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História O casulo - Dona morte


Escrita por: gabivicents

Notas do Autor


Este é o primeiro capítulo da minha obra intitulada O Casulo. Nele, compartilho algumas experiências pessoais que vivi ao longo da minha jornada. Espero que vocês se conectem com a história e encontrem algo de si mesmos nas páginas.

Capítulo 1 - Dona morte


Fanfic / Fanfiction O casulo - Dona morte

Hoje, ao despertar, senti aquela familiar presença sufocante. A morte, silenciosa e vigilante, espreitava-me novamente do armário, como tem feito todas as manhãs. Não mais me assustava, embora ainda me incomodasse sua constante vigilância, sua insinuação persistente de que cada pequeno ato meu era observado, julgado e, de certa forma, condenado. Sua sombra me acompanhava desde que me entendia por gente, como uma presença invisível, pairando sobre cada decisão e cada hesitação que moldou o tecido frágil da minha vida. 

Logo cedo, ela estava lá, durante minha corrida matinal, seu espectro caminhando logo atrás, as passadas tão ritmadas quanto as minhas. À noite, no jantar em família, ela se postava à mesa, invisível aos olhos dos outros, mas inconfundível para mim. Estava sempre à espera de um convite, um gesto que a autorizasse a me seguir definitivamente.

Nunca fui boa em lidar com sua presença. A perseguição constante era um lembrete cruel de que minhas escolhas, ao longo dos anos, foram meros desvios, decisões mal ponderadas que agora se revelavam como rachaduras no frágil vidro que é a vida. Tudo ao meu redor era um reflexo distorcido daquilo que eu poderia ter sido, mas nunca fui. E a morte sabia disso.

Certa vez, ao caminhar com meu cachorro no parque, ela apareceu de repente, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Seu sorriso grotesco, esticado de orelha a orelha, expunha um semblante esquelético que me provocava uma estranha familiaridade. Era como se a morte não fosse mais uma intrusa, mas uma velha conhecida. Sem cerimônia, ela me fez uma pergunta que ressoou como um eco no vazio da minha alma:


– O que você deseja ser no futuro?


A pergunta simples, quase infantil, fez o mundo ao meu redor desaparecer. As árvores, o chão de terra, o cachorro que trotava à minha frente, tudo se desfez em uma névoa de irrealidade. Restávamos apenas eu e a pergunta, suspensa no ar como uma sentença que não se pode evitar. 

O que eu desejo ser? – repeti, como um autômato. A pergunta ecoou na minha mente oca, como uma pedra lançada em um poço sem fundo. Desejar... O que significa desejar algo para o futuro, quando o presente se arrasta, vazio e pesado, como uma corrente presa aos pés?

O peso dessa questão me envolveu completamente. Senti-me como uma caixa, há muito vazia, onde não restava mais nada de substancial. A vida que um dia existiu ali havia sido devorada pela rotina, pelo medo e pelas escolhas erradas. No entanto, esse vazio que me habitava não era o de uma espera pelo novo ou pelo possível. Era um vazio estático, imóvel, onde qualquer tentativa de preenchê-lo revelava apenas mais do mesmo: fracasso e decadência.

Enquanto a morte permanecia à minha frente, impassível, percebi algo terrível. Minha vida se assemelhava a um casulo frágil, onde algo maligno se formava. Eu me tornara prisioneiro de minhas próprias omissões, das pequenas traições que fiz a mim mesmo ao longo dos anos. O casulo, uma vez rompido, não revelaria uma borboleta, mas algo muito mais sombrio, algo deforme, corroído pelas minhas próprias escolhas e medos.

A morte não precisava fazer mais nada. Ela já havia plantado a semente. Eu a carregava dentro de mim o tempo todo, um testemunho silencioso de que, em algum momento, o casulo se abriria. E o que emergisse dali não seria capaz de responder à pergunta que ela fizera. Eu não desejava mais nada, porque não havia mais nada para desejar. 


Notas Finais


Se você leu até aqui, gostaria de convidá-lo a deixar sua avaliação sobre a história. Seu feedback é muito importante e ajuda a moldar os próximos passos da narrativa. Fique atento, pois em breve trarei mais um capítulo, continuando a jornada que começamos juntos.


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