Narrador POV's
Mansão Wolf, Quarto de Amara, 8:01 PM
O tão esperado churrasco da família Wolf aconteceu, mas Amara não estava participando dele. Estava em seu quarto e tentava miseravelmente cessar o choro e esquecer o assunto, mas por algum motivo — que era óbvio, mas ela se recusava a ver. — as palavras de Adam não eram tão fáceis de esquecer quanto as palavras cruéis de seu avô ou quanto as de Lúcifer. Pelo menos, podia chorar em paz, os Sakamaki foram uma grande distração para sua família e a música abafara seus sons, ou seja, ninguém perceberia. Mas podia acontecer, como agora.
A porta do quarto se abriu lentamente, dando a Linnus, quem a abriu, a visão de sua amiga deitada na cama, de costas para ele. Via a garota se contrair quando soluçava, também podia perceber que ela estava com a mão na frente da boca abafando os sons que saiam dali. Isso tudo fazia o peito do rapaz se apertar em dó, estava vendo sua melhor amiga se decompor em vida, a acompanhava desde seus doze, viu de perto tudo destruir o bom coração da garota, todas as palavras e as cargas colocadas sobre si sem consciência.
— Linnus, saia daqui. — Sua voz estava rouca e falha, mas não deixava de ser marcante. A garota sequer se levantara para falar tal frase, continuava de costas, sem coragem para se virar.
— Deixa eu te ver. — Linnus pediu com gentileza, aproximando-se mais, ciente do que deveria fazer.
— Sai daqui! — Ela berrou, cobrindo mais ainda seu corpo com a coberta. — Eu não estou com saco pra falar com você, eu quero ficar sozinha, Linnus. — Completa com crueldade, mas não tinha acabado de despejar sua frustração. — Entendeu ou quer que eu desenhe? — Pergunta ao perceber que ele continuava ali.
— Não precisa, não vou a lugar algum. — Ele se senta na beirada da cama. — Eu só quero cumprir meu papel como melhor amigo e não sair daqui enquanto minha melhor amiga estiver assim. — Seu tom foi bem-humorado, mas apenas isso não bastou, tinha que rir no final da frase, para deixar o ambiente mais aceitável.
— Foda-se o que você quer. Eu quero ficar em paz. — Amara insistiu com teimosia, apertando a coberta em suas mãos. — Eu tô de boas. Pronto, feliz? Agora tchau.
— Você não disse isso... — Linnus fala fingindo estar incrédulo. — Não tô feliz não, puta que pariu, eu chego aqui e você tá morrendo de tanto chorar e solta um “eu tô de boas”? Você acha o quê? Que eu sou trouxa? — Ele tenta manter uma certa braveza na voz, mas não aguenta e começa a rir.
— Eu não acho que você é trouxa, eu tenho certeza. — Responde de forma rude, se levantando de uma vez, virando-se para Linnus.
— Sua cara tá horrível. — É apenas isso o que ele responde, não conseguindo dar atenção à frase da garota, atordoado com sua aparência.
— Não está mais. — Diz com sarcasmo após estalar os dedos, fazendo sua cara “magicamente” melhorar.
Ela andou com passou pesados até o banheiro e Linnus a acompanhou, apoiando-se no batente da porta. Amara estava de costas para o moreno, mas notava que ele a observava, então acabou por rir. E aquela foi a primeira vez que ela riu de alguma coisa desde o ocorrido, e isso o fez sorrir. Amara ligou o chuveiro, cessando sua risada, entrando debaixo da água fervente, que quando entrou em contato com sua pele, a deixou avermelhada.
Por mais que calor lhe lembrasse o inferno, Amara amava tomar banhos tão quentes que queimavam sua pele. Seu psiquiatra, na época em que ela ainda ia em médicos, tentou lhe explicar uma vez o porquê, porém ela não entendeu muito. Ele havia dito que era porque no calor do inferno, ela ainda sentia dor, era uma tentativa inconsciente de senti-la. Até que fazia algum sentido, ela enlouqueceu naquela época na busca de trazer essa sensação de volta.
— Eu ainda não me acostumei com seus banhos quentes... — Linnus comenta, se sentando na pia.
— Não esqueça de que eu não sinto dor, bobinho. — Ela pisca para Linnus, lavando seu cabelo.
Amara terminou seu banho em pouco tempo enquanto conversava com Linnus. Depois se trocou e finalmente desceu.
A música tocava alta e a noite estava clara, seus primos nadavam animados na piscina e seus tios e tias estavam por todos os cantos, conversando.
Os Sakamaki e Mukami se enturmaram até que bem. Dos Sakamaki, Ayato e Laito davam em cima das primas de Amara, Reiji lia um livro, Shu dormia no canto da área de lazer, porém Subaru não estava lá. E dos Mukami, Yuma tentava arrastar Azuza para a piscina junto de Kou e Ruki repreendia os dois, mas sem sucesso.
— Olha quem chegou! — Gael exclama sorridente, pegando sua irmã no colo, pretendendo jogá-la na piscina.
— Não, não mesmo, você não vai me tacar... Gael, me coloca no chão agora. — Ela ordena com convicção, para não dizer que pareceu uma criança mimada fazendo birra. — Gael seu filho da puta. — Ela grita quando sente que é tacada, mas antes de cair na água, ela voa, porém não consegue ganhar altura, pois tem seu pé agarrado por Dylan, que estava dentro da piscina.
— Você achou que ia fugir, pois é, não vai. — Dylan ri, pensando ter capturado sua irmã de vez, mas ela se teleporta para longe deles.
— Eu não achei, eu tinha certeza. — Ela dá a língua e se desvia de Mark, que tentou agarrá-la por trás.
Amara parou de brincar assim que sentiu a presença de um arcanjo preencher o local, mas não era um arcanjo qualquer, era Lúcifer. Ele entrou pelo portão da área de lazer com naturalidade, como se fosse alguém de casa. Sorriu para Amara, que logo revirou os olhos, dando uma risada maldosa. A atenção de todos foi para Lúcifer, que sequer olhara para eles, pois sentia-se melhor que nunca, sentia-se bem para jogar uma bomba de segredos nos trigêmeos.
Dylan e Gael se entreolharam, Dylan querendo ir para cima de Lúcifer, porém Gael o impediu.
— Deixe que ela faça isso, você sabe que ela não gosta que você se meta. — Gael pediu com serenidade, colocando sua mão no ombro do mais novo. Amara os olhou brevemente por cima do ombro, fazendo um sinal de agradecimento com a cabeça.
— Que foi? Veio procurar mais uma surra, Lúcifer?
— Lúcifer? Pensei que eu fosse o seu pai... — Ele ri com sarcasmo, querendo causar algum efeito negativo, mas mal sabia ele que ela tinha uma resposta mais cruel ainda.
— Não, você é só o cara que transou com a minha mãe e gozou dentro. Você é só um trouxa que matou minha mãe por ciúmes. — Ela lambe os lábios, dando um sorriso afiado.
— Ciúmes? Dele? — Aponta para Killian, que observava Lúcifer com ódio no olhar. — Não me faça rir... Eu sou melhor que ele, sua mãe...
— Wow, wow, wow... Chega de falar da vida sexual da minha mãe, que tá morta. Se você é melhor que o meu pai eu não sei e nem quero saber, o ponto é: O que porras você veio fazer aqui seu merda? — Ela manteve uma expressão neutra mesmo que estivesse com raiva.
— Nós não conversamos da última vez, então eu quis voltar para conversar com os meus filhos... Problemas? — Pergunta retoricamente, roubando a garrafa de whisky que estava em cima de uma das mesas, bebendo diretamente do gargalo.
— Ah, agora eu entendi tudo... — Ela fala ao entender o que Lúcifer queria conversar, rindo com isso. — Eu não vou te ajudar a trazer o apocalipse. — Amara é direta, acendendo um cigarro no final da frase.
Lúcifer gargalhou alto, encarando Amara com deboche, como se ela tivesse dito a coisa mais engraçada do universo.
— Eu não preciso mais de você, Amara, agora eu tenho Jack. — Amara se enfurece com a afirmação de Lúcifer, encarando-o com um fogo no olhar.
— Chegue perto de Jack pra fazer com ele a mesma merda que fez comigo e você vira picadinho! — Ela berra, puxando Lúcifer para a sua mão com sua energia. — Eu te regaço seu merda. — Ela aperta o pescoço dele mais ainda, soltando-o no chão.
Ele se levanta do chão aonde Amara havia lhe tacado e diz:
— Ainda guarda rancor disso? — Ele dá uma risada baixa. — Pensei que tivesse compreendido que toda a tortura que fiz, foi por amor. — Lúcifer diz pegando no rosto de sua filha. Esta foi a gota d’água para Gael, que ia atacar Lúcifer, mas Amara o impediu, empurrando seu irmão de leve.
— Que bom pra você, mas eu não tô nem aí.
— Acha o quê? Que eu peguei pesado na sua tortura? Não me faça rir... Na outra dimensão, quando fiquei preso com Mary, aprendi uns truques novos, quem sabe eu possa te mostrar... — Ele ri de forma diabólica, encarando Amara com um humor provocativo, esperando que ela explodisse.
— Não tem como me mostrar, eu não sinto mais dor. Se eu quiser quebrar meu braço em pedaços e arrancá-lo, eu posso e não sentirei nada com isso. Fiz tantos tratamentos de choque, levei tanto choque na cabeça, que isso ferrou com a minha percepção de dor. — Ela fala com frieza, usando um tom de sarcasmo. Os vampiros que ali estavam ali, pareceram ficar perplexos, encarando Amara como se ela fosse um ser de outro mundo.
— Que peninha... — Lúcifer diz com ironia, demonstrando não estar nem aí para a sua filha. — Sabe, dá dó...
— Ah, cala a porra da boca! — Amara mete um soco na cara de Lúcifer. — Sério, você fala muita merda... Dá dó é o meu pau! Retardado de merda... Você nunca se importou com porra nenhuma, nem com ninguém e vem com esse papinho de “dá dó”? Enfia sua dó no meio do seu cu. — Ela exibe seu dedo do meio, pisando no tórax dele, apertando-o contra o chão.
Então ele a empurra, tacando-a na parede, e em seguida, tenta acertar o rosto de sua filha, mas ela segura seu punho, quebrando-o.
— Desgraçada! — Ele grita, gemendo de dor.
— Que foi? Você ainda não se acostumou? Quebrou o meu tantas vezes... — Ela começa a rir de forma sádica, formando um sorriso psicopata. Os familiares dela trocavam olhares entre si, olhando-a com um certo desprezo, nunca gostaram da maldade de Amara, ou melhor, a que ela adquiriu, então sempre era assim quando ela surtava, percebendo isso, ela virou-se para eles, aumentando seu sorriso. — Que foi? Vocês são tão ruins quanto eu... Não vamos nos fingir de bonzinhos só porque tem outros aqui, por favor, né? — Suas palavras cruéis, acertaram Dylan e Gael, mesmo que não tenham sido para eles.
Usando a distração de Amara, Lúcifer teleportou-se rapidamente para trás de Amara, pronto para lhe golpear na coluna, porém foi mais rápida, agarrando sua perna.
— Viu só, querida? Eu fui benéfico. — Lúcifer inicia. Amara aperta seu punho, penetrando suas unhas ali, então o sangue escorreu pela sua mão, pingando no chão, uma única gota, que foi capaz de dar fome em todos. — Você adquiriu maldade, frieza, perspicácia. Mas... — Ele some novamente, querendo atacá-la por trás, mas ela foi mais esperta, defendendo-se com sua espada, que surgira em sua mão naquele mesmo instante.
— Não tem mais nem menos ... Eu sou indestrutível e mesmo que você me mate, eu te levo junto comigo e se eu não levar, eu volto. — Ela o agarra pela parte de trás do pescoço. — Eu nunca, nunca, nunca mesmo, vou me render a alguém como você. — Seu tom superior arrepiou Lúcifer, que agora já não se sentia tão bem, estava com uma sensação de impotência, esse sentimento tomava-lhe todo o peito, fazendo um nó na garganta.
— Você não é tão indestrutível assim, e mesmo se fosse, ainda dá pra te atingir com muitas coisas. — Lúcifer dá um sorriso e Amara o solta, permitindo que ele se virasse para ela.
— Tipo o quê? — Ela o encara com um ar de superioridade e ele a olha nos olhos de forma misteriosa, rindo com deboche.
— E se eu te dissesse... Não, espera, quero todos os meus queridos filhos ouvindo isso. — Dylan e Gael, que encaravam as costas de sua irmã, olharam para Lúcifer na hora. — A mãe de vocês está viva! E sabe o que é o melhor? É que ela enganou todo mundo! Me enganou, enganou vocês, enganou a família..., mas o que vai deixar vocês putassos e com certeza vai fazer todo mundo só odiar mais ainda a Amara, ela abandonou vocês aqui por causa dela. — Lúcifer começa a rir empolgado, encarando toda a família dela. — Vocês podem acreditar em mim ou esperar que ela apareça, ela deve aparecer em algum momento. Aliás, Amara, ela tem relação com a aparição do mais novo Lúcifer, fique esperta. — Ele finaliza, encarando Amara nos olhos, cheio de mistério.
Ele desapareceu, deixando o ambiente silencioso e tenso. Todos mantinham seus olhares sobre Amara, mas os Wolf a encaravam com um certo ódio, fazendo um bolo doloroso se formar em sua garganta, seus olhos arderam, enchendo-se de lágrimas, e seu coração se apartava. Para não chorar na frente de todos ela desapareceu também.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.