‘’Filho da mãe…’’ Chanyeol xingou, em um sussurro, com seus dedos batendo rapida e violentamente nas teclas do notebook. Se fosse uma outra realidade, e ele fosse outro tipo de pessoa, se poderia dizer que ele estava muito estressado com uma partida de algum jogo online – mas sendo quem era, ele estava é escrevendo um e-mail. E era um dos meus passatempos favoritos, nos últimos tempos, ver o quão polido e passivo-agressivo ele conseguia ser mesmo quando só queria xingar todas as gerações de alguém. Ainda assim, eu só o esperei deslizar o dedo pelo mousepad, parecendo ter acabado de enviar, pra me debruçar em sua direção e fechar o notebook.
Sentado bem à sua frente, eu apontei um dedo em seu rosto.
‘’Você disse que o trabalho ficaria em Seul.’’
Sua boca se entreabriu, ele pareceu procurar alguma justificativa pra me dar, deu uma olhadinha no relógio em torno de seu pulso e eu poderia jurar que ele estava prestes a chegar na conclusão de que aquilo ainda não valia. Afinal, ainda estávamos em Seul – mesmo que dentro de um avião, no qual ficariamos por mais umas vinte horinhas. No fim, seus olhos apenas amoleceram.
‘’Desculpa, bebê.’’ Ele acenou com a cabeça na direção de seu colo e eu fui pra lá tão rápido que até ele soltou uma risadinha surpresa enquanto me assistia praticamente escalar suas pernas. Suas mãos encontraram minha cintura, me trazendo pra ainda mais perto de seu corpo. ‘’Agora minha atenção é toda sua.’’
Eu envolvi meus braços em torno de seu pescoço, encostando a cabeça em seu ombro e assistindo o seu rosto. ‘’Você é um docinho, Yeol.’’ O engraçado é que ele já me tratava assim antes, como se eu fosse feito de porcelana. Não achei que fosse sequer possível que ele ficasse ainda mais carinhoso, mas a cada dia me surpreendia mais.
‘’Você merece que eu seja um docinho.’’ Foi uma resposta quase séria de tão conclusiva. Então ele tombou a cabeça para um dos lados e seus olhos semicerraram, me analisando como se eu, de repente, houvesse me tornado um grande enigma. ‘’Você não gosta que eu seja?’’
Minha vontade foi de rir.
‘’E se eu dissesse que não?’’ O que, é claro, não era o caso. Ele sabia muito bem, mesmo assim ergueu uma das mãos até meu rosto e pressionou o polegar nos meus lábios.
‘’Ia te mandar calar essa boquinha linda.’’ Eu a abri pra mordiscar a ponta de seu dedo mas, ao invés de tomar como uma provocação, ele deixou, só o empurrou um pouco mais fundo. Eu perdi a competição e larguei seu dedo, com o rosto esquentando por inteiro. ‘’Você é o meu bebê e vai ser tratado como tal.’’
‘’Você sabe que todo mundo da empresa tá reparando nisso, não é?’’ Talvez eu tenha ouvido um funcionário comentar com Kyungsoo o quão estranho Chanyeol era quando eu estava por perto, e eu sei que ele só não concordou porque era muito fiel ao próprio chefe, já que o bichinho mais que todos os outros tinha motivo para achá-lo estranho.
Chanyeol, ao contrário do que eu esperava, apenas riu.
‘’Mas eles sempre souberam que eu te trato diferente.’’ Eu pisquei algumas vezes, genuinamente confuso sobre o que ele queria dizer com aquilo. ‘’Uma vez, eu quebrei a cara de um desgraçado que disse uma besteira sobre você e todo mundo só falou nisso por umas semanas. Depois se acostumaram, eu acho.’’ Deu de ombros, como se não fosse nada.
‘’Você o quê?’’
‘’Quebrei o nariz dele. Acho que foi um dente junto também? Porra, espero que tenha ido um dente.’’
‘’Chanyeol!’’ Eu dei um tapa em seu ombro, mas foi inevitável rir, ainda incrédulo. ‘’Por que eu não sabia disso?’’
‘’Sei lá, faz um tempo. Seu pai tentou colocar panos quentes no assunto. Era um riquinho insuportável e na época ele queria me denunciar e tudo, mas acabou não dando em nada.’’
‘’Quando?’’ Sua mão tinha ido até o meu rosto e ele estava casualmente acariciando minha bochecha.
‘’Você devia ter acabado de se formar na escola, um bebê ainda.’’ Eu revirei os olhos, mas ele continuou. ‘’Ele falou alguma coisa nojenta e eu fiz questão de lembrar ele de nunca mais repetir o seu nome. Nada demais. Diziam que eu fiz pra puxar saco do seu pai, mas depois devem ter reparado que eu não brinco em relação a você.’’
Eu pisquei devagar, sem sequer conseguir pegar uma das linhas de raciocínio que se perpassavam na minha mente e elegê-la como a predominante. Primeiro: como eu havia sido tão cego por tanto tempo? Ou como Chanyeol conseguiu esconder o que sentia tão bem de mim, quando pelo visto sequer escondia dos outros? Quer dizer — será que ele chegou a esconder, em algum momento? Eu mesmo vivo dando ênfase no quão carinhoso ele sempre foi comigo. E eu acredito que, sim, a natureza de todo esse carinho não era a mesma do que eu recebo hoje em dia, nada parecida com aquela por traz do carinho de seu polegar na minha cintura, por baixo da minha camisa. Seu olhar definitivamente não era tão carregado quanto aquele que ele me direcionou quando trouxe meu rosto pra perto do seu, querendo me acordar do meu transe.
‘’Te assustei?’’ Ele sussurrou, tão perto de mim.
Nossos narizes se tocaram quando eu acenei com a cabeça, negando. ‘’Eu gosto.’’
Seu olhar recaiu sobre a minha boca, seu próprio lábio inferior sendo momentaneamente capturado pelos seus dentes.
‘’E eu achava que você era tão inocente…’’
Eu queria dizer que, com ele, não me lembrava da última vez que fui. Que toda vez em que ele me tocou, não importa o quão casto e casual tenha sido, eu ainda revivi o momento na minha mente de novo e de novo; que toda gentileza, todo sorriso e toda vez que me chamou por um apelidinho foi o suficiente pra que eu me imaginasse debaixo dele — ou em cima, ou…
‘’Eu nunca disse que era.’’
‘’São seus olhinhos.’’
‘’O que tem os meus ‘olhinhos’?’’
‘’São lindos.’’ Ele pressionou os lábios nos meus, tão rapidamente que, quando apoiei as mãos em seus ombros e tentei aprofundar o beijo, ele já estava longe, me fazendo parecer mais desesperado que costumo ser ao que tentava alcançar sua boca de novo. ‘’Como se implorassem pra que eu cuide de você o tempo inteiro.’’
Eu respirei fundo, tentando encontrar onde haviamos parado.
‘’E o que tem de inocente nisso?’’
‘’Para de fazer biquinho.’’ Eu franzi as sobrancelhas, só então tomando noção da expressão insatisfeita que eu ostentava por não ter conseguido mais do beijo que queria. ‘’Cuidado não é inocente pra você?’’
‘’Alguns são… Os seus nunca foram.’’ Ele tombou a cabeça pro lado, como se estivesse prestes a me repreender. ‘’O quê? Não pra mim.’’
‘’Pode ser.’’ Ele aceitou, e eu quis revirar os olhos. ‘’Mas eu vou continuar cuidando de você mesmo se…’’
Meu reflexo foi rápido o suficiente pra que eu conseguisse cobrir sua boca com meu indicador, o impedindo de continuar. O quê? Mesmo se não der certo? Se um dia voltarmos ao ponto em que tudo que puder sair da nossa relação for algo inocente? Eu não queria saber disso.
‘’Cala a boca.’’
Ele riu. ‘’Amor, o que eu quero dizer…’’
‘’Shhhh.’’ Dessa vez usei as duas mãos pra cobrir sua boca, e levei alguns segundos pra raciocinar que aquela era a primeira vez que ele me chamava de amor. E como isso fez meu coração bater tão rápido que eu tive medo de ele escutar.
Chanyeol não deve ter escutado, ou devia estar preocupado com outra coisa, e a palavra saiu de sua boca tão naturalmente que ele sequer havia percebido. Não é como se ele tivesse dificuldade pra dizer que me amava, chegava a ser engraçado que ele tenha dito muito mais vezes que eu. Ele também estava focado em tentar se libertar das minhas tentativas de silenciá-lo, e eu resisti um pouco até ele conseguir agarrar meus pulsos — nós dois quase caímos da poltrona quando ele os juntou atrás das minhas costas e eu me impulsionei pra trás pra tentar fugir, uma risada exagerada escapando da minha boca ao ter as mãos atadas por apenas uma das suas.
‘’O que eu quero dizer…’’ Ele enfim conseguiu continuar, ainda que um pouco ofegante, quando nos ajeitamos o suficiente pra não cair no chão. Eu ainda balancei minhas mãos, tentando me libertar. ‘’É que nada vai me fazer deixar de cuidar de você.’’ Seus dedos se apertaram em torno dos meus pulsos, ainda que levemente. ‘’Você tá preso comigo, bebê.’’
Eu entendia. E meus olhos iam encher de lágrimas se ele continuasse me assistindo.
‘’Me solta.’’ Resmunguei, arrastado, minha voz denunciando que eu estava um pouquinho emocionado. ‘’Ou me beija.’’
Ele sorriu, e me beijou de novo e de novo, até um comissário de bordo bater na porta para avisar que estávamos decolando.
[...]
Mais de vinte horas depois, eu estava em cacos — e havia me lembrado exatamente do motivo pelo qual não costumava gostar de viagens longas. Eu só não estava reclamando porque era Chanyeol do meu lado, segurando minha mão enquanto caminhávamos até o carro que nos esperava depois de termos passado pela área de imigração do aeroporto de Santiago, no Chile. Ainda que eu tenha passado uma boa parte do vôo dormindo na cabine do jatinho, agarrado ao braço de Chanyeol como se ele fosse um ursinho de pelúcia, eu ainda estava morrendo de cansaço. Sentia todos os meus músculos reclamarem e tinha certeza que estava com o rosto inchado e amassado.
Ainda assim, eu estava feliz — meio que me sentindo em outra realidade. Talvez começasse bem ali, em poder andar de mãos dadas sem se preocupar que alguém fosse ver, ou o que acharia disso. Seul estava especialmente gelada na manhã em que partimos, e o ar de Santiago estava quente e úmido, o que me obrigou a largar minha jaqueta antes mesmo de sair do jatinho. O sol estava forte e a pele de Chanyeol ficava tão linda debaixo dele… Eu imaginava como ficaria quando voltássemos, tendo sido exposta a esse sol por uma semana inteira. Minha boca já estava ficando seca quando ele mesmo me mandou beber água, ‘’a garrafa inteirinha, vai.’’
Eu arrastei os óculos escuros pra cima, e os deixei apoiados entre os fios de cabelo, enquanto o motorista dirigia pelo centro da cidade. Chanyeol apontou pra uma barraquinha, prometendo que nós iriamos voltar pro centro para tomar sorvete juntos e conhecer as ruas, enquanto eu pesquisava no google as comidas típicas chilenas. Os prédios logo deram lugar pra vegetação e pras casinhas de campo, e eu só parei de assistir a janela como se fosse uma TV quando comecei a sentir o início de um enjôo. Respirei fundo e tomei mais da minha água, tentando fingir que estava tudo bem. Será que Chanyeol não estava nem um pouco assim? Eu empurrei a garrafinha contra o peito dele. Ele riu, mas sequer questionou e fez o que eu estava silenciosamente mandando.
Quando enfim chegamos ao destino, o sol do fim da tarde estava mais ameno, mas o brilho dourado que ele dava aos arredores da vinícola me fez entender imediatamente por que Chanyeol insistiu tanto para conseguir comprá-la do antigo proprietário. Quando o velhinho surgiu dos portões altos da propriedade, também entendi por que foi uma compra tão difícil — ele analisou Chanyeol da cabeça aos pés, como se ainda pudesse voltar atrás e pegar sua amada vinícola de volta caso não gostasse dele, mas alguns segundos de silêncio depois e... Ele abriu um sorriso, abriu também os braços para envolver Chanyeol neles, batendo nas suas costas. Eu só aceitei quando o homem também me apertou forte e beijou minhas bochechas, assim como havia feito com Chanyeol.
Ele nos recebeu com um inglês um pouquinho enferrujado, e Chanyeol, enquanto me puxava junto dele para passarmos pelos portões, o respondeu em espanhol, o que pareceu ter ganhado ainda mais o coração do chileno. E o meu, que até sabia que ele falava outras línguas mas nunca havia tido a chance de presenciá-lo gastando seu espanhol. Só fiquei quieto ao seu lado, com o olhar vidrado em seu rosto quando ele disse algo que fez o homem rir (eu sorri junto, como se houvesse entendido) e me fez arrepiar levemente pelo timbre de sua voz. Em quanto tempo será que eu conseguia aprender o idioma pra que ele só falasse comigo nele?
Eu ainda devia estar meio embasbacado quando o senhor saiu de perto de nós, aparentemente com a promessa de voltar logo, e Chanyeol enfim se virou completamente a mim. Ele apertou a pontinha do meu nariz.
‘’O que foi, cariño?’’
Eu dei um tapa no braço dele.
‘’Me deixa em paz…’’
Ele riu, suas mãos se fixando sorrateiras na minha cintura e me trazendo pra perto. Eu apoiei o queixo em seu peito, o assistindo debaixo, e ele tirou uma mechinha de cabelo do meu rosto, me ajeitando como se eu fosse uma bonequinha de porcelana.
‘’O proprietário tá animado e quer fazer uma tour do lugar, foi chamar um funcionário pra ajudar ele.’’ Ele explicou o que eu não havia entendido (que, com o cansaço que eu sentia, provavelmente não teria entendido mesmo na minha língua materna). ‘’Você quer ir se deitar, bebê? Não tem problema.’’
Mesmo piscando lentamente, eu ainda balancei a cabeça, negando a oferta. Daria tudo pra dormir até sentir que minha cabeça pesava menos que toneladas, mas…
‘’Não, eu vou te esperar. Quero ir junto com você.’’
Seu sorriso era tão lindo, e ele vinha sorrindo com tanta frequência nos últimos tempos.
‘’Você é tão bom pra mim, amor.’’ Ele segurou meu rosto com delicadeza, então pressionou um beijo demorado na minha bochecha. ‘’Não vai demorar, viu? Vou apressar o velho.’’
‘’Não fala assim dele, coitado.’’ Isso o fez rir. ‘’Ele te adorou.’’
‘’Ele também deve ter adorado os milhões que arrancou de mim.’’
‘’Pelo menos o lugar é lindo.’’ Eu dei de ombros.
‘’É mesmo.’’ Ele sorriu mais uma vez, se abaixando um pouquinho pra aproximar o rosto do meu. ‘’E é só nosso.’’
O antigo proprietário voltou pra perto de nós antes que ficasse claro que a minha falta de resposta era porque Chanyeol havia me deixado sem palavras.
[...]
Estranhamente, caminhar pelos jardins imensos da vinícola, enquanto o céu escurecia e sob o vento suave do fim de tarde, acabou me renovando, embora eu ainda continuasse praticamente me arrastando ao lado de Chanyeol, mole e doido pra conseguir dormir de verdade em terra firme. Ainda assim, as histórias do proprietário, sobre o que aconteceu com as últimas gerações de sua família bem onde nós estávamos pisando, que Chanyeol estava traduzindo baixinho ao pé do meu ouvido, até que eram interessantes — e eu fiquei bem satisfeito quando caminhamos por entre as plantações de uva e Chanyeol me fez experimentar uma por uma, empurrando a frutinha nos meus lábios.
Em algum momento, o senhorzinho apontou pra mim, e eu pude assistir a satisfação no rosto de Chanyeol quando ele me disse, como se fosse a coisa mais normal do mundo, que ‘’ele está perguntando o nome do meu namorado’’.
‘Uh…’’ Eu resmunguei, completamente perdido. Precisei de alguns segundos pra me lembrar do meu próprio nome, e ainda assim gaguejei quando enfim respondi: ‘’B-byun Baekhyun.’’
Chanyeol quis rir, mas só repetiu meu nome de uma forma que soasse mais fácil pra ele entender, e eu continuei os seguindo como se não estivesse com o rosto completamente vermelho.
[...]
A tarde já estava dando lugar à noite quando o pequeno tour pela vinícola, que devia ter sido rápido, enfim acabou, e pudemos entrar na construção principal. Era uma casa enorme, de arquitetura colonial, com estátuas brancas de querubins no jardim que enfeitava a frente dela e que, segundo uma das palestras do senhorzinho chileno, seu avô havia ido buscar na França. A sorte é que ele não havia resolvido também nos dar um tour pelos cômodos da casa, porque eu provavelmente não conseguiria aguentar mais vinte minutos longe de uma cama. Chanyeol também concordou que aquele não era o momento de conhecer melhor a casa em que passaríamos a semana, e só insistiu que comêssemos alguma coisa antes de deitar.
Eu sentei na bancada da cozinha, balançando as pernas no ar enquanto ele preparava alguns sanduíches pra nós, e comi tão rápido que fui repreendido com um tapinha na mão — mas ele também estava cansado e não fez muita cerimônia para terminar.
‘’Vamos te levar pra cama.’’ Ele me ajudou a me levantar e eu agarrei seu braço, completamente mole, praticamente o deixando me arrastar pela casa até subirmos degrau por degrau e seguirmos o corredor até a suíte que dividiriamos.
‘’Eu preciso de um banho…’’ Resmunguei, ainda que contra minha vontade.
‘’Shhhh, eu te ajudo.’’
‘’Uhum…’’ Concordei, me apoiando em seu ombro com os olhos fechados. E então realmente processei suas palavras, e parte daquele sono foi embora em um estalo.
[...]
Eu percebi que estava demorando muito mais tempo que precisava debruçado sobre a pia do banheiro, escovando os dentes com o olhar baixo pra que não corresse o risco de espiar o espelho e encontrar Chanyeol se despindo atrás de mim. Estava incessantemente tentando me convencer de que eu estava sendo um louco e que devia simplesmente aproveitar a chance que tínhamos de ser, naquela viagem, pela primeira vez, um casal normal. De poder andar de mãos dadas, dormir na mesma cama e… Tomar banho juntos. Era normal. Nós já tinhamos passado dos beijos, embora nunca… Nunca indo tão longe. Embora Chanyeol tenha me visto tremer e desmontar inteirinho debaixo dele, eu nunca sequer havia visto ele completamente nu.
Eu respirei fundo. Tá bem, eu estava pensando demais… Nós dois estávamos cansados e aquilo seria rápido e não tinha motivo para que eu estivesse sentindo meu coração bater na minha garganta, exceto pela maneira como Chanyeol estava quando enfim ergui os olhos e encontrei seu reflexo — o cabelo fora do lugar, os ombros largos e completamente expostos, a tatuagem descendo por um deles… Droga. Eu nunca prometi ser forte mesmo.
‘’Precisa de ajuda aí?’’ ele perguntou, e eu enfim voltei para a realidade. Enxaguei a boca e larguei a escova de dentes antes que minhas gengivas sangrassem. Tentei balançar a cabeça pra negar, mas ele já estava se aproximando e… Ele ja tinha se livrado de suas calças? Ou era impressão minha? Eu não ia olhar pra baixo pra tentar descobrir. Minha postura se endireitou automaticamente quando suas mãos tocaram minha cintura, e ele certamente não precisava tocar todo o caminho do meu torso enquanto subia lentamente minha camisa. ‘’Levanta os braços.’’
Eu fiz o que ele mandou, e ele arrancou a peça por sobre a minha cabeça. Quando procurei pelo meu reflexo, vi meus cabelos bagunçados, as bochechas pintadas como dois pêssegos. Ele se aproximou ainda mais, encostando seu peito nu às minhas costas, e meu olhar desceu pra pia mais uma vez. É. Pelo visto a resposta era sem calças, mesmo… Suas mãos pousaram sobre os meus quadris, e seus dedos longos me acariciaram lentamente por ali, antes de se encontrarem na frente e desfazerem os botões da minha calça, descerem o zíper… Ele se abaixou um pouco pra me ajudar a sair completamente das calças, e eu aproveitei os segundos longe de sua visão pra respirar fundo, com os olhos fechados, e me acalmar. Eu não era um adolescente e não ia passar a vergonha de ficar duro só com aquilo.
‘’É…’’ Eu comecei, só pelo pânico que me atingiu quando abri os olhos e o encontrei me assistindo, novamente, por cima dos meus ombros. Imaginei que se começasse a falar, alguma palavra que fizesse sentido surgiria a seguir, e então eu seria capaz de puxar outras e formular uma frase decente. A realidade não foi essa, e eu podia jurar que a sombra de um sorrisinho se formou no canto de sua boca. Seu indicador se infiltrou por baixo do elástico da minha cueca e puxou, o fazendo estalar contra a minha pele. Eu mordi meu lábio inferior.
‘’Vou regular a temperatura do chuveiro.’’
Gelada, por favor. Congelando se for possível.
Quando enfim tive coragem de ir encontrá-lo debaixo do chuveiro, me esforcei pra não deixar meu olhar cair sequer um centímetro abaixo de sua cintura, mesmo que… Eu nunca tivesse visto. E já tivesse fantaseado milhares de vezes sobre como devia ser… Chanyeol, por sua vez, não tinha essa preocupação, e me olhou da cabeça aos pés antes de eu parar à sua frente. O que talvez fosse ainda pior, porque ele devia saber o efeito que tinha em mim vê-lo me analisar completamente e, pior que isso, imaginar que ele gostava do que via. Porque eu sabia muito bem que sim.
‘’Tudo bem?’’ Ele perguntou, e eu sabia que era simplesmente genuíno. Acenei que sim com a cabeça, respirando fundo mais uma vez, porque estava tudo bem: eu estava do outro lado do mundo com o homem que amava, e não tinha como aquilo estar melhor. Eu só não confiava no meu corpo pra não me fazer passar vergonha mas, além disso, é. Tudo muito bem. ‘’Uhum?’’ Ele segurou minha mão, delicadamente, me trazendo pra perto da água. Primeiro pegou um pouco em suas mãos e a deixou cair, quentinha, sobre meus ombros, depois jogou um pouco nos meus braços, e no meu rosto, acostumando meu corpo com a temperatura. Foi só depois que me levou pra debaixo da corrente de água.
Eu suspirei, satisfeito, quando senti a água bater sobre minhas costas, aliviando parte daquele cansaço que veio junto com o fuso horário. Ele me abraçou, e eu apenas foquei no momento, na sensação de nossos corpos colados, seu peito subindo e descendo no mesmo ritmo que o meu, sua mão apoiada na minha nuca, os dedos se infiltrando nos fios de cabelo e acariciando suavemente, fazendo arrepios passearem suavemente pelo meu corpo. Eu poderia morar ali, no abraço dele, pra sempre.
Nem notei que choraminguei quando seus braços se afrouxaram e ele ameaçou se afastar. Ele riu baixinho. ‘’Me deixa te ensaboar um pouquinho.’’
E eu deixei, porque estava surtando desde que entrei naquele banheiro, mas tudo que queria era ter as mãos dele sobre mim. Me esforcei pra me afastar um pouco e ele pegou uma esponja de banho, deixou cair sabonete líquido sobre ela mas, quando se voltou ao meu corpo, realmente usou apenas suas mãos, como se minha pele fosse algo tão delicado que até a esponja fosse me machucar. Eu achava engraçado, mas também achava lindo, e me considerava a pessoa mais sortuda que existia sempre que ele me tratava daquele jeito, como se eu pudesse quebrar sob seus dedos caso ele não fosse delicado o suficiente.
E seus dedos que, além de delicados, estavam melados com sabonete, começaram pelo meu pescoço, descendo lentamente pelos meus ombros e logo depois pelos braços. Ele até mesmo tomou minhas mãos entre as suas, uma de cada vez, esfregando meus dedos, meu pulso. Quando parecia satisfeito com as duas, virou a palma de uma de suas mãos e colocou a minha sobre ela, só para contemplar a diferença entre elas.
‘’Pequenininho’’ sussurrou, no que talvez devesse ser pra tirar uma com a minha cara, mas só me fez querer sorrir. Ainda assim, eu fingi que tomei como ofensa, e retruquei na mesma hora:
‘’Gigante.’’
Ele riu, como se tivesse sido pego de surpresa, mas ergueu uma das sobrancelhas, dando de ombros.
‘’Obrigado, amor. Não é pra tanto, eu diria que tô na média...’’
Até minhas orelhas esquentaram quando eu raciocinei o que ele queria dizer, com aquela carinha de cafajeste e aquela voz rouca. Eu queria reclamar, mas minha boca estava seca e não consegui nem chamar o nome dele, o que era só mais uma das milhares de vezes que ele me deixou sem palavras no dia. O pior é que… Eu nem tinha tido coragem de realmente olhar. Ele deve ter notado, e devia estar se divertindo com isso — a piadinha era pra me dar ainda mais curiosidade?
‘’Fecha a boquinha.’’ Ele estava se divertindo até demais. E eu só fiz o que ele falou, completamente envergonhado, e continuei paradinho enquanto suas mãos desciam pelas minhas costas. Ele espalhou espuma por elas, massageando minha pele, então lambuzou as mãos de mais sabonete e se voltou à frente.
Suas mãos começaram se espalhando pela minha barriga — elas eram tão grandes que cobriam tudo com tanta facilidade — e eu me contorci inteirinho sob elas. Ele fingiu não perceber, então suas mãos subiram até o meu peitoral e apertaram, quase que casualmente. Um sonzinho estrangulado saiu da minha garganta e, droga. Os dedos se afastaram, e os polegares tocaram suavemente meus mamilos, como se ele quisesse testar se conseguia fazê-los endurecer com um só toque. Pois bem. Eu não queria olhar em seu rosto, mas tenho certeza que encontraria um sorriso de lado quando ele os torceu e, dessa vez, eu não fui capaz de segurar um gemido de verdade.
Ele estava fazendo de propósito, e não podia me culpar pelas reações que meu corpo tinha às suas tentativas de me enlouquecer — por isso ou, justamente, por já ter aceitado que sou fraco, que dei um meio passo à frente e o abracei pelos ombros novamente, escondendo o rosto em seu pescoço. Dessa vez ele realmente riu.
‘’Você é tão sensível.’’ Ele me apertou contra o seu corpo, e eu gemi quando senti o contorno de seu pau pressionado no meu quadril. Eu já tinha uma semi-ereção, enquanto ele não estava sequer lá, e ainda assim…
Eu colei a boca, entreaberta, em seu pescoço.
‘’A culpa é sua’’ sussurrei contra a pele dele, com a voz fraca.
‘’Eu disse, você não é nada inocente como eu achava.’’ Ele estalou a língua no céu da boca, balançando levemente a cabeça. Ouvi o som do frasco do sabonete, e ele devia estar pegando mais — seus dedos lambuzados surgiram, dessa vez, na parte inferior das minhas costas. ‘’Eu só tô cuidando de você.’’
Eu queria xingá-lo por trazer aquela conversa à tona de novo só para me infernizar, mas suas mãos encontraram minha bunda e apertaram a carne com tanta vontade que fiquei tonto, sendo capaz só de choramingar. Ele espalhou a espuma, massageando por alguns segundos como se quisesse fazer aquilo há muito tempo, então afastou os lados e eu tremi por inteiro quando seus dedos encontraram um lugar muito mais sensível.
‘’Chanyeol…’’
‘’Tô aqui, meu amor.’’
Eu achei que tinha dito algo, mas só consegui balbuciar algumas sílabas sem sentido, contorcendo contra seus dedos lambuzados. Ele os esfregou, então a pontinha do dedo médio pressionou, e meu gemido saiu arrastado, minhas pernas enfraquecendo. Fechei a boca sobre a porção de pele encostada em meus lábios, mordiscando e sugando como uma forma de compensar o que ele estava me fazendo sentir, mesmo que insistisse que não era absolutamente nada.
‘’Você vai…’’ Eu tentei começar a pergunta, mas logo o dedo não estava mais lá, e suas mãos estavam voltando a subir pelas minhas costas. ‘’Ei…’’
Ele me obrigou a desgrudar de seu pescoço, se afastando um pouco para segurar meu queixo e me forçar a olhá-lo, tão de perto.
‘’Guloso’’ sussurrou, tão perto da minha boca que eu achei que ele me beijaria de uma vez — mas quando me movi para iniciar o contato, ele se afastou, e a próxima coisa que consegui registrar foi ele de joelhos à minha frente. Droga. Se eu achava que ficar duro facilmente era o maior dos problemas, é porque eu não lembrava do que estar dentro da boca dele me causou. Eu me arrepiei inteiro, tremendo visivelmente. Ia gozar em segundos, como daquela vez, e ainda assim, era tudo o que eu queria. Eu gemi arrastado, só pela antecipação, minhas mãos indo quase automaticamente até sua cabeça, se apoiando fracas em seus cabelos.
Chanyeol riu, e eu sequer entendi nada, até vê-lo começar a ensaboar minhas pernas. A confusão me fez juntar as sobrancelhas, com a boca entreaberta enquanto observava suas mãos subindo pelas minhas panturrilhas e me perguntava por que ainda não tinha recebido o que achei que já era garantido. Ainda assim, meus joelhos ameaçavam ceder só de sentir suas mãos subirem pelas coxas, os dedos nada inocentes as apertando com tanta força que deixaria marcas, e denunciando o quão fino era o autocontrole que ele jurava ter.
‘’Por favor’’ choraminguei, arrastado, com um biquinho nos lábios e os dedos prendendo seus cabelos com força. Suas mãos chegaram perto da minha virilha e minha ereção se contorceu, bem ali pertinho do rosto dele. Chanyeol estava fingindo que não me ouvia? ‘’Hyung, por favor.’’
Ele ergueu os olhos até os meus e, por um segundo, eu achei que ele enfim me daria o que eu queria — mas então enxerguei aquele sorrisinho, e logo ele estava se levantando, e eu deixei minhas mãos caírem, enquanto as dele subiam pelas minhas laterais, suas unhas curtas inflamando todo o caminho que traçavam ao longo da minha pele.
‘’Shhh.’’ Ele sussurrou, como se me acalmasse, enquanto capturava o frasco de sabonete. Derramou um pouco nas minhas mãos e acenou pra baixo com a cabeça. ‘’Você consegue fazer isso sozinho.’ ele disse, e eu resmunguei como se estivesse sofrendo a maior injustiça do mundo, mas ainda assim me encostei em uma das paredes do box, enquanto ele ia pra baixo do chuveiro como se sequer se importasse que eu estivesse ali.
Ele queria me deixar louco, e eu podia me importar com isso em algum momento, mas depois que eu me aliviasse, de um jeito ou de outro. Não esperava o som que escaparia de mim quando enfim me toquei, mesmo que suavemente, só alinhando meu pau na palma da mão. Quando empurrei os quadris, me esfregando em meu punho fechado, o gemido que veio foi longo — e se emendou em outro, cortado apenas pela minha respiração ofegante.
Chanyeol não me olhava, enquanto se ensaboava, mas meus olhos não saíam de cima dele. Seus ombros largos, a pele levemente morena, os músculos bem marcados em algumas partes e mais macios em outras, a tatuagem que fazia contraste com o resto do corpo. Suas mãos enormes deslizando pelo próprio corpo, e… Ele estava duro. Estava tentando fazer aquele joguinho comigo, mas estava duro, e seu pau se contorceu quando eu gemi mais uma vez. Foi como descobrir um superpoder.
Tive que umedecer meus lábios enquanto o assistia, as veias saltadas marcando toda a extensão e— ele era, mesmo, grande. Droga. Era grande de verdade. Eu provavelmente precisaria de ajuda para conseguir envolver ele por inteiro, teria que usar minha mão para cobrir a parte que não coubesse na minha boca. Eu nunca havia feito aquilo, então não sabia, mas talvez, talvez fosse possível, e eu podia tentar comportá-lo até o fim da minha língua, podia deixá-lo encostar na minha garganta e, talvez, se conseguisse engolir tudo, ele ficaria orgulhoso de mim. Talvez fodesse minha boca como eu vinha fantaseando desde quando aprendi o jeito certo de me tocar para gozar tão rápido que eu não precisava pensar no que estava fazendo.
Normalmente, eu iria querer sua atenção, mas estava tão cansado, levado ao limite por ele, que só queria meu alívio, e não conseguia sequer forjar qualquer raiva por ele não ter me tocado diretamente, por não ter feito muito mais — talvez me deixar assisti-lo fosse o suficiente. Meus olhos estavam pesados, então os fechei, angulando a mão de outra forma e quase gritando com a fricção da minha glande contra meus dedos apertados juntos. Eu ia gozar — com a memória da boca de Chanyeol em mim, naquele dia, de seus dedos tão perto de me penetrarem, minutos atrás, do jeito como tocou minha cintura, em uma festa, há muitos anos.
Mas, quando eu estava bem perto, ele finalmente me alcançou, e arrancou minha mão do lugar como se eu estivesse correndo um risco muito sério. Ele me puxou contra seu corpo, pressionando completamente minhas costas na sua frente, sua ereção bem ali — se eu não estivesse tão cansado, poderia implorar, e ele poderia me empurrar no vidro do box e finalmente me comer, não importa se aquilo tudo iria caber ou não. Mas sendo como era, eu aceitei sua mão, diminuindo o ritmo tão drasticamente que apenas abri a boca, tentando puxar ar, e ele não vinha de jeito nenhum. Quando abri os olhos, nos encontrei no reflexo fraco do vidro.
‘’Chanyeol’’ gemi seu nome.
‘’Isso. De novo.’’ Eu nunca tinha ouvido sua voz tão rouca.
Eu choraminguei. ‘’Chanyeol-ssi…’’
Sua mão me cobria perfeitamente e eu deixei meu quadris se impulsionarem, o que no fim acabava fazendo com que eu me esfregasse em sua ereção atrás de mim. Ele gemeu junto comigo, e era isso, minha barriga estava formigando — e minhas pernas também, ameaçando parar de me sustentar a qualquer momento, por isso era bom que Chanyeol estivesse me segurando com tanta força. Mas então… Sua mão se afastou novamente, e eu só quis chorar e chorar.
‘’Pede.’’ Ele mandou, com a boca colada no meu pescoço. Eu não conseguia raciocinar com seus beijos descendo na minha pele, com o jeito como ele pressionou os dentes na divisão entre meu pescoço e minha clavícula, tão forte que marcaria. E eu queria ver — meu deus, eu queria ver, e eu conseguiria gozar só de pensar em achar a marca no espelho no dia seguinte.
‘’Por favor.’’ Solucei, tremendo sem parar dentro de seus braços. ‘’Me deixa gozar, eu preciso de você.’’
Seus lábios subiram até meu ouvido, e ele usou uma das mãos para segurar meu rosto, antes da outra mão voltar exatamente pra onde eu a precisava.
‘’Tudo o que você quiser, princesa.’’
E então eu gozei, provavelmente mais forte que jamais na vida — dividido pelo calor da sua mão, o tom da sua voz, o toque de sua boca na minha pele, a humilhação ou o prazer de ser chamado daquela forma. Meu corpo praticamente colapsou, as pernas virando gelatina dentro de seus braços, um zumbido na minha cabeça enquanto onda e mais onda de prazer vinha, sua mão ainda em torno do meu pau, que se contorceu mais uma vez. Acho que até ele se surpreendeu com a força do meu orgasmo, e eu encostei a cabeça em seu ombro, completamente exausto, assim que realmente acabou. Eu senti mais que vi quando seus dedos lambuzados encontraram meus lábios, e o deixei forçá-los pra dentro da minha boca, lambendo cada gota da minha própria porra que ele queria que eu engolisse.
‘’Na próxima vez, vai ser a minha.’’ Sua promessa, sussurrada, foi o que fez meu corpo se contorcer uma última vez.
[...]
Eu estava muito fora de órbita para realmente entender muito bem o que aconteceu depois, não além de Chanyeol me ajudando a me limpar mais uma vez, me enrolando em um roupão quentinho e me mandando pra cama. A lembrança que ficou foi a de saber o que ele estava fazendo nos minutos em que me deixou esperando, sozinho, e do alívio que senti quando ele se juntou a mim na cama, como me abraçou forte, beijou minha testa e sussurrou um eu te amo antes de nós dois cairmos no sono.
O sol já iluminava parte do quarto quando eu acordei, e meu coração se balançou quando me espreguicei, tentando encontrar uma parte de Chanyeol para agarrar, e descobri que estava sozinho. Por alguns segundinhos, tive medo de ter sido tudo um sonho — de estar, de alguma forma, em Seul, na casa dos meus pais, e de nada ter acontecido entre nós. Mas aquela ansiedade injustificável me deixou em segundos. Aquele quarto era diferente, o próprio ar do país parecia diferente e, de mais maneiras que eu percebi ao longo do tempo, eu estava completamente diferente.
Eu descobri, enquanto andava preguiçosamente pelo quarto, que Chanyeol já havia desfeito parte de sua mala, enquanto eu sequer havia me preocupado em procurar a minha. Pelo que vi ontem da casa, entendi que ele havia dispensado qualquer equipe dentro dela, provavelmente pra que nós tivéssemos privacidade. Eu agradecia infinitamente por isso. Me aproveitei da organização dele para roubar uma cueca e uma de suas camisetas — era tão diferente ver mais peças casuais ali que as roupas sociais que ele costumava usar o tempo inteiro no trabalho. A camiseta escura que peguei era estampada com a logo de uma banda que eu sequer conhecia — quem diria que Chanyeol é meio underground? — e me servia até as coxas.
Será que ele, com seu jeito controlador, já havia saído de casa cedo para resolver algo pela vinícola? Ele certamente estava por perto — não me deixaria sozinho, assim, sem avisar. Só precisei arrastar meus pés até o andar de baixo para encontrá-lo na cozinha, debruçado sobre o fogão, mexendo em uma frigideira enquanto assobiava alguma música. Eu tentei deixar meus passos um pouquinho mais barulhentos pra não assustá-lo quando me aproximasse e o abraçasse por trás.
‘’Hummmm.’’ Resmunguei, esfregando o rosto nas suas costas. Ele também usava só uma camiseta e uma bermuda. ‘’Por que me deixou sozinho?’’
Ele deu uma risadinha, nos balançando, e desligou o fogo antes de se virar na minha direção. Eu apenas abracei mais forte sua cintura.
‘’Precisava encher sua barriguinha’’ justificou, acenando com a cabeça na direção da bancada, onde, pelo visto, ele já havia preparado alguns pratos. Eu vi umas frutas que nunca tinha provado, uma cestinha de pães, um pote com biscoitinhos. ‘’Com todo o esforço de ontem, você precisa repor as energias.’’
Eu não sabia se ele estava se referindo à viagem ou outra coisa. Talvez fosse melhor não descobrir.
‘’Meu salvadoooor.’’ Eu brinquei, dramático.
Ele riu, mas viu a necessidade de me corrigir, com o nariz em pé: ‘’Seu homem.’’
Nós preparamos dois pratos com um pouquinho de tudo o que queríamos experimentar, das coisas típicas do país que ele deve ter encontrado na dispensa até a omelete que ele mesmo fez, e fomos comer na sala de estar. Quando ele me convidou pra viagem — quando disse que me levaria, como se não fosse sequer uma pergunta — eu pensei, sim, que seria uma oportunidade pra finalmente estarmos juntos. Mas ainda assim não imaginava como seria poder ter tanta domesticidade com ele, tomar café no sofá, com meus pés sobre as suas pernas, assistindo ao noticiário local e pedindo pra ele traduzir o que me parecia interessante.
Era como se, fácil assim, tivéssemos acordado em outra realidade. E aquela, em que tudo era tão natural e confortável pra nós dois, era exatamente onde eu queria ficar.
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