14:13 da tarde, o tic-tac do relógio preso a parede do Aeroporto agitava o que um dia foi um garoto bobo e despreparado que saiu da cidade de pallet para uma grande jornada Pokémon, Ash Katchum agora não mais um pirralho de 10 anos e sim um homem maduro (talvez nem tanto) com seus 27 anos.
Sentado naquele banco ele batia o pé contra o chão varias e rápidas vezes tentando diminuir o nervosismo, ruía o pouco que ainda tinha das unhas e dava sorrisos nervosos ao companheiro Pokémon que tirava um cochilo no banco ao lado, Pikachu estaria tão ansioso quanto o dono, mas, o esforço da ultima batalha que teve naquele dia o deixou exausto de mais até mesmo para nervosismo.
As pessoas que passavam por eles eram apenas vultos, borrões que atrapalhavam Ash de encontrar quem tanto esperava, alguns passavam rapidamente por ele, outros cobriam seu campo de visão o fazendo ter de se esticar um pouco para enxergar melhor. Em uma dessas vezes ele á viu, destacada em meio aos vultos e borrões, os cabelos ruivos presos em uma trança curta que não passava de seus ombros, por mais estranho que parecesse vindo dela, estava de vestido, um amarelo florido que combinava com ela.
Ele sentiu o coração bater forte no peito, a ultima vez em que haviam se visto pessoalmente o clima entre os dois estava bem estranho, mas aquele dia seria diferente. Ele havia prometido a ela que seria, e Ash Katchum pode ser tudo, mas nunca um mentiroso. Por isso, cumpriria sua promessa.
Ergueu-se do banco e cutucou o Pikachu para que acordasse, ainda sonolento o pequeno ratinho amarelo esticou-se, fazendo parecer por um estante que era um gato, pulou para fora do bando recusando o ombro de Ash, ele já havia sentido o cheiro de sua poke-amiga e olhou desafiador para seu treinador, em uma aposta silenciosa de quem chegaria primeiro até ela. Ash, lento com é ficou para trás enquanto o Pokémon corria em sua frente e saltava para o colo de Misty.
—Pikachu que saudade. — A ruiva disse o abraçando enquanto ria — Onde está aquele tapado do seu treinador? — O ratinho até tentou, mas não teve tempo de responder, apenas pulou do colo de Misty e sentou-se no chão preparado para assistir o reencontro tão esperado.
—Bem aqui. — Ash disse, após conseguir passar pelo lado de um homem que atrapalhava seu caminho e sorrindo prosseguiu — Sentiu minha falta ruivinha?
— Ash... —por algum motivo, muito bem conhecido pelo garoto, ela estava corada, mas como esperado disfarçou bem e sorrindo ela o abraçou, um abraço longo, longo o suficiente para suprimir 3 anos de distancia que eles mantiveram. —Sim, senti sua falta. —Ela sussurrou, com a cabeça escorada no peito dele, mas logo se afastou para ver o rosto dele corar, estava vingada. — Impressão minha ou você cresceu? Era mais baixinho antes.
— A verdade é que você falou tanto de mim que acabou encolhendo — ele riu enquanto colocava o braço sobre a cabeça dela fazendo com que o sorriso da ruiva se desfizesse em uma carranca mal-humorada.
—Se pretende ser comediante esta precisando melhorar. —Ela disse e riu ao vê-lo por as mãos no peito, dramatizando sua reação— Afinal, o Brock avisou que se atrasaria. — ela comentou pensativa e olhou para o rapaz com malicia— Você não tem nada haver com isso não é Katchum?
— N-não, ele me disse que era uma emergência na clinica Pokémon. — a gagueira denunciava sua mentira, mas Ash tentou mesmo assim.
Era verdade que ele queria que Brock estivesse ali, todo o time de Kanto reunido novamente, mas também precisava daquele dia com a ruivinha, ambos tinham muitos assuntos inacabados e de qualquer forma o moreno chegaria no dia seguinte, tenham as coisas dado certo com Misty, ou extremamente erradas.
—Vem. Eu conheço um lugar que você vai adorar! — Ele disse, em uma mudança rápida de assunto e pegou-a pela mão a puxando para fora do Aeroporto.
—Ei Ash, vai com calma! —ela protestou enquanto puxava sua mala, onde certo Pikachu se sentou para ganhar uma carona.
Quando chegaram do lado de fora do Aeroporto Ash pediu que a ruiva esperasse em frente à entrada e se distanciou, deixando Pikachu como companhia para ela.
Enquanto o moreno não voltava à ruiva sentou se no chão, escorada na parede e acariciou o pelo amarelinho e ralo do pika-amigo em seu colo, se perguntava se deveria mesmo estar ali, sozinha com Ash, ainda mais depois da ultima vez que se viram, há três anos nas férias de verão.
“Ela estava completando 25 anos naquele verão, enquanto Ash já tinha seus 24, estavam em férias com mais alguns amigos, entre eles Brock, May, o pequeno Max que já era um adolescente e Serena, a amiga de Ash que Misty não conhecia ainda, e nem mesmo sabia que na época o moreno e a loira estivessem “ficando”, não era um compromisso sério, por isso Ash achou que não fosse necessário contar na época.
Um grande erro. Pois duas noites antes de as férias em grupo acabarem eles resolveram que comprar algumas bebidas e fazer uma festinha entre eles não seria um problema, porém a ruiva bebeu mais do que deveria naquela noite, misturando licor e energético acabou ficando mais alegre e falante do que qualquer um, Ash também passou muito do ponto e acabou que conseguiram irritar May e a garota não pensou duas vezes antes de manda-los para fora da casa.
Já do lado de fora sentados na varanda e rindo um da cara do outro, chegaram à conclusão de que apostar uma corrida até a praia que ficava bem a frente seria uma boa ideia!
Os dois se colocaram um ao lado do outro e na hora em que começaram a correr a ruiva deu um empurrão no moreno o fazendo cambalear e por pouco quase cair. Tudo para ganhar tempo, mas ele a alcançou quando chegaram próximos ao mar e a pegou no colo, mas seu estado de embriaguem o fez não aguentar muito tempo e os dois caíram na beira mar, rindo enquanto pequenas ondas de água salgada os encharcavam.
A camisa branca dela grudou-se ao corpo, acentuando as curvas, não eram extravagantes como as de muitas mulheres na idade em que estava, mas eram belas! Isso não passou despercebido pelo rapaz, que a encarou por certo tempo, deliciando-se com a visão enquanto ela corava, o ar ficou estranho, parecia que algo os estava atraindo. Talvez eles estivessem bêbados de mais, ou talvez o sentimento que a ruiva guardava desde seu primeiro beijo com ele, por que sim, ambos já haviam se beijado antes, na época em que ele estava viajando por Alola e foi fazer uma visita a sua antiga região.
Talvez aqueles sentimentos reprimidos tivessem achando uma brecha para se mostrar.
Com esse pensamento ela tomou coragem, aproximou-se dele e ali, banhados pelo mar e com apenas a lua de testemunha ambos se beijaram, não uma ou duas vezes, mas varias! O calor de um passando para o outro em um êxtase de emoções, as mãos vasculhando cada canto do outro, ambos sabiam como a noite terminaria se as coisas continuassem como estavam e ainda assim não se importavam.
Mas alguém os atrapalhou, a voz de serena chamando pelos dois da varanda, de onde estava ela não poderia ver o que os dois faziam, mas ao ouvi-la Ash sentiu o chão cair sob si, sua relação com a loira não era oficial, mas ainda assim não queria magoa-la, nem queria magoar a ruiva.
Quando se afastou, levantou-se e forçou um sorriso para Serena enquanto abanava para a mesma, ele fechou a cara e se virou para a ruiva, que não estava entendendo muito bem o que tinha acontecido, mas que se preocupou com o olhar sério de Ash, ele ofereceu a mão pra ela e disse que teriam de voltar.
No dia seguinte ele acordou com uma horrível dor de cabeça, sabia que era por conta da bebida, mas no fundo também queria acreditar que era seu corpo o castigando pelo feito na noite anterior.
Ash encontrou a ruiva sentada em uma cadeira em baixo do guarda sol na praia, com óculos escuros e um chapéu para esconder o rosto, respirando fundo ele tomou coragem e contou a ela a verdade sobre Serena. A ruivinha se esforçou muito para parecer neutra a tudo, no fim agradeceu a arceus por ter posto os óculos antes de sair, e a única coisa que disse ao moreno foi para que a deixasse sozinha, queria dizer muito mais, porém as palavras deram um nó na garganta e achou que seria melhor daquela forma.
Depois daquilo a ruiva manteve distancia dele nos últimos dias de férias e o único que notou isso foi Max, o garoto a consolou em uma das noites e como a ruiva pedira a ele, guardou segredo do que estava a aborrecendo tanto.”
O relacionamento de Ash e Serena teve fim dois meses depois daquilo, mas ainda assim a ruivinha estava amargurada com o que aconteceu, nesses últimos 3 anos ambos tiveram seus relacionamentos e amadureceram a seu modo.
Uma buzina chamou a atenção da ruiva que quando ergueu a cabeça não resistiu à risada, Ash a esperava dentro de um fusca azul, ela gargalhou ao ver a cena, sabia que o moreno havia aprendido a dirigir, mas não esperava que, quando ele tivesse dito pelo telefone que comprou um carro, fosse um carro tão velho quanto aquele.
—Olha não sei onde quer me levar, mas tem certeza que essa lata velha vai chegar até lá? — ela questionou em meio a gargalhadas assim que entrou no carro sentando-se na frente, jogou a mala para a parte de trás.
—Cuidado como fala. Isso é uma relíquia! — afirmou o moreno enquanto a ruiva mordia o lábio tentando controlar a risada.
— Haham, ok então. — disse a ruiva— Apresa essa sardinha que eu estou curiosa por esse lugar misterioso.
— o ruivinha impaciente viu! — Reclamou o rapaz, mas não resistiu ao sorriso, apesar das provocações ele não deixaria que aquele dia fosse marcado por discussões.
A paisagem ia mudando conforme Ash entrava em ruas diferentes, ele fez isso por tanto tempo que a ruiva começou a achar que ele havia se perdido. No banco de trás Pikachu parecia bem confortável em uma cadeirinha feita submedida para ele, o Pokémon era mimado como se fosse uma criança e também conseguia ser tão adorável quanto uma quando queria.
O radio do carro tocava musicas alegres que entusiasmavam a ruiva a cantarolar junto à letra, com o tempo ela não foi a única a cantar as musicas que tocavam, Ash se juntou a ela para o desastre de Pikachu que tampava as orelhas tentando evitar a voz rouca e desafinada do dono. As gargalhadas alegres da ruiva preenchiam o veiculo a cada comentário cômico do rapaz ou cada vez que ele errava partes de um refrão.
O peito de ambos se encheu, em um êxtase de nostalgia e felicidade. A ruiva só notou onde estava indo quando sentiu a brisa salgada do mar pela janela, os olhos brilharam como pedras preciosas. Depois de anos, Ash ainda sabia como alegra-la. Não que fosse muito difícil, a ruiva era um livro aberto para ele apesar de tudo.
*
O dia passou rápido aos olhos dos dois, riram e relembraram do passado, serena e aquele verão foram assuntos ignorados pelos dois. As coisas estavam bem, não havia motivos para estragar elas.
Apesar de o céu pensar o contrário, o que antes fora uma brisa acolhedora se moldou em uma ventania de inicio de temporal, o céu se fechou em um véu de nuvens escuras os obrigando a correr para baixo da cobertura de um quiosque ali perto.
Muitas outras pessoas usaram essa mesma cobertura de abrigo tornando o espaço ainda menor e os obrigando a ficarem mais próximos. Quando um homem, um pouco mais velho que eles, acabou esbarando na ruiva Ash a puxou mais para perto, envolvendo os braços ao redor de sua cintura. Misty corou com a proximidade dele, as lembranças da ultima vez que ficaram tão próximos assim a invadiam sem permissão. Com uma mão sobre o ombro do moreno afastou-se dele e sugeriu:
—A sua sardinha ambulante não esta muito longe, acho que da pra correr ate lá. Quer arriscar?
—Pode ser. Se você se garante que chega até lá.—ele riu e começou a abrir espaço entre as pessoas na tentativa de chegar ate a saída do quiosque
— Se quer prevenir isso então me carrega nas costas.— era apenas uma brincadeira, mas Ash viu como uma sugestão interessante
Quando chegaram a saída ele se abaixou na frente dela e com um sorriso maldoso disse para que subisse nas suas costas
—Beleza. Mas se você se aproveitar eu vou te bater e deixar para os gyarados se livrarem de você.
—Que ruim você é comigo.— ele choramingou enquanto ela subia nas suas costas, Pikachu ia junto com ela acomodado sobre a cabeça do treinador que estranhamente havia abandonado o tradicional boné que costumava usar.
—Sou um amor, da licença!— ela disse envolvendo os braços ao redor do pescoço do mesmo enquanto ele segurava suas pernas. Contato nunca foi um problema para ambos e isso não havia mudado apesar de tudo— Seja rápido hein, Rarphidesh! — ela riu do próprio comentário e quando Ash começou a correr ela teve de se segurar melhor.
~*~
Apesar das ruas tomadas por agua do temporal, apesar da ventania cada vez mais crescente, do transito empacado em algumas ruas e do tanque de gasolina quase vazio. Os dois conseguiram chegar ao seu destino final antes que as primeiras pequenas pedras de granizo caíssem do céu.
Vendo pelo vidro embaçado do fusca, Misty surpreendeu-se com a silhueta do edifício. Um prédio alto com o desenho de um raio cravado no edifício, o tom dourado das paredes do lado de fora se estendia até o segundo andar e mais acima havia uma cúpula de vidro. Ash sorriu ao ver a surpresa dela com seu ginásio pokemon. Desde que havia se mudado definitivamente para Alola ele se tornou um mestre de ginásio, não era o mesmo que um mestre pokemon, mas já era uma conquista grandiosa.
— Ash... Quando foi que você... — Ela não encontrava as palavras certas, estava admirada com o lugar e ver ele por dentro era ainda melhor.
—Eu posso te mostrar cada cantinho dele depois. Mas é melhor ir trocar de roupa antes. — Ele sugeriu quando fechou a porta de entrada do ginásio. Meio corado ao encarar o corpo molhado da ruiva coberto apenas pela parte de cima do biquíni e um calção jeans.
Na praia não havia problemas em ver ela assim, ao ar livre e com outras milhões de pessoas por perto, mas ali dentro... Somente os dois entre quatro paredes? Era melhor não.
—Tá certo... — Ela também corou, seguindo a mesma linha de pensamento do moreno e desviou o olhar para outro ponto.
~*~
O próprio Pikachu mostrou a ela o lugar onde dormiria enquanto estivesse ali, um lugar simples se comparado com todo o restante do prédio, com uma cama de casal bem arrumada já esperando por ela, uma cômoda onde organizar as coisas durante o tempo que estivesse ali e outra porta que separava o quarto do banheiro ali dentro.
Quando ficou sozinha, desabotoou o jeans e o lançou em qualquer canto do quarto quando o retirou. Antes de se trocar e voltar até a sala de entrada do prédio ela preferiu tomar um banho para relaxar o corpo.
Sua mente vagava para aquele momento na praia, onde Ash a enlaçou pela cintura em baixo da cobertura do quiosque repleto de pessoas. Se fechasse os olhos ainda sentiria as mãos dele ao redor de seu corpo, lembraria da firmeza de seu toque.
Abriu os olhos em um sobressalto, como se acordasse de um sonho e deu leves batinhas em suas bochechas. Aonde é que ela estava com a cabeça? Aquilo não aconteceria outra vez.
Ao menos ela achava que não.
—Misty, tá viva ai dentro? — A voz de Ash preencheu o lugar, seguida de batidas firmes na porta do banheiro.
—Eu já estou saindo. — Desligando o chuveiro rapidamente ela se enrolou na toalha.
—Vou te esperar lá fora então.
Ela mal havia notado que tinha passado tanto tempo ali dentro e quando pôs os pés para fora do box acabou escorregando no piso molhado e despencando de bunda no chão.
—Ai... — Resmungou enquanto se recuperava do tombo.
Em contra partida, Ash que já estava prestes a sair dali ouviu estrondo e, temendo o pior, arrombou a porta com uma facilidade inesperada. A nuvem de vapor acumulado dentro do banheiro viu sua liberdade quando a porta foi aberta e Ash o invadiu.
O rosto da ruiva tomou um tom extremo de vermelho ao vê-lo ali, ainda mais ao notar que sua toalha havia falhado miseravelmente em sua função de lhe cobrir o corpo quando caiu. Assim como ele, ela prendeu a respiração diante da surpresa daquela cena, mas agarrou a primeira coisa que viu em seu caminho e a arremessou em direção do moreno.
—Fora daqui seu pervertido!
—Eita, e eu achando que tinha se machucado. — Ele se esquivou do objeto que voava em sua direção e virou de costas para ela, dando um pouco de privacidade a ruiva— E eu não sou tarado.
—É claro que é. — Ela teimou enquanto ajeitava a toalha em seu corpo— Se não fosse não teria arrombado a porta, não estaria aqui dentro ainda e nada do que aconteceu 3 anos atrás teria acontecido!
Ela se arrependeu do que disse assim que as palavras voaram pelo ar.
Os olhos castanhos dele se focaram no rosto corado dela com aquilo, a ruiva realmente achava que tudo que aconteceu foi por mais pura perversão da parte dele? Por tesão e apenas isso?
Ela esperou por alguma discussão, por uma resposta malcriada, qualquer coisa que não fosse aquele silêncio perturbador entre os dois. Mas nada surgiu, o ar já parecia pesado quando ele apenas a olhava nos olhos com uma seriedade nada esperada do Ketchum, quando suspirou e virou as costas para ela seguindo caminho para fora dali parecia que o mundo havia caído sobre as costas dela.
~*~
Misty o encontrou na cozinha do lugar mais tarde. Foi difícil se localizar ali dentro, com tantos cômodos ela precisou procurar meticulosamente pelo lugar até encontrar o moreno em frente a uma bancada de granito, de costas para ela e cortando uma couve com a precisão e velocidade dignas de um chefe de cozinha.
Imaginou-se chegando perto dele e o abraçando por trás, beijando-o o pescoço e tirando risadas do mesmo em meio a caricias. Mas não aconteceria. Afinal seu amor de infância era apenas um pervertido a espera da chance certa, não era?
—Precisa de ajuda? — A ruiva questionou. Querendo afastar toda aquela baboseira de seus pensamentos.
— E deixar você nos envenenar? — Era para ser uma brincadeira, mas ainda havia um fio nítido de rancor em sua voz após o comentário dela no banheiro— Melhor se você ligar pro Brock e descobrir quando ele vai chegar.
—Ele nem deve mais estar na clinica a essa hora. — Ela murmurou, sentou-se em um dos bancos que havia ali ficou observando o moreno trabalhar. Ele não a encarou nem mesmo por um instante o que já estava começando a incomoda-la. — Ash, eu...
—Não precisa falar. — Ele lhe cortou a fala e forçou um sorriso, tentando faze-lo parecer o mais real possível— Eu sou um pervertido mesmo, não é?
— Ash, não foi o que eu quis dizer...
—Eu sei o que você quis dizer. — ele voltou a interrompê-la. Pikachu que antes não dava muita atenção para a discussão deles agora ergueu as orelhas e a cabeça peluda para observar a cena— Admito, eu fiz de propósito! Pedi ao Brock que atrasasse a vinda dele por que achei que se estivéssemos sozinhos pelo menos poderíamos conversar sem lembrar o que aconteceu antes. Que eu poderia consertar as coisas! Já vi que não, então... Vamos apenas fingir, do mesmo jeito que temos feito nesses três anos, que tudo esta bem.
Ela não respondeu, apenas baixou a cabeça e deixou o tempo passar diante dos seus olhos. Era essa uma das raras vezes em que ela perdia em uma discussão com ele, mas não se importava com isso naquele instante. A cabeça estava cheia de mais para que se importasse.
Mal tocou na comida quando ele a deixou em frente a ela, por mais que sua aparência e aroma remetessem a um sabor tão perfeito quanto seria se tivesse sido feito por Brock, nada descia até seu estomago. Não com tantas palavras entaladas na garganta dela.
~*~
Não havia ficado muito mais tempo na companhia dele, desistiu de ficar ali naquele silêncio perturbador e seguiu rumo ao quarto. Jogou-se na cama e abraçou um dos travesseiros, escondendo o rosto nele enquanto sua mente se perdia em pensamentos.
A expressão desapontada dele quando aquele assunto surgiu não saia de sua mente. Teria ela o julgado tão mal assim durante todo aquele tempo? Criando nele a imagem de alguém que não existia?
“... achei que se estivéssemos sozinhos pelo menos poderíamos conversar sem lembrar o que aconteceu antes. Que eu poderia consertar as coisas!”
O que ele queria dizer com aquilo? Precisava descobrir isso, mas como? Na manhã seguinte Brock chegaria e eles voltariam a agir como se nada nunca tivesse acontecido. Ela não queria isso, não outra vez.
Colocou-se em pé em um salto com uma decisão clara em mente. Questionaria isso a ele ainda naquela noite, não interessava se ele queria ou não lhe responder. Enfiou os pés dentro do All star da maneira mais rápida possível, sem nem mesmo amarrar os cadarços e escancarou a porta do quarto rapidamente.
—Hã... Oi? — Ash estava prestes a bater na porta quando essa foi escancarada pela ruiva. Sentiu-se mal pelo jeito que havia falado com ela antes, sua frustração havia tomado conta dele e agora precisava se desculpar por isso—Eu...
—O que quis dizer com aquilo? —A ruiva questionou, interrompendo-o e deixando o moreno confuso por um instante— Sobre consertar as coisas. O que quis dizer?
—Não é hora pra isso, eu só vim me desculpar— Ash suspirou, e balançou a cabeça em negação para a pergunta da ruiva e fez menção a se afastar dali.
Ela não deixaria, não agora. Precisava saber, precisava que ele confirmasse em palavras tudo que ela vinha desconfiando. Puxou-o pela mão para dentro do quarto e trancou a porta logo em seguida, deixando-o contra a parede e o encarando de uma maneira que ele não tinha como desviar o olhar. As joias esverdeadas que ela tinha nos olhos hipnotizavam ao moreno de uma maneira que era impossível ele desviar o olhar delas.
— O que quis dizer? — Ela repetiu, sem desviar os olhos, sem permitir que ele se afastasse.
Ali estavam os dois, sozinhos entre quatro paredes outra vez. Agora, com uma proximidade tão grande que ele podia sentir o calor que emanava dela mesmo sem tocar na pele clara.
— Que queria consertar as coisas, que aquilo foi um erro. — A resposta não agradou a ela, ele podia ver isso nos olhos esverdeado. A sombra de decepção que tomou eles deixava claro isso. A ruiva se afastou um pouco, retornaria a tomar distancia dele se Ash não a tivesse puxado de volta, agora deixando seus corpos o mais próximo que podia, com apenas algumas camadas de roupas os separando— Estou dizendo que minha história com a Serena foi um erro, não você. Não o que eu sinto por você, não aquela noite.
A ruiva sentiu o corpo arrepiar-se com a confissão dele, feita ao pé do ouvido. Por 3 longos anos havia julgado Ash da maneira errada, havia se posto de vitima de uma situação sem ter o conhecimento real do sentimento de quem estava do outro lado dessa relação.
Eles não tinham nada naquela época, ambos tiveram outras tantas relações ao longo do tempo, mas e daí? O que tem de mais? Isso é a vida. É errar, é procurar por uma pessoa mesmo que precise passar por tantas outras para descobrir a certa. É estar sempre em busca do brilho que existe em um olhar apaixonado e quando o encontrar, assim como ela o encontrou agora, naqueles olhos castanhos, agarra-lo com ambas as mãos. E não solta-lo nunca mais.
Não tinham nada naquela época, mas poderiam ter agora.
Enlaçou o pescoço de Ash e roubou um beijo dele, correspondido quase que de imediato, repleto de um amor antigo e de um desejo guardado há anos. Aprofundaram o beijo, sedentos um do outro querendo sempre mais do que já tinham. O volume do membro pulsante dele tirou um sorriso da ruiva, mordeu o lábio inferior dele provocando-o enquanto ele a erguia do chão deixando que ela cruzasse as pernas em torno dele. Roçando sua intimidade na dele, enlouquecendo-o por dentro.
Deitou a ruiva sobre os lençóis e percorreu seu pescoço com beijos e mordidas que a faziam arfar de desejo. Sua mão invadiu a camisa dela, alisando a cintura e a barriga enquanto o tecido era erguido até que deixasse os seios descobertos sem nenhuma peça a mais sobre eles, nem mesmo um sutiã, que defendesse os seios fartos da boca sedenta dele.
Logo as roupas estariam esquecidas em qualquer lugar daquele quarto, o que foi iniciado naquela noite de verão 3 anos atrás teria sua conclusão agora, em uma noite tempestuosa com o raios e trovões abafando os gemidos da ruiva. Ali, ambos compartilhariam do amor um do outro, do desejo e de uma nova vida juntos. Agora com a certeza de que a relação dos dois não seria mais a mesma, porém, a mudança seria para melhor.
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