— Ele o que?
— Foi isso aí que ouviu! — resmunguei, cutucando o canto de minha unha.
Estava tão possessa, que provavelmente nem havia explicado decentemente, mas definitivamente não queria repetir.
— E o que fez? — perguntaram, então as fitei, indiferente.
— Aceitei, é claro!
— Está louca?
— Não é só sobre o dinheiro. Meu orgulho foi ferido, tudo bem? — expliquei, me inclinando com os cotovelos sobre meus joelhos. Encarei as garotas no sofá da frente, em meu apartamento. — Já que eu sou tudo que ele odeia, darei meu melhor em ser ainda mais eu. Farei desses dias um inferno para ele e ainda o arrancarei até o último centavo que eu puder.
— Credo, como você é vingativa. — Uma delas comentou. — Adorei!
Café Dior,
Gangnam, Seul
Encostada no estofado confortável do banco, rente à mesa, continuava a fitar o rapaz à minha frente. Cabelos perfeitamente escovados para trás, com exceção daquele fio negro que teimava em cair sobre o rosto dele. Camisa social branca em linho levemente brilhante e transparente e calça preta feita sob medida. A pele dele irradiava vida e eu podia sentir o cheiro de seu perfume importado, mesmo não estando ao seu lado. Aquele maldito era tão perfeito, tão… meu tipo.
Funguei irritadiça sobre como ele não havia largado o celular nem ao menos uma vez, e me pus a encarar o céu bonito ali. Era um dos cafés mais bonitos e caros de Gangnam — bairro nobre de Seul —, e ele havia nos reservado uma mesa na cobertura do mesmo. Tínhamos a visão de boa parte de Seul dali, e também do céu bonito naquele começo de manhã clara e fresca. Não costumava ligar muito para aquilo, mas naquela manhã a mãe natureza havia caprichado.
Vinte exatos minutos em total silêncio, e nada dele tirar os olhos naquele celular. Já no meu limite de paciência, alcancei a cadeira dele, por debaixo da mesa, e empurrei a mesma entre suas pernas. A cadeira ricocheteou para trás e para frente, o fazendo quase derrubar o eletrônico. Os olhos bem angulados e grandes me fitaram com descrença, e eu me fiz de inocente.
— Desculpa, às vezes tenho alguns espasmos assim. — Sorri adoravelmente, o fazendo rolar olhos e finalmente deixar o celular de lado.
— Também é louca por atenção e carente. Mais dois pontos para ser tudo que eu odeio.
Sorri ainda maior, levando a mão a boca, como se estivesse surpresa.
— Sério? Poxa, que ótimo! — O mandei uma piscadela, e voltei a minha expressão indiferente de sempre. — Então? Não tenho a manhã toda.
— Para uma ex filhinha de papai você parece super ocupada — comentou sarcástico, e precisei fechar meus punhos a fim de não arranhar a cara linda dele todinha. Até perguntaria como ele sabia daquilo, mas eu já sabia como isso acontecia quando se havia tantos zeros na conta bancária. — Quero saber qual é seu preço, e o que está disposta a fazer.
Ah, sim, era a minha hora!
— Preciso do meu apartamento quitado, assim como o resto do meu curso de fotografia. Não é tão caro, então sinta-se sortudo. Preciso de um cartão com um limite diário alto, pois, você sabe, preciso de roupas e também levar meus bebês para o Pet Shop. Fora isso, preciso de um trabalho bem remunerado na minha área, e claro, uma carta de recomendação seria muito bem-vinda. — Sorri ao fim de minha fala, e sustentei seu olhar simples sobre mim.
— Mais alguma coisa? — indagou, escrevendo tudo no celular. Me fitou indiferente, esperando por minha fala.
Engoli a seco, sem reação. Ele tinha noção do quão caro era meu apartamento? Apertei os olhos sobre ele e pus o sorriso no rosto novamente.
— Já que perguntou, seria ótimo um carro. Meus pais me tiraram o meu, então… — Ele assentiu, e escreveu algo no celular novamente.
— Já mandei providenciar. Terá tudo isso no final dos sete dias. — Aquiesci em silêncio à sua fala. Assim tão fácil? Deveria ser milionário. — Agora preciso saber o que está disposta a fazer.
— Seria mais fácil se me dissesse o que espera de mim.
Ele pensou, por um tempo, e se inclinou sobre a mesa, se apoiando pelos cotovelos ali.
— Preciso que more comigo por esses dias. Meu pai vai estar na cidade durante essa semana, então ele pode me visitar a qualquer momento, e também acabar me vendo aqui ou lá, sendo assim, preciso que esteja comigo nesses momentos para que ele acredite. — Assenti, e ele continuou: — Preciso que ao menos tente ser sorridente e carismática, já que meu velho gosta de meninas educadas e simpáticas. Abraços e beijos devem ser normais para você, não? — Engoli a seco. Mesmo se não fosse, beijaria aqueles lábios bonitos mesmo que não me pedisse. Sorri sutilmente e concordei. — Ótimo, fora isso, nada de falar sobre nosso contrato com gente que possa espalhar isso. E nada de falar mal de mim por aí também. Farei o mesmo.
Ele me estendeu a mão sobre a mesa, e eu ignorei o ato.
— Não preciso disso, minha palavra basta. Inclusive, talvez gostaria de saber que o nome da sua namorada de mentira é Sunhee.
Ele franziu o cenho, fechando os olhos por um momento.
— Desculpa, estou mais avoado do que o costume por esses dias. Sou Yohan, Kim Yohan! — Com um leve curvar, ele sorriu, pela primeira vez.
Sorri de volta, devolvendo o ato de respeito, e então nossos cafés chegaram.
— Pode considerar hoje o primeiro dia dos sete. Precisamos tirar algumas fotos juntos pela cidade, para que eu poste.
— Claro que ninguém vai desconfiar que é de mentira, pois ninguém sabe ler as datas e não acharão estranho postar tantas fotos no mesmo dia — disse com ironia, e ele riu com humor.
— Meu velho mal sabe usar redes sociais, no máximo o assistente dele mostrará as fotos. Mesmo se notarem isso, não terá problema, pois postarei uma nota antes, falando algo sobre chegar a hora de assumir meu relacionamento secreto.
— Você pensou em tudo mesmo! — comentei com preguiça.
O quão triste era ser namorada de mentira de um cara lindo como ele, e ainda ser tudo que ele não gosta? Inclusive, lindo e "esparolado"; mais de uma vez o rapaz se queimou com o café, ou derrubou algumas gotas em sua calça. Tinha pose de chefe, mas aparentemente era um rapaz jovem como qualquer outro. Precisei rir discreta de suas caretas e resmungos.
Após terminarmos nosso café da manhã, seguimos até seu carro, onde eu não me importei em perguntar sobre nosso próximo destino.
Apgujeong-dong,
Gangnam, Seul
Já no centro comercial do bairro chique, Yohan me puxou para algumas fotos em lugares aleatórios, com fundos bonitos, e logo depois me pôs dentro de uma loja. Lá ele literalmente me ditou o que vestir, comprou a roupa, e então saímos novamente em busca de outro lugar para tirarmos foto, que foi um café, muito bonitinho por sinal.
Me puxando para perto, enquanto nos sentávamos um ao lado do outro, ele puxou o celular novamente. Eu mal conseguia manter o sorriso no rosto mais.
Ele me puxava de um lado para o outro, me enfiava em lojas para trocar de roupa, assim como ele, e me pedia para mudar de batom; então escolhia um lugar, então mais e mais fotos.
— Não é mais fácil realmente sairmos como pessoas normais e então tirarmos fotos, ao invés de me fazer de boneca? Minha pele está pinicando de tanto trocar de roupa — reclamei, enquanto ele me puxava para outra foto, agora perto de uma fonte em uma praça qualquer.
— Não sabia que queria ir a um encontro real. — Ele abaixou o celular, e me fitou, enquanto ainda me abraçava de lado. — Ah, é, você também queria transar comigo no banheiro dos deficientes.
O olhei sem humor e tampei sua boca rapidamente, percebendo que tinha um casal de velhinhos passando perto, mas talvez eu tenha usado força demais, já que ele tombou para trás e tropeçou na beirada da fonte e… acabou caindo lá dentro. Recuperei o celular a tempo, já que o mesmo caiu na borda do lugar, e não aguentei segurar a gargalhada, em conjunto com algumas pessoas que passavam por ali.
Aproveitei para gravar o momento, tirando fotos dele saindo puto de lá de dentro, e eu me acabando de rir. Aquilo sim era um momento de verdade: eu me deliciando com o sofrimento dele.
Guardei o celular no meu bolso de trás, e me distanciei um pouco ao ver que ele saía dali bufando. Prendi a respiração, para tentar parar de rir, e esperei que ele se aproximasse.
Ah, o maldito era tão lindo que me tirava as palavras da boca. Sem o laquê todo no cabelo era ainda mais atraente. Os fios negros sobre o rosto branquinho, a camisa encharcada marcando seu abdômen — que com todo respeito, era um abdômen e tanto —, e aquela expressão séria no rosto acabaram com meu psicológico. Talvez eu tenha até engasgado um pouco com minha saliva, não vou mentir.
— Você me paga. — Ele disse se aproximando. O ofereci logo seu celular, antes que ele me matasse ali mesmo.
— Não, você é quem tem que me pagar. Esqueceu? — brinquei, apesar de estar com um leve medo.
Parando à minha frente, ele ignorou o celular que eu oferecia, e me fitou sério. Passou a mão pelos cabelos molhados.
— Lembra que tem gente olhando, e supostamente deveríamos ser um casal feliz e fofo. — Tentei o convencer, enquanto ria por puro nervosismo.
Antes que eu pudesse pensar ele se aproximou e me abraçou. Fiquei perdida no ato, tentando entender o que estava acontecendo, até que senti minha roupa se molhar todinha na frente, então o empurrei como pude.
— Você… — Me entalei com o palavrão que ficou preso na garganta, e o fitei nervosa.
Minha roupa novinha. Franzi o cenho, abraçando meu próprio corpo ao sentir a brisa fresca bater contra minhas roupas molhadas.
— Ah, está com frio? Não seja por isso, vem cá, seu namorado te esquenta. — Tornou a me alcançar, dessa vez precisei rir de desespero, tentando fugir da mão dele.
— Yohan, eu estou falando sério, se você me molhar mais… — Ele parou, me encarando com humor. Seu sorriso era lindo também, ah, o que não era lindo sobre ele?
— Vai fazer o que? — Abri a boca algumas vezes, buscando por uma ameaça boa o suficiente, mas nada.
E minha lerdeza foi o suficiente para que ele me abraçasse por trás, prendendo meus braços.
— Está gelado! — gritei, tentando me soltar dele.
Não minto que gostei de ficar daquele jeito. Mesmo que eu preferisse que não fosse em público e não estivéssemos usando roupas, mas esse é um assunto para outra hora. O maldito só me soltou quando eu já estava tão encharcada quanto ele, com exceção de meu rosto e cabelo, mas ele também fez questão de esfregar seu rosto no meu quando percebeu que eu checava minha maquiagem.
Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego e o empurrei. Queria o xingar, ou declarar guerra, mas ele parecia estar se divertindo tanto, e no fundo eu também estava, então deixei passar.
— Agora teve seu encontro clichê romântico. Como se sente? — Ele brincou, enquanto enfrentávamos as pessoas nos olhando com diversão ou comentando sobre o quão fofo éramos juntos. Mal sabiam.
— Cala a boca!
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