A noite estava fria, a lua grande e brilhante no escuro céu. Em um pequeno espaço limpo no meio da floresta, um grande pentagrama em chamas está desenhado ao chão, ao redor dele, cinco mulheres com vestidos pretos e desenhos de símbolos em seus braços, cantam e dançam um ritual evocando aquele por quem precisavam pedir um acordo.
Ryomen Sukuna.
Um ser poderoso e conhecido pela sua devastação de pragas e maldições, rei do submundo e de certos demônios, uma imagem que há tempos submete as bruxas de Zenin ao desespero.
As mulheres que estavam ali, buscavam uma forma para acabar com as doenças que se alastraram por toda sua área e logo mais poderia chegar aos humanos, como já aconteceu outras vezes - assim foi com a peste negra - e todas sabiam que o causador disso era Sukuna.
O conselho interno de Zenin, a cidade das bruxas que fica longe de qualquer centro urbano próximo aos humanos, teria tomado a decisão de tentar acordo com Ryomen em conjunto. Essa seria a melhor alternativa para que tivessem novos tempos de calma. Eles tinham essa chance já que agora a nova líder das bruxas, Hadria, tinha um poder excepcional e seria capaz de conseguir evocar o demônio e dialogar com ele.
A líder estava ali naquele pentagrama de fogo, justamente para tomar frente na negociação com o demônio. Junto dela, as bruxas mais antigas do povoado. O ritual requeria muita energia, por isso a líder foi designada.
Oh, poderoso Ryomen Sukuna,
senhor do submundo,
Vinde a nós,
Ouça nossas preces,
Receba nossas oferendas e se comunique conosco...
Pronunciando as palavras em latim realizando a oração repetidas vezes o ritual pareceu começar a funcionar.
Um vento forte e gélido correu por suas peles trazendo uma presença forte junto dele.
As mulheres cantaram mais alto e com a voz imponente, mesmo que um fio de medo corresse por seus interiores não deixaram transparecer, afinal, estavam prestes a se comunicar com um poderoso ser.
O vento cessou de maneira repentina às fazendo parar de se movimentar com o susto. Nenhum barulho mais estava presente, os altos pinheiros não balançavam, grilos e corujas mudos, ainda paradas procurando qualquer sinal que seja, o fogo que existia no pentagrama foi se apagando de maneira rápida e perfeita seguindo a linha que desenharam.
Naquele momento foi possível ver um vulto rápido e escuro passar por entre as árvores, a presença poderosa e marcante havia se estabelecido e assim começaram a sentir o peso do poder que estava se formando ao redor dali. Era ele, elas tinham certeza.
- Ousaram me chamar e conseguiram…
Uma voz grave de mais ecoava por todo o local, parecia vir de dentro da floresta, talvez do ar ou, quem sabe, até mesmo de suas cabeças. Era difícil distinguir, mas estavam ouvindo claramente.
- Quem teve essa petulância? Me deixaram curioso…
Outra vez o vulto passou por suas costas eriçando os pelos de suas peles.
- Somos bruxas de Zenin, nós o evocamos! - Hadria disse em alto e bom som. Seu coração estava acelerado, mas nunca deixaria passar isso em sua voz.
- Zenin? - o demônio realmente parecia curioso. Logo um riso foi ouvido. - A última vez que um bruxo de Zenin me evocou foi há muito tempo… Me diga, tem relação com ele? Se conseguiu me chamar aqui deve ter uma bela fonte de poder…
Uma névoa preta se formou no meio do círculo que as mulheres estavam, foi ganhando forma mas sem aparecer a face daquele que falava, apenas uma sombra preta e alta estava ali.
- Meu pai o chamou décadas atrás. - a mulher falou segura. Outro riso sádico saiu da sombra.
- Aquele homem era seu pai? - ninguém conseguia ver o rosto do ser, mas sabiam que ali estava estampado um sorriso. - Você realmente descende um pouco da energia daquele bruxo… - o demônio se aproximou mais da líder parecendo querer observá-la mais de perto.
O único homem que teve condições de se comunicar com Sukuna, foi o último líder de Zenin anos atrás. O pai de Hadria.
Este, tentou fazer esse mesmo acordo com o demônio, porém, ainda que fosse o mais forte entre as bruxas, sua fonte de energia não era o bastante para que conseguisse negociar justamente. O resultado que teve foi apenas a escassez de uma doença temporária e logo após isso, sua vida entrou em jogo. Não pôde fazer muito.
Mas agora tudo podia mudar, Hadria tinha magia o suficiente, não é? - isso que achava, já que agora estava sentindo um cansaço a atingir. Realmente, Sukuna sugava energias de mais.
-Diga o que deseja, mulher… - Sukuna perguntou interessado.
-Fazer um acordo. - ela diz o observando. O demônio não disse nada esperando-a continuar. - Tire suas pragas de nossas terras, cure os que estão doentes e em troca… - por um momento pareceu ponderar, mas era o que devia ser feito. - Em troca, tenha minha vida e alma em suas mãos. - falou convicta.
Se oferecer para Sukuna seria a troca de negociação, afinal, o demônio também era conhecido por se interessar pelo poder, e Hadria sabia que o demônio se interessaria pelo dela. Ou, pensava isso.
O riso novamente foi ouvido.
- Não. - A voz saiu clara, as mulheres que ouviam tiveram por um momento um pequeno receio e a líder que por mais que tivesse confiança deixou que uma onda negativa lhe invadisse.
Não tinha outra alternativa além dessa que haviam montado. Ouvir o "Não" de Sukuna a deixou apreensiva.
-Você não. - ele complementou. E naquele momento Hadria teve um certo medo.
O que ele estaria pensando… - era a única coisa que se perguntava.
A sombra então encostou uma mão em seu rosto, parecendo olhar no olho da mulher.
-Você não carrega a fonte de poder que eu me interesso. - Seria o fim, ela não devia, mas deixou que se desestabilizasse por um mínimo momento a fazendo dar um passo para trás. - Mas consigo ver alguém relacionado a você com magia que me agrada…
Pareceu um impulso, Hadria parecia ter sido empurrada para dentro de sua cabeça. Seu redor estava escuro, só conseguia enxergar a si mesma e logo mais a sua frente um pequeno ponto de luz amarelo. Seu coração acelerou, deixando que um desespero a invadisse. Não sabia como havia parado ali e isso a deixava um pouco claustrofóbica.
O ponto amarelo se aproximou por si só dela e quanto mais perto podia enxergar com clareza de quem se tratava.
-Mamãe! - uma criança que ela conhecia bem corria em sua direção com um sorriso no rosto.
Ao ir se aproximando sua altura mudava. De criança, cresceu até sua idade atual de dezesseis anos.
A menina exalava uma luz amarelada delicada e encantadora.
-S/n… - ela deixou escapar como um sussurro olhando pra garota que continuava com um sorriso.
Sabia o que Sukuna queria dizer. Seu peito estava apertado. Abriria mão de sua vida, mas a da filha?...
Como não pensou em algo assim antes? Talvez tivesse pensado, mas apenas em como a filha ficaria quando ela tivesse partido.
- Sua menina herdou a magia que eu quero. - A voz ecoou naquela escuridão fazendo o brilho amarelado sumir junto com a menina.
- Eu… - Não conseguiu formular uma resposta.
Que receio era esse?...
Se respondesse um "não", voltaria para o vilarejo sem sucesso algum e com certeza taxada de egoísta. Mas não seria isso, não é? É sua filha em risco.
- Por agrado de minha parte, já que conseguiu aguentar até aqui, deixarei que pense sobre isso. - a moça mal procurava de onde vinha a voz. - Nosso acordo seria selado, teriam a paz que deseja, só basta que me traga ela…
Um sopro em seu ouvido a fez fechar o olho e abrir instantaneamente voltando ao mesmo lugar que estava com as outras bruxas.
A sombra já não estava mais lá, o local apenas era iluminado pela lua e normalmente os pinheiros balançavam.
Sem perceber, deixou que caísse de joelhos olhando o chão. As mulheres se aproximaram para ampará-la.
- Conseguimos algo, Hadria? - uma delas perguntou com a moça apenas ignorando sem saber ainda o que falar.
Naquela mesma noite, as bruxas voltaram ao vilarejo. Hadria não se preocupou em ir diretamente falar com os internos da vila, apenas correu em direção a sua moradia.
Ver a filha deitada dormindo tranquilamente foi algo que a deixou menos tensa, mas não com menos dor em seu peito.
De seus olhos já era possível sentir lágrimas se formando, pensava em tantas possibilidades de tirá-la dali mas nenhuma daria certo.
Logo o Conselho saberia da situação e não teriam compaixão alguma com seus sentimentos ou escolha.
S/n seria oferecida a Sukuna com ela querendo ou não e sabia disso.
Amaldiçoou aquele demônio de todas as formas enquanto chorava em silêncio observando sua preciosa filha dormir.
Maldito seja Ryomen Sukuna...
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