os órgãos mesmo que descuidados, funcionavam bem e a cabeça que com qi elevado, descansava serena sob o travesseiro.
homem travesso, era o chamado.
e ele nunca fez travessuras.
ninguém nunca viu suas lágrimas, e existem boatos que nem no parto ele chorou.
ninguém nunca ouviu o seu pranto, e daqui do litoral o mar traz contrário à sua direção, eu posso o sentir.
os cantos salientes de bocas hidratadas não o atraía, e diziam que sua boca era virgem.
tanto quanto o signo, vênus.
surpreendam-no se forem capaz!
e ninguém era.
ninguém é.
os braços longos e não-tão-magros se abraçavam e ele nunca precisou de calor alheio.
calor não existia, sua alma era fria e sua presença estourava os graus do termômetro.
ele nunca teve febre.
o homem mais saudável que pisou na Terra.
nunca saiu do lugar, se é que me entendem.
se é que me falaram.
poderiam mentir que nunca o ouviram falar.
e o mentem, mentem muito.
acreditaria se não tivesse eu, presenciado a vibração de suas pregas vocais.
até hoje não consigo dar adjetivos.
e eu gosto de os dar.
incógnita retórica.
eles nunca enxergaram.
e todo mundo vê, eu sei que sim.
ele tinha um dedo quebrado e dois dentes tortos que formavam o sorriso mais horizontal que a linha do pôr do sol.
as pessoas aprenderam a desgostar da presença brilhante no alto, eles não olham mais pro céu.
eu sinto muito.
sua cor favorita era o verde que remota esperança que não mais existe no pensamento de todos.
ele era muito diferente para não se encaixar com os iguais.
mas, ninguém presta atenção nos sinais.
negativo com negativo dá positivo?
a matemática passa bem longe da realidade quando ele conta em seus dedos e risca pauzinhos no canto do concurso.
o homem mais saudável que viveu na Terra.
é sobre ele, e sobre sua saúde.
diziam que morreu de velhice.
o mais velho homem que pisou no chão de asfalto quente.
diziam.
a boca puxava e mastigava ar poluído.
fazia mal mas, ele nunca tossia.
cochichavam que ficava tudo acumulado na garganta.
eu não dúvido, admito.
porque as unhas pouco crescidas corriam o próprio rosto e mitos rondavam os bairros sobre uma suposta mutilação.
ele não tinha cicatrizes.
o homem mais saudável que viveu na Terra morreu de uma doença séria.
arrisco dizer: a mais séria de todas.
a morte mais lenta e nada fullgás chupava seu pescoço.
e adivinhem?
ele nunca foi marcado.
luzes artificiais cobriam seu rosto em épocas festivas.
ele não festejava como os outros.
morreu doente e moribundo.
ninguém sentiu o vírus chegando e a bactéria agravando.
numa quarta-feira gorda de meio de semana, em meio pessoas que sabiam quem ele era mas, não o conheciam, ele chorou.
todos ouviram.
dessa vez todos ouviram.
sem precisar de abraços, ele clamou por calor.
ele clamou por eles.
e dessa vez todos ouviram.
o silêncio que pairava no metrô, fez com que sua voz gritasse por atenção.
pedia socorro.
todos ouviram.
ele deu o dedo antes de descer na Sé, era o dedo quebrado.
os lábios engoliram o sorriso de dois dentes tortos e perguntavam-se onde estava a linha do horizonte, se não na sua boca ou no céu.
ninguém sabia a resposta.
só ele.
morrer por não saber viver, doía.
e ele sentia dor.
até o último milissegundo ele sentiu dor.
a boca purulenta seca, engolia o âmago.
e eles mentiam.
o homem mais saudável que viveu na Terra, morreu por não saber plantar na terra o que pretendia colher.
o homem mais saudável que viveu na Terra, morreu.
e jovem viu o sol morrer com ele.
o homem mais saudável que viveu na Terra.
ele morreu porque toda a saúde que tinha no corpo e mente, não possuía na vida.
ele morreu doente sem nunca voltar ao hospital depois do dia em que nasceu.
ele morreu.
porque diante todas as coisas que fazia, e que aprendeu a fazer;
morrer era a melhor delas.
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