Elena estaciona o carro no estacionamento, ao lado do bar, e o pessoal sai do carro. Joui rapidamente vai na frente e entra no bar, indo diretamente até o Brúlio, que estava sentado observando o show.
O grandão observa o pessoal entrar e apenas os olha por alguns instantes antes de voltar sua atenção para o palco novamente.
Joui, que estava na frente, se aproxima do líder dos Gaudérios Abutres e faz uma reverência em sinal de respeito. Liz se aproxima rapidamente dele também. Os outros caminham lentamente atrás dos dois.
-Senhor Brúlio, com licença. – Joui olha para o grandão.
-Bom dia. – o grandão diz ao olhar para o ginasta.
-Bom dia. Eu gostaria de pedir desculpas pelo meu comportamento ontem. – o ginasta diz verdadeiramente arrependido.
-Não se preocupe. Eu entendo. – Brúlio diz pensativo. – Foi um dia estranho para todo mundo.
-Estamos aqui para esclarecer tudo e eu gostaria também de saber se tem alguma coisa que eu possa fazer para compensar meus atos ontem. – Joui diz de forma determinada.
-A única coisa que eu quero é a verdade. – Brúlio suspira.
Arthur, ao ver o pessoal próximo do pai, para de tocar a guitarra e vai até eles. Murilo e Ivan param junto com o guitarrista, mas se mantém distantes, apenas observando o grupo.
-Ok, vamos te contar tudo. – o ginasta diz por fim.
-Antes de qualquer coisa preciso saber se existe algum perigo aqui ainda. – Brúlio volta sua atenção para cada um do grupo.
-Provavelmente. – Liz diz. – O mínimo que devemos para vocês é uma explicação. – ela olha para Arthur. – Depois de ontem e depois de tudo o que aconteceu...
-Eu não vou mentir, sempre soube que vocês não eram quem diziam ser. – o grandão olha para a perita. – Chegaram aqui no bar cheios de perguntas e de repente isso tudo acontece. Ninguém aqui é otário só porque somos do interior. Sabemos que tem algo a mais acontecendo. O que mais me machucou foi vocês acharem que não era importante a gente saber da verdade quando aqui, nesse bar, a única coisa que se preza é a verdade. – ele suspira.
-Brúlio. – Thiago olha para ele. – Não é defendendo o fato da gente não ter te falado nada, mas... Já defendendo... As coisas que a gente lida são muito perigosas e se vocês se envolverem, vai ficar mais perigoso ainda. – o jornalista suspira. – Te disse isso da primeira vez que nos conhecemos. Não queremos que o que aconteceu com o senhor Getúlio se repita com vocês.
-Thiago. – Brúlio diz. – É Thiago, né?
-Exato.
-Nós somos os Gaudérios Abutres, Thiago. Lutamos pelo que acreditamos. Se eu morrer lutando pelos Gaudérios, pra proteger quem eu amo... Vou morrer uma morte feliz e com um sorriso no rosto. – Brúlio olha no fundo dos olhos de cada um.
-Esse é o problema. Talvez você não morra, talvez seu corpo seja usado para outros fins. – Liz olha seriamente para Brúlio, que estranha a fala da perita. – Há coisas piores que a morte e a gente não lida com coisas normais, do dia a dia. Enfrentamos coisas que vão muito além disso.
-A morte não é a pior das coisas que pode acontecer, Brúlio. – Thiago diz. – Não para por aí.
-Do que vocês estão falando? – o grandão pergunta confuso.
-Por mais que eu tenha sido imprudente ontem, o que eu falei foi verdade. – Joui diz. – Fizemos o possível, por mais desajeitado que fosse, para proteger todo mundo que estava aqui no show.
Arthur olha atentamente para o pessoal enquanto falam com Brúlio. Percebe que todos estavam com um semblante sério.
-Apesar de ter tido meu momento de raiva, percebi que no fundo a intenção de vocês foi a de proteger. O Arthur me deixou claro isso. Vocês salvaram a vida de todos que estavam aqui. Aqueles restos de... não sei o quê que vi na floresta... Se aquilo tivesse chegado aqui, muitos dos que eu tenho como queridos teriam morrido. Obrigado por isso. – o grandão suspira. – Mas também perdemos alguém importante e eu estou preocupado – ele olha para o filho. – Você teve alguma noticia do Gregório desde ontem? – pergunta para ele.
-Agora que você falou... Não o vi desde que começamos a preparar o show ontem. – o baixinho diz pensativo.
-Era para ele ter vindo cantar... Mas pensei que ele pudesse ter bebido e esquecido. – o grandão diz preocupado. – Ninguém consegue contatar ele. Estou preocupado que alguma coisa possa ter acontecido.
-Será que os Assombrados pegaram ele? – Arthur pergunta preocupado.
-É exatamente o que estou pensando, filho. Você sabe que toda vez que brigamos com os Assombrados, eles sempre tentam dar o troco. Surramos dois deles aqui e o Gregório sumiu logo depois. Em seguida o Getúlio morre para essas aranhas... Tô preocupado. – suspira.
-O último lugar que ele foi visto foi no bar? – Elena pergunta com o semblante sério. Assim como a vez que Thiago sumiu, ela não estava com uma sensação boa.
-Sim. – Arthur responde.
-César-kun, você consegue rastrear o celular do Gregório? – Joui se vira para o esguio.
-Eu posso tentar. – César responde. – Só preciso do número.
-Por favor, César. – Arthur olha para ele.
-Eu vou buscar meu notebook, só um instante. – o esguio diz enquanto vai apressado até o carro. Rapidamente ele volta com o objeto em mãos.
-Vocês acham que os Assombrados têm alguma relação com os esoterristas que se esconderam na cidade? – Liz se vira para Thiago e Elena, que estavam mais perto, murmurando.
-Acho. – Elena murmura de volta.
-É, alguma coisa aqui não tá batendo... – Thiago suspira.
-Os eso o quê? – Brúlio se vira para eles.
-Do que eles estão falando, pai? – Arthur pergunta confuso.
-Eu também não sei... Esoterrorista... O que vocês estão falando? – pergunta. – Tem alguma coisa a ver com aquela foto que mostraram ontem? Quem são aqueles? O que vocês de fato estão fazendo aqui?
-Gente, temos que contar para eles. – César olha para o grupo. – Acham que devo ligar para alguém da Ordem para explicar?
-Não precisa, eu explico. – Elena diz se sentando na cadeira de frente para o Brúlio. – Mas preciso pedir uma coisa antes. – ela olha para o grandão. – Quanto menos pessoas ouvirem isso, melhor. Acredito que apenas você e o Arthur devem escutar isso.
-Também acho. – Thiago e César concordam.
-Vocês têm certeza? Eu confio na minha gangue. – Brúlio olha para eles.
-Se você confia, você toma a decisão de contar ou não o que vou falar, mas neste momento, apenas vocês dois precisam saber o que vou explicar, ok? – Elena olha seriamente para o grandão.
-Murilo. – Brúlio se vira para o rapaz que observava a cena atentamente. – Leva o Ivan e o Marcelo para fora.
-Tudo bem. – Murilo suspira, claramente frustrado. Elena olha para ele e nota que o rapaz evita olhar para ela. O rapaz vai até os outros dois integrantes que estavam ali e os três saem do bar.
-Esse é o meu bar, eu não saio daqui. – Ivete diz do balcão.
-Certo. – Elena suspira. – Quer a versão resumida ou quer saber tudo? – ela pergunta para o grandão.
-Honestamente, a única coisa que me importa é a segurança da minha gangue. Só me diz o que preciso saber. – o grandão olha para ela atentamente.
-Certo. – Elena olha para ele e depois para o Arthur, em seguida respira fundo antes de começar sua explicação. – Nós somos investigadores de um tipo específico de crime. Trabalhamos para uma Ordem que tenta impedir pessoas de fazer o mal. – ela olha atentamente para os dois, verificando se estão acompanhando sua explicação. – Existe um véu que separa o mundo normal, esse aqui em que vivemos, do paranormal, de onde vêm as criaturas como as que enfrentamos ontem. – ela olha para Arthur. – Existem pessoas muito ruins que tentam afinar esse véu, permitindo que criaturas paranormais como essas invadam esse mundo. Estes são os esoterroristas. Somos encarregados de impedir que isso aconteça. – ela observa os dois, estavam completamente concentrados em suas palavras. – A foto que mostramos para vocês, daquelas três pessoas, eles são a equipe anterior que foi enviada para investigar dois esoterroristas que vieram se esconder aqui, em Carpazinha. Perdemos o contato com a equipe desde o mês passado, o que é muito atípico, já que sempre mantiveram contato. Fomos enviados para encontra-los.
-A morte daquele rapaz, o Rafael, tá envolvida nisso? – Brúlio pergunta. – A família dele ter sido sequestrada tem a ver com isso? Com o paranormal...
-A gente achava que era coisa dos Assombrados... – Arthur comenta.
-Pois é... A gente achou que fosse eles, mas aquele símbolo não tinha lógica... – Brúlio diz pensativo.
-Vocês nunca viram aquele símbolo antes? – Liz pergunta.
-Não... Nunca. – Brúlio responde.
-Aquele símbolo é um símbolo esoterrorista. – Elena diz.
-Mas o que vocês descobriram? São profissionais disso, não é? – Brúlio pergunta curioso.
-Não muito... Nosso trabalho não progrediu tanto quanto gostaríamos. – Liz suspira. – Descobrimos muitas coisas relacionadas ao manicômio e um pouco mais sobre o Dr. Lunático, que você nos deu informação.
-O Dr. Lunático? Mas é só uma lenda... Só uma historinha de criança que a gente conta aqui na região.
-Então, não é só uma lenda. – Elena suspira. – Uma das formas de se afinar o véu é a propagação do medo através de histórias, como essa do Dr. Lunático.
-Por aqui o pessoal brincava com essa história de doutor, mas sumiu pouca gente aqui na região... – Brúlio diz confuso.
-Eu já morria de medo da história antes e agora o negócio é de verdade? – Arthur olha assustado para o pai.
-Vocês comentaram sobre o sanatório, realmente tinha papo de gente sumindo por lá, mas achei que era brincadeira também, igual a lenda do doutor. – Brúlio olha preocupado para o pessoal.
-Então, lembra quando perguntou se vocês ainda estavam em perigo? – Liz olha para ele, que apenas acena com a cabeça. – Tinham diversas criaturas lá no sanaatório...
-Recebi um belo presente de uma delas. – Elena aponta para a mão enfaixada.
-Pois é, mas limpamos aquele lugar. – Liz diz.
-Criaturas iguais as de ontem? – Arthur pergunta.
-Não, mas provavelmente originadas pela mesma situação. – a perita responde. – É contra esse tipo de coisa que a gente luta e é pra isso que estamos aqui. Então peço desculpas por mentir pra vocês antes, mas precisávamos fazer esse trabalho em segredo.
-Vocês acham que alguma dessas criaturas pegou o Gregório? – Brúlio pergunta preocupado. – Mas não faz sentido, depois de todo esse tempo com essas coisas por aí, porque justo agora que vocês apareceram ele desaparece também? Talvez ainda sejam os Assombrados.
-Com as evidências que temos, pode ser tanto um quanto o outro. -Joui diz.
-Ou os dois, ainda não descarto a possibilidade deles terem alguma relação com os esoterroristas. – Liz suspira.
-Independente do que seja, Assombrados ou esoterroristas, vamos ajudar. – Elena diz olhando atentamente para o grandão.
-Sim, eu quero ajudar a trazê-lo de volta. – Joui diz.
-Sim, é o mínimo que devemos a vocês. – Liz comenta. – Vamos ajuda-los, sendo Assombrados ou não.
-Honestamente, estou velho demais para entrar nesse tipo de luta paranormal. Vivi minha vida inteira pela minha gangue e vou morrer por ela. Mas o que for preciso para ir atrás do Gregório... Eu faço. Mas assim que salvarmos ele... É só o que importa pra mim.
-Ok. – Joui diz.
-Eu não sei se é uma boa hora para comentar isso, mas o seu filho foi muito útil na nossa missão... Não sei como você considera a ideia, mas ele poderia nos ajudar. – Liz olha para Brúlio e em seguida para Arthur. Elena olha rapidamente para a perita, estava nítido que a garota não esperava isso e que não concordava em envolve-lo, mas se manteve em silêncio.
-Fui útil aonde? – Arthur pergunta incrédulo. – Enquanto uma pessoa se sacrificava, pulando em cima da aranha, o que eu estava fazendo? Estava correndo, com medo. – ele suspira.
-Antes disso, você evacuou o bar inteiro. – Joui olha para ele.
-Qualquer um faria isso...
-Claro que não. – o ginasta diz. – Diante daquela situação com o senhor Getúlio você agiu com razão... Confiou na gente, completos desconhecidos, e agiu pela verdade. É esse o tipo de pessoa que a gente procura.
-O mais importante, Arthur, é que no fim das contas você teve coragem. – César olha para ele. – Você fez exatamente o que pedimos para você fazer. Confiou em nós.
Arthur apenas abre um sorriso tímido, tentando conter a felicidade em ouvir tantos elogios.
-Filho, você lembra o que me disse quando foi viajar e largou a gangue? Pra correr atrás do seu sonho de ser músico. – o grandão olha para o rapaz. – Disse que precisava se encontrar. Você não via motivo para ficar aqui na cidade e que nossos pensamentos eram muito pequenos... Você queria fazer algo maior. Naquela época fiquei magoado, pensei que não tinha orgulho da gente...
-Claro que não! – Arthur o interrompe, mas Brúlio continua falando.
-Fiquei muito feliz quando você voltou, mas esse brilho no seu olhar de querer fazer parte de algo maior... Lembro que senti o mesmo quando criei os Gaudérios. Quando eu e o Rodolfo decidimos começar, eu tinha perdido meu pai... Filho, eu te apoio no que você decidir.
-Pai, eu... – Arthur olha emocionado para o pai.
-Me promete que vai voltar para casa... Uma vez a cada três meses, pelo menos. – Brúlio sorri para ele.
Arthur abre um grande sorriso para o pai e o abraça.
-É lógico, pai.
-Uma vez por mês. – Brúlio o abraça mais forte.
-Uma a cada dois meses, pode ser?
-Uma vez por mês! – o grandão reclama.
-Tá bom, pai. – Arthur sorri.
-Tá bom. – Brúlio sorri. – Vai lá moleque. – ele dá um tapinha nas costas do rapaz e o empurra de leve na direção do grupo.
Joui, observando a cena entre os dois, pede licença para os que estavam ali, caminha até a porta da frente e sai, ficando na entrada. O ginasta respira fundo, pega o celular e se lembra mais uma vez de toda a situação complicada que sempre viveu com o pai, que nunca lhe deu a devida atenção e que sempre dizia que o rapaz não era bom o suficiente, desaprovando completamente sua escolha de ser ginasta. Joui olha para o celular em mãos e liga para o pai. A chamada toca algumas vezes até ser atendida.
-Alô? Filho? – a voz grave no outro lado da linha parecia surpresa.
-Oi, pai. Tudo bem por aí?
-Tudo bem... Aconteceu alguma coisa?
-Mais ou menos... – Joui suspira. – Espero poder te contar algum dia, pessoalmente... Eu tô com muita saudade. Eu nunca falei isso para o senhor, mas... Eu te amo.
-Er... Ahn...– a voz de seu pai estava claramente confusa e surpresa.
-Eu tenho que ir, pai. -diz. – Manda um beijo pra mamãe.
-Eu vou mandar... Er...
-Tchau. – Joui diz.
-Tchau. – seu pai diz por fim e desliga a chamada.
Joui suspira e olha cabisbaixo para o nada por alguns instantes e depois volta para o bar. Quando ele chega, vai para o lado de César.
Dentro do bar, César se senta na mesa em que Brúlio e Elena estavam, liga o notebook e abre o software de rastreamento que tinha instalado e conecta um hardware externo no dispositivo.
-Qual o número do Gregório? – César pergunta para Arthur, que rapidamente passa para ele.
Neste momento, o pessoal da gangue já entrava novamente no bar. Eles se sentam em uma das mesas do canto, exceto por Murilo e Ivan, que vão em direção ao Arthur, que estava atrás do esguio, completamente contemplado com o que ele digitava no software, mesmo sem entender nada.
-Gente, olha que demais. – Arthur diz para os dois que se aproximam dele. – Ele está rastreando o celular do Gregório! O pessoal vai nos ajudar a encontrar ele.
-Que massa! – Ivan diz empolgado.
Murilo apenas observa junto deles, em silêncio.
Elena, que estava na mesa junto deles, se levanta e vai até a perita.
-Liz, vem aqui um segundo, por favor. – Ela aponta com a cabeça para um dos cantos do bar. A perita a segue.
-O que foi? – pergunta.
-Tem certeza sobre envolver o Arthur nisso?
-Ele nos ajudou muito. Desde que ele insistiu em nos ajudar ontem, percebi que ele poderia contribuir muito com a Ordem. – Liz olha para a garota. – Acredite, já perdi duas pessoas em missão e não pretendo perder mais ninguém. Ele consegue.
-Tudo bem. – suspira.
-A gente vai proteger ele. – Liz coloca a mão no ombro da garota. – Tenho certeza.
Elena apenas assente com a cabeça e volta até a mesa em que estava, antes de se sentar novamente, ela percebe o olhar do Murilo sob si e o vê se afastando dali, indo até a porta lateral do bar e saindo. A garota o segue. Quando sai do bar, nota que o rapaz estava recostado na parede, olhando pensativo para o nada.
-Tá tudo bem? – pergunta para ele.
-O que fez aquilo com o Getúlio ainda está por aí? – Murilo olha para ela.
-Não, não está.
-Quem são vocês? – pergunta sério. -Quem é você?
Elena se recosta na parede ao seu lado.
-Somos investigadores paranormais. -suspira. – Sei que deve achar que estou tirando onda com você, mas falo sério. – diz seriamente. – Nosso trabalho é acabar com essas criaturas, como as de ontem, e com as pessoas responsáveis pela sua criação. – cruza os braços.
-Eu quero ajudar. – Murilo se vira para ela. – Quero ajudar vocês nisso.
-Murilo, não posso deixar que faça isso.
-Por que não? – pergunta frustrado.
-Porque não quero que acabe com sua vida assim. – suspira. – Não posso deixar que você sacrifique tanto por isso.
-A escolha não é sua, Elena. – ele diz decepcionado.
-Quando a questão é envolver civis, é minha escolha sim. – diz firmemente. – Eu agradeço a coragem e a vontade de ajudar, aprecio isso de verdade, mas os riscos são enormes. Cristopher morreu pela Ordem, e todos nós estamos dispostos a fazer o mesmo. – descruza os braços.
-Até o Arthur? Porque pelo que percebi, ele está envolvido nisso.
-Arthur, inevitavelmente, teve contato direto com as criaturas paranormais. Ele as viu. E mesmo aterrorizado, se mostrou capaz de ajudar. Apesar de não concordar com a decisão do grupo de leva-lo junto, com ele seremos capazes de encontrar o Gregório com mais facilidade, ele conhece a região. – ela se aproxima do rapaz e olha no fundo dos seus olhos. – Vamos protege-lo.
-Eu também conheço a região, posso ajudar. – Murilo segura gentilmente no ombro da garota e o aperta de leve. – Me deixa ajudar.
-Murilo. – a garota começa a desenfaixar a mão machucada, revelando um enorme corte cheio de pontos, era uma ferida bem feia que cobria toda a costa da mão. – Eu fui treinada desde muito nova para enfrentar essas coisas e olha o que me aconteceu. – ela mostra para ele. – Perdi permanentemente 40% dos movimentos com essa mão. Acha mesmo que vou deixar você se envolver nessa luta?
O rapaz apenas encara o ferimento em silêncio por alguns segundos, depois levanta o olhar para ela.
-Agradeço por se oferecer para isso. – a garota diz enquanto enfaixa a mão novamente. – Mas é um preço muito alto que você não tem que pagar.
-Isso significa que você se preocupa comigo? – ele abre um sorriso de lado.
-É claro que me preocupo. – diz rapidamente. – Com você e com todos os outros.
-Sabe, ainda vou te mostrar que posso ajudar. Talvez no passeio de moto que prometi te levar.
-É? Espero ansiosamente por isso. – Elena sorri. – Depois que encontrarmos o Getúlio, vou cobrar esse passeio.
-Se o clima por aqui não estivesse tão tenso, eu roubaria um beijo seu como adiantamento. – ele sorri com as bochechas coradas e leva a mão até o rosto da garota, fazendo um carinho de leve em sua bochecha. Elena instantaneamente fica mais vermelha que um tomate maduro. Murilo ri da cor vermelha que o rosto da garota adquiriu e aproxima seu rosto do dela, depositando-lhe um beijo na bochecha. – Acha o Gregório, por favor. – ele se afasta e olha fixamente em seus olhos.
-Vamos encontra-lo. – diz determinada. – A-agora eu v-vou voltar pra dentro. – ela se vira, com o rosto praticamente em combustão, e volta para dentro do bar, sentando-se em um dos bancos do balcão e pedindo uma bebida. Murilo entra logo em seguida, e vai para o lado de Ivan e Arthur que estavam atrás do esguio.
César e Joui notam o pimentão vermelho que entra no bar apressadamente tomando uma bebida e olham curiosos para ela, em seguida para Murilo, que também tinha as bochechas levemente coradas.
O esguio volta sua atenção para a tela do computador e percebe que o software conseguiu localizar o sinal do celular do Gregório, estabelecendo um raio de 3 a 5km do bar.
-Pessoal, o software conseguiu o sinal do celular dele e aparentemente não está muito longe, é cerca de 3 a 5km de distância do bar. – César diz. – Não consigo pegar a localização exata dele, mas sabemos que ele está por aqui.
-Mas ele não mora por aqui... – Brúlio comenta confuso. – E ele não tá no bar...
-Tem alguma chance dele ter perdido o celular? – a perita pergunta.
-Não sei, mas é impressionante a bateria durar dois dias. – César diz.
-É um daqueles tijolão. – diz Brúlio. – Ele nunca trocou por esses novos aí.
-Tendo perdido ou não, o melhor é a gente verificar, não? – Arthur pergunta.
-Vocês tem algum palpite de onde ele estaria dentro desse raio? – Elena volta até a mesa e vai para o lado da Liz e do Thiago.
-Os Assombrados ficam em algum lugar por aqui. Onde exatamente, não faço ideia, eles sempre foram muito cuidadosos com o esconderijo deles. – Brúlio diz seriamente. – Filho, eu tô preocupado. – se vira para Arthur.
-Tenho quase certeza que não deve ter nada de paranormal relacionado, devem ser os Assombrados mesmo. -Arthur diz.
-Vocês disseram que a base dos Assombrados é aqui por perto? – Liz pergunta intrigada.
-Eles sempre surgem de algum lugar aqui por perto, mas como eu disse antes, não sei onde poderia ser. – o grandão dá de ombros.
-Sabe dizer ao menos a direção em que eles normalmente vêm? -Elena pergunta.
-Sempre do lado oposto da cidade. – diz.
-Ou seja... do lado oposto do hotel de Carpazinha. – Thiago olha para o grupo. – Exatamente a direção que o senhor Getúlio disse que a equipe Kelvin foi. Temos um caminho para começar, pelo menos.
-Mas vocês vão reto para onde? Não tem nenhum tipo de casa por essas bandas. – o grandão diz. – Se a gente que andou por todos esses anos por aqui nunca encontrou nada...
-César, não tem como conseguir uma localização mais exata? – Arthur pergunta.
-Com o sinal disponível aqui... Esse é o máximo que consigo. – César suspira frustrado.
-A nossa equipe foi exatamente nessa direção que vocês falaram... Podemos até conseguir pistas sobre eles. – Liz comenta.
-Acho que o jeito vai ser pegar o carro e ir naquela direção. – o esguio diz. – Por acaso vocês têm câmera aqui no bar? – ele se vira para a mulher.
-Câmera? – Brúlio pergunta confuso.
-Sim, câmera de segurança.
-Ah não, não temos dessas coisas por aqui. – ele sorri. – A gente ia tá mais incriminado do que qualquer outra coisa.
-É que com todos esses conflitos desses Assombrados seria bom vocês terem câmera aqui. Principalmente agora viria a calhar, permitiria que tivéssemos alguma pista sobre quem era a mulher loira que disseram.
-Ô Ivete – Brúlio se vira para a dona do bar. – Ele tem um ponto, fica aí a ideia. Me preocupo com ti servindo aqueles babacas.
-Ah, mas nunca que aconteceu essas coisas antes né... – Ivete diz. – Vocês sempre resolviam essas coisas fora daqui. Nunca pensei que fosse precisar de câmera.
-Será que não seria bom esperarmos até dar o horário dos Assombrados? – Arthur pergunta.
-Não, é muito tempo. – Elena diz pensativa.
-E também não é sempre que eles vêm pra cá. – diz Brúlio. – Eles têm o horário no bar mais pra humilhar a gente mesmo.
-E se procurássemos pela estrada com o carro e caso algum Assombrado aparecer por aqui... O Brúlio liga pra gente? – o esguio pergunta. – Aí voltamos e tentamos segui-los.
-Posso ficar no bar e fazer isso, mas os Assombrados só chegam aqui por volta da meia noite, agora não é nem 4 da tarde. – diz Brúlio.
-Não temos tempo a perder, gente. Precisamos seguir essa rota e ver se descobrimos alguma coisa. – Thiago diz.
-Então vamos. – Arthur diz. – Não vou ficar aqui esperando.
-Eu concordo. – diz Joui indo em direção à porta. O grupo o segue. Brúlio os acompanha até a porta e depois olha para eles curioso.
-Qual o plano? – o grandão pergunta.
-Vamos seguir o caminho da rodovia e procurar traços de alguma coisa.
-Vocês vão passar muito tempo nisso...
-Não temos outra opção. – o jornalista suspira.
-Podemos nos separar em dois. – diz Arthur. – Alguém vai junto comigo na moto e caso algum de nós, no carro ou moto, ver alguma coisa, mandamos mensagem.
-É uma boa. – César comenta. -Se acontecer alguma coisa, liga pra mim. – ele entrega um cartãozinho para Brúlio.
-Tá bom, se acontecer alguma coisa por aqui eu ligo, mas acho difícil eles virem aqui antes da meia-noite...
-Se acontecer qualquer outra coisa, dá uma ligada também que a gente vem aqui. – o esguio diz. – Fica tranquilo que vamos achar o Gregório.
-Pai, o senhor ainda está com o whatsapp baixado aí? – Arthur olha para o grandão.
-Tenho, tenho... – diz com o minúsculo celular em sua mão. O celular era de tamanho normal, mas em suas mãos era ridiculamente pequeno.
-Vou te mandar um negócio chamado compartilhar localização. – Arthur diz enquanto mexe nas configurações do aplicativo. – Aí você vai saber onde eu tô... Tá vendo aí minha bolinha?
-Espera aí que tá travando... – o grandão olha concentrado para a tela do celular. – Tá... – ele olha surpreso. – Sua bolinha tá aqui no bar. – diz impressionado.
-Se não voltarmos até às 22:00 horas, quero que o senhor venha nos buscar. – Arthur diz. – Vou tentar te ligar antes disso, se eu não fizer isso é porque alguma coisa aconteceu.
-Tudo bem. – o grandão responde, ainda impressionado com a bolinha na tela do celular.
-Certo. – o baixinho vai até a moto e sobe nela. – Alguém quer vir aqui comigo? – pergunta enquanto coloca o capacete.
-Tem um capacete extra? – Liz pergunta.
-Sim, senhora. – ele diz enquanto puxa outro capacete. Este era personalizado com orelhas de gatinho.
-Ah, eu quero! – Liz abre um sorriso ao ver o capacete e vai até Arthur, rapidamente colocando o capacete e subindo na moto.
O esguio se aproxima do Brúlio e lhe entrega uma caneta.
-Brúlio, isso aqui parece uma caneta, mas tem uma câmera embutida. Se acontecer qualquer coisa suspeita, ou qualquer situação que você ache que venha a calhar, pode filmar. É só apertar esse botão ao lado da caneta. – o esguio explica.
-Mas filmar pra quê? – Brúlio pergunta confuso.
-Isso vai nos ajudar a obter mais informações, principalmente se a moça loira voltar aqui. – explica.
-Acho melhor o senhor entregar isso pra Ivete, pai. Vai ser meio estranho um motoqueiro, líder de gangue, segurando uma caneta e indo de um lado para o outro. – Arthur comenta.
-Ô Ivete, toma aqui. – ele chama a mulher que rapidamente se aproxima deles.
-Aonde que aperta? – ela pergunta confusa. – Aqui do lado? – pergunta enquanto o pressiona. – A câmera tá em cima ou embaixo? – ela aproxima os olhos da caneta procurando pela câmera.
-Aí na lateral mesmo, onde tem o encaixe para se prender na roupa. – ele explica.
-Ah, aqui... – ela olha impressionada. – E onde deixo isso?
César observa a vestimenta de Ivete e percebe que nem sua jaqueta e nem a blusa por baixo possuíam bolsos na frente.
-Acho melhor deixar na gola... – ele aponta para ela.
-Assim? – ela ajeita o objeto na gola.
-Isso, isso.
-Meio estranho ficar com a caneta assim... – Ivete diz. – Mas tudo bem.
-Beleza, obrigado. – o esguio diz.
O grupo, exceto Liz, vai até o carro. Cada um puxa sua arma e coloca na cintura. Depois entram no carro.
-Vai dirigir, minha querida? – Thiago olha para Elena.
-Não, dessa vez vou atrás. – a garota diz enquanto entra no banco de trás. Thiago senta no banco do motorista, César no banco do passageiro e Joui no banco de trás, junto da garota.
O grupo que vai no carro e a dupla da moto andam juntos por cerca de três minutos na rodovia e depois param lado a lado para discutir a estratégia.
-Poderíamos pegar a área circular que o César achou e a dividirmos em quatro, então eu e a Liz vamos em uma direção e vocês na oposta, e vasculhamos toda a área ali e depois nos encontramos aqui, o que acham? – Arthur pergunta.
-Muito bem, meu querido. – Thiago sorri para ele. – Mas e se descartássemos as áreas mais próximas da cidade? Os Assombrados vêm do lado oposto de Carpazinha né...
-Melhor ainda. – Joui comenta. – Assim reduzimos a área de busca.
Os dois grupos começam a seguir a rodovia juntos, afastando-se da cidade. Enquanto isso, Elena estava muito pensativa, parecia tentar se lembrar de algo.
-O que foi, Elena-san? – Joui pergunta.
-Eu estou com a sensação de que estamos esquecendo de alguma coisa... – diz pensativa. – Alguma informação importante.
-Sério? – pergunta um pouco pensativo. – Eu conheço alguns exercícios de respiração que podem ajudar... Como aqueles do sanatório.
-O sanatório! – a garota exclama. – É isso! Thiago, para o carro.
O jornalista e o esguio se viram para ela confusos. Thiago então para o carro.
-O que foi?
-Eu tenho uma hipótese de onde o Gregório possa estar, mas antes preciso confirmar uma informação. César – ela se vira para o esguio. – Consegue usar o celular para buscar um endereço?
César olha para o celular e vê que não havia sinal algum ali.
-Sem sinal. – suspira.
Arthur e Liz, que estavam mais atrás com a moto, param ao lado do carro.
-Aconteceu alguma coisa, gente? – Arthur pergunta.
-Arthur, por acaso sabe onde fica a entrada na rodovia para a rua Terçalho Freitas? – Elena pergunta.
-Puta que pariu... – Liz coloca a mão na cabeça se lembrando do endereço de Virgulino, que encontraram no sanatório.
-Terçalho Freitas? – o baixinho pergunta confuso. – Nunca ouvi falar... Talvez meu pai saiba...
-Vamos voltar para o bar então. – Elena diz. – Pode ser uma pista muito importante que ignoramos.
-Concordo. – comenta Liz.
-Qualquer coisa, lá também vou ter sinal... – o esguio diz.
-Vamos voltar então, pessoal. – Arthur diz um pouco confuso, intrigado em como esse endereço poderia ajuda-los a encontrar o Gregório.
Os dois grupos começam a dirigir em direção ao bar novamente.
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