- Bom dia. – A voz calma e rouca murmurou baixinho, como se fizesse um carinho na minha orelha. Me espreguicei antes de me ajeitar sobre os lençóis de tom azul marinho, recebendo a bandeja de café da manhã em meu colo com um sorriso acanhado. – Dormiu bem?
- Sim, obrigado. – Respondi com um pequeno sorriso, que foi retribuído gentilmente.
Minha fala não foi nada verdade, eu tive pesadelos que me fizeram acordar várias vezes durante a madrugada, sem contar em algumas lágrimas silenciosas. Não queria preocupá-lo, afinal, ele já tinha feito muito por mim quando ontem, em prantos, em meio a um dilúvio, pedi para que ele me buscasse no meio de uma rua deserta. Eu morava no apartamento ao lado do dele, mas ele insistiu que eu dormisse no seu, falou que queria me fazer companhia e eu não achei uma má ideia, na verdade. Ele fez questão de deixar seu quarto para mim, depois de nos preparar um jantar simples, dizendo que dormiria na sala. Eu insisti falando que não precisava, era a casa dele e eu não queria incomodá-lo, falei até que ele podia dormir na cama comigo, porém, ele insistiu que queria me deixar confortável e foi dormir na sala. Achei fofo.
- Assim você me deixa sem graça, Todoroki... não precisava me trazer café na cama. – Disse em meio aos risos, já sentindo um leve rubor nas bochechas. Eu estava com um pouco de dor de cabeça também, devia ser pelo estresse de ontem. Eu tomaria um remédio quando voltasse ao meu apartamento.
- Deixa disso, não é nada demais. – Depois de abrir as cortinas e deixar a luz do Sol entrar, se sentou do meu lado. Ele estava tão bonito com os cabelos vermelhos e brancos desgrenhados que fiquei surpreso ao perceber que já não tinha pensamentos assim a respeito de Shoto já fazia algum tempo. – Como você tá?
- Tô bem... bem melhor. Obrigado. – Dei uma mordida na torrada e bebi um gole do suco de morango. – Hm, esse suco tá muito bom.
- Quer me contar sobre ontem? – Perguntou gentilmente. Encarei-o em silêncio, mastigando devagar. – Eu vou entender se não quiser.
Suspirei, desviando o olhar e ignorando a pontadinha que senti no peito.
Katsuki apareceu na minha cabeça de novo. As sobrancelhas franzidas e as mãos que cobriam as minhas, pedindo, quase como se ordenasse, para que eu repetisse o que eu patética e tragicamente deixei escapar pelos meus lábios secos, em um instante de insanidade.
Fechei os olhos, todos os sentimentos daquela noite chuvosa voltando como se eu estivesse sentindo-os todos pela primeira vez.
Eu me forcei a não pensar, porque eu sabia que, caso contrário, eu não iria demorar a começar a chorar.
E eu já estava cansado de chorar pelo mesmo motivo. Chegava a ser ridículo e até vergonhoso, principalmente tendo outra pessoa como testemunha do quanto sou patético. Ainda que eu não tivesse contado ao Todoroki nem uma palavra do que aconteceu e nem ao menos ter mencionado o nome do Katsuki, claro que ele sabia de quem se tratava aquilo tudo.
Porque era sempre o Katsuki.
- É complicado, eu... – Suspirei, recostando minhas costas contra a cabeceira da cama. – Olha, desculpa, você merece saber, mas é que... é muito difícil pra mim.
- Tudo bem, eu entendo. – Sua mão pousou em minha coxa e eu o encarei nos olhos de novo. – Não se sinta pressionado, você não me deve nada. Quero que você se sinta confortável pra se abrir comigo na hora que quiser e, se essa hora nunca chegar, eu não vou poder fazer nada além de aceitar e entender.
Abri um sorriso sem mostrar os dentes.
- É incrível como cada vez mais você consegue me impressionar. – Depositei minha mão sobre a dele. – Desculpe por te fazer passar por isso. Sei que deve ser um saco.
- Eu te disse que estava disposto a isso, não disse? – Deu de ombros, se aproximando ao se arrastar mais pelo colchão. – Eu tenho que lidar com as consequências das minhas escolhas. E, se for pra ter você, é a escolha certa.
Minha pele pegou fogo e eu imediatamente virei o rosto, rindo para disfarçar a vergonha.
Céus, como ele conseguia dizer essas coisas com toda essa plenitude?! Que caia sobre mim esse dom!
- Meu Deus, como você consegue dizer essas coisas...?
Seu dedo tocou meu queixo e delicadamente trouxe meu rosto em sua direção de novo, me fazendo arregalar um pouco os olhos ao notar que ele já estava muito mais perto do que antes.
- Se você tem essa reação, é porque não está acostumado a ouvir, o que soa totalmente irreal para mim. – Ele praticamente sussurrava, seus lábios agora já não tão distantes dos meus. Seus olhos fitavam os meus de uma forma que me deixava ainda mais sem graça. Engoli em seco. – Você é o tipo de pessoa que deveria ouvir mil declarações diferentes de mil pessoas diferentes por dia.
Ri, discretamente me afastando ao virar um pouco a cabeça, consequentemente afastando sua mão do meu rosto.
Era estranho me sentir mais desconfortável do que lisonjeado com aquilo?
- Para com isso, sério. Eu só-
Ouvi um grito. Não, parecia mais alguém chamando.
- Ouviu isso? – Franzi o cenho, olhando em volta do quarto. - Você tá esperando alguma entrega?
- Não, não. – Ele se afastou com um olhar confuso. – Relaxa, deve ser o vizinho.
E aconteceu de novo, porém, o som já não era mais tão distante.
Parecia familiar.
Aquilo podia ser irrelevante para a maioria das pessoas, afinal, não é incomum escutar vozes quando se está morando em um prédio. No entanto, por algum motivo, aquilo me causou um formigamento estranho no peito e eu me senti um pouco nervoso.
- Katsuki...?
Quando seu nome saiu da minha boca em um sussurro, a confirmação veio no segundo seguinte e, dessa vez, ouvimos em alto e bom som:
- DEKU!
Levantei da cama em um pulo, meus olhos arregalados. O que ele estava fazendo aqui?! Como Katsuki sabe aonde eu moro?!
Argh, claro! Kirishima e Uraraka, cobras malditas!
- Meu Deus, o que ele tá fazendo aqui...? – Eu já podia sentir pontadas mais fortes na cabeça, como se estivessem me avisando do novo estresse que eu teria que enfrentar logo de manhã.
Eu estava muito confuso com aquilo. Estranhamente ansioso. E também irritado. O que ele queria, afinal? Me acusar de mais alguma nova traição que eu fiz e não tô sabendo, por acaso?
- Deixa que eu resolvo. – Shoto prontamente tomou a frente, sério. Levantou-se com convicção e eu o parei assim que abriu a porta do quarto.
- Não, espera! – Me aproximei dele, seus olhos irritados caindo sobre mim. Dava pra notar que a chegada repentina de Katsuki não tinha abalado só a mim, e eu nem podia culpar Todoroki, ele já devia estar puto também com toda essa história maluca. – Você sabe como ele é. Ele não vai embora só porque você vai pedir pra que ele faça isso. É capaz até dele montar uma barraca na frente da minha porta só pra contrariar. – Todoroki não retrucou, talvez porque sabia que era verdade, mas notei que ele não gostou nada de ouvir aquilo. – Deixa comigo.
Determinado e sem esperar mais, passei por Todoroki e fui até a sala. Parei diante da porta branca da entrada, ainda fechada. Encostei a orelha contra aquele pedaço de madeira para tentar escutar melhor.
- Deku, abre essa porta. – Sua voz estava um pouco distante e abafada. Senti um arrepio na nuca, não acreditava que ele estava mesmo no meu prédio. Ele batia na porta do meu apartamento, que era ao lado. – Deku, eu não vou embora até falar com você! Abre, porra! – Eu podia escutar as batidas se tornando cada vez mais fortes e insistentes.
Fechei os olhos e respirei fundo, tentando organizar minha mente para que, assim, talvez, conseguisse controlar as batidas do meu coração. Minhas mãos, encostadas na porta de Todoroki, tremiam. Eu torcia para que Katsuki fosse embora, mas, ao mesmo tempo, eu estava muito curioso para saber o que ele tinha para me dizer.
Mas essa curiosidade me irritou. Eu não quero escutar. Ele não merece que eu o escute. Não há mais nada para escutar. Tudo o que eu escutei já basta. Bastou para confirmar que, realmente, somos um erro. Sempre fomos. Só o que nos resta é esquecer. Não há motivos para estendermos mais essa palhaçada. Não há mais nada a ser discutido, muito menos resolvido. Não há nada para salvar. Somos um nó que não há como desfazer.
Eu aprendi que uma conversa com Katsuki não vale a pena. Te deixa com mais dúvidas do que respostas. Te deixa mais ferido do que leve. Eu levei quatro anos para entender que talvez seja melhor só não tentar entendê-lo, porque você nunca vai de fato conseguir e isso vai te frustrar.
Você só vai cavar mais o buraco, sem nunca achar o fundo.
E, se achar, talvez perceba que seria melhor não ter tentado, porque não valeu a pena. E você não vai saber como voltar à superfície.
Fiquei uns cinco minutos parado ali, pensando que talvez ele pudesse ir embora, mas não foi. Claro que não foi. Katsuki sempre foi teimoso e persistente.
Já podia sentir a presença impaciente de Todoroki atrás de mim.
- Midoriya, deixa que eu acabo com isso. – Ele disse, se aproximando e botando a mão na maçaneta, mas eu rapidamente segurei seu pulso.
- DEKU, ABRE ESSA PORTA! – Escutamos de novo. Fechei os olhos, ainda com o pulso de Todoroki entre meus dedos. – Deku... por favor... – Arregalei os olhos, meu coração falhando uma batida. O que ele disse? Ele pediu por favor? – Eu sei que você tá aí, eu falei com a Jararaka e você só pode estar aí... abre. Eu tenho que falar com você. – Apertei os lábios. – Por favor.
Respirei fundo, tentando buscar coragem em algum lugar dentro de mim para abrir a maldita porta. Estufei o peito e cerrei os punhos.
Eu tenho que acabar com isso.
Eu tenho que enfrentá-lo e acabar com isso de uma vez por todas.
E, contando até três, eu abri.
~*~*~*~
Katsuki
A primeira coisa que eu fiz quando Kirishima e eu fomos soltos, às 7h da matina, foi pedir pra ele o número daquela amiga bochechuda do Deku. Só nos olhamos e eu não precisei explicar nada pra ele entender.
- Já sabe, né, mano? Pensa bem no que tu vai dizer. Cê sabe que não é muito bom com as palavras.
Estalei a língua no céu da boca enquanto pegávamos os nossos pertences que foram confiscados pela polícia.
- É, tô ligado.
- E você também sabe que vai ter que deixar o orgulho um pouco de lado se quiser resolver isso, né? Vai precisar encarar o Izuku e botar tudo pra fora, igual cê fez ontem comigo. É agora ou nunca, mano.
- Cara, tu acha que eu sou a porra de um homem das cavernas que não sabe se comunicar como um ser humano normal?!
Kirishima ficou em silêncio e eu dei um pescotapa nele.
- Ai, Bakugou! – Chiou enquanto tocava no lugar da batida. Tsc, marica. – Qual é, mano, cê sabe muito bem que não é o cara mais articulado do mundo...
Franzi o cenho, virando a cara. Eu ficava puto porque sabia que era verdade. Não me orgulho de ser tão... tão assim. Sei que geralmente é isso que fode com tudo, mas não dá pra controlar, é a porra do meu jeito. Eu não sei lidar com as coisas como a maioria das pessoas. Odeio me sentir vulnerável, odeio que as pessoas saibam que eu tenho fraquezas. Se descobrem as minhas fraquezas, então podem me machucar.
E eu estarei basicamente dizendo ao Deku que ele é a minha fraqueza, então, seria como dar permissão a ele para me machucar.
Mas eu já perdi tudo por causa de orgulho. Não há mais nada a perder.
Se eu tiver que rastejar no chão pra consertar o que eu fiz, por mais que isso foda com todos os meus princípios e valores que construí durante toda a minha vida, então eu vou rastejar em pregos.
Porque talvez todos os valores e princípios que me moldam sejam uma merda.
- Não vai ser fácil, cara. – O Curupira deu batidinhas no meu ombro. – Não vai.
Suspirei.
- Eu sei.
Dei uma carona pra ele pra estação de metrô mais próxima e, depois de alguns conselhos boiolas e umas frases de efeito encorajadoras como se ele fosse alguma porra de líder de torcida, Kirishima finalmente foi embora e eu fiquei estacionado lá, na entrada da estação, mandando mensagem pra cara de bolacha.
[Katsuki]: seguint jararaka
[Katsuki]: to sem tempo colega
[Katsuki]: manda o endereço do deku ai
Um minuto passou e ela não visualizou, tive que ligar então. Tocou, tocou e tocou, até que ela rejeitou a ligação e finalmente ficou online no chat.
[Jararaka]: amado????!!
[Jararaka]: vc me acordou!!!@##”@)$/*
[Jararaka]: sabe q hrs são????
[Katsuki]: sei
[Katsuki]: hora de me falar a porra do endereço do deku
[Katsuki]: fala logo kct
[Jararaka]: primeiramente é Uraraka.
[Katsuki]: segundamente to nem ai
[Jararaka]: meu nome é URARAKA
[Jararaka]: U R A R A K A
[Jararaka]: U-R-A-R-A-K-A
[Jararaka]: U
[Jararaka]: R
[Jararaka]: A
[Jararaka]: R
[Jararaka]: A
[Jararaka]: K
[Jararaka]: A
[Jararaka]: aprendeu agr ou quer q eu desenhe???
[Katsuki]: ja salvei o contato como jararaka e to com preguiça de mudar
[Katsuki]: seguinte, sem tempo p aula de soletragem
[Katsuki]: eu preciso falar com o deku
[Katsuki]: ce faria a gentileza de facilitar p mim ou vamo ficar nessa eternamente q nem o especial de natal do roberto carlos??
[Jararaka]: quem diabos eh roberto carlos
[Katsuki]: esquece, bagulho q o deku me mostrou como um tipo de tortura
[Katsuki]: FALA LOGO DESGRAÇA
[Jararaka]: PEDE VC PRA ELE MLK
[Jararaka]: mas se vc n pede p ele eh pq sabe q ele n vai te mandar ent significa q eu TB n posso fazer isso
[Katsuki]: qual eh cara...... me ajuda ai mano, o negocio eh serio porra
[Jararaka]: oq cê fez dessa vez???
[Jararaka]: q q vc quer com ele??
[Jararaka]: vou avisar ele q vc tá me mandando msg
[Katsuki]: NAO
[Katsuki]: não faz isso, ele vai fugir de mim
[Katsuki]: olha eu fiz merda blz??
[Katsuki]: isso n deve ser novidade p vc mas a novidade eh q agr eu sei q fiz merda
[Katsuki]: e to querendo consertar
[Katsuki]: ent se vc n for uma filh puta do crl vai me ajudar
[Jararaka]: eu seria uma filha da puta se te ajudasse, isso sim
[Jararaka]: deku eh meu amigo e eu n vou falar pra vc aonde ele mora se ele n quer isso
[Katsuki]: FILHA DA PUTAAAAAA
[Katsuki]: e so eu posso chamar ele de deku!!! sai fora macaca de imitação do kct
[Jararaka]: k
[Jararaka]: mas se vc me provar q realmente merece minha ajuda....... ent eu posso pensar no seu caso, talvez.
[Katsuki]: te pagam p ser tao desgraçada assim????????
[Jararaka]: ue, vai desistir fácil assim? Achei q vc queria encontrar o deku
[Jararaka]: mas blz, vou te bloquear
[Katsuki]: NAO
[Katsuki]: arrombada do crl cretina miseravel
[Jararaka]: hihihi tô adorando isso
[Jararaka]: vai queridinho, anda logo com isso
[Katsuki]: SO ME DA UM MINUTO BLZ????
[Katsuki]: to pensando
[Jararaka]: tic tac tic tac
Joguei a cabeça pra trás, respirando fundo. Merda, como eu poderia provar pra ela? Porra, que caralho... era só o que me faltava. Já não bastava ter falado toda aquela boiolagem ontem pro Kirishima, minha cabeça tava explodindo porque eu ainda teria que dizer na cara do Deku e agora de brinde vou ter que falar pra amiguinha dele também?!
Porra, isso é muito pra mim. Sinto como se eu tivesse uma arma apontada pra minha cabeça.
O que eu diria pra ela, porra?!
[Katsuki]: eu fui um burro do crl
[Katsuki]: a porra da mentira de um fdp me fez pensar q o deku botou uma porrada de galhada na merda da cabeça do dinossauro aq, mas agr eu sei q isso nunca aconteceu
[Katsuki]: agr eu quero resolver essa merda
[Katsuki]: tá bom pra vc porra??
[Jararaka]: nossa eh serio??
[Jararaka]: só isso??? Pensei q vc se esforçaria mais
[Jararaka]: tava esperando um discurso estilo Shakespeare
[Jararaka]: #decepcionada
[Jararaka]: lamento te dizer q n me convenceu
[Katsuki]: caguei, preciso convencer o deku e n vc
[Jararaka]: lamento te informar q p convencer o deku vc precisa me convencer primeiro :D
[Jararaka]: KKKKK e vc achando q o deku te traiu, plmds
[Jararaka]: ficou esses quatro anos pensando nessa piada???
[Katsuki]: cala a merda da boca cara de bolacha, quem eh tu p falar alguma porra??
[Katsuki]: vc n sabe de merda nenhuma
[Jararaka]: pelo visto nem vc
Respirei fundo, revirando os olhos.
Eu precisaria ir fundo nessa se quisesse a ajuda dela.
Tsc, quem diria, Bakugou Katsuki precisando se humilhar pela ajuda de alguém?
Eu riria dessa situação de merda se não fosse trágico.
Pois é, eu já sabia que seria difícil. A partir de agora, eu vou ter que atravessar muitos obstáculos e deixar de lado muitas coisas pra focar no meu objetivo.
E se o primeiro deles é parecer um pateta pra convencer a bochechuda idiota de que o que eu sinto pelo Deku é verdadeiro...
Então... lá vai, porra.
[Katsuki]: olha
[Katsuki]: eu to sentado na minha moto aq
[Katsuki]: to na frente da entrada de uma estação de metrô vagabunda q nem sei o nome
Suspirei, encarando a confeitaria do outro lado da rua. Meus dedos, que seguravam o celular, tremiam.
Eu podia enxergar Deku e eu na frente daquela confeitaria. Aconteceu no nosso primeiro ano de namoro. Eu não queria entrar naquela espelunca que mais parecia a casa da bruxa de João e Maria, mas ele me puxava pela manga do casaco e me obrigava a fazer sua vontade. Sempre conseguia o que queria, no final. E eu, com a cara toda amarrada e fazendo toda aquela pose de tô nem aí, o observava em silêncio. Ele tava com o maior sorrisão, apontando para todos os doces e falando sobre o quanto era difícil escolher um porque todos eram tão bonitos e blá, blá, blá. Ele me chamava pra olhar e eu só murmurava qualquer coisa. Para ele, parecia que eu não tava nem aí. E eu realmente não tava nem aí pros malditos doces, eu só queria olhar pra ele.
Mas, no fundo, eu iria em todo e qualquer lugar que ele quisesse, mesmo que eu fingisse não ligar.
Porque eu adorava ver o Deku sorrindo, igual como ele fazia naquele momento, enquanto escolhia um dos doces daquela confeitaria.
Deku queria muitas coisas, ir em vários lugares e fazer várias coisas. Eu não ligava pra nada.
Estar com ele era o suficiente pra mim.
[Katsuki]: eu tô olhando pra uma confeitaria q deku e eu íamos juntos, do outro lado dessa rua
[Katsuki]: eu lembro o qnt ele tava feliz e o qnt eu era um saco
[Katsuki]: hoje, eu me pego pensando q eu teria feito diferente
[Katsuki]: eu devia ter feito td o q ele queria, sem protestar ou ficar de cara fechada
[Katsuki]: n era mt difícil fazer o deku sorrir
[Katsuki]: mesmo q eu n me esforçasse, ele smp tava sorrindo e rindo
[Katsuki]: eu nunca entendi o pq
[Katsuki]: nunca entendi oq fazia ele ser assim, tao...
[Katsuki]: o Sol
[Katsuki]: ele era radiante como se fosse um pedaço do Sol
[Katsuki]: e agr eu penso... pq eu n me esforcei mais? So porque ele já sorria sem precisar de esforco algum?
[Katsuki]: n era pq ele era uma pessoa fácil de agradar q isso devia tornar as coisas mais fáceis
[Katsuki]: eu me arrependo de n ter acordado de noite e levado ele p praia p ver o nascer do dia
[Katsuki]: me arrependo de n ter olhado os doces na confeitaria junto com ele e o ajudado a escolher
[Katsuki]: me arrependo de n ter feito muitas coisas com ele
[Katsuki]: me arrependo de fingir n ligar p nada
[Katsuki]: deku smp se achou inexperiente e achava q era eu q o ensinava tudo, sexualmente isso pode ate ser vdd
[Katsuki]: mas ele me ensinou mais do q eu era capaz de aprender
[Katsuki]: foi ele q me ensinou coisa pra caralho, um monte de coisas q mais ngm poderia
[Katsuki]: sexo qualquer um poderia mostrar p ele
[Katsuki]: mas o q ele me mostrou... só ele poderia
[Katsuki]: me arrependo principalmente de ter entendido o que tudo isso significava tarde demais
[Katsuki]: de nunca ter dito pra ele td oq eu tô te dizendo agr
[Katsuki]: q ele eh o nascer do sol na minha vida
[Katsuki]: e q ele eh absolutamente tudo pra mim
[Katsuki]: mas eu quero poder ir bater na porta da casa dele e falar tudo isso agora.
[Katsuki]: quero mostrar p ele que eu o escutei em todas as vezes, q ele tem muito mais pra me ensinar e eu quero aprender tudo com ele, pq eh só com ele q eu posso aprender
[Katsuki]: entao.....
[Katsuki]: por favor
Olhei aquela confeitaria uma última vez antes de digitar a última mensagem, meu coração martelando forte contra meu peito.
Que merda de sentimento.
Tão ruim que pode destruir.
Mas me faz me sentir tão vivo, ao mesmo tempo.
[Katsuki]: me ajude a fazer tudo oq n fiz
[Katsuki]: me ajude a acertar pelo menos uma vez nessa caralha de vida
[Katsuki]: é tudo oq eu te peço. E eu nunca tive q pedir nada pra ngm antes.
[Katsuki]: só...
[Katsuki]: me ajude a acertar
Senti uma ardência forte nos olhos e apertei os lábios.
[Katsuki]: por favor.
Silêncio. Ela tava online, mas não falou mais nada.
Eu tinha acabado de me abrir totalmente pra uma completa estranha.
Não sei o que deu em mim, eu simplesmente fui digitando sem pensar muito e as palavras foram saindo. Sentia vergonha sempre que acabava lendo minhas mensagens e acabava tendo que bloquear a tela do celular pra não ler aquelas boiolisses do caralho que eu escrevi.
Puta que pariu, que merda.
Em pé do lado da moto e com o quadril encostado nela, comecei a bater o pé no chão, ansioso pra caralho.
Porra, ela tava me zoando? Ela vai só me deixar no vácuo mesmo?
Já comecei a me preparar pra xingar ela, quando recebi um áudio.
Botei o celular perto do ouvido e quase fiquei surdo quando botei o áudio pra rodar e escutei a porra de um berro ensurdecedor. Quase deixei meu celular cair no chão nessa hora.
[Katsuki]: q porra foi essa crl
[Katsuki]: tá drogada porra??????
[Jararaka]: AAAAAAAAA EU SABIA
[Jararaka]: PORRA EU FALEI
[Jararaka]: DEKU N QUERIA ME ESCUTAR MAS EU SABIA PORRA
[Jararaka]: CARALHOOOOOOOO
[Katsuki]: fodase blz
[Katsuki]: agr ce pode falar o endereço do deku ou quer q eu grave um vídeo fazendo pirueta no meio da porra da rua tb???
[Jararaka]: nao da ideia nao hein k
[Jararaka]: EU SABIA
[Jararaka]: SABIA Q VC AMAVA ELE :') PORRA SIM
[Jararaka]: intuição feminina n falha
[Jararaka]: tô surtandoKKAKKDOBFXIAWOENDBXOAPWM
[Katsuki]: taquipariu tu eh o krishima de buceta
[Jararaka]: ai ai dEUS DO CEU
[Jararaka]: pronto, acalmei
[Jararaka]: aaaaAAAAAAAA
[Jararaka]: olha
[Jararaka]: hihihioaidkwjxioenf
[Jararaka]: o deku fica achando q eu sou uma traíra q fica tramando coisas pelas costas dele pra fazer vcs dois ficarem juntos etc
[Jararaka]: mas eu n faço isso por mim, por vc ou por ngm
[Jararaka]: eu faço por ele
[Jararaka]: pq eu sei q vcs dois ainda podem se resolver
[Jararaka]: pq eu vejo q ele n fala de ngm da maneira q ele fala de vc
[Jararaka]: eu vejo nos olhos dele
[Jararaka]: e eu n quero q isso acabe
[Jararaka]: eu só quero q ele seja feliz
[Jararaka]: e se a pessoa q vai fazer isso eh vc, ent vc tem todo o meu apoio
[Jararaka]: só não caga no pau de novo, ok?
[Jararaka]: vc n vai ter outra chance
Meu peito apertou.
[Katsuki]: eu sei
Respirei fundo, parando um tempo pra olhar as pessoas que iam e vinham pela calçada. Do outro lado da rua, um casal se aproximava da vitrine da confeitaria. A garota sorria e apontava pros doces, e o cara deve ter feito piada de alguma coisa porque ela começou a bater no ombro dele, rindo. Ele apontou pra alguma coisa dentro da confeitaria e os dois entraram, sendo rapidamente atendidos por uma moça sorridente.
Franzi o cenho.
E foi aí que tive uma ideia muito boiola.
[Katsuki]: obrigado
~*~
Depois que a Cunataka me enviou uma mensagem com o endereço do Deku, eu finalmente pude dar partida na minha moto. Sim, mesmo ainda fedendo um pouco a toda aquela podridão da merda da prisão. Ainda tinha uns respingos do sangue daquele verme na minha roupa, mas só quem olhasse com muita atenção notaria.
[cabeça de piroca]: boa sorte cara
[cabeça de piroca]: vai que eh tua
Vi a mensagem do Kirishima quando estacionei a moto de qualquer jeito na calçada de frente pro prédio do Deku. Revirei os olhos com aquelas mensagens bregas e só respondi com um vai tomar no cu antes de guardar o celular no bolso. Olhei pro alto, focando no andar do Deku e imaginando qual janela deveria ser a do seu apartamento.
Suspirei.
Desci da moto e tirei o pequeno pacote com a logo daquela confeitaria do bolso, encarando aquilo e pensando se era realmente uma boa ideia entregar essa merda pra ele. Era só um cupcake de morango com chantilly que ele gostava. Será que ainda gosta?
Espero que ele não taque na minha cara.
Merda, por que isso tinha que ser tão difícil?
Balancei a cabeça pra afastar esses pensamentos idiotas, guardando o pequeno pacote no bolso de novo.
Por que eu tava tão nervoso? Mas que caralho! Nunca me senti assim antes, porra. Nem mesmo pra uma luta ou qualquer outra coisa.
Mas pra falar com a formiga do Deku e dar um doce idiota, parece ser a porra do fim do mundo.
Que merda.
Fechei os olhos e franzi o cenho, estalando a língua no céu da boca.
Porra, relaxa, Katsuki.
Relaxa, caralho.
Já podia sentir aquele tique nervoso no meu olho começando a dar sinal de vida e as pessoas na rua me encaravam como se eu fosse um terrorista prestes a cometer um atentado, mas elas que se explodam.
Respirei fundo e, com os punhos cerrados, entrei no prédio. Aproveitei uma hora que o porteiro ficou distraído com um velho e seu cachorro e passei batido, correndo até as escadas.
Subia os degraus pulando de três em três, e eu já o chamava antes mesmo de alcançar seu andar. O apartamento do Deku era o 612. Quando cheguei e olhei para todas aquelas portas brancas fechadas uma ao lado da outra, respirei fundo, estufei o peito e nem pensei muito, porque senão iria tacar o doce pela janela mais próxima e iria embora.
Que merda. Porra. Eu tô sendo muito ridículo fazendo isso? Pareço um daqueles boiolas daqueles filmes que o Deku me obrigava a assistir.
Mas que se foda.
De mão fechada, já fui batendo na porta dele com força e berrando o nome dele em plenos pulmões.
Talvez parecesse mais que eu tava indo cobrar uma dívida do que me desculpar, mas sério que cê esperava outra coisa vindo de mim?
Eu batia, chamava, chamava e batia mais, mas ele não aparecia. Eu sabia que ele só poderia estar em casa, aonde mais estaria, porra?
Não era como se o Deku pudesse fugir de mim pra sempre, ainda estudávamos e trabalhávamos no mesmo lugar, mas eu queria botar a porra das cartas na mesa agora. Queria agarrar ele e tascar um beijo com força, queria que ele me perdoasse e a gente fodesse a porra da noite inteira, queria acabar com toda a saudade que tava me matando.
Mas óbvio que eu sabia que isso só aconteceria dentro da minha cabeça. Com sorte, no mínimo ele me escutaria.
Mas eu sei que o que nós tínhamos ainda acabou. Não pode ter acabado. Eu vejo quando olho nos olhos dele, que ainda tem sentimento ali. Alguma coisa tem, eu sei que tem. Tem que ter. Eu sei que eu mexo com ele, da mesma forma que ele mexe comigo. É só uma química absurda que não tem explicação, não tem como fugir disso, mesmo que ele tente com força.
Você ainda não me esqueceu, né, Deku?
Por favor, não me esqueça.
Ouvi o som de uma porta abrindo.
Mas não era a que tava na minha frente. Não era a porta do Deku.
Virei a cabeça.
E vi o Deku, segurando a maçaneta da porta aberta do apartamento ao lado. Ele parecia tentar parecer indiferente, mas eu notei a estranheza e confusão em seus olhos, se perguntando que caralhos eu tava fazendo ali, e eu me perguntava que caralhos ele tava fazendo no apartamento 613.
De primeira, pensei que eu tinha me confundido e errado a porta, mas, então, o Duas Caras apareceu atrás do Deku.
Paralisei. Meu sangue subiu na hora e, sem que eu percebesse, cerrei os punhos.
Que porra...
É essa...?
- O que você tá fazendo aqui, Katsuki? – Deku perguntou.
Apertei os lábios, olhando da porra do Deku pro merda do Todoroki, do merda do Todoroki pra porra do Deku.
Não consigo descrever toda a merda que eu senti naquele momento. Foi como se minha cabeça queimasse. Meu corpo todo formigou e eu só queria voar em cima daquele filho da puta que mais parecia a bandeira do Canadá inteira.
- Que porra é essa aqui? – A pergunta áspera saiu quase rasgando a minha garganta.
- Hã? Você tá brincando comigo, né? – Soltou um riso nasal. – Fala logo. O que você quer?
Caralho. Caralho. Caralho.
Eu mal saí da cadeia e já me vi dentro dela de novo.
- Tu deu pra esse filho da puta, Deku?! – Agora fodeu. Eu já não pensava em mais nada, já tinha esquecido tudo o que eu pensei em falar e só tinha uma sirene vermelha berrando dentro da minha cabeça agora. Eu tava cego de ódio, porra!
E pensar que eu passei a madrugada inteira na prisão falando sobre boiolisses com o merda do Kirishima enquanto o Deku tava lá, indo pedir consolo no pau de outro...
Porra, acabou comigo.
E o que mais me deixava puto era que, bem lá no fundo, onde ainda havia uma vozinha racional ecoando, eu sabia que eu não tinha direito de ficar puto.
Mas o que cê esperava, porra? Que eu olhasse aquela cena de merda e falasse “beleza, divirtam-se, usem camisinha”?
PORRA, VAI TOMAR NO CU!!
Eu não tava preparado pra essa recepção, nem fodendo...
E agora, caralho? Eu tenho que tentar botar a porra da cabeça na caralha do lugar pra não descer o cacete no Pavê, senão aí que vou foder mais ainda minhas chances com o Deku.
Porra, Bakugou. Aguenta, mano.
E tenta não pensar na porra do cara que tu ama quicando em outro.
- Katsuki, pelo amor de Deus! Se você veio aqui querendo um segundo round da briga de ontem, então vai pra merda! Tô de saco cheio de você, tô de saco cheio de... tudo isso! – Ele segurava a maçaneta da porta com força. Os vizinhos deviam estar adorando o espetáculo. – Eu não quero nem saber o que você veio fazer aqui, já vi que não vale a pena. Nunca vale a pena, na verdade. Vai embora. Agora.
Fechei os olhos e respirei fundo, tentando me acalmar. Encarei o Deku com seriedade, tentando conter o formigamento em meus dedos.
- Escuta, eu não vim aqui pra brigar, beleza? Eu só quero conversar. – A julgar pela situação, eu até me surpreendi por ter conseguido falar uma frase que não tivesse um xingamento, porque, dentro da minha cabeça, só tinha trocentos palavrões rodando.
Ele semicerrou os olhos pra mim, soltando uma risada descrente.
- Mas eu não quero conversar. Por todo esse tempo eu só quis conversar com você e só recebi merda em troca, agora que você diz que só quer conversar eu tenho que parar tudo pra te ouvir? Assim, na hora que você quer? – Estalou os dedos no ar. - Acha que eu sou tão idiota assim?
Fechei os olhos e respirei fundo, dando um passo pra frente.
- Deku, não é assim, eu só... – Meus olhos voltaram praquele filho da puta atrás do Deku e eu esqueci tudo de novo, a raiva controlada voltando a borbulhar. - Porra, será que dá pra esse filho da puta sair pra gente poder conversar, caralho?!
- Não! Ele mora aqui e ele pode ficar aonde ele quiser, o único intruso aqui é você. Como o porteiro te deixou entrar, hein? Cê bateu nele também?
Arregalei os olhos.
Quê?
- Tá me zoando, né? Cês são vizinhos?!
E eu achando que não dava pra ficar pior nesse caralho.
Porra, se eles são vizinhos, imagina o quão próximos eles devem ser...?
Porra, caralho, merda, pinto, puta que pariu, buceta.
Pela primeira vez na vida, me senti um real fracassado. Eu tava lá atrás, suando feito um porco, enquanto a porra do Duas Caras já tava lá na frente, alcançando a linha de chegada. Senti um gosto amargo na boca, finalmente me dando conta de qual era o meu lugar ali. Eu tinha chegado tarde demais e o medo de perder o Deku pra sempre foi mais real do que nunca naquele momento.
Eu sei que já o perdi, mas... olhá-lo daquela forma, saindo do apartamento de outro cara e me mandando ir embora, foi como uma porrada na minha cara, como se não tivesse mais volta.
E odiei me sentir assim, tão vulnerável e fraco. Tão ridículo pra caralho. Tão... dependente.
Dependente daquele sentimento de merda. Dependente do Deku.
Tudo o que eu sempre odiei e tive medo de ser durante toda minha vida é tudo o que eu sou hoje, mas eu não ligo mais pra isso. Se tem uma coisa que eu realmente odeio agora, é a ideia de que o Deku nunca mais sorria pra mim como antes. Que nunca mais me olhe com os mesmos olhos.
Essa é a porra do meu maior medo.
Não é mais como eu vou parecer, se vou parecer vulnerável ou fraco demais. Se eu tiver que ser todas essas coisas nojentas, que se dane, eu serei.
Eu só não quero perdê-lo.
Não de novo.
Porque eu prefiro ser um boiolinha do caralho do que não ter o Deku.
O que faltava era ele. Sempre foi ele.
Eu já sabia disso, no fundo eu sabia, mas não queria aceitar que minha vida tava nas mãos de outra pessoa, que eu dependia de alguém pra fazer tudo valer a pena. Queria mostrar a mim mesmo que era capaz de comandar a porra da minha vida e ponto final, caralho.
Ontem, Kirishima mostrou saber mais sobre mim do que eu mesmo. E, de novo, me senti fraco.
Agora eu vejo que a real fraqueza foi tentar esconder os meus medos. Eu fui fraco por fugir de tudo o que eu queria. Fingir ser forte o tempo inteiro foi o que me tornou fraco.
E quer saber, porra? Eu não ligo mais. Não ligo mais pra essa merda. Não ligo mais se vou parecer fraco, um boiola sensível ou o caralho que for, ainda que eu não saiba direito como botar toda essa merda pra fora.
Eu só ligo pra você, Deku.
E me desculpa por sempre ter tido medo de te mostrar isso.
Eu achava que você me tornava fraco, e é verdade, você faz isso comigo.
Mas, ao mesmo tempo, é você quem me faz forte.
Você é o único que tem o poder de me destruir e de me levantar.
Você é quem tem a capacidade de me fazer chorar, mas meu sorriso só é verdadeiro quando tô com você.
Quando eu tava apanhando do Todoroki, foi a sua voz gritando meu nome que me fez acordar.
É você, Deku.
Sempre foi você.
E me desculpa por ter passado minha vida inteira sentindo medo de me entregar pra você.
Quando meu real medo devia ter sido perder você.
- Katsuki, eu já disse. Vai embora. Por favor.
Nessa hora, Todoroki, que esteve só me encarando sério até então, botou a mão no ombro do Deku.
E foi aí que eu não aguentei.
Avancei pra acabar com a raça daquele animal miserável, mas o Deku se meteu na minha frente.
Caralho.
- Vai embora, agora! Eu vou chamar a polícia, tô avisando! – Deku gritava, as mãos em meu peito me impedindo de continuar andando, meus olhos flamejantes só mirando aquele arrombado cínico atrás dele. Porra. Eu podia simplesmente tirar o Deku da minha frente em um piscar de olhos, mas, do jeito que eu tava puto, eu não ia conseguir medir minha força e eu acabaria machucando ele.
- Relaxa, os vizinhos já devem ter chamado. – O filho da puta falou, tão calmo que me deixava mais puto ainda.
- Katsuki, por favor. Para. – Deku rapidamente falou por cima daquele cara de bunda, tentando desesperadamente impedir a merda que, se dependesse de mim, com certeza aconteceria.
- É, Katsuki. Escuta o Midoriya.
Rangi os dentes.
Puta que pariu, puta que pariu...
- Todoroki, por favor, não dificulta! – Deku se meteu. – Para, Katsuki, por favor. Não faz isso.
Tentei só me concentrar na voz do Deku e fechei os olhos, parando de tentar avançar. Respirei fundo e me afastei rápido, bagunçando meus cabelos. Que caralho. Mas que caralho! Eu definitivamente não imaginei que essa merda seria assim. Eu podia sentir o pacote do doce pesando no meu bolso e eu já não tinha mais ideia do que fazer – coisa que, no início, eu já não tinha muita mesmo.
Que porra de situação desgraçada do caralho. Eu não sei fazer nada além de meter porrada, então o que eu faria naquele momento se meter porrada é a única coisa que sei fazer, cacete?!
- Deku, eu... eu sei que eu não mereço te pedir isso, mas eu só quero que você me escute. – Encarei-o sério, tentando mostrar pra ele que, dessa vez, seria diferente. Eu não duvidaria que todos os outros vizinhos estivessem com os ouvidos grudados nas portas também, esses arrombados fofoqueiros do caralho, mas eu tava cagando pra eles. – Por favor.
Porra, cê tem noção? Eu já tinha esquecido o significado dessa palavra e, num único dia, já tinha dito ela tantas vezes que queria vomitar.
Só o Deku mesmo pra me foder assim.
E ter que implorar ao Deku na frente do cara que trepou com ele...
Porra, eu me controlava pra não pensar nessas coisas e tentava me focar só nos olhos do Deku, senão tudo ia por água abaixo de novo, igual quase aconteceu há poucos segundos atrás.
- Então fala. – Ele disse com indiferença, cruzando os braços.
O tique nervoso no meu olho esquerdo foi ativado com sucesso.
- Porra, Deku. Sozinhos.
Será que é tão difícil, porra?!
- Não quero ficar sozinho com você. – Ele falava com firmeza. Cada palavra sua era tão afiada que me cortava um pouco a cada maldita sílaba. – Se você quer conversar, então vai ser sob as minhas condições. Você que veio aqui sem ser convidado e eu não vou mover meio mundo só porque o princeso quer privacidade. Vai, fala.
Porra, mas que caralho!
Desde quando ele virou esse tampinha arrogante do caralho?! Filho da puta!
De novo, meu olhar caiu na cara de peixe-morto do Duas Caras parado que nem encosto atrás dele. Fechei os punhos e respirei fundo antes de voltar a encarar o Deku.
Já tinha perdido a conta de quantas vezes respirei fundo nesse caralho.
- Vai ser assim, então?
Ele me encarava com determinação e de cabeça erguida, mesmo só sendo um tampinha de meio metro.
- Exatamente assim.
Ah, caralho.
Suspirei, batendo o pé.
- Deku, eu... porra, cara... – Bufei, não conseguindo organizar as palavras na minha cabeça. – Caralho, como cê quer que eu fale contigo na frente desse merda?! Eu preferia chegar aqui e levar porrada de você do que ter que ver essa ceninha do caralho.
- Por que isso te incomoda mesmo? – Arqueou a sobrancelha, os braços firmemente cruzados na frente do peito. Iih, o tampinha tirando onda, vê se pode... – Minha vida pessoal não diz respeito a você, mas não, Todoroki e eu não transamos. O que importa te falar isso mesmo? Você não vai acreditar em mim, de qualquer forma. Você pensa que eu sou uma puta, né? Que eu só penso em pau e que tem mil chifres na tua cabeça, né? Porque é assim que eu sou, uma vadia que sai por aí chifrando todo mundo e tirando foto com todos os meus amantes pra guardar de recordação.
Pela primeira vez na frente do Deku, eu fiquei com vergonha de mim mesmo e não soube como reagir àquilo. Só o que eu podia fazer era ficar calado, engolindo tudo aquilo e me sentindo mais merda ainda.
Eu podia sentir a dor e o peso no que ele dizia, podia sentir que eu tinha aberto um buraco profundo em seu peito, que ainda não cicatrizou e que talvez nunca cicatrizasse. E, ver o quanto ele tava machucado, me machucou também.
Abaixei a cabeça.
- Não, eu não penso nada disso, eu... – Apertei os lábios, encarando os pés descalços dele. – Eu só... – Meu coração batia forte dentro do peito.
Não faço ideia do que falar. Não faço ideia de como contornar essa situação de merda.
Mas...
Em passos lentos e ainda de cabeça abaixada, me aproximei dele, que estufou ainda mais o peito e botou o queixo lá em cima, totalmente armado pra mim. E eu não podia esperar menos do que isso.
Não sou bom em falar, mas sou bom de mostrar.
Estiquei a mão pra segurar a dele e olhei em seus olhos como se pedisse permissão. Ele não me impediu, mas me encarou com um olhar confuso e desconfiado, com um ponto de interrogação no meio da testa, não entendendo merda nenhuma. Virei a palma da sua mão pra cima e abri seus dedos, segurando as costas da sua mão com a minha, tudo sendo seguido pelo olhar interrogativo do Deku e o olhar sério do Duas Caras.
Com a outra mão, peguei o pacote, com a logo daquela confeitaria bem estampada ali, do meu bolso. Botei o doce em sua palma aberta e encarei seus olhos verdes, que, arregalados, me encaravam, tão perdidos de um jeito que nunca vi igual. Ele tentava encontrar explicações em meus olhos, e eu tentava encará-lo de uma forma que mostrasse tudo o que eu sentia e não conseguia dizer.
Eu queria que ele soubesse que, mesmo naquela época, quando eu fingia não ligar pra nada, eu prestava atenção nele em cada instante que eu tinha. Que eu o olhei e o escutei em todas as vezes.
- Era verdade. – Murmurei, ainda segurando as costas da sua mão e encarando a embalagem sobre ela, sem coragem de encarar seus olhos.
- Do que você tá falando...? – Sua voz saiu em um sussurro. Eu podia sentir que sua mão tremia sob a minha.
Fechei os olhos e suspirei ao lembrar da porra do dia da luta, quando, em um momento de insanidade, deixei escapar que ele é a merda da minha fraqueza. E, depois, eu menti, achando que isso me tornaria mais forte.
Mas eu fui fraco quando menti.
- Eu não sou fraco, Katsuki.
- Eu sei. Eu que sou, Deku. Por você.
- Naquele dia... no dia da luta... – Lentamente, meus olhos voltaram a se conectar com os dele, que pareciam perdidos. – Eu menti pra você.
- Eu sabia que o único jeito de quebrar com tua pose de macho alfa era tocando no seu coração de garota virgem. Só precisava te amolecer de alguma forma, e foi o que eu fiz.
- O quê? – Ele não tava entendendo porra nenhuma.
Porra, Deku, podia ser menos burro, não?
Facilita pra mim, caralho!
- Foi da boca pra fora. Não significou nada. Eu acabaria com você tão fácil que seria covardia, por isso não queria lutar, mas eu sabia que você não largaria o osso se eu dissesse a verdade. Então joguei uma lorota qualquer pra você se tocar. Claro o suficiente pra você agora?
- É que... naquele dia... - Apertei sua mão com força. Por que é tão difícil só falar, porra? Eu sempre falo toda a merda de caralho que eu quero e de repente parecia que alguém tinha cortado a caceta da minha língua fora. Talvez se aquele merda do Duas Caras não estivesse ali pra foder a porra do clima... – Eu menti quando disse que era mentira.
- Se eu disser que era verdade, o que você diria?
- Diria pra você calar a boca e terminar de lavar a louça.
Ele pareceu entender quando arregalou os olhos, e eu quis mais do que tudo beijá-lo naquele momento. Talvez não fosse o melhor momento, mas eu queria pra caralho. Na frente do meio-a-meio mesmo, que se foda, queria mais é que ele visse mesmo, se pá ele até ia bater uma punheta, esse arrombado tarado do caralho. Encarei o pacote do doce na mão trêmula do Deku e, naquele momento, já não sabia mais se era a dele ou a minha própria que tremia.
Encarei seu rosto.
Meu peito doía como se aquela fosse a última vez que eu iria olhar pra ele daquela forma.
– Espero que cê ainda goste dessa merda de morango com chantilly.
Sem falarmos mais nada um ao outro, o rosto confuso e paralisado do Deku foi a última coisa que vi antes de descer as escadas.
O peso em meus ombros enquanto descia aqueles degraus, agora, era maior do que quando eu tava subindo.
Não seria nada fácil. Não mesmo.
Meu coração tava acelerado pra caralho.
Não cheguei nem perto de falar tudo o que eu queria e sentia um nó na garganta por causa disso, mas nem fodendo que eu ia deixar passar mais um segundo.
Eu vou ver o Deku na U.A. hoje e ele não vai fugir dessa vez.
E eu vou ter que fazer bem mais do que só comprar um cupcake de morango com chantilly.
~*~
[cabeça de piroca]: ei cara
[cabeça de piroca]: a uraraka me mandou print da conversa de vcs hj
[cabeça de piroca]: chorei mano :')
[cabeça de piroca]: VOCE EH TAO FOFO BRO
[cabeça de piroca]: tava escondendo esse poeta aí dentro de vc esse tempo td? Que desperdício
[Katsuki]: vAI PRA PORRA KIRISHIMA CARALHO QUE ODIO VAI SE FODER FOFA EH A TUA MAE AQUELA PUTA Q ARREGACOU A XOTA P BOTAR UM COCOZAO Q NEM TU NO MUNDO
[Katsuki]: seu merda arrombado fofo eh esse teu cu frouxo
[Katsuki]: porra
[cabeça de piroca]: eta
[cabeça de piroca]: to vendo q a tua visita pro izuku n deu bom ne mano
[Katsuki]: a porra do deku tava com o duas caras cafalho
[cabeça de piroca]: que??? O shoto??
[Katsuki]: quem mais tem duas caras nesse caralho porra???????
[Katsuki]: os filho da puta sao vizinho
[cabeça de piroca]: QUE
[cabeça de piroca]: TA ZOANDO
[cabeça de piroca]: KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
[Katsuki]: QUAL FOI PORRA
[Katsuki]: ENFIA ESSA PRRA DE RISADA NO TEU CU
[Katsuki]: CARA SE TU TIVESSE NA MINHA FRENTE JA TAVA EM COMA
[Katsuki]: TA DE QUAL LADO CARALHO
[cabeça de piroca]: KKKKKKKKKKKKKKKKKK
[Katsuki]: fds vo bloquear
[cabeça de piroca]: NÃO CARA
[cabeça de piroca]: ai dsclp
[cabeça de piroca]: cês dois são pura comédia manoKK n aguento
[Katsuki]: vai se foder porra espero q a jararaka estraçalhe esse teu cu com o pauzao de 30 cm dela
[cabeça de piroca]: qual eh cara, foi mal
[cabeça de piroca]: dsclp se fui insensível
[cabeça de piroca]: cê deve ta malzao
[Katsuki]: to de boa
[cabeça de piroca]: sério??
[Katsuki]: claro po
[Katsuki]: tranquilo
[cabeça de piroca]: oxe
[Katsuki]: tranquilao dps de ver q a pORRA DO DEKU PASSOU A NOITE NA CASA DE OUTTO FAZENDO SEI LA OQ
[cabeça de piroca]: a bom já tava estranhando
[Katsuki]: UM CARA Q EU N SUPORTO AINDA POR CIMA
[Katsuki]: PORRA VAI TOMA NESSE TEU CU CABELUDO CRL
[cabeça de piroca]: mas cê n suporta ngm cara
[Katsuki]: fodase
[cabeça de piroca]: ce acha q eles transaram?
Fiquei pensando com aquela mensagem.
Eu sinceramente ainda não sabia o que pensar.
Eu sabia que o Deku falou a verdade quando disse que não rolou nada, deu pra ver, mas meu ciúmes ainda me cegava um pouco. Esse tipo de coisa ainda é difícil pra caralho pra mim.
Suspirei, irritado.
Fui direto pra casa depois de sair do prédio do Deku, me joguei de cabeça na cama e não saí mais de lá.
Tava encarando o teto e pensando que caralhos tô fazendo com a porra da minha vida.
[Katsuki]: sei la porra
[Katsuki]: n quero pensar nisso
[Katsuki]: o deku falou q n rolou nada
[Katsuki]: mas esse duas caras do caralho tá doidao p esconder o pau nele q eu to ligado, e n tem motivo pro deku falar q nao ne
[cabeça de piroca]: é cara, foda
[cabeça de piroca]: n te culpo, eu tb ia ficar pilhado na real
[cabeça de piroca]: nunca eh fácil ver quem tu gosta com outro, independente se eles tao transando ou não
[cabeça de piroca]: e foda q eh o shoto eh gato pa carai ne
[Katsuki]: EOQ CRL
[cabeça de piroca]: mas cê tem q entender q eh isso mano
[cabeça de piroca]: vc n pode fazer nada sobre isso
[Katsuki]: eu sei porra, ce acha q eu vo pegar uma arma e apontar pra cabeça do deku berrando na cara dele p ele n montar em pau nenhum????
[Katsuki]: nao fode kirishima
Eu mentiria se dissesse que eu não tinha uma vontade do caralho de castrar o Pavê e depois fazer ele engolir o próprio pau, mas sentir vontade não é crime, né?
[cabeça de piroca]: KKKK
[cabeça de piroca]: eu só quis dizer pra vc n ficar pensando nisso, pq n faz diferença
[cabeça de piroca]: até pq dps de quatro anos ce n podia esperar q o izuku tivesse livre dando sopa por aí e pulasse nos seus braços na primeira oportunidade ne rsrsrs
[cabeça de piroca]: sejamos realistas
[cabeça de piroca]: teu foco eh resolver as coisas com o deku e pronto, deixa os outros p la
[Katsuki]: eu sei porra
[cabeça de piroca]: sabe???
Revirei os olhos.
Esse merda acha que eu tenho retardo mental, puta que pariu.
[Katsuki]: claro kct, ou tu acha q eu ia ficar naquela sessao de tortura sovietica ontem falando boiolisse e te ouvindo falar boiolisse p crl se eu n tivesse certo do q eu quero???
[Katsuki]: claro q a ideia de q o pave quer comer o deku e tem altas chances de conseguir me deixa puto p crl, mas q se foda, comigo na jogada agr ele vai ter q ralar p um santo crl
[Katsuki]: o deku pode ter todos os motivos p me odiar mas eu confio na porra do meu taco
[Katsuki]: vo mostrar p esse merda arrogante do meio a meio q mesmo eu chegando 4 anos atrasado ainda n to tao atras assim
[Katsuki]: ele tava falando cmg com mó ar de gangsta rei da cocada preta acredita nessa porra????
[Katsuki]: to doido pro velho botar a gnt p lutar de novo q eu vo arrastar a cara arrogante dele no chao vo arrancar os dentes dele e fazer ele engolir
Falar é fácil, mas a verdade é que eu tô inseguro pra caralho com toda essa merda, como nunca antes. Porra, não dá pra mentir, o meio-a-meio até que tem uma aparência decente e eu mentiria se dissesse que eles não combinam um com o outro, e isso me deixa pilhado pra cacete. Talvez esse filho da puta até mereça mais o Deku do que eu.
Não. Só por ele não ter feito a cagada que eu fiz com o Deku, eu já sei que ele merece muito mais do que eu. Fala sério, eu não mereço ser nem tapete pro Deku pisar – e, pra eu ter coragem de falar uma porra dessa, é porque é sério pra caralho.
Fico puto com isso porque é como admitir que o Pavê é melhor, mas foda-se, o que eu posso fazer além de aceitar essa merda? Botar Peppa Pig na TV e ficar assistindo até dar um curto-circuito na minha cabeça e eu ter um traumatismo craniano pra esquecer?
Mas eu não vou abaixar a cabeça. Não vou embora de novo, como fiz há quatro anos atrás.
E sim, eu sei que isso me faz um egoísta do caralho, mas eu não tô nem aí, eu já sou todo errado mesmo.
Eu vou mostrar pro Deku que eu vou fazer as coisas direito dessa vez.
[cabeça de piroca]: OPAAAAA
[cabeça de piroca]: EH ASSIM Q SE FALA IRMAO
[cabeça de piroca]: n consigo imaginar o santo todoroki falando como um gangsta mas blzkkk
[cabeça de piroca]: ai q orgulho cara, cê tá evoluindo
Tô?
[Katsuki]: querer arrebentar a cara de maluco virou evolução agr
[cabeça de piroca]: MANO OLHA SO PRA VC
[cabeça de piroca]: VC TA ME DEIXANDO SER TEU COACH DE RELACIONAMENTO
[cabeça de piroca]: TA SE ABRINDO CMG
[cabeça de piroca]: quer dizer, “se abrindo” daquele jeito ne, meio zoado e pa
[cabeça de piroca]: mas isso vindo de alguem q mal me contava como foi o dia, na maioria das vezes só me mandava ir tomar no cu qnd eu perguntava
[cabeça de piroca]: porra
[cabeça de piroca]: se isso n eh evolução ent o próprio Buda vai ter q descer aq na Terra e me explicar senão eu entendi tudo errado
[Katsuki]: ala o merdao achando q eh coach q otario
[Katsuki]: to so fazendo caridade curupira se emociona n
[cabeça de piroca]: SEM FALAR QUE
[cabeça de piroca]: do jeito q tu eh orgulhoso eu achei q ce ia logo ficar puto com o lance do todoroki e desistir de tudo
[Katsuki]: k
[Katsuki]: ce n me conhece msm ne?
[cabeça de piroca]: bakugo apaixonado eh uma skin q eu acabei de desbloquear e to vendo como funciona ainda
[Katsuki]: n fode cabeça de piroca
[cabeça de piroca]: falando em cabeça de piroca
[cabeça de piroca]: meu contato no teu cel ainda eh cabeça de piroca???
[Katsuki]: eh
[Katsuki]: se reclamar vai virar cabecinha de piroquinha
[cabeça de piroca]: poxa :'(
[cabeça de piroca]: mas eai ce n contou nada
[cabeça de piroca]: como foi??? Desceu a porrada no Shoto?
[Katsuki]: porra nem fala nisso q a mão do soco chega treme
[cabeça de piroca]: KKKKKKKKKK
[Katsuki]: claro q eu n desci o cacetao nele porra deku me mataria
[cabeça de piroca]: MEU DEUS MANO
[cabeça de piroca]: oq o amor n faz com um ogro.......... :’)
[cabeça de piroca]: eh tipo o shreka e a fiona
[cabeça de piroca]: tão lindo
[Katsuki]: a mama meu pau vai
[cabeça de piroca]: EAI FALA MAIS CARAI
[cabeça de piroca]: pelo visto cê se enrolou todo e n deve ter falado nada com nada né?? Aí tu foi embora e o izuku ficou com cara de tacho, eh isso??
Porra, Kirishima é tipo Deus, onipresente em todos os lugares?! Mas que caralho!
Como ele acertou em cheio?! Miserável maldito!
Eu não ia comentar sobre o cupcake nem fodendo, Kirishima cai pra trás se descobre que eu desci nesse nível de boiolagem. Eu até disse que agora não ligo mais de parecer boiola, mas isso só vale pro Deku, não virei uma fada que fica distribuindo purpurina pra todo mundo não, caralho.
[Katsuki]: tipo isso
[Katsuki]: e o foda eh q ele tava todo marrentinho e ainda por cima tinha aquELE PAVE DO CARALHO DANDO UMA DE GUARDA COSTAS VAI TOMAR NO CU
[Katsuki]: fico puto
[cabeça de piroca]: ownt
[cabeça de piroca]: eu adoro como vc simplesmente odeia ter q passar por tudo isso e vai totalmente contra a sua natureza mas vc faz mesmo assim pq vc ama ele
[cabeça de piroca]: aff fico todo bobo
Puta merda, muito boiola.
Imagina se eu tivesse falado que comprei um doce idiota pro Deku, então? Aí o boiola morria de vez.
Ainda bem que a gente tava falando por mensagem, senão ele ia ver minha cara pegando fogo de vergonha e aí fodeu.
Marica, quem ele pensa que é saindo por aí deduzindo um monte de bosta sobre mim?
O que me deixa mais puto é que ele sempre acerta, ah, vai pra porra, cabeça de piroca!
[Katsuki]: e o viado aq sou eu
[Katsuki]: vai toma no cu
[cabeça de piroca]: ei, eu smp tive curiosidade sobre uma coisa
[Katsuki]: e sobre oq q ce n tem curiosidade ne seu primata do kct???
[Katsuki]: pau no cu intrometido pa carai parece ate minha tia aquela piranha fofoqueira
[cabeça de piroca]: eta casos de família com Bakugou Katsuki
Ah, longa história.
Resumindo, minha tia filha da puta por parte de mãe é emocionada pra caralho. Só porque no niver de 46 anos dela a filha deu um perdido na hora do parabéns e depois ela descobriu que eu tava comendo ela na dispensa, ah, fala sério, né, drama do caralho.
Aposto que ela só ficou puta porque era ela que queria levar uma pirocada de presente de aniversário.
Detalhe que foi quando eu perdi minha virgindade, até que foi daora. Eu tinha 14 anos na época.
[cabeça de piroca]: mas serio
[cabeça de piroca]: eh uma forte curiosidade q eu tenho
[Katsuki]: eu n vo comer teu cu kirishima porra que nojo mano
[cabeça de piroca]: N EH ESSE TIPO DE CURIOSIDADE CARALHO EUHEIN
[Katsuki]: hm sei
[Katsuki]: mo viadinho enrustido
[Katsuki]: faz logo a porra da pergunta de merda crl
[cabeça de piroca]: azideia
[cabeça de piroca]: ent, eu smp tive dúvida sobre isso
[cabeça de piroca]: tu se considera bissexual ne? Mas ce já ficou com outro homem alem do izuku?
O merda fez uma boa pergunta.
Eu já pensei sobre isso, muito na real, mas eu sempre ficava confuso pra caralho e preferia deixar pra lá, senão minha cabeça ficava a ponto de explodir.
[Katsuki]: cara
[Katsuki]: esse bagulho eh complicado
[cabeça de piroca]: DE HOMEM CE SO FICOU COM ELE???? OOOOWWWNT
[Katsuki]: calma caralho para de ser emkcionad
[Katsuki]: mlk irritante pqp
[cabeça de piroca]: ok ok hihi
[cabeça de piroca]: vai
Suspirei.
Eu ia mesmo falar sobre isso com a porra do Kirishima?
É, acho que eu ia.
Puta que pariu.
A que pinto eu cheguei?
[Katsuki]: eu ja fiquei com outros caras dps do deku
[Katsuki]: mas mano....... sla
[Katsuki]: n rola
[cabeça de piroca]: n rola oq??? pq???
[Katsuki]: a vai pa puta que pariu cabeça de pirocao
[cabeça de piroca]: poxa :'(
[cabeça de piroca]: vai me deixar nessa curiosidade msm irmao?
[Katsuki]: chupa minhas bola
Pensei melhor e nem fodendo que vou entrar nesse assunto com o Kirishima.
O que eu vou falar? Que eu não sinto tesão por outro cara e isso me broxa? Porra, nem fodendo, boiolagem do caralho.
Mas é isso. Eu já tentei ficar com outros caras depois dele, até rolava uma atração física e tal, rolou de transar e tal, mas eu começava a lembrar do Deku e a comparar o cara com o Deku e aí ia tudo pra merda. Era difícil pra caralho pra mim na época, porra, já tínhamos terminado e eu não conseguia afogar o ganso em outro cu em paz. Era frustrante e irritante pra caralho, não entendia o que fazia o cu do Deku ser tão mágico que eu não podia só comer outro sem ficar comparando. Claro que não era só o cu, porra, agora eu vejo isso, mas na época eu ficava cego de ódio e não entendia o que aquilo significava. A real é que eu tinha medo disso, odiava a sensação de que com o Deku era muito melhor e isso me deixava louco, então sempre ficava puto e frustrado pra caralho, até que eu parei de vez de tentar fazer acontecer com os caras e só fiquei com mina mesmo. Já que o sexo com homem e o sexo com mulher é diferente, minha cabeça ficava mais leve quando eu pegava alguma mina e não tinha essa coisa de ficar inconscientemente comparando tanto. Não que ficar com minas tivesse exterminado totalmente o Deku da minha cabeça, mas eu não ficava o tempo todo comparando quanto como eu fazia com os caras. Ainda assim, era frustrante, mas, com o tempo, fui aprendendo a lidar com toda essa merda. No fundo, por outro lado, sempre ficou faltando aquela coisa, mas eu fingia que tava tudo de boa e bola pra frente.
[cabeça de piroca]: mas entao oq vc pretende fazer hj?
[Katsuki]: n eh o óbvio porra?
[Katsuki]: vo falar com aquele merdinha direito
[cabeça de piroca]: hhhmmm sei
[cabeça de piroca]: e se ele n quiser
[Katsuki]: caguei
[cabeça de piroca]: eu super apoio tu ir atras do deku e acho q esse eh o certo msm
[cabeça de piroca]: mas vc tem q entender q ele precisa de espaço tb
[cabeça de piroca]: só n força mt a barra
[Katsuki]: quatro anos de espaço n foi o suficiente p vc n crl??
[Katsuki]: se eu quero mostrar pro deku q eu quero ele de novo eu n posso vacilar
[Katsuki]: na real ate to com uma ideia mt boa q vc vai odiar :D
Eu tô com uma ideia muito filha da puta martelando na cabeça. Sinceramente? Muito provavelmente essa ideia me torna um pouco psicopata. Eu sei que não é lá a merda do plano mais certo, ético ou decente do mundo, mas que se foda. Eu tenho que jogar com as armas que tenho nessa porra, né?
Eu tenho que estar tão próximo do Deku quanto o Pavê está, se eu quiser passar na frente dele. E, se isso me torna um pouco mais filho da puta do que já sou, então que diferença faz?
[cabeça de piroca]: to morrendo de medo desse emoji
[cabeça de piroca]: vc nunca usa emoji cara
[cabeça de piroca]: se eu vou odiar boa coisa n deve ser
[Katsuki]: ;)
[cabeça de piroca]: para com isso ta me assustando
Hoje ele não vai fugir de mim, e não vai ter porra de Duas Caras nenhum pra brotar de encosto.
Na real, se a minha ideia doida rolar, muito provavelmente o Deku vai me odiar.
Mas ele já me odeia pra caralho mesmo, o que é pisar na merda pra quem já tá todo cagado?
~*~*~*~
Midoriya
- Um cupcake?
- Um maldito cupcake.
- Ownt.
- Ownt?! – Depositei a garrafa de cerveja barata com força sobre o balcão, não acreditando no som que saiu da boca da Uraraka. Ela, sentada em uma das cadeiras do bar, deu de ombros e despejou a cerveja em um copo. – Que porra esse ownt significa?!
- Ah, qual é, Deku. Foi fofo, vai. – Deu um gole na bebida.
Revirei os olhos e fui atender outro cliente antes de voltar até ela, limpando os copos só para fingir que eu tava concentrado no trabalho, quando na verdade tava botando a fofoca em dia.
- Fofo? Puta merda... – Soltei um riso nasal e balancei a cabeça, descrente. Uraraka é mesmo uma tonta às vezes. – Amiga, você não conhece o Katsuki.
- Conheço o suficiente pra saber que ele não compraria um cupcake pra qualquer pessoa. Ele não daria nem a mão pra alguém segurar, quanto mais gastaria dinheiro com um presente, por mais mínimo que fosse. E você disse que é da sua confeitaria favorita, né? E ainda do seu sabor favorito?! Ah, qual é, Deku.
- Pelo amor de Deus, você não entende?! – Quase quebrei um dos copos de tanta força que impus ali ao limpá-lo. Respirei fundo e peguei outro copo pra limpar. A U.A. tava ridiculamente cheia hoje, tudo porque mais uma luta do rEi dAs eXpLoSõEs aSsAsSiNaS foi anunciada. Fala sério, né, já tava com náusea de ver tanta gente bêbada gritando esse nome ridículo pra lá e pra cá. A ideia de largar esse emprego nunca me pareceu tão real quanto naquele momento, eu já não tava aguentando mais e não seria sincero comigo mesmo se continuasse me massacrando a ficar mais um minuto ali. Tudo era tão... tão cheio de Katsuki, que me dava nos nervos. – É justamente por isso ser algo inacreditável demais vindo dele que suas razões não são nada boas. Uraraka, confia em mim, eu conheço o Katsuki como ninguém. Ele só quer me comer.
- Carai, esse teu cu é de ouro mesmo, hein, Deku? – Mais um gole na cerveja, sorrindo de lado.
- Claro, e é por isso mesmo que ele vai precisar de MUITO mais do que um cupcakezinho pra comer ele. – Pera, quê? Bufei com a merda que eu soltei, e a Uraraka quase cuspiu a cerveja da boca ao começar a rir pra caralho. – Não que eu vá dar pra ele, de qualquer forma. Eu não daria pra ele nem se ele escalasse o Monte Everest só pra comer meu cu, mas você entendeu o que eu quis dizer.
- Assunto interessante esse aí, hein? – Kirishima comentou ao passar pela gente, cruzando até o outro lado do balcão pra atender mais gente, já que eu decidi procrastinar para conversar com a Uraraka e já tava me arrependendo disso, essa víbora não merece que eu gaste saliva por ela.
Graças a fala do Kirishima, senti o rubor tomando conta das minhas bochechas e agradecia pela iluminação horrível do lugar não deixar a minha vergonha tão aparente. Enquanto isso, Uraraka quase desmaiava de tanto gargalhar. Retardada.
- Mas você não acha que significa alguma coisa o fato dele lembrar qual é a sua confeitaria favorita e o seu sabor favorito? – Ela arqueou a sobrancelha, me lembrando com aquela expressão como se ela fosse esperta pra caralho. Fiz a minha maior cara de foda-se. – Por mais que seja só um doce, me parece ser muito mais profundo do que isso.
- Não, não significa. – Abri um sorriso debochado. - Ele continua sendo um cretino.
Não vou mentir, e também não me orgulho de dizer isso, mas eu até que fiquei bem surpreso na hora. Não me deixei abalar muito por isso, entretanto. Com o Katsuki, você não pode se deixar levar. Tudo não passa de uma ilusão. Uma perfeita e tentadora ilusão.
- E não tô entendendo qual é a tua, você tá defendendo aquele idiota? – Joguei o pano sobre meu ombro, arqueei a sobrancelha e apoiei as mãos sobre o balcão, uma pose que seria de botar medo em qualquer um. Isso se eu não fosse o Izuku.
- Tá doido, Deku? Eu tô do seu lado sempre, mas nem por isso vou deixar de dizer o que eu acho. Não tô dizendo que o Katsuki mereça que você se jogue nos braços dele, nem perto disso, só eu sei o quanto ele te machucou e, acredite, eu tento tanta raiva dele por isso quanto você. – Fiquei surpreso com suas palavras e pisquei os olhos, abaixando a guarda e voltando a minha posição normal. – Só que não é porque ele é um babaca que eu acho que ele é um ogro sem coração. Eu acredito firmemente que ele gosta de você. E muito. Só que do jeito dele. Desse jeito todo estranho e bizarro de demonstrar. – Ah, pelo amor de Deus, podemos mudar de assunto? Revirei os olhos e voltei a atender as pessoas que estavam em volta da Uraraka, mas ainda prestando atenção no que ela dizia. – E, por favor, não vamos esquecer de um detalhe... ele foi enganado também, né? Pelo o que você me disse, ele falou alguma coisa sobre fotos. Alguém enganou ele, Deku. Pelo amor de Deus, esse tipo de coisa só acontece em novelas, eu também acreditaria super se fosse ele. Quais são as probabilidades de alguém editar fotos só pra fazer com que duas pessoas se separem? – O QUÊ? Quando Uraraka viu a cara horrorizada que eu fiz, já me preparando pra soltar uma avalanche em cima dela, ela logo começou a mexer os braços exasperadamente e não demorou meio segundo pra voltar a falar. – Sim, eu sei que ele continua sendo um babacão cuzão, calma! Só tô procurando olhar o lado dele também.
- URARAKA, PELO AMOR DE DEUS! – Berrei e, nesse momento, um monte de bêbabos me olharam. Encolhi os ombros e me aproximei mais da Ochako, que me fitava com um olhar de tédio. – Pare de falar assim do Katsuki, tá me irritando. Eu vou começar a desabafar sobre isso com outra pessoa, é o que você quer?
- Quem? O Kirishima? Ou o Shoto? – Levantou a sobrancelha.
Rangi os dentes.
Meu Deus, que garota irritante!
- O cara terminou comigo sem mais nem menos, me fez sofrer pra um santo caralho, por quatro anos fiquei nadando no meio do mar sem nunca chegar em lugar nenhum, e você vem falar pra mim ah, tô procurando ver o lado dele?! – Semicerrei os olhos para ela, realmente indignado e ofendido com o rumo daquela conversa. Porra, eu só quero alguém que me abrace e xingue o Katsuki junto comigo, é tão difícil?! Eu definitivamente preciso de amizades novas. – Quero que se foda o lado dele! – Bati com a mão fechada na bancada, e até eu mesmo me surpreendi um pouco com minha atitude impensada, mas eu tava tão transtornado que não parei pra me recompor. É assim que o Katsuki me deixa, fora de mim. Alguém que me deixa assim não é o tipo de pessoa que eu quero pra mim. - Ele não merece a sua pena, muito menos a minha. Ele foi na minha casa hoje e nem pediu desculpa! Tava mais preocupado em manchar a pose de machão dele na frente do Todoroki. – Revirei os olhos. – Pelo amor de Deus, esse cara é ridículo. É capaz até dele não ter pedido desculpa por se achar certo ainda. Vindo do Katsuki, não duvido de nada. E também não quero mais pensar no que ele tá pensando, se ele ainda acha que é o corno ou sei lá mais o quê, gente como ele não vale a pena gastar saliva. Quero distância só.
Uraraka suspirou, mas não falou mais nada. Bebeu mais um gole da cerveja e se virou para assistir um pouco uma luta aleatória que se desenrolava. Me afastei um pouco pra servir mais pessoas. Ainda assim, eu só conseguia pensar no acontecimento de mais cedo. Passei o dia inteiro assim, na verdade. Preferi até não ir pra faculdade, olha só a merda que o Katsuki faz comigo, me fazendo perder aula! Eu definitivamente mato esse infeliz.
Aqui, agora, na U.A., eu sou uma pessoa totalmente diferente daquela que acordou hoje de manhã. Todo decidido e irritado, mas nenhum pouco semelhante a como eu estava quando Katsuki desceu as escadas do meu prédio. Meu coração tava prestes a saltar pela boca naquela hora, eu não sabia o que pensar, meus dedos nem ao menos estavam firmes, eu sentia como se aquele maldito doce fosse cair da minha mão a qualquer momento.
Quando ele pegou minha mão, tão delicadamente, e botou o pacotinho em cima dela, com o nome SweetDream da confeitaria bem estampado na embalagem... lá no fundo, eu já senti uma vontade de chorar ameaçando surgir, mas me segurei. Porra, me segurei demais.
Eu olhava pro Katsuki e não entendia o que caralhos se passava na cabeça dele.
O que ele estava fazendo? Não fazia o menor sentido.
- Eu... e-eu... – Pigarreei. – Obrigado. Mesmo. Por tudo. – Abri um sorriso pro Todoroki quando ele, com a mão em meu ombro, me perguntou se eu queria voltar pro apartamento dele e terminar de comer o café da manhã. – Mas de repente fiquei sem fome. Eu só preciso ficar um pouco sozinho. Desculpe. – E, sem dar mais brecha pra nada, fui pro meu apartamento e bati a porta. Quando eu abri a embalagem e vi o cupcake de morango com chantilly, o sabor que eu mais gostava e há muito tempo não comia – parei de frequentar aquela confeitaria depois que Katsuki e eu terminamos, só porque o lugar me trazia muitas lembranças e era demais pra suportar -, minhas mãos tremeram horrores, senti um embrulho no estômago e uma vontade gigantesca de gritar. Cerrei os dentes e, cego de ódio e sem pensar muito, marchei até a cozinha, abri a lixeira com o pé e taquei aquele cupcake inútil lá dentro.
Meus pensamentos foram interrompidos quando a Uraraka fez um sinal com a mão, me chamando. Ela pediu mais uma cerveja e, depois que eu a entreguei, a garota voltou com o maldito assunto:
- E o que você fez com o cupcake? Comeu?
- Tá doida? E se ele tivesse envenenado? – Primeiro, ela me olhou como se eu fosse maluco, depois começou a rir. – Nem fodendo. Taquei no lixo.
- VOCÊ, O QUÊ? – Arregalei os olhos com sua reação. – Ai, Deku! Tanta gente passando fome e tu faz isso! Podia ter dado pra mim, pelo menos.
Revirei os olhos. Que maldita!
- Tu só pensa em você mesmo, né? Víbora!
Ela riu e bebeu um pouco da cerveja, me oferecendo também ao me estender o copo. Dei de ombros e bebi.
- Mas e aí, você comentou algo sobre ele ter dito que mentiu pra você...
- Ah, sim. – Revirei os olhos. E ainda tinha mais essa. O Katsuki me vê como um brinquedinho pra jogar de um lado pro outro e pisotear, só pode. – Eu te disse, né, que no dia da luta ele me falou que não conseguia me bater porque eu era a fraqueza dele e blá, blá, blá... – Ficava enjoado só de lembrar daquilo. Nossa, como eu fui burro quando me deixei levar por esse papinho!! Claro que eu duvidava muito, mas, ainda assim, uma parte de mim – uma grande parte, na verdade – queria muito que fosse verdade. - No mesmo dia, quando eu tava na casa dele, ele disse que foi mentira, que só falou aquilo pra eu ficar emocionadinho e cair fora. Fiquei mal pra caralho com isso e me senti um idiota por ter cogitado que fosse verdade, porque o Katsuki nunca que seria capaz de botar algo como isso pra fora e, se fez, é porque é mentira.
Engoli em seco ao lembrar do que ele tinha dito hoje de manhã. Corei e senti um arrepio só de lembrar e, por mais que eu soubesse que a Uraraka não conseguiria ver, ainda assim, foi automático quando virei a cabeça, inevitavelmente ficando sem graça ao lembrar daquela cena patética. Eu fiquei muito confuso nos primeiros cinco minutos, mas depois entendi qual era a dele. Óbvio que eu fiquei todo coisado na hora, sem chão com aquelas palavras, porém, foi só jogar o cupcake fora que eu me recompus. Ao menos superficialmente.
– Mas hoje... ele falou que mentiu quando disse que era mentira.
Uraraka abriu um sorrisinho e a veia da minha testa saltou.
- Que porra de cara é essa, Uraraka?!
- Ah, qual é, Deku!
- Ele tá querendo me manipular, você não vê isso?!
Porra, não posso acreditar que ela seja tão burra e, pior, esteja se deixando levar pela carinha bonita dele! Porque só pode ser isso, não existe outra explicação. Se o Katsuki parecesse uma mistura de hiena com avestruz, certeza que ela não estaria romantizando isso tanto assim. Que piada!
- Meu Deus, Deku, por que ele se esforçaria tanto pra isso?! Mesmo se ele te odiasse, não é o tipo dele fazer isso e você sabe. Ele te ignoraria e seguiria com a vida. No máximo te bateria, mas já vimos que isso ele é incapaz de fazer, né? E, vindo do Katsuki, isso é surreal...
- Ele não me bate porque me acha a porra de um fracote! É ISSO, PORRA! – Já tava perdendo as estribeiras de novo. Porra, falei, Katsuki tem esse poder absurdo de me descontrolar! Que ódio! E, ainda por cima, Uraraka tava lá, apoiando esse lixo. Fala sério, né! Pra que inimigos já tendo a Ochako de amiga?! – Você acha isso fofo? Eu só fiquei com mais ódio ainda. Ele é assim, um merda. Odeio como ele é tão imprevisível, eu não entendo o que se passa na cabeça doente dele. Brigamos pra caralho ontem, eu diria até que foi a nossa pior briga. Aí ele surge na minha casa, me dá meu cupcake favorito da minha confeitaria favorita, diz umas coisas sem sentido e vai embora? Simplesmente? – Peguei a garrafa da Uraraka e bebi metade da cerveja direto no gargalo. Ela me olhou incrédula e tomou a garrafa de volta, me lançando um olhar feio. – Não aguento isso. Odeio como ele é tão... tão filho da puta. Eu sempre tenho que tentar decifrá-lo e não aguento mais isso. Aprendi que, se eu tô com uma pessoa com quem eu tenho que ficar tentando entender qual é a dela, então definitivamente eu tenho que fugir dessa pessoa.
Ele poderia vir rastejando até mim e, por mais que por algum motivo insano eu continue sentindo um amor ilógico por ele, eu não o aceitaria de volta. Eu posso ser assim, posso ser sentimental e ainda trouxa pra caralho, mas não sou o Izuku de antes.
Aprendi que, quando somos adolescentes, o sentimento é o suficiente.
Quando crescemos, aprendemos que um relacionamento precisa de mais do que isso.
O Katsuki me atrai demais, em todos os sentidos. Não posso negar que temos uma química de outro mundo. É algo que nunca tive com ninguém antes e, sinceramente, às vezes me pego seriamente pensando que não há outra pessoa que consiga fazer comigo o que ele faz. Temos uma ligação que eu não entendo. Tem algo nele que desperta tudo que há de errado e certo em mim. Ele é como um vulcão entrando em erupção, vem de repente e faz um estrago absurdo.
Entretanto, o que adianta tudo isso se só funcionamos na cama?
Relacionamento não é feito só de sexo. Pelo menos, não o tipo de relacionamento que eu quero para mim.
Eu só era jovem demais para separar a razão da emoção. Era jovem demais para ignorar o calor que eu sentia perto dele, para ignorar o quanto ele era quente, apesar de tão errado. Tão o contrário de mim. E, se eu aprendi tudo o que eu aprendi hoje, é porque o meu eu jovem errou demais, então não posso culpar o antigo Izuku por não saber. Eu era só um jovem de quinze anos que estava apaixonado demais e tinha todo aquele ideal dos contos de fadas, ignorando tudo o que me diziam para escutar só a minha voz interior, acreditando que, no fundo, Katsuki tinha um bom coração. Só precisava de alguém com paciência para remover todas as camadas.
Mas não. Isso não existe. As pessoas não mudam.
Elas são o que são.
Contos de fadas não são reais, é por isso que se chamam contos de fadas.
- Eu só quero o que vai te fazer feliz, Deku. – Uraraka comentou de repente, bebendo da sua cerveja. Arregalei os olhos, surpreso com a sinceridade em suas palavras. Estava esperando por mais alguma piadinha que iria me deixar puto. – Se a resposta pra isso for ficar longe do Katsuki, então você tem total meu apoio.
Hm.
Semicerrei os olhos.
- Isso é mais uma de suas armadilhas, por acaso? Cê não tá tramando alguma coisa com o Kirishima de novo não, né?
Ela riu, levando a mão ao peito como se estivesse ofendida.
- Mas o que é isso?! Assim você me ofende, Deku!
- Víbora não fica ofendida, víbora finge que fica ofendida, engana e depois dá o bote. – Semicerrei ainda mais os olhos e ela só riu. Uma risada muito suspeita, inclusive. Então, ela se virou e, bebendo, assistiu o final da luta.
Eu continuei atendendo os clientes e até consegui me distrair um pouco, vez ou outra Kirishima me pedia alguma ajuda ou me mandava fazer alguma bebida diferente, sabe, nada novo. Porém, a paz não durou muito, porque o apresentador pegou o microfone e anunciou a próxima luta da noite, só conseguindo a minha atenção quando o nome de Katsuki foi proferido.
Me arrepiei até o último fio de cabelo, mas fingi não dar bola. Kirishima, por outro lado, comemorava enlouquecidamente junto com os outros ao passo em que Katsuki, e mais um outro lutador que nunca vi antes, aparecia em meio à multidão. Já Uraraka, pleníssima, só assistia enquanto bebia sua cerveja.
- Alá, Deku. Não vai torcer pro mozão dessa vez? – A cobra, quieta até então, só observando o terreno, atacou a presa. Encarei-a com um olhar mortal, a veia da minha testa pulando quando ela me forçou a lembrar do momento patético em que eu inconscientemente acabei torcendo pelo Katsuki naquela luta com Todoroki. Socorro, me sinto horrível só de lembrar. Uraraka me odeia mesmo, né? Ela não tem dó, cutuca bem na ferida. Desgraçada.
Ela riu por trás do copo, me lançando uma olhada de rabo de olho antes de voltar o foco à atração principal da noite. Bufei, revirando os olhos.
O lado bom dessas lutas que todos esperam para ver é que acalma um pouco os pedidos e eu posso relaxar. Por outro lado, não tendo mais com o que ocupar a cabeça, não me sobra alternativa a não ser assistir a luta, e uma luta protagonizada por Katsuki é uma luta que eu definitivamente não quero e nem preciso ver.
Suspirei e falei pro Kirishima que iria no banheiro, tava com vontade de dar um perdido de, sei lá, dez minutos. Muito provavelmente o Katsuki ganharia em cinco, ou menos até, mas eu precisava dar uma sumida. Kirishima daria conta, ele é como três homens no corpo de um só, eu tô mais pra peso morto.
Ele me olhou com um olhar meio estranho, mas não protestou, só assentiu com a cabeça e eu já fui saindo.
Entretanto, quando eu tava a um passo de sair do bar, a voz contagiante do apresentador chamou a minha atenção.
- OPA, GENTE! – Ele gritou, empolgado. – Temos uma coisa INÉDITA nessa noite. Nosso Rei quer usar o microfone! – Hã? Voltei pra onde eu estava, esticando o pescoço a fim de ver melhor o que acontecia. Como o bar ficava um pouco acima do nível do ringue, eu conseguia enxergar sem problemas. – Será que devemos deixar o nosso Rei falar?! – E o apresentador continuava enrolando só pra atiçar o público, até esticava a mão com o microfone na direção de todos.
Mas hein?!
Céus, o que tava acontecendo? Katsuki queria falar alguma coisa antes da luta? Nenhum lutador fez isso antes, e era surpreendente principalmente vindo dele. O que ele diria? Mandaria todo mundo tomar no cu? Ou, sei lá, ia chamar geral ali pra lutar contra ele ao mesmo tempo? Vindo dele, não duvido de nada. Meu Deus, ele ia fazer uma chacina ali e agora mesmo, eu já tava até vendo.
Ainda dava tempo de ir me esconder no banheiro?
O berro enlouquecedor das pessoas só não me deixava surdo porque eu estava atento demais para o que viria a seguir. Katsuki, ao lado do apresentador, vestindo uma regata preta e uma bermuda vermelha, parecia puto com toda aquela enrolação, a mão esticada para que o cara lhe passasse logo a bosta do microfone.
- ESTÃO PRONTOS?! – E o apresentador continuava enrolando. Nossa, ele realmente não tem noção do perigo. Eu já tava tenso ali, só vendo o Katsuki ficar mais puto e impaciente. Mesmo de longe, já podia ver a veia da sua testa saltando e aquele seu típico tique nervoso no olho. – O NOSSO REI VAI FAL-
- É, porra. Esses mongoloides têm retardo mental mas já entenderam essa merda, filho da puta. – Cortou Katsuki quando tomou o microfone das mãos do cara, que nem pareceu ligar, parecia tão animado quanto o público, que respondeu Katsuki com gritos enérgicos. Uns até gritavam coisas como “GOSTOSO”, “XINGA MINHA MÃE”, “GOZA NA MINHA CARA” ou “SE FALAR COMIGO ASSIM JÁ ARREGAÇO AS PERNAS” , entre outras poesias.
Qual é a tara das pessoas pelo badboy marrentão? Eu não consigo entender.
Tsc, olha quem fala, né?
- Deku, aparece aí.
Hã?
A voz grossa de Katsuki cortou o ar e eu quase perdi a força nas pernas.
Todos se entreolharam sem entender, já Uraraka e Kirishima me fitaram com olhos arregalados.
Engoli em seco, meus olhos completamente esbugalhados cravados em Katsuki com microfone na mão, no meio da rodinha de porrada, com uma multidão que só quer ver sangue em volta, parando tudo para chamar pelo meu nome.
Que porra é essa?
O que eu faço, caralho?!
Sem pensar muito, tentei fugir pro banheiro, mas Kirishima me agarrou pela camisa.
DESGRAÇA!
- Ô, Deku, tira a cara do cu e aparece, porra. – A voz do Katsuki já é marcante o suficiente, sendo ampliada por um microfone, então, preenchia todo o lugar. O tipo de voz que você pararia tudo para escutar, porque não dá pra simplesmente ignorar.
Algumas pessoas gritavam empolgadas, outras só gritavam ansiosas para que eu aparecesse logo. Porra, o que eu faço? A saliva desceu rasgando minha garganta. Eu poderia só me esconder debaixo do balcão se a PORRA DO KIRISHIMA COLABORASSE. Nem a Uraraka me ajudava, só me olhava com um sorrisinho idiota. Claro que não me ajuda, tá de complô com o Kirishima. Porra, desgraçada! Depois ainda tem a cara de pau de dizer que tá do meu lado, VÍBORA!
– Vai se fazer de sonso mesmo? Tem mil gados aqui nessa caralha, é só eu estalar os dedos que todos caem em cima de tu rapidinho. – Aparentemente, Katsuki não se importava mesmo se iria irritar toda aquela multidão de gente doida, ele tava pouco se fodendo, como sempre. Tsc, isso é tão a cara dele. Se bem que, a julgar pelos gritos de todos, eles adoravam aquilo. Sem falar que, porra, mesmo sendo tanta gente, não são muitos que tem culhão pra cair na porrada com Katsuki. – Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe tr-
Um ódio tão grande me consumiu na hora que eu ignorei todo o desconforto e receio que eu sentia quando, num rompante doido de coragem, subi em cima da bancada de repente. Uraraka me encarou assustada.
- O que você quer, Katsuki?! – Falei alto, atraindo a atenção de todos.
Katsuki, com seus olhos vermelhos fixos em mim, abriu um sorriso de lado divertido.
- A princesa finalmente botou a cara no Sol. – A fala dele arrancou risadas da multidão. Revirei os olhos. – O bolinho tava gostoso?
- Joguei no lixo. – Respondi, curto e grosso.
Nesse momento, todos soltaram um “uuuuuuiiii” em uníssono.
Quem me visse ali, em pé, com a mão na cintura e batendo pé em cima da bancada, não acreditaria que há poucos segundos atrás eu tava tentando fugir pro banheiro.
Katsuki levantou as mãos como se estivesse se rendendo, logo botando o microfone em frente da boca de novo.
- Tudo bem, eu sempre odiei essa merda de morango mesmo. – O público devolveu o mesmo “uuuuuuuiiii”, porém, mais alto. Revirei os olhos e troquei o peso de um pé pro outro, já sentindo meu sangue ferver. Esse filho da puta me dá nos nervos. - Fico feliz de saber que cê evoluiu.
- Evoluí tanto que não quero nem mais olhar pra tua cara! – E todos gritaram com fervor. Katsuki revirou os olhos, se mostrando impassível às minhas provocações. – Vai fazer o seu trabalho e me deixa fazer o meu, mas que saco! Inferno! – Bati o pé com força sobre a bancada.
Enquanto isso, acredita que Uraraka estava filmando?! Sim, estava! Mas que palhaçada! Nojenta! Ela é outra que eu não quero nunca mais ver nem pintada de ouro, argh.
- Qual é, Deku, vamo conversar.
É o quê?!
ESSE MOLEQUE É DOENTE!
- O quê?! Aqui?! Agora?! – Socorro, eu ia ter um ataque do coração. – Você é maluco!
- Olha as coisas que cê me obriga a fazer, porra.
- Podia ter conversado comigo lá em casa, mas não! Porque longe dos outros você é um covarde! – Agora, sim, acertei em cheio. As pessoas intercalavam o olhar entre Katsuki e eu, e a comoção foi absurda depois da minha fala. Katsuki me fitou com o cenho franzido e aquele tique aguçado no olho esquerdo. Abaixou o microfone e começou a falar um monte de coisas para ele mesmo, mas dava pra perceber que eram só um monte de palavrões, ainda que ninguém mais pudesse ouvir. - Quer resolver agora?! Sério?! Na frente de todo mundo pra mostrar o quanto você é fodão?! Você é realmente muito narcisista.
Ele rapidamente botou o microfone diante da boca de novo e avançou em três passos rápidos, ainda que uma multidão nos separasse, nossos olhos furiosos estavam conectados.
- EU FUI NA TUA CASA E TE VI COM OUTRO! QUERIA O QUÊ?! QUE EU BATESSE PALMAS?! QUE EU FIZESSE A MERDA DE UMA SERENATA?!
- VAI TOMAR NO TEU CU!
- JÁ TÔ TOMANDO, E NA FRENTE DE TODO MUNDO AQUI NESSA PORRA DO CARALHO! – Berrou, fazendo o microfone chiar e o zunido irritante do equipamento ecoar pelas caixas de som, porque o Katsuki já tava estourando todos os aparelhos. – Eu só vou lutar nessa merda se tu falar que vai me escutar depois. Senão a gente pode ficar aqui se esgoelando a noite toda, foda-se. – Decretou simplesmente, me encarando com aqueles olhos de tigre, incisivos.
É O QUÊ?!
E o público foi à loucura de vez, berrando em plenos pulmões.
Meu Deus, que ódio! Que puta chantagem! E o que eu ia fazer?! Dizer NÃO na frente de todos esses canibais?! Eles me matariam se o Katsuki não lutasse, e o Gran Torino também!
Porra, eu só sou um barman nessa merda, que culpa eu tenho?!
Olhei amedrontado pra cara de todo mundo ali, que soltava gritos do fundo da alma e gesticulava com as mãos, me pressionando para que eu só aceitasse de uma vez. Encarei Uraraka, que deu de ombros e sorriu, enquanto tinha a câmera do celular apontada pra minha cara apavorada. Já Kirishima, tava com o maior sorrisão e fazia joinha com as duas mãos pra mim, assentindo freneticamente com a cabeça.
EU TÔ NO MEIO DE UM BANDO DE PIRADOS!!
Fala sério, será que ninguém vê que eu tô numa situação péssima? SERÁ QUE NINGUÉM VÊ QUE NA MINHA TESTA TÁ ESTAMPADA A PALAVRA “SOCORRO”?
Todoroki, cadê você pra me salvar?!
SÁDICOS!
Merda, eu não podia fazer nada quanto a aquilo, Katsuki tava praticamente me forçando a aceitar seus termos. Típico dele, um ogro mesmo. Não pode simplesmente me puxar pra um canto e falar como um ser humano normal, tem que fazer sempre uma ceninha, me botando numa rua sem saída. Ridículo. Nojento. Patético.
Meu coração tava a ponto de explodir quando eu enfim gritei:
- TÁ, QUE SE FODA! Faz logo a tua luta, seu imbecil! – Fui obrigado a concordar com aquela loucura.
E, com um sorriso que ia de orelha a orelha, Katsuki me encarou uma última vez antes de simplesmente largar o microfone – que logo foi catado no chão pelo apresentador – e tomar seu lugar no ringue, assumindo sua posição. Todo mundo aplaudiu, gritando como se tivessem presenciado uma cena digna de um filme de Hollywood.
Só se for do Quentin Tarantino, né?
Fala sério, povo doente.
Senti uma vertigem ali e achei que fosse desmaiar quando Kirishima me segurou, me ajudando a descer do balcão. Eu respirava fundo para tentar regular minha respiração descompassada e Kirishima, percebendo meu total desespero, logo trouxe uma água pra me acalmar. Idiota, agora se faz todo de bonzinho, mas na hora tava fazendo joinha pra mim! Argh, tudo farinha do mesmo saco.
- Satisfeita, sua monstra?! Eu quase morri do coração! – Gritei pra Uraraka, que finalmente parou de filmar, porém, por outro lado, ria horrores. – Maldita, eu te odeio!!
- Você acha que eu vou ganhar quanto quando postar essa pérola de vídeo no Youtube? – Ela indagou com um bendito sorrisinho.
Arregalei os olhos.
- NEM OUSE!!
- Não esquece que eu quero uma parte do dinheiro também! – Disse o falso do Kirishima.
Fala sério, eu tô num covil de cobras.
De repente, tudo ao meu redor pareceu desligar e eu só focava em Katsuki lutando, tão tranquilo e relaxado como se aquilo fosse uma brincadeira boba, como tirar doce de criança.
Apertei os lábios.
Eu queria que meu coração parasse de bater tão rápido, mas não parava.
Merda, Katsuki.
O que se passa na sua cabeça?
O que deu em você?
O que você quer de mim?
Porra, pare de me enlouquecer.
Eu vou enlouquecer.
Eu já enlouqueci.
E, de fato, ele terminou a luta em menos de cinco minutos, sendo anunciado como, mais uma vez, vencedor.
Meu estômago afundou.
E Kirishima e Uraraka se juntaram pra fazer joinha com as mãos pra mim, malditos.
Eu não me importaria de ser preso se fosse por quebrar todas essas garrafas na cabeça deles, sério.
~*~
Meu coração pulsava tão forte que eu podia escutar as batidas ecoando dentro da minha cabeça embaralhada. Quando Katsuki me guiou para a sala VIP do segundo andar, aquela com as paredes envidraçadas – onde havia várias strippers da última vez, inclusive -, e eu vi que ela estava totalmente vazia, achei que meu coração fosse rasgar meu peito e sair pulando por aí, em busca de um novo dono.
Olhei em volta do lugar que nem cego em tiroteio, sem entender por que estava tudo vazio.
Tive um pequeno sobressalto quando a porta fechou atrás de mim.
Engoli em seco e lá estava Katsuki no meu campo de visão novamente, andando tranquilamente pelo cômodo silencioso. Agora, vazio, a sala parecia muito maior.
Ele parou um pouco e apoiou o antebraço na parede envidraçada, vendo a nova luta que se desenrolava – certamente alguma sem importância alguma – por poucos segundos antes de se desgrudar dali e ir ao bar chique – também sem qualquer barman para atender – que havia no canto da sala.
- Eu não tô entendendo... por que essa sala tá vazia? Cadê Gran Torino? – Indaguei. Queria não parecer tão nervoso quanto de fato estava, e acho que até estava indo bem.
Katsuki entrou no bar, catou a garrafa da sua cerveja favorita e saiu, dando um gole profundo enquanto mantinha o olhar fixo em mim.
Senti vontade de engolir em seco, mas me contive.
- Eu pedi pra que ele saísse.
Soltei um riso desacreditado.
- Pediu? – Botei a mão na cintura. – E ele obedeceu? Simplesmente?
- Vantagens de ser o melhor de toda essa porra aqui. – Deu de ombros. Ele estava bem afastado de mim, o que me passava certa confiança. Se ele resolvesse se aproximar, muito provavelmente eu não conseguiria manter a pose por muito tempo e esse pensamento me deixava um pouco nervoso. – Quer? – Estendeu-me a garrafa, mas revirei os olhos e balancei a cabeça.
- Pelo amor de Deus, eu não vim aqui pra fazer uma socialzinha com você, Katsuki. Na real, eu nem queria estar aqui, então, por favor, só fala o que você quer de uma vez.
- Não queria? Deku, eu não te acorrentei e te arrastei pra cá, porra.
- Ah, vai se fazer de sonso agora, seu idiota?! – Exclamei, puto. Ele só me olhou como se não ligasse, bebendo mais da sua cerveja. – Fez a maior pressão na frente de todo mundo, me chantageou!!
- Eu fiz você assinar alguma merda de documento, porra? Não, caralho. Depois que acabou a luta, cê podia simplesmente não ter vindo, mas escolheu vir mesmo assim. – Se aproximou dois passos, mas ainda estava em uma distância bem segura. – Ou você é só muito trouxa ou você queria ouvir o que eu tenho pra te falar. Qual das duas opções faz você se sentir melhor, hm?
Rangi os dentes, me sentindo um idiota ao me ver sem argumentos.
Katsuki realmente conseguiu me deixar sem argumentos? Sério? Um idiota desses?!
Deplorável.
Realmente, eu odeio admitir que ele tem um bom argumento. Na hora, eu aceitei sob pressão porque todos me matariam caso Katsuki não lutasse – e, sendo ele quem é, ele tacaria o foda-se e não lutaria mesmo -, porém, depois, o que me fez continuar com isso? Eu podia ter simplesmente virado as costas pra ele quando ele foi ao bar me levar até essa sala. Em vez disso, não, eu o segui.
Porra, que burrice a minha!
Culpa do Katsuki, ele me deixa louco de raiva, aí não consigo pensar direito!!
- Você... – De repente, sua voz voltou a se fazer presente, porém, mais calma e baixa do que antes. Arqueei a sobrancelha, estranhando a mudança repentina de postura. Ele tava estranho. Desviou o olhar, ainda segurando a garrafa entre os dedos. – Cê jogou mesmo o bolinho fora?
Arregalei os olhos.
Quê?!
Que raios de pergunta é essa?!
Estufei o peito.
- Joguei. E daí? Você não pareceu ligar na hora. – Revidei, ríspido.
- E não ligo.
- Eu sei que não, você é assim. Você não liga pra nada.
Katsuki permaneceu com os olhos fixos na parede envidraçada, mas não prestava atenção ali de fato. Ele apertou os lábios, parecendo incomodado com algo.
Minhas mãos suavam e eu não tava entendendo o que caralhos Katsuki pretendia com aquilo tudo.
De repente, ele suspirou e abaixou a cabeça, deixando a garrafa em uma mesinha qualquer.
- Claro que eu ligo, Deku, porra. Você acha que eu esvaziaria a porra dessa sala só pra falar com você se eu não ligasse?! Que eu ia pegar a porra de um microfone e implorar que nem um merda só pra conseguir a caralha da tua atenção?! – Ele começou a se aproximar e foi nessa hora que eu me desesperei. – Que eu iria entrar na porra duma confeitaria que mais parece o castelo da Disney todo só pra comprar a bosta de um doce e depois ir na merda da tua casa se eu não ligasse, caralho?!
- Que se foda, Katsuki, quem não liga mais sou eu!! – Gritei, e ele estancou no lugar, me encarando sério. – Eu não sei qual é a tua e sinceramente cansei de tentar entender, eu não tô nem aí pros seus motivos, se eles são bons ou ruins, eu só cansei. Percebeu que você falou, falou e continuou sem dizer nada ao mesmo tempo?! – Ele estalou a língua no céu da boca, virando as costas pra mim. – Viu?! É exatamente disso que eu tô falando! Você age que nem aquela criança de quinze anos!! Você nunca deixa nada claro, eu sou sempre a pessoa que tem que ser paciente, a pessoa centrada, a pessoa que tem que tentar entender, e eu cansei de ser essa pessoa! Eu não sou um computador pra você só se comunicar comigo por códigos. – Cruzei os braços e virei a cara, meu coração batendo tão rápido que eu temia que pudesse ser escutado em meio ao silêncio absoluto daquela sala. – Eu já sei como essa conversa vai terminar. Eu vou sair daqui chorando, como sempre acontece quando eu falo com você. – Ele permanecia de costas, porém, eu podia notar seus músculos tensos. – Se isso é tudo, então eu vou sair agora. Não me procure mais, por favor. Eu não quero mais saber disso. Me deixa em paz.
Me virei e segurei a maçaneta.
- Porra, você tem que entender que isso é difícil pra caralho pra mim.
Soltei um riso descrente, incrédulo com o que eu acabei de ouvir.
Isso é sério?
- Tadinho, um verdadeiro sofredor. Espero que o Papai Noel te entregue seus presentes esse ano. – Revirei os olhos. - Ah, pelo amor de Deus, me poupe.
Virei a maçaneta entre meus dedos e puxei com força.
No entanto, eu mal pude abrir uma brecha de cinco centímetros que, logo, a porta foi fechada tão rápido quanto, causando um forte estrondo que me sobressaltou.
O braço esticado de Katsuki estava no exato lugar entre meu ombro e minha cabeça, tão perto que eu não podia virar minimamente o rosto sem encostar em sua pele. O braço, revestido de veias, seguia até a palma de sua mão de dedos grossos, aberta sobre a madeira da porta.
Engoli em seco.
E eu podia sentir sua respiração quente batendo na minha nuca.
Meus pulmões rapidamente sentiram falta de oxigênio e eu tentei puxar o ar de volta, mas, de repente, o lugar todo parecia só abafado demais.
Um arrepio cruzou minha nuca com tanta força que meus ombros encolheram.
- Eu senti sua falta. – Aquela voz baixa, grossa e rasgada ao pé do meu ouvido me invadiu com tanta força que não pude impedir meus olhos de se arregalarem e nem meu interior de revirar. – Senti tua falta cada minuto. O tempo todo. Quando eu pisei pra fora do nosso apartamento aquele dia, eu já sentia sua falta. Sinto vontade de você a porra do tempo inteiro. Sinto vontade de você agora, Deku.
Minhas mãos suavam, mas, agora, por um motivo diferente.
O que foi isso?
Katsuki...
O que está dizendo?
Por favor, fique longe de mim.
Fique longe agora.
Eu quase posso sentir o tecido de sua blusa em minhas costas.
Eu não posso suportar.
Não posso aguentar.
Pare.
- Você acha que eu passei esses quatro anos aí feliz pra caralho, cagando pra porra toda e trepando com meio mundo? Tsc. – Soltou uma risadinha rouca, tão perto do meu ouvido daquele jeito. A temperatura que emanava do seu corpo era tão quente, e ele estava tão, tão perto... – Pode crer, eu queria isso. E eu tentei, tentei pra caralho. Porra, como eu tentei. Odiava você, odiava pensar em você e odiava tudo que me lembrava você. - Sua outra mão tocou meu quadril e eu quase tive que apoiar minhas costas em seu peito nesse momento, mas fechei os olhos com força e respirei fundo, buscando força em meus pés.
Porra, não faz isso comigo.
Pare de botar coisas na minha cabeça. Pare de me prender a você.
Me deixe livre.
– Se tu quer mesmo saber, depender tanto assim de você não me deixa nenhum pouco feliz. – Colou a boca quente na pele da minha orelha, sua voz baixa e rasgada forçando passagem em todos os cantos do meu corpo e me embriagando. - Na real, isso me deixa puto pra caralho, Deku. Seu bastardo miserável. – Rangeu os dentes de leve no final e sua mão em meu quadril apertou ali com força.
- K-Katsuki, você... – Num rompante, me afastei de seu aperto rapidamente, saindo daquela encruzilhada que ele mesmo tinha me botado. Comecei a andar meio desengonçando por aquele amplo cômodo vazio, me sentindo zonzo. Eu precisava de espaço, precisava de ar para pensar...
Mas como, se o único lugar em que eu estava era onde ele estava e se o único ar que eu tinha para respirar era o dele?!
Meu coração batia desgovernado, eu não conseguia mais organizar meus pensamentos e manter a cabeça no lugar.
O ar estava tão rarefeito, tão abafado, quente...
Era demais pra aguentar.
Porra, o que ele estava dizendo...?
Seja forte, Midoriya.
Seja forte.
- Pare, por favor. – Foram as únicas coisas patéticas que saíram da minha boca inútil. - Abre a porta, eu quero sair.
- Porra, eu não te entendo. – Riu. - Você sempre fala que eu fujo nessas horas, mas quem tá tentando fugir agora? – Mesmo que eu estivesse de costas, pude perceber quando ele se afastou da porta e começou a vir até mim, mas eu me afastava mais a cada passo. – Você não queria tanto que eu falasse tudo o que tá dentro da minha maldita cabeça? Então agora cê vai ouvir, Deku.
- Tarde demais pra isso, Katsuki.
- Quando eu olho pra você, eu vejo que ainda não é tarde demais.
Arregalei os olhos quando, ao me virar de frente para ele, me dei conta. Porra, quando foi que ele se aproximou tão rápido de novo?!
Eu realmente não conseguia raciocinar mais. A sala parecia se tornar menor a cada segundo e eu não sabia até quando eu conseguiria suportar.
Me sentia sem ar.
- Não se aproxime mais. – Discretamente eu puxava o ar para dentro, respirando fundo, mas não adiantava. Eu tentava acalmar meu coração, mas ele me traía.
- Por quê? Tem medo do seu corpo não ser coerente com o que sai da tua boca? – Meu quadril bateu contra uma mesa de sinuca e, de repente, lá estava Katsuki, me encurralando com seus braços de novo, cada um ao lado do meu corpo, segurando firme a borda da mesa. Engoli em seco, não evitando quando meu olhar caiu dos seus olhos pra sua boca, então virei o rosto, me sentindo um pateta. Eu sabia que ele sorria. – Eu posso ver o porquê.
- Cala a boca, você me irrita tanto... – Estalei a língua no céu da boca.
- Tsc, então acho que finalmente encontramos algo em comum. – Do nada, ele abaixou a cabeça e afundou o rosto na curvatura que liga meu ombro ao meu pescoço, inalando com força ali. Soltei um gritinho fino pelo susto e me encolhi todo para me afastar. Por reflexo, quis andar para trás, todavia, só prensei mais meu corpo contra a mesa, quase subindo em cima dela. – Você também me irrita pra caralho.
- Katsuki, eu j-já entendi, o-ok? Isso n-não vai dar certo. – MERDA, POR QUE EU TIVE QUE GAGUEJAR TANTO ASSIM? MAS QUE DROGA!
Ele riu.
Claro que riu, eu parecia a droga de um-
- Você parece um virjão de merda de novo, Deku. – Katsuki completou meus pensamentos. Arregalei os olhos. – Igualzinho como quando a gente tinha quinze anos... cê não conseguia falar pau sem ficar todo vermelhinho... - Meu rosto pegava fogo e eu odiava o fato dele estar presenciando essa cena embaraçosa, ainda que eu virasse a cara na tentativa de escapar de seus olhos atentos. Se eu podia empurrar o braço dele e sair daquela situação vergonhosa? Sim, poderia, então por que eu simplesmente não conseguia?! Porra! – O que não vai dar certo, hm? Diz pra mim.
Por que ele tava falando com aquela voz tão... tão...
ARGH! Mas que ódio, ele não tem esse direito!!
Se afaste de mim, se afaste agora!!
- Isso. – Finalmente consegui ser firme, ainda que eu continuasse fugindo de seus olhos arrogantes. Apertei os lábios. – Se você tá tentando me enrolar pra enfiar esse pau em mim, pode esquecer.
- Puta que pariu, você é inacreditável. – Tinha um sorriso descrente em seu rosto. – Inacreditavelmente irritante pra caralho. Mas acho que isso me torna ainda pior. – Hã? Que papo estranho é esse agora?
Sua mão se prendeu com força em minha mandíbula, trazendo meu rosto para sua direção de novo, me obrigando a encarar seus olhos rubis.
Mas que porra! Que ódio, esse garoto passa de todos os limites possíveis e impossíveis!
Meu peito vai explodir!!
– Eu devo ser muito mais irritante por ser tão louco assim por um boiolinha igual você. Chega a ser engraçado de tão deprimente. – Meus olhos quase saltaram da minha cara e rolaram pelo chão. Se meu coração já tava totalmente sem freio, agora ele era só um zunido, como quando alguém morre no hospital e a máquina fica zunindo eternamente, sem pulso. – Fica difícil conviver comigo mesmo. Não sei lidar com o quanto eu preciso de você. Nem eu me aguento às vezes.
Era assim que eu estava, sem pulso.
Sem coração.
Sem cabeça.
Sem ar.
Sem pulmão.
Sem nada.
Tudo o que eu tinha era os olhos do Katsuki nos meus.
- Quero você, Deku. Quero você pra mim, só pra mim. – Arregalei os olhos e minhas mãos buscaram apoio na ponta da mesa de sinuca, esbarrando nas suas que ali já estavam. Engoli em seco. Ele me encarava tão sério, tão... tão triste. – Eu sei que eu te fiz sofrer e tu não sabe como eu me odeio por isso. Porra, me odeio pra caralho. Sinto nojo de mim toda vez que me olho num maldito espelho. Eu te mandei pro caralho por algo que você não fez e é difícil pra caralho te dizer tudo isso sem sentir vontade de partir a porra da minha cabeça ao meio. Me desculpa por todas as merdas que te falei, me desculpa por tudo. Me desculpa por te machucar.
O nó na minha garganta era tão forte que fechava a circulação de ar e embaçava meus olhos, que queimavam.
Eu não podia acreditar que estava ouvindo todas aquelas coisas, era difícil demais. Eu achei que esse momento nunca chegaria e, agora que chegou, era como se um peso saísse dos meus ombros e me permitisse voar. Não parecia real.
Katsuki segurou meu rosto gentilmente, porém com firmeza, com suas mãos quentes e ásperas - graças a todos esses anos lutando -, uma em cada bochecha minha. Suspirei com o toque e me senti derreter por inteiro. Fechei meus olhos, já sentindo aquela ardência os queimando por dentro.
Tão, tão difícil.
- Me desculpa por ter dito que você... que você podia morrer. Foi a maior mentira que eu já disse em toda minha vida. – Um soluço rompeu minha garganta e, mesmo de olhos fechados, não pude impedir as lágrimas de correrem. Pude sentir quando Katsuki se aproximou e suas mãos me envolviam em um calor inexplicavelmente gentil, mas, ainda assim, forte.
A sensação era indescritível, eu me sentia... livre. Como se finalmente eu pudesse respirar em paz, de consciência tranquila. Entretanto, eu tentava me puxar pra baixo ao lembrar que aquele momento poderia acabar tão rápido quanto uma estrela cadente viajando no céu.
Não se deixe levar, Midoriya.
Katsuki é indomável, imprevisível.
Você nunca poderá saber verdadeiramente o que se passa na cabeça dele.
Tente focar nisso, Midoriya.
Foque nisso.
- Várias vezes eu me pego pensando que você poderia ter se machucado de verdade por causa do que eu te falei e isso me destrói inteiro. Se você morresse, Deku, eu morreria junto. É irônico porque eu sei que eu desceria o cacete em qualquer um que te machucasse e eu fui o que mais fez isso. Eu sou um babaca do caralho, sou escroto pra caralho e tudo mais o que você achar de mim, cê tá totalmente certo. Você tem razão de me odiar de todos os jeitos possíveis. – Sua testa colou na minha e já agarrei sua camisa com força quando não pude mais conter o choro alto. Sua respiração se misturava com a minha, batendo contra meu rosto e eu já não sabia de mais nada. O que mais eu poderia fazer? Estava sem chão. Seus dedos quentes envolvendo meu rosto frio. Seus polegares secando minhas lágrimas, não deixando que elas pingassem no chão. - Me desculpa. Me desculpa por tudo. Me perdoa, Deku.
E lá estava eu, chorando, como eu sabia que aconteceria. Como sempre acontece quando Katsuki e eu conversamos. Agora, porém, era por uma razão totalmente diferente. Meu peito doía, uma dor tão grande, mas, ao mesmo tempo, tão libertadora. Pela primeira vez, Katsuki me pedia desculpas. Por todos esses anos, todas as nossas brigas... era a primeira vez que eu ouvia.
Era inacreditável.
- Mas, se serve de consolo, minha vida foi uma grande merda nesses quatro anos. Eu sofri pra caralho. Odiei cada segundo que passei longe de você. Odiei a minha vida em cada momento, fingindo que tava tudo bem, quando tudo o que eu queria era você. Eu queria você, sabendo que fui eu que te deixei ir e culpa maior não existe.
- K-Katsuki... – Suspirei, tentando abrir os olhos, mas minhas lágrimas me cegavam. Ouvi-lo dizer aquelas coisas era tão, tão difícil... difícil demais pra suportar... – Chega disso. – Consegui dizer, os meus soluços cortando o ar. - Chega dessa palhaçada. Você já me machucou demais, n-não percebe? Continuar com esse joguinho só... só piora tudo. – Engoli em seco, buscando força ao cerrar meus punhos. - Você me machucou antes e continua me machucando agora.
- Joguinho? – Estreitou os olhos e suas mãos puxaram meu rosto para perigosamente perto demais do seu rosto, como se antes já não estivesse perto o suficiente. – Tu acha que isso aqui é mesmo um maldito joguinho, caralho?! Tu acha que eu mentiria sobre uma porra dessas, Deku?! Eu tô basicamente te falando que eu tô numa merda fodida por tua causa, acha que eu ia me rebaixar assim se não fosse verdade?!
- Eu não tô nem aí, Katsuki! Tudo o que eu sei é que você me subestima demais! – Meu coração falhou uma batida e o nó em minha garganta se enroscou com mais força. Não, não, não... – Você acha que pode sair da minha vida, voltar quatro anos depois, dizer umas coisinhas bonitinhas e simplesmente estalar os dedos pra me fazer voltar pra você?! – Eu o empurrei com força, finalmente reunindo forças para o afastar e o fazendo cambalear para trás com o impacto. – Eu NUNCA vou voltar pra você! Nem se você me trouxesse um caminhão com todos os cupcakes de morango com chantilly do mundo! Nós dois somos um erro, sempre fomos. Todos me disseram e eu não escutei. Eu fui muito burro, burro demais!
- Que se fodam todos eles, porra! Me diz, o que foi tão errado no nosso namoro? Se ele não tivesse sido bom, nós dois não estaríamos aqui! Não teríamos passado todos esses anos na merda!
- Não tô falando disso, Katsuki! – Com força, esfreguei fortemente meu braço em meus olhos para secar as lágrimas que escorriam. – Eu não posso ficar com uma pessoa que um dia tá comigo e outro dia pode simplesmente não estar. Não confio em você. Quando olho pro futuro, é só uma mancha incerta... e eu não vejo nós dois.
- Ainda bem que você não é vidente, né? – Cruzou os braços e eu revirei os olhos com aquela provocação idiota.
- Viu? Você é uma criança, Katsuki. Você não entende o que eu digo, não entende nada!
- Sabe o que eu entendo, porra?! – Ele se aproximou de novo e tomou a minha mão, botando em seu peito, no lugar do seu coração. Arregalei os olhos. Mas hein?! – Não acredito que tô fazendo essa boiolagem do caralho, mas lá vai... – Respirou fundo e fechou os olhos, para logo deixá-los bem abertos de novo, me fitando tão profundamente que eu sentia como se minha alma estivesse sendo despida. – Tá sentindo? Meu coração tá batendo forte pra caralho agora. – Sua mão, grande e cheia de veias, envolvia a minha totalmente, que é menor e de dedos mais finos, pousada sobre seu peito. Eu podia sentir as batidas descompassadas e, de olhos esbugalhados, eu perdi todo o restante do meu ar. – Tá batendo desse jeito porque eu tô com um medo do caralho de você sair por essa porta e eu te perder pra sempre. Por favor, não faz isso comigo. Não faz isso com a gente. – Ele soltou minha mão e se aproximou de novo, erguendo meu queixo quando, de novo, tomou meu rosto em suas mãos, colando nossos corpos. Engoli em seco, meus olhos imersos nos seus. Porra, tão difícil...
Não entende o que você faz comigo?
Por favor, pare.
Meu coração é fraco.
Fraco demais para aguentar estar tão perto de você assim e não poder te beijar.
Fraco demais para te encarar nos olhos e, ainda assim, te rejeitar.
Eu não aguento.
– Deku, tudo o que eu sei sobre amor é o que eu sinto por você. – O que é isso...? Seus olhos estavam... lacrimejando? - Eu te amo. Te amo, porra. Eu te amo pra caralho. – Isso era um sonho, só pode. Um sonho... um sonho lindo... – E você sabe que eu nunca diria uma porra dessas se não fosse verdade.
Katsuki, finalmente, falou tudo o que eu sempre quis ouvir.
E, mesmo que meu coração estivesse em chamas, já era tarde demais.
Minhas lágrimas voltaram a cair com toda a força. Eu queria, queria mais do que tudo beijá-lo. Por pouco, eu não deixo a emoção me dominar. Queria ficar na ponta dos pés para enlaçar seu pescoço e tomar sua boca.
Mas não. Eu não podia.
Eu jogaria fora tudo o que eu construí, todos os pensamentos que formei, tudo o que é certo por um mísero momento. Por uma emoção passageira.
Não vale a pena.
Não, não vale.
- Eu queria acreditar em você. – Abri um sorriso triste, segurando suas mãos e as tirando calmamente do meu rosto. Minhas lágrimas, agora, eram silenciosas. – Queria que o que eu sinto por você e o que você sente por mim fosse suficiente. Mas não. Não é. Eu percebi que um relacionamento precisa de mais do que sentimento pra dar certo. – Me desvencilhei do seu caminho, saindo de perto dele e virando as costas. Eu não escutei mais o som de passos, então sabia que ele ainda estava lá, estático no mesmo lugar. Meu peito doía e eu não entendia o peso que voltou a ser jogado com tudo sobre mim. Eu estava virando uma página, então por que sentia o passado me puxando com todas as forças pra trás...? – Eu... eu preciso de alguém que eu possa contar. Que vai me dizer quando algo estiver errado, que vai compartilhar comigo o que sente, que vai se abrir comigo completamente. Preciso de alguém que o orgulho não fale mais alto do que qualquer outra coisa. – Abaixei a cabeça, respirando fundo. Mais uma lágrima escorreu. - Preciso de alguém que não leve a vida inteira pra perceber que me ama.
- Deku, eu-
- Não, talvez o errado seja eu. – Virei de frente pra ele de novo, que já me encarava. A expressão em seu rosto... nunca vi nada igual. Eu nunca imaginei que, um dia, estaria nessa situação, rejeitando os sentimentos de Katsuki. Era tudo o que eu sempre quis e eu simplesmente... estava a dizendo a ele para que parasse. – Eu errei por ter idealizado em você uma pessoa que você não é. Acreditei que daríamos certo. Esse foi o meu erro. Você não tem culpa se não conseguiu suprir minhas expectativas.
- CARALHO, DEKU, PARA DE FALAR! Para de me deixar maluco! Eu falei que te amo, porra! – Ele voltou a se aproximar em passos rápidos. – Eu sei que você me ama também, você falou isso ontem! Então, caralho, vamos só parar de torturar um ao outro e-
- Todoroki e eu estamos namorando.
Katsuki paralisou na hora.
Ele só ficou lá, parado, me encarando. Eu não conseguia decifrar a expressão em seu rosto. Era séria, confusa... e, ao mesmo tempo, triste.
Eu não sei o que deu em mim! Só falei qualquer coisa para fazer com que ele parasse, eu só... eu nem ao menos pensei direito!!
- Você tá mentindo, Deku.
Sim, eu estou!
- Não estou. Por isso eu estava na casa dele hoje. Ele me pediu em namoro. – Céus, como eu conseguia falar tudo isso com tanta firmeza e seriedade? Eu sempre fui péssimo em mentir e, agora, eu simplesmente tava só falando sem qualquer freio... era como se um alienígena tivesse tomado posse do meu corpo e eu não tivesse mais controle da minha boca. – E eu aceitei.
Katsuki deu um passo para trás e semicerrou os olhos, balançando a cabeça pros lados.
- Não... não, você tá mentindo. Para de mentir, porra!
- Não é mentira! – Cerrei os punhos e apertei os lábios. – É a mais pura verdade. Eu preciso seguir em frente, e você também.
Ele se virou e começou a bagunçar os cabelos em movimentos agressivos, soltando mais palavrões do que minha mente era capaz de processar.
Engoli em seco.
- Você disse que não tinha rolado nada. Disse que não tinham transado. – Virou de frente para mim de novo, puto.
- Não transamos. Ele... e-ele me pediu em namoro hoje de manhã. – Desviei o olhar. Merda, gaguejei. – É isso, Katsuki. Quatro anos se passaram. A vida é assim.
- Não acredito em você. Você tá mentindo. – Ele parecia transtornado, desesperado para se convencer disso. Enxergar o Katsuki daquele jeito me dava uma sensação... um aperto no peito, uma vontade de jogar tudo pro alto e simplesmente me jogar com tudo nos braços dele. – Tu tá mentindo, caralho!!
Mas não.
Eu não podia.
Não podia ceder.
Nem agora, nem nunca mais.
Já sofremos muito, já foi mais do que comprovado que não damos certo juntos, somos perfeitos opostos...
Pra que insistir no maldito erro?
É melhor assim.
É melhor seguirmos separados.
É o certo.
Uma vida inteira de lembranças, desde a infância até agora...
Chegamos ao fim, Katsuki.
Como era pra ser.
- Ele me dá segurança, algo que você é incapaz de me passar. Ele é confiável, ele nunca me deixaria como você fez. – Continuei, respirando fundo. Desista, Katsuki. Por favor. Pelo meu bem, pelo seu. Por nós. – Espero que você encontre alguém como você.
- Esse é meu jeito e eu não vou mudar por você e nem por ninguém, ainda mais por um motivo tão ridículo como esse. Se você não tá satisfeito, então tá, a gente termina aqui e você procura alguém que é antissocial, fechado e grosso que nem você, acho que vai dar mais certo.
As últimas palavras que disse ao Katsuki na primeira vez que quase terminamos, quando tínhamos quinze anos, me atingiram em cheio. Um maldito déjà-vu, como se este momento estivesse se repetindo de novo.
Meu peito afundou. Eu estava uma confusão, ainda sentia vontade de chorar, mas, por fora, fingia ser forte como uma muralha, impassível.
Mas óbvio que, me conhecendo, seria preciso só de segundos até os tijolos dessa muralha desmoronarem. E eu não poderia deixar isso acontecer, ao menos não na frente dele.
Senão eu estaria pondo tudo a perder. De novo.
E todo o erro se repetiria.
- Eu não quero alguém como eu, porra. Não quero. Se eu visse alguém como eu, eu explodiria a cabeça dele. E quer saber mais, caralho? – Seus punhos estavam fechados e seus lábios cerrados. – Quando você fala do merda do Duas Caras, parece que você fala da porra da lista do supermercado. Você procura nele qualidades que você acha que faltam em mim e se agarra nisso. Só que você tá esquecendo de uma coisa... – Soltou um riso amargo. – Ele não é eu. E, se o principal motivo que te fez escolher ele, é porque ele não tem nada a ver comigo, então essa porra já começou toda errada. Você não tá com ele porque ele é ele, mas, sim, por causa de mim. Isso não é verdadeiro. Isso não dura. – Avançou mais alguns passos, quase novamente ultrapassando o limite de distância considerado recomendável. Me arrepiei. - Que bom que ele te passa confiança e segurança, olha, parabéns, você encontrou um verdadeiro príncipe da Disney, que lindo. – Ergueu as mãos e, cheio de deboche, começou a aplaudir exageradamente. – Mas confiança, segurança... essas coisas também não valem de merda nenhuma se tu não ama ele.
Soltei um riso descrente, começando a bater palmas tal como ele também fizera antes.
Quem ele pensa que é?!
- Olha, aplausos pra você, Katsuki! Virou em uma noite tudo o que eu te pedi a vida inteira. Tô impressionado. Olha como as pessoas realmente se transformam quando percebem que estão a um fio de perder tudo! – Ri falsamente, sem acreditar naquela merda de discursinho moralista. – Caguei pra tudo isso que você falou, que se dane. Eu vou ficar com ele, quer você ache que é por sua causa ou não, foda-se. Eu vou ser feliz e tenho plena certeza disso, é o que me importa.
- Tem mesmo? – Sorriu debochado. – Então por que você não tá com ele agora, hm?
Um silêncio caiu sobre nós, nossos olhos, agora, tal como no início de tudo, se encaravam furiosamente.
Porque é assim que somos. Como água e fogo.
Nunca poderíamos nos juntar.
Sempre foi assim.
Tal como deve ser.
- Tem razão. É com ele que eu deveria estar agora. – Caminhei até a porta e, com a mão na maçaneta, lancei um último olhar para Katsuki antes de ir embora para sempre. Ele fechou as mãos como se quisesse me forçar a ficar, mas não poderia. Ele sabia que não poderia. – Boa sorte, Katsuki. Espero que você tenha uma vida longa e feliz.
E, quando saí da sala, bati a porta com força.
~*~
Uma semana se passou depois daquela merda de noite.
Eu larguei meu emprego na U.A. e as provas na faculdade começaram.
Sinceramente, não imaginava que fosse sentir tanta falta daquele lugar asqueroso que era a U.A., das pessoas bêbadas, das lutas animalescas e de Kirishima me ensinando alguns truques com os copos, mas, sim, eu sentia. E muita.
Era uma pena, mas era melhor assim.
Temos que nos desfazer de algumas coisas por um bem maior.
E, desde então, não vi mais Katsuki. Felizmente, o prédio do curso de direito é bem distante do meu e, graças a isso, não o vejo facilmente por aí. E, agora, sem ter que encontrá-lo na U.A. também, tudo ficava mil vezes melhor.
Eu já comecei a procurar por outros empregos por aí e, surpreendentemente, Todoroki ficou aliviado quando eu lhe disse que saí da U.A. Talvez ele estivesse pilhado com toda a história com o Katsuki mais do que eu imaginava.
Saí também do clube de natação, odiava saber que eu estava tomando todas essas decisões para não ter mais que olhar para a cara do Katsuki, porém, a situação chegou num ponto em que não posso mais suportar. Sim, sou fraco, admito. É a vida.
Todoroki e eu, por incrível que pareça, não nos aproximamos muito nesse meio tempo. Eu tenho o respondido com mensagens curtas e arrumado desculpas esfarrapadas para fugir dele. Meu coração doía por fazer isso, não queria me afastar dele, mas sentia que só precisava de um tempo.
Eu não entrei em muitos detalhes com Uraraka sobre o que foi dito naquela noite, apenas disse o necessário. Não queria sermões ou mais dores de cabeça. Falei que ele se declarou para mim, que eu o rejeitei e ridiculamente acabei por mentir dizendo que estava com Todoroki. Rápido e direto.
Eu esperava alguma piadinha, alguma fala idiota dela dizendo algo sobre eu estar sendo um imbecil, falando coisas irritantes sobre Katsuki e blá, blá, blá, como ela sempre faz.
No entanto, ela não fez nada disso. Só me olhou com um ar triste e botou a mão em meu ombro.
Eu estive todo esse tempo só querendo que a Uraraka parasse com as besteiras dela sobre Katsuki e, agora que ela tinha finalmente parado, eu não sabia explicar por que me sentia tão... estranho. Como se algo não se encaixasse.
Eu saí do clube de natação, mas ainda estava no de teatro. Já estávamos começando os preparativos para a peça e, mesmo que Todoroki e eu fôssemos vizinhos de porta, eu o encontrava muito mais no clube de teatro – ele também se inscreveu - do que em nosso próprio prédio. Ele não perguntou nada, mas eu via em seu olhar que ele sabia que algo estava errado, por mais que não se sentisse na liberdade de entrar nesse assunto, talvez porque eu não desse margem para que ele entrasse.
Foi numa sexta em que eu finalmente topei fazer algo com ele depois da aula. Fomos no cinema e lanchamos. Pela primeira vez na semana, eu pude finalmente arejar a cabeça e me divertir um pouco. Foi bom, mas não consegui corresponder Todoroki em todas as vezes que ele tentou algo, como quando ele aproximava o rosto demais ou ainda que fosse só segurar minha mão, e eu me sentia mal demais por isso.
E, inevitavelmente, lembrava de Katsuki.
- Vai ficar tudo bem. Você vai ver. – Era o que Shoto dizia, com um sorriso gentil.
Eu retribuía o sorriso e só concordava com a cabeça.
Sim, vai ficar tudo bem.
Vai ficar tudo bem.
Quando acordei no sábado, tava com uma enxaqueca miserável. Tomei um remédio e fiquei com preguiça de fazer café da manhã. Fiquei enrolando na cama até meio-dia, foi quando recebi uma mensagem de Todoroki, querendo saber se eu tinha interesse de almoçar com ele num restaurante ali perto. Ele disse que já estava na rua e que eu poderia encontrá-lo direto no tal restaurante.
Abri um sorriso. Todoroki é tão gentil, tão paciente, tão doce...
Sim, ele me passa confiança. Ele é tudo o que eu sempre quis.
Então por que meu coração não bate mais forte por ele?
Quando recebi a primeira mensagem de Katsuki nesse número, eu quase caí pra trás. Meu coração tava prestes a sair pela boca, tudo por causa de umas mensagens dele me xingando e dizendo pra eu tirar o rabo da casa dele.
Céus, o que há de errado comigo?
Eu sou mesmo um maldito bastardo.
Escutei batidas na porta.
Todoroki?
Levantei da cama preguiçosamente, bocejando. Passei a noite toda rolando na cama por causa do calor, o ventilador não me salvou. Por isso, tava só de cueca. Catei uma camisa grande do All Might – presente da Uraraka - no meu armário, era uma daquelas overzised que as mangas batem nos cotovelos e a barra da camisa vai até o meio das coxas, amo.
Enquanto andava tranquilamente até a porta com o celular em mãos, os cabelos apontando pra todos os lados e uma escova de dente na boca, mandei uma mensagem pra Uraraka. Nessa semana que passou, continuamos nos falando normalmente, mas eu sentia algo estranho no ar, como se não tivéssemos muito assunto. Isso me entristeceu um pouco, mas eu sei que isso é só por causa de tudo o que aconteceu, talvez ela esteja pensando que eu preciso de espaço ou, sei lá, só não saiba muito o que dizer para me animar. Ela até dormiu aqui em casa na quarta-feira, assistimos filmes como normalmente e tal, mas sei lá... eu ainda sentia um pequeno aperto no peito.
Quando abri a porta, ainda encarava o celular, terminando de digitar a mensagem dizendo a ela que Todoroki tinha me convidado pra almoçar.
- Oi, bom dia. Eu já ia responder a sua mensagem, é que eu tô falando com a Urara-
Quando levantei a cabeça pra encarar Todoroki, bem...
Não era Todoroki.
Meu queixo caiu, junto com minha escova, e meus olhos triplicaram de tamanho.
Mas que porra...
É ESSA?!
- Que bom dia, porra? Já passa de meio-dia, sabia? Imbecil. – Katsuki, vestindo uma calça de moletom cinza e uma camisa preta com estampa de uma banda de rock, em pé, na frente da minha porta e segurando uma xícara vazia. Meus olhos arregalados analisaram todo o seu corpo e tive que erguer um pouco a cabeça para fitar seu rosto, sem acreditar naquela merda.
Ele tinha uma pose relaxada, o antebraço apoiado no batente da minha porta e um pé despreocupado sobre o outro.
MAS HEIN?!
- K-Katsuki... o que você tá fazen-
- Vim pedir açúcar. – Estendeu-me a xícara vazia. – Não é isso que vizinhos fazem?
V-vizinhos?
Vizinhos...
VIZINHOS?!
- O QUÊ? – Berrei, certamente atiçando o ódio de todos os moradores do prédio.
Eu vou morrer, definitivamente.
Chegou a minha hora.
EI, VOCÊ AÍ, CARA QUE FICA CONTROLANDO A GENTE COMO SE FÔSSEMOS THE SIMS, PODE MATAR O MEU THE SIM, EU ACEITO, EU ME ENTREGO! ME LEVE!
Misericórdia, senhor protetor das gays...
O que você quer de mim agora?!
JÁ NÃO TEVE O BASTANTE?!
SE É MEU CU QUE QUERES, LEVE-O TAMBÉM!!
- Vizinhos? – A fala saiu em um único fio de voz.
Sentia como se minha alma tivesse saído do meu corpo e, agora, eu estava só levitando ali, que nem a porra do Pennywise.
- Vizinhos. Apartamento 611.
Não é possível.
É o apartamento do lado do meu.
É a porra do apartamento do lado do meu.
Eu tô, literalmente, entre Katsuki e Todoroki agora.
Isso não é possível. Isso não é...
- Você só pode estar de sacanagem comigo. – Eu ainda rezava para que fosse uma pegadinha. Uma pegadinha de péssimo gosto, aliás. – Katsuki, me diga que isso é-
- Não. E aí, e o açúcar? – Sorriu debochado. – Rola?
Meu sangue corria quente pelas minhas veias.
Eu estava a ponto de entrar em ponto de ebulição.
Eu definitivamente... definitivamente irei...
- EU VOU TE MATAR!!
Seu sorriso aumentou, os fios loiros caindo sobre seu rosto debochado.
FILHO DA PUTA MALDITO!!
- Boa sorte nisso aí, cabeça de brócolis.
~*~*~*~
Katsuki
[cabeça de piroca]: ent essa eh a ideia sensacional q tu falou q eu ia odiar??
[cabeça de piroca]: tu se mudou pro prédio do izuku mesmo??????????
[Katsuki]: s
[cabeça de piroca]: tem razão, eu odiei
[Katsuki]: putz q pena
[cabeça de piroca]: tu n podia so enviar flores como uma pessoa normal mano???
[Katsuki]: flor eh coisa de boiola
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