- Nama mugi, nama gome, nama tamako.
Não, droga! É tamago.
Minha deusa kunoichi interior me mostra que falhei logo no fim do nosso jogo de trava-línguas, mas ela não está surpresa, sabia que eu acabaria errando. Nós sabíamos. No fundo, queria errar.
Eu sei que é maldade fazer Sasuke-kun beber vodka pela primeira vez com tanta gente ao redor, mas eu queria que ele fizesse isso junto comigo. Então estarei bêbada junto com ele também.
E por algum motivo precariamente idiota, isso planta uma emoção excitante no fundo do meu estômago.
Todos estão rindo do meu erro, animados por eu ser a kunoichi que vai inaugurar a bebedeira -e por Sasuke-kun ter sido o primeiro shinobi ao fazê-lo também, por uma vontade espontânea e inocente. Ele não sabe o quão potentes esses shots podem ser.
- Vamos lá. Vira com tudo, amiga!
Ino grita de empolgação enquanto Tenten me dá um copinho cheio.
Eu o faço.
E não sei se é o líquido forte ou o olhar de águia do meu noivo, mas algo faz meu estômago revirar uma vez mais.
Não sei como aconteceu mas acabou ficando uma roda larga e imperfeita, quando todos se juntaram à brincadeira. A sequência espontaneamente criada foi a seguinte: Lee-kun e Sai-kun ao lado esquerdo de Sasuke-kun, Hinata-san e Ino-chan ao lado direito. Logo após minha amiga loira, vinha Shikamaru, Naruto -ao meu lado esquerdo-, Tenten -ao meu lado direiro-, Choji, Temari e Shino, pessoas com as quais não tenho muita intimidade; então a roda recomeçava com Sai-kun.
Sasuke-kun já me viu beber e tragicamente desregrada sob os efeitos do saquê. Já cuidou de mim nessa situação. Mas é a primeira vez que me vê embebedar por ser exatamente esse o objetivo.
Sinto que ele está atento e distraído, me observando como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Ele não riu como os outros porque estava formando seus próprios julgamentos sobre nossa brincadeira.
Enquanto ainda sinto a bebida queimar minha garganta, sinto seu olhar queimar meu corpo, beirando à alma. Como se eu fosse o quebra-cabeças mais fascinante, a questão final.
Logo depois de mim, é a vez de Naruto-kun. É aí que seu olhar sai de mim para assistir nossos amigo.
- Migi mimi migi mi... me migi m-
- Já era!
Kiba intervém. Todos reparamos no erro monossilábico assim que Naruto colocou o "mi" ao invés do primeiro "me".
Consequentemente, ele bebe a vodka, aceitando ter ocupado o posto de segundo derrotado. Eu o abraço pelos ombros e balanço seu corpo junto com o meu, dizendo:
- Nós somos péssimo nisso.
- Que nada! É que a gente tem um vocabulário culto demais pra chegar aqui e ficar falando essas coisas sem sentido.
Naruro-kun me responde com a alegria do primeiro shot: ainda não está sob a graça do álcool, mas é a abertura das portas.
Chegada sua vez, Shikamaru-kun diz o trava-línguas perfeitamente. Mas todos já sabemos que essa será a primeira e última vez. É sempre assim: ele fala uma primeira vez pra fingir que está no clima do jogo de verdade, mas a partir daí ele simplesmente passa o trava-línguas para o próximo e bebe sem preocupações. Shikamaru-kun não quer a vitória ou as zoações por errar, ele só quer dormir sob o efeito do álcool após ver seus amigos agindo como idiotas -e normais- uma vez na vida. Mas em resumo: nunca o vi errar nenhum trava-línguas; é como se o interruptor de leitura, racionalização e fala dele fossem o mesmo, trabalhando com agilidade e facilidade.
É a vez de Ino-chan. Ela pronuncia o trava-línguas corretamente e joga o cabelo para trás dos ombros, mesmo que já estivesse lá, deixando seu ego vaidoso desfilar com toda sua sobriedade -por enquanto.
Quando Hinata-san pega o papel para ler seu trava-línguas, todos cobrimos nossos olhos. Já estamos acostumados. No réveillon de dois anos atrás, quando começamos com isso, ela impôs a condição de que só jogaria se não ficasse todo mundo olhando para ela na hora de falar. No começo isso funciona, mas a verdade é no final todos já estão alegres demais para sequer fechar os olhos, então Hinata-chan sempre começa como a mais equilibrada, mas a partir de um certo ponto, ela precisa beber todas.
Mas como estamos apenas aquecendo, todos cobrem seus olhos e ela começa.
- Sumomo mo momo-mo-mo-momo-mo...
Acho que todos demoramos um pouquinho pra ver que o trava-línguas não é assim e que ela apenas está gaguejando sem parar.
Hinata-san errou logo na primeira rodada?
Ninguém entende como isso foi acontecer. Mas ela já está vermelha, encolhida. Após tanto perguntarmos qual foi o problema, ela olha para o seu lado e diz timidamente:
- Sa-Sasuke-kun ficou olhando...
Ele, o quê?
Me lembro do ocorrido de mais cedo e meu pé começa a bater no chão, meus braços estão cruzados e eu nem me lembro de ter feito isso. É o toque do ciúme.
- Esquecemos de avisar.
Shino-kun diz simplesmente, lembrando a todos de que é a primeira vez do Sasuke-kun jogando, então ele não sabe que deveria cobrir os olhos.
Há um coro de compreensão.
Eu largo os braços e paro o pé, tentando dar de ombros para a paranóia. No fundo, sei que minha deusa kunoichi interior se diverte com isso.
Lee-kun, que está ao lado de Sasuke-kun, explica o que fazer quando chegar a vez de Hinata-san.
- Por que eu faria isso?
Ele pergunta diretamente para Hinata-san, parece realmente tentar entender. E eu não o culpo. Sasuke-kun tem doujutsus tão preciosos que pessoas facilmente arrancariam e dariam vidas por seu par de olhos. Então entendo que deva ser difícil fechar os olhos enquanto fica bêbado em sua posição.
Logo ele, que nunca abaixa a guarda.
- Não consigo...
Hinata-chan começa.
- Não consigo falar com tantos olhares.
- Nem se for só o meu?
- Sasuke...
Naruto-kun adverte, provavelmente enciumado também. Eu deveria lembrá-lo da importância que nosso amigo dá em estar atento, mas não faço isso. Não faço porque sou egoísta e, mesmo sabendo os motivos psicológicos realmente sérios de Sasuke-kun para ter que olhar, eu não quero que olhe.
Estou sendo injusta com ele e com Naruto-kun, mas em nome do ciúme, eu deixo essa passar...
Sasuke-kun tensiona o maxilar enquanto olha para nossos amigo e simplesmente cede à vontade do próximo, sem demorar nada.
Então, pela primeira vez, eu percebo que é esse traço de expressão que ele deixa escapar quando abre mão de algo importante para si, para evitar conflitos com alguém importante para si.
Um simples apertar dos dentes. O maxilar tenciona.
Espero me lembrar dessa análise amanhã, depois de ter bebido ao menos sete shots.
Com a situação rapidamente ajustada, damos outra chance à Hinata-san. Mas eu espio aquele que está ao lado dela.
Sasuke-kun está fazendo como dito e não está olhando para ela, mas também não está com os olhos fechados.
Ele tapou as laterais do rosto para impedir sua visão periférica e focou o olhar em um único ponto.
Em mim.
Não sinto que já bebi um pouco quando percebo que ele está incomodado, desesperado para simplesmente ver se não tem ninguém pronto para apunhalá-lo pelas costas.
Esse é um medo irracional, eu penso.
É irracional porque estamos entre amigos numa noite divertida e sem preocupações e intri-
. . . .
Eu paro de pensar por um instante, quando a mão de Sasuke-kun se fecha no cabelo enquanto ele nega todos seus instintos de sobrevivência por dez segundos. E então eu percebo...
Na verdade, além de mim, Naruto-kun e Hinata-san, quem aqui já levantou um dedo para mostrar parceria com ele?
As pessoas que o cercam agora já estiveram mais que dispostas a matá-lo pelo menos uma vez em suas vidas agitadas. Matá-lo de verdade.
Eu tentei. Não conseguiria, mas tentei mesmo assim.
Enfim entendo que, originalmente falando, Naruto-kun é o único que merece a vulnerabilidade do meu noivo.
Mas Sasuke-kun está aqui.
Ele está aqui.
Passando um dia entre amigos? Não. Passando um dia com aqueles que um dia foram seus possíveis assassinos -ou, mais provavelmente, suas vítimas.
- É isso aí!
Lee-kun comemora, me tirando do torpor quando Hinata-san termina de recitar seu trava-línguas corretamente.
É a vez do meu noivo.
Ele olha para o trava-línguas que lhe foi entregue num papel, mas franze as sobrancelhas escuras apenas por um segundo e vejo que mudou de ideia.
- Não tô a fim.
Ele joga o papel para o próximo e vai logo enchendo seu shot, vira na boca sem cerimônias. Choji o impede quando vai enchendo o segundo copo.
- Respeita as regras do jogo.
- É; um shot a cada rodada.
Tenten diz com um sorrisinho de inocência, mesmo que tenha sido ela mesma quem criou essa regra para o jogo durar mais. Sasuke-kun devolve a garrafa à mesa baixa entre nós e repõe sua postura imaculada, observando o ritmo do jogo.
Lee-kun pronuncia corretamente, mas Sai erra na próxima e precisa beber.
Em seguida, Chino e Temari bebem como se isso fosse injusto, mas eles realmente erraram seus trava-línguas.
Choji e Tenten mandam bem e pronunciam tudo perfeitamente.
A vez retorna à mim e dessa vez acerto, Naruto também. Comemoramos juntos.
Mais duas rodada e as coisas não mudam muito, apesar de eu ter precisado beber em ambas porque minha língua enrolava mais à cada novo shot que eu via Sasuke-kun beber.
Ele estava virando o copinho pela quinta vez já, duas vezes mais que Shikamaru, que também não estava fazendo questão de sequer ler o trava-línguas.
Os dois eram a quebra do jogo, especialmente pelo fato de não estarem ligando para nada disso.
O meu olhar começava a se desfocar, mas continuava em Sasuke-kun.
Eu não me permito observar por muito tempo antes porque assim não sairíamos daquele quarto, mas a verdade é que meu noivo se torna a personificação do pecado quando está de camisa social, o que é tão raro que essa é a primeira vez que o vejo usar. Não toquei mas imagino que seja de linho.
Quando o trava-línguas já todo bagunçado deu sua sexta volta na mesa, juntamente com a vodka.
Eu vi meu noivo tentar o trava-línguas pela primeira vez no jogo, ele errou. Mas quem perdera fui eu.
Perdi a sanidade quando o vi soltar uma risada discreta e desabotoando as mangas da camisa, levantando do pulso para até acima dos cotovelos, uma de cada vez. Com toda sua elegância embriagada, ele expunha distraidamente um pedaço de pele inofensivo e casto, mas que despertou a vontade de ver mais.
Eu não era a única assistindo ao espetáculo que era ver sua pele pálida sob as chamas crepitantes da fogueira não muito distante, mas não importava.
Ele estava distraído, se embebedando para conseguir parecer normal e dar uma noite normal a mim e Naruto-kun, mas não importava também.
Minha deusa kunoichi interior está implorando para que eu o pare, porque a gente sabe que isso não é saudável e ele está alimentando sua atitude autodestrutiva bem na minha frente, com o intuito manso de me fazer vê-lo como o cara trivial que não há chances de ser.
Mas não importa.
Talvez importasse se eu tivesse me dado conta disso há dois shots antes, mas ele disfarçou bem e ganhou tempo, agora já estou bêbada demais para sequer pensar em fazer ele parar.
Eu quero ver até onde Sasuke vai. E quero ir junto com ele.
Certo... Na verdade, não. Mas... Certo.
Com as mangas escancaradas, ele passa uma mão pelo cabelo tão escuro quanto a noite, enquanto com a outra vira o copinho no espaço aberto entre seus lábios avermelhados.
Sasuke-kun devolve seu copo de shot vazio à mesa. Apoia uma mão atrás do corpo e passa o polegar da outra no canto do lábio, discretamente molhado de vodka e sutilmente aberto para soltar um suspiro rouco na brisa da noite.
E é isso. Eu sabia!
Tem sempre algo nele. Em nós. Algo que me faz ter a certeza veemente de uma coisa: quero dar pra esse homem.
Estou sempre disposta a isso, faminta.
Não sei se são seus movimentos garbos, o olhar penetrante ou a forma como tudo parece simétrico em sua aparência. Algo me atrai e excita o tempo todo, mas não sei o que é. Não sei, não sei.
- Sakura-chaaaaaan
Naruto cutuca meu ombro, chamando minha atenção.
- Vai, tenta falar!
Ele entrega um papel meio amassado enquanto sorri pra mim, não sei se é de incentivo ou apenas o alto teor alcoólico fazendo o trabalho no corpo e cérebro do meu amigo também. De qualquer forma, eu erro e então ele enche meu copo, cantando alguma coisa ao me entregar, outros estão fazendo as vozes de fundo. Unidos numa cacofonia que jamais será possível de ser interpretada por cérebros sóbrios, por mais perspicazes que sejam. E como se para provar isso, Shikamaru está olhando para todos como se fossem alienígenas, mas ele também está alterado o suficiente para escolher não pensar logicamente no que tá saindo da garganta dos outros.
Soltei uma risada ao ouvir Naruto errar também. Me inclino ao lado dele e tento sussurrar, mas não sei se falei tão baixo assim.
- Nós somos péssimo, de verdade, de verdade, de verdade.
Dessa vez meu amigo quase cospe a bebida que acabou de jogar na boca. Mas no fim engole, balança a cabeça e concorda comigo.
Balanço uma perna e cantarolo comigo mesma enquanto espero a volta toda, variando meu olhar entre a piscina e meus amigos. Mas é claro que agora já não tem ninguém pensando o bastante para conseguir completar o trava-línguas.
Shikamaru joga o papel pro ar e bebe preguiçosamente, com a cabeça deitada no ombro de Ino; ela também não está mais se gabando por falar certo, simplesmente porque acho que está num estado onde não deve consegui dizer nem o próprio nome.
Chegamos na parte mais intrigante: Hinata.
Como já era de se esperar, ela está começando a embebedar rapidamente e ninguém tá nem aí sobre fechar os olhos. Mas Sasuke está disposto a ajudá-la, mesmo estando sob a mesma cortina de embriaguez.
Ela peva um papel e se inclinada para conseguir ler em conjunto com ele.
Os dois olham para o papel por dez segundos e ninguém diz nada, totalmente confusos. Então Sasuke morde o lábio para segurar um sorriso e diz:
- Ah, tá de ponta-cabeça.
- Aaaah...
Hinata assente freneticamente e vira o papel ao contrário, e eles ficam uns cinco segundos observando o lado em branco do papel. Sasuke, como não é nada paciente, desiste de explicar e pega o papel entre o polegar e o dedo do meio, como se estivesse tentando não fazer nenhum movimento brusco. Ele vira o papel para o lado e direção exata, então eles lêem.
- Não vai sair da minha boca, Sa-Sasuke... kun.
- Nem da minha.
Ele dá de ombros e apoia ambas as mãos atrás do próprio corpo, como se já estivesse se rendendo. Eles se entreolham pra decidir se vale a pena vê-la tentar.
- Vai nessa.
Ele a encoraja e Hinata até tenta, mas erra na metade do trava-línguas e acaba falando outra palavra bem diferente, que soa como "lençol" quando deveria ser "farol".
Sasuke se inclina sob o próprio corpo em uma risada gutural, com os cotovelos no joelho e a cabeça abaixada entre eles. Hinata percebe seu erro e se inclina ao gargalhar espontaneamente, reclinada com os braços cruzados sobre as costas de Sasuke, como se tentando se enconder ali.
Ela se afasta, mole de tanto rir, quando ele levanta a coluna de novo.
- Lençol?
Sasuke enfim consegue dizer, como se tivesse precisado de muito esforço pra parar de rir e conseguir falar, querendo saber de onde ela tirou aquilo. Mas Hinata só balança a cabeça, mostrando que também não sabe por que disse o que disse, enquanto começa a ficar roxa de tanto gargalhar.
Eu não implico com a espontânea aproximação física deles, afinal, até agora pouco eu estava abraçando Naruto e simplesmente porque somos amigos.
- Hinata-san já quer ir dormir.
Kiba provoca, rolando de rir no chão, literalmente.
- Não entendi. Não era pra ser "farol"?
Shino pergunta, sem entender que é exatamente por isso que ela errou.
- Não fez nenhum sentido.
Naruto relata e ri ao meu lado, batendo uma mão em meu ombro como se para que eu concordasse, mas minhas risadas já estão saindo a esse ponto.
Em geral, aquele trava-línguas ficou hilariamente errado.
Sai está quase caindo pra fora da espreguiçadeira e Lee está tentando segurá-lo, mas parece que vai cair junto. Ambos rindo.
A graça parece ter uma duração menor para Sasuke, que já está apenas com um pequeno sorriso nos lábios, oferecendo uma mão ao Lee para ajudá-lo a permanecer com Sai sobre a espreguiçadeira.
Eu relaxo completamente quando percebo que o plano dele deu certo; Sasuke conseguiu ficar bêbado ao ponto de ignorar quem exatamente está ao seu redor.
Mas isso não importa de verdade, simplesmente porque essa é a primeira vez que o vejo bêbado e alegre, e eu estou bêbada e alegre também. Ainda mais agora.
Shikamaru estava quase dormindo quando Temari o puxou junto com ela até a piscina, dizendo que dessa vez ele não ia apenas beber e dormir tão cedo. Alguns respingos d'água nos acertam, convidando todos a se juntarem; em apenas um minuto todos estão caindo na água.
Estou quase pra pular quando sinto falta de alguém.
- Sa-Sasuke?
Sussurro para mim mesma, com um sorriso tonto e um olhar borrado para encontrá-lo. Lá está ele, sentado com uma perna em cada lado da espreguiçadeira que agora não tem que dividir com ninguém. Ele abaixa a garrafa de vodka da boca e passa a língua pelos lábios enquanto assiste a todos na piscina. Consigo perceber quando seu olhar procura por mim ao redor.
Eu dou de ombros para a água agora e vou até meu noivo. Ele parece totalmente acessível quando me sento em seu colo, com as barreiras suficientemente baixar para que suporte o toque de qualquer um aqui, sob a ajuda do álcool.
- Oi, Sakura.
Ele abre um sorriso receptivo, mas faz um biquinho quando tiro a garrafa de sua mão.
- Eu divido com você.
Diz, sem dar muita atenção pra isso.
- Não vem nadar com a gente?
- Hm... Não...
Ele dá de ombros e inclina o corpo pra trás, deitando na espreguiçadeira.
- E você, não vai nadar?
- Vou. Mas quero que venha comigo.
- Hm. Posso te ver daqui.
- Não. Por que não vem comigo?
Ele varia o olhar entre mim e todos na piscina.
- Não sei. Não quero. Acho que preciso beber mais.
Ele estende a mão e espera eu devolver a garrafa de vodka já quase no fim, mas não o faço.
- Já é o suficiente, garotão.
Deixo a garrafa de lado e agarro sua mão estendida.
- Vem, vamos nos divertir sem um coma alcoólico, tá bom?
- Sakura...
O jeito que ele disse meu nome quase pareceu sóbrio, mas não dei atenção pra isso. Quando já estávamos próximos da enorme piscina, meus pés saíram do chão.
- Sa-Sasuke!
Ele me segura como um bebê no colo e acelera o passo, a partir daí só tenho tempo de prender a respiração antes de meu noivo me levar a submergir com ele.
Houve alguns segundos de barulho abafado pela água, abri meus olhos sob a água e vi meu noivo esticando o corpo, os pés tocando o fundo da piscina e uma mão estendida para me oferecer ajuda -ou simplesmente para manter nossos contato físico, já que ele sabe que eu sei nadar.
Eu tento fazer como ele e colocar meus pés no fundo da piscina para voltar à superfície, mas descubro que não dá pé pra mim. E é óbvio que eu prefiro mil vezes ficar agarrada ao Sasuke na água do que apenas nadar.
Então eu puxo a mão dele e nossos corpos se encontram devagar pela densidade da água. Envolvo sua cintura com minhas pernas e seus ombros com meus braços.
Sasuke está soltando um risinho suave, passando uma mão pelo cabelo para tirar a água.
- Eu já disse que amo a sua altura? 1,60, né?
Levanto uma sobrancelha diante de sua provocação descarada.
- Ei! É 1,65!
- Nossa, tão baixinha.
- Eu não sou baixinha. Todos com mais de 1,80 é que são gigantes, sabia?
Cruzo meus dedos atrás de seus pescoço e aproximo nossos rosto.
- E você, garotão... Você tem 1,82. Então fica assistindo enquanto eu cresço.
Digo, esperando que ele não saiba que mulheres não crescem mais depois dos 18 anos.
- Você já tem 20 anos, Flor de Cerejeira.
Ah... Ele sabe.
Franzo o cenho diante de seu olhar distraído em meu rosto.
- Meu deus. Dá pra focar? Isso é sério. Homens podem crescer até os 21 anos, sabia? Você tem 19, Sasuke. Se continuar crescemos, vou precisar andar com um banquinho ou você vai precisar se inclinar mais sempre que está comigo e vai acabar com uma hérnia de disco, lombalgia, artrose, cervicalgia ou escoliose.
Meu noivo não parece dar real atenção às minhas preocupações antecipadas.
- Sakura, eu acho difícil que eu cresça mais. Tá mesmo preocupada com isso? Agora?
Ele não precisa me segurar porque eu mesma estou segurando-me nele, então suas mãos vêm molhadas até minha testa e coloca meus cabelos pra trás.
- Nós poderíamos ficar sob a água pelo resto da vida.
Apesar dos olhos de meu noivo estarem marejados pela vodka, a voz parece séria. De qualquer forma, obviamente levei na brincadeira e isso me fez soltar uma baixa risada.
- Que ideia...
- É sério. Mais cedo pensei que tudo o que eu queria era você.
- Como assim?
- Gosto do jeito que me sinto perto de você, Sakura. Os sentimentos e o sexo me fazem sentir confortável emocional e fisicamente... Só você faz isso.
Bato um sorriso de gratidão e ele retribuí, o que é raro.
- Gostei da sua ideia, garotão. Eu, nossos sentimentos e o sexo, então. Só isso?
- E a morte.
- O quê?
- A morte. Algum dia.
Sasuke diz com naturalidade e inclina a cabeça pra trás, molhando os cabelo e dando alguns passos aleatórios na piscina, encarando o céu da noite. Meus amigos estavam ao redor, mas agora nós estávamos na nossa bolha particular.
Mesmo que não esteja sóbria o suficiente para esse assunto, continuo curiosa.
- Está pronto para viver neste mundo sem mim, garotão?
- Eu vou primeiro.
- Como tem tanta certeza? Eu sou a mais velha aqui.
- Eu vou morrer primeiro, Sakura.
Meu noivo repete com tranquilidade e uma certeza assustadora.
Sinto um aperto o coração, que rapidamente vai se diluindo ao álcool pelo resto do corpo.
Quando me dou conta, já estou sorrindo enquanto pressiono meus lábios contra os dele.
- Sasuke, vai morrer nas minhas mãos, não é?
Ele sorri contra meus lábios também.
- Se eu tiver sorte. Esse seria o jeito perfeito.
Ele parece realmente divertido e eu também estou; não sei o porquê, não é certo e nem tem sentido.
Alguém joga água entre nossos rostos e Sasuke levanta a cabeça muito rápido, nossos dentes se batem.
Uma pena não termos nos apressado pra trocar sequer um selinho.
- Estamos atrapalhando?
Alguém nos diz com um tom suficientemente sarcástico, deixando na cara que nossa bolha particular foi estourada e não vamos ter paz. Mas não tem problema.
Eu me solto de Sasuke para jogar água naquele que jogou água na gente, me distraio e me divirto com meus amigos pelas próximas horas.
Já são quase quatro da manhã quando fica frio demais para continuar na água. A comida também esfriou e a fogueira já não continha mais chama alguma.
O álcool estava pesando meu corpo quando andei para dentro de casa, enrolada numa toalha junto com Ino.
Estávamos tentando abaixar o tom das nossas risadas para não acordar ninguém, caso houvesse alguém dormindo dentro da casa, e subimos juntas para o corredor dos quartos.
Eu tropecei e minha amiga tentou me segurar, mas acabamos as duas no chão.
- Ai, merda...
Ela resmunga em meio a uma risada.
- Você tá sóbria, levanta primeiro e me ajuda aqui.
- Eu tô sóbria?
Eu não sabia... Não. Espera, eu não estou sóbria, não.
Lutamos com nossas pernas fraca enquanto tentamos sair do chão, até que Sai vira o corredor.
- É nossa ajuda!
- Queridooo...
Ino chama por ele, estendendo uma mãozinha de princesa. Sai nem tenta entender o que aconteceu para acabarmos o chão, ele apenas segura a mão dela e a puxa pra cima. Eles se abraçam e riem depois de algo que Sai sussurra para minha amiga.
Arregalo meus olhos quando começam a andar juntos para o quarto que estão compartilhando.
- Ei! E eu?
Estendo uma mão também, mas eles já estão passando o batente da porta.
- Já volto, amiga. Espera aí.
Ino gritou e fechou a porta, mas era óbvio que ela não voltaria.
Resmunguei comigo mesmo enquanto tentava ajeitar as pernas e me levantar.
- Pff! Eu não gosto desses dois... Não, eu gosto.
Olho para meus joelhos.
- Eu não gosto do Sasuke? Certo? Minhas pernas estão fracas e é culpa dele... Ou nossa?
Reviro meus olhos e desisto, deitando todo o corpo no chão encarpetado e um pouco molhado pelo meu próprio corpo.
- Quero o Sasuke... U-Uchiha... Sasuke.
Repito comigo mesma porque assim fica mais fácil lembrar de seu corpo potente próximo ao meu, em cima do meu... dentro do meu.
Tenho certeza de que muito tempo passa quando paro de pensar no físico e minha mente volta para o emocional dele.
Eu me sento devagar.
Onde ele está, afinal?
Me esforço para ficar de pé, pendurada nas paredes. Acho que descer a escadaria foi uma das coisas mais difíceis que já fiz, mas uma hora ou outra eu chego ao lado de fora da casa.
Lá está ele.
Sasuke continua dentro da piscina, com a cabeça apoiada sobre os braços cruzados na beira da piscina, está encarando a garrafa de vodka tompada em frente ao seu rosto -não restou sequer uma gota da bebida.
Ele está sem camisa agora. Sem movimentos também. Apenas piscadas lentas com os cílios escuros e molhados, assim como o cabelo.
Eu me aproximo devagar para não cair de novo, então me sento após tirar a garrafa do lugar. Fico e frente para Sasuke.
Nos encaramos em silêncio por não sei quanto tempo.
- Vai ficar aqui, ga-garotão?
- Uhum.
- Tá frio.
Ele apenas abre um sorriso fraco em concordância, mas não faz o mínimo esforço para sair da água congelante.
- Hipotermia.
Digo depois de fazer um enorme esforço para me lembrar da palavra.
- Vai ter hipotermia se continuar aí.
E de novo, ele apenas sorri para mim.
- Uma pena que acabou com toda a vodka. A gente... deveria beber o resto juntos.
- Tem outras garrafas.
Ele enfim fala alguma coisa, então aponta para o lado e eu olho nessa direção. Naruto está vindo pra cá com uma dança tropeça e garrafinhas de amazake nas mãos.
- Oi, Sakura-chan! Somos os sobreviventes.
Ele grita de longe, e quando chega ao meu lado, se senta e entrega uma garrafinha para cada um de nós. Eu aceito porque sei que amazake não tem um teor alcoólico muito alto.
- Vocês conseguem imaginar Kakashi sensei nos vendo agora?
Meu amigo pergunta e solta uma fraca risada enquanto tenta abrir sua bebida.
- Ele desistiria do Time 7.
- Tsunade-sama também não gostaria nada disso.
Digo com um sorriso de nostalgia e
Naruto me entrega sua garrafinha.
- Abre pra mim, Sakura-chan?
Ele deita a cabeça no meu ombro.
- Ero-sennin foi o melhor sensei de todos.
Balanço minha cabeça negativamente após entregar a garrafa aberta para ele, abro a minha também e bebo um longo gole do amakaze.
- Eu discordo. Tsunade-sama sabia como gastar o tempo dela sem ser com mulheres ou em casas de banho misto.
- É, fazendo a mesma coisa que você tá fazendo agora.
- Humm... Mas ou menos. Mas ela conhecia as melhores bebidas.
Naruto dá de ombros e abaixa a cabeça. Olhamos para Sasuke na piscina, apenas bebendo da garrafinha, mas ele para quando percebe nossa atenção.
- Você não consegue participar da conversa uma vez só?
Naruto pergunta com um tom de voz insinuativo, esperando alguma coisa.
Sasuke olha pra mim devagar e então abro um pequeno sorriso, mostrando que também espero que ele converse com a gente.
- Hm...
Ele deixa a garrafa já pela metade na beira da piscina.
- Não se preocupem com seus senseis. Eu acho que eles foram bons.
Sasuke murmura distraidamente enquanto apoia a cabeça na mão.
- Os dois únicos professores que já tive desistiram de mim; um fingiu não ver a merda acontecendo e o outro pretendia usar meu corpo desde o começo. Não tem como eu defender nenhum deles, então...
Ele levanta a garrafa no ar, como se fosse um cumprimento à vida.
- Saúde.
E dá um grande gole.
Naruto solta uma risada intrínseca ao meu lado.
- Dattebayo! Mas que merda.
- É. Por isso eu tinha preferido não dizer nada.
Eles trocam um olhar de compreensão mútua e em seguida risadas soam, o que prova que isso não afeta ninguém.
Na verdade, Sasuke nunca se apegou aos mais experientes mesmo.
- Como a Hinata-san está?
- Ajudei ela a ir pra cama depois de um mergulho. Gostaria que estivesse aqui com a gente, mas eu entendo que esteja cansada. Eu também tô.
Naruto responde e volta a deitar em meu ombro, levanta um pouquinho sua garrafa de amazake, batendo com a minha.
- A gente deveria estar dormindo também, né?
- Aham.
- Não vai mandar a gente dormir, Sakura-chan? Você era boa nisso quando éramos crianças.
- Ela ainda é boa nisso.
Sasuke resmunga consigo mesmo, arracando-me uma risada em resposta. Ele está olhando seriamente pra mim, apesar de tudo. Sei que deveria estar entendendo algo, mas ainda não estou nem perto disso agora. Apenas dou de ombros.
- Não vou colocar vocês na cama agora, já são bem grandinhos.
- Então tudo bem se eu dormir aqui, né?
Uma mão gelada se enfia entre os joelhos meu e do Naruto.
- Desencosta da minha noiva.
Sasuke simplesmente ordena à Naruto, que vê isso como uma oportunidade de provocação e continua imóvel.
- Olha só, Sasuke com ciúmes.
Nosso amigo cantarola e usa um de seus pés para afastar a mão gelada em nossas peles.
- Cai fora, Naruto.
- Não. Eu gosto daqui. Só saio se Sakura-chan quiser.
Sasuke olha pra mim, dessa vez entendo um claro "e você não vai fazer nada?"
E... Não. Não vou fazer nada.
Acho justo que meu noivo sinta um pouquinho de ciúmes também -principalmente depois dos meus últimos ataques.
- Tsk!
Ele resmunga algo baixinho e vira de costas para nós, esvazia sua garrafa de amazake e emerge na água.
Naruto explode em risadas.
- Nem ele foge do ciúme, hein.
Assinto devagar, mas meu amigo começa a ficar frustrado ao meu lado, percebendo que Sasuke não volta para continuar uma discussão.
- Ele não vai fazer nada mesmo?
- Não.
- Por quê?
- Sasuke acha que essa é uma escolha minha, e ele nunca tenta influenciar isso.
Meu noivo continua nadando e nem sequer olha pra nós. Se eu não o conhecesse bem, diria que está totalmente neutro quanto ao que está acontecendo.
- Assim não tem graça. Queria ver ele bêbado e irritado. Aquele bastardo vai só aceitar?
- Aceitar, não. Mas vai fingir que aceitou.
Solto uma risada baixinha quando Naruto bufa ao meu lado, depois apenas suspira.
- Ele... cresceu.
- Você também amadureceu bastante nos últimos anos, Naruto.
- É. Mas prefiria quando era fácil irritar aquele bastardo.
Naruto aponta um dedo para Sasuke, que continua nos ignorando.
- Quando saímos daquele lugar assustador e fomos te buscar, eu fiquei repetindo a mesma coisa na cabeça dele, mas só ficou cansado quando já estávamos chegando no hospital.
Eu sorrio, mas meu foco está em outra parte do que ele disse.
- Uhum, mas de que lugar assustador está falando?
Meu amigo fica mais de cinco segundos quieto ao meu lado. Abaixo minha cabeça e vejo aquela cara de "pensa logo em alguma mentira".
O que estão escondendo de mim?
- Naruto, onde vocês estavam naquela noite?
- Hã, vendo os fogos, Sakura-chan.
- Onde?
Já estou ficando impaciente quando ele enfim diz:
- No penhasco.
O quê?
- Não entendi. Que penhasco?
Naruto de repente parece desconfortável ao meu lado. Ele se afasta para deitar no chão, com a cabeça apoiada sob minha perna.
- Sabe a antiga área do Distrito Uchiha.
Assinto, já não gostando da minha pré-suposição de que Sasuke tenha ido até lá, mesmo sabendo que ele queira aceitar tudo isso, a atual realidade.
- Alguma vez você já foi até o fim?
- Não. Como é lá?
Meu amigo está com seus olhos azuis meio distraídos sob meu rosto.
- Não é nada.
- Como assim?
- Hum, sabe... Não tem nada e no fim é só um penhasco. É o vazio que Konoha escondeu ao dar um fim no clã Uchiha.
Meu amigo levanta uma mão e cutuca meu ombro.
- Sabe, quando eu for Hokage, com certeza vamos usar aquele espaço. Vai ter vida lá de novo.
Ele diz com ânimo e esperança, eu dou mais um gole na minha bebida para permanecer nessas vibrações também.
- Vou amar ver isso, Naruto.
Começo a acariciar os cabelos dele, a fim de demostrar meu apoio. Meu amigo aceita de bom grado.
Abro meus olhos só um pouquinho e me encolho toda ao receber uma fonte de calor sobre os ombros e costas, está muito frio essa noite.
Um flash de memória vem, trazendo uma dor de cabeça junto. Minha coluna se estica na mesma hora.
Ainda estou no chão, ao lado da piscina, e Naruto não está mais no meu colo, Sasuke não está mais na piscina.
Não sei quando foi que adormeci, mas me lembro de que eles estavam aqui antes da minha coluna pender
Continua escuro e cheio de estrelas no céu.
- Levante-se, Sakura.
É a voz do meu noivo. Viro a cabeça e vejo que é ele quem está me envolvendo em uma toalha e prendendo meus cabelos ainda molhados.
- O que houve?
- Você dormiu.
- E o Naruto?
- Ele também. Mas já entrou.
- Ah... Nossa, que frio...
- Levante-se, Sakura.
Ele apenas repete, sem simpatizar comigo nem sobre o tempo, que é a coisa mais básica e infantil de uma conversa.
Quando me dou conta, estou sendo colocada de pé. Sasuke me solta devagar e eu ganho estabilidade sobre o chão.
Pisco para tentar espantar a dor de cabeça, mas não funciona. Meu noivo está recolhendo as garrafinhas vazias de amazake do chão.
Fico confusa.
- Ei?
Ele para ao som da minha voz.
- Você não vai entrar?
Pergunta e então olha pra mim.
Os lábios de Sasuke estão roxos e as pálpebras quase azuis pelo frio, os cabelos molhados como quem acabou de sair da água.
Penso em jogar essa toalha nele e exigir que se enxugue e entre, mas já sei que as coisas não funcionam assim com Sasuke.
- Vou entrar quando você entrar.
Ele franze o cenho pra mim. Dá de costas e deixa as garrafas numa mesa, então vem até mim e espera eu começar a andar, para me seguir e entrar também.
Só precisei subir a escadaria ao lado de Sasuke pra saber que tinha algo errado.
Algo entre nós.
Ele não falou nada a menos que fosse extremamente necessário, até aí tudo bem. Mas... quase não olhou pra mim.
Os braços dele estavam pendendo ao lado do próprio corpo, quando numa ocasião dessas normalmente estaria me carregando até o quarto, ou ao menos com uma mão em minhas costas.
Sasuke está bravo.
Chegamos no quarto, a porta se fecha e ele vai andando até o banheiro.
- Sasuke.
Ainda não estou totalmente sóbria pra colocar honoríficos, então deixo pra lá. O importante é que agora ele está olhando pra mim.
- Aconteceu alguma coisa? Está bravo, não está? É por causa do Naruto?
Acho que acertei a ferida, porque meu noivo não diz nada e entra no banheiro. Vou até lá também.
- Ei... Ainda está com ciúmes porque ele deitou em mim?
- Não quero conversar sobre isso.
- Mas eu quero.
Ele ignora, desenfaixando o braço esquerdo.
- Ele é meu amigo.
Sasuke levanta um olhar cheio de presunção para mim.
- Sabia que diria isso.
- Mas é verdade. Não pensei que te magoaria tanto.
- Não estou magoado.
- Eu tô vendo que sim, só não sei o porquê.
Ele joga a bandagem molhada no lixo com um golpe agressivo que não foi contido, então volta a olhar pra mim.
- Eu lido com isso sozinho, Sakura. Ouvir você me falando que estou errado por sentir ciúmes vai me deixar ainda mais irritado só pela porra da hipocrisia.
Pestanejo por me lembrar dos meus surtos de ciúmes, mas meu noivo não está nem aí e apenas tira a camisa.
- Ei. É diferente. Hinata-san não é sua amiga como o Naruto é meu amigo.
- Claro, e por isso você pode acariciar ele, enquanto eu não posso sequer olhar para a mulher com quem estou conversando. Isso é injusto pra caralho.
Sasuke tira a calça e a cueca rapidamente e vai pra dentro do box com apenas dois passos largos.
Inacreditável.
Até agora tentei amenizar as coisas, mas isso já me irritou também. Tiro minhas roupas e vou logo atrás dele para dentro do box.
- Sakura, não-
- Acha mesmo que Naruto é algum tipo de ameaça? Ele é nosso amigo há anos.
- Que se foda. Amigo ou não, estava tocando a minha noiva e você estava deixando.
- Não sou intocável.
- E ainda tocou ele de volta.
- Foi um carinho.
- Isso não melhora nada, Sakura.
Bufo e cruzo os braços na frente do corpo.
- Eu faço carinho em você também.
- Pois é. Eu sou a porra do seu noivo, o Naruto não é. Seu carinho deveria ser só pra mim. Você é minha. E só minha.
Meu coração está agitado diante dessa demonstração feroz de possessividade.
Eu nunca havia ouvido esse tom em sua voz. Me faz arrepiar brevemente.
- Está agindo como um animal. Um predador que quer a presa só pra si, Sasuke.
- Se estiver nas minhas garras...
- Eu não sou uma presa!
Tento não gritar muito e acordar a casa toda.
Estou um pouco alterada por conta do álcool. Ele também está.
E eu acabo de descobrir, no pior momento, que meu noivo tem ciúme menos frequentemente que eu, mas quando acontece, é muito pior.
- Não acredito que remediar você vai sobrar pra mim, logo agora, que a gente tá bêbado.
- Não preciso ser "remediado". E eu disse que lido com isso sozinho.
- Seus métodos são animalescos.
- Banho é uma prática humana também.
Ele sabe do que estou falando, mas ainda assim ignora a questão principal.
- Vai continuar com ciúmes, né?
- Vai continuar fazendo carinho no Naruto e deixando que ele se encoste em você quando bem entender?
- Sim.
Sasuke bufa, enrugando o nariz por um segundo. Em seguida ele se vira de costas pra mim, iniciando seu banho.
Minha deusa kunoichi interior está querendo se aproveitar da grande oportunidade e bater na bunda gostosa dele, mas sei que ela também está bêbada porque esse claramente não é o melhor momento.
Depois de muito esforço, consigo sair daquele box. A dor de cabeça está tão forte agora que mal me enxugo antes de sair do banheiro e vestir a primeira blusa e short que puxei de dentro da minha mala. Sem roupas íntimas, me vesti de qualquer jeito e puxei todo o cobertor da cama para o meu lado, então me deitei em cima dele e o abracei -porque hoje provavelmente não vou poder fazer isso com o corpo de Sasuke.
E, ah, ele que se vire para conseguir um cobertor. Acabo de declarar que esse será só meu. Porque estou revoltada, só por isso.
Já estou quase pegando no sono quando sinto o barulho do roçar dos lençóis atrás de mim.
Sasuke está logo ali.
E eu posso sentir o peso de seu olhar, mas continuo quietinha, sem nem abrir meus olhos.
- Cara, você me irrita a esse ponto...
Posso ouvi-lo resmungar baixinho atrás de mim, então contenho todos os meus átomos para não estremecer quando o sinto me abraçar por trás.
A respiração quente faz cócegas nas minhas costas e sua mão grande desliza para baixo da minha blusa, cobrindo minha barriga. O outro braço está preso à minha cintura.
- Você não faz ideia do quanto esperei para ter seu carinho só pra mim... Achei que eu tinha.
Agora quero abrir os olhos, me virar e o cobrir com meus braços também. Mas não o faço, com medo de espantá-lo se souber que estou ouvindo.
- Porra, Sakura... Eu odeio gostar tanto disso.
Os braços dele tencionam ao meu redor e eu torço para que não sinta meu coração disparado.
Há pequenos raios de sol passando pelas cortinas da janela quando eu acordo. Por sorte, não estou mais com dor de cabeça.
Não sei por que acordei tão cedo, mas algo me diz que não vou conseguir dormir mais. Eu me devagar para olhar atrás de mim; Sasuke-kun continua deitado de lado, mas dessa vez está virado para o lado oposto ao meu. O lado bom é que ele parece estar dormindo bem.
Eu nego minha vontade de acordá-lo para me beijar e abraçar e deixar eu fazer carinho nele. Apenas me levanto devagar e passo no banheiro pra fazer minhas higienes, coloco roupas íntimas e novamente as roupas amarrotadas com as quais dormi.
Dou uma última olhada para o meu noivo e torço para que ele acorde sem se lembrar de Naruto-kun comigo naquela madrugada, então saio do quarto.
E falando no meu amigo... Ele está sentado à mesa, debruçado nela. Hinata-san está sentada à sua frente e a mesa do asagohan está posta com o mais básico, mas parece delicioso.
- Bom dia.
- Bom dia, Sakura-chan.
Hinata me responde com um sorriso estonteante, nem parece que bebeu na noite passada. Ela está linda, como sempre. Já Naruto-kun... estou espantada por ele estar ainda pior que eu.
- Sakura-chan... Não aguento mais vomitar. Me cura.
Balanço minha cabeça negativamente.
- Se eu soubesse como curar ressaca, já teria feito comigo também.
Ele solta um som de insatisfação e volta a deitar a cabeça na mesa. Me sento na cadeira vaga ao lado do meu amigo e pego a tigela cheia de missoshiru que estava perto de sua cabeça recaída, intocada.
- Se quer um conselho básico: coma e beba bastante água.
Digo enquanto puxo a colher dele para mim e começo a comer sua -agora minha- sopa.
Faz meia hora que eu e Hinata-san estamos escutando o Naruto-kun reclamar dos enjoos, dizendo que nunca mais vai beber desse jeito de novo, mas depois voltando atrás pra confessar que foi uma noite legal e que merece ser repetida.
Ainda bem que eu já tinha esvaziado minha tigela de missoshiru quando vi meu noivo entrar na cozinha, senão eu teria engasgado.
Sasuke-kun estava com a barra da camisa presa entre os dentes, por cinco segundos expondo o abdômen e alguns centímetros da cueca branca, olhando pra baixo enquanto amarrava as cordinhas da calça de malha cinza escuro, logo acima do...
Não, Sakura. Fique brava com ele! Fique brava com ele!
Mas eu me esqueço, por um momento, das pessoas aqui e tudo mais, não porque queria fazer coisas absolutamente obscenas com Sasuke-kun -talvez aqui mesmo, em cima dessa mesa-, mas porque o amo, e não é doido saber que é isso que torna as obscenidades tão incríveis?
Ele puxa a cadeira vazia à minha frente, ao lado de Hinata-san, mas não fala nada e nem olha pra ninguém, apenas abaixa a cabeça sobre os braços na mesa, ficando quase na mesma posição que Naruto-kun.
Eles estão acabados.
Estou com vontade de tocar os cabelos bagunçados do meu noivo, mas o mesmo levanta a cabeça assim que Hinata-san coloca uma nova tigela de missoshiru em sua frente, ele a olhar da forma que conheço ser um agradecimento silencioso e começa a comer sem rodeios -isso me deixa satisfeita.
Naruto-kun enfim percebe a nova presença e levanta a cabeça para olhar o amigo.
- Você tá com cara de quem vomitou bastante, Sasuke.
O mesmo apenas encara Naruto-kun, sem nem se importar em parar de comer pra dar uma resposta.
É... Ele não esqueceu a madrugada.
Essa definitivamente não é uma boa ideia, mas eu quero provocá-lo até que olhe pra mim. Então estendo uma perna embaixo da mesa e meus dedos tocam seu joelho. Sasuke-kun não reage.
Escorrego o pé pela extensão de sua coxa por alguns minutos, e nada. Então curso um caminho mais atrevido... Entre as coxas dele.
Uma mão firme agarra meu tornozelo por baixo da mesa, mas acima a outra continua segurando a colher. Demoro um pouquinho pra reparar que ele ainda está sem as bandagens no braço esquerdo.
Tento soltar meu pé do seu aperto, mas Sasuke-kun apenas o intensifica. Ao nosso lado, Hinata-san e Naruto-kun conversam sobre alguma coisa.
Meu noivo continua me recusando sequer um olhar.
Isso me deixa louca.
- O que acha, Sasuke?
- Não vou ficar, se é isso que quer saber.
Rapidamente tento entender qual é o assunto, mas já é tarde.
- Sakura-chan, faz ele ficar.
- Hum, desculpe... Sobre o que estão falando?
- Naruto-kun quer passar mais um dia aqui.
Hinata-san me diz, olhando para um guardanapo com o qual está brincando sobre a mesa.
Meu pé fica livre de repente e olho para meu noivo, que já está se afastando para limpar sua tigela vazia.
- Sasuke, só mais um dia?
Ele enxuga as mãos ao terminar e balança a cabeça negativamente para Naruto-kun, então sai do cômodo.
Certo. Ele realmente não olhou pra mim... Ficou mesmo tão, tão chateado?
Mordo meu lábio e me levanto, lavo minha tigela vazia na pia rapidamente.
- Vou falar com ele.
Digo para meu amigo, saindo às pressas da cozinha.
Tento ser proativa antes de confrontar Sasuke-kun, mas a verdade é que as coisas não estão diferentes nesse quesito.
Eu nunca sei o que esperar dele.
Entro em nosso quarto esperando encontrá-lo fazendo sua mala, mas, na verdade, só está deitado na cama, usando o cobertor que tomei só para mim horas atrás.
- Garotão, podemos conversar melhor agora?
Não há respostas, o que significa um não.
Escovo meus dentes e vou sem me importar, me aproximo e me junto a ele na cama. Entro sob o cobertor e o abraço pelas costas.
- Ainda está bravo?
Não obtenho qualquer reação de novo.
No fundo, no fundo... Sei que atiçar o ciúme dele usando o Naruto-kun não foi nada maduro e sensato, mas eu estava bêbada na hora e jamais tinha imaginado que Sasuke-kun com ciúmes é o equivalente a um iceberg -exatamente como um bloco de gelo de grandes proporções, que só deixa uma pequena parte de si na superfície, o resto está escondido sob água fria.
- Escuta, querido... Peço perdão por ontem. Eu te provoquei e depois discuti com você por se sentir exatamente como eu queria que se sentisse. E eu sei que não faz o mínimo sentido, mas... Não foi a intenção fazer com que ficasse tão magoado. Eu nem sequer sabia que podia ser tão possessivo.
Estou com os olhos bem abertos, esperando por alguma coisa. Qualquer coisa. Uma palavra ou movimento, mas nada vem em resposta.
Ai, meu deus... Alguém me ajuda?
- Sasuke-kun... Eu amo você. Não tem que se preocupar com o Naruto-kun, nós somos amigos. E ele está casa-
Eu soluço de susto quando algo acontece. Meu noivo se virou sobre mim e escorregou com a maior facilidade por entre meus joelhos. Então, lentamente, deitou a cabeça no meu colo, relaxando seu corpo sobre o meu. Os cabelos escuros escorregaram pelo meu pescoço.
- Eu... estou com dor de cabeça. Por favor, me deixa ficar com você por um momento. Só um pouco.
Sua voz está exaurida; essas palavras esquentam meu coração e meu corpo age automaticamente a partir daí, a fim de acolhê-lo com cada fibra das minhas estruturas. Aperto minhas coxas em sua cintura, pressiono uma das minhas mãos nas costas dele para que permaneça próximo, com a outra mão em sua cabeça, os dedos sumindo no preto intenso de seus fios de cabelo compridos assim que inicio um cafuné.
- Pode ficar o tempo que quiser, Sasuke-kun.
Estou ficando inebriada com o cheiro do cabelo dele, tanto que por fim já nem quero conversar mais. Posso ficar só sentindo-o em cima de mim, apenas sendo seu conforto e recebendo seu calor, entregando-lhe o meu. Jogo os conflitos no fundo de um baú mental e tranco tudo lá.
São raríssimas as vezes que meu noivo demonstra carência ou sequer uma pequena e humana vontade de ter em quem se apoiar. Mas agora o deixou bem claro pra mim.
Ele está aqui, comigo. É tudo o que importa nesse momento.
Um sorriso vai se fazendo em meu rosto quando penso ter encontrado uma definição mais que adequada para o meu noivo.
Sabe aqueles gatinhos zangados, mas que quando gostam de alguém, deitam no colo pra ganhar carinho e ficam ronronando?
Esse é o lado de Uchiha Sasuke que apenas eu tive o prazer de conhecer.
Acordo com a sensação de pele na pele.
O calor...
E sei bem de quem é.
Não está escuro no quarto, então quando abro meus olhos, encontro um par de olhos preto e roxo encarando-me com intenções definidas e cuidadosas.
Eu me espreguiço em baixo do corpo de Sasuke-kun, despertando mais rápido quando sinto uma mão entrar em baixo da minha blusa; eu não o impeço.
Quero seu toque.
Antes de adormecer, estava implorando silenciosamente por seu olhar, então acordei e ele estava me encarando com a honestidade que amo.
- Não está mais bravo comigo?
Pergunto, um pouco hesitante pela resposta. Mas entrelaço meus dedos atrás da cabeça dele para que continue próximo de mim.
Há um sorriso quase imperceptível sobre seus lábios.
- Sim. Estou muito bravo com você.
Minha respiração falha. A mão que estava na minha barriga antes, agora está acariciando minha bunda.
- Lá em casa, me disse que não era bom transar com você quando está bravo...
- Então você não quer?
- N-Não. Eu não consigo resistir.
- Ótimo.
Ganho um selinho e meu corpo se inclina, pedindo por mais assim que ele deixa meus lábios.
Essa tensão me excita. A sensação de perigo deixa meu corpo sensível. Os movimentos seguros de Sasuke me deixam à beira do precipício antes de qualquer coisa realmente acontecer.
Ele simplesmente abre os botões do meu short e me faz querer gemer, sabendo que está disposto a testar meu corpo e ver o quanto meu coração aguenta.
- Você usando shorts curtos... Gosto disso.
Ele sussurra enquanto desliza a mão pra dentro da peça de roupa, passa pela calcinha também. Vai diretamente nos meus lábios vaginais e provoca meu clitóris e eu abro as pernas por instindo, aceitando esse contato tão desejado. Fecho os olhos, ganhando beijos no pescoço.
- Não vamos fazer amor, não é?
- Não. Agora a gente vai foder, meu anjo.
Ele desliza a ponta de um dedo pela entrada do meu canal vaginal e levanto os quadris na mesma hora, convidando-o a entrar. Sasuke parece estar se divertindo enquanto eu perco a cabeça, sorrindo contra a curvatura do meu pescoço.
Ele sabe perfeitamente como masturbar uma mulher, como dominar uma. Isso é perturbador e delicioso ao mesmo tempo.
- Sasuke, seus dedos... Por favor.
- Não entendeu, Sakura? Eu assumo o controle dessa vez.
Essa frase é minha!
Falei isso pra ele ontem e depois coloquei um anel em seu membro. Se ele fizer algo naquele nível comigo...
Não sei se tô pronta.
- Não vou usar nenhum acessório.
Foi claramente como se ele tivesse lido meus pensamentos.
Sasuke abaixou minha blusa e o bojo do sutiã apenas o suficiente, estava com a boca no meu seio quando o vi desfazendo o laço da própria calça, penso que é para tirá-la do corpo, mas ele puxa a cordinha pra fora da costura.
Não consigo pensar em nada coerente porque tem uma mão na minha boceta e uma boca muito habilidosa no meu seio, me fazendo acreditar que orgasmos mamários realmente podem existir.
- O que... O que vai fazer?
Pergunto ofegante e ansiosa, pressionando o corpo para encontrar seu contato.
- Junte as mãos.
- O quê? Você disse que... Ai, meu deus, por favor, tira a mão da minha boceta senão não vou conseguir falar.
Posso vê-lo abrir um sorrisinho de satisfação masculina. Respiro fundo quando ele tira a mão de dentro da minha calcinha.
- Você disse que não ia usar acessórios sexuais.
- Tem algo que quero fazer.
- Que é...?
- Junte as mãos, Sakura. Você vai ver.
Hesitante, eu o faço.
Sasuke se senta em minha barriga e começa e usar a cordinha de ajuste da calça para envolver meus pulsos.
- Bondage.
Ele fala mais baixo, dando nós que não consigo acompanhar porque só o que passa pela minha cabeça agora é que preciso tê-lo dentro de mim.
Levanta meus braços e amarra a cordinha -com meus pulsos presos- no dossel da cama. Por instinto, puxo meus braços para ver se consigo soltar, mas os nós se apertam em minha pele.
- Não puxa, pode se machucar.
- Você fez isso.
- Então é bom que fique bem comportada. Vou soltar se me pedir.
Ele usa o tom de voz certo e me deixa mais segura, mas resmungo quando Sasuke se afasta de mim e há apenas uma mão em meu quadril antes de tudo virar. Dou uma volta de 190° e meu corpo cai de bruços na cama.
Eu ofego assim que ele levanta meus quadris e meus joelhos firmam na cama. Enfim acho que entendi.
- N-Não... Nem pense nisso! De jeito nenhum!
Viro a cabeça na cama e olho para o dono da arte por cima dos ombros, lançando um olhar de "não vai colocar isso na minha bunda".
- Eu não faço anal, Sakura.
E ninguém nunca vai entender o alívio que senti nesse momento, quase não foquei na curiosidade também.
Minha blusa estilhaçou em minhas costas com o puxão do meu noivo, mais uma vez me lembrando o que fiz com ele ontem.
- Espero muito que tenha mais shorts no seu apartamento.
- Por quê?
A resposta vem assim que ouço o tecido rasgando também, deixando minha pele.
O mesmo acontece com minhas roupas íntimas. Dou uma olhada rápida pra trás e vejo meu noivo tirar a camisa do corpo, com os lábios avermelhados.
Ele debruça sobre mim e seu corpo está frio quando entra em contato com o meu, quente.
Não é como costuma ser. Sasuke não está quente, ansioso e nem agarrando os lençóis.
Ele não está excitado.
Eu não consigo entender porque está fazendo tudo isso se não quer, mas eu quero tanto que aceito todos os seus toques. Ganho um beijo em cada vértebra, desde a cervical até o lombar. É como se ele estivesse acendendo fósforos e deixando-os queimar devagarinho em minha pele.
Não posso mais controlar a respiração e estico meu corpo sob o dele, pressionando a bunda em sua virilha.
- Tô pronta pra você. Sasuke... Fode comigo.
Eu peço, já quase desesperada para sentir aquilo de novo, mesmo que não faça nem 24 horas desde a última vez que o tive dessa forma.
Meu coração pula no peito quando sinto-o se mexer atrás de mim. Eu fecho os olhos e imagino Sasuke de joelhos atrás de mim agora, com a calça já bastante folgada no quadril mas precisando abaixar a cueca pra liberar a pressão e ter mobilidade suficiente.
Um gemido de surpresa me escapa quando o sinto duro no meio das minhas pernas. A mão pousa agora quente no meu lombar, e seu pau vai escorregando devagar. Me esforço para continuar com os quadris levantados a medida que ele empurrar meus músculos pélvicos e encontra seu lugar, me preenche; mordo meu lábio ao sentir alguns centímetros a mais tocando o colo do meu útero.
Aperto minhas mãos e deixo a cabeça cair entre os braços, sentindo-me incrivelmente satisfeita ao sentir o quadril do meu noivo na minha bunda.
Ele também expressa o contentamento com um suspiro gutural e rouco atrás de mim.
Eu nunca vou me esquecer da sensação de ser cuidadosamente alargada. Por ele.
- Deixaria seu amigo fazer isso?
Arregalo meus olhos ao ouvir essa pergunta.
- O quê?
Uma mão continua no meu lombar, mas a outra está segurando meus cabelos com firmeza. Ele levanta minha cabeça e se inclina. Dessa vez sinto seu tórax quente em minhas costas.
- Você deixaria?
- Não! Sasuke, não faz isso agora...
- Não paro de pensar nisso, mesmo não querendo. Tá me enlouquecendo.
Minha boca se abre quando ele dá a primeira estocada, rápida e seca, batendo no colo do meu útero de primeira.
- Isso... Isso não tem nada a ver.
- Então me mostra.
Sasuke avança de novo, dessa vez aperto os olhos com força.
- Me mostra que esse lugar pertence a mim e só a mim.
Os quadris dele batem em minha bunda pela terceira vez.
- Quero sentir isso. Sentir que é minha.
Mais uma estocada, e outra, então sem parar, me alcançando no fundo.
- Toda. Minha.
- Sa-Sasuke...
Eu não quero gemer e mostrar pra ele que isso tá me fazendo perder a cabeça, mas meu corpo treme de tanta satisfação.
- É errado... Você... está fa-fazendo isso com raiva.
Digo sem nem tentar parecer convincente. Estou tão atordoada que agora não importa quais são as intenções dele, desde que continue me proporcionando tamanho prazer.
Nossa conexão emocional está ausente agora.
- Se sente tão bem...
Nós somos egoístas. Os dois.
Sasuke está fazendo isso porque quer sentir que sou dele. Quer me marcar, como um selvagem. Me possuir.
E eu o deixo fazer porque quero que me possua. De todas as formas.
É um capricho pessoal.
Porque adoro quando ele me fode da forma que bem entende e não esconde as emoções avassaladoras.
Ninguém está fazendo porque quer demonstrar afeto intenso, carinho ou atração.
É pelo meu bel-prazer.
E estou ganhando o que quero. Quase selvagem demais para dois humanos o fazerem. Quase arrebentando os limites do meu pobre corpo luxuosamente seduzido.
Mas aguento firme, sofrendo profundamente por algum pecado que devo ter cometido em alguma vida passada e amando todo esse momento.
Afundo o rosto no colchão e sorrio contra o lençol, abafando meus gemidos no tecido. Mas Sasuke levanta minha cabeça, sem soltar meus cabelos.
- Diz pra mim.
- O quê? O quê?
- Diz que você é a minha noiva... e que só eu posso te tocar assim.
Ele solta um gemido logo após terminar de falar, demonstrando que também está perdendo as estribeiras.
E eu tenho plena consciência de que sou a responsável por isso.
Então faço um esforço maior pra conter meus gemidos por alguns segundos e dizer:
- Você é meu noivo... e só eu posso fazer você me tocar assim.
Não foi o que ele pediu, mas continua sendo uma verdade. Uma verdade ainda melhor.
Posso ouvir um sorriso nos lábios de Sasuke quanto ele diz:
- Você é demais pra mim, Haruno.
E eu ganho um tapa na bunda.
Desmorono na cama e sou colocada de quatro várias vezes.
Tenho orgasmos múltiplos e vôo direto para o céu, sonhando em escutar Sasuke dizer essa frase na cama -e fora dela- mais vezes, em breve, me chamando de Uchiha.
Acordo escutando batidas na porta do quarto, uma voz avisa que o hirugohan(昼ご飯 – almoço) está pronto.
Continuo deitada de costas na cama. Eu apenas levanto meus pulsos e sorrio de orelha a orelha, encarando a cordinha branca ainda enrolada em minha pele, mas tão frouxa que está escorregando.
Me sinto finalmente adulta, nos quesitos de sexualidade, porque, pela primeira vez, aguentei até o final. Eu não desmaiei, mas meus joelhos cederam definitivamente em certo momento, e foi quando paramos.
Ainda assim... Eu não desmaiei!
Talvez tenha dormido rapidamente quando vi Sasuke-kun me soltar do dossel da cama, mas isso já é algo.
Puxando a cordinha já solta para fora dos meus pulsos, olho para o lado e vejo o vazio.
Me levanto da cama e meu corpo cobra a conta na mesma hora.
Minha bunda dói, meus braços e pernas doem, minha coluna, e até dentro de mim está dolorido.
Eu já esperava por isso.
Massageio meu ventre sobre a pele nua, como se assim pudesse aliviar a sensação de que algo se rompeu lá dentro e a dorzinha aguda no colo do útero. Tento não cair até chegar no banheiro, seguindo o som do chuveiro.
Sem pensar, entro no box para encontrar meu noivo.
Não consigo conter um novo sorriso ao ver seus quadris avermelhados, marcando ainda mais o caminho da felicidade entre eles -que foi muito bem usado.
Ele não diz nada, com os olhos fechados enquanto enxagua os cabelos, mas sabe que estou aqui.
Eu o assisti tirar a pouca espuma branca do cabelo preto e depois olhar pra mim. Eu me aproximo, sentindo-me cheia de segurança para isso, então seguro o rosto de Sasuke-kun para lhe dar um beijo. Ele retribui na mesma hora, molhando meus lábios com os seus.
Aproveitamos cinco minutos para fazer o que menos fizemos em meio a toda aquela loucura: nos beijar. Então recompensamos a falta disso.
Não me afasto quando meu noivo volta a levantar a cabeça, deixando nossos lábios distantes. Levanto minhas sobrancelhas.
- Eu não sabia que sexo de reconciliação poderia ser tão bom.
Sasuke-kun solta um riso rouco diante da minha confissão, como se houvesse alguma piada que só ele pudesse ver.
- Uma vez você me disse que não podemos resolver tudo com sexo.
- Ah, garotão, dessa vez deu certo. Mas não significa que faremos sempre.
Ele levanta um pouco as sobrancelhas.
- Se quer que seja assim, não provoque ciúmes em mim de novo.
Agora sinto minhas bochechas esquentando, envergonhada por ter sido infantil ao fazer aquilo com ele.
- Humm...
- Sério, Sakura. Não sei como lidar com isso e odeio me sentir irracional.
Eu assinto em concordância e deixo um beijo em sua clavícula, em cima da mordida de ontem. O ombro dele treme com o contato, mostrando que o hematoma local não está ali à toa.
- Posso curar isso. O que acha?
- Não. Deixa aí.
Sasuke-kun faz um carinho em minha bochecha e depois volta sua atenção para o banho.
Saio do banheiro, com o corpo limpo e a pele fresca enrolada numa toalha. Há outra enrolada em meus cabelos molhados.
Sasuke-kun está sentado numa cadeira no canto do quarto, de costas para o espelho que está ali próximo, ignorando seu reflexo -como sempre.
Ele está enrolando a bandagem em torno da prótese do braço esquerdo, usando o direito e os dentes para padronizar as faixas e mantê-las no lugar.
É a primeira vez que o vejo fazendo isso.
Não sei exatamente por que, mas me parece um momento íntimo demais para ficar aqui olhando. Eu lhe dou privacidade e vou me vestir no banheiro, mas quando saio, ele ainda está na altura do pulso. Dessa vez não me contenho e ofereço ajuda, que é negada.
- Vai ser mais rápido se eu fizer.
- Posso fazer isso sozinho, Sakura.
Ele levanta a cabeça e lança um olhar de "tá tudo bem, obrigado" então volta sua atenção para o que faz.
Não sei se foi por provocação ou se tem mais prática nessa parte, mas a partir do pulso, ele enfaixou a mão e os dedos em um instante. Cortou o restante da bandagem com os dentes e finalizou.
Sasuke-kun deixou um beijo em minha testa ao passar por mim; e eu fiquei sorrindo enquanto o observava colocar a camisa no corpo.
Saímos juntos do quarto.
Todos já estão sentados à mesa quando chegamos, só então começo a torcer para que não tenham nos ouvido. E para nossa sorte, todos parecem mais preocupados em lidar com a ressaca do que saber quem estava transando na casa do lago dos Hyuuga.
Naruto puxa o assunto de ficar mais um dia e partir amanhã, mas Sasuke-kun me lembra da viagem com minha família e por isso preciso negar o convite do meu amigo. O lado bom é que os outros pareceram concordar em ficar mais.
Depois do almoço, conversei com meu noivo e decidimos que iríamos voltar para casa pela noite, dessa forma teríamos algumas boas horas de descanso antes de encontrar meus pais.
Então, para o dia de hoje, não venci a sua decisão definitiva de que ficaria fora do caminho.
Sasuke-kun lembrou que meu objetivo era aproveitar com meus amigos, então ele concluiu que já tinha tomado muito do meu tempo e que ficaria fora dos meus planos pelas próximas horas. Eu não vejo dessa forma, gosto de tê-lo por perto, mas não consegui convencê-lo de que não estava me atrapalhando.
Depois do almoço, Sasuke-kun decidiu que faria um esforço e dedicaria seu tempo ao único amigo dele.
Então os olhos azuis de Naruto-kun brilharam quando ouviu o amigo dizer-lhe que estava disposto a fazer absolutamente qualquer coisa que sugerisse.
Meu noivo, meu melhor amigo, Lee, Choji, Kiba e Akamaru sumiram do mapa.
Eu e o restante ficamos para aproveitar o lago atrás da casa, acompanhados de boas bebidas e conversas durante toda a tarde.
Era estranho que as coisas estivessem tão bem. Mas ainda assim... Me entrego à sensação de que tudo está entrando nos eixos.
Meus pais amorosos e sem noção finalmente vão conhecer meu noivo.
Meus amigos estão saudáveis, vivendo suas vidas e animados com meu noivado.
Até meus colegas de trabalho andam contentes por mim -Sato Akira não tem relevância alguma, então não muda nada.
Bebo mais um pouco, balançando meus pés na água.
E Sasuke-kun...
Uchiha Sasuke é um animal indomável atrás de portas fechadas, um amante que me mostrava a alma toda vez que fazia amor comigo.
Está desenvolvendo sensibilidade para lidar com nosso relacionamento e demonstrava uma incrível evolução nos momento mais inesperados. Me permitia sentir um pouco da intensidade de suas emoções nas raras ocasiões em que ficava bravo. Deitava sobre mim e pedia carinho em silêncio quando estava magoado. E me atacava com força quando eu lhe dava o concentimento para fazê-lo.
Eu sinto como se não fosse possível amar alguém mais do que eu amo ele.
- Sakura, acorda!
Um dedo estala na frente do meu nariz.
- Estamos tentando decidir a programação para sua despedida de solteira. Escuta isso, querida.
Eu pestanejo para Ino, assentindo ao conseguir dispersar os pensamentos anteriores.
Eu nem sabia que teria uma despedida de solteira.
- O Uchiha não vai gostar nada do que suas amigas estão planejando.
Shino diz inesperadamente, sentado próximo o suficiente para ouvir a discussão; e se ele falou isso, a coisa deve ser realmente preocupante.
Mas é claro que é. Minhas amigas não sabem o que são limites.
- Eu não conto se me deixarem participar.
Sai está com um sorriso ensaiado ao lado de Shino e eu ainda não sei sobre o que elas estavam falando porque estava realmente muito distraída enquanto divagava.
Ai... Tenham piedade de mim. Eu acabei de enfrentar o ciúme avassalador do meu noivo e não quero despertar as linhas assustadoras daquela emoção nele de novo.
Respiro profundamente e tomo coragem para perguntar:
- O que vocês estão pensando em fazer?
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