OS ÚLTIMOS HERDEIROS
capítulo dois
por heairtsjoy
Chanyeol seria o próximo Rei. Era certo como o lampejo do sol que surge a cada manhã, como as águas nascem nas nascentes e deságuam nos rios, como a brisa do mar fumegante ao entardecer, todos sabiam. Todos os lordes da Campina, seus vassalos e seus criados. De Jardim de Cima ao Ninho da Águia, e até mesmo em Porto Real, os feitos de Chanyeol eram cantados nos Cinco Reinos. Mesmo que houvesse objeções, ainda que outros lordes realizassem suas petições, do homem mais miserável ao cavaleiro mais forte, era sabido que Chanyeol Baratheon possuía todas as atribuições de um Rei.
Era um belo nome para um Rei. Ele era jovem, destemido e poderoso. Ele era tudo que seu pai fora um dia, com seus cabelos negros enrolados, seu machado de luta e sua armadura com galhada de cervo, Chanyeol tinha orgulho de pertencer à casa Baratheon, uma das antigas casas de Westeros, possuíam milhares de terras, vassalos e homens leais, além de uma herança sagrada: Ponta Tempestade, o castelo era tão antigo e temível quanto as histórias contavam, localizado na costa sudeste de Westeros de frente à Baía dos Naufrágios, eles enfrentavam terríveis tempestades, como o próprio nome que a fortaleza herdara e ainda assim, o castelo se mantinha de pé, imbatível. O ouro dos Baratheon havia triplicado depois da Grande Guerra, o que os proporcionava poder incontável sobre a grande parte dos lordes, menos sobre os Lannisters de Rochedo Casterly, eles eram gananciosos demais para aceitar, ainda assim, nenhum homem no continente tinha o que era preciso para liderar, há não ser ele. Afinal, ele era filho de um Rei.
Tudo que se lembrava do falecido pai, era do jeito que sua mãe falava dele, do sorriso torto em sua boca quando ele afagou seus cachos negros rebeldes, era tão novo na época que a imagem se tratava apenas de um borrão, entretanto, conseguia lembrar das palavras perfeitamente: “Você vai crescer forte, garoto. Você se parece comigo.”
Agarrou-se àquele momento por toda a vida. A certeza na voz alheia de que eles eram iguais.
Robert tinha razão. Chanyeol cresceu forte, como o pai previra, glorioso e esbelto, encantava todas as donzelas dos Cinco Reinos, plebeias ou da Nobreza, elas ansiavam por um casamento vantajoso. Ele era o Comandante da Patrulha da Cidade, respeitado pelos melhores cavaleiros do Reino, ninguém era capaz de vencê-lo em uma justa. Ele só tinha uma fraqueza: sua bastardia. A legitimidade dada pelo Rei Brandon havia sido o melhor presente que o jovem Baratheon já ganhara na vida, mas ainda assim, havia aqueles que ousavam chamá-lo pelo antigo sobrenome. Storm. Como o bastardo Targaryen havia feito.
Storm era o sobrenome dado a todos os bastardos das terras da tempestade. Chanyeol era um deles, mesmo que não se reconhecesse como tal. Ele se considerava um nobre, pouco importava que tivesse nascido fora do casamento, ele era filho do Rei Robert Baratheon e da Senhora Diana da Casa Caron de Nocticantiga, uma casa antiga, conhecida por seus guerreiros e cantores. Sua mãe era uma Lady, e por tal fato, Chanyeol havia sido reconhecido por Robert, ou assim pensava quando presentes eram enviados a sua casa, com o selo da casa Baratheon, um veado coroado. Quando era apenas uma criança com menos de cinco dias de seu nome, tudo que queria era ser reconhecido, no sangue, ele nunca deixaria de ser um bastardo, mas durante o seu reinado, o pai o visitou, mesmo que apenas uma vez e o jovem garoto se apegou aquela lembrança, as histórias que a mãe contava para si sobre as batalhas gloriosas que seu pai lutara, sobre como ele havia derrubado a Dinastia Targaryen e o Rei Louco. Sonhava ser tão grande quanto ele.
Naquele tempo, Chanyeol não sabia que os presentes que recebia, eram, na verdade, enviados por Varys, Mestre dos Sussurros do Rei Robert. Ingênuo como qualquer outra criança, ele almejava o afeto do pai, mesmo que nunca pudesse tê-lo. E mesmo que seu sobrenome fosse Storm, ele havia nascido em berço de ouro, criado com conforto em Nocticantiga, tinha boas lembranças de seus dias em casa, do cheiro do bosque sagrado, da grama verde aos seus pés enquanto corria das amas de leite, era como um sonho distante. Fora a última vez que viu seu lar. A última vez que havia sido feliz. Precisaram fugir como ratos depois da morte do Rei Robert e sua mão, Ned Stark. Não houve tempo para dor, cada casa havia decidido apoiar um Rei diferente, desta maneira, conflitos despontaram em toda Westeros, os filhos legítimos do Rei foram acusados de serem bastardos: nenhum deles tinha cabelos negros como Robert, pelo contrário, esbanjavam madeixas loiras como os Lannisters. Eram frutos de um incesto, a Mão acusara, da Rainha Cersei Lannister com seu irmão, Jaime Lannister. E era sabido que todos os Baratheon tinham cabelos pretos. Chanyeol os tinha. Ele era mais Baratheon do que os três filhos do Rei.
Como a maioria dos outros senhores da tempestade, Lord Bryce Caron, irmão de Diana e tio de Chanyeol, apoiou Renly Baratheon, irmão mais novo do Rei Robert, a assumir o Trono de Ferro, no início da Guerra dos Cinco Reis, ele queria protegê-los, temia pela segurança de seu sobrinho, e por sua lealdade, logo foi nomeado para a Guarda Real do Rei Renly. Ele era um vassalo dos Baratheon e nunca havia fugido de uma batalha, Chanyeol o admirava, o exaltava, ele era um herói para ele. Seu tio os levou para a corte real em Ponta Tempestade, onde eles estiveram seguros por pouco mais de meio ano, aprendeu a manejar uma espada muito cedo, enquanto brincava com outros filhos de grandes senhores, ainda que esta fosse de madeira, desvendava o castelo mais antigo da região de cima para baixo e era tratado com gentileza por todos os servos. Era como estar em casa, poderia ser sua verdadeira casa, se ele não fosse um bastardo. A paz não durou muito. Com a morte de Renly, eles se uniram a Stannis Baratheon, o último irmão vivo do Rei Robert, não era o melhor dos três, rigoroso e impiedoso, ele era apático, mas jurou protegê-los naqueles tempos difíceis.
“A família deve ficar unida, garoto”, ele dissera, pelo menos até o próprio se sentir ameaçado pelo sangue do filho de seu irmão. Ainda que fosse bastardo, a reivindicação de Chanyeol poderia ser mais forte que a dele.
Precisaram fugir mais uma vez, antes que a vida de Chanyeol fosse ceifada pela busca de poder, com a ajuda de Sir Davos Seaworth, Lorde Bryce os mandou para Braavos, juntamente com uma comitiva, e fora a última vez que Chanyeol o vira. Ainda lembrava dos olhos marejados e do sorriso pequeno que recebeu dele, o tio era sua única referência masculina, era ele que contava as histórias da Conquista, era ele quem havia o ensinado a cavalgar. Nunca superou sua perda. Lorde Bryce morreu durante a Batalha de Água Negra, logo depois, Stannis também foi derrotado, enquanto os filhos do Rei Robert ainda reinavam em Porto Real, não eram mais os estandartes do veado coroado que adornavam o reino, era o leão brilhante dos Lannisters. Sua mãe, Diana, não se atreveu a voltar para casa, se mantiveram exilados em Braavos por exatamente sete anos, quando as guerras em Westeros finalmente terminaram.
Em Braavos, Chanyeol continuou recebendo a educação e tratamento de um nobre, tendo pouca influência dos costumes braavosianos, ele se manteve leal a sua casa e aos Baratheon. Ele era filho de um Rei, e todos ao seu redor preferiam esquecer que ele era ilegítimo, afinal, ele tinha todos os traços de Robert, sendo diversas vezes comparado a ele quando mais jovem — esse pensamento influenciou os seus próprios, e com o passar dos anos, Chanyeol cresceu cada vez mais. Ele também acreditava fielmente que não era como os outros, quando desembarcou na terra em que nasceu, os dragões haviam perdido mais uma vez, e a paz conquistada, parecia finalmente ser longa. Tudo tinha um preço.
A casa Caron participou do conselho dos Cinco Reinos, Chanyeol não sabia o que significava, mas anos mais tarde, descobrira que todos os suseranos reunidos haviam alterado a ordem dos Sete Reinos. Os que Aegon, o Conquistador, batalhou para unir. Agora, o Norte e Dorne eram independentes, como um dia foram na época dos heróis, e Brandon Stark, o Corvo de Três Olhos, era o novo Rei dos Cinco Reinos. Dos muitos bastardos de Robert, apenas Chanyeol e Gendry haviam sobrevivido, este que havia sido legitimado pelo Rei, agora era o Senhor de Ponta Tempestade. Nunca almejou ter um irmão. Robert tinha muitos bastardos, todos foram mortos pela Rainha, menos eles dois, ambos tiveram ajuda para se manterem vivos. Ao lado dele, descobriu o que era ter uma família completa, apesar de não terem sido criados diante do mesmo costume, ele o acolheu com virtudes e tomou a responsabilidade de criá-lo para si quando Diana morreu de febre dois anos depois, ele estava lá para o garoto, ele o ensinou a lutar, a limpar sua espada e a ser um homem. Ele o ensinou a caçar, a matar criminosos de todos os tipos: “O homem que passa a sentença deve brandir a espada”, ele dizia, e fazia Chanyeol encará-los nos olhos, até que a vida tivesse se esvaído. Ele o ensinou a liderar. Quando completou quinze dias de seu nome, Chanyeol era um verdadeiro Baratheon, no sangue e no nome, legitimado pelo Rei Brandon, ele era herdeiro de seu irmão mais velho, Gendry, e consequentemente, de Ponta Tempestade.
Parecia irônico, tinha finalmente alcançado a posição que mais almejava a vida inteira, ser legitimado. E sua mãe não pôde vê-lo alcançar aquele feito. A felicidade de ser aceito como era, estava nas pequenas coisas, estava nos momentos que Gendry afagava seus cabelos como se ele ainda tivesse dez anos, quando ele treinava junto consigo, quando os servos o reverenciavam cada vez que ele andava, estava no prazer de carregar o veado esculpido em seu peito. Chanyeol desejava que o tio pudesse estar lá para ver. Desejava que sua mãe ainda estivesse com ele, em segurança, em Ponta Tempestade. Às vezes, sonhava acordado, se perdia em lembranças, sábio demais para sua idade, escolheu preencher seus dias com preocupações, enquanto notava as verdades escondidas sob camadas de mentiras. Sempre pensou que Gendry adorava a vida no castelo, fora uma surpresa para si quando ele, bêbado, confessou que a vida como lorde não o agradava, se perguntou como não percebera antes. Estava estampado no rosto dele, e quanto mais anos se passavam, ele se tornava mais inquieto, sempre escrevendo cartas para o outro lado do Mar, ele nunca parecia estar presente, mesmo que estivesse bem ao seu lado na mesa do Conselho, não se importava com as petições de seus vassalos ou com os conflitos que despontavam em suas terras. Ele não estava lá. Seu irmão estava longe, agora bem mais velho, os pedidos para que se casasse e gerasse herdeiros eram ainda mais ensurdecedores, ainda assim, ele os ignorava. Estava preso ao passado.
Chanyeol era quem se assentava na cadeira mais alta de sua casa, devido à ausência de Gendry. Quando sua altura ultrapassou a dele e o mais novo completou dezoito dias de seu nome, o Baratheon mais velho raramente saía da serralheria, passava dias intermináveis moldando o ferro e o aço, batendo o martelo em espadas e as tornando mais afiadas, destruindo suas mãos até elas estarem em carne viva. Tentava acompanhá-lo, mas só tinha êxito em manejá-las, não em forjá-las. Foi ele quem o presenteou com a Estrela da Noite, sua primeira espada, e quem construiu seu primeiro elmo de combate. “Faça-o igual ao do Pai. Os chifres dos Baratheon será a primeira coisa que meus inimigos verão”, pediu certa vez, entusiasmado, enquanto ainda era novo demais para ter vergonha. Gendry prometeu que faria, que o presentearia, e ele sempre cumpria suas promessas. Quando ele entregou o elmo, Chanyeol nunca soube que era uma despedida. Não se parecia com uma. Eles jantaram lado a lado, como faziam há anos, tomaram cevada e contaram histórias de Duncan, o Alto. No dia seguinte, Gendry havia partido. Apenas uma carta havia sido deixada para o Meistre, para que ele entregasse a Chanyeol, com poucas palavras e muitas incertezas, ele confessava ter mantido contato com Arya Stark durante todos aqueles anos e segredava o desejo de vê-la novamente, ele havia ido encontrá-la, em algum lugar para além do Mar de Ashai.
Todas as certezas que pensava ter, se esvaíram em poucas semanas. Gendry não estava lá, ele era a única pessoa que restava de sua família, eram sangue do mesmo sangue, o único em que podia confiar plenamente. Mergulhou na escuridão por dias, não comeu ou dormiu, desolado por ter que lidar com a perda, mais uma vez, teria se afundado na dor até ser lembrado por seus conselheiros que era ele o Senhor Interino de Ponta Tempestade. Na ausência de Gendry, Chanyeol era o último herdeiro. Ele tinha deveres a cumprir, seu povo esperava por ele, seus vassalos precisavam de uma resposta. Escolheu assumir suas responsabilidades, honrar seu sobrenome, a memória de sua mãe, que havia desejado mais do que qualquer um por sua legitimidade. Ele a tinha agora. A viagem de Gendry parou de ser vista como temporária quando as cartas pararam de chegar, esperou por meses, sempre se esgueirando até a sala do Meistre, questionando sobre algum corvo, mas depois de mais de um ano e meio sem resposta, perceberam tardiamente que, talvez, ele nunca voltasse.
Estava exausto. Há dias não dormia direito, com a chegada dos convidados para o Torneio do Rei, a cidade precisava estar bem guarnecida, era o Comandante, não deixaria que nenhum Lorde sofresse diante de sua proteção. A guarda havia sido reforçada em trezentos homens e Chanyeol os controlava pessoalmente, sentia-se satisfeito quando tudo estava sob seu controle, e mais do que ninguém, entendia sobre sacrifícios. Entendia qual era seu papel, mas ainda assim, era constantemente lembrado.
— Ele é um selvagem! — Rylene Florent pronunciou, herdeira da casa Florent e prima de Junmyeon Tyrell de Jardim de Cima, este que detinha o poder de toda a Campina. Era uma mulher miúda e arrogante, quase quinze anos mais velha do que o Baratheon, e ainda assim, ela o queria como esposo. Infelizmente, não podia rejeitá-la tão deliberadamente, porque precisava do apoio dos Lordes da Campina se quisesse se tornar Rei. — Devemos agir agora!
Ele não tinha apoio nas Terras Ocidentais, nem em Dorne, em contrapartida, tinha boas relações com Jardim de Cima, Ninho da Águia, as Ilhas de Ferro e as Terras Fluviais. Sabia que não podia e nem devia agradar a todos, sabia que era impossível lidar com tantos Lordes de uma vez só, portanto, tinha que ser cuidadoso. Nunca generoso demais e nem tão arrogante. Precisava ser confiável e temível ao mesmo tempo. — Não é o momento certo — suspirou, seus ombros pareciam pesar uma tonelada, gostaria que Kyungsoo estivesse ao seu lado, sobrinho neto de seu tio, ele era o novo Senhor de Noctiantiga e um de seus conselheiros mais fiéis em Ponta Tempestade, era uma pena que ele estivesse tão longe para fazer sua voz presente. E era uma pena que Chanyeol não pudesse transcrever seus pensamentos em uma carta e enviar um corvo.
Ela estava sentada bem à sua frente, enquanto Junmyeon estava ao seu lado, Simon Velaryon sentava-se à sua esquerda, Edmure Tully andava de um lado para o outro, ele era herdeiro de Correrrio e de Harrenhal, também era Mestre das Leis e consequentemente, impaciente. — E quando será? Você disse que eles nunca aceitariam a paz! Agora, ele está nas nossas portas com um dragão e cinquenta imaculados.
Chanyeol não precisava deles. Não realmente, tinha um exército de sessenta mil homens que o seguiriam onde quer que fosse, estava em negociação para casar-se com Serena Martell de Dorne, a fim de acabar com a rivalidade entre os reinos, além de que, ele era o mais adequado para reinar. Ainda assim, se quisesse manter a paz, precisava se aliar ao máximo de casas possíveis, mesmo que estas fossem medíocres. — Pensei ter certeza que eles declinariam a proposta do Rei, mas vejo que os subestimei — respondeu, encarando os lordes a sua frente, estavam reunidos há meses com um único propósito maior: exterminar a linhagem Targaryen. Todos eles temiam o poder do jovem bastardo e seu dragão, temiam uma nova guerra em um tempo de paz, e Chanyeol queria erradicar qualquer oposição ao seu futuro reinado. — Ele está muito longe de casa, usaremos isso a nosso favor. Devemos esperar até o Torneio.
— Não seria melhor agora? Apenas uma gota de veneno em seu cálice de vinho e tudo estaria feito — Simon chamou sua atenção, ele não era odiável como a maioria dos grandes lordes, tinha a idade de Gendry e era tão gentil quanto ele, o Senhor das Marés controlava toda a frota naval de Westeros, que um dia já fora dos Baratheons, ele acreditava em si, e Chanyeol também gostava de acreditar que podia considerá-lo um amigo entre tantos falsos aliados.
— E qual de nós assumirá a culpa? — Junmyeon perguntou, ele tinha uma postura calma para qualquer situação e sempre pensava coerentemente, era uma de suas qualidades mais estimáveis. — Meistre Samwell não está ao nosso lado, não teremos o apoio dele e de suas ervas medicinais. Quão conveniente é, que o último Targaryen seja assassinado antes de selar qualquer acordo?
Chanyeol concordou. — Estaria óbvio que fora algum de nós. — Deixou seus olhos varrerem cada um de sua sala, no alto da Torre de Maegor, ninguém poderia encontrá-los lá. Era para uso exclusivo da Guarda. — Não irei temer alguém mais novo do que eu, deixemos que o Torneio do Rei aconteça, será melhor que ele morra por uma flecha de um plebeu do que por nossas mãos. Eu mesmo cuidarei disso.
— E você dará a flecha a esse plebeu? — Rylene riu ao sentar-se novamente na mesa, parecia satisfeita com as palavras recentemente proferidas. Era melhor quando ela estava quieta, Chanyeol pensou.
— Eu ordenarei, o vigiarei de perto, não há com o que se preocupar, e por enquanto, é melhor que não tenhamos outras reuniões. Há muitos ratos nesse castelo — rebateu, seus cachos negros estavam um tanto desgrenhados, mas sua armadura estava perfeitamente polida e o manto dourado em suas costas reluzia, perfeitamente. — Se me dão licença, milordes.
Ninguém ousou rebater qualquer palavra sua e diante do silêncio reconfortante, Chanyeol os deixou sozinhos, não aguentaria mais um minuto sendo tão condescendente como estava sendo. Não era paciente, tampouco considerado benevolente, fazia o que tinha que ser feito, sem sentir remorso por algo ser visto como errado aos olhos de estranhos. Havia um grande peso em seus ombros e Chanyeol não ignoraria a ameaça de um Targaryen vivo como seu pai ignorara, ainda que Baekhyun não tivesse intenções de reinar naquele momento, nada o impedia de mudar de ideia quando alcançasse mais dias de seu nome, quando seu Dragão estivesse cada vez maior — porque eles nunca paravam de crescer —, quando a ambição tomasse conta de seu ser. Não deixaria chegar naquele ponto. Findaria a ambição antes que ela sequer despertasse.
A escuridão tomava completamente o castelo, enquanto a cidade estava totalmente acordada, na Baixada das Pulgas, aquele era o melhor horário para trabalhar. Fosse em bordéis, tavernas ou restaurantes, nenhuma alma viva descansava ao entardecer, nem mesmo os ladrões, estupradores e mercenários. Chanyeol era o Comandante da Guarda da Cidade, conveniente para um homem como ele, estava no Pequeno Conselho do Rei por conta de sua posição, mas não era necessário renunciar de seus títulos e terra para se tornar Comandante, o próprio Brandon havia o chamado para servir o reino, era uma proposta irrecusável e que o abençoaria da maneira certa. Muitos lordes já estavam na cidade, vindos de regiões distantes, todos queriam chegar com antecedência para o Torneio do Rei e muitos outros ainda viriam, não deixaria que a fama de Porto Real se propagasse e que crimes dos mais terríveis continuassem ocorrendo na Capital.
Havia treinado um novo batalhão de cavaleiros da Patrulha da Cidade e a partir daquela noite eles estariam patrulhando as ruas da capital sem descanso. Todos o esperavam, enfileirados, com seus mantos dourados e armaduras polidas como aço, silenciosos, obedientes. — Quando os conheci, vocês não passavam de vermes insolentes, agora, são meus caças de caça, prontos para erradicar os crimes e devassidão que assolam nossa cidade. — A cada palavra sua, os soldados uivavam e Chanyeol andava de um lado para outro, passeando entre eles, era maior do que todos, sua altura era proveniente dos deuses, e desde que tinha dezessete, sempre olhava para as pessoas de cima. Eram eles que precisavam erguer os olhos. Sempre abaixo de si. — Este é o primeiro Torneio do Rei em nome do Rei Brandon, vocês vão deixar que ladrões roubem nossos Lordes? Deixarão que suas mulheres sejam estupradas? — Praticamente berrava com cada um e eles o respondiam de volta, “Não!”, eles não deixariam, porque Chanyeol os controlava. — Hoje, vocês irão aprender o significado da cor dourada.
Seu manto dourado reluzia com a cor da sua pele, as dezenas de guardas corriam para seus postos, junto com eles, Chanyeol seguia a cavalo pelo breu da cidade, suas armaduras sendo a fonte de luz nos lugares mais sombrios, nas vielas mais sujas e onde quer que passassem, os cidadãos abriam caminho para o ver. Eles o veneravam. Viam nele a imagem imponente que um Rei deveria ter, há um ano em sua função, os crimes haviam sido reduzidos aos montes, não poupava esforços para mandar vermes para a masmorra ou cortar a mão de um ladrão, às vezes, castrava algum estuprador aos olhos de todos, para manter a ordem. Queria que os ratos sentissem medo, para si, os crimes tinham que ser punidos, contudo, sempre fingia que não via quando roubavam por comida, mas sua misericórdia era inexistente para assassinos, traidores e estupradores. Eles precisavam aprender sofrendo.
Perto da hora da coruja, já haviam capturado mais de cinquenta criminosos, Chanyeol estava satisfeito, mesmo que estivesse exaurido, sem comer ou dormir direito desde o dia anterior, não se permitia descansar. Não podia. Ele devia ser o exemplo para seus cavaleiros, era nele que eles se inspiravam para manter a ordem, em seu manto perfeitamente alinhado, em seu rosto impassível de dor, inabalável. Quando a hora da coruja findasse e a aurora surgisse, o Baratheon precisava comparecer na reunião do Pequeno Conselho, e depois, esperava poder tomar seu desjejum sem um único barulho para o incomodar. Talvez, descansaria. Antes que pudesse, no entanto, subir em seu cavalo e dar meia volta para o castelo, avistou um guarda solitário puxando outra pessoa em sua direção, a grande maioria ainda limpava as ruas, só estariam reunidos novamente no pátio central quando seu Comandante ordenasse. E Chanyeol ainda não havia ordenado o retorno. — Do que se trata?
O cavaleiro parecia estar orgulhoso de sua recém-descoberta, como se ele tivesse achado ouro em pedra. E, na verdade, tinha. Em suas mãos, sem nem tentar lutar para sair do aperto, estava Baekhyun Targaryen. — Encontrei esse rato fugindo da Guarda, ele estava tentando se esgueirar até a Fortaleza Vermelha. O que deveríamos fazer com ele? Alguns tapas para lembrá-lo da lição?
Sua pele arrepiou-se quando seus olhos se encontraram, a temperatura parecia ter caído e ao longe, foi possível escutar um rugido de dragão. — Quem mais o viu? — perguntou ao guarda, sem tirar os olhos do Targaryen, o homem de armadura, de repente, pareceu confuso em responder, mas o olhar mortífero do Comandante o acordou no mesmo instante. — Mais alguém viu vocês?
— Não, Senhor!
Aproximou-se, consequentemente, fazendo o guarda recuar com medo. Suas mãos tinham um cuidado anormal quando puxou o Targaryen para próximo de si pela túnica e tirou seu capuz, revelando seus cabelos prateados reluzentes, em seguida, trouxe o braço dele até sua vista. — Você sabe quem ele é? Está diante de alguém importante… — encarou com quase ódio o homem amedrontado, estava possesso, a raiva crescente em seu sangue parecia queimar como fogo. — Muito mais importante do que sua vida miserável. Se eu achar algum hematoma nele, um arranhão que seja, farei o dobro com você.
Baekhyun suspirou, ainda que o guarda o houvesse tratado mal, ele estava apenas fazendo seu trabalho. — Por favor, deixe-o — pediu, sem a real intenção de iniciar uma conversa com o Baratheon. Por que de todas as pessoas horríveis daquele lugar precisava encontrar logo com ele? — Eu não sabia como voltar para o castelo. Eu que pedi ajuda dele, mas confesso que não desejava que fosse você a me socorrer.
— Se eu não estivesse aqui, você estaria nas masmorras agora — Chanyeol rebateu, suas mãos estavam no Targaryen, primeiro examinou os braços e retorceu o nariz ao encontrar o vergalhão vermelho na altura do antebraço, provavelmente, pela força imposta pelo guarda ao puxá-lo. Em seguida, levou suas mãos ao rosto dele, traçando cada detalhe, desde as bochechas até os olhos violeta, procurando por algum arranhão ou marca arroxeada. Encontrou apenas a mais pura perfeição que somente um Targaryen poderia ostentar, quando desviou o olhar, o brilho violeta dos olhos dele ainda estavam gravados na sua mente. Precisava garantir a segurança de Baekhyun, seria um desastre se ele morresse em uma taverna na parte mais nojenta de Porto Real, dois dias depois de seu desembarque. — Saia — proferiu ao guarda, que prontamente o reverenciou e se afugentou de medo. — Como conseguiu fugir do castelo?
Baekhyun estava mal-humorado. — Pelo mesmo portão que entrei.
— O que estava fazendo? Estava em algum bordel? — Ergueu a sobrancelha de maneira debochada, quando finalmente soltou-o.
— Não! — Baekhyun pareceu genuinamente ofendido quando respondeu. — Toma-me pelo quê?
Chanyeol suspirou, revirando os olhos, havia se esquecido o quão chato o Targaryen era desde a primeira palavra que trocaram. Girou em seus próprios calcanhares, decidido a retornar para a Fortaleza, a aurora já se aproximava, o trabalho havia acabado. — Se não estava atrás de putas, o que fazia? Estava bebendo em alguma taverna?
— Não! Estava apenas olhando a cidade! — Baekhyun se defendeu, enquanto tentava seguir o Baratheon ao mesmo passo, o que se mostrara uma tarefa difícil, já que o mesmo andava rápido. Tropeçou em uma pedra e quase deixou um xingamento quando se desequilibrou, mas conseguiu manter a compostura no exato momento que o Comandante virou para encará-lo mais uma vez.
— O que há para ver? Merda?
Baekhyun revirou os olhos. — Pessoas — respondeu, tentando não se sentir intimidado pela postura imponente do Baratheon. Qual era mesmo o nome dele? — Leve-me de volta — mandou, ou pediu, sua voz ainda passava certa incerteza. O outro ainda o encarava com a sobrancelha erguida, e certo de que talvez estivesse esquecendo algo, completou. — Milorde.
Ver o Targaryen pálido como um fantasma era, de fato, engraçado, não pôde deixar de sorrir com o jeito estabanado do outro, tropeçando em pedras e sem jeito ao explicar o que fazia. Também foi impossível não notar a ingenuidade, ele havia mesmo saído da Fortaleza apenas para vagar sem rumo? — Por que eu o levaria? Por que você não retorna pelo mesmo portão que saiu? — perguntou, mesmo já sabendo a resposta. — Você não sabe o caminho de volta, não é? Por isso não resmungou quando o guarda o trouxe até mim. — A cada palavra, se aproximava mais do jovem de cabelos prateados, que parecia se encolher ao perceber que havia sido pego em sua mentira. — Tem noção do perigo que correu? Qualquer um, mataria você em troca de alguns dragões de ouro.
— E você não faria o mesmo? — Subitamente, Baekhyun sentiu um ardor de raiva, pela audácia do Comandante, pela certeza em sua voz de que o Targaryen era um tolo, não queria se pôr em risco, mas não era do seu feitio permanecer solitário e preso em uma Fortaleza. Queria ver risos, crianças, pessoas que não conhecia, queria poder ter um vislumbre das coisas boas, ao invés de viver retido em medo. — Não finja que estou mais seguro lá do que aqui, e se deseja saber, ninguém me reconheceu.
Arregalou levemente os olhos com a resposta afiada, desde o primeiro momento que conhecera Baekhyun, o tomara como um néscio, não apenas pelo seu jeito extremamente manipulável, mas também por ser um ignorante. Todos sabiam que o bastardo havia nascido em uma casa de prazer. Entretanto, ele parecia ter algo mais em seu peito, talvez fosse o fogo dos Targaryens, dizem que quando um Targaryen nasce, os deuses jogam uma moeda para cima e decidem se ele será louco ou sonhador. Talvez, fosse a coragem que ele exalava; de qualquer forma, não conseguiu esconder a mudança de expressão em seu rosto. Deveria ganhar a confiança dele. — Você me julga mal, Alteza. Meu dever é manter a segurança da Cidade, e você está nela. — Aproximou-se, mas não encontrou nenhuma relutância com a proximidade, pelo contrário, Baekhyun parecia se lembrar de quem era, do sobrenome que carregava, do que esperavam de si. — Venha, eu te levarei de volta. — Esticou uma das mãos para alcançá-lo, sem crer que ele aceitaria, mas assim que a mão dele pousou sobre a sua, Chanyeol conseguiu notar facilmente a diferença entre eles.
Enquanto suas mãos possuíam sangue seco e poeira, as do Targaryen eram finas e limpas, pálidas, como seus próprios cabelos. Apesar da desconfiança notável dele consigo, ele não o afastou, talvez percebendo que era melhor voltar para a Fortaleza consigo, do que permanecer na Baixada das Pulgas. Ainda assim, Chanyeol não pôde se impedir de notar a verdadeira beleza da Antiga Valíria. Os cabelos eram prateados quase brancos, seus olhos violetas reluziam à luz da lua e sua pele era tão branca que parecia seda. Ele não se parecia com um bastardo, constatou. O guiou de maneira silenciosa até seu cavalo, um puro-sangue preto, completamente trajado de armadura, um garanhão que já vira muitos combates. Não foi preciso ajudá-lo a montar, para sua surpresa, Baekhyun enganchou o pé firmemente e montou na sela como se o animal fosse seu. Chanyeol subiu logo depois, a sela era grande o bastante para dois. Pensou ter ouvido um grunhido de insatisfação vindo dele, mas assim que tomou as rédeas, o silêncio desconfortável se tornou predominante entre eles.
Pensou que seu coração podia sair pela boca, no momento que o Baratheon tomou sua mão. Estava se esforçando para não deixar transparecer seu medo, ou seja lá o que fosse aquele sentimento que afundava seu estômago. Não era nada pessoal, mas apenas o jeito de falar do outro, o irritava. O jeito que ele parecia e pensava ser superior a qualquer um. Ao pensar que ele machucaria o guarda apenas por um mal-entendido, o quão perigoso aquele homem era? O quão ele se sentia no direito de ferir outras pessoas somente por sua hierarquia? Subitamente, sentiu nojo. — Sei o que pensas de mim, sei o que todos pensam, mas garanto-lhe que não tenho más intenções para com seu povo. — Sentiu a necessidade de dizer algo, desconfortável com o silêncio ensurdecedor entre eles, conseguia até mesmo sentir a respiração dele em suas costas. Quente. A armadura batia em sua clavícula toda vez que o cavalo andava um pouco mais rápido. — Desejo apenas partir o mais breve possível para casa, portanto, não precisa se esforçar para demonstrar hospitalidade. Eu sei que você odeia minha presença.
— Seu cão de guarda está ciente da sua fuga noturna? — rebateu, tentando desviar o foco do Targaryen a sua frente, apesar de achar notável a maneira que ele havia conseguido ler suas atitudes, mesmo com tão pouco tempo. Imediatamente, ao proferir a pergunta, Baekhyun virou-se para si, o olhando por cima dos ombros, com um vinco nas sobrancelhas e um olhar que nunca havia visto no rosto dele. Como se tivesse sido pego cometendo um crime.
— Refere-se ao Daario? Ele é o Governante de Meereen, você deveria ter mais respeito.
— Esse é o nome dele? Ele não sabe, não é? — sorriu de lado, vendo o Targaryen bufar irritado, e voltar a sua postura de outrora. — Eu me pergunto o que ele dirá quando souber que você estava em grande perigo.
Baekhyun suspirou de maneira irritadiça, era tarde demais para ir a pé? — Não diga nada a ele. — A voz saiu baixa, cansada. Daario havia retornado no dia anterior, ele proferiu um discurso de duas horas e não saiu de perto de si desde então, chegou a pensar que ele dormiria no mesmo quarto que o seu, mas agradeceu aos deuses quando foi deixado sozinho. Minseok não estava na Fortaleza, ele havia partido para o cais mais cedo, para negociações marítimas. Seguiu o servo que deixou seu jantar, o irmão imaculado que deveria estar em sua porta havia saído para algum lugar que não sabia, talvez para se aliviar. Não pensou em como voltaria para o castelo, só conseguia pensar no quanto se sentia sufocado atrás daquelas paredes. — Eu te peço.
Chanyeol o encarou demoradamente enquanto guardava na memória a expressão do outro. — Não direi nada se você permanecer em seu devido lugar.
— E qual seria o meu lugar? — Baekhyun rebateu, olhando-o para o Baratheon mais uma vez por cima dos ombros, aquele sentimento o tomou novamente, o de irritação. Algo que revirava seu estômago.
Não hesitou antes de responder, ainda que houvesse dito que ficaria de olho no Targaryen e cuidaria de tudo, Chanyeol desejava terminar as coisas o mais rápido possível. Na verdade, desejava que ele nunca tivesse aceitado a paz. Assim, não precisaria matá-lo. — Do outro lado do Mar. Renuncie as terras, os títulos e parta de uma vez.
— Nunca foi um desejo meu permanecer. Se é isso que o aflige, dou-lhe a minha palavra que não passarei mais tempo do que o suficiente — Baekhyun respondeu, encarando o homem tão indiferente, sabia que não era bem-vindo em Westeros, mas as palavras do outro não apenas o mostraram a verdade, como também pareciam estar carregadas de cuidado. Como se ele estivesse o avisando. Não gostou do sentimento de medo que acompanhou as batidas de seu coração, e antes que pudesse impedir, o Baratheon ajeitava seu capuz com uma das mãos.
Para esconder a surpresa em seu rosto com a declaração de que o Targaryen nunca havia tido intenção de requerer sua herança, Chanyeol puxou o capuz para encobrir os cabelos prateados ao passar pelo portão principal. Ninguém teria coragem de perguntar ao Comandante quem ele trazia da cidade, e usufruindo de seu poder, voltaram para dentro da Fortaleza Vermelha em segurança, o sol já começara a nascer no horizonte e o guarda que estava na porta de Baekhyun tentou avançar para cima de si quando os avistou. Ele nem havia percebido que o Targaryen não dormia em seu quarto, e com apenas um levantar de mão e algumas palavras em Valiriano, o Targaryen o fez parar e o Baratheon permaneceu de pé, assistindo-o entrar em seu quarto e fechar a porta, como se nada houvesse acontecido. Deu meia volta e decidiu treinar no pátio principal, antes da reunião do Pequeno Conselho, a mente estava cheia demais para conseguir descansar. Mesmo que não quisesse, pensou em Baekhyun o dia inteiro, e por um momento, a constatação de que talvez, ele realmente estivesse dizendo a verdade, o arrebatou profundamente. Apenas por um momento.
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Baekhyun nunca conseguiria se acostumar com servos. Em Meereen, ele não tinha nenhum criado, mesmo que Daario houvesse insistido em um primeiro momento, já em Porto Real, ele não podia recusar. Havia cinco servos em seus aposentos, que o cercavam o dia inteiro, eles o vestiam, o acompanhavam em suas refeições, o preparavam para dormir, e por deuses, eles também queriam banhá-lo. Esta última tarefa Baekhyun sempre recusava com gentileza. Pelo que parecera a milésima vez, Elis ajustava a malha pesada em seu corpo, era diferente das túnicas leves que vestia do outro lado do Mar, pelo contrário, eram grossas e elegantes, a túnica de malha pesada era completamente preta, enquanto usava outra túnica vermelho vivo por baixo, esta era completamente lisa, enquanto a preta imitava escamas de um dragão, perto de seu pescoço dois medalhões dourados se encontravam, com o símbolo da casa Targaryen, um dragão com três cabeças. Era bonito. Muito mais bonito do que qualquer outra vestimenta que Baekhyun já usara, suas calças eram apertadas, de couro e sobrepostas a ela, sua malha preta chegava até o meio de suas coxas.
Seus cabelos haviam sido desembaraçados e penteados diversas vezes, até estarem completamente escorridos e brilhantes, o prateado tão reluzente que parecia ainda mais branco. Estava quieto enquanto Lysa trançava seus cabelos, apenas metade deles, deixando diversas mechas soltas, eles já estavam quase na altura de seu peitoral, em breve, deveria cortá-los. Encarou o próprio reflexo pelo espelho banhado a ouro, sentia-se estranho, suspirou agradecendo baixinho assim que ambas terminaram de arrumá-lo.
— Deixe-me olhar para você… — Daario pediu, ele estava na porta há vários minutos, encarando minuciosamente enquanto as criadas o vestiam. Virou-se, se esforçando ao tentar parecer satisfeito, mas era um péssimo mentiroso. Seus lábios estavam crispados e seus olhos encaravam o chão quando o governante ergueu seu queixo. — Está perfeito. Como um verdadeiro Targaryen… — ele o elogiou, raspando os dedos em sua bochecha em uma carícia lenta. — O que o incomoda?
— Eu preferia usar os tecidos de seda de Meereen… — murmurou, desviando os olhos para as servas que apenas o observavam. Elas eram gentis e Baekhyun agradecia por isso, apesar de se sentir envergonhado todas as vezes que elas insistiam em fazer algo simples. Não conseguia acreditar que os lordes não conseguiam pegar um copo de água por si mesmos.
Daario sorriu, acariciando seus cabelos prateados. — Não acho que eles sejam adequados para o desjejum com o Rei.
— Ele não estará lá. Apenas o Pequeno Conselho e o Lorde Mão — respondeu, afastando-se para tomar um pouco de vento próximo à janela. Se sentia melancólico e não duvidava que seu semblante demonstrasse seus sentimentos, simplesmente não conseguia disfarçar. O aviso velado do Baratheon permaneceu em sua mente durante toda a parte do dia anterior e o impediu de dormir direito, não parecia uma ameaça, na verdade, se assemelhava a um aviso. Se perguntou o quanto ele saberia de si para tecer uma opinião tão forte a seu respeito, o próprio Baekhyun sentia uma irritação famigerada só de pensar em vê-lo, mas grande parte fora gerada pelas próprias ações do Baratheon. Desde o começo ele havia sido rude. Ele parecia odiá-lo sem motivo algum, e Baekhyun o odiava por todos os motivos que o compunham. — Minseok se juntará a nós?
— Não, ele ainda está ocupado com o navio. Devemos deixar tudo preparado para nossa volta para casa — o homem mais velho respondeu, e Baekhyun assentiu, forçando um sorriso. Se sentiria mais seguro se Minseok estivesse lá, ele o conhecia melhor do que ninguém. — Eu não sairei do seu lado.
Suspirou, assentindo mais uma vez enquanto andava em direção à porta, Daario estava logo atrás de si, como prometera, e três imaculados o aguardavam na entrada, o coração se encheu de alegria quando avistou Verme Cinzento. Tinha deveres a cumprir. Não podia se dar ao luxo de não gostar de algo, mesmo que não estivesse contente em se parecer com um lorde pomposo, pois estava farto de, naqueles últimos três dias, seguir apenas ordens à risca, tentando agradar a todos em tudo que fazia, não era do seu feitio. Era difícil de acreditar que o caminho para paz seria construído em termos de obediência velada, no único desjejum que vira o Rei, ele apenas o cumprimentara e deixara os termos de conciliação para o Lorde Mão. Neles, Baekhyun tinha algumas poucas opções: permanecer em Westeros e herdar Pedra do Dragão, antiga fortaleza dos Targaryens, ou assinar um tratado de paz e partir para o outro lado do Mar, desta maneira, renunciando a herança de sua família, até que o próximo descendente a requeresse. Enquanto estivesse em Porto Real, ele participaria de visitas à cidade, aparições momentâneas e jantares com os maiores lordes do Reino, a fim de se familiarizar e criar laços. As palavras do pergaminho que Tyrion o deu eram muito bonitas, contudo, não eram verdadeiras. Baekhyun não se sentia bem-vindo.
O Rei era apático como diziam, e os lordes o odiavam. Tyrion havia dito que todos se entenderiam depois de conversarem e se familiarizarem, para isso, foi instruído que precisava mostrar boas maneiras para que conseguissem construir boas relações, não se impediu de retorcer os lábios quando aquelas palavras foram proferidas a si. Mostrar boas maneiras? Eles achavam que ele era um selvagem? Estava perfeitamente bem em Meereen, antes deles enviarem uma carta. Sempre fora fascinado com os Sete Reinos e a história de Aegon, o Conquistador, mas ao que parecia, as lembranças de sua família haviam sido extintas, onde quer que fosse só encontrava ganância e poder. Daario estava certo, nunca deveriam ter saído de casa. Encorajou a si próprio, faltavam poucos dias, apenas uma semana até o Torneio do Rei e depois, tudo voltaria a ser como antes. Podia fingir até lá. Suportar os olhares desagradáveis e sustentar a paz que tanto almejavam, para um bem maior.
— Se me permite dizer, Alteza, o senhor se parece com um verdadeiro príncipe agora — Elis murmurou, antes que partisse. Ela era pequena e franzina, não parecia ter mais do que quinze dias de seu nome, por um momento desejou que ela não precisasse viver daquela maneira. — Dizem que os Targaryens usavam vermelho e preto.
Sorriu, a olhando por cima dos ombros. Foram os primeiros olhos gentis que recebeu. Sempre recebia olhares como aquele, do outro lado do Mar. — Obrigado, Elis. — Assistiu os olhos dela se arregalaram com uma resposta, talvez de admiração, não saberia dizer. — Acho que nunca estive tão bonito em toda minha vida.
O desjejum seria realizado no bosque sagrado, uma novidade para Baekhyun, que o via apenas da janela de seu quarto. Na hora do lobo, enquanto não conseguia dormir por conta de sua insônia, leu todos os nomes dos lordes importantes do Reino mais uma vez, lembrando-se de cada um, afinal de contas, muitos mais estavam chegando para o Torneio. Estava nervoso. Também memorizou o nome dele, Chanyeol, um nome estranho para o Senhor de Ponta Tempestade, mas adequado para um bastardo. Era estranho pensar que poderiam ter tanto em comum se o passado de ambos não fosse manchado de sangue e remorso. Pelo menos, ele parecia ser o único honesto naquele lugar, ele nunca escondeu o quanto o repudiava, sem mentiras em seus olhos, Baekhyun percebera que eles eram completamente diferentes um do outro, em educação, jeito e personalidade, a única coisa em comum que possuíam era a bastardia.
Uma longa mesa fora posta no pátio externo e Baekhyun tentou não enrubescer enquanto percebia tardiamente que não era apenas o pequeno conselho que estaria presente, a grande maioria dos lordes que já haviam chegado para o Torneio do Rei estavam sentados em seus lugares. Ele estava atrasado ou os outros estavam adiantados? Havia duas cadeiras vazias de frente para a Mão, e Baekhyun não precisava que o servo tivesse guiado-o até lá para compreender que aquele era seu assento, e o de Daario. Secretamente, pensou que talvez fosse a posição tão importante que estivesse recebendo que deixara os outros lordes enraivecidos. Eles se humilhavam para cair nas graças do Reino, para ganhar um assento ou cargo de importância, enquanto Baekhyun havia conseguido apenas por ter um dragão. Como imaginava, ao lado de Tyrion, se assentava Chanyeol Baratheon, Comandante da Patrulha da Cidade, e do outro, Junmyeon Tyrell, Mestre da Moeda e Senhor da Campina. Meistre Samwell, conselheiro e curandeiro, estava sentado ao lado de Baekhyun, que por si só, agradecia aquela pequena coincidência, ele parecia ser o mais agradável de todos. Também havia outros, o Mestre dos Navios, a Comandante da Guarda Real, o Senhor do Ninho da Águia, e até mesmo Sansa Stark, Rainha de Winterfell. Era Daario que havia sussurrado o nome dela em seu ouvido. — Milordes… — murmurou, sentando-se no exato momento que Tyrion levantara.
Enquanto ele os recepcionava, dando boas-vindas a todos e explicava sobre o Torneio do Rei, Baekhyun brincava com as frutas vermelhas em seu prato, havia uma grande variedade de comida no banquete, o que para si era um desperdício. Não muito longe de lá, no alto da montanha, estava Drogon, podia senti-lo e se virasse o pescoço, poderia vê-lo, mas sabia que olhar com saudade para ele só o atrairia. Estava se sentindo como um traidor. Não voavam juntos há três dias, fora impedido de sair tarde da noite depois de sua fuga no segundo dia, não só pela própria Guarda do Rei, como pela sua própria Guarda. Durante o dia, precisava escutar histórias de casas na qual não estava interessado. Na última noite, não dormiu direito, sentiu a mesma sensação que não o perseguia há anos, era como se estivesse dentro do dragão novamente, olhando por seus olhos. Não prestou atenção em nenhuma palavra, até que seu nome fosse mencionado e repetido diversas vezes a ponto de Daario balançar seu cotovelo. — Perdão, o que disse?
— Você irá participar das justas? — Tyrion, Mão do Rei, perguntou, já sentado bebericando uma taça de vinho, todos pareciam entretidos em suas próprias conversas até aquele momento, mas quando subitamente todos os rostos viraram para si, Baekhyun torceu para suas bochechas não ficarem vermelhas com a atenção indesejada. Apesar de ter treinado para estar naquela posição, ainda não conseguia abandonar os antigos costumes.
— Não, Milorde. Não sou bom com espadas… — Forçou um pequeno sorriso, tudo que compunha o desjejum o deixava ansioso: o olhar carregado de ódio e repulsa dos outros lordes; os cinco imaculados protegendo sua retaguarda a poucos metros de distância; a visita que faria a cidade; Chanyeol sentado à sua frente, em completo silêncio. Era como estar na cova dos leões, se sentia como uma presa, prestes a ser abatida. Não gostava de se sentir daquele jeito.
— Não? O que faz em seu tempo livre? — Rylene Tyrell perguntou, ela estava sentada ao lado de Daario e seu sorriso não parecia ser gentil quando ela se inclinou para olhá-lo. — Faz bordados? — Uma risada maldosa acompanhou a pergunta. — Digo, quando vi o tamanho de seus cabelos, achei que você fosse uma mulher…
— Eu estudo o Alto Valiriano, por vezes participo de reuniões em Meereen e na grande parte do tempo, estou com meu dragão. Nunca tive apreço por armas… — Sorriu forçadamente, suspirando enquanto tomava um gole de vinho dornês, o melhor que já havia provado em sua vida, mas que até naquele momento, azedava seus lábios. Escolheu não responder o outro comentário ou seria deliberadamente rude.
— Não? Imagino que saiba ao menos manusear facas… — foi Chanyeol quem rebateu, percebeu que ele também não havia tocado no próprio prato. E por um segundo, Baekhyun não soube dizer se ele estava se referindo a sua etiqueta a mesa ou as armas. — Martelos? Arco e Flecha?
Daario riu, em um riso debochado e entediado. — Por que ele precisaria manchar as próprias mãos com quinquilharias hediondas? Há milhares de Imaculados, soldados e servos fiéis que morreriam por ele. Baekhyun não precisa batalhar como homens comuns, porque ele não é um homem comum.
Chanyeol riu, revirando os olhos, enquanto desviava os olhos dos seus para focar-se no mercenário. — Eu não me lembro de ter dirigido a palavra a você.
Suspirou, se sentindo desconfortável entre os dois. Não queria ter que responder à pergunta do Baratheon, mas teria sido melhor se Daario não falasse por si. Quando pensou em se encolher em sua própria cadeira, o Grande Meistre mudou de assunto, tornando-se seu salvador por hora.
— Há muitos livros na Cidadela e na biblioteca de Porto Real sobre seus ancestrais, Alteza. Quase todos os príncipes tinham cabelos grandes como o seu. Se algum dia desejar vê-los em pinturas, terei o prazer em o acompanhar — Samwell propôs, e os olhos de Baekhyun automaticamente brilharam, sua curiosidade acerca de sua casa sempre fora aflorada, e era seu único propósito de vida. Descobrir sobre ovos de dragão, sobre as tradições, sobre o sangue que o compunha. Todas as noites, sonhava. — Ouvi dizer que antigamente, os dragões tinham selas para montaria…
— Mesmo? E eles aceitavam? — Baekhyun perguntou, arregalando os olhos em surpresa, estes que estavam repletos de sonhos longínquos. — Há alguma pintura retratando os dragões antigos?
Robin Arryn, Senhor do Ninho da Águia, foi quem respondeu, rindo com ironia. — Apenas príncipes recebiam uma sela. Não bastardos.
Instintivamente, se voltou para ele, sem conseguir controlar as palavras que saíram por sua boca. — Acredito que eles não precisavam de uma, dizem que os bastardos são mais fortes, quando montavam em seus dragões, todos sabiam que eles eram Targaryen — rebateu, sem perceber o quão rude havia soado, mas satisfeito por finalmente deixar que suas próprias palavras saíssem por sua boca, ao invés de palavras ensaiadas, todos que o olhassem nos céus com Drogon poderiam dizer o mesmo, nenhum deles tinha o poder que ele adquirira. Forçou um sorriso no rosto, mesmo que não fosse sua vontade, para tentar mascarar o quanto estava irritado. — Adoraria ver os manuscritos, Grande Meistre — voltou-se para Samwell, ignorando completamente os olhares de incredulidade que recebera por sua última fala, tentou terminar o desjejum, mas seu prato ainda estava cheio, ansiava poder sair correndo daquele lugar, até se lembrar de que não poderia. Era ele que havia aceitado. Podia jurar ter visto o vislumbre de um sorriso de lado no Baratheon, como se toda a situação o divertisse.
— Eu conheci sua tia, Daenerys, era uma mulher formidável… — a Rainha do Norte se fez presente, sem que Baekhyun realmente quisesse escutá-la, interrompendo a recente conversa dele com o Grande Meistre. — Meu irmão a amou grandemente. Vejo muito dela em você.
Estava farto de distribuir sorrisos. — Ele a amou tanto que a matou? — perguntou, seu rosto impassível, em segundos era como se algo morto estivesse em seus pratos. Todos estavam em um silêncio mórbido. — Espero que ninguém me ame de tal forma, Majestade — Baekhyun suspirou, olhando para o próprio prato intocável, devia ter ficado quieto. Havia prometido a si que toleraria qualquer coisa, para que pudessem selar a paz e voltar para casa, mas estava se deixando levar pela raiva enrustida em seu corpo. Era tudo culpa sua. De seu sangue quente de dragão. Se sentia sufocado. — Algum cavalheiro pode participar das justas em meu nome?
— Se você desejar, pode escolher alguém — Tyrion respondeu, sorrindo de lado com seu nariz retorcido, Baekhyun tinha quase certeza que ele o suportava, mas ainda assim, não gostava de si. — Sua carruagem está pronta para a visita até a cidade, peço que siga estritamente as ordens do Comandante. Será simples, mas significativo para os plebeus.
— Majestade. Milordes. Se me dão licença… — Foi Chanyeol quem se levantou primeiro, ele estava há tanto tempo em silêncio, que Baekhyun por um momento, duvidou que ele fosse o mesmo homem que conversara consigo noite passada. Ele o ignorou completamente, descendo os degraus da pequena escadaria para o pátio externo, sem que fosse preciso falar mais uma vez, Baekhyun sabia que deveria segui-lo.
— Obrigado pelo desjejum… — murmurou, erguendo-se e se retirando sem fazer nenhuma reverência. O Rei Brandon não era seu rei, assim como Sansa Stark não era sua Rainha. Não os devia mais do que cumprimentos. Atrás de si, Daario e os outros imaculados o seguiram, assim como a Comandante da Guarda Real, Sor Brienne, que mostrava o caminho. O pátio externo da Fortaleza Vermelha estava a uma boa caminhada de distância, quanto mais andava, mais tinha a sensação de estar perdido, se não estivessem seguindo-os veemente, talvez realmente confundiria um corredor com outro. Talvez por isso tenha se perdido um dia atrás.
Apenas a Comandante, Daario e Verme Cinzento adentraram na carruagem consigo, enquanto o Baratheon e o Tyrell seguiam a cavalo, junto com cinco irmãos imaculados e vinte guardas da patrulha da cidade. Daario sussurrava algo sobre o mais importante ser eles manterem sua segurança, enquanto Brienne completava, rebatendo que a vinda de Baekhyun era esperada e estimada. Todos os cinco reinos desejavam a paz, inclusive, seu povo. Não os escutava, sua mente estava muito longe deles, mais precisamente, seguia Drogon com os olhos pelas frestas da carruagem, ele estava os sobrevoando. Rodeando e dando voltas intermináveis. Nenhum deles entendia que Baekhyun não precisava de vinte guardas o protegendo, na verdade, tinha medo do que o dragão poderia fazer com seu temperamento terrível. E tinha medo da reação das pessoas.
Em Meereen, era querido por todos. Daenerys Targaryen, sua tia, aboliu a escravidão naquela região e em todo lugar além do Mar, eles eram gratos e a adoravam. A adoração velada passou para si, onde quer que fosse, só recebia olhares gentis, convites para jantar, até mesmo dos mestres da cidade, de Astapor a Essos, todos queriam conhecê-lo. Agradá-lo. Em contrapartida, quando a Rainha Dragão tentou conquistar os Sete Reinos, tudo que ela conseguiu fora fazê-los temê-la. Ela destroçou cidades inteiras, queimou centenas de homens, mulheres e até mesmo crianças, não encontrou olhares gentis como além do Mar. Eles a odiavam. Baekhyun não queria que eles o odiassem também. Estava farto de ter que fugir de assassinos ou viver em cárcere por causa de sua segurança e das pessoas ao seu redor, ele não era um conquistador, ele não queria tomar a casa de ninguém ou se vingar pela morte de um parente que ele nunca conhecera. Tudo que conquistou, havia sido por ter o sangue deles, da Antiga Valíria e da Casa Targaryen, precisava honrá-los. Entendia qual era o seu lugar e qual era o seu papel. Manteria a paz, mesmo que precisasse sacrificar todos os seus sonhos para isso.
A escadaria do Grande Septo parecia maior do que havia lido nos livros, tudo havia sido destruído há muito tempo e reconstruído há poucos anos, eles removeram o nome de Baelor I Targaryen, o Abençoado, quem havia idealizado a moradia da Fé em Porto Real. Não conseguiu esconder o olhar de tristeza ao saber que pouco a pouco, sua casa era apagada da história. A construção oval era uma das mais bonitas da cidade, ficava no topo da Colina de Visenya, rodeado por uma praça de mármores brancos, Sor Brienne o acompanhou até interior e Baekhyun sorriu ao ver pinturas em seu teto, todos os reinos e suas culturas representadas nos céus, o lugar era tão grande que era capaz de abrigar centenas de pessoas. Possuía uma estrutura com abóbada de mármore e sete torres de cristal, cada uma possuía um sino que eram tocados em ocasiões especiais, como a morte de um rei.
Existiam várias portas, as Portas do Pai, as Portas da Mãe, e as irmãs silenciosas usavam as Portas do Estranho. O Salão das Lâmpadas era o mais bonito para Baekhyun, que não seguia a Fé dos Sete, era repleto de vitrais coloridos, onde todos podiam orar e acender uma vela, os pisos eram de mármore e suas grandes janelas eram feitas de cristais de chumbo coloridos. Diziam que embaixo do septo ficavam os túmulos onde os Reis descansavam após a morte, as celas para os penitentes e os cofres que contêm caras vestimentas, anéis, coroas de cristal, e outros tesouros da Fé. Não sabia se eles ainda existiam. Na praça central, perto da escadaria, havia um púlpito de mármore levantado de onde um septão pode se dirigir às multidões, era onde Lorde Junmyeon estava. Há poucos metros, centenas de pessoas se apertavam para vê-lo, para ter um vislumbre de seus cabelos brancos, da beleza valiriana que tantos elogiavam. A Patrulha da Cidade os restringia, formando uma espécie de corredor com seus cavalos e soldados, para que Baekhyun pudesse caminhar entre o povo. Daario estava muito atrás de si, eles ficariam com o restante dos Imaculados, teriam que olhá-lo sumir entre a multidão até o fim da praça e voltar em segurança.
Suas mãos tremiam. Queria poder ser criança de novo e estar seguro nos braços de sua mãe. Queria poder olhar para o quarto azul bebê, que em seus pensamentos fora seu único lar. Contudo, havia nascido para aquilo. Havia finalmente encontrado seu propósito de vida. Ele faria a diferença.
— Estão diante de Baekhyun Targaryen, Príncipe de Pedra do Dragão, Senhor de Meereen, Montador de último dragão vivo e Último Herdeiro da Casa Targaryen. — Junmyeon o anunciou em frente ao púlpito, e ergueu a mão para o Targaryen andar.
A multidão caiu em um silêncio profundo e efêmero, quando Baekhyun ergueu a mão acenando para eles, sorriu pequeno tentando demonstrar segurança, enquanto descia a escadaria, um passo de cada vez, sua proximidade pareceu acordá-los, estes que se ergueram em gritos e assobios, enquanto o corredor ficava cada vez menor ao ponto da Guarda falhar em tentar mantê-los no mesmo lugar, muitos ultrapassaram a barreira de proteção, e mesmo quando um dos guardas mandou Baekhyun parar, ele não parou. Tinha que mostrar a eles que não tinha medo, ele não tinha repulsa ou nojo, ele era um deles antes. Caminhou, sorrindo e acenando, de perto era muito mais fácil olhar para cada um, admirar a diversidade que os compunha e o olhar que eles o davam. Quando a Patrulha da Cidade percebeu que ele não pararia, eles começaram a acompanhá-lo, Sor Brienne praticamente correu para o seu lado, enquanto Baekhyun estendia a mão para os plebeus, que enlouquecidos, o tocavam. Era como se ele fosse um deus na terra.
Cumprimentava cada um dos plebeus que tocava, mas não conseguia distinguir o que eles diziam, alguns apenas o elogiavam, outros faziam perguntas, ao passo que a Comandante da Guarda mantinha a mão firme em suas costas o guiando até o fim do corredor, ela não o deixava parar nem mesmo para responder. Ele era um enfeite para eles, lembrou-se. “Precisamos voltar, agora!”, Brienne sussurrou em seus ouvidos, o conduzindo para retornar para a escadaria do Grande Septo, mas não era o que Baekhyun queria. Ele não queria ser visto como uma marionete. Um prêmio a ser exibido. Ele não era uma ovelha, ele era um dragão. Inclinou a cabeça olhando para o vão de pessoas que se amontoavam depois da linha imposta pela Guarda, eles tinham olhares quase estupefatos, e alguns também continham medo. Observou uma criança correr para um beco, não devia ter mais do que seis dias de seu nome e sem pensar ao certo, deu um passo para frente, desejando segui-lo. Queria vê-los com seus próprios olhos.
— Alteza! Irá sujar suas vestes! — Brienne chamou sua atenção, segurando em seu pulso para que o Targaryen não avançasse.
A olhou por cima dos ombros e sorriu gentilmente. — Eu tenho outras — respondeu, de maneira simplória, antes de se desvencilhar do aperto e seguir para a ruela atrás da criança que chamara sua atenção. Ele o lembrava de si mesmo. Seus sapatos elegantes encheram-se de água suja de uma poça de lama, cheirava a merda, mas Baekhyun não se importou. Nem mesmo quando a água respingou em sua túnica nova, ou quando percebeu que a viela que entrara dava acesso a um abrigo cheio de enfermos e desabrigados. Estes, que não possuíam o mesmo ânimo dos outros plebeus, pelo contrário, eles o olhavam com temor.
Brienne se perdeu em algum momento antes da entrada para o abrigo, e Baekhyun seguiu seu próprio caminho, as pessoas abriam espaço para que ele pudesse andar, os acamados se levantavam para vê-lo e as crianças o rodeavam, tocando em suas roupas, em seus longos cabelos, em sua pele. Sorriu, segurando a mão de uma menina que o puxou para sentar-se junto deles, no centro do abrigo.
— Por que seus cabelos são brancos?
Outro garoto sentou em seu colo, estava tão sujo que era possível ver fuligem e poeira em sua bochecha. — Você veio nos ver? Ninguém nunca vem.
Sorriu pequeno, levando uma das mãos até os cabelos escuros, acariciando-o, ele era tão leve e tão magro que Baekhyun se perguntou qual teria sido a última vez que ele comeu algo. — Eu vim ver vocês, a alma de todo reino são as crianças — respondeu, deixando um pequeno carinho com o nariz no garoto que se encolheu e sorriu com o gesto. Voltou-se para a menina. — Eles nasceram dessa forma.
Ela os tocou, extasiada. — São bonitos.
Pouco a pouco, mais crianças juntavam-se à roda, juntamente com seus pais e seus avós, todos queriam saber mais sobre o Targaryen, e recebendo olhares tão gentis, Baekhyun tentava ouvir cada pergunta, cada desabafo e também se esforçava para responder da melhor forma.
— Não há remédios, meu lorde! Digo, Alteza! Digo…
— Somente, Baekhyun. Meu nome é Baekhyun — respondeu, de maneira simplista, entregando a garotinha sentada em seu colo o medalhão de ouro de dragão, que estava preso em suas roupas. Ela queria brincar com ele. — Há quanto tempo moram aqui?
— Dois anos, Alteza. Todos que estão aqui são enfermos ou velhos demais para o trabalho. Não há lugar para nós em Porto Real — outra senhora respondeu, enquanto Baekhyun suspirou, pensativo sobre todos os lugares da cidade que ainda não conhecera. Lugares que precisavam de sua atenção.
— Prometo que farei o possível para ajudá-los. Mandarei meus homens trazerem remédios, comida e água fresca, se precisarem de qualquer coisa, basta chamar por mim — pediu, sorrindo gentilmente. Se sentia em casa, muito mais à vontade do que na Fortaleza, entre o povo se sentia parte de algo, como se toda sua existência tivesse significado.
— Tudo isso é culpa sua! — Um homem barbudo se fez presente, ele tinha remorso e dor em seu olhar, ele caminhava para perto, afugentando as crianças que estavam próximas a si, instintivamente levantou-se, para encará-lo, cara a cara. Tamanha foi sua surpresa quando o homem o puxou pelos cabelos e apontou uma faca em seu rosto, próximo de seu pescoço, a ponta da lâmina afiada pressionou a carne perto do ângulo de sua mandíbula fazendo jorrar sangue, mas nem mesmo diante da dor, Baekhyun sentiu medo. — Vocês mataram todos! Minha esposa! E meu filho! Seu dragão incendiou toda a nossa cidade, é por isso que estamos aqui, enfurnados como ratos. Eu deveria matá-lo agora mesmo. — Sentiu a dor se acentuar e na entrada do abrigo vira um rosto conhecido. Chanyeol. Logo atrás de si, estava Brienne e muitos Guardas da Patrulha. Todos eles pararam de maneira estática quando perceberam que o Targaryen corria perigo.
Uma criança, o mesmo menino que o atraíra para o abrigo, não havia se afastado. Ele segurava suas vestes, escondendo o próprio rosto por trás dos tecidos de couro, amedrontado. Não podia deixar que o machucassem; não podia deixar que machucassem qualquer um daquelas pessoas. — Como eu poderia ser culpado pelo que me acusas se naquela época eu era apenas uma criança? — perguntou, juntando as sobrancelhas em um vinco, era uma pergunta simplória, mas que de certa forma, havia mexido com o julgamento do homem, ele folgou a pressão que impunha sobre si, e a faca recuou lentamente de seu rosto. — Eu sei que perdeu muito. E eu sei que nunca poderei recompensar os erros da minha família, mas eu peço que não me sentencie por algo que eu não fiz.
As mãos do outro tremeram e ele deixou o aço cair no chão. Seu olhar mudou completamente, de medo para compaixão e depois para vergonha, ele baixou os olhos, como se não fosse digno de olhá-lo. — O que diz é verdade? Você vai olhar por nós? Mesmo quando ninguém mais se importou?
Os olhos de Baekhyun encheram-se de lágrimas, quando o aperto em seu cabelo cessou completamente, e o homem deu alguns passos para trás. Esperou que ele o olhasse nos olhos novamente e o encarou com compaixão. — Irei, tens a minha palavra… — murmurou, sorrindo pequeno ao perceber o homem assentir, desistindo de machucá-lo após recobrar a consciência. Não sabia quais motivos o instigavam, mas ele parecia conviver com a dor eternamente. Seus olhos focaram-se nos Guardas do Rei, que ainda estavam na entrada do abrigo, queria mostrar a eles que aquelas pessoas só precisavam de um pouco de empatia, de compaixão e atenção. Eles precisavam de cuidado. Estava tudo sob controle. Entretanto, tudo que seus olhos encontraram foi o Baratheon com um arco e flecha nas mãos. Seu olhar estava vazio. Um completo breu. — Não! — tentou gritar, estendendo a mão para pedir que ele parasse, contudo, o som de sua voz saiu lento e a flecha foi mais rápida. O sangue espirrou em seu rosto quando Chanyeol acertou a cabeça do homem que o ameaçava segundos atrás, a ponta varou do crânio até o olho, e em segundos, o corpo dele caiu sem vida no chão.
Baekhyun não conseguia respirar. Ele queria gritar, mas todos os outros ao redor já o faziam, alguns corriam desesperados, outros choravam em seus leitos, olhou para trás no exato momento que o menino que o agarrara fora puxado pela própria mãe para longe, o afastando de si, como se o Targaryen fosse portador de alguma peste. De fato, talvez possuísse alguma. Ele era feito fogo, queimando tudo ao seu redor sem que quisesse. Foi rudemente puxado para fora sem conseguir assimilar por quem, afinal, todos vestiam a mesma armadura, sua mente girava e a passos rápidos, praticamente correndo, voltaram para o topo da Colina de Visenya, para o Grande Septo. Lágrimas escorriam por suas bochechas quando finalmente percebeu que era Chanyeol quem o segurava, os pés pararam de maneira relutante antes de chegarem até o final da escadaria e Baekhyun virou-se para ele com ódio em seus olhos. — O que você fez? Ele estava com medo! Ele estava sofrendo! — o empurrou, batendo em sua armadura de maneira desenfreada e em um rompante de raiva, girou a mão contra a pele do rosto dele, tão forte que sentiu seus dedos doerem. — Você não tinha o direito!
Chanyeol tentara em vão se manter são durante todo o desjejum e a caminhada até o Grande Septo, havia quase conseguido, até Baekhyun mudar completamente os próprios passos e sumir entre os plebeus. O procuraram por cada beco e viela, revirou cada casa próxima à colina, louco, como um cão farejador, não descansara até o encontrar. Fora uma surpresa achá-lo no lugar mais imundo de Porto Real, rodeado de crianças e idosos, mas ainda assim, com uma faca apontada para a própria garganta. Não pensou, não havia nascido para pensar antes de agir. Não. Chanyeol sempre agia por instinto. Matou o homem porque ele mataria Baekhyun, era melhor que fosse o plebeu desconhecido ao último herdeiro da casa Targaryen. Precisavam dele. O Rei precisava dele para a paz. E o Baratheon não falharia em protegê-lo, porque nunca falhou em nada. — Ele ia te matar — rosnou para ele, segurando de maneira firme o pulso alheio, e em seguida, o outro, quando ele tentou acertar outro tapa em si. — Eu fiz o que precisava ser feito.
A praça ao redor do septo havia se tornado um verdadeiro caos, guardas tentavam conter a população a todo custo, empurrando, batendo e chutando, sem se importar se eram mulheres ou homens, sem se importar com a gritaria excessiva, sem se importar com o número de feridos. Para eles, os plebeus não passavam de moscas. Baekhyun não conseguia parar de chorar, os lábios tremiam e seu olhar estava carregado de ódio, enquanto ele respirava com dificuldade, tentando assimilar os fatos ao seu redor. — Você fez porque quis — o acusou, puxando as mãos para se soltar, seus punhos doíam, tamanha a força imposta pelo Comandante, mas não conseguiu fugir do aperto dele. Chanyeol era muito forte.
— Eu não precisaria ter feito se você tivesse obedecido às ordens… — o Baratheon rebateu, estava possesso, haviam idealizado cada visita à cidade, tudo estava estritamente planejado, e em sua primeira aparição, o Targaryen estragara tudo. Foi o único a ver a cena, antes dos outros guardas e a Comandante o alcançarem. Viu seu sorriso amável, os olhos gentis e as mãos carinhosas dando atenção para as crianças, viu o jeito atencioso que ele respondera os idosos, assistiu em silêncio quando todas as outras pessoas o rodearam, sentaram-se em volta dele, todas elas tinham o mesmo olhar de adoração em seus rostos. Atraídas por ele. Imediatamente, sentiu inveja. Ninguém nunca olhara para si daquele jeito. Depois, sentiu medo por ele, mesmo que não precisasse, ao ver o sangue vermelho escorrer pela pele alva, algo dentro de si aguçou-se. — O sangue dele está em suas mãos.
Baekhyun estremeceu diante das palavras de Chanyeol, queria negar veementemente, gritar com ele e dizer que ele estava errado. Não era culpa sua; não podia ser, contudo, pouco a pouco o sentimento de culpa o abatia, porque sabia que ele estava certo. Era para ser uma visita simples, ninguém precisava morrer por ele, por causa dele, o mundo ao redor parecia ter parado enquanto sua garganta fechava-se ao tentar engolir a dor da verdade. Como poderia protegê-los se era ele que os causava dor?
— Tire as mãos dele! — Verme Cinzento logo estava ao seu lado, leal como o bom soldado e amigo que era, logo as mãos dele estavam nos braços de Chanyeol, tentando obrigá-lo a ficar longe de si. Não surgiu efeito algum. Daario estava logo atrás dele. Conhecia aquele semblante, ele estava preparado para puxar uma foice e cortar a cabeça do Baratheon naquele momento.
Era o que Baekhyun queria. Na verdade, ele mesmo gostaria de fazê-lo. Um rugido estrondoso fora ouvido perto demais, e instintivamente, todos se abaixaram, os plebeus que corriam paralisaram no mesmo lugar, assim como a Patrulha da Cidade que não ousou mover um músculo quando Drogon pousou no Grande Septo, destruindo uma torre devido ao seu peso, suas asas se abriram de maneira majestosa e ele rugiu tão forte que os vidros se estilhaçaram em mil pedaços. Em um pulo, ele estava no solo, perto demais de Baekhyun. Perto demais dos homens que o rodeavam. Era como se ele pudesse senti-lo, assistiu às pupilas do dragão aumentarem de tamanho ao enxergá-lo, suas narinas farejaram o cheiro de seu sangue e de sua garganta, um rosnado horripilante os envolveu. O Targaryen conhecia todos os sons de Drogon. E aquele não era um bom sinal. — Afastem-se. Agora.
Sua voz saiu baixa e sem fôlego, mas ainda assim, audível. Daario, os Imaculados e Verme Cinzento, que conheciam o dragão, afastaram-se imediatamente, mesmo que desejassem conferir o estado de Baekhyun. Eles sabiam. Lentamente, todos os outros os seguiram, dando pequenos passos para trás. Menos ele. Suas mãos ainda estavam em seu pulso, mas sem o aperto de outrora, arriscou olhar para ele, perguntando-se o porquê dele não se mover. Chanyeol olhava fixamente para o dragão e ele o olhava de volta, os sentimentos que nutria há minutos atrás já não existiam mais, restava apenas o medo gutural que o paralisava, e a admiração intrínseca por ver a fera tão de perto. Era assustadoramente bonito.
Murmurou, ainda com os olhos presos em Drogon, que agora encarava o Baratheon com fogo prestes a sair de sua garganta. — Chanyeol, se afaste — pediu, o puxando pela armadura para mais perto até que ele finalmente se movesse. Ele o olhou com um vinco entre as sobrancelhas, os cabelos negros bagunçados caiam sob seus olhos e as mãos que apertaram seus pulsos, rapidamente voltaram a segurá-lo quando Baekhyun tentou se colocar entre ele e o dragão. Ainda que estivesse enraivecido, amedrontado e se sentindo ameaçado, ele não moveu um músculo. As mãos dele ainda eram firmes, ele ainda queria protegê-lo, não sabia dizer até onde aquele desejo era verdadeiro ou não, mas havia algo que não podia negar. Chanyeol era corajoso. — Está tudo bem… — murmurou para ele, colocando-se na frente dele, dando-lhe um último olhar antes de se desvencilhar de seu toque e voltar-se para seu dragão.
Drogon abriu a boca e, no fundo, de sua garganta, Baekhyun podia ver lava derretida, o fogo em sua forma mais pura. Queimando. Não o temia. Fogo algum pode queimar um dragão, e Baekhyun tinha sangue de dragão. — Lykiri, Drogon… — ergueu uma das mãos, mandando-o se acalmar, levou segundos para o enorme dragão fechar a boca e o fogo de outrora, cessasse. Aproximou-se dele, acariciando o focinho com uma mão, encostando seu rosto na pele repleta de escamas. — Rybas… — murmurou a palavra, exigindo que ele o obedecesse, enquanto sentia a quentura em sua pele, seus olhos completamente fechados mostravam sua devoção, o carinho entre eles provava o quanto estavam ligados profundamente. — Dohaerās, Drogon! — a voz saiu mais alta, impondo toda a sua vontade sobre a dele, o subjugando, mostrando que estava tudo sob controle. Mostrando a ele que estava bem. Abriu os olhos e se enxergou através dos orbes dele, eram apenas uma carne, abriu um pequeno sorriso com a intensidade que fluía dentro de si. Estavam queimando.
Enquanto todos estavam abaixados, Chanyeol era o único de pé. Assistia, próximo demais para sua própria segurança, Baekhyun falar o Alto Valiriano, sem que soubesse o que significava, ele quase cantarolava enquanto subjugava o grande dragão, a voz era melodiosa e bonita, poderia ficar horas o ouvindo falar aquelas palavras que não entendia. Era majestoso. O jeito que ele acariciava a pele do dragão e o animal inclinava-se para ele, buscando por contato, o deixara fascinado. Sempre pensou que eles não tinham alma ou discernimento, naquele momento, no entanto, via com seus próprios olhos a beleza daquela criatura e a beleza de seu montador. Baekhyun parecia um deus, como os plebeus diziam. Nunca sentiu tanto medo na vida. Sempre fora o melhor dos combatentes, fosse com lâminas ou espadas, mesmo que estas estivessem em seu pescoço, nunca havia recuado, pelo contrário, gostava da adrenalina que apenas o vislumbre da morte o trazia. Gostava de se sentir vivo.
Naquele instante, porém, percebera que nunca havia realmente estado em perigo. Nunca havia olhado para a morte, até os olhos do dragão estarem sob si. Não conseguia nem se mexer, estava paralisado de medo e de esplendor. Era a maior beleza da terra. Um vislumbre de uma época que nunca mais voltaria. Um pensamento genuíno o preencheu, enquanto Baekhyun montava nas costas repletas de espinhos do dragão, o coração bateu mais rápido quando ele o encarou de cima, as mãos bem presas em duas escamas, o rosto ainda marcado de sangue e lágrimas. Lindo. Seus olhares se conectaram por segundos a fio, e a euforia envolveu seu corpo por inteiro quando ele alcançou voo, a força do bater de asas sendo tão forte que o Baratheon sentiu a fraqueza o tomar, e seus joelhos cederam, batendo rudemente no chão sujo. O Targaryen era a última beleza deste mundo. Era aquele pensamento que havia o tomado enquanto ele o admirava voar para longe, além dos céus, desafiando as leis dos deuses e dos homens. Ele era o sangue do antigo mundo. O poder da Antiga Valíria.
Sempre diziam que os Targaryens eram mais próximos dos deuses do que dos homens, mas Chanyeol nunca acreditara em nenhuma história para dormir. Naquele instante, no entanto, percebeu que era real.
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Palavras em Alto Valiriano, a única língua que os dragões entendem.
Lykiri: Calma; Acalme-se;
Rybas: Obedeça;
Dohaerās: Sirva.
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