Quase um mês atrás.
Deixada na esquina da rua da cafeteria, observava o carro se afastar e sumir pelas ruas escuras. Começou a andar em direção ao prédio onde estava hospedada. Ao entrar foi direto para o banheiro, retirou as roupas que usava, sentando do lado vaso e vomitou tudo o que tinha para vomitar.
Levantou limpando a boca e tomou um banho longo, lavando cada parte do corpo, sentia sua pele nojenta.
Ao sair do banheiro, trocou-se e pegou seu celular. Precisava contar para ele o quanto antes que havia conseguido. Digitou o número do garoto e esperou alguns segundos até o mesmo atender.
— Aiko? Alô? Você tá bem?
— Está feito, Megumi.
— Você conseguiu? Aproximou-se de Toji? Deu tudo certo? Você ta bem, inteira?
— Meu Deus! Calma! Sim, consegui finalmente fazer contato direto com ele, até demais... E deu tudo certo.
— E como foi?
— Sinto muito, mas prefiro não dar detalhes, como deve imaginar, não saímos para um jantar ou algo do tipo... – suspirou. – Enfim, mas eu acho que recebi uma informação fácil.
— Como assim?
— Ryo... Esse nome é familiar para você?
— Não, nunca ouvi falar. Por quê? Espera... Não me diga...
— Sim. Talvez estamos falando da próxima vítima dele.
— Merda! Aquele filho da puta! Faz nem um ano.
— Precisamos ficar a espreita e pesquisar sobre ela. Observarei mais ele e tentarei descobrir quem é ela. Sinto que dessa vez podemos pegar ele de vez e salvar essa coitada.
— Tome cuidado, Aiko. Confio em você, só que sabe como é... – o ouviu dizer de um modo preocupado. – Você esta sozinha, e se ele desconfiar disso, não quero nem imaginar o que pode acontecer. Eu não quero perder você pra ele igual perdi ela.
— Pode ficar tranquilo, Gumi. – disse rindo. – Eu sei me cuidar, vai dar tudo certo. E se for muito arriscado eu peço ajuda!
— Sim, certo. Conto com você!
Aiko desligou a ligação jogando o aparelho na cama e afundando o rosto no colchão.
— Dessa vez você não sai ileso, Toji.
Falou para si mesma levantando e abrindo seu notebook de trabalho. Naquela noite ela pesquisou tudo o que podia sobre você.
[...]
— PORRA! – a garota disse batendo na mesa enquanto te via sair dali quase que correndo, fazendo quem estava no local a olhar.
Foi até a saída da cafeteria e seguiu para hotel. Estava cheia de ódio, havia jogado tudo de uma vez em impulso, sabia que não deveria e aquilo foi um erro. Apenas acusar alguém assim para uma pessoa que ela nunca falou? Onde estava com a cabeça. Precisava concertar isso e rápido.
No seu quarto, trocou-se e colocou o equipamento.
— Acho melhor levar você, nunca se sabe. – falou olhando para sua pistola 9mm e a colocando no suporte do cinto da calça.
Foi até uma mini empresa de aluguel de carros e alugou um modelo simples por algumas horas. Dirigiu até seu bairro e ficou umas duas ruas afastadas da sua casa.
Nesse um mês Aiko pesquisou tudo o que dava sobre você, dentro das leis, obviamente, ela realmente estava preocupada, não queria que você fosse mais uma.
Era a melhor amiga de Tsumiki, se conheceram no ensino médio e até foram para faculdade juntas, fazendo o mesmo curso. Elas sabiam de tudo uma da outra e sempre se ajudavam. Ela nunca foi muito aberta e tinha muitos problemas de comunicação e Tsumiki sempre a ajudava. Aiko é grata a ela por isso, só conseguiu ser o que é hoje graças à ajuda dela.
Quando ela morreu, Aiko entrou em desespero, ela simplesmente não esperava e se sentiu desamparada. Uma dor horrível. Ela perdeu uma das pessoas mais importantes da sua vida. Sua inspiração, a pessoa quem a ajudou a ser forte e superar suas dores. E agora ela estava morta.
Foi quando se aproximou de Megumi. E descobriram juntos o porquê a amiga estava tão distante nos últimos meses antes do acidente. Ela estava tendo um relacionamento com alguém de Tóquio. Megumi disse a ela que ele tinha uma noção de quem seria e ficou espantada ao saber que eles não eram totalmente irmãos, e mais ainda quando escutou sobre o verdadeiro pai de Megumi.
Aconteceu que Aiko transformou aquela dor em raiva quando percebeu que a morte de sua amiga certamente não foi um simples acidente. Começaram a investigar Toji e cada vez mais percebiam que o buraco era muito mais fundo.
Primeiro que o homem era como um borrão. Parecia que não cometia erros e localizar ele era complicado, mesmo sabendo informações básicas, como onde trabalhava ou morava, algumas das suas atitudes pareciam não acontecer, como se ele não fosse uma pessoa física, apenas existisse em teoria. Como se fosse imperceptível.
Mas ele existia. E afetava as pessoas ao seu redor. Tanto que afetou a mãe de Megumi a fazendo fugir com medo e ser atormentada mesmo depois de anos. Não havia um motivo e ninguém entendia o porque Toji era assim, ele apenas agia e sumia. Quando sua ex finalmente o superou e estava vivendo feliz, algo trágico acontece a deixando atormentada. O universo não odeia tanto alguém assim.
Além da mãe de Megumi, teve sua irmã afetada e morta por ele, que certamente só foi usada como massa de manobra para desestabilizar a nova família.
Ele certamente era um sociopata.
Nas investigações chegaram a Naomi Misora, uma estudante de historia na universidade onde era o novo emprego de Toji. Os observando de longe viram que eles começaram um caso escondido. E em coisa de meses a garota desapareceu do mapa. Não deu tempo nem de Megumi ou Aiko entender o que aconteceu, foi como se eles tivessem pulado alguma coisa. Depois de Naomi, decidiram que começariam a agir de forma direta e apenas viram o quão repulsivo Toji era.
Ele saia com varias garotas muito mais novas e as usava até não querer mais, ele as escolhia a dedo. Algumas delas eles nem conseguiram saber o nome e também, incomumente, sumiram.
Aiko e Megumi começaram a analisar que ele tinha um padrão: nova, com um histórico e reputação impecável e algum problema com relacionamentos passados ou com as pessoas a sua volta. Ou seja, meninas fáceis de manipular. A única fora desse padrão foi Tsumiki, deixando mais claro que ele apenas fez isso para atingir Megumi e sua mãe. Uma forma para dizer, indiretamente, que eles estavam presos a ele.
Era sórdido, desequilibrado, ínvido, impulsivo, que apenas usava as pessoas e quando se enjoava as jogava como um objeto.
Esse foi um dos motivos de Aiko ficar tão alienada e esgotada, a fazendo soltar coisas de forma precipitada para você, sentia que se algo acontecesse com você seria totalmente culpa dela.
Nem percebeu que já havia escurecido apenas se deu conta quando a viu sair de casa e entrar em um carro que apareceu minutos depois.
— O que você tem em mente, hein? – se questionou batucando o volante e te seguindo de maneira cautelosa.
Estacionou em frente de uma casa que estava toda fechada, novamente algumas ruas afastadas de onde você estava, e a observou caminhar até uma casa. As ruas estavam praticamente vazias, só com as luzes dos postes.
— Espera esse não é o bairro do... – arregalou os olhos. – Você vai invadir!? – gritou dentro do carro.
Destrancou a porta e quase a abriu, pensou em ir até lá e te impedir. Mas respirou fundo, fechou a porta e continuou no carro, esperando para ver o que faria.
Dirigiu passando em frente a casa como se fosse um morador e viu que não havia carro na garagem e nenhuma luz estava acesa, estranhou mas logo voltou no mesmo lugar de antes.
Ajeitou-se no banco e começou a arrancar as cutículas com a boca. Questionava se deveria ligar para Megumi, mas ele certamente diria para ela ir embora por estar correndo um risco. Foi tirada dos seus pensamentos pelo susto ao ouvir alguém bater no vidro do carro.
— Posso ajudar, querida? – uma senhora, com roupas de dormir, perguntou de maneira gentil. Aiko havia esquecido que estava estacionada na frente de uma propriedade.
— Ah! Boa noite. – disse com o seu sorriso mais gentil. – Não precisa, peço desculpas por estacionar assim, acabei de fazer uma ligação. – agradeceu por sair de forma firme.
— Oh, entendi. – a senhora sorriu. – Fez certo, conversar no telefone enquanto dirige é perigoso... – disse seria. – Você é daqui? – perguntou a encarando. – Não me lembro do seu rosto.
— É... – coçou a nuca. – Não sou. Só estou de passagem...
Falaria mais alguma coisa, mas viu uma luz forte vir da outra rua pela visão periférica e alguém entrar em um carro, deduziu que era você.
— Bem, peço desculpas mais uma vez, mas preciso ir. Tenha uma boa noite! – falou ligando o carro.
— Certo, criança, cuidado com a noite. – apenas acenou com a cabeça e voltou a te seguir.
...
Com o carro parado debaixo de uma árvore, não era possível ver ele, ao menos que se aproximasse, por causa da escuridão do lugar. Já fazia uns trinta minutos que você havia entrado naquele galpão sem dar nenhum sinal. Aiko começou a ficar preocupada.
— Será que Toji está com ela? – escorou no volante.
A ideia era esperar você sair segura, por sorte sozinha, e então olhar o galpão e garantir que você ficaria bem até voltar para casa. Mas isso foi completamente de água a baixo quando viu um carro preto passar na sua frente em alta velocidade.
Mesmo da forma acelerada que o automóvel passou, Aiko jurou ver olhos verdes brilhando junto com um sorriso diabólico nos lábios. O viu estacionar na frente do lugar e sair. Ele usava roupas casuais pretas. Olhou de um lado para o outro e ela o encarou engolindo seco, porém, ele nem a tinha visto. Observou o homem entrar no galpão por uma porta diferente da que você usou.
Aiko pegou a pistola e a conferiu, destrancou e abriu a porta do carro saindo. Caminhou até o carro de Fushiguro, pensou em tentar abrir, mas e se tivesse alarme?
Pegou o celular e iluminou para ver se conseguia ver alguma coisa, sem sucesso.
Começou a vasculhar a parte da frente da área, com silêncio. Até escutar um grito vir de dentro.
— Merda! – sussurrou.
Respirou fundo fechou os olhos e abriu a mesma porta pequena que Toji entrou, vendo vocês dois parados. Você estava com os olhos vermelhos e nas mãos um pedaço grande de vidro, era perceptível o sangre escorrendo pelo seu braço, provavelmente por um corte.
Sem pensar muito, Aiko apenas avançou e deu uma coronhada com sua pequena, mas pesada, pistola na nuca de Toji o fazendo desmaiar. Os treinos que fez depois da graduação não foram em vão.
Olhou para você que estava assustada e com a respiração desregulada olhando para o corpo do homem, vivo, no chão.
— Ei! – Aiko gritou chamando a sua atenção. – Olha pra mim. – continuou, andando calmamente até você com as mãos em forma de redenção em uma tentativa de te fazer deixar segura. – Está tudo bem agora, eu to aqui.
— O que você fez? - você perguntou sussurrando ainda chorando.
— Eu só o desmaiei. – ficou de frente para você. – Vem, vamos, ligarei para a polícia e resolveremos tudo. – falou soltando um suspiro. – Agora preciso de algo para garantir que ele não fuja. – olhou para o chão, ajeitando os cabelos, nervosa. – Você sabe se aqui em uma corda ou algo do tipo? Ei! Ryo! Olha nos meus olhos.
Aiko segurou em seus ombros te balançando.
— Precisamos amarrar ele e sair daqui, entendeu? Ficará tudo bem. Preciso que você ligue para polícia.
Você a encarou e sorriu. Mas mesmo com o sorriso, seus olhos não expressavam reação alguma. Era como se você não estivesse ali, de fato.
Então em um movimento brusco, você apertou o caco em sua mão contra o abdômen da jovem a sua frente que apenas apertou seus ombros com força a olhando nos olhos.
Levando as mãos de forma lenta ao corte em sua barriga e fazendo um grande esforço para não deixar a arma cair, Aiko deu uns passos para trás.
— Ryo... – disse com dificuldade grunhido de dor. – Me escuta! Não importa o que ele disse ou fez... – apoiou as costas na mesa. – Era mentira! Não vai acontecer nada com você, eu prometo.
— Cala boca, vadia! – você gritou se aproximando dela. – Cala essa maldita boca.
Aiko sentiu seus olhos molharem e esquentarem. Com dificuldade levantou a arma e a apontou para você.
— Não se aproxima. – ordenou cerrando os dentes. – Chama a merda da policia... Por favor... – apertou o ferimento que sagrava. – Aaah porra!
— Eu realmente não queria te machucar... – você disse chegando perto e ficando na frente da arma de Aiko. – Vamos, não vai atirar?
Ela começou a tremer e respirar de forma acelerada. Destravou a pistola e segurar mais firme. Você fechou os olhos e sorriu abertamente colocando a cabeça na mira.
Inspiraram o ar juntas na mesma medida que soltaram.
Aiko deixou o braço cair e bater em sua coxa.
— Caralho, para com essa merda! – balbuciou com os olhos molhados. – Depois de tudo que esse filho da puta fez... É só pra você chamar a merda da policia.
— Deveria ter atirado. – disse antes de golpeá-la, batendo sua cabeça sobre a mesa.
Aiko deixou a arma que estava em mãos cair e desequilibrou, desviando zonza pela pancada. Sentindo o sangue na testa. Apoiou-se nas próprias pernas piscando algumas vezes e te encarou.
— Já que você quer assim. – ela foi para cima de você. – Sinto em te dizer, mas de frágil e delicado eu só tenho o rosto... – falou te dando socos. – Eu realmente não quero te machucar...
Apenas tentado se desviar, sentiu um chute em suas canelas a fazendo cair e rolar para perto das cadeiras.
— POR QUE CARALHOS VOCÊ NÃO ENTENDE? – a garota gritou indo até onde você estava. – Ele matou minha... – sua voz falhou. – Esse canalha, ele a matou...
Ela parou na sua frente com a mão no abdômen prestes a te dar um chute, quando você pegou o bastão de choque e descarregou ele na garota que caiu no chão dando espasmos.
Levantou-se com dificuldade e foi mancando, por causa da dor, até a mesa pegando uma das facas e olhou para o corpo, ainda consciente de Aiko no chão.
— Eu te disse... – apertou a faca. – Deveria ter atirado.
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