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História Os Últimos Herdeiros - Baekhyun Targaryen


Escrita por: heairtsjoy

Notas do Autor


oie, aqui é a lua. que ansiedaaaade para postar essa história, confesso que fiquei nervosa enquanto escrevia, é algo diferente do que eu já escrevi, to adorando pensar em todos os detalhes e espero que vocês também gostem... minha primeira fantasia! iupe!

no mais, obrigada a clarinha por essa capa INCRIVEL, obrigada a moniquinha pela betagem na velocidade da luz e pelos conselhos incriveis, também quero agradecer a andrezza, minha querida amiga, que leu tudinho e me incentivou com vários sprints <3 ah, também tem uma parte da escrita da linda laurinha, savannagirl, que me ajudou nas descrições no começo da história. obrigada amiga, créditos seus.

prometo tentar retornar em duas semanas, amo vocês ^^

Capítulo 2 - Baekhyun Targaryen


 

OS ÚLTIMOS HERDEIROS

capítulo um

por heairtsjoy

A campina verde cheirava a queimado, escondido entre a grama alta, completamente abaixado, Baekhyun espiava o enorme dragão preto se alimentar, podia sentir o cheiro de carne fresca torrada, e às vezes, até mesmo podia sentir o gosto em seus lábios, como se fosse ele rasgando pedaço por pedaço e engolindo com força. Em seguida, algo brilhava nos pés da enorme fera e sem medo algum, Baekhyun rastejava no chão até onde o animal estava, de repente, hipnotizado demais pelas pedras brilhantes para continuar imóvel em seu esconderijo, com uma coragem que não era sua, finalmente as tocava, eram quentes como brasa, só então as reconheceu como ovos de dragão, ainda mais deslumbrado, Baekhyun pegava um em seus braços, o ninando antes de sentir o ar quente soprar em sua nuca. Sem mover um único músculo, saindo do seu quadro de hipnose, Baekhyun não precisava olhar para saber que a fera estava atrás de si, imponente e feroz, pronta para devorá-lo. Um sussurro serpenteava em seu ouvido, a voz bela de sua mãe, o repreendendo: “Baekhyun, volte pra cama. Está tarde.” 

Todas as noites o mesmo sonho. E então, Minseok o acordava.

— Ei, moleque! Levanta! — O homem de trinta e poucos anos o sacudia, com a cara ranzinza e as mesmas vestes do dia anterior. — Você tava fazendo aquilo de novo. Anda, já devíamos estar no porto.

Baekhyun estava completamente suado. A respiração acelerada, os cabelos loiros prateados colados em sua testa e a roupa encharcada, nem precisava perguntar para saber que provavelmente estava falando enquanto dormia. Não era a primeira vez que sonhava com dragões, ou com ovos de dragão, ou com a sua mãe, contudo, a cada noite que passava, o sonho parecia ainda mais real. Baekhyun não costumava falar sobre aquilo, mas, às vezes, ainda sentia o calor em suas mãos, como naquele momento, enquanto as encarava, elas emanavam fogo, mas o próprio menino não sentia a ardência, apenas a quentura. — Eu sonhei com eles de novo, Minseok. Com aquele dragão e com a minha mãe. 

A cabine, que chamava de sua, estava mergulhada em escuridão. Ela havia sido construída para armazenar os barris de vinho de seu proprietário, porém a câmara que Baekhyun dormia tinha se mostrado úmida demais para isso. Se aquele fosse outro dia, ele teria reclamado, mas não era o caso, então, quando sentiu a umidade da madeira do piso sob os pés descalços, Baekhyun suspirou com alívio. Mesmo naquele breu, o rapaz conseguiu visualizar o comerciante revirando os olhos. — Você continua sonhando com essas besteiras porque continua pensando nisso. Levanta, vai se lavar.

— Era tão real dessa vez, Minseok. Eu toquei nos ovos de dragão nesse sonho, isso nunca tinha acontecido antes. — Se despiu, se livrando da roupa molhada, resgatou uma outra no baú perto dos pés da cama, a túnica, mesmo puída, era boa o suficiente para o ajudante de um mercador. — E minha mãe, ela sempre disse que eu era especial, eu estava em Valíria e o dragão enorme preto estava bem na minha…

— Eram histórias para dormir, garoto. — Minseok revirou os olhos, farto da mesma narrativa, apoiando um dos pés no primeiro degrau da escada que dava acesso ao convés. Baekhyun já estava vestido. — Do nobre ao miserável, todos em Lys têm sangue da Antiga Valíria e eu já vi cinquenta crianças com esse cabelo desbotado que nem o seu. Se apresse, ou vai virar ajudante de padeiro.

Quando Baekhyun subiu ao convés, bocejando, percebeu que  já estavam atracados em Volantis. Dentre outras coisas, Baekhyun era responsável por sempre amarrar a embarcação ao píer das cidades que eles estavam. Depois disso, buscava os barris de vinho branco produzidos em Lys e os carregava até o cais. Baekhyun era um rapaz magro, até um pouco ossudo, mas forte o suficiente para levar um tonel cheio de vinho nas costas — ou pelo menos era nisso que se forçava a acreditar. Minseok fazia o mesmo trabalho sem pestanejar. Os anos no mar tinham o tornado duro na queda, não seria um barril que iria derrubá-lo.

Minseok era lyseno como a sua mãe tinha sido, e compartilhava os mesmos cabelos loiro-amarelados dela, não eram tão brancos quanto os seus, mas a aparência jovial nunca denunciaria os seus trinta e quatro anos. Mesmo o franzir desgostoso de sua boca parecia mais uma implicância juvenil do que repugnância maturada. — Odeio essa cidade.

Baekhyun se permitiu rir, uma lufada de ar escapando pela boca, mas entendia o sentimento. Mesmo de madrugada, Volantis era insuportavelmente quente. Apesar da brisa beira-mar, o clima quente e úmido da cidade drenava suas forças e o fazia sentir-se sujo. Embarcações, grandes e pequenas, estavam em toda parte, lotando cais e píeres, levando carga ou descarregando-a; navios de guerra, baleeiros e galés mercantes, naus e barcos a remo, barcos de pesca, grandes barcos de pesca, canoas, navios cisne, navios de Lys, de Tyrosh e de Pentos, embarcações qartenas grandes como palácios, navios de Tolos, de Yunkai e das Basílicas. Os mercados de Lys não eram menos apinhados, Baekhyun sabia, mas ao menos não cheiravam tão mal.

Minseok era mestre de um navio mercante, e havia o acolhido depois da morte de sua mãe, era a única pessoa na qual Baekhyun confiava e era a única que escutava. Havia perdido ela quando tinha dez anos, nunca se recuperou, Baekhyun nasceu em Pentos, nunca soube a existência do seu pai, sua mãe era uma prostituta nascida em Lys, ele sempre estava andando de um lado para o outro com a mulher de cabelos loiros, de Pentos para Tyrosh, de lá para Lys, onde sua mãe faleceu de febre. Desde então, vagou sozinho pelas ruas lysenas, se esgueirando em qualquer buraco para conseguir comer, agradecido por ser bom o suficiente para ser ajudante, até Minseok encontrá-lo e oferecer uma vida mais justa. Se ele trabalhasse, teria um teto para dormir e roupas para vestir, e aquilo era muito mais do que os pobres garotos que nasciam de putas conquistavam nas cidades livres.

Havia se mudado para Volantis, juntamente com Minseok, onde a venda de mercadorias era, de fato, gloriosa. Entretanto, Baekhyun não tinha propósitos na vida, vivia um dia após o outro para sobreviver, sem saber exatamente o porquê continuar, mas seguindo seu destino com passos curtos. E tinha aqueles sonhos. Todas as noites, Baekhyun sonhava com um dragão preto, grande nos céus e ainda mais poderoso na terra, sonhava com sua mãe sussurrando em seus ouvidos, recordava as histórias incríveis que ela contava para si quando era pequeno, na hora de dormir, sobre dragões, a dinastia Targaryen e como eles morreram, ela sempre dizia que seus olhos violetas eram bonitos, segredava o quanto Baekhyun era especial, e ela costumava dizer que ele tinha sangue de dragão. 

No leito de morte, ela reforçou, em um abraço apertado e sussurros, que Baekhyun tinha sangue Targaryen em suas veias, mesmo que o menino não soubesse o que aquilo significava. Ultimamente, não conseguia mais separar a realidade da fantasia. Aqueles sonhos e vislumbres de um passado que não parecia ser seu. Algo lá dentro queimava, como fogo, insistindo que aqueles devaneios, afinal, não eram apenas ilusões. Baekhyun agora, já tinha quatorze, tentava arduamente não pensar muito sobre o assunto, mas sempre acabava perdido nas próprias lembranças, sem saber o que desejava, sem ter a mínima ideia do porquê sonhava com a mesma criatura todas as noites e se questionando dia após dia, o porquê sua mãe insistia tanto naquele nome. 

Targaryen. 

A única coisa que sabia sobre eles, era sobre a rainha dragão. Aquela que havia sido morta quando Baekhyun ainda era criança. Antes dela, vários morreram também. E sabia que eles tinham magia, e que o último dragão, ainda estava vivo, vagando sozinho pelo mundo. 

— Se deixar cair isso, não vai ter seu desjejum! — Minseok o repreendeu, quando Baekhyun quase esbarrou em um ferreiro. — Pare de sonhar, criança.

Baekhyun suspirou, quase revirando os olhos, queria retrucar e dizer que não era mais uma criança, mas não o fez, não gostaria de ganhar um tapa no pé da orelha logo ao raiar do sol. O barril tinha como destino a Casa do Mercador, uma pousada não muito longe das docas, Baekhyun era quem carregava o peso de um lado para o outro, apenas seguindo Minseok, não demoraram a chegar e como recompensa por não tropeçar durante o caminho, realizava seu desjejum encostado no balcão de cervejas, sem obstruir a passagem, mas ainda estava ao alcance dos olhos de Minseok, enquanto ele negociava a mercadoria. O mingau rosa, feito de beterrabas doces cultivadas nas redondezas, que eram servidas em quase todas as refeições, adoçado feito mel, era um pouco demais para o gosto de Baekhyun, mas não estava em posição de reclamar, por isso ignorava suas preferências, prestando atenção na conversa dos outros para esquecer que simplesmente não tinha escolha. 

Naquele horário, não havia quase homem algum na estalagem, apenas alguns bêbados arruinados que não foram para casa, mercadores e marinheiros, três em especial, chamaram sua atenção. Eles bebiam cerveja barata aquela hora da manhã, fediam como porcos, mas suas palavras fisgaram Baekhyun como uma criança curiosa. 

— Estou dizendo! Meu irmão disse que viu o desgraçado sobrevoar o navio dele! Era enorme, cobria todo o céu e todos se esconderam para não serem mortos! 

— Seu irmão é um mentiroso filho da puta. Um dragão? No mar? — o marinheiro gordo caçoava, como se aquilo fosse uma piada.

— Ele tem razão — o marinheiro que até outrora estava calado, um tanto ranzinza e com o nariz quebrado também se pronunciou. — Ouvi falar sobre os rugidos além do Mar Fumegante, nenhuma embarcação se atreve a ir até lá, dizem que o último dragão vivo tomou aquelas terras, perto da Antiga Valíria. 

Os pés andaram antes que Baekhyun pensasse coerentemente, e se esgueirando, já estava na frente deles, tentando pescar qualquer certeza. — É verdade? O dragão? Vocês já o viram?

O marinheiro ranzinza sorriu de maneira engraçada, sem a maioria dos dentes na boca. — É claro que não, garoto. Ninguém nunca viu um dragão e ficou vivo para contar a história… — Ele se aproximou, sussurrando como se fosse um segredo. — Mas se quer saber, todos os marinheiros dizem que se você for até o grande Mar Fumegante, você consegue escutar os gritos dele durante a noite, sons horríveis de um verdadeiro monstro. 

Baekhyun ficou paralisado no mesmo lugar, se perguntando se aquilo era verdade, se aquele dragão que aterrorizava vilarejos e assombrava seus sonhos noite após noite, estava mesmo tão perto, há apenas alguns dias de viagem.

— Ei, garoto! Vamos embora! — Minseok colou a mão em sua nuca, afastando Baekhyun dos marinheiros bêbados, e andando em direção à saída.

— Ei, mercador! Não navegue longe da costa de Volantis — o marinheiro avisou alto, uma última vez, e Minseok agradeceu com um aceno, revirando os olhos em seguida, enquanto puxava Baekhyun para as vielas, o soltando.

— Você não deveria dar ouvidos a essas baboseiras, Baekhyun. Está perdendo seu tempo escutando histórias de meros pescadores. 

— Eles eram marinheiros…

— Tanto faz, há muito trabalho a ser feito. Anda, garoto, ainda precisamos entregar uns vinte iguais àquele — Minseok exclamou, partindo entre a multidão, pois o mercado agora estava mais cheio, com o sol imponente lá fora. A cidade estava finalmente acordada. Baekhyun esqueceu a história durante o dia, com tantos barris de vinho para carregar e algumas entregas para fazer, não tinha tempo para ouvir as ideias de sua cabeça, mas a noite, lá estava ele mais uma vez, sonhando o mesmo sonho.

Perseguido pelo desejo de saber mais, Baekhyun se tornava mais curioso ao passar dos dias, os sonhos ainda estavam lá, os rumores sobre o dragão também, da última vez que ouviu, disseram que ele estava perto de Essos. Tudo foi decidido após mais um sonho, este, diferente dos que costumava ter. Era menino e assim como todos os seus sonhos, Baekhyun podia sentir o calor do afago de sua mãe em suas bochechas, estava deitado nas pernas dela, aconchegado enquanto ela cantava, o sono ganhava espaço em suas pálpebras, deixando-as pesadas como areia, dormiria sereno, mas não sem antes ouvi-lá: “Você tem sangue de dragão, Baekhyun. É verdade. Seu pai era um dragão puro e ele tinha os olhos violetas, como você, meu doce menino. Durma. Você precisa acordar cedo amanhã.”

Despertou com a respiração acelerada, as bochechas molhadas com lágrimas que vazavam por seus olhos, ainda conseguia sentir o calor em seu rosto, nunca nada em seu mundo pareceu tão real. Não pensou coerentemente e nem deixou espaço para as dúvidas o perseguirem, certo da sensação que sentia todas as noites, apegado à memória de sua mãe e das palavras tão convictas, Baekhyun partiu ainda na hora do lobo, roubou algumas moedas de Minseok - esperava que ele não o matasse por isso -, enquanto ele dormia, uma pequena garrafa de água e uma túnica mais grossa, e seguiu pelas estradas do império, tendo como destino a Antiga Valíria, uma moeda foi o suficiente para pagar sua ida nos famosos elefantes de Volantis, deixando o cais e o navio mercante que passou os últimos seis anos, para trás. Precisava vê-lo com seus próprios olhos. O último dragão vivo, Drogon. Nem sabia de onde havia tirado aquele nome. De algum sonho, com certeza.

Baekhyun não sabia há quanto tempo andava. Já havia deixado Volantis para trás há muito tempo, com vários dias de viagem, estava em Essos, vagando de maneira solitária, perdido entre a campina, procurando pelo ser mitológico que todos diziam ver, mas ninguém sabia apontar decerto onde ele estava. Havia deixado tudo para trás há mais de vinte e cinco dias, dormindo em estalagens porcas e algumas vezes, até mesmo nas ruas, as poucas moedas que roubara haviam pagado por sua locomoção e pela comida que havia acabado há dois dias, seus pés vagavam sozinhos em frente, sua visão turva o deixava ainda mais tonto, a garganta seca não via uma gota de água há horas. Foi taxado como louco quando decidiu pegar os caminhos antigos sozinho, o marinheiro avisando que não voltaria para procurá-lo, ele não precisaria, foi o que Baekhyun respondeu. Não possuía mais a mesma certeza. De qualquer forma, estaria morto até que o encontrassem. 

Estava caminhando há tanto tempo, que não se recordava do começo, não possuía uma alma viva há quilômetros, estava escurecendo, o horizonte sendo tomado pelo breu, a barriga doía de fome e os lábios já estavam quase rachados pela secura, quando suas pernas falharam. Caiu no meio da grama alta e verde, ela era tão macia quanto o colchão da sua cabine do navio de Minseok, naquele momento, enquanto não tinha forças nem mesmo para virar de barriga para cima, Baekhyun desejou nunca ter ido embora. Desejou não sonhar mais; desejou ver Minseok novamente; desejou estar na segurança do colo e do carinho de sua mãe mais uma vez, e em seguida, apagou, absolutamente certo de que aquele era seu fim. 

Os olhos se abriram de maneira lenta, os ouvidos foram os primeiros a captar o som alto, diferente e eletrizante, rugidos, que entregavam sofrimento, mas que também entregavam esperança. Os primeiros raios de sol brilhavam contra seu cabelo prateado, cegando sua vista por um tempo indeterminado, até que Baekhyun se acostumasse com eles. O despertar o tomou com convicção, suas pernas finalmente se sustentaram em pé, a dor não existia mais, mesmo que precisasse rastejar, Baekhyun continuava hipnotizado pelo barulho ensurdecedor que enchia seus tímpanos, precisava ver, precisava descobrir de onde vinha. Com uma força que certamente não era sua, voltou a caminhar, um passo após o outro, até que o som estivesse cada vez mais alto e Baekhyun cada vez mais deslumbrado, quando o viu, se perguntou se ainda estava sonhando.

Ele era igual aos seus sonhos, grande, imponente e bonito. Deixou que seus pés o guiassem para a morte certa, quando passou pelo rabo gigantesco, o dragão ainda não o vira, mas fora apenas questão de segundos até que a fera estivesse com os olhos em si, o analisando, talvez decidindo se o queimaria ardentemente, ou simplesmente o levaria rasgando seu corpo como fizera com os animais já desfalecidos ao chão. Mesmo assim, Baekhyun prosseguiu, sujo de fuligem, de poeira, faminto, mas ainda deslumbrado, provavelmente, ninguém nunca havia chegado tão perto daquele ser mitológico como ele estava fazendo naquele momento, e se a consequência fosse a morte, a aceitaria de bom grado. Se ajoelhou aos pés da grande fera, engolindo em seco quando o dragão levantou seu longo pescoço e se aproximou, fechou os olhos, não porque tinha medo, mas sim porque aceitava seu destino. Pensou em Minseok, pensou em sua mãe e no gosto saboroso de uma torta de maçã que só comera uma vez na vida, e esperou. Esperou o fogo consumir seus ossos, esperou se tornar cinzas, esperou o sangue começar a jorrar aos seus pés e o grito de dor irromper de seus lábios, porém, eles não vieram. 

O dragão não o atacou. Quando Baekhyun abriu os olhos novamente, ele o cheirava, tão próximo que podia sentir a quentura saindo pelas narinas, e mais do que deslumbrado, Baekhyun olhou nos olhos dele, vermelhos como as escamas, bonitos como uma pedra preciosa, se perdeu neles, perdeu a contagem do tempo e não soube dizer quantos minutos o dragão o rodeou, cheirando, batendo com o nariz em seu corpo, deslizando o rabo por seus pés, quando se deu conta, o dragão relaxou, deitando na grama queimada e Baekhyun piscou atônito, sem conseguir acreditar que ainda estava vivo. — Drogon… — sussurrou, e viu o olhar dele recair sob si, era mesmo o nome dele afinal. — Você é o meu destino — completou, um tanto inseguro quando se aproximou. — Posso tocar em você? — continuou animado, mas quando se atreveu a erguer a mão para incliná-la até o corpo rochoso, o dragão protestou com um rosnado. — Tudo bem, tudo bem…

Estava indo rápido demais. Suspirou, sentando de volta na campina queimada, se perguntando o que faria em seguida, seu único objetivo era ver o dragão em carne e osso, nunca pensou no que faria após aquilo, então decidiu esperar, como se, magicamente, o dragão fosse fazer algo que mudasse sua vida. Quando percebeu que aquilo não aconteceria, se ergueu, decidido a procurar algo para comer ou água para beber, o dragão apenas o encarou; Baekhyun não representava ameaça, afinal. Não muito longe do local onde encontrara Drogon, achou um lago onde praticamente enfiou a cabeça dentro da água, extasiado e desidratado, devia ter imaginado que o animal não viveria em um local no qual não pudesse sobreviver. Procurou frutas ou qualquer outra coisa comestível, mas não obteve muito sucesso, além de saborear apenas alguns figos secos, se surpreendeu ao notar a presença do dragão ao seu lado enquanto se banhava no lago, não sabia como se comunicar e não sabia se ele entenderia, mas tentou, dia após dia, falando sua língua materna, valiriano.

O dragão o ignorava na maioria das vezes, mas havia poucos momentos, que ele realmente o seguia, como no dia que mandou ele parar de rugir durante a noite, e magicamente, ele parou. Baekhyun se convenceu de que ele conseguia o entender - mesmo que aquilo não fizesse sentido - e que decidia o ignorar na maioria das vezes. Ele não era uma criatura irracional como um elefante, disso Baekhyun tinha certeza. Era um ser muito mais complexo e muito mais belo. O primeiro voo foi um verdadeiro espanto para o inexperiente montador, quase não tocava em Drogon, e quando ele o permitia fazê-lo, eram míseros minutos onde acariciava o corpo rochoso e sentia a força dele nas mãos, mas naquele dia, o dragão parecia ter certeza do que deveriam fazer. E ele não era paciente, Baekhyun nunca havia tentado, porque achou que ele nunca permitiria, mas quando o dragão abaixou a cabeça aos seus pés, o garoto se viu tendo a coragem necessária para fazer a maior loucura de sua vida, subir nas costas da fera e torcer para não cair. 

Nada na vida havia o preparado para o primeiro voo, e o próprio Baekhyun não sabia como havia sobrevivido. Se agarrou como uma criança nos espinhos do dragão, apertou as pernas e se segurou com toda a força que tinha, escondendo a cabeça contra a pele quente para não sentir o ar cortando seus ouvidos, quando finalmente estavam acima das nuvens, Baekhyun abriu os olhos e se apaixonou pela visão. Voar era a melhor coisa do mundo. O dragão planava nos céus, e Baekhyun, pela primeira vez na vida, sentia que fazia parte de algo, olhando a vasta imensidão do céu com as nuvens abaixo dos seus pés, decidiu que viveria a vida que escolheu para si, e se Drogon havia o aceitado, era porque todos os seus sonhos eram reais, Baekhyun tinha mesmo sangue de dragão. Não precisava mais ter dúvidas, a certeza estava lá, em seu sangue e mesmo que não fosse permitido dizer, em seu sobrenome e sua bastardia segredada.

Baekhyun pensou que nunca sairia daquela caverna na qual se escondeu por meses, mas depois do seu primeiro voo juntos, os dois meio que aprenderam a se entender. Ainda era ignorado na grande parte das vezes, contudo, ele o ouvia. Eles acharam um propósito entre as nuvens e o céu azulado, voando juntos durante longas horas diariamente. Isso não queria dizer que Baekhyun conseguia controlar o dragão, na verdade, ele era bem relutante em obedecer, mas digamos que eles faziam bem mais do que apenas voar sem rumo certo.

Muito bem, Drogon. Muito bem… — repetia enquanto afagava o enorme dragão, pois compartilhavam de uma necessidade mútua por contato, inclinou sua cabeça até ele e a encostou no longo pescoço, sentindo a força da respiração alheia alcançá-lo, e se conseguisse se concentrar, podia sentir o calor emanar até seu rosto. Drogon também se inclinava em resposta, a pele escamosa encostou na testa e rosto do garoto, quente como um vulcão.

Eles haviam criado um jeito só deles de se comunicar e usufruir do que precisavam juntos, justamente por isso, Minseok recolhia o peso deles em ouro dos nobres de Pentos que pagavam mais do que tinham para ver um dragão voar juntamente com seu montador. Acariciou o longo dorso mais uma vez, antes de se afastar para deixá-lo alcançar voo sozinho e, provavelmente, se alimentar das várias ovelhas dadas como presente pelos grandes senhores. Não costumava se preocupar com a alimentação de Drogon, mas sabia que ele estava ficando entediado nos últimos tempos, com o tempo, aprendeu a ler o som dos rugidos, o jeito que ele se movia, quando estava incomodado com algo ou pressentindo o perigo eminente. Ele adorava caçar a própria presa, tê-las ao seu dispor a qualquer momento não o agradava, não o julgava, também não se acostumara com a nova vida adquirida. Anotou mentalmente que deveria levá-lo para a mata nos próximos dias. Só eles dois, acampando a relento, como nos velhos tempos.

— Vamos passar a noite? — perguntou a Minseok, que recolhia e ficava com todo o ouro. “Você é novo demais pra guardar tanto dinheiro, moleque”, era o que ele havia dito da primeira vez que receberam o pagamento por sua presença. Na verdade, não era pela sua, porque era insignificante, todos queriam ver o dragão e o ajudante de mercador que o montava, não era interessante o bastante para chamar atenção. De qualquer forma, não se incomodava, era melhor que o dinheiro estivesse bem guardado com Minseok, tendo em vista que Baekhyun nunca aprendera a ler ou escrever, e o pouco que sabia contar, apenas lhe servia para comparar se as comidas do porto eram caras ou baratas. E também, o mercador de navios nunca havia negado nada desde que a sorte tinha sorrido para eles dois. 

Minseok nunca se esqueceria do momento que olhou para o céu escuro, horrorizado, a grande besta nunca havia se aproximado do porto ou de qualquer outro contingente de terras que estivesse habitado. Minseok nem acreditava que ele podia ser real. Marinheiros fugiram, tentando inutilmente acordar a tripulação, a grande cidade ainda dormia, poucos haviam ouvido o som dos rugidos ao longe, mas para homens do mar, o som de bestas era sempre irreconhecível. Acordou seus próprios homens e já recolhiam a âncora quando o chão e o mar tremeram, assim que o enorme dragão pousou perto do cais, estraçalhando tendas e mercadorias em suas grandes patas. Muitos correram para dentro das casas, outros se atiraram no mar, mas Minseok se manteve imóvel, ao notar que um menino montava as costas da rara criatura. O seu menino de cabelos prateados. Baekhyun, o moleque que havia adotado e criado como seu próprio filho, descia da enorme fera, que parecia ajudá-lo, se curvando até que os pés dele alcançassem o chão batido. Foi a única vez que lágrimas brotaram de seu rosto na frente de Baekhyun, ele tinha partido há meio ano e o mercador acreditava fielmente que ele estava morto. Lágrimas de alívio, de esperança e de medo.

Desde então, não o deixava voar para longe. — Não, vamos para uma estalagem na cidade, não é seguro aqui. 

Baekhyun raramente discordava, mas conforme os dias de seu nome chegavam ano após ano, ele se parecia cada vez mais com um homem, mais robusto e menos franzino do que quando o conhecera. E com muito mais a dizer. — Temos que esperá-lo. — Apontou para o dragão, que despejava fogo vivo em uma dúzia de ovelhas, para em seguida, comê-las enquanto ainda gritavam. 

— Está anoitecendo.

— Não vou sem ele. 

Minseok suspirou, frustrado, sabia que de nada adiantaria tentar convencê-lo do contrário. Baekhyun passava dias aninhado com o animal, às vezes sumia por noites, desbravando matas e ilhas, no dorso da besta. Era como se eles fossem um só. — Wilber, Piper, vão na frente e paguem por dois quartos. — Deu quatro moedas de ouro para os dois ajudantes, que os seguiam para cima e para baixo. Desde que reivindicara o dragão, Baekhyun não mantinha ocupação alguma, sempre entretido em voar ou garantir ouro, mesmo que a idade avançasse, ele continuava ingênuo demais, tolo sobre o poder que tinha em mãos. — Ele pode nos seguir por si próprio, você sabe. Ele sente o seu cheiro a quilômetros.

Baekhyun sorriu, era verdade. Certa vez navegou com Minseok de uma cidade para outra, e Drogon havia se ausentado por dias para caçar, não podia ir junto porque havia torcido o pé e também não podiam esperar por mais tempo, então partiram. Na manhã seguinte, ele sobrevoava o navio, o cobrindo por inteiro, as longas asas formavam sombra acima de suas cabeças, ficou tão feliz que fez Minseok atracar na ilha mais próxima. Não conhecia nada sobre dragões, ou sobre a linhagem de seu pai, contudo, passara a prestar mais atenção nas histórias. Toda vez que chegava em uma nova cidade e os rumores de que era ele que montava o dragão se espalhavam, homens e mulheres o rodeavam, sempre querendo algo, e em raras vezes, compartilhando lendas já esquecidas. Diziam que os dragões nasceram de um vulcão, outros diziam que a própria mãe dos dragões os pariu, os escolhendo no lugar do filho, não acreditava na maioria, mas uma senhora de meia-idade, havia dito que eles eram pedras e de uma noite para outra, estavam vivos. Era fascinado por todos os pequenos contos e os ouvia com atenção. 

De nada havia mudado, ainda vestia roupas simplórias, mas pelo menos elas não tinham rasgos e eram de seu tamanho, não era tratado com decoro, e também nunca havia exigido tal tratamento, sabia qual era o seu lugar. E a ligação que tinha com Drogon ia muito além de riquezas, estava satisfeito apenas por não passar fome e poder voar a qualquer momento do dia. Minseok era quem tinha medo. Um dragão é sinônimo de poder, ele dizia. E homens almejam poder. Não era inocente como o homem mais velho pensava, Baekhyun sabia que seu feito era invejado por muitos, entretanto, estava satisfeito enquanto vivia daquela maneira, voando de cidade em cidade, sonhando com ovos de dragão, sem ter obrigações rotineiras, era como um sonho. Que em pouco tempo, tornou-se pesadelo. Drogon demorou a querer alcançar voo até o porto, e depois de horas, os seguiu até a cidade, pousando no rochedo de montanhas mais próximo, se aninhando ao amontoado de rochas. Só de tê-lo por perto, Baekhyun se sentia menos ansioso. 

Pararam em algumas tavernas para beberem cerveja, o calor era intenso até de noite, a túnica grudava em suas costas e gotículas de suor se acumulavam em sua testa, Minseok nunca o deixava beber mais do que duas canecas, ele ainda era um garoto, ele dizia. Perderam a hora, chegando a estalagem na hora da coruja, antes do amanhecer, para encontrarem os dois serventes mortos em suas camas, as gargantas haviam sido cortadas e quem havia feito o serviço havia deixado claro que eles não eram o alvo. O baú com várias especiarias havia sido levado e o assassino também havia invadido o segundo quarto alugado, o que Baekhyun e Minseok deveriam estar. A hora do lobo aproximou-se e com ela, o borrão de ver dois amigos mais novos do que si, mortos. Costumava contar histórias assustadoras para Wilber e Piper, invenções em sua grande maioria, também costumavam sorrir juntos muitas vezes, Minseok pagou alguém para limpar o local e retirar os corpos, levá-los de volta para o navio e depois de volta para Myr, de onde vieram. Os olhos de Baekhyun estavam vermelhos de tanto chorar, as bochechas continham pequenos arranhões vermelhos de tanto esfregar a palma da mão para limpar a água salgada que nunca cessava. 

Antes do amanhecer, quando chegaram à porta do navio mercante, encontraram com homens de armadura, couraça de bronze e o símbolo de Meereen. Eram cinco ao todo. Pela primeira vez, sentiu medo, mas Minseok foi quem deu a primeira palavra. Forte e corajoso. — Foram vocês os desgraçados que mataram meus dois bons garotos? 

Os homens não pareciam temer a ira da tripulação ou mesmo o tom de ameaça do mercador, eles pareciam intocáveis, claramente, soldados treinados, mesmo rodeados de marinheiros enfurecidos, eles nem mesmo tremiam. — Não, viemos em paz, quando ouvi os rumores das ameaças, temi que chegasse tarde demais. É a primeira vez que enfrentam a morte?

— Não. Quem são vocês? O que querem? — Baekhyun, pela primeira vez, disse algo, encontrou voz na garganta seca, mas sua cabeça doía, latejando mais a cada segundo. Ao longe, escutou um rugido estrondoso, era como se Drogon pudesse sentir sua tristeza, sua raiva e farejar seu medo, ele logo estaria lá, sabia disso. Instintivamente pensou na própria mãe.

— Podemos falar lá dentro? — o homem alto com cabelos castanhos na altura da orelha pediu, muito mais a Minseok do que a Baekhyun, talvez porque ele soubesse que o garoto era só um garoto, e que o mercante era, na verdade, quem o guiava nas linhas da vida. Eles entregaram as armas e se propuseram a estar à mercê da tripulação, os acompanhou a contragosto, com um pressentimento estranho em seu peito, odiava estranhos. — Estamos aqui por você, garoto. Eu sou Daario Naharis, governante de Meereen, nomeado pela antiga Rainha Daenerys Targaryen, eu sei que você monta o dragão e sei que encara essa benção de maneira trivial. Você não pode se proteger, não aqui. Não vagando pelas cidades livres.

Baekhyun semicerrou os olhos, ainda com o ardor no peito pela morte de seus amigos, e daquela sensação que não ia embora. De que tinha culpa. — Eu tenho um dragão. 

— E ele não pode protegê-lo. Não se você estiver em sua cama dormindo e for pego de surpresa. Em Meereen você poderá viver dentro da fortaleza, guardas assegurarão sua proteção, Drogon já esteve lá antes, era a casa dele — Daario explicava, como se o conhecesse há muito tempo, como se cada palavra houvesse sido milimetricamente pensada antes de deixar seus lábios. — Poderá ter um quarto digno de seu sangue, com vestes de ouro e tudo que desejar. 

— E por que vocês ofereceriam proteção a um estranho? — foi Minseok que perguntou, sempre desconfiado, mas havia algo na expressão taciturna dele que incomodava o montador de dragão. Além da voz baixa. — Vocês mal o conhecem. De que vale abrir as portas para um desconhecido?

O governante de Meereen ficou quieto pelo que pareceu ser uma eternidade, seu olhar de repente se tornou vazio, sua boca se fechou em uma linha reta e ele voltou a encarar Baekhyun de um jeito estranho. Admirável. — Não conseguiria viver sabendo que não tentei protegê-lo. Eu falhei em meu dever, falhei com a minha Rainha, ela se foi, mas você está aqui, mesmo que não possamos afirmar seu parentesco, você é como ela. O dragão não teria te aceitado se não fosse.

— Eu não sou ela. — Baekhyun subitamente se sentiu furioso, com as insinuações, com a comparação e com as palavras, ele achava que podia comprá-lo? Oferecer peças da melhor seda, uma jaula de ouro e estaria feito? Não. Baekhyun almejava a liberdade, acima de tudo. — Não vou a lugar algum.

Antes que pudesse se levantar, no entanto, o soldado, que estava quieto desde que chegara, se fez presente. Mais tarde, descobriria que o nome dele era Verme Cinza. — Não pode proteger ninguém, nem a si mesmo, nem ao seu tutor — ele apontou com a cabeça para Minseok, e Baekhyun desejou que ele não percebesse que tinha prendido a respiração. Nem em seus maiores pesadelos gostaria de imaginar como seria perder Minseok. Tinha voltado por ele, porque ele era a única pessoa viva que importava. Era sua família. — Você não sabe nada sobre dragões, nada sobre sua bastardia, nem mesmo sabe comandar seu dragão, como pretende sobreviver? Eles vão vir te matar, um após o outro, até que consigam. 

O choro perdeu-se em sua garganta, Baekhyun segurava suas próprias lágrimas, Minseok ao seu lado, estava estranhamente quieto, não era agradável. — Deixe que venham — ouviu sua própria voz ecoar, determinado, mas com resquícios de fraqueza, simplesmente porque não havia como esconder o quanto estava assustado. — Vou queimá-los vivos.

— Sabe como ele nasceu? — Verme Cinza também tinha um olhar perdido, era o tipo de pessoa que sabia muito sobre a dor e pouco sobre felicidade, não precisava olhar para ele duas vezes para perceber. A pergunta tomou a curiosidade de Baekhyun, era sempre instigado por aquela característica de sua personalidade, foi tomado pela sensação de que queria saber. Então acenou de maneira negativa, permitindo que ele continuasse. — Daenerys os chocou em seus próprios braços, eram três ovos de pedra, ela entrou numa pira de fogo, e quando o sol nasceu, ela tinha três dragões. 

Baekhyun suspirou, maravilhado, gostaria de poder ter visto. Era mágico, não tinha como não ser, pensou. — Onde estão os outros? 

— Mortos, como ela. — O soldado desviou o olhar, procurando no chão sujo do navio, coragem para continuar. — Ele é o único que sobreviveu e ainda assim, ele te escolheu. Em Meereen, você aprenderá a ler, você poderá ler histórias antigas sobre os dragões, sobre como eles vieram da Antiga Valíria e sobre sua casa, Targaryen. Você deve honrar seus antepassados e seu compromisso por reivindicá-lo.

Desde o princípio, desde quando era menino, as histórias de dragões eram adoradas por si. Os sonhos nunca haviam parado, mesmo depois de Drogon, Baekhyun ainda sonhava, perdido entre o passado e o presente, ele sempre desejou saber mais. Descobrir o que era real e o que não era. — Meu único antepassado é a minha mãe e ela era uma prostituta. — Mesmo que sua mente desejasse a qualquer custo ceder aos instintos da curiosidade, Baekhyun levantou-se, virando as costas para os visitantes e saindo da pequena saleta do navio, que nada se parecia com uma, cheia de barris amontoados e fedendo a mofo, percebeu que estava enjoado. Sentia que, de alguma forma, estava renegando algo precioso, e cego pelo desejo de se esconder, caminhou a passos largos para fora, para o cais, onde seu dragão o esperava, impaciente. Ele não havia recusado, nem dito sim. A indecisão o perseguia, e parecia combinar com ele.

A destreza na qual subiu no dragão denunciava a conexão e familiaridade que tinham. Drogon rugiu alto e ameaçador, quando os recém-chegados tentaram se aproximar, ou sair do navio mercante, mas com apenas um puxão nos espinhos no qual se apoiava, Baekhyun o afastou, manifestando a vontade de alcançar voo, sendo obedecido imediatamente. Precisava respirar de novo. Voar para longe. Até que a dor em seu peito parasse. 

No navio, Minseok não deixou que os visitantes fossem embora, porque ele sabia que Baekhyun voltaria. Desde o momento que o olhara de relance, respondendo os grandes homens com firmeza, sentiu orgulho, sempre tinha orgulho do que ele se tornara, entretanto, também conhecia cada singularidade do garoto, a curiosidade falaria mais alto. — Teremos uma resposta pela manhã. — Embora fosse sempre ele a decidir para onde iriam a seguir, para qual porto ou qual cidade, ele sabia que aquela escolha só poderia ser feita pelo próprio garoto. E ele já sabia da resposta. De qualquer forma, Minseok também desejava mantê-lo seguro.

Naquela manhã, quando a aurora se tornara presente, envolvendo-os no calor da esperança, Baekhyun pousou no mesmo lugar de que partira. Drogon estava quieto, quase sereno, tal como seu montador. — Eu irei, mas não sem ele. — Foi sua resposta. Sua condição. Iria para Meereen, para aprender sobre sua casa, sobre seu maldito pai, sobre os dragões e para, acima de tudo, manter Minseok seguro. Ele e todos ao seu redor. Naquele dia, fez uma promessa de sangue a si mesmo, nunca mais permitiria que alguém morresse por sua culpa. Era ele quem precisava carregar aquele fardo. Era ele que tinha o sangue de dragão.

Do alto dos céus, Baekhyun conseguia visualizar perfeitamente a grande pirâmide de Meereen, de maneira imponente, ela se mantinha em pé como símbolo de grandeza da cidade, desde os piores conflitos até a maior das conquistas. Preparando-se para o pouso, planava tão perto do solo que caso cometesse um deslize, as patas de Drogon poderiam levar alguma casa, se eles não estivessem tão acostumados a voar daquele jeito, Baekhyun certamente temeria.

Das costas de seu dragão, adorava admirar cada parte da cidade, desde a grande arena até onde os cidadãos se reuniam para trabalhar, tão habituados com a presença do dragão acima de suas cabeças, e de seu montador, que não viam necessidade em sentir medo. Eles continuavam suas vidas, de maneira natural. Como se ele nem estivesse lá. As crianças sempre acenavam quando o viam, maravilhados com o poder sobrenatural que acreditavam que ele possuía, só porque montava um dragão. Frequentemente, fugia até a cidade para relembrar como era ser um deles, de pés nus e vestido de farrapos, eram momentos que guardava no fundo da mente, quando estava envolvido ao redor de uma fogueira, ouvindo sacerdotes cantando ao longe, os gritos das crianças brincando enquanto corriam, mulheres e homens dançando a luz do luar. Já fazia algum tempo que não podia voltar ao passado e ter a vaga lembrança de quem costumava ser.

O sol poente iluminava os céus, os transformando em tons alaranjados misturados com azul-celeste, era sua hora preferida do dia. Voava por horas depois de seus deveres matinais, iam de Meereen até Yunkai e de lá até Astapor, apenas para retornarem pelo mesmo caminho. De vez em quando, pousava em alguma ilha ou montanha inabitada para Drogon caçar ou para terem um momento a sós, gostava de deslizar seus dedos pelo pescoço longo e escamoso, até que suas respirações se acalmassem, ou se deitar perto dele enquanto lia um livro e imaginava, como seria estar tão longe. Permaneciam daquele jeito até que precisassem retornar para sua casa. Meereen, não era dessa maneira que costumava vê-la antes, pelo contrário, a associava a uma prisão, invés de um refúgio. Agora, Baekhyun já tinha dezoito dias de seu nome, era mais do que um homem adulto, e era quase tudo que esperavam de si. E Meereen era seu lar, ou o mais próximo que tinha de um. 

— Meu príncipe, é bom vê-lo retornar. — Daario o esperava aos pés da pirâmide, ele usava vestes de couro, não como as suas, elas eram muito mais requintadas, dignas de um governante. Seus cabelos amendoados estavam presos atrás das orelhas e ele possuía uma postura confiante, com um vinco entre as sobrancelhas, característico de preocupação. Era a primeira vez em meses que ele estava lá, aguardando-o voltar, e aquilo não era um bom sinal. 

Drogon pousou com maestria aos pés da pirâmide, os guardas se afastaram instintivamente, ele era muito ciumento, nunca deixava ninguém se aproximar, crescia mais a cada ano e Baekhyun tinha a impressão de que ele nunca pararia de ficar maior, talvez um dia, fosse tão grande quanto Balerion, o Terror Negro. Ignorou o cumprimento por minutos infindáveis, enquanto acariciava sua montaria. De maneira gentil, o dragão o empurrou com o focinho, não conseguiu evitar sorrir com a pequena demonstração de carinho e deslizou uma última vez às mãos, envoltas por luvas de couro, no focinho dele, dando leves batidinhas antes de se afastar definitivamente. — Acredito que já tenhamos discutido sobre formas de tratamento… — disse, tirando a luva esquerda de sua mão com os dentes. — Eu não sou um príncipe. O que o traz aqui?

Daario havia se tornado seu maior protetor, até mais do que Minseok. Às vezes, o próprio mercador acusava o governante de ser obcecado demais por Baekhyun e por tudo que o envolvia. Passavam longas horas juntos diariamente, ele o acompanhava no desjejum, nas aulas durante o dia, onde o garoto estudava incessantemente sobre as coisas que não sabia. Westeros e todas as grandes casas, seus estandartes e seus vassalos. Sobre as cidades livres, os governantes de cada uma, desde Braavos até Qohor. Ele o acompanhava até mesmo quando o intérprete mais valioso de todo o continente, o ensinava Alto Valiriano, mesmo que Daario não fosse capaz de aprender ou entender uma palavra, ele estava lá, perto o suficiente para Baekhyun se sentir sufocado. Não nutria tal sentimento por maldade, era grato por ele e por tudo que ele o proporcionava, pela segurança, pela moradia, por ter tanta confiança em si, contudo, Baekhyun tinha que o relembrar frequentemente que ele não queria governar coisa alguma. Nem Meereen, nem outra cidade livre, nem os Seis Reinos. O único momento que se sentia completamente livre, era quando estava nos céus com Drogon, onde ninguém podia alcançá-lo. E ultimamente, se sentia cada vez mais preso.

Daario tomou imediatamente o lugar ao seu lado, enquanto outros três guardas os seguiam mais atrás. Drogon já havia retornado aos céus, provavelmente, até seu ninho nas montanhas. — Você é sobrinho de uma Rainha, filho de um príncipe, não tente negar suas origens.

— Não esqueça que eu sou um bastardo — rebateu. — Você tem o costume de omitir essa parte… — Sorriu para o homem, que revirou os olhos com sua audácia, ainda assim, ele não o reprimiu. Mais uma prova de que havia algo errado. Baekhyun o seguiu sem pestanejar até o centro de todo o poder do castelo, a sala do trono, onde os governantes de Meereen se sentaram por anos, onde agora, Daario se sentava. Parou no começo da escadaria, demonstrando respeito à hierarquia, porque sabia qual era o seu lugar, suspirou longamente quando depois de se sentar no trono, Daario o chamou para perto com um aceno de mãos.

— Chegou uma carta para você. — Daario esticou uma das mãos assim que Baekhyun parou ao seu lado, nela, continha um pergaminho aberto. Seu selo havia sido quebrado. Não foi difícil presumir que ele já havia lido. — Do Rei Brandon, de Porto Real, ele o convoca para o Torneio do Rei, com boa-fé e esperança de que as desavenças tenham ficado no passado.

Crispou os lábios, não queria ter que ir a lugar algum. Porto Real era a capital de toda a Westeros, o centro dos Seis Reinos, que um dia foram Sete, agora que o Norte era um reino independente, governado pela irmã do atual Rei, a Rainha Sansa Stark. Achou que eles tivessem o esquecido depois de tantos anos, no conforto e segurança de Meereen, Baekhyun nunca mais precisou temer os assassinos que eram mandados para cortar sua garganta, assim como nunca soube dizer se eles eram enviados pelo Rei, pelos grandes Senhores ou pela Mão. Todos eles o temiam, ardiam de medo ao pensarem que Baekhyun poderia querer se vingar pela morte da tia, de Daenerys Targaryen, afinal de contas, era ela que deveria estar governando Westeros, se não houvesse sido traída e assassinada por seu amante. A esperança de uma dinastia inteira reduzida a nada. Tudo por causa do amor. E do dever. — E o que mais? — perguntou, com a impressão de que aquilo não era tudo.

Daario rebateu, escondendo a carta em sua túnica. — Se não for, será considerado inimigo da Coroa. É tudo que precisa saber. 

E ainda assim, Baekhyun sentia que havia algo mais. Ou era um bom observador, ou Daario era um péssimo mentiroso. — Pelo que posso presumir, além de ter aberto um pergaminho endereçado a mim, você também tomou uma decisão por mim. Eu me enganei ao pensar que teria liberdade debaixo do seu teto? Ou você me enganou quando prometeu que eu seria livre para tomar decisões?

Daario deu um longo suspiro. — Dê-me sua mão — ele pediu, estendendo a própria mão em busca da sua e mesmo que não quisesse, Baekhyun cedeu, deixando que ele envolvesse sua mão carinhosamente, até que ele a encostasse na própria testa, trazendo Baekhyun para perto com o gesto. — É uma armadilha, tente pensar por si mesmo, por que eles o convidariam? Não parece conveniente? — Ele perguntou, o cenho franzido o deixava mais velho, assim como os poucos fios de cabelos brancos, Baekhyun não queria discutir, mesmo que pensasse que devia. Odiava brigas. — Deuses, a cada dia, você se parece ainda mais com ela…

Aquele era outro ponto que o incomodava, a comparação com Daenerys. Depois de refazerem praticamente toda a árvore genealógica e alinhar o tempo certo que Baekhyun nascera, eles descobriram que ele era mesmo filho de Viserys Targaryen, o Rei Pedinte, como o chamavam. Sua mãe havia se deitado com ele em algum momento antes de sua morte, e manteve seu filho, Baekhyun, em segredo durante anos, ela entendia o risco que seu nascimento traria, mesmo que acreditasse na bondade da Rainha, não confiava o suficiente em ninguém para procurar ajuda. Tinha sangue Targaryen, sua casa era da Antiga Valíria e seus ancestrais montavam dragões por milênios, ainda assim, não se sentia digno de herdar aquele nome, havia crescido bem nos últimos anos, seus cabelos prateados caiam sob seus ombros e deslizavam até a altura de seu peitoral, Baekhyun os prendia em um coque ou em um meio rabo quando eles não estavam desgrenhados de suor e fuligem. Havia se tornado mais alto e mais forte, a comida era farta e graciosa em Meereen, tinham um banquete diariamente, e não precisar mais se preocupar se teriam comida para o outro dia, era um alívio. Entretanto, não conseguia disfarçar o vazio em seu olhar toda vez que o comparavam com ela.

— O que é inconveniente? — Minseok se fez presente, caminhando a passos barulhentos até o pé da escadaria, ele nunca havia sido convidado a subir os degraus e não almejava o convite. Ele cheirava a sal. 

Daario imediatamente se afastou, deixando-o retirar a mão. — Posso ler? — pediu, estendendo a mão, sem deixar que o homem à sua frente mudasse de ideia, pegou o pergaminho assim que ele o estendeu receoso. Desceu todos os degraus enquanto lia cada linha, não havia terminado até estar perto o bastante de Minseok, mas sentiu o gosto amargo de decepção em sua boca no instante que percebeu que estava certo. Havia mais. — Por que não mencionou que o Rei me ofereceu Dragonstone? — observou, mas Daario nada disse, além de desviar seu olhar. — É a sede da minha família, do sangue que você tanto se vangloria e preza. Há centenas de livros sobre dragões, muito mais do que qualquer intérprete em Meereen saiba, há cavernas onde eles faziam seus ninhos, não há nada que eu queira mais no mundo do que voar até lá. E você sabe disso.

Minseok ainda tentava adivinhar o conteúdo da mensagem. — O Rei? O Rei dos Seis Reinos?

— É uma armadilha. Eles não são confiáveis, nenhum deles, eu preferia que ficássemos onde estamos, em segurança, eu disse o mesmo a Daenerys. — Daario se levantou, descendo todos os degraus até chegar perto de novo. Se voltou para Minseok. – O Rei Brandon convidou Baekhyun para o torneio do Rei em Porto Real e ofereceu legitimidade, juntamente com a herança dos Targaryen. Não parece bondoso demais da parte dele?

— Ele é o corvo de três olhos. Você mesmo disse que ele sempre prezou pela paz — respondeu, ainda desacreditado que Daario houvesse omitido a generosidade do Rei. Visitar Dragonstone era um sonho para Baekhyun, no entanto, já havia aceitado que nunca seria possível, e a oportunidade agora estava lá, em suas mãos.

Minseok soltou um longo suspiro. — Ele está certo, Baekhyun. Ainda que ele tenha boas intenções, os grandes lordes de Westeros podem não compartilhar do mesmo pensamento, afinal de contas, você tem um dragão. — Minseok também havia envelhecido bem. Ele tomava conta de toda a mercadoria e navios mercantes de Meereen, uma tarefa árdua, que ele havia aceitado de bom grado, passava longas horas no mar ou no porto, e havia dias que Baekhyun não o via, mas se sentia feliz por ele ter uma ocupação, poder ser livre, como o próprio bastardo desejava ser. — Ainda assim, acredito que a decisão deveria partir do Baekhyun. Eles o convidaram, deixe que ele decida se irá aceitar ou declinar.

Baekhyun sorriu minimamente, devia agradecer Minseok mais tarde. — Então iremos, nem que seja apenas para provar minha inocência e extinguir de vez o passado, logo estaremos em casa novamente e nunca mais iremos precisar atravessar o Mar Estreito.

— Eu não concordo, mas não posso impedi-lo. — Daario suspirou, enquanto se mostrava terrivelmente insatisfeito. — Espero que saiba que não o deixarei ir sozinho, irei junto a ti e levarei os melhores imaculados para compor nossa guarda. Não posso esquecer o que eles fizeram com a nossa Rainha e não deixarei que façam o mesmo com você.

Assentiu levemente, enquanto aceitava o afagar dos dedos de Daario em seus cabelos, engoliu em seco, piscando os olhos violeta diversas vezes. Ele não era ela. Ele não poderia sofrer o mesmo destino porque eles não tinham a mesma ambição, mesmo que tentasse, ele nunca seria nem metade do que ela havia sido. E não era ruim. Ele simplesmente não desejava ser. Ele sabia o seu lugar. — Eu sei, tente apenas não reunir uma quantidade tão grande para serem confundidos com um exército.

— Darei o meu melhor, meu príncipe.

Minseok apenas revirou os olhos, o puxando pelo braço assim que percebeu que a prosa havia terminado, cessando de vez o contato que compartilhava com Daario. Deveria agradecê-lo por isso também. — Deuses, você fede a dragão. Deveria ao menos tomar um banho antes do jantar ou irá assustar todos os criados de Meereen. 

— Eu não tive tempo, se é o que deseja saber. — Revirou os olhos, percebendo que, na verdade, não se lavava desde o desjejum, de qualquer maneira, não contaria a ninguém. Adorava vestir suas roupas de montaria, as calças de couro e a túnica apertada continham várias escamas negras, também possuía detalhes em vermelho-escuro, imitando as de Drogon e de sua casa. Eram bem mais confortáveis do que as túnicas de seda que era obrigado a usar diariamente. 

Antes que pudesse sair da sala do trono, no entanto, Daario o chamou novamente, fazendo-o virar para escutá-lo. — Baekhyun! Eu o espero para ouvir as petições pela manhã. 

Assentiu, sem responder apropriadamente, com pressa para se ver livre daquela aura sufocante. Ansiava pelo silêncio de seu quarto, onde ninguém tinha permissão para entrar, onde não poderia ser incomodado, o único lugar em que seus sonhos se tornavam vívidos e reais, mesmo que estivesse dormindo. Eles nunca haviam parado. Os sonhos. Baekhyun de certa forma, sabia que eles nunca cessariam. Na última noite, enquanto viajava pela irrealidade, havia avistado um cervo negro, belo e imponente, sua imagem se manteve em seus pensamentos desde que o sol havia nascido, até o momento que ele se punha, e mesmo que o Targaryen não soubesse o que significava, ele não poderia deixar de admirá-lo. Afinal de contas, os cervos eram o símbolo da realeza antes de Aegon, o Conquistador, unir os Sete Reinos e os dragões se tornarem o maior poder do mundo.

A travessia pelo Mar Estreito de Meereen, até Porto Real, não era simplória, pelo contrário, Baekhyun tinha a impressão de que nunca esteve tanto tempo em alto mar. Primeiro de Meereen até Volantis, uma trajetória que durou dezessete dias, os cinco galés mercantes estavam atolados de especiarias, guardas e criados, poderiam ir mais rápido se Drogon não estivesse tão relutante em seguí-los, a desobediência piorou conforme eles entravam definitivamente no Mar, nunca viajaram por tanto tempo e a travessia até Porto Real duraria dez dias completos. Vinte e sete dias em viagem, não era fácil de lidar. Pensou erroneamente que acharia eufórico sair das grandes muralhas e enfrentar o oceano, infelizmente, precisou lidar com tempestades, chuvas fora de hora, muito enjoo e a preocupação exorbitante sobre onde ele estava. Drogon desaparecia dos céus por dias até que Baekhyun estivesse tão ansioso a ponto de arrancar todas as unhas de seus dedos, roendo uma após a outra, até que elas sangrassem.

O Torneio do Rei, em comemoração aos dez anos de reinado, aconteceria em quarenta dias, pela contagem teriam treze dias em Porto Real para descansarem e para as apresentações cordiais. Ou tinham, já que Baekhyun estava há dois dias preso em uma ilha deserta, não tinha rastros dos galés e ninguém havia voltado para procurá-lo, certos de que ele os alcançaria em algum momento. 

Era tudo culpa sua. No mesmo momento que Drogon surgiu nos céus depois de cinco dias desaparecido, Baekhyun não permaneceu satisfeito até que um dos marujos o levasse até a ilha mais próxima. Só faltava meio dia de viagem até Westeros. Iria voando, insistiu. O faria mais imponente, foi sua desculpa. Drogon pousou no amontoado de areia assim que percebeu que seu montador desembarcava do pequeno barco, e Baekhyun o afagou no pescoço, carinhosamente, se desculpando pelo tempo extenso que estiveram separados, afinal, desde que o reivindicara, voavam juntos todos os dias. Levantaram voo minutos depois, sem tempo para descanso, Baekhyun achou que chegariam antes da tripulação, contudo, assim que avistaram a terra bela dos Seis Reinos aos seus olhos, o dragão desviou da rota, voando para o leste, mais tarde, pousando em outra área inabitada. 

Se não tivesse sido tão impulsivo, não estaria preso naquele contingente de areia há dois dias. — Drogon, precisamos voltar — pediu, enquanto mais uma vez, tentava subir nas costas do dragão, aproveitando o pequeno momento que ele se deitara, de nada adiantou, assim que conseguiu passar uma perna pelo dorso espinhento, ele se moveu, consequentemente, Baekhyun se desequilibrou e derrapou até o chão, conseguindo apenas proteger o rosto da queda, os braços ficaram marcados por pequenos arranhões e sem paciência, o garoto reprimiu um grito de dor. Tentava convencê-lo há horas. — Drogon, por favor…

A voz saiu baixa e arrastada, estava cansado. Estava faminto. Seu corpo doía por não ter descansado nos últimos dias, e a pouca água que levara consigo havia acabado há horas. Enraivecido, ergueu-se do chão, trazendo consigo um milhão de areias no corpo, bateu na roupa de couro precariamente e deu uma volta inteira até estar de pé diante dele novamente. Drogon automaticamente, tomou uma postura defensiva, se erguendo e o encarando mortalmente, em puro desafio, as presas saíram para fora da enorme boca, dando um vislumbre ao bastardo de que ele não estava suscetível a aceitar. Outrora, teria recuado, respeitado o tempo dele, sabia que dragões não eram escravos e que eles tinham pensamentos próprios. Eles mereciam ser reverenciados. Contudo, Baekhyun também sabia que se recuasse, nunca conseguiria dobrá-lo às suas vontades. — Não! — bravejou, caminhando em direção a ele, tentando inutilmente subir mais uma vez, o dragão o rodeava se esquivando e rugiu novamente, indicando que não o queria perto. 

Não parou. Drogon voou para trás a ponto de tocar a água do mar e Baekhyun, com o coração martelando em seu peito, avançou mais uma vez para perto dele, em resposta, o dragão avançou ao mesmo tempo, ficaram apenas há alguns metros de distância quando Drogon rugiu tão forte e alto que Baekhyun achou que perderia a audição. Os dentes afiados o ameaçaram, olhou nos olhos dele, mas não o reconhecia, ele estava fora de controle, agindo como se o Targaryen fosse seu inimigo. Os joelhos vacilaram, o medo o assolou de forma aterrorizante e por um momento, o temeu, mas ele sabia que se recuasse demonstraria que não era digno. Um dragão só obedece outro dragão. Baekhyun era o último Targaryen, o sangue da Antiga Valíria corria em suas veias e ele não hesitaria em domá-lo uma segunda vez. — Não! Eu não tenho medo de você! — Avançou, até que o corpo escamoso quase o tocasse, vendo seus olhos refletidos no vermelho-escuro do dragão, ergueu uma das mãos que pairou no ar e esperou. — Obedeça.

A respiração quente bateu em seu rosto no exato momento que Drogon encostou o focinho na palma de sua mão, os pequenos sons que ele fazia demonstravam calmaria e submissão. Baekhyun percebeu que suas próprias mãos tremiam enquanto tentava segurar lágrimas que se acumulavam no canto de seus olhos, nunca pensou que teria que ser tão cruel com ele, contudo, não retribuiu o contato, o encarou nos olhos mais uma vez e caminhou até a pata enorme, que sempre usara como apoio para montá-lo. Obediente, Drogon se abaixou completamente, encostando o peitoral na areia, sem esperar por mais nem um segundo, agarrou-se nos espinhos avermelhados que adornavam todo o dorso do animal e fez força nas coxas para se manter firme. — Voe — ordenou, a voz inabalável, nada parecida com seus últimos pedidos ao dragão, foi tomado pelo alívio incandescente de segurança e poder, quando, finalmente, alcançou os céus. Não foi preciso ordenar para que rumo iriam, porque sua mente estava clara e límpida, Porto Real. E Drogon sabia o caminho. O sol já se punha quando começou a sentir o frio costumeiro de estar entre as nuvens, ao longe, já avistava o cais, permitiu se acalmar, enquanto ainda estava na segurança do dorso de seu dragão, porque sabia que a partir do momento que pisasse em terra firme, estaria sozinho.

Um pensamento longínquo passou por sua cabeça, de que talvez, aquela postura desobediente adotada por Drogon ao invés de rebeldia, fosse apenas preocupação. Ele era seu maior protetor. A ligação que possuíam nunca poderia ser entendida por nenhum ser vivo. Gentilmente, acariciou a região que se segurava e sorriu quando Drogon virou o pescoço ainda enquanto voava para encará-lo, se entreolharam e vislumbravam o reflexo um do outro, antes que se preparassem para o pouso. Percebeu tardiamente, que até mesmo o comportamento do dragão era culpa sua, quando se reencontraram depois de mais de vinte dias sem contato, Baekhyun não tinha certeza se ainda queria ir para Porto Real. As suas dúvidas haviam se tornado as dúvidas dele, sabia que a Mãe dos Dragões havia sido assassinada naquela cidade, naquele castelo e naqueles degraus, por isso entendia a recusa, devia ser difícil para Drogon estar naquelas terras. Mesmo assim, Baekhyun não podia mais deixar que seus pensamentos entrassem em conflito, simplesmente porque não podia mais perder o controle. Não podia demonstrar fraqueza perante seus inimigos. Um dragão só aceita outro dragão. E Drogon tinha aceitado-o, honraria sua montaria com coragem e dever.

Porto Real era a capital dos Seis Reinos, emoldurada na costa leste de Westeros, de frente à Baía da Água Negra, onde residia o maior poder daquele continente, o Trono de Ferro e a Fortaleza Vermelha, a sede do Rei Brandon, rei dos Ândalos e os Primeiros Homens. A cidade era totalmente murada, construída em terras altas ao norte na delta de um rio, tinha um clima agradável e temperado, mas às más línguas diziam que lá fedia a merda. Baekhyun pôde comprovar que era verdade assim que desceu de sua montaria. Havia favelas e áreas extremamente pobres, pelo que havia lido nos livros, mas também era a sede da regência, apenas os melhores e maiores lordes das grandes casas estavam assentados perto do rei. Há milênios atrás, Aegon, o Conquistador e suas duas irmãs, Visenya e Rhaenys haviam conquistado aquelas terras, ele havia sido o primeiro rei a unir os reinos, seu legado Targaryen havia definhado, mas suas histórias eram esplêndidas. 

— Onde estava? Mandamos uma galé à sua procura. Daario partiu para encontrá-lo em Alto Mar. — Minseok mal o cumprimentou quando seus pés tocaram o chão, não conseguiu impedir que Drogon avançasse para frente, rugindo alto e estrondoso contra o homem e os guardas de Meereen que o acompanhavam. Os guardas do Rei também estavam lá, todos, sem exceção, recuaram. Inclusive, o próprio homem que considerava um pai.

Baekhyun nada disse, pelo menos não antes de acalmar sua fera. — Calma, eu prometo que logo voltaremos para casa… — Acariciou o focinho, encostando a testa contra a pele rochosa e quente, precisava manter o controle. — Não voe para longe. Fique comigo.

Não esperava que ele compreendesse todas as suas palavras, mas sabia que ele conseguiria entender seus sentimentos.

Enquanto caminhava, Verme Cinzento tomou o lugar ao seu lado, o acompanhando, abrindo caminho e o guiando. — Baekhyun, é bom vê-lo retornar – Ele sempre fora leal, nunca ultrapassando o limite, o Comandante dos Imaculados e da Segurança de Meereen era uma das pessoas mais honestas e confiáveis que conhecera. Se sentia protegido perto dele, e ele sempre o chamara pelo primeiro nome, como Baekhyun havia pedido desde o princípio.

— É bom estar de volta… — murmurou, cedendo a ele um sorriso gentil. O céu estava escuro, iluminado apenas por poucas estrelas. — Tive alguns imprevistos durante a caça, não tive intenção de preocupá-los. Peço desculpas. — Se dirigiu a Minseok, que logo tomou seu outro lado e a resposta pareceu convincente o suficiente para fazê-lo apenas assentir, em seu interior, estava de certa forma contente que Daario não estivesse com eles. Ele não aceitaria uma resposta vaga como aquela e Baekhyun não queria assumir que, mesmo por um momento, havia perdido o controle sob seu dragão. — O gales mercante me avistou vindo para essas bandas, eles devem estar retornando.

Minseok rebateu. — Tudo bem, mas é melhor pensar em todas as palavras bonitas que aprendeu com seu intérprete, vai precisar delas. 

— Para quê? — perguntou, enquanto era guiado gentilmente até uma carruagem, o cais ficava longe do castelo, que estava situado no alto da colina, daquela forma chegariam mais rápido, mas ainda assim, hesitou. Verme Cinzento apoiou uma mão em suas costas assim que alcançou os degraus. Eles iriam junto consigo na carruagem, para sua felicidade e alívio.

— O Rei mandou reunir o pequeno conselho para sua chegada. Eles querem prestar os cumprimentos, ou sabe-se lá o que isso significa. — Seu velho rebateu, não fazia o estilo dele acompanhar reuniões de diplomacia, mas ele havia se recusado a ficar sozinho em Meereen sem notícias de Baekhyun. Tinha grande apreço por ele, porque sabia o quanto ele havia abdicado para mantê-lo seguro. Para honrar o que havia prometido à sua falecida mãe. Que cuidaria dele.

Instintivamente, levou uma das mãos à própria boca, tentado a roer as unhas, mas diante dos olhos alheios, a abaixou, apertando o tecido de couro de sua roupa. — É muito gentil da parte dele… — murmurou, mesmo desejando secretamente que o Rei realizasse tal gentileza no dia seguinte. Estava exausto e se sentia impotente. Nunca havia entrado numa carruagem. Baekhyun montava um dragão, montava cavalos - muito bem, por sinal - e já havia ousado segurar o leme de um navio, mesmo que por poucos minutos. Uma carruagem era destinada apenas à nobreza e não se considerava parte dela, no entanto, não tinha opções em Porto Real. Analisou todos os detalhes da carruagem, os estofados de linho e algodão, as pinturas desenhadas a mão nas paredes, experimentou espiar a cidade pela pequena janela, somente para descobrir que dezenas de pessoas se amontoavam, mesmo aquela hora da noite, para vê-lo, curiosas sobre o convidado do Rei. É claro, deveria imaginar que um dragão sobrevoando a cidade, atrairia demasiada atenção.

Quanto mais próximos estavam do castelo, a segurança aumentava. Podia ver e ouvir vários guardas escoltando a carruagem, patrulhando as ruas, se perguntava se mais lordes já haviam chegado para o torneio do rei ou se era o único adiantado. Não sabia o que esperar, e tinha se esquecido da conversa ensaiada em Meereen, porém, tentou não demonstrar seu nervosismo aparente, quando seus pés tocaram os ladrilhos do pátio interno. Pensou, erroneamente, que algum lorde o receberia, mas foram instruídos a seguir outro guarda até a sala do pequeno conselho, conforme subiam para a Torre, servos e lordes paravam para encará-lo, não sabia dizer se era apenas curiosidade ou temor, entretanto, não retribuiu o olhar, nem mesmo dos que pareciam bondosos. Não sabia como se portar nem o que esperavam de si, por isso, escolheu vestir uma máscara, interpretar alguém que não era. 

A sala do pequeno conselho era menor do que imaginava, aguardaram segundos intermináveis até que seu nome fosse anunciado. Em uma olhadela, Minseok o encarou, como se quisesse dizer que ficaria tudo bem, mas ele não podia. Baekhyun estava sozinho. Ao todo, eram seis, devidamente sentados em suas cadeiras, haviam mais duas vazias e a que Baekhyun se sentara, de maneira automática. Encolheu as mãos em cima de suas coxas e se permitiu olhar para cada homem e para a mulher sentados à mesa. Lembrava-se dos nomes e dos papéis de cada conselheiro do reino, mas não sabia a fisionomia deles.

— Seja bem-vindo a Porto Real, Alteza. Sou Samwell, espero que a viagem tenha sido agradável. — O homem baixo e rechonchudo foi o primeiro a dirigir-lhe a palavra, seus olhos eram gentis e seu sorriso sincero. Sorriu fraco, ainda envergonhado por precisar lidar com todos eles sozinho.

— Devo confessar que não foi tão agradável quanto eu gostaria, Grande Meistre. — Apertou as mãos e mordeu os lábios de maneira ansiosa. — Obrigado — respondeu tardiamente, ao perceber que não havia agradecido as cortesias. — Onde está o Rei? — perguntou, o Rei e a Mão do Rei eram os únicos que Baekhyun saberia reconhecer, afinal de contas, um era aleijado e o outro era anão.

Lorde Edmure Tully, o Mestre das Leis, fora quem o respondera. Só tomaria conhecimento de quem ele era e o que ele representava muito depois. — Vossa Majestade deve estar a caminho, todos nós estávamos ocupados, sua chegada era esperada há dois dias atrás. Tivemos que deixar nossos afazeres para sua recepção tardia.

Seu pequeno sorriso esmaeceu rapidamente ao notar o tom de voz irritadiço do lorde ao seu lado. — Perdoe-me, tive alguns contratempos durante a viagem, se fez necessário pararmos para caçar.

— Parar para caçar? — Uma mulher loira com o nariz pontiagudo perguntou, ela usava armadura e um manto branco. Sir Brienne de Tarth, Comandante da Guarda Real, ela, Baekhyun sabia dizer quem era.

Tentou sorrir levemente, mas falhou quando nada mais do que um repuxar de lábios fora o que conseguira. — Eu e o meu dragão. Ele estava faminto.

Uma risada um tanto alta e debochada o atraiu imediatamente. — Não espera que acreditemos nisto, não é? Ovelhas foram mortas e armazenadas para o seu dragão, penso que seu atraso tenha sido proposital, para nos fazer esperar. 

As perguntas intermináveis e o tom de voz ácido fizeram Baekhyun deixar cair a máscara que inutilmente tentava manter. Virou-se para o homem, que estava sentado na ponta da mesa, ele tinha cabelos negros, olhos escuros e era forte. — Desculpe, quem é você? — Seus olhares se chocaram de maneira elétrica, proporcionando tensão no ar, estava farto daquilo. — Não necessito que acredite em mim, tampouco de suas ovelhas pútridas, pense o que quiser. Meu dragão gosta de caçar a própria comida. 

O homem de cabelos negros rebateu, sem expressar qualquer tipo de sentimento, ele era inabalável. Era perceptível. — O que ele come?

— O que ele quiser. 

O mesmo lorde que estava ao seu lado e o tratara com irritação, o repreendeu. — Garoto, tenha mais respeito. Você está diante de Chanyeol Baratheon, o filho de Robert, o Conquistador, deve usar os nomes adequados a todos do pequeno conselho ou nossa prosa não será possível.

O jovem de cabelos negros havia ganhado um nome. Chanyeol Baratheon. Baekhyun também ouvira muito sobre ele. — Deixe-o, milorde. Não devemos esperar que alguém como ele aja com decoro.

Sorriu, rolando os olhos para o homem ao seu lado, voltando-se para o homem do outro lado da mesa. — Você é o bastardo Baratheon? Não somos diferentes — murmurou, sem saber porque estava tão irritado, uma onda crescente de raiva assolava seu peito de maneira incontrolável. Nunca tinha se sentido assim. — Não esqueça o seu lugar, seu pai fodeu diversas putas e engravidou a maioria delas, você é só mais um. Ele não foi glorioso, ele era um tolo, como você. 

O Baratheon se ergueu, batendo as duas mãos grandes na mesa, seus cabelos negros eram curtos e ele usava uma grande armadura preta com bordados dourados. Um cervo estava enrustido no aço. — Como ousa nos comparar? Eu nasci em berço nobre, sou o Senhor de Ponta Tempestade, você é só mais uma semente de dragão falha, um pedinte que precisa de favores para sobreviver, assim como o seu pai. Tudo que você tem é sorte, e ela não vai durar para sempre, Alteza.

Verme Cinzento soltou um longo suspiro raivoso atrás de si e até mesmo Minseok havia colocado uma mão em seu ombro, para apoiá-lo ou pará-lo. Não sabia dizer. Daario tinha razão, todos eles o odiavam. Antes que pudesse dizer algo, no entanto, o castelo estremeceu, rugidos próximos foram ouvidos e eles eram tão altos que o Lorde a sua frente, que até aquele momento nada dissera, se apavorou. — O que é isso?

Contendo todo o ódio que emanava em seu coração, Baekhyun tentou ignorar o Baratheon, não dê ouvidos às palavras dele, pensou. — É o Drogon. Ele deve estar acima de nós, neste momento. 

— Acima de nós? Voando ao redor desta torre? — ele perguntou horrorizado, era possível discernir o pavor em seus olhos. Baekhyun não podia negar que naquele momento gostou de ser temido por homens tão importantes.

— Sim — respondeu simplista. — Ele é muito ciumento comigo. 

Não sabia dizer quanto tempo mais havia se passado desde que chegara, mas o Baratheon sentou em sua cadeira, no mesmo momento que o Rei entrou pelas portas da pequena saleta. Talvez por devoção ou por suas palavras não terem surtido o efeito desejado. Não queria saber. Outro estrondo fora ouvido perto, e Baekhyun sabia que Drogon havia pousado perto deles, ou em cima da torre, ou no pátio externo. Precisava acalmar seu próprio coração para que seu dragão também se acalmasse, ao menor sinal de perigo ou raiva vinda de si, ele também sentiria. 

Todos se levantaram para cumprimentar o Rei e o Lorde Mão que o acompanhava, menos Baekhyun. Não havia sido por birra, entretanto, não estava acostumado com os costumes dos Ândalos. Em Meereen eles não precisavam se curvar a ninguém. 

— Creio que já tivemos o suficiente — o Rei Brandon comentou, ele estava preso a uma cadeira de rodas de madeira, seus cabelos caiam em forma de cuia em sua testa e ele era exatamente como o intérprete o descrevera. Apático. Sem vida. Ele era o corvo de três olhos, o olho que tudo vê, desprovido de sentimentos humanos, ele servia a humanidade. De repente, se sentiu curioso para saber como ele era antes. — Baekhyun, me agrada imensamente que tenha aceitado o convite, você é meu convidado de honra, nada o acontecerá enquanto estiver sob meu castelo e minha proteção. Eu juro. Perdoe-me pela atitude de meus conselheiros, não acontecerá novamente. 

— Baekhyun, é uma honra finalmente conhecê-lo — a Mão do Rei complementou, mas o próprio garoto não poderia dizer o mesmo. Tyrion Lannister era o Lorde Mão, ele também fora conselheiro de sua tia, Daenerys Targaryen, a Rainha Legítima. E ele a havia traído.

Apenas assentiu o cumprimento, voltando-se completamente para o Rei. — Majestade, eu que devo pedir perdão pela minha chegada tardia, não tive a intenção de fazê-lo esperar, espero que possamos deixar para trás as desavenças e fantasmas do passado. 

O Rei tinha um vislumbre de um sorriso. — Certamente. Sir Brienne irá acompanhá-lo até seus aposentos, deixemos questões políticas para outro dia, tenho certeza que deve estar cansado e faminto. — Assim que ele ordenou, a Comandante da Guarda Real ergueu-se e o reverenciou, posteriormente, tomando um lugar ao seu lado. — Eu o espero para o desjejum amanhã. 

Levantou-se, ansiando deixar aquela sala. — Obrigado, Majestade. Eu estarei lá — afirmou, com firmeza, porém, não fez nenhuma reverência. Brandon não era seu rei. Estava com roupa de montaria, não tomava banho há dois dias e tinha certeza que havia fuligem em seu rosto. Não era o que esperavam do último herdeiro Targaryen. 

Estava desesperado para estar no escuro de um quarto sem aqueles olhos negros sobre si. Diziam que os Targaryens eram mais próximos dos deuses do que dos homens, porque eles tinham sangue antigo valiriano e porque montavam dragões. Também diziam que a casa Baratheon fora fundada a partir de um bastardo Targaryen, que Orys Baratheon era irmão de Aegon, o Conquistador. Nas histórias, as duas casas haviam sido aliadas por séculos, até Robert Baratheon, o Usurpador, extinguir toda a dinastia da Antiga Valíria.

Nunca havia o visto. O Usurpador. Contudo, quando seus olhos violetas se encontraram com os negros de Chanyeol Baratheon, o poderoso Senhor de Ponta Tempestade e o último herdeiro da casa Baratheon, Baekhyun sabia que ele era igualzinho ao pai. Ele almejava poder e o Targaryen o tinha, mesmo que não quisesse, era Baekhyun quem montava o único dragão do mundo. Ele era a contestação. 

O odiou, desde o primeiro segundo, por ele ter o sangue do homem que havia causado a ruína de sua casa. Por ele ser quem era, e também, por fingir ser alguém que não era. 


Notas Finais


no próximo capítulo saberemos mais sobre o Chanyeol e também teremos o Torneio do Rei hihi


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