Martín toma um gole de mate, sentado tranquilamente em frente ao seu PC. Tendo em conta todas as coisas que vem ocorrendo ultimamente em seu país, a paz tornou-se um bem apreciado.
— A ver... Minha caixa de entrada: A ex presidenta queixando-se do atual presidente dizendo-lhe "machirulo" (*machista), o atual presidente queixando-se de que a ex presidenta o acusa "lhe obriga" a colocar mais aumentos e ajustes. Outro email de China, tentando vender-me barreteadas (*porcarias) – Uh, pero esta con 10% de descuento. – O guardo para pensar depois. Venezuela lembrando-me que lhe devo dinheiro, Venezuela dizendo que não tem papel higiênico e se eu poderia emprestar – Ah, para... ¿Un mail de Inglaterra? – Eu não recebia emails desse pajero (*idiota) desde que lhe declarei guerra em 82. Ele é tão paranóico que provavelmente me está acusando de espiá-lo com um drone no banheiro enquanto caga.
Mr. Hernández: Nos comunicamos contigo da parte da embaixada inglesa na Argentina, para notificar-lhe de que você ganhou um sorteio a nível mundial, organizado por Mr. Kirkland, melhor conhecido como United Kingdom of Great Britain and North Irland, para uma semana gratuita de estadia na ilha San Vincente e as Granadinas, país dependente do governo do Reino Unido, localizado nas Antillas menores na América Central na conhecida zona região do Caribe. O parabenizamos e esperamos uma resposta de sua parte para demonstrar que leu a mensagem.
Atte, X embaixador inglês na República Argentina.
Não pôde deixar passar uma oportunidade assim, isto era perfeito. Se espreguiçou fazendo estalar os dedos, e os apoiou sobre o teclado como se estivesse para tocar uma obra maestral no piano.
"Mister Embajador inglés: Gud Mornyng, soy Martín "El Tincho" Hernández, representación humana de la República Argentina, me dirijo de manera cordial y correcta, para decirle que eu recuso a oferta com pesar, minha agenda não me permite uma semana livre, meu povo necessita de mim o tempo todo para que eu esteja a seu serviço de maneira incansável, por eso embajador: embajame la embajada (*um trocadilho como "agarra os meus ovos), a tua velha de tanga que se vá a essa ilha del orto (*de merda) en la loma del ojete (*No olho do seu cu), vos(*Você) e tua representação mequetrefe podem irem a la concha(*vagina) de tu hermana bem puta e podem esperar sentados que eu vá até lá, prefiro tomar sêmen de cavalo e deixar que me ganhem a Mundial outra vez por Alemanha do que aceptar esta caridad asquerosa do sobrancelhas-grossas-pelotudo, beba leite francês viciado.
Saudações a sua kuin(*rainha),
Atte Martín Hernández.
Sorriu satisfeito e desvia o olhar para uma foto preto e branca, apoiada no encosto do PC. Ele se via muito mais jovem, usando roupa de época, e posava entre os braços dos dois irmãos italianos de cada um dos lados. – Das poucas coisas que eu agradeço por haver sido criado por esse salame(*idiota), é que ele me ensinou a xingar até mesmo quando estou sendo grato a alguém. Gracias por tanto Romano, perdón por tão pouco.
Logo nota o retrato de Espanha bem ao lado, e o deita contra a mesa. – Ya no sos más mi padre y madre da vez –. (Enquanto isso em Barcelona, o espanhol se contorceu sentindo um inesperado apunhalar no peito; – ¡?Puta hóstia! Mas o que havia nessa paelha!?)
Enquanto isso, de volta em Buenos Aires, o argentino se deu conta de que um novo email de casualidade acaba de chegar-lhe.
Sr. Hernández: Nos comunicamos contigo para notificar-lhe que você ganhou uma semana de estadia em San Vicente y Granadinas, gratuita com tudo pago, país localizado nas Antillas menores na América Central na conhecida zona do Caribe. O parabenizamos e esperamos uma resposta de sua parte para que saibamos que você leu a mensagem, para já estar a expectativa de sua chegada o maís rápido possível.
Atte, el embajador San Vincente y las Granadinas en la República Argentina.
— ¿¡Un viaje gratis al Caribe!? — Se levantou de supetão jogando a cadeira. — ¡Pero de una wuacho! (*homem), iria até o próprio Triângulo das Bermudas se me dissessem grátis!
Señor embajador San Vincente y las Granafinas: Buenas tardes, me dirijo de manera cordial y correcta para decirle que acepto sua amável oferta com suma emoção. Partirei hoje mesmo. Beijos, atte Martín Hernández.
Ele tinha que fazer as malas urgente! Correu descalço e em calções com estampa de solzinhos, até abrir o guarda-roupa.
¿Qué llevar? Definitivamente shorts, óculos de Sol que o fizessem parecer cool, protetor solar fator 180, (porque ainda é inverno e ele está mais branco que freira de véu) e o artigo mais importante de todos que não podia faltar: o shampoo "Tio Nacho" camomila com geleia real que deixa o cabelo mais loiro... Era seu segredo obscuro (Que já sabia metade da comunidade internacional, se bem que ele é loiro natural, mas de qualquer forma ele queria ser ainda mais loiro, ninguém sabe o porquê, supõe-se que por traumas de infância.) Sem mais delongas, entre suas arrumações se encontrou com uma surpresa que lhe deu uma ideia, mas antes ele teria que chamar Brasil e pedir-lhe permissão.
— Hola negro (*É comum os amigos se chamarem assim lá), escuta, me ocorreu um assunto muito importante, no voy a poder devolverte la sunga hoy ¿No hay problema? Bom pronto, obrigado meu neguinho lindi... ¿ah?, ¡Ele desligou! Desgraçado! — Será que o brasileiro estava ocupado vendo alguma partida? De todas as formas, a empacotou com um sorriso ladino. — Com isto eu vou me comer em todas as ilhas, por Dios, que divino vou ficar usando isto!
Uma voz de sotaque muito similar ao seu logo lhe interrompe;
— ¿A dónde vas?
Esperou que o loiro tingido desse um salto de dois metros conforme soltava um grito como se estivessem numa cancha de futebol.
— ¡Ay me assustaste boludo! — Exclamou alterado à Uruguai, este que não demonstrou um pingo de emoção, acostumado aos gritos ensurdecedores de seu irmão mais velho. — ¡Sei que sempre entras por trás, mas algum dia podrías bater, ¿No?!
Sebastián fez um gesto desinteressado com os ombros e alegou; — Chupa-me o ovo, maricón (*marica) —. Eles tinham toda a naturalidade de se falarem entre insultos como demonstração de afeto. É engraçado que os demais latinos viam o pequeno país Rio Platense como alguém educado de caráter apaziguado, quando na realidade ele era briguento, extrovertido e agia de maneira igual ao seu irmão.
Martín não lhe deu importância, e continuou dobrando sua roupa como se nada tivesse ocorrido. — Por que vieste?
— Vim cancelar-te a partida de hoje, porque tenho que ir à uma viagem de negócios no Caribe, a la Isla San Vincente. — Explicou conforme dava meia volta para marchar-se.
— ¡Espera! — O deteve com um grito. — Eu também estou indo de férias para allá, que coincidência!, ¿Vamos juntos? — O loiro sorriu-lhe exibindo os dentes brancos de forma súplica.
Sebastián pensou por um momento em silêncio, observando-o seriamente. Geralmente se davam bem e eram acostumados a fazer coisas juntos, mas quando Martín ficava entediado começava a provocá-lo dizendo que o mesmo era sua província, suportá-lo assim num bote seria um pesadelo.
— OK, vamos juntos, mas só se me prometes duas coisas... Uno: vos pagas o combustível. Dos: me tornas a foder e prometo atirar o shampoo "Tio Nacho" ao mar, ¿entendiste?
O maior engoliu sonoramente, juntando as sobrancelhas. — ¿C-como sabías que...?, gaguejou surpreendido, mas a seguir franziu o cenho, anunciando em tom sério; — No te atreverías...
— Eu sei tudo sobre vos... E sim, sabes que soy muy capaz... — Lhe interrompeu o charrua.
Logo se escutou um forte estrondo e se viu pela grande janela alguém cair do teto ao canteiro de flores no jardim. — ¡No!, ¡Minhas batatas!
Sebastián fitou perplexo a janela, — Essa não é a voz de Bolívia?
E um uivo veio acompanhado. — ¡Ayyyyy minhas costas, nde rakore (*Maldita seja)!
Martín suspirou em vez de rir alto, já ques esses eram de ofender-se fácil. — Sí Julio, por algum motivo que desconheço, se pôs a plantar coisas em meu jardim sem permissão. Acho que está pensando em conquistar o país com um empório de verduras...
Houve um silêncio estranho na sala. Sebastián sempre soube que já há uns tempos atrás seus vizinhos tendiam a passear livremente por sua casa, mas ele optava por não tocar no assunto. — E Paraguai?
O mais alto fez um gesto de quem se lembrava. — ¡Ah, sí!, está rebocando as paredes da minha casa. — Sorriu como se fosse uma prática habitual.
Sebastián o encarou de soslaio. — Suspeito que haja um humor negro xenofóbico oculto no que disseste, mas vou optar por ignorá-lo.
Justo agora Julio entrou pela janelona aberta, acompanhado de um dolorido paraguaio. — Bom, onde cabem dois, cabem quatro, vou ir guardando as caixas com minha mercadoria! — Saiu da casa apressadamente deixando para trás o paraguaio.
Daniel começou a suar nervoso. Não sabia mentir. Corou-se cerrando abruptamente os olhos e explodiu. — Deixem de me olhar fixo!
Os irmãos rioplatenses se sobresaltaram de supetão, como se um fosse o reflexo do outro.
— ¡Sí también quiero ir con ustedes!... — Baixou a cabeça timidamente, — Tengo una proposta de trabalho que não posso recusar porque me vão a pagar em euros. — Fez uma pausa estranha, dando-lhes escassos segundos para "pensá-lo". — Por cierto, alguém quer comprar um iPhone pela metade do preço dos que tem em suas casas? — Bem que o paraguaio as vezes era introvertido, jamais deixava passar uma oportunidade para aplicar seus dotes como vendedor.
Desconfiado, Martín cruzou os braços elevando uma sobrancelha. — ¿Para qué, se sempre nos vem com coisas de mala calidad? A última que te comprei foram unas simples pilhas e derramaram líquido peligroso —. Logo Sebastián lhe golpeou forte na nuca quase fazendo-lhe perder a postura.
— ¡No hables así a Daniel, es nuestro primo menor!, tem que ensinar-lhe a vender coisas boas e deixar de trapacear... Como a vez que me enganou com um "armador de cigarros" e nunca me devolveu la plata (*Grana) —, enfatizou esse último, lembrando-o sem querer.
O maior revirou os olhos em sinal de "eu avisei", contudo, foi ignorado por ambos após ver Julio à porta com caixas no solo e uma sobre cada ombro. Apesar de ser geralmente considerado baixinho demais em comparação aos rioplatenses, estava acostumado ao trabalho pesado de muita carga a distancia em planícies altas. Ninguém podia detê-lo se lhe fosse proposto, era uma formiga obreira trabalhando de Sol em Sol.
— Já podemos ir? —, perguntou jovialmente, enquanto os dois irmãos e o paraguaio se olharam ao mesmo tempo.
Já no pequeno bote de motor e vela, Sebastián maneja rapidamente em direção à ilha no horizonte. Viajar com estes três foi uma das piores decisões da sua vida.
— Isso me lembra... ¿Por qué tenés que venir a la isla? — Questionou Martín apoiado na proa, banhado em protetor solar, cegando os demais cada vez que o olhavam de tanta brancura anti-natural que irradiava sem dar-se conta.
O uruguaio tardou uns momentos em responder. —...Porque me ofereceram algumas mudas de banana para plantar —, respondeu automaticamente em tom simples.
— Ah... —, o argentino permaneceu inesperadamente calado, no entanto para a desgraça de todos, não durou. — Mas não me havias dito que eram sementes de kiwi? —, arqueou uma sobrancelha por cima dos óculos de Sol. É fato que ele sofre de uma terrível memória, pois jurava que o charrua havia lhe dito antes outra coisa.
Sebastián tossiu negando rapidamente a cabeça, notando-se-lhe o suor escorrendo pela frente.
A Daniel escapou-lhe uma risada mas disfarçou simulando um espirro. Não podia ser que Martín fosse tão ingênuo com seu irmão. Quer dizer, Uruguai nem sequer tinha o clima para plantar coisas. — ¿Julio se encuentra mejor? —, trocou de assunto acalmando os nervos de seu primo uruguaio.
— ¡¡Bagghh!! —. O boliviano anunciou presença, ainda enfiado dentro do banheiro da cabine.
— ¿Mucho mar, amigo? E depois vem encher o saco chorando por teu mar em cada reunião onde Chile está, além do mais, nem gostas de mariscos, ¿Para qué querés mar? É um sacrifício defendê-lo de quem te quer propriar. Cuidar das caralhadas de peixes para que não te roubem, cuidar das baleias porongas (*estúpidas), as amo, pero tengo que viver cuidando delas para que Japão não as cague matando para fazer sopa, esse otaku viciado em sopa de baleia e a pornô de tentáculos de Hatsune Miku —, sorriu ladinamente Martín, desfrutando do que mais amava, tomar Sol feito uma lagartixa.
Era impossível que ele não zoasse com alguém durante a viagem, se isto continuasse assim, os três fariam um complô para o lançarem pela borda do bote, e isso que nem sequer haviam se combinado entre si.
Poucas horas se passaram até que se começasse a surgir o vislumbre do local de destino.
— Chicos... Acho que vejo a ilha —, franziu o cenho o uruguaio, devido ao forte Sol caribenho.
O boliviano saiu correndo da cabine como uma bala de canhão, sobre-saltando o paraguaio que quase é esbarrado se não tivesse tido uma idéia melhor do que agarrar-se no traje de banho de Sebastián, baixando-se levemente durante o processo, deixando parcialmente a vista para um vale entre duas montanhas brancas.
O loiro de óculos arregalou o olhar surpreendido, mas o que fez logo impressionou o pobre uruguaio.
— ¡Epa!, nunca pensei que você fosse desses, travesso! — Logo tapou a sua boca ao perceber que acabara de dar um sorriso picareta segundos antes. Sua expressão se converteu em horror. — Martín agarra o timão! — Disse soltando-o violentamente, enquanto que o argentino se jogou para apanhá-lo, tentando manobrar culpa do brusco abandono de seu capitão.
Os três o viram ir rapidamente a um canto do barco e colocar-se em posição fetal titubeando contra o piso como se estivesse sofrendo algum tipo de crise nervosa.
— ¿Qué le pasa a Seba?, Tincho faça algo, ele parece mais pálido que o normal!
O maior deu um de seus seguros sorrisos ladinos. — Vos tranquilo Dani, ele se põe assim quando saca sua verdadeira personalidade na frente de alguém que não seja seu circulo mais próximo. Finge que é um moço educado, quando na verdade é pior do que a minha pessoa, França nos educou, ele já deveria ter aceito a sua real natureza, eu fiz isso e deu certo, somos degenerados, está no nosso sangue... —, encarou o uruguaio por cima de seus óculos de Sol, em desdém. — Escuta-me viadinho, não luches mais contra o que sos, está em seu sangue, supera e vida que se segue, aceita a tua natureza de uma vez.
Sebastián negava freneticamente com a cabeça. — Me transformei naquilo em que jurei destruir... Me transformei em Martín por alguns segundos, tenho nojo de mim... — No entanto, ao escutar o que lhe disse o argentino, se levantou do chão indignado. — Eu recuso a natureza! ¡No voy a ser como vos! —, Logo sacou uma colher do bolso e a pôs contra o pulso. — ¡Ésta es la prueba!
Julio arregalou os olhos assustado e correu pondo-se contra o uruguaio. — ¿¡Estás loco!? Deixa isso, además nem sequer puedes cortar-se com isso!
— Tenho facas para vender caso te interesse, Seba. — Disse o paraguaio sorrindo enquanto o argentino suspirou negando... Depois ele que era o Drama Queen.
— Já estou vendo a ilha bastante perto. — O Uruguaio retornou ao seu estado normal superando sua crise, os brilhos voltaram a rodeá-lo e ele voltou ao timão como se nada tivesse acontecido.
O boliviano se alegrou tanto como se Chile tivesse lhe devolvido o mar. — Perfeito, já não aguento mais esse enjôo! —. Apoiou-se no corrimão da proa, mas logo seu sorriso se converteu numa careta de espanto. — Espera Sebastián! Estamos indo rápido demais! —, gritou histérico.
— Me parece que... ¡¡¿?!! — Os pelos de sua nuca se eriçaram quando viu o que estava faltando. — Minha âncora! —, seus gritos foram o suficiente para inquietar até mesmo o normalmente despreocupado argentino.
Daniel, que ainda estava agarrado no corrimão no outro extremo do barco como se sua vida dependesse disto, riu nervosamente, — Eh... No porto escutei que alguém estava precisando de uma, então né... Eu vendi, ehe.
Sebastián explodiu, como só acontecia durante as torcidas de futebol, — ¡ROBASTE MI ANCLA PARAGUAYO Y LA CONCH...!
O navio se sacudiu tão forte que o boliviano saiu ejetado mais rápido que Itália provando veículo novo, e no segundo seguinte, ninguém ficou a bordo.
— ¡Ay boludoooooo, meu cabelo! ¡¡MEU CABELO!!
— ¡No... Puedo... Respirar!, ¡Saia de cima de mim! — O uruguaio lutava agitado debaixo do pesado corpo do maior, apanhando-lhe e por sua vez tratando de escapar das pequenas ondas da costa da ilha que os molhava cada vez mais, metendo areia até dentro de suas orelhas.
— E voou e eu voei dele!! — Gargalhou Daniel, pendurado no galho de um arbusto como uma roupa no varal.
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Enquanto isso, Chile caminha pela praia com uma expressão que o podia converter na representação da própria decepção em pessoa. — Uta weón, me convidou o inglês para nos escontrarmos nesta ilha para tomar chá, mas aqui não há na'! ¡Puta la wea! — Chutou furiosamente o montão de areia, sentindo que o inglês o fez de idiota. Como podia ter lhe feito isso?, depois de tanto tempo sendo bons amigos.
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— ¡¡AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHH!!
— O que foi is... — Bolívia o derrubou antes de chegar a terminar a pergunta.
— Obrigado por apanhar-me! — Sorriu de maneira cortez o boliviano enquanto se levantava, demonstrando um gesto pouco frequente, já que geralmente andava com uma cara de: "estou te julgando com o olhar", marca registrada. — Ah... Eras tú —, mudou drasticamente o tom, sem sequer fazer questão de ajudá-lo a desenterrar a cabeça afundada. — ¿Qué haces aquí?
— ¡CONCHETUMARE WEÓN! QUAL É O TEU PROBLEMA!?, — gritou raivoso o chileno sacudindo-se freneticamente a areia do cabelo com ambas as mãos. — Por que eu tive que encontrar-te justo aqui, de todos os lugares do mundo!? Será que algo pior que isso pode ocorrer neste dia!? — Se ajoelhou exageradamente com as mãos estendidas ao céu. Primeiro Inglaterra o trolla, e agora lhe acontece de estar nada mais, nada menos que com BOLIVIA EM UMA ILHA DESERTA.
Julio ficou encarando-o. — ¿Ya terminaste?. Para a tua informação, Argentina, Uruguay y Paraguay também estão aqui —, mencionou, esperando que a notícia lhe afetasse ainda mais.
O chileno fez um minuto de silêncio. Julio suspeitava que ele estava se controlando como uma panela de pressão, sobrecarregando-se com mil pensamentos por segundo. — Estás tremendo, ao que me parece? —. Podia jurar que o mesmo estava passando por algum tipo de "terremoto nervoso", mas o boliviano não podia se importar menos.
"¡No sé que chucha (*vagina) está pasando aquí! Era suposto que eu fosse ver o inglês, mas o único que estou vendo é o bolinha po, ou seja, tenho muitas perguntas e poucas respostas. Não penso em mencionar-lhe que estava indo me juntar com o Arthur se ele não me menciona o que estão fazendo aqui. Bom, se não me diz nada, lhe digo que vim procurar um investidor, ainda que me pareça que isso tudo não passe de uma brincadeira de mal gosto", pensou Manuel.
A seguir, tomou ar e tornou para recobrar a postura "magicamente", como diriam os irmãos rioplatenses. — ¿Qué haces en esta isla? — Disse ele consciente de que Julio perguntou primeiro.
— Vim por um email que veio por parte de Inglaterra. Me ofereceu instalar um verdudeiro e uma loja de roupas sem eu ter que pagar qualquer arrendamento. Então aproveitei para viajar juntos dos três, já que..., — Fez uma pausa abrupta analizando a coincidência que não havia percebido, antes de sair de Buenos Aires, —... Também receberam convites para virem a la isla San Vincente. — Concluiu estranhando.
Chile franziu o cenho. "Pode ser que seja alguma espécie de vingança ou brincadeira por parte de algum deles? Mas... ¿Y si en realidad algo más está pasando? Precisamos estar juntos para resolver o que quer que no nos aflita po, "dois dedos de frente", ou seja, se algum deles é o responsável por isso, necessito tê-lo por perto. Se não é responsável, temos que chegar a uma solução juntos. O mais importante é saber o que fazem aqui e logo tirar esse problema de cima de mim. Antes que se dem conta vão terminar contando tudo e caírem em minhas distrações. Manuel você é um gênio", sorriu inconsciente, mas sem passar despercebido pelo boliviano.
— Não respondeste minha pergunta chilote —, insistiu cruzando os braços.
Em Manuel lhe saltou uma veia no pescoço. — Quantas vezes tenho que repetir que os "chilotes" são os meus habitantes da ilha de Chiloé? Não é nem de perto um insulto, weón!
— Mas de todas as formas você ficou bravo, não ficou? — Sorriu vitorioso.
Chile não entendia o porquê de ser tão irritado pelo boliviano. Alguma vez se cansava de aborrecê-lo tanto? Ou talvez fosse seu passa-tempo favorito e o mesmo não havia notado até agora?
Um forte grunhido lhes chamou a atenção. Soava tal como o lamento de uma alma penada capaz de eriçar até mesmo os pelos do próprio Rússia.
— O que foi isso weón? Por acaso alguém está agonizando? — Exclamou Manuel, observando em todas as direções em busca da desafortunada pessoa.
Julio bufou farto, rolando os olhos. — É só Argentina. Aposto que arruinou o seu look perfeito que usaria para paquerar os moradores da ilha. Certeza que deve estar dizendo: "Xa no voy a poner facha" (*Perdi meus feromônios) — Imitou o sotaque portenho (*De Buenos Aires) argentino, jogando o seu cabelo negro para trás todo viado, fazendo a "encaradinha cortante" do Ben Stiller do filme Zoolander.
Manuel mordeu o lábio. Era demais. Ver o conservador e sério boliviano fazendo quase as mesmas poses a dos irmãos Itália quando flertavam, franziu os lábios como um pato.
— Ya, para weón, estou te pedindo... — Manuel pela primeira vez rogou por algo... Mas mais adiante se lamentaria por havê-lo feito.
Ambos olharam para a costa outra vez, aí vinha Martín "pistola" como diria Brasil, com o cabelo bagunçado de forma chamativa, discutindo com Sebastián aos gritos, enquanto que o paraguaio terminou de descer da árvore e sorridente se aproximou do chileno e o boliviano. No momento que o argentino viu o chileno, deixou de discutir e sorriu de maneira presunçosa enquanto se aproximava.
— ¡Mirá!, o mundo te tráz a mi todo el tiempo chilenito!, pelo visto deixaste tuas pajas (*masturbações) sísmicas um pouco a fim de ver-me, Joné Manuel "manuseios" González Rodríguez.
O chileno suspirou franzindo o cenho. — Eu não vim até o Caribe para discutir contigo narigudo, y no me llames por esse nome —, já arregalava as mangas para golpeá-lo.
— Por que eu não posso? Certa vez me disseste numa tarde enquanto comia tangerina abaixo de uma corticeira que não havia problema que eu dissesse contanto que fosse apenas eu que o fizesse —, se aproximou dele igual um gato agarrando-se em suas costas para sussurrar-lhe no seu ouvido. — Não se lembra? Me disseste; "Ti...Tincho, si... eres tú a chamar-me por meu nome com...completo eu não me importo" — Disse lhe imitando os gasguejos, enquanto o via pôr-se cada vez mais vermelho, dedicando-lhe uma encarada furiosa, certamente o amaldiçoando em silêncio.
O chileno se virou com tudo e agarrou-lhe o colarinho da camisa afim de intimidá-lo, ainda que não obteve muito êxito porque era mais baixo que o loiro.
— Escuta aqui loira tingida, mencionas algo dessa tarde e eu mesmo...!—, não pode terminar de falar porque foi interrompido pelo paraguaio.
— Ya, já deu, deixem a vossa homossexualidade para quando estiverem sozinhos, Martín não o faça ter tremores agora, vamos nos concentrar em encontrar alguém que nos ajude.
— ¡Que mis temblores no son por masturbación y sexo!
Todos o ignoraram, porque o argentino começou a atuar de forma estranha, soltando-se do chileno. Com o seu "pequeno" nariz, sentiu um aroma muito peculiar, muito familiar para si. Então, sem hesitar, se enfiou no meio da mata como se estivesse hipnotizado, enquanto os outros o seguiram bem atrás, tentando inutilmente detê-lo.
Sebastián cruzou os braços uns passos atrás dele. — ¿A dónde vas Tincho? Más te vale que no sea alguna boludeada (*frescurite) tuya, no estoy de humor y además no tengo fuego para prender mi... mi espírito, no droga, claro que no, jamás me drogaría... —, os demais encararam o uruguaio expondo suas verdadeiras intenções, mas deixaram quieto.
— O que estás cheirando Martín? — Perguntou Julío intrigado sem deixar de seguí-lo. Soava cômico, era como se fosse um treinador perseguindo o seu cachorro adestrado.
— Cheiro Brasil —, respondeu concentrado enquanto os outros ficaram mudos observando-lhe incrédulos. Suspiraram pensando que fosse una piada, mas ao vê-lo tão sério, começaram a se perguntar se era verdade tal absurdo.
— E que cheiro tem Brasil exatamente? — Perguntou o chileno incomodado.
— Exala a papaia recém espremida, sabão com essência leve de goiaba com caju e creme de pentear anti-frizz de marca Natura com extrato de murumuru, hoje colocou mais porque a umidade, suponho, o fez com que tivesse mais trizz que de costume —. Uns se assustaram um pouco de suas habilidades e outros se perguntaram como que ele podia ter os odores do outro com tamanha clareza.
Escolheram seguir caminhando confiando nas habilidades olfativas do sul-americano, quando de repente o paraguaio deu um grito, elevando-se amarrado por uma corda de cabeça para baixo, presa em seu tornozelo esquerdo. Havia pisado em uma armadilha.
— Não fiquem aí olhando! ¡Ayúdenme! ¡Naña kuera bájanme ápe mba'e! (*Malditos me desçam daqui!) — Gritou em sua segunda língua guaraní, o paraguaio.
— Já está falando coisas sem sentido, deve ser o delírio antes de morrer. ¿Lo sacrificamos ahora o lo dejamos un poco más? Peço a sua saída pelo mar. — Disse Julio cutucando o outro com um pau.
— Todavía no muere, además ele não tem saída pelo mar, mas eu não me importaria de expandir os meus territórios — disse o uruguaio contemplando como seu primo seguia gritando e amaldiçoando em guaraní. Não perceberam Martín se apartar para remover uns arbustos e emergir alguém, se movendo e colocando uma faca sobre seu pescoço.
— ¡Rambo!, digo... ¡Luciano! ¿Sos vos? — Disse um loiro confuso de vista direcionada ao moreno todo suado, sem camisa, com a cara pintada com camuflagem, e uma faixa em seu cabelo fazendo com que parecesse mais volumoso.
— Loira falsa, é você, qué haces aquÍ? — Se afastou de cima do mesmo, mas percebeu que o argentino não olhava para seus olhos, mas sim tinha os olhos fixos em seus músculos abdominais marcados e suados. — Meus olhos estão mais acima...
— Ya sé que están arriba, ¿te pensas que soy boludo? — Tossiu atuando como se estivesse encarando o seu rosto desde o começo. — Perdón... ¿Vos que haces acá? —, logo se interrompeu fazendo essa pergunta olhando para cima. — Che, em seguida, ¿Podes descer a Dani? Os lobos lhe estão rodeando, digo, seus primos não o estão ajudando.
O brasileiro assentiu, cortou a corda e o paraguaio despencou de cabeça logo massageando as partes doloridas quando todos se sentaram em sua volta, para descansar e se falarem mais tranquilamente.
O brasileiro sorriu alegre em vê-los e prosseguiu com um espanhol todo torto com sotaque português. — Eu vim aqui para negócios, pero meu cliente nunca apareceu, y esta isla está deserta, por ser uma de las Granadinas y no la isla principal, yo entendo porque no hay tantas pessoas aqui. — Tirou a faixa da cabeça e a sacudiu, sem se dar conta de que o argentino babava em vê-lo. — Assim que yo me vi obligado a pensar em um plan para sobreviver hasta que alguién apareciera, soy experto en eso, fui criado em amazonas, esta isla é muito gentil para lo que eu estou acostumbrado. — Se levantou guardando sua peixeira no cinturão.
— Sigamos a Brasil, parece saber lo que hace, con él estaremos a salvo —, disse um entusiasmado Daniel e todos concordaram imediatamente convencidos.
Essa era a "praia do brasileiro", seu ego subiu até chegar a altura do Cristo Redentor. Começou a caminhar quando logo pisou em uma de suas próprias armadilhas, e caiu em um poço bem fundo. Toda a confiança que havia gerado se perdeu quando escutaram um leve "Kyaaa" ao cair.
¿Sera el fin de los sudamericanos?
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