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História O Preço dos Olhos - Duas Almas Solitárias


Escrita por: adoniss

Notas do Autor


A virada de ano me deixou com algumas ideias na cabeça e resolvi colocá-las no papel.
Essa história já está um pouco avançada; se eu tiver leitores/comentários, tentarei postar semanalmente.
Isso é uma SasuHina com sexo explícito, por favor tenham isso em mente.
Boa leitura.

Capítulo 1 - Duas Almas Solitárias


A água da chuva escorria pelas duas mais novas sepulturas da Vila da Folha, dispostas lado a lado; a primeira, de Sakura Uchiha, a segunda, de Sarada Uchiha. Sasuke estava sob aquela mesma chuva, ajoelhado sobre a terra, as mãos encharcadas passando pelos inscritos daquelas mesmas sepulturas. Acariciava-as, como se pudesse também acariciar as mulheres por debaixo delas.

Lágrimas nos seus olhos, já não havia. Os soluços ainda escapavam pelos lábios comprimidos, resquícios de um choro que há algum tempo tinha cessado. Não tinha mais lágrimas. Quem chorava sobre ele agora era o céu, e daquelas lágrimas, Sasuke não se protegia. Queria ser levado pela água da chuva. Queria que a sua matéria fertilizasse aquela mesma terra, porque não havia mais nada para ele ali.

Devia ser ele no lugar daquelas mulheres. Pelos seus erros, novamente permanecia como único Uchiha vivo na Terra, e dessa vez a dor era muito pior. Prostrado sobre aquelas sepulturas, Sasuke soluçava, permitindo-se fechar os olhos e esquecer de si mesmo sob a chuva. Até que ela foi interrompida.

Alguém posicionou um guarda-chuva sobre a sua cabeça, mas Sasuke nem sequer lhe deu atenção. Se fosse um amigo com palavras de consolo, não lhe interessavam; se fosse um inimigo prestes a matá-lo, daria a ele a vantagem da posição - já não tinha vontade de permanecer vivo. Mas fosse quem fosse, era insistente. Chamou-o, com uma voz doce:

- Sasuke-san...

Hinata. Sasuke reconheceria aquela voz há quilômetros de distância. E sem se erguer, o que fez foi apenas perguntar, amargurado:

- Naruto te enviou?

Ela não respondeu, mas era evidente que a resposta era afirmativa. Por alguns segundos, tudo o que se ouviu foi a tempestade e os raios à distância. O timbre de Hinata era de quem estava desconfortável, talvez até com medo de lhe dirigir a palavra. Sasuke reconhecia o som do medo, e estava exausto de ser a causa dele.

- Sasuke-san, a chuva está muito forte... Eu trouxe um pouco de comida, então...

- Pode levar, Hinata.

Seco, rígido. Ouviu enquanto ela engolia em seco, sentindo uma pontada de culpa por ter causado aquilo, mas imediatamente se justificando para si mesmo; se não fosse daquela forma, ela insistiria até o fim.

- É que tudo isso... Vai sobrar... E além disso, eu estou sozinha... Naruto está trabalhando. Boruto e Himawari estão em missão, então... - uma nova pausa, temerosa. - Sasuke-san, você poderia me acompanhar até a minha casa?

Então era disso que se tratava. Um pesado suspiro deixou os lábios de Sasuke. Apoiando-se nas mãos dispostas sobre a sepultura, ele se ergueu, e teve que empenhar tanta força para fazê-lo, que estranhou. Era como se a terra o estivesse puxando para baixo.

Quando os dois pares de olhos se encontraram, Hinata abaixou os seus, incomodada. O único olho visível de Sasuke estava inchado pelo choro; o outro, do Rinnegan, permanecia escondido sob a franja escura, agora molhada. Eram um homem e uma mulher dividindo um único guarda-chuva, e ainda que Sasuke soubesse que ela tinha sido a única a conseguir tirá-lo das sepulturas durante todo o dia, não conseguia agradecê-la. Não conseguia sentir nada.

- Vamos, Hinata - ofereceu o braço, que ela imediatamente aceitou para se apoiar.

Caminharam lado a lado, em silêncio. Somente se ouviam os pingos da chuva batendo nos telhados das casas; naquelas casas, luzes acesas indicavam que as ruas estavam desertas por um único motivo: a hora do jantar. Todas as malditas famílias felizes da Vila da Folha deviam estar em torno de uma mesa agora, agradecendo pelo alimento e dando risadas, enquanto Sasuke... Sasuke nunca mais teria aquilo na sua vida.

O barulho da chuva foi cortado pela voz dela novamente:

- Sasuke-san, eu sinto muito.

- Não sinta.

Poderia ter soado como uma grosseria, mas não tinha sido a sua intenção. A verdade era essa: Sasuke estava imerso em um oceano de tristeza há tanto tempo, que ele próprio já não sentia nada. A sua vontade de viver tinha esvanecido; sua energia de levantar da cama, até mesmo a energia de lutar por aquilo em que acreditava... Nada mais lhe trazia felicidade.

E agora, enquanto pisava sobre as grandes poças formadas pela chuva, Sasuke percebia quão apático estava. O delicioso cheiro que vinha da pequena panela carregada por Hinata não lhe despertava o apetite. Mais nada lhe despertava o apetite.

- Chegamos.

Hinata foi a primeira a entrar. Fechou o guarda-chuva e caminhou para dentro, a pequena panela ainda em mãos quando perguntou:

- Você não quer entrar?

- Hinata...

- Por favor - pediu, envergonhada.

Um novo suspiro deixou os lábios de Sasuke. Custava-lhe dizer não a ela, especialmente quando Hinata lhe pedia daquela maneira. Hinata lhe parecia uma casa feita de cristal; qualquer movimento fora de lugar poderia arruinar tudo.

- Estou molhado - respondeu, como se aquilo pudesse ser uma boa desculpa.

- Tenho crianças, Sasuke-san - ela abriu um sorriso fraco, olhando-o nos olhos pela primeira vez naquela noite. - Estou acostumada a lidar com a bagunça.

Sasuke abaixou os olhos, finalmente entendendo que nenhuma desculpa serviria. Teria que ser rude se quisesse negar o convite, mas nem sequer tinha energia para tanto. Assentiu com a cabeça, antes de dizer:

- Que seja...

Algo estava diferente dentro da casa, e a princípio Sasuke não soube dizer o que era.

Após deixar os sapatos à entrada e secar os cabelos com uma toalha oferecida por ela, ele caminhou pela sala, percebendo a extrema organização local. Os móveis de madeira brilhavam, lustrados; um cheiro floral de produtos de limpeza era exalado por todos os cômodos. Enquanto Hinata agora aquecia a panela ao forno e colocava rapidamente uma mesa para dois, Sasuke enfim percebeu o que estava diferente.

Em todas as vezes que a tinha visitado, havia uma correria ali dentro. Boruto sempre com uma inovação tecnológica, Himawari rindo das palhaçadas do irmão, Naruto explicando sobre as novas missões que chegavam, Hinata pedindo para que todos se sentassem à mesa...

Barulho. Vida. Aquilo também faltava ali dentro. Por um segundo, ocorreu a Sasuke que ela pedia pela sua presença não para consolá-lo, mas para o exato oposto; para que ele lhe fizesse companhia. Talvez Naruto não a tivesse mandado; talvez Hinata fosse apenas um ser recentemente abandonado pelas circunstâncias do tempo, e o barulho e a vida lhe estivessem fazendo falta. Mas que infortúnio seria buscar por barulho e por vida justamente em Sasuke.

- Está pronto - ela disse finalmente.

- Hinata, eu não acho que eu vá comer.

Ela pareceu triste, quase ofendida.

- Mas Sasuke-san... Você está magro. Aposto que não está comendo direito há dias...

- Eu não estou com fome.

- Não parece bom? - perguntou, preocupada. A sua voz já carregava um sinal de culpa, como se julgasse a si mesma pela comida que acabara de esquentar.

- Não, não é isso.

A comida não era para dois, mas para quatro ou mais. As pequenas tigelas de arroz, carne e peixe cozidos, bolinhos fritos de frango, sopas com tofu... O cheiro na casa já não era dos produtos de limpeza, mas do banquete que Sasuke tinha à sua frente. Por isso, soltou um novo suspiro, sabendo que não poderia recusá-la.

- Tudo bem.

Sentaram-se à mesa e agradeceram pela comida. O silêncio constrangedor permanecia impregnado no ar, mas devido a todo o tempo que estivera ali, já estava quase se tornando natural. Hinata fez um gesto obrigando-o a se servir primeiro, e tão logo Sasuke deu uma golada na sua missoshiro, algo pareceu se aquecer dentro dele. Tinha se acostumado tanto tempo a estar vazio, que mal conseguira reconhecer os sinais da fome em si mesmo. Quando terminou a tigela, em poucas goladas, sentiu o seu corpo se aquecendo de dentro para fora. Não apenas estivera com fome, mas também com frio; afinal, tinha sido encharcado pela chuva. Mas agora, depois de praticamente dar um fim à sopa em poucos gestos, sentia o olhar risonho dela sobre si.

O silêncio constrangedor foi substituído por uma risada baixa por parte dela, e por um pigarrear constrangido por parte dele. Enfim, o pigarrear também de transformou em um pequeno sorriso nos lábios de Sasuke, e foi a vez do rosto de Hinata se aquecer, os olhos tímidos novamente se desviando.

- Obrigado - ele disse.

Ela assentiu com a cabeça, os olhos distantes dos seus. Agora que Sasuke tinha condições de reparar, sentia como se ela estivesse diferente de todas as vezes que já a tinha visto. Hinata geralmente usava roupas claras de moletom, mas dessa vez ela trajava roupas escuras, quase como se estivesse de luto. Os cabelos muito escuros se perdiam nas roupas pretas, mas se observados com atenção, podiam ser distinguidos pelo movimento natural que tinham sobre as costas e o colo dela. As roupas pretas deviam significar algo; parecia-lhe que ela, mesmo silenciosa, tentava falar alguma coisa. Os olhos sempre muito claros também carregavam olheiras, e mesmo com elas, Hinata era tão bonita. Parecia fruto de uma obra de arte.

Sasuke agora a observava com o canto dos olhos, a cabeça baixa, os dedos sobre o hashi repousado no pequeno prato de cerâmica. Não queria ser invasivo, mas algo ali não estava bem.

Abriu a boca para falar algo, talvez elogiar a comida ou qualquer coisa do gênero, porque sentia que o silêncio também a incomodava; mas Hinata não permitiu o seu comentário, pois falou primeiro. Com os olhos sobre o prato intocado, disse:

- Não foi Naruto que me enviou.

Ergueu os olhos ansiosos para Sasuke, que apenas assentiu com a cabeça, em um sinal mudo para que continuasse. Mas ela retesou; desceu o olhar e fechou os punhos sobre o próprio colo, nervosa.

- Desculpe, eu não sei por que estou fazendo tudo isso...

- Está tudo bem, Hinata.

Hinata tentou relaxar ao ouvi-lo, mas não conseguiu. Mordiscou os próprios lábios e meneou a cabeça negativamente. Sasuke não insistiu; voltou a observar o hashi sobre o prato, e quando pensou que ela tivesse desistido, a voz voltou:

- Eu estou aqui há tanto tempo... Esperando que eles voltem... - ela murmurou, de cabeça baixa. Sasuke franziu o cenho para a constatação de que talvez devesse abraçá-la naquele momento, oferecer uma palavra de consolo ou algo do tipo. Não sabia fazer nada daquilo. Ela continuou: - Todos os dias eu como sozinha, e hoje eu decidi que convidaria a primeira pessoa que encontrasse, e quando vi você, Sasuke-san...

Um soluço escapou aos lábios dela. Em um ímpeto, Sasuke usou sua única mão para segurar a dela, lembrando-se como Sakura e Sarada eram as únicas mulheres que já tinham realmente quebrado à sua frente. Hinata segurou sua mão fortemente de volta, e ergueu os olhos para encará-lo, os cabelos voltando a abrir caminho para o rosto que chorava. Sasuke respondeu:

- Eu não sou Naruto, mas posso comer com você - disse seriamente, olhando-a nos olhos, tentando passar um mínimo de segurança que fosse. - Tudo vai ficar bem.

Devagar, a mulher assentiu com a cabeça. Não desviou os olhos dos seus, e aos poucos foi recuperando o passo normal da respiração. Hinata ergueu a mão livre para afastar a mecha de cabelo de Sasuke que escondia o olho diferente; mas tão logo ele sentiu seus fios de cabelo sendo tocados, se retesou. Em um reflexo, soltou a mão dela e voltou a se recostar na cadeira, incomodado.

Hinata se desesperou ao ver a sua reação.

- M-Me desculpe, eu...

- Está tudo bem, Hinata - repetiu em um tom grave, sentindo-se imediatamente culpado pelo afastamento, a cabeça agora baixa. Há tanto tempo não era tocado, e estava tão pouco acostumado a sê-lo quando não se tratava de sua esposa, que a sua reação natural era quebrar o toque. Sempre tão solitário... Tão amargurado. - Talvez eu já devesse ir embora.

Frente à falta de resposta, soube o que fazer. Levantou-se da mesa, antes de fazer uma breve reverência:

- Obrigado pela comida.

- Sasuke-kun...

O honorífico fez com que arregalasse os olhos e voltasse a se endireitar, surpreso. Fazia anos que não era chamado daquela maneira, mas lembrava-se; lembrava-se de como as meninas costumavam chamá-lo na sua juventude. Como até mesmo Sakura costumava chamá-lo, antes da série de acontecimentos trágicos que o tinham afastado da Vila da Folha.

- Obrigada por ter vindo... E me ouvido - ela abriu um pequeno sorriso, ainda hesitante. - Eu sei que você já está passando por muitas coisas... E que não precisava ter feito isso.

As palavras fugiram-lhe. Quando voltaram, Sasuke nem sequer soube dizer de onde vinham.

- Quantos dias mais você terá que ficar sozinha?

- Eu... Eu não sei.

O sorriso gentil ainda estava nos lábios dela, e agora o Uchiha não conseguia desviar os olhos daquela imagem. Os cabelos longos que adornavam o rosto como um enfeite, a pele leitosa quebrada pelas bochechas agora rosadas, o volume dos seios sobre a mesa... Tudo. Tudo de repente pareceu ser um conjunto feito para desnorteá-lo, apagar a sua linha de raciocínio. Por isso, com o coração já um pouco acelerado, Sasuke recuou alguns passos, repetindo:

- Vou embora.

- Obrigada novamente.

Assentiu com a cabeça. Esperou enquanto ela o acompanhava novamente até a porta e saiu uma vez mais na chuva, recusando o guarda-chuva. Já não sabia se voltaria para as sepulturas da sua família, se iria para casa ou se iria para a mata. A única certeza que tinha era que precisava da tempestade; tinha uma vaga esperança de que a água corrente pudesse lavá-lo de alguns pensamentos estranhos que por algum motivo tinham aparecido na sua cabeça. 


Notas Finais


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