No outro dia, os cinco acordaram de ressaca. Por sorte, estavam de folga pela manhã e poderiam treinar em casa. Prato cheio para continuarem a festa.
— Retiro o que eu disse ontem — Kepa disse, enquanto tentava se levantar do sofá. — Não bebi socialmente — riu.
— Ninguém bebeu socialmente — Timo respondeu da cozinha.
— Até daria a sugestão de continuarmos hoje à noite, mas realmente preciso descansar.
— Podemos jogar videogame à noite e colocar o Mason para fazer o jantar — o alemão sugeriu.
— Se vocês saírem para comprar as coisas, posso cozinhar até para um batalhão do exército da rainha. Hoje eu não quero fazer absolutamente nada além de ficar o dia todo quieto — Mount se jogou e ficou largado no sofá.
— Eu saio para comprar. Preciso resolver algumas coisas — Chilwell disse. — Do que precisa?
— Vou enviar uma lista por mensagem para você — Mason respondeu, ligando a televisão e colocando em um canal qualquer.
Minutos depois, o café da manhã ficou pronto.
À tarde, fizeram o treino na casa de Timo. Usaram a pequena academia que havia em um dos ambientes, com esteira e outros equipamentos. Passaram um bom tempo ali, conversando. Ben saiu para fazer compras depois.
Aachen
Anthony recebeu uma entrega repentina naquela manhã. Licenciado do trabalho no departamento para cuidar do caso do comando rubro, passou a ficar em casa a maior parte do tempo, permitindo que se debruçasse sobre os documentos e anotações sobre a investigação para alimentar a força-tarefa.
O envelope lacrado tinha como remetente um endereço que ele conhecia muito bem. O restaurante em que Sophie trabalhava e foi atacada. Pensou que era uma piada de mal gosto, mas decidiu abrir o material mesmo assim.
Encontrou uma lista com iniciais e idades de pessoas que possivelmente eram ligadas aos extremistas. No cabeçalho da primeira página, os dizeres "Membros ativos do comando oeste" estavam em letras garrafais. Foi o suficiente para Anthony prestar mais atenção naquilo que estava diante dele. Por que alguém enviaria uma lista impressa em várias folhas para ele? Possivelmente, alguém que queria colaborar. Ou poderia ser uma armadilha. Mesmo levemente receoso, transcreveu à mão todas as informações nas dez páginas para outros papéis em branco, criando uma duplicata.
Acessou o sistema da polícia pelo computador e começou a pesquisar as siglas e as datas de nascimento, sem sucesso. Ele sabia que no grupo haviam russos e ex-soviéticos que se aliaram ao lado oriental do país quando houve a divisão. Portanto, no mínimo dois tipos de cidadãos estariam envolvidos naquilo: alemães e russos. Ele precisaria acionar a Interpol para verificar os nomes em cooperação com outros países mais ao leste da Europa. Por sorte, um dos integrantes da força-tarefa trabalhava exatamente na Interpol e poderia ajudar com aquilo.
A confiança de Anthony aumentou quando conseguiu reunir dois nomes depois de fazer uma pesquisa de iniciais por iniciais, cruzando-as com os anos de nascimento correspondentes. Como o sistema da polícia de Aachen era nacional, mostraria apenas alguns dos alemães da lista. Não importava. Aquilo já deixava o detetive confortável. Olhou para a foto em que Kai e Timo estavam e sorriu. Poderia ser a primeira vitória em algum tempo.
Londres
Werner terminou de limpar a casa com a ajuda de Kepa durante a tarde. Mason dormia no sofá e Havertz estava conversando com a mãe pelo celular nos fundos da casa.
— Eu estava pensando... o que aconteceu com vocês na Alemanha foi um pouco perigoso.
— De fato.
— Esse grupo de extremistas deve ser bem infiltrado em toda a Europa.
— Não duvidamos disso. O pai do Kai mexe com isso há muito tempo. Está na cola deles, mas parece que não cometem um deslize sequer.
— Existe um certo risco para ele por conta do pai?
— Prefiro acreditar que se existe, é mínimo. Porque é assustador pensar que podem fazer algo com ele.
— Ou com a família dele... — Kepa completou, pensativo.
— Até onde sei, eles cometeram muitos crimes na Alemanha. Meus pais quase não comentavam sobre os extremistas comigo. Era quase um tabu. Soube mais deles quando me tornei amigo do Kai. Porém, tenho a sensação de que nem mesmo ele sabe tanto assim.
— Deve ter alguma proteção para esses caras. Pelo jeito, parecem ser intocáveis. O governo não faz nada lá?
Timo gargalhou e ficou sério em seguida.
— Aposto que eles sabem de tudo e não falam por medo de admitirem fraquezas.
— Faz sentido.
— Terminei. Nossa, vocês já fizeram tudo — Havertz disse, ao ver a casa organizada novamente depois da festa. — Eu teria ajudado.
— Não foi necessário. Nós estávamos falando sobre os extremistas. Fiquei curioso — Kepa comentou.
— Eles são pessoas horríveis. Só isso que precisa saber. Fico feliz de ficar longe de tudo aquilo e, ao mesmo tempo, preocupado com o meu pai. Ele está em uma cruzada praticamente solitária.
— Timo disse que o governo não quer fazer nada.
— Você nem imagina... — Kai revirou os olhos. — É capaz até de serem coniventes com que está acontecendo nas entranhas do país. Não é possível serem tão idiotas a ponto de não saberem das coisas.
Kepa concordou.
— Segundo o meu pai, quase todo alemão com mais de quarenta anos conhece alguém que sofreu nas mãos dos extremistas. A luta pelo fim da divisão aconteceu quase que secretamente, mas algumas pessoas se manifestaram.
— E é claro que eles perseguiram todos — o espanhol comentou. — Nós passamos por algo parecido na região onde eu nasci. Não sei se sabem, mas sou basco. Havia um grupo simpatizante com uma causa praticamente terrorista.
— O ETA — Timo completou.
— Exatamente. Dizem que o grupo não existe mais. Foi dissolvido há pouco tempo. Entregaram as armas, pediram perdão pelas mortes e pelos ataques, mas nem todos ficaram convencidos disso. Era para ser um sentimento nacionalista, mas penderam para o lado da violência.
— No fundo, o nosso continente é muito complicado — Werner deu de ombros.
— Espero que o seu pai consiga investigar tudo sem maiores problemas — Kepa disse, pegando uma fruta para comer.
Kai ficou em silêncio, pensando em alguns cenários.
Mason acordou gritando.
— Que pesadelo horrível. Onde está o Chilly? Ele já comprou as coisas para o jantar?
— Ben ainda não voltou — Timo respondeu.
— Aposto que foi a cinco supermercados e não encontrou o molho que eu pedi — Mount riu.
Chilwell voltou meia hora depois com várias sacolas.
— Acho que você exagerou nas compras. Eu só pedi massa, molho e temperos — o inglês mostrou a lista que enviou horas antes para Ben.
— Não reclame. Comprei vinhos, torradas, patês e todo o resto para o tal macarrão famoso. Mason fala disso há meses... até que enfim a perturbação para experimentar essa pasta vai acabar — Ben ironizou, sorrindo em seguida. — Timo, onde tem toalha?
— No armário ao lado da pia do banheiro, eu acho. O Hotel Werner está aqui para lhes servir — o alemão fez uma reverência na frente dos amigos, que gargalharam.
Kai não quis esperar e abriu o vinho.
— Quanto atrevimento — Ben disse, voltando à cozinha para pegar o celular. — Parece o Kepa.
— Foi mal.
— Fique tranquilo. Comprei para bebermos mesmo, pode aproveitar — Chilwell riu e deu leves tapas no ombro de Havertz e foi tomar banho.
— Eu ouvi um som de saca-rolhas... — Kepa adentrou a cozinha segurando uma taça.
— Meu Deus — Mason quase se cortou com a faca depois da trombada que o goleiro deu nele. — Eu sei que você é enorme, mas será que não dá para ter mais cuidado? — o inglês riu.
O espanhol deu de ombros.
Timo e Kai se afastaram um pouco do grupo para conversarem.
— Como se sente? — Havertz perguntou.
— Estou bem. Ainda tentando lidar com as situações...
— Também estou na mesma. Teremos muitos desafios pela frente.
Werner concordou, balançando a cabeça.
— Você ficou praticamente em silêncio depois que conversou com a sua mãe.
— Ela me disse que o meu pai está cada vez mais envolvido na investigação. Tenho medo de que algo aconteça.
— Acalme-se. Ele é muito experiente e com certeza sabe se cuidar. Ligue para ele depois.
— Farei isso... mas não sei mais, o trabalho dele é tão arriscado. Já conversei com ele para que se aposentasse, eu enviaria dinheiro todo mês para eles... não chegamos a um consenso.
— Alguém precisa pegá-los. Não necessariamente deve ser o Anthony, mas alguém tem que fazer algo. E o seu pai tem um propósito. Se ele deseja continuar trabalhando nesse ou em outros casos, é melhor assim. Acredite.
— Eu sei. Às vezes fico pensando que é só um medo meu. Porém, em outros momentos, acho que algo pode acontecer com ele.
— Seu pai fica muito exposto mesmo. Poderia haver alguma alternativa.
— E há. A força-tarefa que ele ajudou a criar existe para isso.
— Só sei que vai ficar tudo bem.
— Espero que sim. E os seus pais? Soube que você não tem conversado com eles.
— Sendo bem sincero, não sei nem como estou convivendo com você e os caras. Eu queria me isolar de tudo no início...
— Ainda bem que não fez isso.
— Vocês não vão voltar para a sala? — Ben perguntou, enquanto caminhava até eles.
— Vamos — Havertz respondeu, visivelmente cansado.
Eles sentaram-se à mesa, onde haviam vários pratos com os patês, as torradas e as taças de vinho de cada um. Kepa estava embaralhando cartas.
Depois de algumas rodadas de baralho, Mason foi à cozinha para preparar o macarrão. Contou com a companhia de todos, que sentaram-se na bancada e ficaram conversando o tempo todo, enquanto ele cuidava das panelas no fogão. Todos concordaram que Mount cozinhava muito bem. Inclusive, Kepa e Timo brigaram pelo resto da massa que ficou no fundo da panela. Aquilo fez o inglês preparar mais um pouco para evitar um conflito entre o alemão e o espanhol.
Apesar das preocupações, Kai se sentiu tranquilo ao passar um tempo com os novos amigos do time. Ele não imaginava que seria daquela forma logo no início. Havertz sempre foi muito quieto e, por vezes, introspectivo. Aquilo era impossível em Londres. As brincadeiras, as conversas sérias e o jeito dos companheiros de equipe o deixavam confortável.
Eles jantaram e jogaram videogame em seguida. Decidiram passar mais uma noite na casa de Werner, mas prometeram que dariam sossego na noite do dia seguinte. A verdade era que Timo não queria que nenhum dos amigos fosse embora. "Pelo menos com eles aqui, posso dar uma utilidade para essa casa enorme", pensou.
(...)
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