1. Spirit Fanfics >
  2. O beijo da carpa. >
  3. Por enquanto!

História O beijo da carpa. - Por enquanto!


Escrita por: Slplima

Notas do Autor


Tudo bem?

Mundos diferentes tendem a se chocarem!
O mal com o mal.
Aterradora paixão.

Mundos tendem a se chocarem!
E destruírem-se mutuamente.
Uma grande ironia.
Uma doce tragédia!

Hoje a one é para Saijo Takato e Azumaya Junta.
Porque mesmo em uma realidade alternativa, ambos se confrontam e se amam, enlouquecidamente!
Sina.

Espero que gostem!
Bjinhos.

Lembrando que caso queiram ler minhas outras estórias da categoria, basta acessarem a tag 'Chunkato', ok? Obrigada.

P.S: todos os direito reservados aos autores das imagens que ilustram ambas as capas, ok?

Capítulo 1 - Por enquanto!


Fanfic / Fanfiction O beijo da carpa. - Por enquanto!

"Quando os corpos se conectam, as almas fazem um pacto."

(Lena Casas Novas)

 

 


Já estava ali, deitado sobre a cama, a algum tempo.

Os lençóis de linho, de um tom clássico de azul turquesa, lembrava-lhe do Mar Tirreno, calmo e puro, compondo a beleza única da sua amada Nápoles.

A cidade que lhe havia dado uma perspectiva, mesmo que tivesse nascido na Espanha.

O berço de suas mais terríveis agruras.

Mesmo que fosse filho de um japonês introvertido e cruel e de uma muchacha(1) simplória da periferia de Madrid.

Ah...

Achava que pouco se parecia com aquele Yakuza de merda!

Um sanguinário sem escrúpulos e que nada fez para protegê-lo ou proteger sua pobre mãe das assíduas guerras entre facções.

Lembrava-se de ouvir os gritos desesperados daquela mulher tão graciosa diante do menino de oito anos, ouvia-a implorar aos estranhos raivosos e tatuados que perdoassem seu marido e seu pequeno hijo(2).

Lembrava-se dos desenhos gravados na derme deles.

"Dragões coloridos, que circundavam e adornavam de harmonia exótica a extensão das peles leitosas, cerejeiras vivas e preenchidas de um lilás hipnotizante... "

-E os peixes ... - divagou, quase sussurrando, em meio a penumbra do quarto luxuoso de um hotel localizado no centro da cidade, iluminado apenas pela luz singela de um abajur de cabeceira.

Estava ali, deitado e nu, sobre a cama grande e desarrumada, a algum tempo.

Olhou para a janela ao lado e vislumbrou, nostálgico, o tremular manso das cortinas rubras; ouvia o vento forte zunir do lado de fora e pensou que logo, logo, choveria.

Odiava aquele país.

Odiava recordar que havia sido concebido pelo sêmen pútrido de um homem oriental.

Odiava tanto que viu-se enredado na sede quase insuportável de vingança.

Cresceu rodeado por mafiosos e aprendeu com eles uma lição muito valiosa: a opressão gera o silêncio e cala de uma vez a arrogância dos idiotas.

Foi espanhol até os dez anos, quando teve os pais assassinados.

Perambulou de orfanato em orfanato, até ser adotado e levado embora por um italiano carrancudo e obsoleto, e talhado na arte pura e simples da maldade.

Da auto-preservação.

Marco di Lauro(3) foi seu pai e mentor.

Disciplinador implacável, despersonificou a inocência do menino e reconstruiu a personalidade gélida e inabalável do indivíduo que era agora.

Não restou nada.

Com trinta e dois anos, permitia-se tão somente fantasiar seu passado, encarando-o como um desvanecido e longínquo pesadelo.

Permitia-se ser chamado pelo nome de batismo só para voltar a compreender que o futuro era tudo que importava.

-Azumaya Junta? - e aquela voz lânguida e sensual despertou-o do transe, aflorou seus sentidos absolutamente apurados e atravessou a distância que os separavam, atingindo-o como uma tempestade excruciante. - Sempre tão pensativo, não é?

Ah...

Ele odiava aquele país de desaforados e exibidos.

Tinha raiva de ser descendente de um deles.

Odiava os Yamaguchi-gumi(4).

E por despeito, tornou-se membro de uma das máfias mais temidas do mundo, a mãe de todas as máfias: a Camorra.

E que ironia estar apaixonado pelo único filho do atual líder da primeira família Yakuza, Kenichi Shinoda, e sétimo kumichō(5) da casa Yamaguchi.

Ousado e de ar rebelde, Saijo Takato possuía um requinte raro.

Os olhos azuis cintilantes e os longos cabelos negros que repousavam sobre suas costas e ombros faziam Azumaya ofegar.

Cheirava a figo fresco.

A tez alva traçada habilidosamente pelo Irezumi(6), trazia belas figuras delicadas; pequenos galhos incrustrados de flores de cerejeira ao redor dos braços delgados, um dragão imponente e alaranjado nas costas e uma grande carpa dourada e salmão sobre o peito, do lado esquerdo.

A estrutura corporal frágil e devassamente sinuosa, causava-lhe dolorosos arrepios.

Um tesão torturante e condoído.

Emoções tão conflitantes que, pela primeira vez na sua desgraçada existência, sentia-se perdido e frustrado.

E por quê não dizer abençoado?

Odiava com a sua alma a Yakuza.

E, no entanto, amava-o, loucamente e desesperadamente.

Sim...

Uma grande e amaldiçoada ironia do destino.

-Pensativo não é bem a palavra, meu caro! - e estendendo-lhe a mão, Azumaya chamou-o para si, queria tocar a textura viciante daquela pele, acariciar o rosto ternamente corado e se afundar na boca quente e convidativa. - Estava viajando para uma época muito desagradável da minha infância.

Saijo arqueou uma sobrancelha e sorriu com certa malícia.

Sabia que aquele mestiço não dava ponto sem nó.

Sabia que por detrás dos verdes olivas perfeitos que eram aquelas íris, escondiam-se segredos e dores insondáveis.

Sabia que ele era um mafioso destemido, um homem perspicaz e inteligente.

Mal.

Nada benevolente.

Mas flagrava-se mergulhar em um caos sem fim ao ser tocado por ele, tomado pela fúria do prazer que se mostrava nos gestos, palavras e sensações.

Adorava puxar os cabelos aloirados.

Lisos, feito o cetim mais caro e deleitoso.

Admirar a única marca sobre seu cálido tronco: um corvo, imprimido em linhas sombrias e escuras sobre a nuance bronzeada.

Subjugá-lo de acordo com seus mais sórdidos desejos.

E quão poderoso se sentia ao saber que conseguia levar esse deus nórdico ao delírio!

Parou a centímetros dos lábios finos e matreiros.

Fechando os olhos índigos e desfrutando do hálito doce e cândido que resvalava em sua face.

-Quero tomá-lo agora mesmo, outra vez, Takato-san! - sussurrou perto do ouvido do outro, exalando luxúria e pecado por cada poro. - Permita-me, por favor?

E agarrando a nuca apetitosa, Azumaya o trouxe para cima de si com brusquidão, urgência, sentando-o sobre seu pênis já ereto e úmido de pré-gozo.

Não o penetrou de imediato, não ainda.

Quis apenas esfregar-se nele.

Provocar.

Unir as intimidades latejantes e sensíveis.

Friccioná-las.

Comprimi-las ao nível da loucura.

Pressentir e vivenciar em seu âmago o calor que emanava do valente e orgulhoso samurai da Terra do Sol Nascente.

Seu samurai.

Tão seu!

Testar seus limites.

Saijo correspondeu às intenções nada castas.

Abraçou-o afoito.

Excitado.

Traçou com o polegar o contorno dos lábios entreabertos e rosados, enfiando-o dentro de sua boca.

Encharcando-o de saliva.

Ambos atordoados por aquele frenesi enlouquecedor.

-Venha... - foi chamado por um Azumaya sôfrego e impaciente, descaradamente afogueado, mordiscando o polegar intruso entre seus dentes. - seja meu!

Foi a nota que faltava daquela melodia ensurdecedora de gemidos e arfares, foi a gota d'água para que a tensão entre eles explodisse.

Saijo cravou-se sobre o membro robusto e bem esculpido.

Gritou.

E cavalgou intrepidamente aquela vasta fonte de heresia e lascívia.

Suados.

Pedintes.

Libertinos.

Inebriados pelo ápice que se achegava com furor.

-Só fique comigo para sempre, Takato-san. - ditou com a garganta trancada e com o fôlego quase esgotado pelo esforço. - Apenas para mim!

Uma...

Duas...

Três certeiras e violentas estocadas.

E se derramaram, um sobre o outro. 

Um dentro do outro.

Gozaram deliciosamente!

Testas coladas.

Fios negros e claros mesclando-se nessa nefasta dança de rivais.

Respirações entrecortadas e corações condenados a baterem descompassados.

Cúmplices.

-E gora... deixe-me beijá-lo, querido Junta? - pediu, confrontando o olhar feroz e insaciável a sua frente. - E seja meu, apenas o meu amado garoto.

Ora...

Mesmo sendo mais jovem e estando às vésperas de completar vinte e cinco anos, Saijo ainda o chamava de 'garoto'.

Mas adorava!

O regozijo de presenciar os detalhes e as facetas do herdeiro precioso da família mais abastada e suntuosa de Tóquio.

Ah...

Se eles soubessem!

Azumaya riu-se da inusitada circunstância e não se arrependia!

Morreria por ele.

Mataria por ele.

-Você sabia que o beijo tem um significado importante para a Camorra? - indagou brincalhão, já se aproximando e traçando, com sua própria língua, os lábios dele. - Será responsável por isso, senhor Saijo Takato?

O beijo!

Símbolo de reverência e respeito entre os membros da máfia italiana.

Promessa de lealdade e sinceridade.

Fidelidade às leis e regulamentos.

Amor pela irmandade.

-Sei! - Saijo respondeu pousando as palmas naquela obra de arte, naquele rosto pintado a mão pelas deidades de seus antepassados. - Sei e aceito que não poderei mais estar longe de você!

Odiava cada milímetro quadrado daquele lugar.

Acatou a ordem de pisar naquele solo a trabalho, a exatos dois anos, e caiu na mais antiga e traiçoeira armadilha do universo.

Conheceu-o.

Caiu nas graças do malfadado amor.

Um amor possessivo e imensurável por ele.

Pela pessoa que o destruiria completamente, caso quisesse.

Que quebrara seus ideais e planos, suas barreiras incólumes.

Que o fazia hesitar inconsequentemente.

Miseravelmente.

-O beijo da carpa! - Azumaya ciciou enfeitiçado, trêmulo pelo orgasmo, embargado e resiliente com a sua situação. - Minha delicada carpa.

Beijaram-se.

Com a ânsia irrefreável de dois amantes.

Ocultos das indiferenças e intolerâncias.

Dos perigos que os rondavam.

O beijo da carpa.

Da sua irresistível carpa.

O selo incorruptível da paz entre os inimigos declarados.

.

Já estavam ali, deitados sobre a cama, a algum tempo.

Os lençóis de linho, de um tom clássico de azul turquesa, lembrava-lhe do Mar Tirreno, calmo e puro, compondo a beleza única da sua amada Nápoles.

Azul, como aquele par de safiras translúcidas e adormecidas em seus braços musculosos e cheios de cicatrizes.

Azumaya enlaçou-o mais forte junto a si.

Inalou a essência pura e agridoce de seus cabelos desgrenhados e suspirou derrotado.

Olhou novamente para a janela ao lado e vislumbrou, nostálgico, o tremular manso das cortinas rubras; ainda ouvia o vento forte zunir do lado de fora e constatou que já chovia.

O tilintar das gotas cadenciando o cansaço da sua conturbada mente, levando a letargia seu maculado corpo.

-Eu te amo, maledetto(7)! - declarou-se num silvo, imaginando que já não era mais ouvido. - Eu, realmente, te amo!

Sim!

Saijo o ouviu e esboçou um sorriso radiante e satisfeito.

"Também te amo, Kuso yarō(8)! Eu, realmente, te amo." - pensou, antes de deixar-se sucumbir pelo sono.

E que todos fossem, literalmente, para o quinto dos infernos!

O paraíso era ali.

Por enquanto!

 

 




 

"Sua luz me ascendeu,

seu amor me enlouqueceu...

Uma nuvem de prazer!

Minha sina é te servir,

meu melhor eu vou lhe dar,

será assim até o fim...

Desde sempre vou te amar."

(Leonardo Azevedo de Souza)

 

 

 



 

 

FIM


Notas Finais


Obrigada para você que leu.
Caso queira comentar, ficarei feliz!
Possíveis erros serão corrigidos posteriormente, ok?

Bjinhos.

Notas explicativas:

(1) traduzido do espanhol, significa menina .

(2) traduzido do espanhol, significa filho.

(3) é um camorrista italiano e membro do clã Di Lauro de Nápoles. Depois de ter estado foragido por 14 anos e ser incluído na lista dos fugitivos mais procurados da Itália, ele foi capturado em Nápoles em 2 de março de 2019. Atualmente, encontra-se preso.

(4) O Sexto Yamaguchi-gumi é a maior organização yakuza do Japão. Recebeu o nome de seu fundador Harukichi Yamaguchi. Suas origens podem ser traçadas até um sindicato de trabalhadores portuários em Kobe antes da Segunda Guerra Mundial. É uma das maiores organizações criminosas do mundo. De acordo com a Agência Nacional de Polícia, contava com 8.900 integrantes ativos no final de 2019.

(5) traduzido do japonês, significa chefe.

(6) é a palavra japonesa para tatuagem e se refere a um estilo distinto de tatuagem japonesa, embora também seja usado como um termo genérico para descrever uma série de estilos de tatuagem originários do Japão, incluindo tatuagem tradicionais do povo Ainue do Reino Ryukyuan.
Todas as formas de irezumi são aplicadas à mão, usando cabos de madeira e agulhas de metal presas com fio de seda. Este método também requer tinta especial conhecida como tinta Nara, também chamada zumi; A tatuagem praticada tanto pelo povo Ainue quanto pelo povo Ryukyuan usa tinta derivada da planta índigo. Irezumi é um processo doloroso e demorado, praticado por um número limitado de especialistas conhecidos como horishi . Horishi normalmente tem um ou mais aprendizes trabalhando para eles, cujo aprendizado pode durar um longo período; historicamente, os horishi eram admirados como figuras de bravura e apelo sexual malandro.
No início do período Meiji, o governo japonês baniu as tatuagens, e o irezumi assumiu conotações de criminalidade e delinquência como resultado, levando a um estigma considerável contra as pessoas com tatuagens no Japão moderno.

(7) traduzido no italiano, significa maldito.

(8) traduzido do japonês, significa bastardo.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...