Capítulo 15 - Metatron
Raquel esperou que todos os convidados deixassem a casa, e vendo o seu marido sentado na sala, foi até ele e suplicou:
- Meu marido, rogo a ti para que não faça tamanha imprudência, porque estou bem certa de que o exercito da casa da Pérsia é muito maior do que o nosso.
Judá segurou firma nas mãos de sua mulher e com um ar de confiança, ele começou a lhe falar sobre algo que seu pai havia contado:
- Não sabes, minha amada, mas vou te dizer, porque no dia em que Satanás foi criado, ele desceu dos céus como um relâmpago e com grande poder matou muitas estrelas no firmamento. Isso era bom aos olhos do Eterno, dado que se uma casa fica cheia de moveis ou pessoas, nada pode se fazer ali. E enquanto Deus estava a criar o universo, Gabriel e Miguel se colocaram ao seu lado, e no meio deles estava o "Príncipe da paz", que é Metatron, o anjo da face do Senhor. Era este anjo que decidia. Seu nome também é "a palavra do Senhor", porque através dele é que o nome de Deus se revela, é por ele que Deus é revelado. Metatron é o mediador, o guarda de Israel. A ele Deus disse: "Fiel pastor, tu és meu filho, sim, a presença. Todos vocês se levantem e beijem o filho, o recebam como Senhor e rei, porque ele foi rejeitado e desprezado, no entanto, abundou grande mérito, como nenhum outro". Existe um homem perfeito, que é um anjo, e este anjo é Metatron, o guarda de Israel. Ele é um home a imagem do Santo, e não se pode dizer que ele foi criado, gerado ou feito, porque emana do Eterno. Se vou com esses homens, vou sob a proteção de Metatron.
Raquel entendeu que nada do que fizesse seria capaz de mudar a decisão do marido. Sem ter escolha, ela acatou, mas seu lamento era visto através de seus olhos. Seu coração gemia e clamava aos céus. Seria a casa da Pérsia o tumulo dos filhos de Israel? Ela não tinha a resposta. Sua unica alternativa era esperar.
Judá descansou da viagem e no chegar da noite se reuniu novamente com os lideres de cada família. Ambos viam nele o reflexo de seu pai Jacó, que era tipo por todos como grande sábio. Ele havia herdado de seu pai a mesma confiança e credibilidade entre todos e o que ele dissesse, seria aceito sem muitas divergências. O plano de Judá era agrupar homens e armas para partir pela manhã. Se eles pudessem atrair o exercito da Pérsia para fora até o deserto, haveria uma chance. Uma armadilha seria posta para fragilizar tais guerreiros e coloca-los de igual para igual com os homens de Judá.
Na prisão da Pérsia, Aramis fez uma de suas ultimas perguntas para o sábio, pergunta esta que, para ele, continha grande importância e que gostaria de sanar antes da morte.
- Sábio, se por acaso tu descobrisse que tudo o que acreditas é falso, ainda assim se sentiria satisfeito?
O sábio bocejou, porque estava muito cansado, e respondeu logo em seguida:
- Em toda a minha vida, eu aprendi com a Torá a não fazer o mal ao meu próximo nem ao meu inimigo; ela me incentivou a ser alguém melhor a cada dia, e é isso que importa. Se tudo o que eu acredito for falso, minhas obras seriam boas do mesmo jeito e eu teria vivido uma vida satisfatória.
Aramis ficou impressionado com o que ouviu e sentiu-se arrependido, com vontade de retornar para o passado para que pudesse ser alguém melhor do que ele foi. Mas agora era tarde, pois sua morte se aproximava, e os mortos não podem fazer o bem, nem o mal, não podem abraçar ou escolher o perdão, ao invés de condenar.
Durante a noite, os inimigos da Pérsia a atacaram pelo leste. Eles tinham espadas, lanças, arcos e escudos, possuíam catapultas e fundas. Quando os sentinelas os avistaram, eles tocaram uma trombeta de alerta que ecoou por toda a cidade. Os soldados se colocaram e formação de batalha e prepararam-se para impedir uma invasão. O rei se posicionou logo atrás para comandar seu exercito assim como um maestro comanda um grupo de músicos.
Após um grito que soava de maneira furiosa, grandes rochas foram arremessadas pelo céu, voando sobre as grandes muralhas e destruindo tudo o que elas tocavam. Diversas casas foram destruídas e varias pessoas morreram no primeiro ataque. Para não perder mais vidas, os soldados começara a evacuar as casas, retirando delas crianças, idosos e mulheres, pois estes não seriam úteis no combate. O resto foi agrupado e unido aos soldados que protegiam a cidade.
Não demorou muito até que novas rochas fossem lançadas, matando mais civis, até mesmo os que escapavam na evacuação. Irritado com a situação, o rei ordenou um ataque de flechas. Os arqueiros, então, apontaram seus arcos para o alto e atiraram em sincronia. Eram tantas flechas que o céu foi tapado por elas, assim como ocorria na chuva da gafanhotos. Muitos inimigos dos persas foram abatidos, mas muitos outros conseguiram se proteger com seus escudos alinhados, como o casco de uma tartaruga.
O portão da cidade foi arrombado e inúmeros guerreiros a adentraram sedentos por sangue. Os persas correram na direção deles, o que acarretou em uma terrível batalha. Ambos eram habilidosos e experientes no combate, o que tonou a guerra bem igual. Aos poucos, o chão da cidade foi coberto de corpos. Esperanças, sonhos, dores e alegrias despencavam com cada homem. A lua, que antes se exibia no topo celeste, se escondeu por entre as nuvens. As estrelas brilhavam de longe e o vento soprava, levando consigo o cheiro de morte.
Vendo que não poderiam ganhar, os adversários da pérsia iniciaram um incêndio, pois queriam causar o maior dano possível. As chamas logo se espalharam e chegaram até a prisão onde Jacó e Arames estavam. Temerosos, os guardas fugiram, deixando os presos a sua própria sorte. O fogo corroeu os pilares da cadeia e pedaços do teto começaram a desabar. E um desses desabamentos aconteceu na cela de Jacó. O velho, sem pensar, só conseguiu erguer os braços e tentar segurar os escombros. Aramis se jogou no chão e viu que a porta tinha se rompido, exibindo uma pequena passagem. Todavia, ao olhar para Jacó, ele percebeu que o velho não aguentaria por muito tempo.
- Jacó, deixe-me tomar o peso no teu lugar, pois assim tu poderes seguir até a porta e fugir.
Jacó sorriu e fechou os olhos. Era como se ele tivesse entendido um segredo, um mistérios antes colocado. Então, com os últimos esforços que tinha, ele disse:
- A-ramis... eu já... vivi tudo aquilo que um homem precisa viver para entender. E-eu já tive um pai, mulher, filhos e netos. Mas tu ainda é moço. O meu Senhor me trouxe aqui... para que tu visse, para que soubesse, que o amor pode estar onde ninguém imagina.
Enquanto ele falava, houve mais um desmoronamento, fazendo Aramis entender que não sobrava mais tempo, que ou ele fugia dali ou morria junto com o sábio. Sendo assim, ele tomou uma das decisões mais difíceis em sua vida e seguiu até a porta, mas antes, com os olhos cheios de lagrimas e com a voz embargada, ele prometeu:
- Agora entendo, ó sábio, a tua sabedoria. Jamais deixarei que esqueçam a tu memoria e todos saberão que o Deus de Jacó é o Deus que retira o injustiçado da prisão e dele tem misericórdia.
Aramis se abaixou e passou pela brecha. Do outro lado, ele pode ver Jacó, mas com ele, havia uma visão terrível: um grande homem com o aspecto dos filhos dos desuses. E em sua cabeça havia uma coroa e na sua mão um cetro. Suas asas cobriam Jacó, até que não era possível mais vê-lo. O lugar se encheu de fumaça e o jovem correu para fora, onde encontrou com os homens de sua terra.
A batalha durou até o amanhecer, e quando terminou, Aramis já estava longe com os que batiam em retirada. O exército da Pérsia resistiu e conseguiu expulsar os invasores. Mas a alegria da vitória durou pouco, porque do oeste vinha Judá e seus homens, e contra eles, os filhos da Pérsia não puderam lutar. O rei Kurus foi derrotado e seu trono ruiu, tal como em seu sonho.
A cidade estava arruinada, e por mais que procurassem, não havia nenhum vestígio do sábio. Quando se deram conta do ocorrido, todos os hebreus disseram ter havido um milagre, dado que o grande exército da Pérsia foi entregue derrotado. Judá percebeu então que seu pai estava morto, pois como afirmavam os civis que ali restaram, a prisão onde Jacó se encontrava estava destruída. Judá se ajoelhou e chorou, e com ele se lamentou todo o seu povo. O herdeiro do sábio olhou para os céus e orou:
- Ó Eterno, vivo estás. Que ao meu pai, Tu recebas, porque ele foi posto como um injustiçado e pagou um preço que não era seu. Enquanto muitos de nós ignoramos a dor do oprimido, do alto Tu zela por ele, esperando que tomemos a mesma atitude.
Após terminar a sua oração, uma suave chuva caiu e desceu como um choro não contido. E as gotas molharam toda a terra e o rosto dos homens.
Fim.
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