As emoções dos alunos, professores e convidados pareciam que iam explodir de tanta ansiedade ao ouvir o título do capítulo. Finalmente eles descobririam a identidade do herdeiro.
Harry se viu parado no fim de uma câmara muito comprida e mal iluminada. Altas colunas de pedra entrelaçadas com cobras em relevo sustentavam um teto que se perdia na escuridão, projetando longas sombras negras na luz estranha e esverdeada que iluminava o lugar.
O coração batendo muito depressa, Harry ficou escutando o silêncio hostil. Será que o basilisco estaria à espreita num canto sombrio, atrás de uma coluna? E onde estaria Gina?
— Harry faz muitas perguntas que nem ele nem nós podemos responder. — falou James, cruzando os braços. — Mas eu realmente espero que o basilisco tenha dado uma saidinha e que a Gina esteja viva.
— Todos concordamos com você. — disse Remus, coçando a nuca. — Não sabemos o que a morte de uma aluna poderia causar para Hogwarts, além de ter o grande problema de todos os funcionários da escola serem culpados por não 'ajudarem' na solução do caso.
— Sim, isso causaria um baita problemão para o ministério. — comentou Sirius bocejando. — Coitado do ministro dessa época... Ou não né, quem sabe.
Ele puxou a varinha e avançou por entre as colunas serpentinas. Cada passo cauteloso ecoava alto nas paredes sombreadas. Manteve os olhos semicerrados, pronto para fechá-los depressa ao menor sinal de movimento. As órbitas ocas das cobras de pedra pareciam segui-lo. Mais de uma vez, com um aperto no estômago, ele pensou ter surpreendido uma delas se mexendo.
— Não seria uma surpresa se elas tivessem mesmo se mexido. — disse Marlene. — Hello! Essa é a câmara secreta de um dos fundadores mortos de Hogwarts!
— Obrigada por apontar óbvio, Lene. — falou Dorcas revirando os olhos. — Aproveita e diz isso para todos no grande salão, acho que eles não te escutaram.
— Eu falei baixinho, ok? — rosnou a Mckinnon irritada. — Aliás, você não precisa prestar atenção em tudo o que eu digo, Dorquinhas.
— Garotas, eu realmente espero que essa discussão se encerre antes que eu decida silenciar vocês duas com um feitiço... — sussurrou Lily severamente olhando para Marlene e Dorcas irritada.
— Já paramos. — disseram as duas em uníssono, se abraçando como se fosse uma oferta de paz.
— Inacreditável. — falou Alice segurando a risada.
Então, quando emparelhou com o último par de colunas, uma estátua alta como a própria Câmara apareceu contra a parede do fundo.
Harry teve que esticar o pescoço para ver o rosto gigantesco lá no alto. Era antigo e simiesco, com uma barba longa e rala que caía quase até a barra das vestes esvoaçantes de um bruxo de pedra, onde havia dois pés cinzentos enormes apoiados no chão liso da Câmara.
— É quem eu acho que é...? — murmurou Kevin com os olhos arregalados. — Uma descrição memorável de Salazar Slytherin!
— Melhor querido, uma estátua! — falou Georgia, bicando os lábios do Parkinson em diversão.
— Por que nós sentamos do lado deles mesmo? — perguntou Barty, sentindo uma grande vontade de vomitar no casal.
— Porque eu digo e repito; "Não vamos ficar perto dos primeiros anos, eles gritam igual criancinhas assustadas". — respondeu Regulus, fazendo uma imitação terrível da voz do Crouch.
— Ah, sai pra lá. — resmungou o garoto, ignorando as risadas do Black mais jovem.
E entre os pés, de bruços, jazia um pequeno vulto de cabelos flamejantes vestido de negro.
— Gina! — murmurou Harry, correndo para ela e se ajoelhando. — Gina... Não esteja morta... Por favor, não esteja morta...
— Ela com certeza acordou com o Harry dizendo "Gina... Não esteja morta..." — disse Gildeory em um tom irritado e zombeteiro, ganhando olhares impacientes de Pandora e Quirrell.
— Lockhart, eu sempre fui uma pessoa calma e sensata. — começou Pandora, se aproximando do Corvinal. — Mas a única coisa que eu quero fazer agora é calar a sua boca!
— Pan, calma! — pediu Quirrell, puxando a garota para longe de Gilderoy, esse que começou a gritar como uma menininha de cinco anos de idade, chamando a atenção de todos, sem exceção, para os três.
— Srta.Moon, Sr.Quirrell e Sr.Lockhart! — gritou Flitwick em desapontamento. — Eu nunca esperava um comportamento desse vindo dos meus preciosos corvos!
— Sério? Então o senhor tem que ver como eles ficam no dia de exames... É mil vezes pior que isso! — disse Sirius, recebendo um olhar de Euphemia para ficar calado.
— Menos 10 pontos da Corvinal! — anunciou o meio-duende, como se aquilo doesse mais do que mil crucios, fazendo Pandora, Gildeory e Quirinus se sentirem um pouco culpados.
— Acho melhor o Sr.Longbottom continuar a leitura... — sugeriu Antonieta, temendo que Flitwick começasse a chorar ali mesmo.
— Eu nem discordo, professora! — disse Frank voltando a ler.
— Ele largou a varinha de lado,
Edgar conteu o grito frustrado que queria sair de sua boca.
segurou Gina pelos ombros e virou-a. Seu rosto estava branco e frio como o mármore, mas tinha os olhos fechados, portanto não estava petrificada. Então devia estar...
—... Morta? — falou Peter, fazendo todos olharem para ele em choque. — Acho melhor eu calar a minha boca.
— Gina, por favor, acorde — murmurou Harry desesperado, sacudindo-a. A cabeça de Gina balançou desamparada de um lado para o outro.
Carlinhos estremeceu, ele não poderia imaginar o que sua irmã passou quando estava sendo possuída. Mas agora, lendo tudo isso, o Weasley só queria poder ver Gina e abraça-lá, dizendo que estava tudo bem e que ele iria protegê-la.
— Ela não vai acordar — disse uma voz indulgente.
Harry se sobressaltou e se virou ainda de joelhos.
Um garoto alto, de cabelos negros, o observava encostado à coluna mais próxima. Tinha os contornos estranhamente borrados, como se Harry o estivesse vendo através de uma janela embaçada. Mas não havia como se enganar...
— Tom, Tom Riddle?
— Quem? — questionaram os alunos em profunda confusão.
— Eu acho que já vi o nome dele na sala de troféus... — disse Hestia, chamando a atenção. — Mas se for a mesma pessoa... — a garota parou para pensar. — Tom Riddle não deveria estar tão jovem assim.
— Isso é tão confuso e estranho. — falou Emmeline suspirando. — Só teremos respostas concretas continuando a leitura.
— Infelizmente. — concordou Hestia, acenando para Frank voltar ler.
Riddle confirmou com a cabeça, sem tirar os olhos do rosto de Harry.
— Que é que você quer dizer com "ela não vai acordar"? — perguntou desesperado. — Ela não está... Não está...?
— Ainda está viva — disse Riddle. — Mas por um fio.
Harry arregalou os olhos para ele. Tom Riddle estivera em Hogwarts cinquenta anos atrás, contudo achava-se ali parado, envolto por uma luz estranha e enevoada, com os seus exatos dezesseis anos.
— Eu sabia! — gritou Hestia, batendo na mão de Emmeline em comemoração.
— Nunca duvidei de você, Hestia. Não sei como o chapéu não considerou a Corvinal para você! Além de inteligente tem boa memória. — elogiou a Vance, sorrindo para a amiga.
— Obrigada. — agradeceu a Jones com o rosto vermelho.
— Você é um fantasma? — perguntou Harry incerto.
— Uma lembrança — disse Riddle com suavidade. — Conservada em um diário durante cinquenta anos. — E apontou para o chão perto dos enormes pés da estátua. Caído ali encontrava-se o pequeno livro preto que Harry encontrara no banheiro da Murta Que Geme.
— Harry já tinha encontrado esse diário em algum momento do segundo ano... — murmurou Fleamont pensativo antes de se voltar para o Remus do futuro. — Você tem uma idéia de onde ele poderia estar em 1977?
— No futuro o diário estava com os Malfoy. — respondeu o Lupin. — Talvez Você-Sabe-Quem não tenha dado ao casal ainda. Mas não adianta perguntar, não é?
— Você quer dizer interrogar. — corrigiu Amos. — Se fizermos isso de maneira leve e descontraída eles não vão abrir o bico.
— Falem um pouco mais baixo. — sugeriu Arthur olhando ao redor. — Ninguém daqui sabe do que estamos falando nem do tanto que sabemos, exceto o diretor é claro, acho que ele desconfia um pouco... — o Weasley balançou a cabeça. — Mas eu ainda não entendo do por que não podemos falar para Dumbledore sobre tudo isso.
— Albus já tem uma certa idéia que Voldemort tem feito horcruxes, Arthur. — começou Fleamont, ignorando as vaciladas dos homens pelo nome. — Ele não fez nada para impedir isso até o sexto ano de Harry Potter, como Carlinhos e Ninfadora nos explicaram. Se o velho tivesse dito antes, muito antes, várias e várias mortes poderiam ter sido evitadas.
— Eu não sabia que os dois tinham falado até aí para vocês. — falou Remus confuso. — Eles não disseram nada de importante para os Malfoy, certo?
— Não, não. — quem respondeu foi Amos. — Tonks e Carlinhos só mostraram uma memória do futuro filho deles... Uma terrível por sinal, se o chororô de Narcisa Malfoy servir como prova.
— Vamos conversar sobre isso mais tarde em lugar privado, o melhor agora é prestar atenção na leitura. — avisou o Lupin, recebendo um aceno de concordância dos outros três.
Por um segundo, ele se perguntou como aquilo chegara ali — mas havia assuntos mais urgentes a tratar.
— Você tem que me ajudar, Tom — disse Harry, levantando a cabeça de Gina outra vez. — Temos que tirá-la daqui. Tem um basilisco... Não sei onde está, mas pode chegar a qualquer momento... Por favor, me ajude...
— Essa cena é um pouco vergonhosa. — admitiu Sirius a contragosto.
— Não vou poder discordar. — disse Remus, encolhendo de ombros.
Riddle não se mexeu. Harry, suando, conseguiu levantar metade do corpo de Gina do chão e se curvou para apanhar de novo sua varinha.
Mas a varinha desaparecera.
Edgar bateu a cabeça na mesa da Lufa-lufa, fazendo a casa perder 5 pontos.
— Você viu?
Ele ergueu a cabeça. Riddle continuava a observá-lo — girava a varinha de Harry entre os dedos compridos.
— Obrigado — disse Harry, estendendo a mão para a varinha. Um sorriso encrespou os cantos da boca de Riddle. Continuava a encarar Harry, girando distraidamente a varinha.
Os presentes no grande salão queriam gemer pela estupidez de Harry Potter naquele momento. Sim, até os do futuro.
— Escute aqui — disse Harry com urgência, seus joelhos cedendo sob o peso morto de Gina. — Temos que ir embora! Se o basilisco chegar...
— Ele não virá até ser chamado — disse Riddle calmamente. Harry depositou Gina outra vez no chão, incapaz de continuar a sustentá-la.
— Que quer dizer? Olhe me dê a minha varinha, posso precisar dela...
— Ele já percebeu isso. — Euphemia apontou o óbvio.
O sorriso de Riddle se alargou.
— Você não vai precisar dela.
Harry encarou-o.
— Que é que você quer dizer, não vou...?
— Esperei muito tempo por isto, Harry Potter. Por uma chance de vê-lo. De lhe falar.
— Ok... isso foi muito estranho. — falou James, levantando uma sobrancelha.
— Esquisito também se encaixa. — disse Sirius carrancudo.
— Olhe — disse Harry perdendo a paciência. — Acho que você não está entendendo. Estamos na Câmara Secreta. Podemos conversar depois...
— Vamos conversar agora — disse Riddle, ainda sorrindo, e guardando a varinha no bolso.
— Esse cara é um psicopata! — gritou uma Grifinória apavorada.
Harry encarou-o. Havia alguma coisa muito estranha acontecendo ali...
— É sério que ele está perguntando isso?! — exclamou Marlene, querendo muito pegar Harry Potter pelos ombros e sacudi-lo até ele finalmente perceber o que está acontecendo.
— Como foi que Gina ficou assim? — perguntou com a voz lenta.
— Bom, essa é uma pergunta interessante — disse Riddle em tom agradável. — É uma história bastante comprida. Suponho que a razão de Gina Weasley estar assim é porque abriu o coração e contou todos os seus segredos para um estranho invisível.
— Ela só estava frágil naquele momento, mas Gina é uma das Grifinórias mais fortes que já conheci. — disse Tonks orgulhosa.
— Do que é que você está falando?
— Do diário. Do meu diário. A pequena Gina anda escrevendo nele há meses, me contou suas tristes preocupações e mágoas, como os irmãos implicavam com ela, como teve que vir para a escola com vestes e livros de segunda mão, como... — os olhos de Riddle brilharam — como achava que o bom, o famoso, o importante Harry Potter jamais iria gostar dela...
Todo o tempo que falava, os olhos de Riddle não desgrudavam do rosto de Harry. Havia neles uma expressão quase faminta.
Narcisa fez uma careta enquanto apertava o braço do marido.
— É muito chato ter que ouvir os probleminhas bobos de uma garota de onze anos. Mas fui paciente. Respondi. Fui simpático, gentil. Gina simplesmente me adorou. “Ninguém nunca me compreendeu como você; Tom... É uma alegria ter este diário para fazer confidências... É como ter um amigo portátil que se leva para todo lado no bolso...”
Riddle deu uma risada aguda e fria que não combinava com ele. Fez os cabelos na nuca de Harry se arrepiarem.
— Ainda que seja eu a dizer, Harry, sempre fui capaz de encantar as pessoas de quem precisei. Então Gina me revelou sua alma, e por acaso essa alma era exatamente o que eu queria...
— Oh ele não fez... — falou Antonieta, cobrindo a boca com a mão em puro choque.
— Pobre Srta.Weasley. — sussurrou Pomona, sentindo um aperto no coração.
Fui ficando cada vez mais forte com a dieta dos seus medos mais arraigados e segredos mais íntimos. Fiquei poderoso, muito mais poderoso do que a pequena Srta. Weasley. Suficientemente poderoso para começar a alimentá-la com alguns dos meus segredos, e começar a instilar nela um pouco da minha alma...
— E-eu não acredito. — disse Lily pasma. — Tom Riddle possuiu Gina com o diário e abriu a Câmara Secreta, petrificando assim alguns alunos acidentalmente. O que sugere, obviamente, que ele é o Herdeiro de Slytherin, que só queria matar crianças e adolescentes ao em vez de... de...
— Pretifica-lás. — finalizou Dorcas, colocando a mão no ombro de Lily. — Ele é um monstro.
— Totalmente. — concordaram Marlene e Alice preocupadas.
— Do que é que você está falando? — perguntou Harry, que sentia boca muito seca.
— Você ainda não adivinhou, Harry Potter? — disse Riddle baixinho. — Gina Weasley abriu a Câmara Secreta. Ela estrangulou os galos da escola e escreveu mensagens ameaçadoras nas paredes. Ela açulou a serpente de Slytherin contra quatro sangues-ruins e a gata daquela aberração do Filch.
— Não foi ela! — gritou Carlinhos irritado.
— Não — sussurrou Harry.
— Sim — confirmou Riddle calmamente. — É claro que ela não sabia o que estava fazendo no início. Era muito divertido. Eu gostaria que você tivesse visto as anotações que a garota fez no diário depois... Ficaram muito mais interessantes... "Querido Tom" — recitou ele, observando a expressão horrorizada de Harry — "Acho que estou perdendo a memória. Tem penas de galos nas minhas vestes e não sei como foram parar lá. Querido Tom, não me lembro do que fiz na noite das Bruxas, mas um gato foi atacado e a frente da minha roupa está suja de tinta. Querido Tom, Percy me diz o tempo todo que estou pálida e que estou diferente do que era. Acho que ele suspeita de mim... Houve outro ataque hoje e não sei onde é que eu estava. Tom, que é que eu vou fazer? Acho que estou ficando maluca... Acho que sou a pessoa que está atacando todo mundo, Tom!”
— Gina não merecia passar por tudo isso. — disse o Remus do futuro em profunda dor.
— Ela com certeza deve ter enlouquecido. — murmurou Amos solidariamente. — Perda de memória, ataques... Isso é demais para uma garota com apenas onze anos de idade.
Os punhos de Harry se fecharam, as unhas se enterraram nas palmas das mãos.
— Levou muito tempo para a burrinha da Gina parar de confiar no diário — continuou Riddle.
— Se eu encontrar esse diário vou queima-ló rapidamente. — comentou Pandora. — Quem esse cara pensa que é?!
— Mas ela finalmente desconfiou e tentou jogá-lo fora. E foi aí que você entrou, Harry. Você o encontrou e eu não poderia ter me sentido mais satisfeito. De todas as pessoas que podiam tê-lo apanhado, foi você, exatamente a pessoa que eu estava mais ansioso para conhecer...
— E para que você queria me conhecer? — perguntou Harry. A raiva corria pelas veias dele, e precisou de muito esforço para manter a voz firme.
— Bem, veja, Gina me contou tudo sobre você, Harry. Toda a sua história fascinante. — Os olhos de Riddle percorreram a cicatriz em forma de raio na testa de Harry e sua expressão se tornou mais voraz. — Senti que precisava descobrir mais a seu respeito, conversar com você, conhecer você, se pudesse. Então, decidi lhe mostrar a minha famosa captura daquele bobalhão do Hagrid para ganhar sua confiança...
O mencionado fechou os olhos ao se lembrar do que aconteceu.
— Hagrid é meu amigo — disse Harry, a voz trêmula. — E foi você que o incriminou, não foi? Pensei que você tivesse se enganado, mas...
— Acho que finalmente vamos descobrir o motivo de Hagrid ter sido expulso de Hogwarts anos atrás. — falou Remus para seus amigos com curiosidade.
Riddle deu aquela risada aguda outra vez.
— Foi a minha palavra contra a de Hagrid, Harry. Bem, você pode imaginar o que pareceu ao velho Armando Dippet. De um lado, Tom Riddle, pobre, mas brilhante, órfão, mas muito corajoso, monitor, aluno modelo... Do outro lado, o trapalhão do Hagrid, que vivia se metendo em encrencas, tentava criar filhotes de lobisomens debaixo da cama, fugia para a Floresta Proibida para brigar com trasgos... Mas admito que até eu mesmo fiquei surpreso que o plano tivesse funcionado tão bem. Achei que alguém devia perceber que Hagrid não poderia ser o herdeiro de Slytherin. Eu gastara cinco anos inteiros para descobrir tudo que podia sobre a Câmara Secreta e encontrar a entrada... Como se Hagrid tivesse cabeça, ou poder para tanto! Só o professor de Transfiguração, Dumbledore, pareceu pensar que Hagrid era inocente. E convenceu Dippet a conservar Hagrid aqui e treiná-lo para guarda-caça. E, acho que ele talvez tivesse adivinhado... Dumbledore nunca pareceu gostar de mim tanto quanto os outros professores...
Fleamont levantou uma sobrancelha para isso.
— Aposto que Dumbledore não se deixou enganar por você — disse Harry com os dentes cerrados.
— Bem, não há dúvida de que ele ficou me vigiando de maneira incômoda depois que Hagrid foi expulso — disse Riddle indiferente. — Percebi que não seria seguro tornar a abrir a Câmara enquanto ainda estivesse na escola. Mas não ia desperdiçar os longos anos que passei procurando por ela. Resolvi deixar aqui um diário, preservando o meu eu de dezesseis anos em suas páginas, de modo que um dia, com sorte, eu pudesse conduzir alguém pelas minhas pegadas e terminar a nobre tarefa de Salazar Slytherin.
— Bem, você não a terminou — disse Harry em tom de vitória. — Desta vez ninguém morreu, nem mesmo a gata.
— Minha pobre Sra.Norris... — murmurou Filch, abraçando o animal.
Dentro de algumas horas a Poção de Mandrágoras estará pronta e todos que foram petrificados voltarão à normalidade outra vez...
— Acho que ainda não lhe disse — falou Riddle em voz baixa — que matar sangues ruins não me interessa mais. Há muitos meses agora, meu novo alvo tem sido... Você.
— Sinistro. — disse Barty estremecendo.
Harry encarou-o.
— Imagine a raiva que tive quando na vez seguinte que alguém abriu o meu diário, era a Gina que estava me escrevendo e não você. Ela o viu com o diário, sabe, e entrou em pânico. E se você descobrisse como usá-lo, e eu repetisse todos os segredos dela para você? E se, o que seria pior, eu contasse a você quem tinha andado estrangulando os galos? Então a boba da pirralha esperou o seu dormitório ficar deserto e roubou o diário. Mas eu sabia o que precisava fazer. Tinha ficado claro para mim que você estava na pista do herdeiro de Slytherin. Por tudo que Gina tinha me contado, eu sabia que você não mediria esforços para solucionar o mistério, principalmente se um dos seus melhores amigos fosse atacado. E Gina tinha me contado que a escola inteira estava alvoroçada porque você sabia falar a língua das cobras... Enfim, fiz Gina escrever o bilhete de adeus na parede e descer aqui para esperar. Ela resistiu, chorou e ficou muito chateada.
— Ele queria que ela ficasse feliz? — indagou Alice incrédula.
Mas não resta nela muita vida... Ela transferiu muita força para o diário, para mim. O suficiente para eu poder finalmente deixar aquelas páginas... Estive esperando você aparecer desde que chegamos aqui. Sabia que você viria.
— Virou profeta agora? — resmungou Regulus, revirando os olhos.
Tenho muitas perguntas a lhe fazer, Harry Potter.
— Deixa para outra hora. — sugeriu Hestia carrancuda.
— Por exemplo? — disse Harry com rispidez, os punhos ainda fechados.
— Bem — disse Riddle, dando um sorriso agradável. — como foi que você um garoto magricela, sem nenhum talento mágico excepcional, conseguiu derrotar o maior bruxo de todos os tempos?
— Porque ele é meu filho, ora. — falou James, arracando algumas risadas ao redor.
Como foi que você escapou apenas com uma cicatriz, enquanto os poderes do Lord Voldemort foram destruídos?
— Isso foi por causa da Lily, querido. — disse Alice, passando o braço pelo ombro da amiga em um gesto reconfortante. — Ninguém consegue vencer o amor de uma mãe.
Surgia agora em seus olhos vorazes um brilho estranho e avermelhado.
— Que lhe interessa como escapei? — perguntou Harry lentamente. — Voldemort foi depois do seu tempo...
— Voldemort — disse Riddle com indulgência — é o meu passado, presente e futuro, Harry Potter...
— O que ele quer dizer com isso? — perguntou Snape, não recebendo resposta alguma.
E, tirando a varinha de Harry do bolso, ele escreveu no ar três palavras cintilantes:
TOM SERVOLO RIDDLE
Em seguida, agitou a varinha uma vez e as letras do seu nome se rearrumaram:
EIS LORD VOLDEMORT
— Um anagrama. — declarou Euphemia com um suspiro chocado. — Devo admitir... Isso foi muito inteligente da parte dele.
— Entendeu? Era um nome que eu já estava usando em Hogwarts, só para os meus amigos mais íntimos, é claro. Você acha que eu ia usar o nome nojento do meu pai trouxa para sempre?
— O QUÊ?! — gritaram todos os que não sabiam.
— Um mestiço! Um maldito mestiço! — exclamou Georgia, batendo o punho na mesa.
— Todo esse tempo matando quem não era sangue-puro... — disse Lily, balançando a cabeça. — E ele próprio não é um.
— Se a verdade for espalhada, ninguém mais o seguirá. — declarou Marlene, bolando um plano em sua mente. — Parece que a casa caiu para o Lorde das Trevas.
Suas amigas não discordaram.
Porém, diante de toda aquela situação, Frank só conseguiu voltar a ler quando os Sonserinos finalmente processaram essa informação sobre o seu precioso senhor ser um mestiço. Para logo depois eles darem uma de 'revoltados', quase fazendo o Longbottom gemer em desespero.
O resto do presentes só podia assistir em choque enquanto via aqueles que apoiavam Voldemort o xingarem de todas as maneiras possíveis por mentir para eles.
Contudo, ninguém ousou comentar sobre Frank gritar um 'aleluia' após tudo se acalmar e ele continuar a leitura.
Eu, em cujas veias corre o sangue do próprio Salazar Slytherin, pelo lado de minha mãe? Eu, conservar o nome de um trouxa sujo e comum, que me abandonou mesmo antes de eu nascer, só porque descobriu que minha mãe era bruxa?
— Para tudo! — exigiu Pandora. — Ele matou pessoas e está começando uma guerra só porque o pai o abandonou?! A infância dele foi tão ruim assim para um ódio tão grande ter crescido???
— Pelo jeito sim. — concordou James um pouco chocado. — Não há dúvidas.
— Droga, agora eu estou começando a sentir pena dele. — resmungou Alice. — Ninguém merece sofrer assim, nem mesmo Você-Sabe-Quem.
— Exatamente. — afirmou Lily, acenando para Frank voltar a ler enquanto se perdia em pensamentos.
Não, Harry, criei para mim um nome novo, um nome que eu sabia que os bruxos de todo o mundo um dia teriam medo de pronunciar, quando eu me tornasse o maior bruxo do mundo.
O cérebro de Harry parecia ter enguiçado. Chocado, ele fixava Riddle, o garoto órfão que crescera para assassinar seus pais e tantos outros... Finalmente forçou-se a falar.
— Não é — sua voz baixa cheia de ódio.
— Não é o quê? — perguntou Riddle com rispidez.
— Não é o maior bruxo do mundo — disse Harry, respirando depressa. — Desculpe desapontá-lo, e tudo o mais, mas o maior bruxo do mundo é Alvo Dumbledore.
— O orgulho do padrinho. — murmurou Sirius, enxugando uma lágrima falsa. — Bem na cara desse idiota.
Todos dizem isso. Mesmo quando você era poderoso, você não se atreveu a tentar dominar Hogwarts. Dumbledore viu através de você quando frequentou a escola e ainda o amedronta hoje, onde quer que você se esconda...
O diretor acenou com a cabeça em apreciação.
O sorriso desaparecera da cara de Riddle, substituído por um olhar muito sinistro.
— Dumbledore foi afastado do castelo meramente pela minha lembrança — sibilou.
— Ele não está tão afastado quanto você poderia pensar! — retorquiu Harry. Falava sem pensar, querendo apavorar Riddle, desejando mais, do que acreditando que o que dizia fosse verdade...
Riddle abriu a boca, mas congelou.
Ouviram uma música vinda de algum lugar.
— Música? — questionaram a maioria das pessoas em confusão.
Riddle se virou para percorrer com os olhos a câmara vazia. A música se tornava cada vez mais alta.
Era misteriosa, de dar arrepios, sobrenatural; fez os cabelos de Harry ficarem em pé e o seu coração parecer inchar até dobrar de tamanho. Então a música atingiu tal volume que Harry a sentiu vibrar dentro do peito, e chamas irromperam no alto da coluna mais próxima.
Um pássaro vermelho do tamanho de um cisne apareceu, cantando aquela música esquisita para a abóbada do teto. Tinha uma cauda dourada e faiscante, comprida como a de um pavio e garras douradas e reluzentes que seguravam um embrulho esfarrapado.
— Uma fênix. — disse Quirrell admirado, os olhos brilhando em fascínio. Sua expressão sendo refletida por quase todos os presentes no grande salão.
Um segundo depois, o pássaro voava direto para Harry. Deixou cair a seus pés o embrulho que carregava, depois pousou pesadamente em seu ombro. Quando fechou as asas enormes, Harry ergueu os olhos e viu que tinha um bico dourado, longo e afiado e olhos redondos e escuros.
O pássaro parou de cantar. Sentou-se imóvel e cálido junto à bochecha de Harry, olhando com firmeza para Riddle.
— É uma fênix... — disse Riddle, encarando-o de volta com um olhar astuto.
— Não magina, é um pato. — falou Hestia, revirando os olhos.
— Fawkes? — sussurrou Harry, e sentiu as garras douradas do pássaro apertarem gentilmente seu ombro.
— E isso — disse Riddle, agora examinando o embrulho esfarrapado que Fawkes deixara cair — seria o velho Chapéu Seletor...
E era. Remendado, esfiapado, sujo, o chapéu jazia imóvel aos pés de Harry.
Riddle começou a rir outra vez. Riu tanto que a Câmara ecoou com o seu riso, como se dez Riddle estivessem rindo ao mesmo tempo...
— Por Merlin... — murmurou Emmeline apavorada.
— Isto é o que Dumbledore manda ao seu defensor! Um pássaro canoro e um velho chapéu! Você se sente cheio de coragem, Harry Potter? Sente-se seguro agora?
— Ele meio que tem razão. — falou Peter com receio. — Como o chapéu vai ajudar?
Harry não respondeu. Talvez não entendesse qual era a utilidade de Fawkes ou do Chapéu Seletor, mas já não estava sozinho e esperou com crescente coragem Riddle parar de rir.
— Aos negócios, Harry — falou Riddle, ainda com um largo sorriso. — Duas vezes, no seu passado, ou no meu futuro, nós nos encontramos. E duas vezes não consegui matá-lo. Como foi que você sobreviveu? Conte-me tudo. Quanto mais tempo falar — acrescentou brandamente — mais tempo continuará vivo.
— Um ótimo negócio. — ironizou Snape.
Harry começou a pensar depressa, avaliando suas chances. Riddle tinha a varinha. Ele, Harry, tinha Fawkes e o Chapéu Seletor, nenhum dos quais adiantaria muito em um duelo. A situação parecia ruim, não havia dúvida... Mas quanto mais tempo Riddle ficasse ali, mais depressa a vida de Gina se esgotava... Entrementes, Harry reparou de repente que os contornos de Riddle estavam ficando mais nítidos, mais sólidos... Se tinha que haver uma luta entre ele e Riddle, quanto mais cedo melhor.
— Ninguém sabe por que você perdeu seus poderes ao me atacar — disse Harry abruptamente. — Nem mesmo eu sei. Mas sei por que você não pôde me matar. Foi porque minha mãe morreu para me salvar. Minha mãe nascida trouxa e comum — acrescentou, sacudindo-se de raiva reprimida. — Ela impediu você de me matar. E eu vi o seu eu verdadeiro. Vi no ano passado. Você está uma ruína. Mal se mantém vivo. Foi isso que você ganhou com todo o seu poder. Você vive escondido. Você é feio, você é nojento...
O rosto de Riddle se contorceu. Então ele deu um horrível sorriso amarelo.
— Então, sua mãe morreu para salvar você. É, isso é um contrafeitiço poderoso. Estou entendendo agora... Afinal de contas você não tem nada especial. Há uma estranha semelhança entre nós.
— Harry não se parece em nada com você! — rebateu Lily, chamando a atenção de suas amigas.
— Ela sabe que está falando com um livro? — Marlene sussurrou para Dorcas preocupada.
— Não se preocupe. — disse a Meadowes. — Acho que todos nós vamos passar por isso o tempo todo ao decorrer dessa leitura.
— Vidente. — resmungou a McKinnon, ganhando um sorrisinho de Dorcas.
Até você deve ter notado. Nós dois somos órfãos, criados por trouxas. Provavelmente, desde o grande Slytherin, somos os dois falantes da língua das cobras a frequentar Hogwarts. E até nos parecemos fisicamente... Mas no final, foi um simples acaso que salvou você de mim.
— A morte da Srta.Evans não foi um acaso! — indagou McGonagall furiosa.
Era só o que eu queria saber.
Harry esperou tenso que Riddle erguesse a varinha. Mas o sorriso enviesado de Riddle voltou a se alargar.
— Agora, Harry, vou lhe dar uma liçãozinha. Vamos medir os poderes do Lord Voldemort, herdeiro de Slytherin, com os do famoso Harry Potter, e as melhores armas que Dumbledore pôde lhe dar...
Ele lançou um olhar divertido a Fawkes e ao Chapéu Seletor, em seguida se afastou.
Harry, o medo se espalhando pelas pernas dormentes, observou Riddle parar entre as altas colunas e olhar para o rosto de pedra de Slytherin, muito acima dele na obscuridade.
Riddle abriu bem a boca e sibilou — mas Harry entendeu o que ele estava dizendo...
— Fale comigo, Slytherin, o maior dos Quatro de Hogwarts.
Alguns alunos não resistiram e reviravam os olhos pelo exagero contido na frase.
Harry se virou para olhar a estátua, Fawkes balançava em seu ombro.
O gigantesco rosto de pedra de Slytherin se mexeu. Aterrorizado, Harry viu sua boca abrir, cada vez mais, e formar um enorme buraco negro.
E alguma coisa estava se mexendo dentro da boca da estátua. Alguma coisa começava a escorregar para fora de suas profundezas.
Harry recuou até bater na escura parede da Câmara e, ao fechar os olhos com força, sentiu a asa de Fawkes roçar sua bochecha quando o pássaro levantou voo. Harry queria gritar "Não me deixe!", mas que chance tinha uma fênix contra o rei das serpentes?
Algo descomunal bateu no piso de pedra da Câmara. Harry sentiu-o trepidar, ele sabia o que estava acontecendo, sentia, podia quase ver a cobra gigantesca se desenrolar para fora da boca de Slytherin.
A maioria se encolheu, imaginando a cena.
Então ouviu a voz sibilante de Riddle:
— Mate ele.
O basilisco estava vindo em sua direção; ele ouviu aquele corpo gigantesco deslizar pesadamente pelo chão empoeirado.
Com os olhos ainda fechados, Harry começou a correr as cegas para os lados, as mãos estendidas à frente, tateando o caminho, Voldemort dava risadas...
Harry tropeçou. Caiu com força no chão e sentiu gosto de sangue — a cobra estava a uma pequena distância, ele a ouviu se aproximar...
Logo acima dele houve um som alto, explosivo e aquoso e então alguma coisa pesada bateu em Harry com tanto ímpeto que o esmagou contra a parede. Esperando ter o corpo atravessado por presas ele ouviu mais sibilos raivosos, alguma coisa irrompendo por entre os pilares...
— Coisa?! É o maldito basilisco!! — gritou Pandora nervosa.
Ele não aguentou — abriu os olhos o suficiente para espreitar o que estava acontecendo.
— Melhor não fazer isso. — comentou Remus à toa.
A enorme cobra, de um verde luzidio e venenoso, grossa como um tronco de carvalho, erguia-se no ar e sua enorme cabeça chanfrada balançava bêbeda entre as colunas. Trêmulo e pronto a fechar os olhos se a cobra se virasse, Harry viu o que distraíra a cobra.
Fawkes sobrevoava sua cabeça e o basilisco tentava abocanhá-la, furioso, com as presas finas como sabres...
Fawkes mergulhou. Seu longo bico dourado desapareceu de vista e uma chuva repentina de sangue escuro salpicou o chão. O rabo da cobra chicoteou, errando Harry por pouco e, antes que o garoto pudesse fechar os olhos, ela se virou — o garoto olhou direto para a sua cara e viu que os olhos, os dois olhos bulbosos e amarelos, tinham sido furados pela fênix; o sangue escorria no chão e a cobra espumava de dor.
— Isso! — comemoraram os presentes, sorrindo alivados.
— NÃO! — Harry ouviu Riddle gritar. — DEIXE O PÁSSARO! DEIXE O PÁSSARO! O GAROTO ESTÁ ATRÁS DE VOCÊ! VOCÊ AINDA PODE FAREJÁ-LO! MATE-O!
A cobra cega balançou, confusa, ainda letal. Fawkes descrevia círculos em volta de sua cabeça, cantando aquela música estranha, atacando aqui e ali o nariz escamoso da cobra, enquanto o sangue jorrava dos seus olhos destruídos.
— Me ajudem, me ajudem — murmurou Harry —, alguém, qualquer um...
Lily curvou a cabeça enquanto soluçava, se sentindo impotente.
O rabo da cobra voltou a chicotear o chão. Harry se abaixou. Uma coisa macia bateu em seu rosto.
O basilisco varrera o Chapéu Seletor para os braços de Harry. O garoto agarrou-o. Era só o que lhe restava, sua única chance. Enfiou-o na cabeça e se atirou ao comprido no chão quando o rabo do basilisco tornou a golpear passando por cima dele.
“Me ajudem, me ajudem” — pensou Harry, os olhos bem fechados sob o chapéu. – “Por favor me ajudem...”
James olhou para o chão, sentindo a mesma dor de Lily por não poder ajudar seu futuro filho.
Nenhuma voz lhe respondeu. Em lugar disso, o chapéu encolheu, como se uma mão invisível o apertasse com força.
Uma coisa dura e pesada bateu na cabeça de Harry com força, deixando-o quase desacordado. Com estrelas piscando diante dos seus olhos, ele agarrou a ponta do chapéu com firmeza para tirá-lo e sentiu uma coisa comprida e dura em seu interior.
Uma refulgente espada de prata aparecera dentro do chapéu,
— Uma espada?!
o punho cravejado de rubis rutilantes do tamanho de ovos.
— MATE O GAROTO! DEIXE O PÁSSARO! O GAROTO ESTÁ A TRÁS DE VOCÊ! FAREJE, FAREJE!
Harry estava de pé, pronto.
A ansiedade cresceu em todas as pessoas no grande salão.
A cabeça do basilisco foi baixando, o corpo se enroscando, batendo nas colunas ao se torcer para atacá-lo de frente. Harry viu o corpo imenso, as órbitas ensanguentadas, a boca escancarada, grande suficiente para engoli-lo inteiro, cheia de dentes compridos como a sua espada, pontiagudos, faiscantes, venenosos...
— Chega! Entendemos, ok? Animal super perigoso e mortal! — exclamou Marlene levemente enjoada.
A cobra atacou às cegas... Harry evitou-a e bateu na parede da Câmara. Ela atacou de novo, e sua língua bifurcada golpeou o lado de Harry.
— Eu acho que nunca mais vou ter um sono decente. — disse uma Lufa-lufa, ficando verde.
Ele ergueu a espada com as duas mãos...
O basilisco tornou a atacar, e desta vez na direção certa... Harry pôs todo o seu peso na espada e enfiou-o até a bainha no céu da boca da cobra...
Alguém soltou um grito apavorado.
Mas quando o sangue quente encharcou os braços de Harry, ele sentiu uma dor excruciante logo acima do cotovelo.
Uma presa comprida e venenosa estava se enterrando cada vez mais fundo em seu braço
— Não, não, não, não... — repetiu Lily, balançando a cabeça frenética, se deixando ser agarrada por suas amigas aflitas.
— Por Godric... — sussurrou Euphemia, abraçando James em conforto enquanto via os presentes arregalarem os olhos em choque e medo, temendo o que seria revelado.
— Que Merlin salve Harry Potter.
e se partiu quando o basilisco tombou para o lado e caiu, estrebuchando no chão.
Harry escorregou pela parede. Agarrou a presa que espalhava veneno pelo seu corpo e arrancou-a do braço. Mas percebeu que era tarde demais. Uma dor terrível se irradiava do ferimento de modo lento e contínuo. Na hora em que deixou cair a presa e viu o próprio sangue empapar suas vestes, sua visão se embaçou. A Câmara se dissolveu num rodamoinho de cores opacas.
Uma nesga de vermelho passou por ele, e Harry ouviu unhas baterem ao seu lado suavemente.
— Fawkes — disse com a voz engrolada. — Você foi fantástico, Fawkes... — Ele sentiu o pássaro deitar a bela cabeça no lugar em que a presa da serpente o furara. Ouviu ecoarem passos e depois uma sombra escura passar à sua frente.
— Você está morto, Harry Potter — disse a voz de Riddle do alto. — Morto. Até o pássaro de Dumbledore sabe disso. Você está vendo o que ele está fazendo, Potter? Está chorando.
— Chorando?! — questionou Regulus com uma sobrancelha levantada. — Lágrimas de Fênix... É claro!
Harry piscou os olhos. A cabeça de Fawkes entrava e saía de foco. Lágrimas grossas e peroladas escorriam por suas penas de cetim.
— Vou me sentar aqui e apreciar você morrer, Harry Potter. Pode demorar à vontade. Não tenho pressa.
Harry se sentiu sonolento. Tudo à sua volta parecia estar girando.
— Assim termina o famoso Harry Potter — disse a voz distante de Riddle — Sozinho na Câmara Secreta, abandonado pelos amigos, finalmente derrotado pelo Lord das Trevas que ele tão insensatamente desafiou.
— Por favor, Harry era apenas um bebê quando Você-Sabe-Quem, no caso você, foi atrás dele! — reclamou Dorcas exasperada.
Você vai voltar para a sua querida mãe de sangue-ruim em breve, Harry...
Gritos de raiva poderiam ser ouvidos.
Ela comprou para você mais doze anos de vida... Mas Lord Voldemort acabou por vencê-lo, como você sabia que ele faria...
Se isto for morrer, pensou Harry, não é tão mau assim.
Até mesmo a dor abandonou-o aos poucos...
Mas será que isto era morrer? Em vez de escurecer a Câmara parecia estar voltando a entrar em foco. Harry fez um pequeno movimento com a cabeça e lá estava Fawkes, ainda descansando a cabeça em seu braço. Uma pocinha de lágrimas peroladas brilhava em torno do ferimento — só que não havia ferimento...
— Como assim? — perguntaram a maioria dos alunos, não recebendo nenhuma resposta.
— Afaste-se dele, pássaro — disse a voz de Riddle inesperadamente. — Afaste-se dele, eu falei, afaste-se...
— Ele só percebeu agora... — comentou Dumbledore, balançando a cabeça em resignação.
Harry levantou a cabeça. Riddle estava apontando a varinha de Harry para Fawkes; ouviu-se um estampido como o de um revólver e Fawkes levantou voo outra vez num redemoinho dourado e vermelho.
— Lágrimas de fênix... — disse Riddle baixinho, olhando o braço de Harry. — É claro... Poderes curativos... Me esqueci...
— Quem manda ser burro? — retrucou Sirius, ganhando um tapa de Remus na nuca.
Ele olhou para o rosto de Harry.
— Mas não faz diferença. Na realidade, prefiro assim. Só você e eu, Harry Potter... Você e eu...
E ergueu a varinha...
Então num farfalhar de penas, Fawkes sobrevoou os dois e uma coisa caiu no colo de Harry — o diário.
Por uma fração de segundo, Harry e Riddle, a varinha ainda erguida, olharam para o diário.
— Estranho. — disse Peter.
Então, sem pensar, sem raciocinar, como se tivesse pretendido fazer isso o tempo todo, Harry agarrou a presa do basilisco no chão ao lado dele e enterrou-a direto no centro do livro.
Ouviu-se um grito longo e cortante. Um rio de tinta jorrou do diário, escorreu pelas mãos de Harry, inundou o chão. Riddle estrebuchava e se contorcia, gritando e se debatendo e então... Desapareceu. A varinha de Harry caiu no chão com estrépito e em seguida fez-se silêncio.
Silêncio, exceto pelo pinga-pinga da tinta que ainda escorria do diário. O veneno do basilisco abrira a fogo um buraco no livro.
— Ele se foi?
A pergunta permaneceu na mente de todos.
O corpo inteiro tremendo, Harry se levantou. Sua cabeça rodava como se tivesse acabado de viajar quilômetros com o Pó de Flu. Lentamente, recolheu a varinha e o Chapéu Seletor e, com um violento puxão, retirou a espada faiscante do céu da boca do basilisco.
Então chegou aos seus ouvidos um gemido fraco lá do fundo da Câmara. Gina estava se mexendo. Enquanto Harry corria para a garota, ela se sentou. Seus olhos espantados ziguezaguearam do enorme vulto do basilisco morto para Harry, com as vestes encharcadas de sangue, e daí para o diário em sua mão. Ela inspirou profundamente, estremecendo, e as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto.
— Harry, ah, Harry, eu tentei lhe contar no café, mas não pude contar na frente do Percy... Fui eu, Harry... Mas... j-juro que não tive intenção... Riddle me obrigou, ele me levou até lá...
— Pobre Gina. — falou Lily, soltando um suspiro.
E... Como foi que você matou aquele... Aquela coisa? Onde está Riddle? A última coisa que me lembro é dele saindo do diário.
— Tudo bem — disse Harry, levantando o diário e mostrando à Gina o furo feito pela presa — o Riddle acabou. — Olhe! Ele e o basilisco. Anda Gina, vamos dar o fora daqui!
— Vou ser expulsa! — choramingou Gina enquanto Harry a ajudava, desajeitado, a ficar em pé. — Sonhei em vir para Hogwarts desde que G-Gui veio e ag-gora vou ter que sair e... q-que-que papai e mamãe vão dizer?
— Gina não tem culpa. — começou Antonieta. — Então não tem porque expulsa-lá.
Fawkes estava à espera deles, sobrevoando a entrada da Câmara. Harry instigava Gina a avançar; os dois saltaram por cima das voltas inertes do basilisco morto, atravessando a penumbra cheia de ecos e voltaram ao túnel.
— Caminho sombrio, já entendemos. — disse Emmeline, revirando os olhos.
Harry ouviu as portas de pedra se fecharem às suas costas com um silvo fraco.
Depois de caminharem alguns minutos pelo túnel escuro, Harry ouviu o som distante de pedras que se deslocavam lentamente.
— Rony! — berrou, se apressando. — Gina está bem! Está comigo!
Ouviram Rony soltar um viva sufocado e, ao virarem a curva seguinte, divisaram a sua carinha ansiosa espiando por uma brecha de bom tamanho, que ele conseguira abrir entre as pedras desmoronadas.
— Gina!— Rony enfiou um braço pelo buraco para puxá-la primeiro. — Você está viva! Não acredito! Que aconteceu! Como... Que... De onde veio o pássaro?
Todos riram, aliviando o clima tenso que tinha se formado no grande salão.
Fawkes mergulhou no buraco atrás de Gina.
— É do Dumbledore — respondeu Harry, espremendo-se para passar.
— Ótima explicação. — comentou Fleamont divertido.
— Onde arranjou uma espada? — disse Rony, boquiabrindo-se ao ver a arma na mão de Harry.
— Explico quando sairmos daqui — disse Harry com um olhar de esguelha para Gina, que agora chorava mais do que antes.
— Mas...
— Mais tarde — disse Harry concisamente. Não achou uma boa ideia naquele momento contar a Rony quem andara abrindo a Câmara, pelo menos não na frente de Gina. — Onde anda Lockhart?
— Aquele idiota não serve para nada... — resmungou James irritado.
— Lá atrás — disse Rony, ainda com uma expressão intrigada, mas indicando com a cabeça o túnel na direção do cano de entrada. — Está bem ruinzinho. Venha ver.
Guiados por Fawkes, cujas penas vermelhas produziam uma luminosidade dourada no escuro, eles caminharam de volta à boca do cano.
Muitos ficaram imaginando como seria ver isso em primeira mão.
Gilderoy Lockhart estava sentado, cantarolando tranquilamente para si mesmo.
— A memória dele desapareceu — disse Rony. — O Feitiço da Memória saiu pela culatra. Atingiu ele em vez de nós. Ele não tem a menor ideia de quem é, onde está ou de quem somos. Eu o mandei vir esperar aqui. É um perigo para ele mesmo.
Gildeory quase desmaiou ao ouvir o que aconteceu consigo no futuro.
Lockhart mirou os garotos, bem-humorado.
— Alô — disse ele. — Lugar esquisito, esse, não acham? Vocês moram aqui?
— Claro que sim. — disse Hestia sendo sarcástica, ganhando um olhar furioso do Lockhart.
— Não — respondeu Rony, erguendo as sobrancelhas para Harry.
Harry se abaixou e espiou para dentro do cano longo e escuro.
— Você já pensou como é que vamos subir por isso para voltar? — perguntou a Rony.
Rony sacudiu a cabeça, mas Fawkes, a fênix, passara por Harry e agora esvoaçava à sua frente, seus olhos de contas brilhando no escuro. Ela acenava com as compridas penas douradas da cauda. Harry olhou-a hesitante.
— Parece que ela quer que você a agarre... — disse Rony, com um olhar perplexo. — Mas você é pesado demais para um pássaro arrastá-lo por ali...
— É uma fênix! — gritou uma Corvinal enfurecida.
— Fawkes não é um pássaro comum. — Harry se virou depressa para os outros. — Temos que nos segurar uns nos outros. Gina, agarre a mão de Rony. Profº. Lockhart...
— Ele está se referindo ao senhor — disse Rony rispidamente a Lockhart. — Segure a outra mão de Gina...
Harry prendeu a espada e o Chapéu Seletor no cinto, Rony segurou as costas das vestes de Harry e este esticou a mão e agarrou a cauda estranhamente quente de Fawkes.
Uma leveza extraordinária pareceu se espalhar por todo o seu corpo e, no segundo seguinte, o grupo voava pelo cano em meio a um farfalhar de asas. Harry ouviu Lockhart, pendurado atrás dele, exclamar: "Espantoso! Espantoso! Isso parece mágica!"
Risadas foram ouvidas enquanto Gildeory se transformava em um tomate por tão vermelho que estava.
O ar frio fustigava os cabelos de Harry e, antes que ele tivesse enjoado da viagem, ela terminou. Os quatro bateram no chão molhado do banheiro da Murta Que Geme, e enquanto Lockhart endireitava o chapéu, a pia que escondera o cano voltou a se encaixar suavemente no lugar.
Murta arregalou os olhos para Harry.
— Você está vivo! — exclamou desconcertada.
— Não precisa parecer tão desapontada — disse o garoto, sério, limpando os salpicos de sangue e o limo dos óculos.
— Ah, bem... Andei pensando... Se você tivesse morrido, seria bem-vindo a dividir o meu boxe — disse Murta, com o rosto tingindo-se de prateado.
— Que linda história romântica. — falou Marlene fazendo uma careta.
— Arre! — exclamou Rony ao saírem do banheiro para o corredor escuro e deserto. — Harry! Acho que Murta está gostando de você! Gina você ganhou uma concorrente!
Mas as lágrimas continuavam a escorrer silenciosamente pelo rosto de Gina.
— Onde agora? — perguntou Rony, lançando um olhar ansioso a Gina. Harry apontou.
Fawkes tomou a frente, refulgindo ouro pelo corredor. Eles o seguiram e momentos depois se encontravam à porta da sala da Profª. McGonagall. Harry bateu e empurrou a porta, abrindo-a.
— Fim. — declarou Frank, soltando um suspiro cansado.
— Esse capítulo... Eu não tenho palavras para descrever. — disse Lily, cobrindo os olhos com as mãos enquanto segurava o choro.
— Está tudo bem... — murmurou Alice, puxando a Evans para um abraço. — Pelo menos Harry não corre mais perigo.
Uma tosse interrompeu o momento das duas e as várias conversas que tinham surgido no grande salão, fazendo todos voltarem seus olhos para o diretor.
— Quero que entendam que iremos ler só mais um capítulo e então vamos todos jantar. — avisou Dumbledore, sem deixar espaço para discussões. — Já está quase anoitecendo, se não perceberam. E muitos necessitam de uma boa noite de sono.
Porém, antes que alguém pudesse ter a chance de reclamar ou acrescentar algo, uma batida nas portas chamou a atenção de todos.
— Oh! Eles chegaram! — exclamou Tonks, pulando de alegria.
— Os outros convidados? — questionou Edgar, curioso.
— Sim, junto com uma surpresa. — disse Carlinhos, se levantando.
— Eu ainda não acredito que vocês fizeram mesmo isso. — resmungou o Remus do futuro, indo atrás do Weasley e da metamorfomaga.
— E eu não acredito que realmente deu certo. — retrucou Tonks, abrindo as portas do grande salão para receber uma pequena multidão de pessoas atrás de uma garota loira com olhos prateados brilhantes e sonhadores. — Hey, Luna! Espero que não tenha acontecido nada enquanto você ficava na casa dos Diggory!
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