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História O anjo caído - Berserk - O destino - Part 1


Escrita por: Kanae_Noona

Notas do Autor


Oiii ! Quanto tempo. rs

Já peço desculpas pela demora! Realmente foi complicado escrever este capítulo. A vida é imprevisível e as vezes ela nos migra para rotas desconhecidas (questões familiares,de trabalho,da casa e tudo mais...) . Mas eu consegui e espero que vocês entendam e gostem. Já aviso que não é uma obra de arte iguais aos livros de Stephen King, porém a gente consegue ter uma noção legal.

Era para ser um único capitulo,porém eu dividi em 2 partes,por ter ficado muito longo.
Esse não terá uma música tema,mas na 2° parte terá uma bem legal.

E eu mudei um pouco a forma da escrita, ainda continua em 3° pessoa,mas em formas de conjugação diferentes. Qualquer dúvida ou dificuldade me avisem... Please.

Boa leitura!

Capítulo 6 - O destino - Part 1


Fanfic / Fanfiction O anjo caído - Berserk - O destino - Part 1

Com um pouco de cautela, Guts afasta a cortina cinza e sobe naquele vagão de madeira, sentindo certo nervosismo, porém o Espadachim Negro mantém sua postura séria e firme, enquanto se dirige ao local.

Os raios de sol do meio da tarde, pálido e frio como lâmpada fluorescente irrompem sobre a fenda próxima ao leito de Griffith. Trazendo raios de luminosidade para o interior do vagão.

Quanto mais se aproxima, mais claramente ouve a respiração difícil do falcão _ obstruída pelo catarro e pela depressão. Está deitado, enroscado em posição fetal, estremecendo, desmaiado dentro da manta marrom.

Guts sente sua garganta se fechar. Engole em seco.

Preferiria enfrentar centenas de soldados, um exército inteiro, do que ter que encarar aquele homem fragilizado. Não era bom com as palavras, muito menos com desculpas. Ele era bom no campo de batalha, empunhando sua espada, onde o único contato que precisava, era com os corpos de seus inimigos, que caiam numerosamente mortos pelas suas mãos.

Ele dá alguns passos em direção ao leito.

_Griffith? _ chama um pouco baixo, como um sussurro, não obtendo uma resposta de imediato do outro, que apenas se revira sobre o colchão.

Provavelmente está dormindo pesado. _ afirma em pensamentos, sem nem cogitar uma segunda tentativa de acordar o amigo e dá meia volta para sair do vagão.

Ele usaria isso, como desculpa para fugir e adiar mais um pouco aquele encontro.

Sente que não está preparado para ficar frente a frente com seu antigo líder._ Irei pedir a Caska que tente novamente cuidar dele _ conclui seus pensamentos, quase na saída. Quando ouve um ruído, e rapidamente se vira,acertando seu olhar naquele corpo magro e abatido, com os olhos desesperadamente esbugalhados, forçando os braços sobre o colchão para sentar-se de maneira correta _ e olha para Guts a todo o instante, em que falha seguidamente em se manter ereto sobre seu leito.

O espadachim hesita por um momento. Antes iria fugir como um covarde, buscando adiar esse encontro, mas agora, olhando o outro acordado, tentando se firmar na cama, como um doente que se prepara para receber uma visita. Ele não podia dar as costas.

Não há alternativa. _ pensa, enquanto se dirige calmamente até a beira do leito e se senta ao chão de madeira. Percebe que o falcão ainda se força para achar uma boa posição e aquela cena começa a incomodar Guts _ que rapidamente inclina o corpo para frente, segura na altura do peito do prateado e posiciona suas mãos abaixo das axilas quentes e fundas de Griffith e o suspende minimamente, deixando-o numa posição estável, enquanto o prateado apenas acompanhava todos os movimentos daquelas grandes mãos com os olhos.

_Melhor? _ pergunta Guts,com certa preocupação estampada no rosto.

Griffith assente com a cabeça, num movimento singelo. Então Guts o solta, mas permanece próximo atento, analisando o corpo alheio.

Na verdade Guts se contrariava. Desde que sofrera um estupro quando criança repudiava qualquer toque, principalmente de homens. Estava um pouco arredio, pela ideia de tocar o corpo de Griffith mais intimamente. Ele teria que fazer um esforço.

Olha ao redor e percebe que todos os itens para o curativo estão ali. _A caska... Ela está um pouco nervosa, mas logo ficará bem. Vamos conseguir ajeitar as coisas. _ diz Guts, pegando a vasilha de ferro com água, um pano limpo e algumas ataduras.

_Precisamos trocar essas bandagens. _ ele avisa antes de tocar em Griffith.

Seu coração acelera um pouco, mas ele tenta se controlar, se repreendendo mentalmente.

_Não tenho prática com coisas assim. Se sentir dor me fale. _ pede sem jeito e mantêm um olhar de incredulidade.

Logo, começa a desenrolar as antigas ataduras dos braços franzinos. Ataduras essas que estavam manchadas com sangue meio empretecido.

Seu olhar recai sobre as feridas, um olhar de reprovação. Como alguém é capaz de fazer isso, com tamanha brutalidade? Porque simplesmente não o mataram? _ se questiona em pensamento, ainda estarrecido pelo estado do falcão.

Ele molha o pedaço de pano na água e espreme, deixando o tecido umedecido. Então suavemente, estica o braço de Griffith e começa a limpar as áreas machucadas superficialmente.

Mantêm o olhar focado no que faz, porém sente os olhos frios e solitários do outro sobre ele. E aquilo o incomoda profundamente.

Mas repentinamente percebe quando o prateado desvia o olhar e vira o rosto para o lado contrário _ ignorando-o.

Guts para o que está fazendo rapidamente. _Desculpe! Minhas mãos são pesadas, feitas para lutar, não para isso. _ ele se desculpa, angustiado. Acreditando que havia machucado Griffith.

A atmosfera pairava pesada e angustiante, era apenas a voz de Guts que se ouviu naquele vagão. Se continha para não sair dali, pois a vontade era imensa. Griffith parecia estar em outra dimensão, bem distante, isolado em seu reino destruído e solitário.

Mas,com uma mudança brusca,Griffith volta a olha-lo. Abre a boca, como que fosse falar algo, mas a fecha, frustrando Guts. Ele respira profundamente, produzindo chiados, que saem de seu pulmão inflamado e após alguns segundos, começa a respirar um pouco melhor, conseguindo o fôlego para falar.

_E-Eu precisei de você, como as flores precisam... Da chuva para crescerem.  A dor física é um requisito para o poder aumentar. As torturas doíam? Claro! Mas a pior dor foi plantada aqui_ ele toca com as pontas de seus dedos finos, seu peito também coberto por velhas ataduras, indicando seu coração. _ Eu pensei que o tinha conquistado. Pensei que você ficaria ao meu lado. E-Eu achei que você compreenderia o que realmente era importante para mim. _ A voz baixa e chiada do prateado murmura num estupor de tristeza, mas mesmo com toda a dificuldade, Guts percebe uma frieza e calma assustadora na mesma voz.

O espadachim sente-se infeliz, enquanto fita os lábios ressecados se moverem com dificuldade, lançando todas aquelas palavras como navalhas, que retalhavam cada vez mais seu coração. Então ele se afasta alguns centímetros atrás e fica inerte, descontente com a dura realidade do momento.

Griffith treme pelo vento que adentra o lugar, mas continua a falar.

_Naquele dia você brilhou tanto, quando ganhou e foi embora,que me deixou cego_ ele estreita seus olhos profundamente azuis para Guts e uma lágrima rola pela sua bochecha, que por pouco não passou despercebida pelo espadachim, por causa do especifico elmo.

Griffith cai novamente em silêncio. Olha para seu braço enfaixado pela metade e respira pesadamente _ e tenta terminar de enrolar as ataduras.

Guts fita aqueles olhos tremulantes, a expressão frustrada estampada no rosto, num esforço patético e orgulhoso de mostrar independência. Ele tenta absorver todas as palavras do prateado, se forçando para se acalmar e chega à conclusão que precisa terminar de cuidar dos ferimentos.

Interrompe Griffith e pega as faixas soltas com a mão, terminando de enrolar as ataduras e cobrir todo o braço machucado, fazendo o mesmo procedimento no outro. _ Você não pode simplesmente, cometer um erro com suas próprias mãos e culpar liberadamente outra pessoa. _ diz ríspido, em um tom de sermão.

E o falcão o olha minimamente assustado.

_Encare a realidade! Sei que foi difícil dentro daquele lugar. Não consigo imaginar o quanto que foi ruim ficar totalmente sozinho. Mas enfrente Griffith. _ Guts grita exagerado e respira fundo, tentando recuperar o bom senso.

Ele levanta e chega mais perto de Griffith. Saca a chave de seu bolso e destranca o elmo.

Como Guts já o tinha visto antes sem o elmo, ele não se importava em ter seu rosto descoberto, mas mantinha o capacete, na presença de qualquer outro que não fosse o espadachim.

O moreno retira o elmo delicadamente e vê quando os cabelos de Griffith caem pesados sobre o pescoço e ombros. Seu cabelo de um prata sedoso e brilhante estava um prata manchado de sangue, com os fios emaranhados, totalmente embaraçados. Cresceram e agora batiam na cintura, no limite das costelas.

Ele suspira fundo, se sente intimidado por ter que encarar a face do outro tão de perto, para limpá-lo. Mas disfarça o incomodo e pega os itens que precisa. Ajoelha-se de frente para Griffith e lhe segura o queixo, suspendendo o rosto, e obtém um melhor acesso. Passa a aplicar o pano úmido com a máxima delicadeza que conseguia ter. Ele limpa e refresca aquela área. Suspende a franja que cobre os olhos e passa o pano na testa. Griffith aceita o toque e desce lentamente as pálpebras, fechando os olhos e Guts entende aquele sinal como algum progresso, então limpa os olhos, dando toques leves, limpa as bochechas marcadas, o nariz que escorria água e o esguio pescoço.

O prateado morde os lábios que estão ressecados, inebriado pelo cuidado e carinho que recebe e Guts para e observa aquela reação estranha. _ Não morda! Vai machucar mais._ ele avisa e aperta as bochechas de Griffith contra os dentes, o forçando a fazer um bico e separar os lábios. _ Beba aqui! _ Guts posiciona uma caneca de barro com água fresca, entre os lábios rachados. O acinzentado bebe apenas alguns goles e recusa o restante em seguida, sem esboçar nenhuma expressão.

Até agora, tirando as palavras duras que Griffith pronunciara tudo estava bem. O acinzentado estava aceitando os cuidados e no fundo Guts se alegrava um pouco.

_Falta suas costas! _ ele fala e se senta ao lado de Griffith, o virando calmamente de costas. De forma que fique sentado atrás do prateado, para ter acesso as costas do mesmo.

Ele pede para o outro levantar um pouco os braços e então começa a desenrolar as ataduras envoltas no tronco. Mas ele se desespera, pois a cada faixa que desenrolava e puxava, o prateado estremecia de dor. As feridas ainda estavam recentes e a gaze estava colada ao ferimento pelo excesso de sangue e pus. As feridas de açoite haviam infeccionado.  Então meneou a cabeça pela pena que sentiu de Griffith.

_Está quase acabando. _ ele avisa nervoso e franze o nariz ao olhar a gaze literalmente podre, retirada do corpo do outro. Não adiantava a leveza com que puxava, o resultado era o mesmo, além do cheiro pútrido que exalava dos cortes.

_Vou precisar limpar com álcool. Você aguenta? _ ele pergunta e se esforça ao máximo para não deixar transparecer fragilidade em sua voz.

 

Griffith assente movimentando a cabeça e permanece cabisbaixo.

O espadachim cria coragem e aplica a gaze embebecida com álcool e a cada toque que dá naquela pele branca, totalmente desfigurada, sente Griffith arquear o tronco para frente pela ardência. E as lágrimas de Guts rolaram sem sua permissão. Ele tranca os dentes pela raiva e após terminar de desinfetar os cortes, retirando todo o sangue seco e a secreção amarelada, ele aplica um emplasto de ervas que Caska havia preparado e deixado ali.

Ele espalha o remédio e percebe que Griffith não reclama, chora, sequer geme pela dor. Fica mais triste ainda ao perceber que o outro guardava tudo para si, que aguentava tudo calado, como se pudesse suportar. Parecia que ele mesmo se torturava.

Sempre escondendo seus verdadeiros sentimentos e emoções. _ pensa Guts, ao lembrar-se da conversa com Caska, na qual descobrira sobre a paixão secreta de Griffith por ele.

_Não guarde tudo para si! _ exclama o moreno, enquanto termina de aplicar o emplasto e começa a enrolar novas ataduras limpas, no tronco do acinzentado.

Então, numa mudança radical de comportamento, Griffith começa a gargalhar assustadoramente e espanta o espadachim que já terminara de enfaixar o tronco por completo. Guts fica sem reação diante daquelas risadas, mas não se afasta.

_A vida é assim, um ciclo constante. O destino já nos é selado no nascimento. Um dia você acredita que pode ser um rei destemido e admirado, no outro você pode ser apenas uma alma aprisionada num corpo deficiente, sobrevivendo apenas para que os outros não sofram e chorem pela sua morte.

_Griffith... _ o espadachim murmura o nome do falcão, enquanto o encara pelas costas. Mas o outro apenas respira em arquejos angustiantes, enquanto arrasta a voz para falar.

_Você não tem noção? Qual o sentido de querer me tocar agora? De tocar um ser desprezível e fétido assim? Isso só me causa mais sofrimento, esse seu sentimento de pena. _ ele completa num tom casual, enquanto mantém a cabeça abaixada.

Um arrepio gelado percorre a espinha de Guts, sente um sabor amargo subir em sua boca e intimamente sente que está falhando em tentar animar seu amigo. Insegurança recai sobre o espadachim e ele logo se questiona sobre qual atitude tomar diante daquela situação.

Griffith sente o calor emanar do corpo de Guts pela proximidade e encolhe os ombros_ tão perto, mas ainda tão distante _ pensa, com os braços trêmulos e com as mãos espalmadas entre suas pernas.

_Ei. Não perca sua autoestima. _ o espadachim cria coragem e rebate _ Eu não vou tentar dizer “Sinto muito”, mas quero que saiba que eu estava errado. Você é importante para o bando e para mim._ conclui Guts e deposita sua mão sobre o ombro de Griffith.

Nesse momento, o acinzentado ouve um sussurro, que não vinha do homem atrás de si.

_O inferno está dentro de você... E foi ele, foi ele quem o colocou ai. Ele te quebrou meu Príncipe. As mesmas mãos que te derrotaram, não tem o direito de te tocar. Apenas venha para nós. Renasça_ sua mente o atormenta e nutri o ódio pelo abandono e pela dor que sofreu e que ainda sofre. A culpa era de Guts.

_Importante?Não nos desfazemos de algo que consideramos importante. Nem o quebramos._ Griffith exclama cínico.

Guts está tenso e seu cérebro se remexe literalmente,como se tivesse levado uma forte pancada de uma clava em sua cabeça, quando ouve as próximas palavras, que saem tão facilmente da boca de Griffith._ “Apenas me mate”.

O espadachim arqueia a sobrancelha e seu semblante se torna assustador. _ Desde quando se tornou tão covarde?O Griffith orgulhoso e digno teria vergonha de você. Ficou tão egoísta a ponto de me pedir tal coisa? _ele esbraveja, enquanto aperta o ombro do enfermo com força, impulsivamente.

Griffith não responde. Encolhe mais seus ombros, se curvando para frente, diante da força excepcional com que Guts o aperta.

O moreno arfa, então percebe o corpo do falcão se inclinar para frente, em resposta ao seu aperto, logo ele afrouxa seus dedos diminuindo a pressão, porém mantém sua mão sobre o corpo do prateado.

Sua cabeça lateja de dor.

_Todos esperam a melhora daquele Griffith líder. Todos estão tentando ajudar de alguma maneira. E eu não sinto pena, nem nojo de você. _ Guts desabafa cabisbaixo, sentindo que não havia entendimento naqueles diálogos com o falcão.

Começa a balançar a cabeça em negativa, contrariando os repetitivos pedidos de Griffith para que o matasse.

Ele hesita por alguns segundos. Olha com irritação para as costas magras enfaixadas e para a entrada do vagão e como não via ninguém do lado de fora e tomado pelo desespero, ele puxa o corpo tão leve e frágil de Griffith, que geme ao colidir as costas feridas contra seu peitoral.

Griffith cessa seus pedidos pela morte e se sente mais quente, com o calor daquele corpo grande atrás de si, aquele corpo que ele sempre ambicionou em sua cama.

_Escute _a voz de Guts sai rouca e grossa, fazendo o falcão arregalar os olhos.

Imediatamente Guts passa a mão esquerda sobre o fino pescoço e afasta os grandes cabelos manchados pelo sangue, agarrando-os em uma única mecha e os joga sobre o ombro esquerdo do falcão. Encosta sua testa no ombro desnudo e fecha os olhos em seguida. Quando realmente sente que ambos haviam relaxado um pouco, ele enlaça o pequeno corpo a sua frente, o prendendo entre seus braços musculosos.

_Não seja tão frio e não tenha medo da realidade. _ ele respira fundo, próximo ao ouvido de Griffith, que treme pelo contato tão intimo e intenso e pelo calor que só aumentava a cada segundo.

Griffith está abalado. Nem as ferramentas que o carcereiro usava para torturá-lo, haviam lhe causado tanto espanto, quanto aquele momento presente, ali nos braços de Guts. Seus olhos ardem embaçados pelas lágrimas contidas. A sensação era estranhamente boa para ambos, mesmo com a situação crítica com o bando e com o líder.

Guts se sente tão à vontade em tentar ajudar o seu amigo, que se permite deslizar os braços para baixo e enlaçar a magra cintura do falcão em um abraço protetor e aconchegante. E permanece com a testa colada ao ombro do prateado, suspirando pesado, lançando respirações quentes na escapula desnuda_ e sobre aquela pele gelada do albino.

_Vá em frente e chore um rio, mas não se afogue nele. Chore o suficiente para seu coração se acalmar. Não é nenhuma fraqueza chorar Griffith. _ele pede sussurrando e afasta sua testa do corpo do outro, enquanto sente seus braços serem molhados finalmente, pelas contidas lágrimas do falcão, que rolavam quentes, feito lava.

Nesse momento o espadachim apenas o mantém firme em seu abraço, aquecido, enquanto apoia seu queixo sobre o topo de sua cabeça.

Algum tempo depois, Griffith dorme e Guts decide que já era a hora de sair dali. Então desfaz calmamente o abraço e deposita com calma, o corpo franzino sobre o leito, cobrindo-o devidamente para protegê-lo da friagem e começa a se mover cansado em direção á saída da carroça.

Ele se espanta,quando tem sua blusa segurada,se vira e encara aqueles olhos tão frios quanto à neve lhe fitarem e mesmo sem Griffith nada dizer, ele entende aquela ação desesperada do falcão. Era o medo _ Griffith passou tanto tempo se trancando dentro de si próprio, que agora seus instintos reagiam dessa maneira.

Ele segura Guts num ímpeto desesperado de não o perde-lo novamente. Guts era dele. Ele queria ter novamente aquele homem em suas mãos, sob suas ordens.

Ambos permanecem estáticos em silêncio por alguns instantes. Até que o espadachim cede diante daquele corpo cambaleante, de quatro, trêmulo ansiando por mais um pouco de contato e retorna ao leito. Griffith só o solta quando o vê se sentar sobre o colchão.

Guts decide se deitar e guia pelos ombros o corpo do prateado para acomodá-lo sobre ele. Com os corpos colados, eles se ajeitam meios desengonçados. O guerreiro não deixava de se sentir incomodado com aquilo. Pouco, mas ainda se sentia estranho. Seu braço direito apoia a cabeça do prateado e sua mão esquerda segura na cintura do mesmo. Ele sente quando Griffith encaixa o rosto no espaço entre seu pescoço e ombro e começa a emitir gemidos abafados. Percebe o corpo subir e descer descompassado, pela respiração difícil e chiada.

Ele inspira fundo e depois expira, tentando se acalmar, enquanto fita a entrada do vagão, temeroso. Porém percebe que tudo está quieto, tanto do lado de fora, quanto ali dentro. Os únicos sons que ouve, é os gemidos de Griffith e as respirações de ambos fora de ritmo.

Não acreditava no que fazia. Ele conseguia transmitir serenidade para o falcão, algo que achava impossível um homem como ele fazer. Era denominado um mercenário sanguinário, o matador de cem soldados. Considerava-se bruto, rústico e pouco sentimental pelos traumas de infância. A única coisa que lhe dava alegria de verdade e que se saia bem era no campo de batalha, empunhando sua grande espada. Ele havia ido embora e abandonado Griffith e o bando, depois de todos os laços de amizade que havia criado. Mas mesmo reconhecendo que tinha uma personalidade complexa e um pouco antissocial, alguém sem jeito para conversar, sequer aconselhar e tratar sobre sentimentos. Ele percebe que consegue acalmar Griffith. Que em seus braços o albino encontrava calmaria e refúgio.

E dessa vez, o falcão realmente cai no sono, confortavelmente, aconchegado como uma criança com as mãos coladas uma na outra, sobre o peitoral de Guts.

Devido a recente batalha para o resgate o moreno também se sente cansado, mas se força a ficar acordado. Ele não pretende passar toda a tarde ali e ficará apenas alguns minutos até ter a certeza que o outro realmente dorme.

E enquanto espera, fita as mãos do falcão sobre seu peito.

As mãos de Griffith. Nunca reparei o quanto são pequenas. Ele tentou obter tudo com essas mãos. E se me recordo bem, já me salvou diversas vezes com essas mesmas mãos miúdas._ ele pensa reflexivo, analisando os dedos finos, que agora já não tremiam mais.

Seu olhar recai sobre a lateral do rosto de Griffith e analisa aquela face, maltratada, mas mesmo assim mantendo um semblante suave. Porém Guts não sabia se realmente o prateado estava melhorando ou se estava sucumbindo mais a depressão. Mas ele expressa um singelo sorriso sentindo-se esperançoso.

_Talvez aqui seja mesmo minha casa. Só não tinha percebido até então. Eu não tinha notado que tudo que eu sempre quis está aqui._ ele desvia o olhar para a entrada do vagão, onde vê a cortina cinza balançar pelo vento do outono que adentra o local e observa o lindo dia de sol do lado de fora.

_Porque só notei após perder? _ ele se questiona, com a voz arrastada em um sussurro, enquanto acaricia as pontas dos grandes cabelos de Griffith.

Então foi deitado ao lado de Griffith que ele reconheceu que antes, ele corria de seu destino, que ele corria de seu sonho. Que tudo que aconteceu em sua vida, foi para leva-lo ao dia em que conheceu aquele homem. Após aquele dia ele mudou. Obteve amigos, uma casa, uma família, ele fazia parte de algo bom, mas por escolhas mal feitas e orgulho ele se afastou das únicas coisas que o faziam feliz em meio ao mundo caótico e sangrento de guerras, e uma dessas coisas agora estava quebrada, ali em seus braços.  Mas deitado naquela carroça sentia que algo havia mudado. Sentia que deveria ficar e lutar pelo seu antigo líder. Se Griffith realmente se quebrou por culpa dele, ele iria consertar aquilo, não importasse o que iria custar. Agora ele ficaria por sua vontade, por sua própria escolha e desejo.

Do lado de fora, um pouco distante das carroças. Judeau e Caska conversam sobre a situação do bando e sobre Griffith. O rapaz está contente, há tempos não conversava á sós com a guerreira e mesmo que o tema da conversa não fosse sobre eles dois, ele não se importava. Sorria alegremente por ter a atenção de Caska.

Ele conta sobre sua ideia de talvez formar um grupo de ladrões para ajudar a cuidar de Griffith e ela opina em negativa, alegando que seria uma péssima ideia, além de perigosa e que com certeza deveriam tentar ganhar dinheiro de uma forma mais honesta, não roubando. Que as coisas já estavam muito difíceis e que deveriam evitar atrair a atenção de outros para o que sobrará do bando. O loiro apenas assente positivamente com a cabeça, enquanto ela o aconselha. Então, em meio à conversa, surgem alguns membros do bando desinformados, questionando Judeau sobre a ideia de Guts ir embora. Perguntando se realmente o comandante da tropa de assalto iria abandonar o bando de novo. E Caska arregala os olhos, espantada pela informação e na mesma hora, sem nem ouvir o que Judeau tem a dizer aos homens ela se levanta abruptadamente e caminha pesadamente até a carroça de Griffith, enquanto Judeau fica frustrado ao ver a morena se distanciar.

_Caska... _ele sussurra e se levanta. Coloca uma das mãos na cintura, fazendo uma pose e encara aqueles soldados. _ Idiotas! Tinham que chegar falando essas coisas? Deveriam ter perguntado aos outros. Eles sabem que Guts decidiu ficar. _ ele diz tudo com um ar tedioso e sai dali, deixando os homens com expressões de dúvida, enquanto se entreolham.

A guerreira se aproxima do local onde ficam as carroças e encontra Guts do lado de fora. Acabando de sair da presença de Griffith.

_Você realmente vai embora? _ ela o pega de surpresa e pergunta um pouco alto demais.

Guts a olha confuso e espera a mulher o alcançar e quando ela chega até ele, ambos ficam parados em frente à carroça onde Griffith se recuperava.

_Quem disse isso?

_Eu ouvi através dos soldados.

_Você entrou lá! Você viu. Não viu? O Griffith é tão pequeno e treme tanto. Você não pode apenas deixa-lo. Não do jeito que ele está. Se você é mesmo amigo dele, você precisa ficar._ ela esbraveja cabisbaixa e Guts consegue perceber que a mesma chora.

Ele segura nos ombros da morena.

 _ Ei! Eu ficarei. Eu decidi tomar a responsabilidade por Griffith.  _ sussurra Guts abraçando-a carinhosamente e a guerreira rapidamente se acalma, se sentindo aliviada.

Eles não sabiam. Mas Griffith ouviu os apelos de Caska de dentro do vagão. Ele ouviu quando a morena argumentou para Guts não ir embora novamente, ele ouviu toda a conversa, entretanto ele não ouviu os sussurros de Guts. O falcão capta aquela cena. Novamente aquela demonstração de afeto dos dois bem diante de seus olhos e seu coração sangra de ciúmes e derrota.

Sua tristeza é imensa. O abismo do medo e da incerteza que há em sua mente, se abre mais e o faz ilusionar sua própria imagem diante de si, não a imagem do homem aleijado e fraco, mas sim a imagem do comandante temeroso, inteligente e manipulador que era. Ele encara o belo homem de pé, com espanto e ouve aquela voz, a sua própria voz ecoar.

_Porque está tremendo num lugar desses? Esqueceu-se de seu sonho? _ o antigo Griffith reluz em sua armadura de prata. Ele pergunta e atira seu sabre sobre o piso de madeira a frente do prateado, fincando o mesmo ali. Então aponta em direção á um grande e belo castelo, o tão sonhado reino que Griffith almejava ter. Então o falcão mesmo sem muitas forças, se arrasta curioso até o sabre e se apoia sobre a arma, ficando estranhamente em pé, enquanto olha deslumbrado aquele castelo ao longe, que o seduzia com o seu brilho.

_Vamos!_ sua imagem quando criança passa por ele. Correndo, chamando-o alegremente para segui-lo em direção ao castelo. Ele arregala os olhos, já não consegue discernir realidade de sonho ou ilusão.

_Ei! O sol ainda não se pôs. Ainda podemos chegar. Venha!_ a imagem da criança de cabelos prata o convida, o seduz a segui-lo, relembrando a Griffith o seu verdadeiro sonho e o falcão fica boquiaberto ao ver o menino sumir na luz. Seu desejo era chegar ao castelo, seguir a criança que o levaria até lá. A visão lhe era tão real que foi dominado pela cobiça, pelo desejo de reinar, pelo desejo de ser um nobre e ter domínio sobre seu bando novamente, ter domínio sobre riquezas e o mais importante, ter o domínio sobre Guts. Então simplesmente,ele se vê segurando com os dentes as rédeas conectadas ao cabresto dos cavalos e as movimenta para cima com o máximo de força que consegue,açoitando o lombo dos animais que começam a correr pelo impacto, levando a carroça ribanceira a baixo _ seguindo a figura da criança correndo alegremente, o levando pelo caminho ladrilhado, até seu verdadeiro destino.

Guts se vira, ao perceber a carroça se mover.

_Mas como? _ Caska pergunta confusa, sem entender quem estaria guiando a carroça._Será que ele nos ouviu?_ a guerreira completa. E Guts arregala os olhos ao lembrar-se do pedido repugnante que Griffith havia feito. Será que ele decidiu se matar?_ ele pensa enquanto corre em direção à outra carroça. _ Ei irei atrás dele! Avise aos outros!_ ele grita em pedido a Caska e parte desesperado atrás de Griffith.

ΩΩ

O falcão segue hipnotizado pela imagem da criança que corre a frente da carroça. Não sente nada, além de esperança em chegar ao castelo. Ele segue confiante, convicto de que reconquistaria tudo que lhe foi tirado e realizaria seu sonho.

Já descansei o bastante. Preciso ir, preciso chegar ao castelo. Pois sinto que ainda não acabou, sinto que ainda não terminei de seguir o caminho ladrilhado. _ pensa ele, focado naquela ilusão tão real.

Porém antes da carroça adentrar no rio a frente, a grande roda de madeira bate contra uma pedra, fazendo o veiculo parar bruscamente e arremessar o corpo do falcão para fora do vagão _ que voa e cai dentro do rio de maré baixa. E logo, ele desmaia pelo forte impacto _ que mesmo ali havendo água, foi como se ele tivesse caído em um solo de concreto muito denso.

Após uns dez minutos, desmaiado. O falcão desperta momentaneamente atordoado, com os ouvidos entupidos. Vê-se deitado com água sobre seus braços e pernas. Ele consegue ver o céu alaranjado do fim de tarde, com suas nuvens desenhadas em tom de amarelo fosco. Ergue o tronco desajeitado para frente e se senta.

Ele já não vê mais a criança que seguia fielmente, muito menos o castelo, que sonhou mais uma vez alcançar. A única certeza é a dor de seu braço quebrado, que lhe chama a atenção.  Ergue aquela parte de seu corpo dependurada, encarando a fratura interna, com a parte posterior e externa de seu cotovelo saltada, deslocada. E num surto de humor negro, ele ri e gargalha se sentindo patético. Como pude acreditar que conseguiria recuperar o que perdi? Segui fielmente aquelas visões que minha própria mente quebrada criou. Aquilo não era uma força maior, nem era um Deus me guiando. Era apenas minha mente doente e destruída que procurava algo na escuridão e acabou por criar tudo isso, me dando falsas esperanças. _ conclui em pensamentos, com a alma chafurdando na lama.

Então em seu surto psicótico. A depressão e o desespero o incitam a dar fim a sua vida e como se tivesse sorte para coisas ruins, ele avista um tronco de madeira fincado ao solo do rio, com sua base quebrada e apodrecida pela umidade e com uma grande ponta farpada, como se fosse uma estaca, convidando-o a dar fim ao tormento. É aqui o meu fim. _ pensa ele, enquanto engatinha com o auxilio de seu braço bom.

_Um fracasso! _ sussurra Griffith, focado, indo em direção ao item que o salvará.

Eu estou sozinho. Mas essa escuridão tão abundante em mim que me deixa dormente, sem forças para ir contra ela, estou sendo tragado. _ ele pensa parado em frente ao tronco.

Totalmente tomado pelo sentimento mórbido, ele ajeita seu pescoço sobre a grande ponta apodrecida e serrilhada do tronco. Recorre a tudo de ruim dentro de si, a fim de criar coragem para finalizar aquele último ato. Treme, enquanto força a garganta sobre a ponta da madeira, porém mesmo recorrendo às trevas que se instalaram dentro dele, relembrou do primeiro dia em que havia encontrado Guts e sua mente lhe trouxe as lembranças daquele fatídico encontro.

Foi a primeira vez que eu o vi e em toda a minha vida nunca tinha visto nada tão intenso e perfeito. Eu me lembro de pensar que eu tinha que tê-lo ou eu morreria. Meu mercenário te amar dói. _ ele pensa e em uma explosão de emoções, força mais seu pescoço contra a ponta perfurante, concluindo de vez seu objetivo. Mas estranhamente ele abre os olhos e se vê encostado com a lateral de seu pescoço no tronco.  Ele falhou em seu suicídio.

O sangue gotejava sobre a água de tom alaranjado, refletindo a tonalidade do céu e do sol. Um corte um pouco profundo, mas não fatal, foi feito naquela tentativa fracassada de se matar.

Sua boca estava em um O perfeito e ele chorou encostado ao tronco, pela incapacidade de não ter conseguido por fim a sua maldita existência.

_Porque não consigo? Guts! Porque me salva? Eu deveria te odiar. _ questionou-se em pensamentos, totalmente abalado e suas lágrimas secaram.

Sua atenção é atraída para suas mãos abaixo da água transparente e ele vê algo enroscado em seus dedos, um objeto familiar. Levanta o item avermelhado, reconhecendo-o em seguida e um sentimento estranho e curioso se instala em seu interior. Então ele se lembra das palavras da velha mulher de cabelos grisalhos e de tom misterioso, que havia lhe presenteado com o colar.

Um Behelit, denominado ovo do rei supremo. O possuidor deste colar está destinado a conquistar o mundo em troca de carne e sangue.

Seus olhos brilham ao lembrar-se das palavras da cartomante.

Em troca de meu sangue e carne? _ se pergunta encarando aquele rosto deformado, esculpido no ovo vermelho. 

Ele sempre esteve comigo desde aquele dia, me protegeu muitas vezes, mas como veio parar aqui? Justamente onde eu estou.

Então o falcão cogita a possibilidade do destino ainda está á seu favor, do destino ainda estar querendo lhe mostrar algo. Portanto decidi agarrar aquela chance como única.

Senta-se sobre o rio e mantém o ovo sobre a palma de sua mão, enquanto sangra e seu sangue escorre abundantemente sobre seu braço, fazendo um caminho perfeito até chegar a sua mão e banhar aquele item.

Ele alimentava o ovo com seu sangue, mas ele não fazia ideia do que aquilo acarretaria e do sacrifício que teria que oferecer para obter o tão inalcançável agora, poder.


Notas Finais


Leitores do meu Kokoro! Estou aflita. Se o capitulo ficou ruim,peguem leve nos comentários ok? ( risos de nervoso).

Agradeço a todos que visualizaram,que leram, que favoritaram e que comentaram. Realmente estou grata. Pois eu postei essa fic por amar muito esse casal e eu nem estava visando obter comentários,nem nada. ( Eu achava que não teria muita audiência.Então depois que passou das 10 visualizações me senti a Top escritora. kkkk ) Sou humilde.

Mas... então vamos para a próxima parte e o bendito eclipse.
Obrigada! ♥♥♥


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