(lado do Satoru)
Cheguei à escola mais rápido do que já cheguei a qualquer outro lugar, meu peito doía por ter corrido muito rápido e sem parar 1 segundo sequer.
O local estava silencioso, sem qualquer sinal de invasão ou luta. Pensei em procura-la primeiro em seu quarto, quando me lembrei de outro local fora da cortina...
Fui direto para o portão dos fundos em frente à praia. Meus passos causando um eco por aquele imenso corredor. Minha boca sussurrava seu nome sem parar e minha mente não saía a lembrança de seu rosto.
Arranquei o portão com uma força absurda, olhei ao redor chamando-a em meus pensamentos. Tirei a venda de meus olhos e comecei a procura-la por todo aquele local. Não a encontrava em parte alguma, nem mesmo no fundo do mar; Desespero, era tudo o que conseguia sentir nesse momento, a brisa gélida do ar soprava meus cabelos sobre os olhos. E em uma fração de segundo ouvi um choro baixo e abafado vindo de muito, muito longe... Alto.
Virei meu rosto encarando aquela luz avermelhada do por do sol, e a vi; caindo de metros e mais metros de altura. Não pensei em mais nada, aquela situação me causando uma dor no coração como se algo estivesse se partindo ao meio. Estiquei os braços e corri em sua direção com uma velocidade inabalável, gritava por seu nome desesperadamente, minha voz ecoava aflita e consumida por aquelas ondas agitadas.
- (s/n), (s/n), (s/n), (s/n), (s/n), (s/n).
Mesmo de longe conseguia ver como ela estava sangrando e machucada... Extremamente machucada. E mesmo assim, mesmo quase morta ela sorriu quando me viu correndo em sua direção. Preciso tira-la daqui, preciso leva-la para meu domínio onde o tempo é diferente, onde o tempo passa devagar. Eu preciso salva-la.
Entrelacei os dedos ainda correndo em sua direção e disse entre sussurros abafados:
- Expansão de domínio: Muryou Kuusho.
Então o vazio se abriu a levando junto a mim.
Ainda caindo sobre o ar, pulei em sua direção agarrando seu corpo e nos levando a superfície sólida. A encarei examinando suas feridas, fora totalmente dilacerada por dentro.
Sua barriga... Havia um buraco enorme perfurando seus órgãos, sua boca ensanguentada e rachada. Ela estava totalmente inconsciente e perdendo lentamente a batida de seu coração. O único sinal de vida provinha de sua respiração fraca e irregular.
Havia sangue espalhado por todo braço e também nas mãos. A abracei forte chegando seu rosto rente ao meu.
- Ei, (s/n) fica comigo, por favor, por favor. Lute, lute, lute. Você se lembra? Lembra do dia que eu falei que daria a minha vida pela sua se for preciso? Por favor só aguente mais um pouco.
Lágrimas escorriam de meus olhos e caíam sobre seu rosto, seu coração ainda batia fraco e não sabia se ela sobreviveria a isso, mas eu precisava tentar mesmo assim. Pois eu faria de tudo para salvar sua vida, mesmo se isso fizesse ela me odiar depois.
A coloquei sobre o chão, lembrando delicadamente sobre os ensinamentos e perigos dessa técnica, levei as mãos sobre sua ferida tentando acalmar minha mente e fazer o que precisa ser feito.
É uma técnica que foi proibida séculos atrás chamada de “Shi no kaifuku”, que significa “Recuperação de morte” e se for falhada leva uma pessoa “quase morta” a morrer de vez, restaurar uma veia e mantê-la com a mesma espessura de antes é uma técnica quase impossível. Mas usando minha visão de seis olhos consigo ver coisas que mais nenhuma pessoa consegue. Consigo ver células e tecidos para recompô-los.
Concentrei energia amaldiçoada em minhas mãos e nos envolvi em um pequeno casulo reluzente com cores azuladas e roxeadas. Moldei pequenas linhas finas de energia e fui penetrando cada parte vital de seu corpo, veias, artérias, pulmões, rins, fígado. Cada órgão que estava estilhaçado começou a se recompor totalmente. Tecido sobre tecido, foi se restaurando lentamente.
Mas não estava conseguindo alcançar seu coração, ele estava bem aqui, à minha frente, mas ao mesmo tempo tão distante. Continuei forçando delicadamente quando por fim... ele parou, e sua respiração ficou silenciosa, não estava funcionando, não conseguia me conectar com sua energia. Ela me rejeitava chegar em seu coração, como uma pequena barreira protetora.
Me faltou ar para tal situação, por favor, qualquer coisa menos isso. Não posso suportar perde-la... fechei os olhos pensando rapidamente sobre o que faria e lembrei daquele exato dia, 20 anos atrás, lembrei das palavras do velho feiticeiro...
☽ ✵ ☾
(20 anos atrás)
- Jovem mestre, seu futuro é incerto com linhas não traçadas e algumas apagadas, pode mudar a qualquer momento. Carregando um poder tão grande você terá a responsabilidade de proteger e ajudar quantas pessoas forem necessários.
(O feiticeiro levantou a cabeça, me encarando com aqueles olhos opacos; vazios. Parecia evitar dizer em voz alta o que havia descoberto)
E minha mão ainda sangrava por conta do corte em meu dedo; a única condição requerida para ver o destino da pessoa é um pouco de seu sangue do dedo mindinho.
- Você tem uma; maldição... Salvação. Ligado a sua alma desde o dia que nasceu.
Ele era um velho baixo, com coluna curva e esguia, tinha cabelos grisalhos e seus olhos foram queimados quando criança, por conta disso ele se tornou um Feiticeiro Jujutsu capaz de ler as linhas do destino de alguém. Não consegue lutar e mal sabe andar sozinho. Manipula sua energia amaldiçoada em forma de linhas finas e douradas que conseguem ver através do além-mundo, através do destino de uma pessoa.
O atual líder dos Feiticeiros Jujutsu me encarregou de vir a esse lugar. Todos queriam saber o que meu nascimento causaria ao mundo dos xamãs e não-xamãs.
Prevendo profecias, pragas, maldições, futuro. Nunca falhou, é como se fosse um oráculo vivo.
O senhor morava no alto de uma montanha em uma cabana de madeira Angelim com telhado branco, tinha três andares, e o formato de uma residência típica do Japão. Não existe nada nesse lugar além de sua residência, tudo em volta são grandes Pinheiros e Cedros, pequenas plantas, e algumas espécies de animais, á também um vasto lago esverdeado de água doce, que se localiza nos fundos do local. Um lugar tranquilo para viver.
Estávamos na sala em cima de carpetes quadriculados de madeira. À nossa frente continha pequenos copos de cerâmica com chá verde e um tabuleiro liso de Pedra Selenita com linhas finas de sangue e energia amaldiçoada traçadas sobre o mesmo.
Ele não me disse nada de que eu já não saiba até agora, um futuro incerto, é isso que eu tenho; não faço ideia do que me aguarda. Proteger pessoas... Nunca tive outra opção, além disso, devo ter nascido em prol disso. Não posso prever o dia de amanhã, não sei como morrerei, não sei quem será a próxima pessoa ou coisa que matarei.
Encarei o Feiticeiro a minha frente esperando para ver se ia me dizer mais alguma coisa. Nunca me preocupei com o futuro, sempre me deixei levar pelo momento, então não era surpresa alguma para mim que meu futuro é incerto.
Soltei um pequeno suspiro e comecei a levantar com a intenção de ir embora quando ele disse por fim:
- Amor. Ódio. Ligados pelo fio vermelho do destino, ligados através da alma. Um fio que não pode ser cortado, queimado e que nunca se corroerá. Uma criança com sangue dos deuses.
Parei por um segundo encarando o homem a minha frente, seus dedos cálidos e enrugados estavam sobre a Pedra Selenita fazendo pequenos espirais com o sangue.
- O que quer dizer com isso? Que criança? Deuses?
Perguntei terminando de levantar, aqueles olhos vazios me seguindo enquanto me mexia.
- Você saberá quando chegar a hora.
O Feiticeiro respondeu dando um sorriso fechado em minha direção.
- Tsch, já que você ver o futuro deveria me dizer coisas mais claras.
- Você está certo jovem mestre, eu vejo o futuro, mas não posso ver o futuro de quem ainda não tem um.
Fiquei um pouco assustado mas não deixei transparecer.
Já que meu futuro é incerto eu traçarei a linha do meu próprio destino, pois nós somos quem escolhemos ser.
- Obrigada pela ajuda. Tenha um bom dia.
(Disse já saindo de sua casa e indo em direção ao carro que me aguardava perto do lago.)
Ao caminho da escola fiquei pensando nas palavras daquele homem, a famosa lenda do fio vermelho... Pensei que era somente um lenda japonesa muito antiga.
Lenda do fio vermelho: A lenda fiz que o destino conecta as pessoas com um fio vermelho no dedo mindinho e independente do tempo, ou distância, essas pessoas irão se encontrar e realizarão uma história, seja ela de amor ou ódio. Os laços podem continuar em outra vida se o destino assim quiser.
☽ ✵ ☾
Tudo que ele dissera fora um enigma para mim naquela época, até ela aparecer. Perguntava-me todos os dias se era real, mas agora, com ela exaurida em minha frente eu soube... Soube que estávamos ligados de alguma forma, soube que era ela, e sempre foi e será ela.
Já de volta a realidade, concentrei energia em forma de uma pequena adaga afiada e fiz um pequeno corte no dedo mindinho de minha mão, peguei a de (s/n) delicadamente fazendo o mesmo.
Juntei nossos dedos e mãos, nosso sangue se entrelaçando e causando uma onda de choque por todo meu corpo. O vento estremeceu todo o local, e por um segundo não tive domínio sobre minha própria dimensão. Mesmo protegidos de energia dentro do casulo conseguia sentir o vento soprando ferozmente, fazendo a pequena barreira de poder falhar com tanta fúria, fúria dos deuses.
A encarei com todo o local ainda agitado, moldei novamente a energia em minhas mãos e a penetrei sobre seu coração paralisado. Minha energia não foi recusada dessa vez, foi como se tivesse me reconhecido.
Mesmo nunca tendo feito isso antes, estava dando certo, é como trazer alguém de volta a vida. Quando seu coração voltou a palpitar soltei um suspiro de alivio. Viva, ela estava viva novamente. Sua barriga esta quase fechada e seus órgãos já estavam funcionando... eu consegui, consegui salva-la. Mantenho minhas mãos firmes a segurando, o sangue já estancou, mas ela ainda continua desmaiada.
Quando termino de cura-la por inteira a aperto em meus braços.
O vento se acalmou e o domínio foi se rompendo nos levando de volta a praia, sangue escorria de meus olhos fazendo minha visão ficar embaçada e dolorida. Passei meus dedos cálidos sobre a maçã de seu rosto cheio de hematomas escuros. Não sabia se estava dormindo ou se havia desmaiado, mas, ela ficará bem.
Lágrimas começaram a escorrer novamente por meus rosto, junto com sangue. Olhei adiante a avistei duas silhuetas das qual não consigo distinguir, correndo em nossa direção. A abracei sentindo seu aroma, sentindo sua respiração calma sobre meu pescoço.
Uma delas se aproximou fazendo perguntas das qual não respondi, não parecia nem mesmo escuta-la. Então ela passou as mãos por (s/n) tentando tira-la de meu aconchego.
Com uma energia abundante ainda me restando, não pensei duas vezes e repeli tudo em nossa volta, tudo que ousava se aproximar de (s/n), as silhuetas se lançaram fortemente para longe, ficando prensadas ao chão sem se mover. Uma delas gritava e gritava em minha direção.
Areia, pedras, folhas e água, tudo foi lançado para longe com uma onda de energia e gravidade. Causando um barulho ensurdecedor de pedra se chocando com pedra.
☪
Depois de alguns minutos minha visão voltou a ficar nítida, por um momento pensei que ficaria cego. Que perderia minha visão de seis olhos. Que esse seria o preço pago por trazê-la de volta à vida.
Liguei-me e percebi o que estava fazendo, Kugisaki e Megumi chamavam por meu nome, me pedindo, implorando para parar. Dissipei o poder, fazendo seus corpos voltarem ao normal. Eles vieram correndo em nossa direção, abaixei a cabeça encarando minha coração de chamas, que ainda dormia sobre meus braços.
Um tempo depois desviei o olhar de seu rosto e fiquei de pé, estendendo seu delicado corpo aos braços de Megumi.
Pensei em me explicar, mas não sabia o que dizer não nesse momento. Nem eu mesmo entendia o que havia acontecido. Então optei pelo mais obvio que me veio a mente:
- Leve-a e coloque em meu quarto.
- Certo, sensei.
(Respondeu Megumi sem mais delongas. Fiquei grato por ele não exigir respostas imediatas.)
Kugisaki me olhava com cautela, parecia procurar a frase certa para dizer, ou perguntar. Mas só havia uma frase certa para essa situação.
- O que... o que aconteceu? (S/n) está...
Minha cabeça doía, e ainda não tinha acabado, precisava reforçar a barreira da escola e estender um novo portão, mas dessa vez feito de energia.
- Explicarei tudo depois. Agora voltem para a escola e não saiam em circunstância alguma.
(Disse já indo em direção à praia.)
Megumi e kugisaki não hesitaram e seguiram minhas ordens sem mais protestos.
- E... Desculpem-me, pelo que fiz.
Eles se viraram e deram um leve aceno de cabeça, seus rostos estavam sujos e sangrando.
Não sei o que me fez fazer isso, e me sentia culpado por ferir meus próprios alunos, mas com ela em meus braços... Inconsciente e indefesa, meus instintos de proteção ficaram afiados e entraram em ação.
Encarei o mar além pensando em tudo o que aconteceu, e os motivos que levaram a isso. O sol já tinha se posto, deixando o céu escuro e nublado tomar conta do local.
Pequenas gotas de água começaram a cair em meu rosto, o limpando de todas as substâncias presentes.
Centralizei uma imensidão de energia amaldiçoada na palma das mãos e me virei rumo à escola lançando uma segunda cortina azulada que cobriu todo o local adiante.
Ninguém entraria ou sairia sem que eu saiba, já falhei em protegê-la uma vez... E isso não irá acontecer de novo.
Caminhei rumo ao portão, que agora estava coberto por minha energia de repelir. E segui em direção a meu quarto.
Não sairei de seu lado enquanto ela não abrir os olhos, e mesmo depois disso não a deixarei novamente.
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