A casa de Monowasure Hyuuga era em outra cidade, diferente da que Natsuhiko Hyuuga conhecia. Por isso, depois de uma noite mal dormida e pular o café da manhã, ele saiu para dar uma volta nos arredores, antes mesmo da sua mãe acordar. Não queria encara-la logo cedo e estava curioso para saber sobre o novo lugar que ele moraria por sabe-se lá quanto tempo.
Ele colocou alguns casacos, um gorro, luvas, botas, e um cachecol por cima da sua tão querida coleira. Então, saiu da casa, observando tudo ao redor durante sua caminhada.
Não era nada muito diferente da sua cidade antiga, várias casas, ruas de asfalto, árvores cobertas de neve, e tudo o mais.
Natsuhiko já havia localizado os comércios mais próximos, como um supermercado, um restaurante com aparência agradável, uma sorveteria fechada por causa da neve, um fliperama fechado também, e uma loja focada exclusivamente em mangas, cuja última ele entrou apenas para passar vontade a respeito dos quadrinhos que queria comprar.
Estava se aproximando do meio do dia, então resolveu voltar para casa da Monowasure, saltitante, alegre com o passeio satisfatório que fez.
Mas ainda assim, sua curiosidade o fez tentar voltar por outra rua, para ver se não encontrava mais nada de novo. Fez isso algumas vezes, entrando em várias ruas diferentes.
Algumas tinham crianças brincando, outras tinham bares e mercadinhos menores, encontrou até mesmo uma loja voltada a música.
Entretanto, sua descoberta que mais chamou-lhe a atenção foi uma criatura pequena e curiosa, saltitando por aí. Era como um chiclete de morango ambulante em formato de coelho. Natsuhiko se abaixou diante do ser e delicadamente o pegou em suas mãos.
– Oi! Eu sou o Natsuhiko Hyuuga! E você, o que você é? – indagou Natsuhiko, analisando-o curiosamente.
– Mokke! – respondeu com uma voz aguda.
– Mokke? – repetiu ele, rindo um pouco – Você é muito estranho! Gostei de você! Você tem uma casa?
– Casa? É um doce?
– Não, seu bobo! É o lugar que você vive! São aquelas coisas ali! – apontou Natsuhiko, com um sorriso largo – Mas você gosta de doce, não é?!
– Doce! Doce!
– Entendi! Na minha casa tem! A Monowasure tentou me oferecer, mas eu recusei... – comentou ele – Você quer morar comigo? Eu posso te dar o doce!
O Mokke balançou o que seria sua cabeça para cima e para baixo, alegremente. Natsuhiko o abraçou e virou sua cabeça para os lados procurando algum ponto conhecido, falhando drasticamente.
Foi uma pessima ideia deixar que a sua curiosidade tomasse conta.
– Então... Eu só tenho que achar a casa primeiro... – murmurou ele, apertando o Mokke contra seu próprio peito.
Ele voltou a andar, agora segurando o Mokke e mais preocupado do que antes. O "animal" reparou na preocupação do humano e abaixou um pouco suas orelhas de coelho, olhando-o curioso. Hyuuga reparou no olhar, e deu um sorriso para o bichinho, tranquilizando-o:
– Vai ficar tudo bem... Eu consigo te proteger se o pior acontecer! Eu não morro, sabia?
Ele não sabia dizer se o Mokke entendeu o significado disso, já que ele apenas se aconchegou ainda mais no casaco da criança. Talvez estivesse com frio, então Natsuhiko tirou seu próprio cachecol e enrolou o coelho nele. Não ia sentir falta desse pedaço de tecido brega que pinica.
Andou mais um pouco pelas ruas desconhecidas da nova cidade, ficando inseguro conforme ele via o sol começando a descer do seu ponto mais alto. Se tivesse de adivinhar, diria que são 2 da tarde, e ele sentia que não estava chegando em lugar nenhum.
Frequentemente, ele falava algumas coisas com o Mokke enquanto andava, seja por estar entediado ou por estar com medo do Mokke ter morrido, como por exemplo:
– Mokke, você é macho ou fêmea? Eu preciso te dar um nome! Se não seria como chamar um cachorro de cachorro ou um gato de gato!
– Quê?
– Não sabe o que é isso? Tudo bem também! Vou te chamar de Haru! Aí se você descobrir algum dia, o nome continua sendo o mesmo! – declarou, segurando o agora proclamado Haru.
Mas mesmo quando Natsuhiko conversava com o Mokke Haru, eles ainda não achavam a casa dos Hyuuga.
Já estava começando a ficar tarde, o sol já estava na posição de 4 horas da tarde, e Natsuhiko começou a questionar se tudo ficaria bem. Ele provavelmente não iria morrer de frio nem fome, isso é fato, mas será que Haru morreria? Quando sua preocupação chegou próxima do limite, ele bateu a cabeça no poste por estar distraído fazendo carinho na criatura que encontrou.Doeu, e deixou sua testa toda vermelha por debaixo da sua franja bagunçada.
Mas quando olhou para o lado, encontrou uma casa vermelha. Era meio abandonada, várias plantas subiam suas paredes, o telhado tinha buracos e várias janelas estavam quebradas. Ainda assim era grande e até bem bonita, sua pintura vermelha permanecia vibrante mesmo com o tempo, sua arquitetura era bela e trazia uma energia estranhamente atrativa para o lugar.
Por algum motivo, na sua entrada, uma placa havia sido pendurada em fitas amarelas e pretas, escrito "Fique longe", com uma caligrafia apressada e até meio rabiscada, dificultando a leitura dos Kanjis. Seja lá quem havia escrito isso, realmente não queria que ninguém entrasse alí.
Natsuhiko estava muito curioso com o que tinha de tão terrível alí para fazer com que um lugar abandonado fosse isolado desse modo, mas não pôde deixar de sentir um pouco de medo com isso.
Ele segurou o Mokke com apenas uma mão para poder segurar o pingente da sua coleira novamente. Aquilo já havia se tornado um hábito frequente desde que Nanako morreu, como se ele ainda precisasse proteger o objeto dado por ela, ou talvez ela quem ainda o protegesse. Sempre que sentia-se mal ou em perigo, ele apertava o losango amarelo pendurado nela.
Normalmente, ele não teria a ousadia de entrar alí, mas a atração que aquela casa exercia sobre o ambiente ao seu redor era forte demais. O Hyuuga reconhecia que coisas atrativas assim podiam ser muito perigosas também, mas ele também sabia que precisava de um lugar para se proteger do frio por um tempinho.
Mas não esperava que quando estivesse prestes a pular o muro baixo que tinha o imóvel, ele sentisse uma mão no seu ombro. Era pequena, magra, e trêmula, talvez até um pouco fraca.
Seu instinto já gritava de novo dentro do seu peito. "Não se vira", pensava ele, já imaginando que algo estava errado. Porém, precisou desobedecer seus próprios pensamentos, já que não parecia que aquela mão ia desistir do seu ombro tão cedo.
Ele desceu do muro antes de se virar, segurando o Mokke firmemente, ainda cobrindo-o com seu cachecol.
Com seu coração batendo a mil pela ansiedade, Natsuhiko respirou fundo, segurou no pingente com mais força e olhou para trás.
E no momento que viu a figura atrás dele, surpreendeu-se.
Era só uma garota, uma muito bonita por sinal. Ela era mais baixa que Natsuhiko, mas parecia ser um pouco mais velha que ele. Ela vestia um casaco cor-de-caqui, aquecedores para os ouvidos verde escuros, luvas pretas e uma calça vinho. Seus olhos eram baixos e tranquilos, verdes como se guardassem toda a floresta amazônica por debaixo dos seus longos cílios. Seu cabelo era verde claro e só chegavam até seus ombros, e só tinha uma franja bem curta.
Seu rosto redondo também parecia ser quase perfeitamente simétrico, se não fosse por uma pinta que ela tinha na lateral do seu olho direito.
Ele se surpreendeu não só com sua beleza, como também por sua idiotice ao pensar que ela seria uma pessoa perigosa. Tempos depois, ele descobriria que estava certíssimo, mas não deixaria de acreditar que ela era a pessoa mais maravilhosa que já viu na sua vida.
– Garoto da cicatriz? – perguntou ela, com sua voz serena e muito bem afinada.
– Ah, é... Eu tenho uma cicatriz... – respondeu, meio sem jeito, quase se esquecendo do ataque que sofreu do ser estranho no ano passado – Mas me chamo Natsuhiko Hyuuga!
– Sakura Nanamine. E devo dizer que sua mãe, Monowasure Hyuuga, está procurando-o sem descanso pela vizinhança, tanto que parou de casa em casa perguntando aos seus respectivos moradores se haviam visto um garoto com uma cicatriz no rosto. – contou ela, falando com uma formalidade que Natsuhiko não via desde que estudava com Ayano – Aquela mulher petulante fez tanto alarde, que resolvi vir até aqui para me afastar daquele flagelo. Não esperava encontrá-lo por aqui, Hyuuga.
– Ah, sabe como é, né! Eu fui dar uma volta em uma cidade totalmente desconhecida por curiosidade e acabei perdendo a noção do tempo! – ele disfarçou, sorrindo de orelha a orelha.
– Perdeu-se do caminho de volta também, estou errada? – perguntou, encarando-o fixamente.
Ele deu uma risadinha sem graça, e acabou soltando o Mokke para coçar a própria nuca. Haru caiu no chão, e assim que Natsuhiko percebeu se abaixou para pegar.
– Haru, cuidado! – alertou ele.
Só então Sakura reparou na criatura envolvida por aquele cachecol amarelo, surpresa. Casualmente, ela havia encontrado mais alguém com a capacidade de ver sobrenaturais.
Ela sabia que ele não tinha muita energia espiritual, conseguia sentir isso, logo não tinha ancestrais relacionados ao espiritualismo. Também podia dizer que não era um Minamoto, já que não tinha presas, olhos azuis e muito menos cabelo loiro, características que não mudava a séculos.
Então, pensou que estivesse para morrer, e não pôde deixar de sentir uma pitada de dó do garoto. Mas sua neutralidade natural não deixou que isso transparecesse.
– Deseja ajuda para retornar?
– Olha... não que eu não possa me virar... – comentou, evitando olhar diretamente nos olhos da mais velha – Mas uma ajudinha seria legal, né...
– Vem comigo. – pediu Nanamine, andando à frente do garoto.
Ele acompanhou-a, um pouco mais quieto do que antes. Tentou focar sua atenção mais em decorar o caminho que estavam pegando para não se perder, e quem sabe, voltar para aquela casa vermelha algum dia.
Mas mesmo com seu foco, eventualmente ele ainda observava a garota.
Era como se ela tivesse saído diretamente de uma obra de arte renascentista.
Parecia ainda que ela não era alguém real, não era mais outra mortal como tantos outros nesse mundo. Chegou a cogitar que ela também seja imortal como ele, por conta dessa sensação, mas ele não chegava nem aos pés de Sakura na beleza.
Apesar de todo o desespero anterior que ele e Haru sentiram, não demorou mais que 5 minutos até que estivessem em bandas conhecidas do garoto, reconhecendo aquela loja de mangás de antes.
– Você conhece este lugar? – perguntou ela, percebendo o olhar alegre de Natsuhiko.
– Sim! Acho que agora eu consigo voltar! – afirmou ele, alegre.
– Para garantir, vou te acompanhar até sua porta. – disse ela – Mas olha, esse bicho que você está segurando...
– Ah, se chama Haru! Haru disse que é um Mokke!
– Sei bem. Eles são bem comuns nessa região, já que a maioria mora em um colégio aqui perto. – respondeu, parando para acariciar a parte de trás da orelha do coelho – Entretanto, ouvi dizer que a senhora Hyuuga é alérgica a animais. Não tem problema você levar Haru com você? – perguntou, mentindo.
– Ela é?! Nossa, eu não sabia! – lamentou, ficando cabisbaixo. Natsuhiko encarou o coelhinho, que pareceu retribuir sua chateação com o olhar.
– Gostaria que eu cuidasse dele? – ofereceu ela – Você pode vir me ver para vê-lo novamente.
– De verdade?!
– De verdade.
– Tudo bem! Faça questão de dar um doce para ele, okay? Eu prometi dar um para ele! – concordou ele, entregando o Mokke com cachecol e tudo. Natsuhiko ficava genuinamente contente com a ideia do Mokke ter uma casa, mas também apreciava muito a ideia de ver Sakura novamente, depois de ser deixado em casa.
Finalmente chegaram. Natsuhiko deu algumas batidas na porta antes de ser recebido pela Monowasure, que tinha várias rugas de preocupação pelo seu rosto.
– Moleque! É o primeiro dia que você está aqui e você já some!
– Sinto muito, Monowasure – respondeu, não muito feliz de ver a mulher novamente – Mas a Sakura Nanamine me ajudou a voltar para cá!
– Quem é Sakura Nanamine, Natsuhiko? – perguntou a mulher, ficando um pouco assustada.
– Ela é da vizinhança já que disse que te ouviu me procurando! Olha ela ali! – ele apontou para trás, exatamente onde ela estava, mas seu coração gelou ao ver que ela tinha sumido.
Monowasure ficou confusa, mas deu de ombros e fechou a porta. Crianças eram assim mesmo, imaginavam muitas coisas. Afinal, não havia nenhuma Sakura Nanamine na vizinhança.
Acontece que Sakura só tinha ido embora mesmo, levando Haru no colo carinhosamente.
Era mentira a respeito da senhora Monowasure ser alérgica a Mokkes, mas se ele de fato ia morrer, então seria crueldade deixar Haru com uma mulher que nem o via.
Entretanto, mesmo que a morte seja a única opção que ela conseguia imaginar para aquele garoto, ainda se perguntava se aquilo realmente estava certo.
Afinal, Sakura sabia dizer, de algum jeito, que Natsuhiko Hyuuga tinha um toque especial nele. E pela primeira vez ela não conseguia dizer o que era.
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