Os dragões pairavam entre as nuvens, enquanto observavam o vilarejo destruído abaixo deles. Pareciam ter sofrido um ataque que dizimou tudo, ainda por cima a fumaça que emanava do local indicava que foi recente.
Soluço aprimorou seus sentidos, principalmente a visão e não foi capaz de ver, sentir ou ouvir qualquer coisa. Por mais que tudo estava deserto, era melhor não confiar.
— Vamos fazer um voo de reconhecimento para certificar que o lugar é realmente seguro. – instruiu-lhes. — Tomem cuidado!
Acatando as ordens, cada um foi em uma direção distinta, ficando para trás apenas o dramilhão que segurava o Banguela em suas garras.
O garoto observava os arredores atento a qualquer movimento suspeito. Não existia nem um viking ou dragão naquele recinto, aparentemente o lugar fora abandonado. Mas por quê? Não havia nenhum barco ancorado nas docas e um estranho silêncio apoderava-se do ar e isso serviu para deixar Soluço ainda mais desconfiado.
Algo não estava certo. Nenhum viking em sã consciência, atacaria uma aldeia sem motivos e depois desapareceria. Havia alguma história obscura por de trás disso tudo e cedo ou tarde descobriria.
Depois de um tempo analisando a área, Pula-Nuvem retornou para junto dos outros que os aguardavam acima das nuven, precisavam discutir a respeito do que fariam a seguir.
— Eu quero o relatório de cada um de vocês. Por favor, sem muvuca apenas um por vez! – Soluço se apressou em dizer, antes que aquilo virasse uma confusão só.
— Analisei todo o perímetro e pelo que pude observar, só o vilarejo que sofreu danos. A floresta está intacta! – relatou o nadder.
— Eu sobrevoei bem próximo da vila e tudo foi praticamente aniquilado, mas nenhum corpo! – continuou um transformasa meio tenso.
— Dei a volta pela ilha e não me deparei com nenhuma embarcação. Também sobrevoei por toda a extensão da floresta e não vi nada anormal! – comentou um tufãomerangue com decepção.
O dramilhão ficou em silêncio, desde que tinha o Banguela em suas garras e ficar voando com um peso extra é muito exaustivo.
— O mesmo aqui! – Soluço disse com um suspiro.
— Isso é... – o fúria da noite deixou a frase no ar.
— Estranho! – concluiu o garoto.
— Parece seguro para pousarmos! – comentou o nadder.
— Concordo com ele! Vamos pousar, as juntas das minhas asas já estão doendo! – disse o tufão iniciando um voo em direção a ilha, sendo acompanhado pelos outros
— ESPEREM!!! – Soluço gritou com urgência. Pula-Nuvem deu uma parada um tanto brusca.
— O quê? Mas por que? – os dragões pararam no lugar e viraram-se para ele.
Soluço cruzou os braços e respirou fundo. As vezes ele parecia ser o único sensato naquele grupo.
— Pensem um pouco, tudo parece muito suspeito e se tudo for uma armadilha? Nós iremos voar direto para ela! – arqueou uma sobrancelha em expectativa.
Houve uma longa pausa, o único som ouvido era do bater de asas. As nuvens esparramavam-se com o vento.
Cada um se perdeu em seus próprios pensamentos. Talvez Soluço tivesse razão, todo cuidado ainda era pouco.
— Então, o que fazemos? – perguntou o dramilhão.
— Nós vamos fazer o seguinte...
***
Os répteis alados pousaram silenciosamente na borda da floresta, tendo uma visão ampla do vilarejo. O tufãomeramente havia ficado para trás, sendo o responsável de patrulhar a ilha do alto e avisá-los no caso de tudo ser uma armadilha.
Soluço desceu das costas do corta tormenta, com um leve baque quando suas botas de couro tocaram no chão. Seus profundos olhos verdes esmeralda varreram o perímetro, analisando o que poderiam usar a seu favor para serem no mínimo, um pouco discretos.
Como combinado, o transformasa se clamufou e adiantou-se na frente. Passando despercebido entre as árvores e por fim no vilarejo, tomando conhecimento se era realmente seguro para avançarem. Minutos mais tarde, ele retornou com a notícia de que podia seguir em frente.
— Tem certeza de que é seguro? – perguntou Pula-Nuvem com receio em seu tom. Tinha um mal presentimento a respeito.
— Absoluta! Eu olhei em tudo e não encontrei nada que pudesse ser suspeito! – respondeu.
— E você encontrou alguma forja? – Soluço perguntou ao passo que iniciava um caminhada.
— Não! Eu não encontrei nada, na verdade nem procurei por ela! – revelou o transformasa.
— É melhor irmos logo. Quanto antes acharmos a ferraria, mais cedo voltamos! – Banguela apressou-se em acompanhar o amigo.
Seguindo o exemplo do dragão e cavaleiro, o restante tomou isso como uma ordem para avançarem. Enquanto o dramilhão, iria mais atrás, por sua vez o transformada iria mais a frente e como o combinado, ambos ficaram de guardas. Quanto ao Banguela e Pula-Nuvem, estariam ajudando Soluço a procurar uma forja.
Estavam atentos a tudo ao redor, era notório o clima tenso no ar. Ninguém dizia uma única palavra, tento total concentração na busca que após uma boa parcela de tempo, finalmente tiveram sucesso e acharam o que procuravam.
Uma parte da ferraria tinha sido destruída, boa quantia dos materiais havia sido perdido, mas isso não foi o suficiente para impedir Soluço de vasculhar o local. Retirou um cesto vazio de suas costas que havia trazido consigo e o depositou sobre o chão, passando a recolher e colocar os itens necessários dentro dele. Uma bom tempo se passou, mas logo que terminou, Soluço prendeu o cesto em Pula-Nuvem.
Não achava necessário levar o caldeirão de fundição, sendo que ele mesmo podia fazer um com o ferro gronckle. O importante, era ter apenas as ferramentas que usaria para construir uma forja para si, era bem melhor ter uma do que ter que ficar vindo nos vilarejos quando quisesse construir ou criar algo, ou seja, sempre.
— Vamos sair daqui, eu já peguei tudo o que precisava! – anunciou.
Soluço estava prestesa subir nas costas do corta tormenta, mas parou abruptamente ao captar pelo canto dos olhos alguém correndo entre as casas ou o que restou delas. Entrou em um conflito interno, uma parte lhe dizia para seguir essa pessoa e descobrir o que havia acontecido ali, mas a outra lhe dizia que era uma má ideia e isso não acabaria bem. Mas como sempre, sua curiosidade o venceu...
***
Enquanto isso, o tufão observava os arredores atentamente. Graças a sua audição aguçada, conseguiu captar som de passos e consequentemente voou mais baixo procurando saber de quem eles eram. Avistou homens armados correndo entre os escombros e a fumaça, tendo consciência do que aconteceu tentou voar na direção dos outros para avisar–los.
Como nem tudo é fácil, antes que pudesse ir muito longe rede foram lançadas para si. Teve sucesso ao desviar das primeiras, mas não tardou para que fosse envolvido por uma e começasse a despencar do céu.
Soltou um grunhido de dor, assim que seu corpo colidiu com o chão rochoso. Antes que tivesse a chance de esboçar alguma reação para escapar, foi completamente cercado...
***
Houve uma reação em corrente entre o quarteto, o comportamento do garoto tinha sido inesperado. Ele começou a correr do nada e se perdeu entre os escombros, sem entender os dragões não tardaram em ir atrás dele e em pouco tempo já tinham lhe alcançado.
— Banguela eu preciso que você prenda aquela pessoa no chão e a mantenha imobilizada! Quanto ao restante, eu quero que a cerquem para que não consiga fugir! – ordenou o garoto em dragonês.
Não houve uma resposta, todos já sabiam o que fazer. Enquanto os outros se separaram, Banguela tomou impulso e pulou em cima daquele alguém, que a propósito era uma garota.
Ela tinha cabelos negros e olhos em um tom de verde vibrante, era magra e um pouco alta. Suas vestes estavam sujas, assim como seu rosto, contudo era notório que era bonita.
— Por favor! me deixe sair! – ela gritou em desespero, enquanto tentava em vão escapar do fúria da noite.
— Acalme-se! Ele não vai te machucar, a não ser que eu mande. – Soluço interviu se aproximando da garota que o olhou em pânico. — Olha eu vou pedir para ele te soltar, mas por favor não surte e nem corra, eu apenas quero conversar! – a garota relaxou um pouco. — Banguela!
A contragosto, o fúria da noite a soltou com desconfiança e permaneceu atento a qualquer movimento suspeito que ela fizesse. Estava pronto para pegá-la novamente se necessário, já o restante formou um círculo ao seu redor.
Soluço por outro, sentia-se desconcertado, fazia muito tempo ou melhor anos desde que teve contato com uma pessoa. Coçou a nuca nervoso, como deveria agir?
— Quem é você? – perguntou meio hesitante.
— Isso não importa! Eu não sei quem você é, nem o que faz aqui e também não confio em você, mas precisa sair daqui, AGORA!!! – era possível notar o desespero e a urgência através de sua voz. — Eles estão vindo!!!
— Eles quem? – franziu o cenho confuso.
Não houve tempo para uma resposta, várias redes e boleadeiras foram lançadas em direção ao dragões e homens armados surgiram de todos os lados.
A garota foi a primeira a tomar consciência da situação, pegando no pulso do garoto saiu puxando ele para trás de uns escombros ali próximos, antes que alguém pudesse vê-los. Soluço abriu a boca para falar alguma coisa, mas a menina fez sinal para que fizesse silêncio. O garoto cerrou os olhos desconfiado.
— Afinal, quem é você? – sussurrou perigosamente. — Você por acaso trabalha para eles? É uma espécie de aliada? Deve se isso porque me trouxe para uma armadilha!!! –apontou uma adaga para o pescoço dela e a mesma o fitou incrédula.
— O que? Não!!! Eu jamais seria aliada das pessoas que destruíram o meu vilarejo. E para começo de conversa, eu não te trouxe para uma armadilha e se quer saber eu estava fugindo deles e se eu me lembro bem, foi você que me seguiu e por sua culpa nós quase fomos pegos!!! – cruzou os braços com descrença.
— Talvez você tenha razão, mas eu não confio em você!!! – abaixou a adaga.
— Se isso te conforta o sentimento é recíproco e que tal pensarmos em uma forma de libertar os seus dragões e dar o fora daqui antes que nos peguem! – voltou sua atenção para frente.
— Tudo bem! Mas se você me trair... – foi interrompido.
— Não vou! Será que dá pra depositar um pouco de confiança em mim? – falou com irritação.
Soluço não disse nada, continuou desconfiado. Usando o exemplo da garota, ele levantou um pouco para verificar o que estavam fazendo com seus amigos.
Seus olhos se arregalaram com a visão de um guarda se aproximando do lugar que estavam escondidos, o pior era que a estranha ao seu lado nem tinha percebido.
O garoto puxou ela com tudo para baixo, ficando os mais agachados que podiam. A estranha laçou a ele um olhar irritado, mas logo entendeu o porque do ato. Seus músculos enrrigeceram, engolindo em seco, ela fechou os olhos esperando o momento de serem descobertos.
Soluço prendeu a respiração, seus dedos deslizaram até a outra adaga em sua bota. Estava disposto a lutar se necessário, não se daria por vencido tão facilmente.
— Ei Kruon!!! Venha ajudar a gente com essas feras!!! E o que você foi fazer aí? – um grito foi ouvido.
— Nada eu só pensei ter ouvido vozes!!! – respondeu o guarda.
— Não tem ninguém aí, será que dá para vir ajudar a gente!!! – Soluço puxou a adaga da bota e ficou com as duas em mãos.
O homem encarou os encombros desconfiado, mas por fim acabou indo se juntar aos seus companheiros. Assim que ouviram os passos se afastarem, os dois soltaram um suspiro de alívio. Essa foi por pouco.
Aguardaram um momento e cautelosamente, moveram-se para outro lugar. Esconderam em outra pilha de escombros e tornaram a se agachar. A estranha engoliu em seco, temendo a reação daquele jovem garoto quando visse o que estavam fazendo com os seus dragões.
Houve um mínimo rangido quando as mãos de Soluço se apertaram, os dedos parecendo brancos contra a pele de seu punho, seu sangue fervilhava em raiva.
— Quem são eles? – olhou para a garota de cabelos negros e a mesma o encarou de volta.
— Eu não sei...
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