Natsuki on
Acordei com a Sayori me chamando, com aquele jeito gentil de sempre. Pensei que aquela noite na casa dela tivesse sido apenas um sonho bom. Ela me olhava sorrindo, enquanto cutucava meu ombro levemente.
Sayori: Natsuki, acorde... Meus pais chegaram e trouxeram coisas pro café da manhã. Vamos comer.
Natsuki: Certo, certo... - Sayori foi para a cozinha. Peguei meu celular e olhei meu reflexo na tela escura, passei as mãos no meu cabelo para ajeitá-lo, não queria passar uma impressão de relaxada. Liguei a tela. Eram quase nove da manhã.
"Então eles acordam cedo mesmo no sábado...", pensei. Percebi que estava demorando, então fui andando para a cozinha, onde Sayori já estava tomando café com os pais dela.
Natsuki: Ehh... Bom dia... Me chamo Natsuki, sou uma colega da Sayori. - Eu estava um tanto nervosa, e acho que isso ficou claro na minha voz.
Mãe da Sayori: Sim, sim, nós sabemos! Você é muito bondosa para a Sayori, Natsuki. Agradecemos por isso. - Ela me deu um sorriso amável. Sayori se parece muito com ela.
Natsuki: Eu não faço nada de mais, senhora, apenas o que amigos fazem.
Me sentei na cadeira que estava ao lado de Sayori, ainda me sentindo um tanto deslocada. Acho que ela percebeu.
Sayori: Pode se servir, Natsuki. Tem cereal, café, leite, pão e bolo.
Natsuki: Certo, obrigada...
Peguei uma caneca e coloquei café até a metade, adicionando leite em seguida. Me servi de um pedaço de bolo também, era de baunilha.
Todos estávamos tomando café em meio à conversas agradáveis. A mãe da Sayori é uma mulher extremamente simpática e muito amável, já o pai dela é um homem um tanto mais sério, mas ainda assim, foi muito gentil comigo.
Pai da Sayori: Natsuki, nós teremos que sair daqui a pouco. Quer que a gente te leve pra sua casa?
Natsuki: Obrigada, mas não precisa... Eu moro à duas ruas daqui. - Sorri, e dei um gole no café com leite. - E mais que eu não quero acabar atrapalhando.
Pai da Sayori: Você não atrapalha, mas se é assim que prefere, tudo bem. Sayori, se já acabou, vá se arrumar.
Sayori assentiu, e se levantou. Subiu as escadas, adentrando seu quarto e fechando a porta em seguida. Eu fiquei sozinha com os pais dela.
Natsuki: Eu... Ehh... Me perdoem a intromissão, mas aonde vocês vão? - Perguntei bem acanhada diante deles.
Mãe da Sayori: Oh... Sayori tem uma consulta hoje. Ela não gosta de falar isso pros amigos.
Natsuki: Ah, sim, entendi... Não sei o que ela tem, mas espero que ela fique bem logo.
Natsuki off
Sayori on
Coloquei uma roupa simples. Uma camisa rosa de mangas curtas e calça jeans, com sapatilhas pretas. Não vejo motivos para me arrumar tanto para ir ao lugar onde irei, por mais que eu goste de lá, ao mesmo tempo eu odeio aquele lugar. Me olhei no espelho e soltei um suspiro profundo, um suspiro meio melancólico. "Isso é para o seu próprio bem", pensei. E então, peguei meu celular, tomei coragem e desci as escadas novamente.
Sayori: Pronto, podemos ir... - Disse, chamando meus pais.
Mãe da Sayori: Certo. Natsuki, certeza que não quer que a gente te deixe em casa?
Natsuki: Não precisa, sério... Sayori, eu te devolvo as roupas que você me emprestou depois, certo? Eu vou lavar elas. - Natsuki se levantou, e chamou o Aki, que foi diretamente para ela. Ela o pegou no colo. - Agradeço a hospitalidade de vocês, mas já estou indo. Até mais!
Ela deu um sorriso e saiu da casa, logo, eu e meus pais entramos no carro. Peguei meus fones de ouvido e fiquei ouvindo música no caminho inteiro, enquanto observava o mundo pela janela. Haviam pessoas e animais na rua, além dos outros carros e algumas árvores.
Chegamos ao local. A clínica da doutora Akabane. Eu e minha mãe entramos, enquanto meu pai ia estacionar o carro. Ficamos na sala de espera, junto de algumas outras poucas pessoas. Não demorou muito para eu ser chamada pela doutora, então entrei sozinha em seu consultório, retirando os fones.
Dra. Akabane: Bom dia, Sayori. Bem-vinda de volta. - Ela me recebeu falando de forma leve, e com um sorriso.
Sayori: Bom dia, doutora... - Me sentei na poltrona que ficava à frente dela.
Dra. Akabane: Como foi sua semana? Aconteceu algo relevante que queira contar?
Sayori: Ah... Bem... - Fiz uma pausa, tentando pensar em algo. - O de sempre. Eu não tenho paz na escola, principalmente no clube de literatura. Monika sempre me humilha quando não há ninguém por perto, Yuri aparenta nunca se importar com as coisas... E o Yatarou, bem... Creio que ele tenha uma preferência por outra garota.
Dra. Akabane: O que a Monika anda fazendo para você? Pode me contar?
Sayori: Ela sempre me trata mal, ainda mais quando estamos sozinhas. Faz questão de deixar claro que me odeia, que não me quer lá, e que não era para eu sequer ter nascido. É como se ela fosse uma voz, que está ali para me lembrar do quão inútil e irritante eu sou... E muitas vezes eu dou ouvidos à essa voz.
A doutora fazia algumas anotações na prancheta enquanto eu falava, logo, olhou para mim.
Dra. Akabane: E quanto ao Yatarou?
Sayori: Não sei explicar. Não importa o quanto eu tente demonstrar, ele nunca percebe o que eu realmente sinto por ele. E ultimamente, aparenta estar apaixonado por outra garota. Mas tanto ele quanto ela são muito legais comigo, eu não tenho muito o que dizer sobre eles. - Ela anotou mais algumas coisas.
Dra. Akabane: Certo, certo. Quanto ao caso da Monika, eu recomendo que você se afaste dela, não tenha medo de acabar ferindo ela ao fazer isso. Pessoas desse tipo não merecem nossa atenção ou nossa companhia. - Ela fez uma pausa. - E quanto ao Yatarou, simplesmente ignore-o. Você precisa fazer isso para seguir em frente, ele não é a pessoa certa para você... Mas em breve essa pessoa aparecerá. Tem mais algo que queira dizer?
Sayori: Não, doutora.
Dra. Akabane: Então já pode ir. Apenas lembre-se do que eu lhe disse hoje, e... - Ela aparentou ter se lembrado de algo. - Ah, e aqueles pensamentos suicidas? Você continua tendo eles?
Sayori: Às vezes...
Dra. Akabane: Tente se distrair, ler um livro, jogar algum jogo, dar uma volta e essas coisas. E pense no que eu te disse. Se preocupar com os outros é ótimo, mas você precisa começar a se preocupar com você, Sayori. - Eu assenti. - Creio que nossa consulta de hoje já acabou. Foi ótimo te ver, se cuida. E até semana que vem.
Sayori: Obrigada, doutora. Até semana que vem.
Me levantei da poltrona e saí da sala. Minha mãe me perguntou como foi a consulta, e eu a respondi apenas com um "Foi normal". Eu não gosto de prolongar esse assunto. Entramos no carro e passamos em mais alguns lugares antes de irmos para casa, mas em todos esses lugares, eu não parei de pensar no que a doutora me disse. Eu realmente deveria começar a me preocupar mais comigo mesma, mas nunca consigo, sempre acabo me importando mais se algo vai beneficiar quem está ao meu redor ou se algo vai magoar essas pessoas.
Assim que chegamos em casa, tomei um banho longo e quente, para tentar esquecer meus problemas por breves instantes. Quando acabei, me vesti e me joguei na cama, fitando o teto, e com os fones de ouvido tocando uma música tranquila.
Comecei a pensar, minha vida não era tão triste, tive ótimos momentos com o Yatarou na infância. Momentos que parecem ter se perdido com o tempo. Ainda existem coisas e pessoas que me deixam feliz, como cuidar do Aki. E quando a Natsuki estava aqui, me senti alegre de verdade, com alguém que eu realmente poderia confiar logo ao meu lado. Acho que sorri sem perceber. Mas, no meio de todos aqueles bons pensamentos, me veio a imagem da Monika na minha cabeça, me dizendo o quão imbecil e inútil para o grupo eu sou. Me dizendo para morrer logo.
Eu pude sentir lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Lágrimas quentes e suaves. Eu não quis secá-las.
"Eu sou uma idiota, todos estão certos", pensei, e então fechei meus olhos, tentando ter algum momento de paz.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.