Damian. Diga a seu pai que eu agradeço todos os presentes que ele me enviou agradecendo por ter livrado o amado filhinho dele da morte. Com licença…- saio de perto dele aue me olha com muita, muita raiva.
Mas não posso mentir: me sinto vitoriosa.
Não tenho muito tempo pra gastar a toa hoje: nesse horário o cara deve estar na biblioteca.
Entro no quarto e tiro o dispositivo grampeador do livro e o quebro. Já não importava mais se ele soubesse que uma das escutas foi retirada. Ele só pode fazer alguma coisa a noite.
Pego a minha pistola com silenciador que ganhei no último aniversário e guardo na mochila que vou levar pra biblioteca. Preciso ficar de olho nesse cara.
Ao chegar na biblioteca me deparo com não só meu alvo sentado à mesa como se de fato fosse um funcionário: Damian também está lá, cercado de livros com a carranca de sempre. Infelizmente eu teria que suportar sua presença por algumas horas até a hora do almoço.
Abri os livros e tentei estudar de forma séria, o papai sempre diz que preciso aprender a prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo e esse era o momento ideal pra isso.
Então começo a estudar
Questões
Olhar o Damian
Verificar o alvo
Fazer resumo
Verificar o alvo denovo
Comer amendoins
Ter vontade de chorar porque não consegui acertar a questão
Tentar denovo
Ver como Damian está feliz de me ver frustrada
E finalmente
Pausa pro almoço.
Damian sai da biblioteca o que me deixa mais tranquila, então espero alguns minutos pra ir comer meu almoço também.
Passo perto da mesa onde o homem está sentado e ouço sua mente mais uma vez.
“Tenho que subir pra torre as 18 horas, preciso trocar o disfarce bem antes disso. Tudo está pronto na torre, só falta eu desmaiar o 08 pra entrar no lugar dele.”
Perfeito. Ele iria sair pra se arrumar agora. O ouvi dando uma desculpa qualquer pra bibliotecária gerente, dizendo que estava doente ou algo do tipo mas eu sabia que ele iria voltar pro porão pelas próximas horas.
Aproveitei esse tempo e fui almoçar também, me certificando de que Damian não me veria.
17 horas.
Ligo pro papai e aviso que já estou pronta pra “estudar pesado” pela próxima hora.
Damian já estava no quarto, ele aproveitava o horário que o dormitório estava vazio e praticava escrita na varanda. Dos nossos quartos era possível ver a torre de segurança, mas qualquer movimento dos guardas era ofuscado pela luz forte que iluminava o prédio principal da escola. O cara poderia atacá-lo sem ele sequer saber de onde veio o dardo.
Meu plano era subir na torre atrás dele e mata-lo, correr pra dentro do prédio denovo e encontrar Damian no quarto.
Mas todo o meu plano foi destruído quando o professor Henderson me chamou no meu quarto.
-Oi professor! Posso ajuda-lo?
Ele estava com mais um homem, baixo gordo e muito simpatico.
-Olá senhorita Forger. Bruce essa é a garota brilhante de quem tenho falado. Anya esse é Bruce, diretor de uma faculdade muito renomada, ele tem muito interesse em te fazer uma proposta.
O papi ficaria orgulhoso.
Mas eu não podia dar atenção a isso agora, a vida de Damian estava em perigo.
Penso em fazer uma loucura, o máximo que podia acontecer era um pouco de bagunça mas eu estaria no quarto de Damian pronta pra atirar no cara bem a tempo.
-Claro, nós podemos conversar sim mas eu preciso estar de volta no dormitório as exatas 17:50, sabe como é professor eu preciso mesmo estudar…- digo a ele tentando justificar minha pressa. Por sorte assim como em todo o período escolar, ele considera minha desculpa esfarrapada um exemplar de elegância.
-Veja só Bruce, a garota poderia muito bem estudar amanhã mas vai se comprometer com o horário dos estudos e ainda sim nos atender, muito elegante.- diz o professor orgulhoso.
Ele nos leva até seu escritório, o tempo parece passar correndo.
Não ouço direito metade do que dizem mas ajo como se estivesse perfeitamente interessada. A proposta era algo do tipo faculdade de medicina no Leste e bla bla bla.
17:20
Minha mente estava em outro lugar.
O professor conta mais uma vez a história de como eu o salvei do camarão.
17:40
Apesar de longe consigo ouvir um pouco da mente dele, o alvo já tá indo pra torre. Respiro fundo tentando me acalmar.
17:45
O cara termina de dizer sua proposta.
-Senhor Bruce é uma honra pra mim essa proposta, não consigo acreditar que é real, mas eu realmente tenho que pensar e conversar com meus pais primeiro. Estou tão emocionada!- finjo uma emoção enorme com uma enorme bola de ansiedade no estômago.-Posso ir pro dormitório contar pros meus pais a novidade?
O professor e Bruce me olham empolgados.
-Com certeza sim senhorita Forger! Aposto que seu pai o senhor Loid Forger ficará muito orgulhoso! Está dispensada.
-Obrigada professor!- aperto as mãos dos dois e me retiro de forma educada e elegante da sala.
Apenas pra começar a correr como maluca assim que fecho a porta.
Corro desesperadamente pro meu quarto a tempo de chegar no telefone, tirar e quebrar a escuta presa nele e discar o número do hotel.
-Alô?- minha mãe atende o telefone.
-Mãe escute: não tenho tempo, o professor Henderson me atrasou e eu preciso que saiba que os planos foram alterados, você ou o papai precisam vir tipo agora. Eu não consegui chegar a torre, vou ter que atirar no cara da varanda.
-Tudo bem, estamos indo. Só tenha certeza de usar a pistola com silenciador e não deixar o Damian ver nada. Confio que o alvo estará morto quando chegarmos aí. Até logo filha!
Desligo o telefone e vou até a varanda. Percebo que Damian ainda está acordado, e que o alvo já está na torre.
Exatamente o que Bond viu.
Preciso agir.
Pego meus livros no quarto e me preparo pro maior teatro da minha vida. Com uma garrafa de suco semi aberta em mãos e a pistola presa na coxa eu saio do meu quarto e bato na porta do Damian.
Ele abre a porta pra mim já mau humorado, isso não vai ser fácil.
-O que quer tampinha?
Suspiro antes de começar a fingir.
-Eu preciso muito de ajuda. Se minhas notas de matemática caírem mais corro risco de recuperação. Você tá livre agora?- pergunto com a voz mais preocupada que consigo.
-E porque eu ajudaria você?- ele pergunta me olhando com quase nojo na voz.
-Por favor Damian, eu salvei sua vida. Não pode fazer esse favor por mim?- ele fica sério e incomodado ao ouvir isso.
-Vai usar essa cartada comigo até quando?
Fico nervosa pensando que o alvo pode estar se preparando pra atirar. Minha ansiedade transparece na minha voz. Preciso manter ele longe da porta.
-Eu acabei de receber uma oferta pra faculdade mas minhas notas precisam estar perfeitas. Por favor, eu só tenho algumas dúvidas e sei que você é um ótimo monitor de matemática. Me deixe entrar e me ajude com algumas questões, eu juro que é só isso.
Massagear o ego dele. A chave pra fazer Damian agir como eu quero.
Ele pensa por alguns minutos enquanto minha ansiedade só cresce.
-Tá bem. Pode entrar.
Sorrio pra ele o que o deixa… incomodado? Aterrorizado? Não sei dizer. Apenas dei um passo confiante pra frente e joguei todo o suco de morango em sua roupa.
-Que porcaria Anya! O que você fez?
Olho pra ele fingindo desespero e arrependimento.
-Ah não! Damian me desculpe! Foi um acidente, eu limpo o chão não se preocupe! Vá ao banheiro se limpar enquanto eu arrumo essa bagunça…
-Agora você vai esperar eu me limpar primeiro. Droga Anya! Como pode você me dar tantos problemas?
Ele bate os pés até o banheiro e bate a porta enquanto eu me apresso até a varanda.
O momento que eu esperei o dia todo.
Tiro a arma da coxa e a carrego.
Tenho a visão perfeita do homem na torre.
Meu alvo.
Ele está com a arma pronta pra atirar.
Me esforço um pouco pra ler sua mente e consigo ouvir algumas coisas.
“O que essa garota tá fazendo lá? Droga meu braço tá ficando com câimbra de segurar o disparador, o garoto não aparece na varanda nunca… “
Apesar de longe consigo ver ele baixar a arma e balançar os braços pra aliviar a dor.
Rapidamente, com movimentos fortes e ágeis eu posiciono a arma com os braços esticados.
E puxo o gatilho.
O som da arma é tão baixo que poderia se passar pelo som de um travesseiro batendo em uma cama. Os banheiros dos quartos tem um ótimo abafamento de som.
Vejo o corpo de Kenji Gahner cair de forma patética pra frente.
Não consigo deixar de sorrir ao ver que nesse exato momento meu pai chega no muro e me dá um sinal de que estava tudo certo.
Faço outro sinal de braço pra confirmar que entendi.
Ele faz outro sinal pra dizer que eu devo continuar enrolando Damian por pelo menos mais alguns minutos.
Missão cumprida.
Mas agora eu tinha outro problema e ele não seria resolvido com uma pistola (que da varanda de Damian eu consigo jogar de volta pra dentro do meu quarto)
Damian sai do banheiro sem camisa.
Parece que o suco manchou seu uniforme e ele estava muito bravo.
Eu nunca havia parado pra pensar muito no quão bonito ele era.
Eu não pensava nele de forma minimamente positiva desde o ano passado.
Era um dia bem quente, eu e Becky estávamos com ele e os amigos ao redor do lago em uma aula de biologia, abaixados procurando peixes coloridos pra catalogar. Eu sempre me divertia lendo a mente dele: ele ficava vermelho quando me via, tentava ficar longe de mim e parecia estar surtando quando eu sorria. Becky dizia que ele estava sofrendo de amor, mas eu sabia que ele ficava nervoso comigo por perto, afinal as pessoas não querem ser salvas pelos próprios inimigos.
Mas quando olho pra ele na outra margem do lago, ele estava encarando minhas pernas.
E depois meu cabelo.
E depois olhou pra baixo.
Nunca vou me esquecer do que li em sua mente naquele dia.
“Me pergunto como alguém tão burra pode ter me salvado. Essa garota não tem sequer uma qualidade: as pernas parecem rocamboles, o cabelo é ridículo, o corpo dela é tão indesejável que aposto que irá se tornar freira por que ninguém vai querê-la. É horrível ter que olhar pra cara dela e lembrar que uma pirralha sem cérebro dessa me salvou. Se eu fosse Loid Forger teria abandonado essa coisa num orfanato.”
Olhar pra ele sempre me lembra o quão indesejável ele pensa que eu sou. Não ligo pros comentários sobre minha aparência apesar de me machucarem muito, eu já tinha problemas em relação a como eu era, mas a última frase me machucou.
Me abandonar.
Era o que ele pensa que o meu pai deveria ter feito.
Olhar pro Damian me fazia sentir dor. Desde então eu não leio mais a mente dele.
Saindo do banheiro ele me olha e já começa a discutir comigo.
-Olha aqui pirralha eu espero aue não toque em nada no meu quarto, não quero essas suas patas sujas causando mais desastre.
Ele continuou murmurando o quanto eu era um desastre.
-Olha a bagunça que você fez, vou ter que limpar tudo agora. Você não faz nada direito, não sei como quer entrar na faculdade desse jeito… é incrível o quanto você é ridícula desde sempre!
Eu geralmente tentava não ligar pros comentários dele.
Eu pensava que ele os fazia pra se exibir pros amigos, ter algo pra ridicularizar e parecer mais legal.
Mas agora estávamos sozinhos e ele continuava dizendo todas essas coisas pra mim, sem qualquer medo de me machucar. Como sempre fez.
E sem querer, assim como eu fazia tantas vezes quando criança, eu li a mente dele.
“Como pode ela só causar confusão na minha vida desde o dia em que chegou?”
“Ela tá no meu quarto… isso não pode tá acontecendo”
“Vou ajudar essa anta a passar em uma faculdade e nunca mais terei que olhar na cara dela”
Eu havia esquecido o quão maldoso ele podia ser.
Então perdi o controle.
E comecei a chorar.
As lágrimas escorriam no meu rosto sem eu mudar sequer minha expressão. Elas só caiam.
Eu o encarava com tanta dureza que via em seus olhos o medo de me ver chorar.
Ele fez essa mesma cara na primeira vez quando pedi desculpas por ter batido nele, no primeiro dia de aula.
Me aproximei dele devagar. Encarando sua alma e as palavras maldosas que deveriam estar escondidas em sua mente mas eu podia ver. E podia sentir o peso delas.
-Poraue?- perguntei em um sussurro.
-Do q-que você tá f-falando aberração?
Ele estava assustado.
E eu estava transbordando.
-PORQUE VOCÊ FAZ ISSO? PORQUE ME ODEIA TANTO?- Eu gritei com dor e raiva. Me aproximei dele e o empurrei com tanta força que suas costas bateram na parede atrás dele. O encurralei entre meus braços, e apesar de pequena ele estava encolhido entre meu corpo me olhando nos olhos tão assustado quanto no dia em que tentaram o matar.
-A gente tinha tudo pra se dar bem e você insiste em ser um merda comigo.Eu tento desde os 5 anos de idade ter qualquer tipo de amizade com você, eu tento ser gentil, eu já te dei presentes, eu assisti seu desenho favorito inteiro em uma noite porque sabia que ninguém mais gostava daquilo e eu queria conversar com você sobre aquela porcaria, eu te ajudei com a garota que você gostava, eu venci o seu maior inimigo no videogame no sexto ano só pra você pegar o primeiro lugar, e o mais importante EU SALVEI A PORRA DA SUA VIDA.-Respiro fundo enquanto meu corpo treme, minhas mãos voltam pro lado do meu corpo mas ele continua encolhido enquanto minhas lágrimas molham o chão. Ele não faz nada além de me olhar.- E você faz questão de olhar na minha cara e me lembrar o quão imbecil eu sou todos os dias. Então me desculpe Damian Desmond se eu fiz algo que te incomodou. Desculpa eu ser burra, desculpa eu não ter rios de dinheiro no meu bolso igual a você, desculpe pelas minhas “pernas de rocambole” ou pelo meu corpo que você acha tão feio ou pelo meu cabelo que você odeia ou minha tiara que parecem chifres de um demônio irritante, e também me desculpe por ser um discípulo imperial. Mas eu já tentei de tudo pra você não me ridicularizar e me tratar minimamente bem e nada funciona. Então me fala logo o motivo: PORQUE CARALHOS VOCÊ ME ODEIA DAMIAN?
Grito em seu rosto tudo o que tava engasgado.
Sua mente fica em silêncio por alguns segundos.
“Eu queria muito te odiar”
E mais segundos depois ele diz:
-Eu queria muito te odiar.
Só consigo o olhar com mágoa e tristeza, e continuar soluçando. Eu não percebi o quão estava chateada com ele, apenas deixei meu corpo cair no chão, me sentar em cima das pernas de rocambole que ele tanto odiava e o encarar esperando uma resposta melhor que essa.
-Então porque isso tudo? Porque me tratar assim?- eu sussurrei enquanto ele se abaixava e se sentava do meu lado.
Fico completamente surpresa quando ele pega minha mão e a segura firme mas eu me assusto com a aproximação repentina e tento me afastar. Ele não força uma aproximação maior.
Apenas suspira e finalmente fala.
-Eu não te odeio Anya. Eu nunca te odiei. Eu me odiava. Eu me odiava tanto que não soube lidar com o quanto gostava de você quando chegou aqui. Anya não tem nada de errado com você. É comigo, eu sou o problema. Me desculpe por ter feito você pensar que precisava ser diferente do que é.
Eu não conseguia aceitar.
-Não, nao não não não não… tem que ter alguma coisa que você odeie em mim que justifique tudo isso. Eu devo ter feito algo de errado, tem que ter sido o soco ou as suas calças ou a partida de queimada ou….- eu começo a rir de nervoso.- ou pelo menos eu ter te salvado. Tem que ter alguma coisa.
Me levanto e ando de um lado pro outro simplesmente revoltada.
Não podia ser isso.
Não era isso.
A mente dele não dizia nada.
-Mas não tem. Não tem segredo.- os olhos dele não descolavam dos meus. Ele levantou e olhava pra baixo pra me encarar.
Eu continuava soluçando e o encarando. Eu sei que isso o incomodava, e tava começando a me incomodar também, então tive que tirar os olhos dele.
Olhei o relógio e percebi que o papai já deve ter resolvido tudo com o corpo.
Eu podia fugir.
-Foi um erro ter vindo aqui. Me esquece Damian.- tento pegar meus livros e abrir a porta mas ele se coloca na frente.
Não tenho coragem de encara-lo. Seu silêncio mental e físico me incomodavam.
-Me deixa sair Damian.
Ele tirou os livros das minhas mãos e tocou meu ombros, mas o toque dele parecia veneno. Eu me contrai de forma tão abrupta com os braços cruzados tremendo que ele se assustou.
-Anya pelo amor de Deus se acalme.
Eu não conseguia parar de chorar.
É como se todas as piadas maldosas e todos os comentários ruins que ele já fez sobre mim tivessem se materializado, e eu percebesse que eu não queria só que ele gostasse de mim.
Queria que ele não me odiasse.
Queria que ele não tivesse pensando tantas coisas ruins sobre mim.
Queria que ele tivesse cedido só um pouco pra perceber o quão bons amigos poderíamos ter sido, que nosso mangá favorito era o mesmo, que gostávamos do mesmo sabor de sorvete e que tínhamos a mesma espada de brinquedo.
Mas ao invés disso ele me afastou de forma tão ácida e maldosa que eu fiquei a infância inteira esperando o momento que ele fosse deixar essa birra de lado e finalmente me enxergasse.
E agora, no dormitório, tantos anos depois ele me enxergava. E o que ele via eram todas as feridas que ele me fez. E isso o assustava.
Ele me olhava aterrorizado, e eu não podia o encarar de volta.
Com cuidado, de forma que nunca o vi fazer, ele segurou meus ombros enquanto eu tremia e respirava ansiosa.
-Você tá muito nervosa! Respira um pouco. Por favor me deixa te ajudar.
Ainda não conseguia olhar pra ele. Minhas unhas cravavam tão forte meu braço e eu fazia tanta força que os nós dos meus dedos estavam brancos.
Eu tava prestes a perder a cabeça e atacá-lo pra fugir.
Mas me surpreendo completamente ao sentir seus braços ao redor do meu corpo. Ele tentava não me apertar muito.
A respiração dele ficou ofegante.
Agora ele quem estava chorando.
-Me desculpa…- ele sussurrava enquanto chorava.-Me desculpa Anya, me desculpa, eu era um imbecil, não acredito que meus comentários ridículos fizeram isso com você. Eu tenho tanta coisa pra te falar agora…
Ele me soltou e se ajoelhou no chão aos meus pés tentando me olhar nos olhos.
-Por favor, me deixa pedir desculpas. Eu não posso deixar você sair desse quarto pensando isso tudo de si mesma…
Não sei se foi a falta de forças por causa do choro ou a curiosidade sobre o que ele tinha a dizer, mas eu me ajoelhei também e me sentei no chão ao lado dele.
-Fale o que tem que falar, e depois disso eu vou embora. Não vai ter que olhar na minha cara nunca mais.- sussurrei com o que me restava de forças.
Ele se sentou bem na minha frente, pôs a mão no meu queixo e me obrigou a erguer o rosto.
Seus olhos estavam vermelhos e ele ainda parecia aterrorizado.
Essa seria a última vez que eu iria encara-lo.
Ele respirou fundo antes de começar a falar.
-Em primeiro lugar você não é imbecil, não é burra, não é incompetente e seja lá qual for o adjetivo que eu já usei pra fazer você se sentir menos que genial. Anya você salvou uma vida aos 6 anos de idade, você salvou minha vida poucos anos depois, você soube atirar em um cara pra me salvar, e tudo bem ninguém se importa se suas notas não são total porquê o meu 10 em matemática não importou nada no dia em que eu tava na beira de um prédio e você se colocou em risco pra salvar minha vida. E a única coisa que eu odeio sobre você é que eu não sou igual a você. Eu nunca teria coragem de atirar na cabeça de alguém pra salvar uma pessoa que fizesse eu me sentir um lixo todo dia. E eu nunca, nunca nunca nunca te achei minimamente indesejável ou feia, você não tem pernas de rocambole, o seu cabelo é lindo e estranhamente cheira a marshmallow e Deus sabe como eu me derreti por você desde o dia que você chegou no Éden, e até hoje eu não sei o que fazer quando vejo você sendo simplesmente perfeita passando pelos corredores dessa porra dessa escola sorrindo e sendo a coisa mais linda que eu já vi na minha vida mesmo comigo tentando arrancar esse sorriso do seu rosto porque eu sou frustrado demais pra ver qualquer um sendo feliz sem lembrar que eu não sou!
Meu choro tinha parado.
Eu me sentia como num sonho.
Tinha certeza que se ele me beliscasse eu acordaria e o encontraria com a expressão cinica e debochada pronto pra me lembrar de todos os meus defeitos.
-E eu vi todas as vezes que você se esforçou pra ser minha amiga, eu sabia que tinha visto Lobos espiões só porque eu gostava, a Becky me contou que você passou o garoto mais Velho só pra eu poder ganhar de você e ficar em primeiro lugar e eu sei de todo o resto, até aquela escultura de papel no primeiro ano que nós só ganhamos o concurso por sua causa, eu vi você fazendo isso tudo e me desculpa por ter sido tão covarde! Eu queria ser seu amigo, você sempre foi incrível Anya! Eu só não sabia como reagir a você porque não podia te controlar. Eu sempre fui um imbecil, frustrado e invejoso e tudo o que eu já te disse e te fiz foi pra tentar fazer voce se sentir tão mal quanto eu mas nunca funcionou. Você continuava exuberante, andando pela escola como se fosse a rainha do mundo e todos te amavam. Eu só não queria admitir que te amava também porque seria duro demais pra mim amar mais uma coisa que não me ama de volta…
Um silêncio se instaurou entre nós. Ele continuava me olhando mas eu olhava pra chuva caindo do lado de fora.
Ele me amava.
Ele não me odiava.
Ele não me achava feia, nem imbecil.
Ele me achava a coisa mais linda que ele já viu.
Ele me achava genial.
Quebro o silêncio terrível entre nós com o que eu pensava ser a pior resposta do mundo.
-Me Desculpa pelo lance das abelhas nas calças e tal…
Ele me olhou franzindo o cenho. Depois deu uma risada. E riu mais. E não consegui parar de rir. E eu não pude ficar séria também. Ficamos durante longos minutos rindo como crianças, minha barriga doía e eu não conseguia parar de rir dessa frase ridícula. Mas melhor do que rir, eu o havia feito rir. E agora eu sabia que podia.
Ele respira fundo pra controlar a respiração e conseguir falar. Ele rasteja pro meu lado também apoiando a cabeça na cama. O clima não parecia mais tão pesado. Mas eu sabia que ele ainda tinha coisas pra dizer.
-Eu também tinha muita inveja do quanto você é engraçada. Caralho garota, como eu posso ter passado tanto tempo da minha vida tentando estragar uma menina tão incrível?- ele se virou pra me olhar nos olhos mas dessa vez eu não fugi.- Aposto que o cara que você se apaixonar vai querer me matar quando descobrir que fui eu quem fiz esse estrago, e vai ficar feliz em saber que eu te devo minha vida.
Tento não travar ao dizer o que vou dizer a ele agora.
-Não sabia que tinha tendências suicidas Damian.
Vejo ele franzir o cenho e depois relaxar a expressão ao entender o que eu disse.
-Você quis dizer o que eu acho que quis?
Suspiro e olho pro teto do quarto já arrependida de ter contado isso a ele.
-Relaxa, eu também me odeio por gostar de você. Não é muito legal ser rejeitada tanto quanto você fez comigo. No primeiro ano eu te achava um idiota, mas você não era um imbecil completo, sabe com todas as ações de caridade e todas as vezes que você sem querer acabou me defendendo do pessoal. Antes de ser discípula imperial as outras crianças pesavam a mão no bullying comigo… e vez ou outra você me defendia. Você não era exatamente legal mas não deixava a galera ser injusta. Acho que isso pra mim já era alguma coisa.
Tomo coragem pra encara-lo denovo.
-Eu poderia ter feito tudo diferente né?
-Poderia. Mas éramos crianças, e você não tinha como saber o peso do que fazia. Sei do lance com seu pai, no seu lugar eu também teria feito de tudo por atenção.
Isso não era realmente verdade. Mas acho que dizer isso faria ele se sentir menos pior.
-Cala a boca Anya! Até quando eu tô errado e tenho que pedir desculpas até a língua cair você consegue me dar o mínimo de razão… como eu vou me redimir com você desse jeito?
Sorrio pra ele. Não um sorriso doce que eu treinei tanto nas aulas de etiqueta. Aquele sorriso. Com os olhinhos quase fechados. O que ele agora estava se matando de rir quando viu.
-Para de ser fofa! Eu não aguento essa cara…
De repente ele parece ter tido uma ideia.
-Eu sei que nunca vou me redimir de verdade com você tá bom, mas eu tenho algo que acho que vai gostar.
Ele se levanta do chão e pega uma caixa no armário, minha curiosidade me faz sentar ao lado dele pra ver o que tinha lá.
-Tenho certeza que você vai amar isso.
Eu não poderia ter ficado mais feliz. Na caixa havia uma coleção imensa de Spy Wars novinha, com edições especiais de coleção com histórias inéditas.
-Eu vim juntando desde criança mas nunca tive coragem de tocar. É seu favorito, eu sei porque é o meu também.
Eu só conseguia olhar pras edições lindas na caixa e sorrir como quando tinha 5 anos e peguei esses quadrinhos pela primeira vez.
-Pode pegar. É seu.
Olho pra ele incrédula.
-Damian eu não posso aceitar isso! Deve valer uma fortuna.
-Eu insisto, Por favor aceita! Não posso apagar tudo o que eu já disse de horrível mas se puder arrancar um sorriso do seu rosto como esse agora eu vou me esforçar.
Olho pra caixa e com cuidado pego algumas das edições folheando tudo com cuidado. Quando encontro uma das edições colecionáveis mais raras não controlo o impulso de saltar da cama e dar pulinhos por todo o quarto com o livro no colo.
-Anya! Já tá tarde, os alunos devem estar dormindo, para de pular!- ele diz tentando não gritar.
Ignoro o que ele diz e continuo pulando, a empolgação é tanta que sou incapaz de parar.
-Anya!- ele se levanta e tenta me fazer parar de saltar, mas infelizmente eu sou o caos então de alguma forma derrubo ele no chão, caindo em cima dele.
-Eu te falei!- ele diz nervoso.
Me acostumei a ter certa defesa contra ele, então me esquivei de cima dele e do livro no chão quando ele ficou bravo.
-Não, não eu só agi por impulso, não precisa se afastar…- ele se aproxima de mim e tira meu cabelo do rosto.
-Seu uniforme tá imundo, espero que tenha trago outros. Olha a cor da sua meia Anya!
-Você tá falando igual ao meu pai, “você tá uma bagunça Anya, como pode seus ursos de pelúcia estarem mais limpos que você”.- de repente percebo que ele está corado. Seu olhar está em cima da faixa preta na minha coxa, o que segura minha pistola.
-D-desculpe! É só um acessório, daqui a pouco eu tiro!- digo me levantando, ajeitando a saia do vestido e subindo a faixa mais pra cima na minha coxa direita.
Sem perceber que Damian ainda está está sentado, o que deve estar dando a ele a visão perfeita do que há debaixo da minha saia.
-Não fica aí parado me olhando!- desfiro um tapa forte em sua cabeça, o que o faz urrar de dor.
-Porra Anya quando foi que você ficou forte assim?- ele se levanta pegando o livro e guardando na caixa.
-Minha mãe me ensinou muita coisa de defesa pessoal.- Anya e Yor forger, duas assassinas espiãs treinadas com a mesma desculpa esfarrapada, papi deveria ter orgulho disso.
-Entendi…- ele diz ainda me olhando. Me sinto levemente desconfortável com seus olhares.
-Se for me chamar de feia eu vou dar um soco no seu estômago até vomitar o almoço!
Ele sorri e ajeita minha tiara que aparentemente estava torta.
-Nunca mais vou dizer uma mentira dessas.
Me lembro de algo que ele disse no enorme discurso de desculpas mais cedo.
-Então… sou a coisa mais linda que já viu na sua vida?- me aproximo de forma invasiva. Ele da passos pra trás assustado com a forma que eu me aproximo de seu corpo até estar de novo com as costas coladas na parede.
-Não vai esquecer isso tão cedo né?- ele diz suspirando.
-Acho que mereço ouvir isso mais uma vez Damian. Fala pra mim…
Agora ele quem aproxima o rosto do meu. Mas sou impassível. Não me mexo um centímetro enquanto sinto uma das mãos dele tocarem minha cintura e a outra acariciar meu rosto. Não tenho lugar pra pousar minhas mãos senão seu tórax desnudo. Ele aproxima o rosto do meu ouvido e sussurra de forma tão íntima que meu corpo se arrepia.
-Anya Forger, você é a criatura mais linda que já pisou nessa escola, a coisa mais perfeita que eu já vi, e a paixão avassaladora que eu venho escondendo todos esses anos.
Sinto toques leves no meu pescoço e sabia que eram beijos. Ele me aperta com delicadeza e firmeza sem querer me soltar.
-Damian…- eu não sabia o que dizer, mas precisava dizer o nome dele e me lembrar que era ele quem estava ali.
-Eu adoro quando diz meu nome.
Ele afasta o rosto do meu pescoço e se aproxima da minha boca.
Não era meu primeiro beijo mas meu estômago estava se revirando como se fosse.
E após tomar coragem em um suspiro profundo ele finalmente me beija.
Não um beijo delicado como nos filmes. Ele
Me beija com tanto desespero, como se temesse que eu desaparecesse. E eu retribuía, mas temendo que fosse um sonho. Andamos até a cama do centro, nos agarrando com tanta força que ficaríamos vermelhos no dia seguinte.
Interrompo os beijos por alguns segundos.
-Acho que sei algo que pode me dar pra começar a se redimir comigo Damian…
Estou no colo dele o beijando com força e vontade, é um alívio poder dizer: ele é lindo. Os cabelos castanhos e seu olhar provocante tomam outra forma quando ele está debaixo de mim tirando meu vestido e tocando meu corpo com vontade.
Não podíamos fazer barulho, não queríamos acordar ninguém no andar. Ele joga meu cabelo pro lado enquanto morde meu pescoço e aperta minha bunda.
-E eu pensando que você não podia ficar mais bonita.- ele sussurra enquanto beija a parte exposta dos meus seios. Não sabia como contaria isso pra minha mãe quando chegasse em casa mas aposto que ela adoraria saber que segui seus conselhos e estou aproveitando muito bem o garoto gostoso que está na minha frente agora.
Ele me olhava como se eu fosse uma estrela no céu, distante e etérea.
Damian gastou tantos minutos beijando meu corpo que me desacostumei a ficar sem seu toque por alguns minutos.
-Poraue está fazendo isso?- pergunto a ele curiosa.
-Eu não gosto de pensar que já fiz você se sentir menos do que magnifica. Ah Anya!- ele toca meu rosto e sorri pra mim com malícia e desejo.- Acho que seu corpo é meu paraíso, e espero que um dia perdoe esse mísero pecador por falar algo de ruim sobre suas pernas- ele passa as mãos pras minhas coxas e minha bunda e as acaricia de forma delicada e leve, deslizando os dedos pela faixa que guarda minha pistola, acho que ele acreditou quando eu disse que era um acessório qualquer e não se preocupou em notar o pequeno gancho que segurava a pistola.- elas são as coisas mais lindas que eu já vi na vida.
-Não parecem rocambole?- pergunto a ele.
-Nenhum pouco.
Sinto uma de suas mãos acariciar minha barriga e descer suavemente pra barra da calcinha cor de rosa com laços e renda branca, assim como meu sutiã.
-Posso?
Em resposta a sua pergunta eu levo as mãos até minhas costas e tiro os ganchos do sutiã. Ele sorri e suspira ao ver o que a peça guardava abaixo do meu colo
-Não sabia que era tão tarada Forger!
-E eu não sabia que você sentia tanto tesão em mim Damian.- pego sua mão e a puxo pra baixo. Ele não demora a entender o recado e começa a move-la em minha intimidade.
-Sabia que você não era mais virgem!- digo pra provocá-lo.
-Cala a boca Anya!
-Nunca!
Sinto sua mão tocar meus seios enquanto a outra trabalha dentro da calcinha e começo a perder o foco na conversa.
-Cadê suas respostas prontas agora Forger? Acho que se perderam na névoa de excitação que tá cobrindo sua mente agora…
O prazer me faz mover o quadril em seu colo e buscar sua boca pra mais um beijo, o que ele não me nega.
Sinto meu corpo ficar cada vez mais trêmulo e minha vontade de gemer cresce cada vez mais, mas antes sinto ele inserir dois dedos em mim, o que me pega de surpresa e me faz soltar um gemido rápido antes de cobrir a boca. Ele sorri satisfeito.
-Ah Anya, quando eu iria imaginar que a pessoa mais linda da face dessa terra ficaria ainda mais linda perdendo o controle no meu colo desse jeito.
Ler seus pensamentos enquanto ele me toca dessa forma deixa tudo ainda melhor.
“Acho que vou ficar viciado nela.”
“Como vou olhar pra ela amanhã sem ficar excitado lembrando disso?”
“Eu amo tanto essa menina. Como posso ter sido tão imbecil em rejeitá-la tanto tempo?”
“Eu estaria a levando pra fuder na sauna da mansão a meses se não fosse um idiota”
“Quanto tempo precisaria me redimir pra poder pedir ela namoro no futuro?”
“O pai dela vai me matar se descobrir isso”
Sorrio pra ele o que o faz sorrir de volta.
Percebo que vou ter um orgasmo, a sensação prazerosa que invade meu corpo me faz tremer e apertar os ombros dele.
-Ah Anya! Pode gozar no meu colo pirralha, não ligo pra bagunça tá?
Ele sussurrando de forma tão brincalhona no meu ouvido me faz apertar seus dedos forte em minha intimidade e morder meus lábios enquanto agarro seu corpo forte e deixo o orgasmo invadir meu corpo.
Mas ele não para de mover os dedos o que me faz rebolar ainda mais e sentir minhas pernas ficando encharcadas logo em seguida. Ele finalmente para, me deixa respirar e beija de forma suave meus ombros e seios.
-Te darei quantos desse você quiser. Até me redimir.
O encaro e sorrio pra ele novamente. Aquele sorriso. Com os olhos quase fechados. O que o faz rir.
-Isso nunca perde a graça.
-Eu sei.
Me levanto de seu colo vendo o estado que deixei sua calça e sua cama.
-Desculpa aí!
Digo de forma brincalhona procurando minha lingerie e meu vestido.
Ele se senta na cama me vendo vestir a roupa toda de novo.
-O que foi?- pergunto estranhando seus olhos em mim.
-Você é adorável.
Minhas bochechas ficam coradas enquanto eu pego do colchão a edição de colecionador e coloco na caixa.
-Depois eu levo pro seu quarto tá?- ele diz pegando minha mão e apertando.
-É bom mesmo Damian.
Ele ri de mim de forma debochada.
-Senão o que?
Ele aproxima o rosto de mim que dou de ombros antes de responder:
-Senão você terá que lidar com meu soco da destruição, BAM!- ao lançar o soco de brincadeira em seu peito ele cai pra trás na cama, urrando de dor. Acho que não controlo minha força igual a mamãe.
-Damian! Você tá legal?
Ele se levanta denovo com dificuldade, posso ver que o soco deixou uma área de seu tórax vermelho.
-Tudo bem, eu mereci essa.
Cruzo os braços e o encaro.
-Bom que sabe disso, melequento!
Ele sorrio se divertindo com o apelido bobo que eu e Becky demos a ele quando crianças.
-É melhor não mexer comigo tampinha, senão…
-Senão o que Damian?
Ele sorri antes de me carregar no colo e me jogar na cama de costas, me beijando com força. Mas logo caio em mim denovo e o empurro tentando ao máximo controlar a força.
-O que foi?- ele pergunta.
-Não liguei pro meu pai hoje à noite. Preciso falar com ele.
Com cuidado pra não fazer muito barulho eu entro no meu quarto e recolho a bagunça: pistola, livros e material escolar. Ligo pro quarto de hotel. Sei que o papi vai se assustar com o horário mas preciso falar com ele antes de dormir.
-Alô?- ouço a voz sonolenta do papi.
-Oi papi!
-Anya! Aconteceu algo?
-Não papi eu to bem, só liguei pra avisar que tá tudo bem comigo e com o Damian também. Não veio ninguém atrás ele depois do alvo principal.
-Que bom filha. Espero que não tenha brigado muito com ele, conseguiu distrai-lo?
Fico quase roxa de vergonha ao lembrar da distração que eu usei com ele.
-Sim papi, perfeitamente como o senhor pediu, sem brigas eu juro.
-Muito bem. Então é só isso certo?
-Dou detalhes quando chegar em casa tá bem?
-Tá bom, estude direitinho enquanto estiver aí. Te amo filha!
Sorrio ao ouvir essas palavras que me deixam tão alegre.
-Também te amo papi.
Desligo o telefone e de pijama e pantufas eu vou até a varanda. Damian está lá lendo, de madrugada, olhando pra mim e me comendo com os olhos.
“Amanhã você não escapa de mim Anya forger. É melhor se preparar pra não sair da minha cama durante toda a noite”
Sorrio pra ele antes de entrar denovo.
Eu não posso dizer que esqueci tudo o que ele me fez.
Mas eu gosto da forma que ele tenta se redimir.
É melhor eu me preparar pra amanhã.
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