O chat subia rapidamente, mas os olhos já acostumados de Pedro conseguiam acompanhar com certo desempenho.
02:33:07 adpixx__: pisca joga mine
02:33:10 samialfaxd: esta porra de live nao acaba nao? quero durmi
02:33:11 _au_prottxa: la vem
02:33:11 belzecoop: posso te engravidar?
02:33:13 thiagosexo: sexo
Já eram quatro da manhã e os olhos de Pedro estavam começando a desfocar de cansaço enquanto ele lia o chat. A live estava completa, por assim dizer, ele já havia visto alguns vídeos no YouTube, olhado o reddit, visto alguns edits no tiktok a pedido do chat que como sempre o fazia se contorcer de vergonha alheia.
Menos um ou outro, aqueles em que ele estava na presença de Doa, todos eles sendo takes tirados de algum vídeo do manikomio. Esses não o faziam se contorcer, apenas rir. De certa forma era realmente engraçado pra caralho ver pessoas colocando músicas românticas de divas pops em edits deles, mas ele não saberia dizer até que ponto aquela risada parava de ser de diversão e se tornava de desespero.
De certa forma, o quão desesperador pode ser quase toda uma fanbase te "shippar" com seu melhor amigo?
Pedro não saberia dizer, ele nunca mergulhou muito a fundo nisso além da camada da hilariedade. Por segurança ou não, isso não importava.
"É isso, rapaziada," ele coçou a bochecha e bocejou, olhos ainda descendo pelo chat, que só falava bosta, como sempre. "acho que por hoje chega, né? Já trabalhei muito, agora só mês que vem."
02:33:38 sabbxn: naaooooo
02:33:40 amomakonhasilva: ta pago ne pae
02:33:40 paizaocoringa: desancar os olhos piscante
02:33:40 thiagosexo: sexo
02:33:41 lil_palmole: tenho faculdade hj e to aqui veno esta poha
02:33:45 xibiuamassado7: ce ta no manikas pisca?
"Você tá no manikas?," ele leu uma mensagem do chat e se recostou em sua cadeira, tirando um lado do headset da orelha. "sim mano, eu tô."
04:33:50 xibiuamassado7: cade o doaaa
Seus olhos pousaram na mensagem da mesma pessoa e ele deu de ombros, um pequeno sorriso fácil e meio sonolento nos lábios.
"Cade o Doa," ele repetiu. "eu sei lá daquele vagabundo, ce acha que eu vou saber aonde ele tá vinte quatro horas por dia?" ele usou aquela entoação forçada de quando claramente não está falando sério. "Calma lá rapaziada, eu sei que eu posso parecer, mas não sou uma namorada abusiva tóxica que vai obrigar ele a usar um plug anal com rastreador."
04:34:05 xxxxx__htt: KKKKJKKKKJKK
04:34:05 iliuzins: kkkkkkkkkkkkkkkkmlk
04:34:06 sabbxn: assume esse namoro logo caraio
04:34:07 amandabarraset: oowwwn q fofo pisca sendo um namorado saudável
04:34:08 xibiuamassado7: af odeio geis
A pergunta se instalou rapidamente na mente de Pedro e ele realmente se perguntou onde o Doa estaria essa hora. Possivelmente no quarto, talvez dormindo. Eles haviam gravado um vídeo pro manikas poucas horas atrás e o Doa, como sempre, havia bebido pra passar mal e por alguma sorte não catalogada Pedro não tinha bebido tanto ao ponto de passar mal também, e esse foi um dos motivos que ele abriu live, ele não estava acabado. E o trabalhador não pode parar. A live hoje pretendia ser realmente mais curta do que o padrão que costumava ser.
Doa vomitou e como sempre isso nunca iria deixar de ser engraçado, por mais que sempre que as câmeras se desligassem e a filmagem se encerrasse, ele ajudesse o amigo a se levantar e ir até a cozinha tomar um copo d'água ou ir ao banheiro (caso ele próprio não estivesse na merda também).
Os comentários do chat sobre eles serem um casal foram mais do que esperados já que ele próprio cutucou o enxame. Ele riu para si mesmo e coçou os olhos, piscando de forma demorada enquanto bocejava mais uma vez.
"Tá bom, por hoje já tá bom, um mitinho precisa de pelo menos três horas de sono pra mitar saudável," ele se aproximou da câmera. Ele já havia lido os resubs, não tinha mais nada pra fazer. "Valeu, rapaziada, boa noite aí."
Ele apertou em encerrar a live e então entrou no Twitter pra olhar algumas bobeiras que o marcaram.
Muitas fanarts bonitinhas que sempre o deixavam se perguntando como que alguém com um talento assim fazia questão de perder seu tempo desenhando a cara dele. Ele se sentia honrado, é claro.
Descendo mais, ele viu uma fanart dele com o Doa. Eram quase sempre em sua maioria com teor de homossexualidade quando essas eram postadas no Twitter, mas isso nunca foi um problema. Ele achava aqueles desenhos realmente fodas. O pequeno sorriso em seu rosto não o podia deixar mentir.
Ele não sabia se Doa tinha o mesmo apreço por aquelas artes tanto quanto ele tinha, mas os dois as achavam interessantes. E sempre que um mostrava para o outro alguma fanart, a risada era garantida.
Mas nunca uma risada de descaso.
Ele fechou o Twitter e desligou o pc. Já era tarde pra caralho e tudo que ele queria era se jogar na cama atrás dele e fechar os olhos. Mas ele não fez isso.
Algo no fundo de seu cérebro o estava empurrando porta afora em direção ao quarto de Doa. 'Vai ver se o caba tá bem né, caraio' era o que ecoava.
Se ele desse um pouco mais de atenção a isso, ele perceberia que ouvir vozes não era bem lá um sinal de saúde, mas eram mais de quatro da manhã e ele não deu importância. O que era uma voz a mais ou a menos pra quem já tava num manicômio.
Ele caminhou meio lentamente pelo corredor.
Mas antes ele foi mijar.
Dando descarga e saindo do banheiro, ele parou na porta do quarto de Doa. A porta tava aberta, o que significava que ele ainda estava acordado. Ele nunca dormia de porta aberta. Ou na maioria das vezes.
Ele resolveu entrar no quarto escuro torcendo pra não tropeçar em nada ou quebrar nada. Ascender a luz seria uma maldade para alguém bêbado ou de ressaca e ele não seria esse filho da puta. No momento.
"Aooh, fi," ele chamou baixo, olhando pelo escuro para onde ficava a cama do amigo, esperando que ele estivesse lá. Ele estendeu a mão pela cama, tateando cegamente até que encontrou a canela de Doa, que sobressaltou levemente. "tá acordado?"
"hnm," ele resmungou e se virou na cama. "fecha a porta, Zé."
Pedro não soube decifrar se acabou acordando Doa ou se ele já estva acordado, mas fechou a porta mesmo assim. Ele voltou pra cama e se sentou na beirada
"Ce tá na bosta ainda?" perguntou com um tom de riso.
"Hnm," outro resmungo e Pedro franziu as sobrancelhas, um pequeno tique no lábio. "acho que sim, hein... Paiaço tá bem não," ele resmungou com a cara meio enterrada no travesseiro.
Pedro coçou o cabelo e se jogou de costas na cama, sentindo a dor fodida que sempre subia pelas costas quando ficava muito tempo sentado naquela cadeira fazendo live. Todos que falaram que fazer live não cansa que mordam a língua.
"Força, amigo," ele levantou a mão pra dar um pequeno tapinha no ombro de Doa. "ainda bem que só você se fodeu hoje," ele se encolheu de lado e soltou um pequeno risinho.
"Olha o racismo," Doa parecia estar tirando forças de onde não tinha pra conseguir falar. "tá falando que só preto tem que se foder?"
Pedro fechou os olhos e riu, já estando mais do que acostumado com esse tipo de resposta do amigo. Doa sempre apelava pra esse lado e bem, é o local de fala do cara, o que um branquelo bigodudo como Pedro poderia dizer?
O silêncio ficou preenchendo o local por alguns segundos e Pedro tinha até esquecido de onde estava, a névoa quente do sono quase o embalando e ele nem tinha percebido que fechou os olhos quando Doa pigarreou e o despertou.
"Você veio aqui só pra dormir comigo? Que fofo," ele sussurrou meio morto meio vivo.
"Eu vim ver se você ainda tava vivo," se explicou, mas não é como se precisasse. Ele já dormiu muitas vezes antes na cama de Doa e se ele tivesse vindo hoje apenas com esse propósito, seria apenas mais um na conta. Subindo um pouco mais no colchão pra se acomodar melhor em um dos travesseiros, ele continuou. "já tive minha comprovação e eu já tô aqui mesmo, né? Vou poupar a viagem de volta e de brinde você ganha companhia."
"Ainda bem. Tenho mó medo de dormir sozinho," ele se virou um pouco. "tenho quase certeza que tem alguém naquele armário que me olha de noite."
"Foi mal, era eu, é que as vezes eu fico com vergonha de entrar e deitar aqui aí eu fico no seu armário cheirando suas roupas," falou em um tom de normalidade quase cômico que teria feito qualquer um rir, mas Doa já estava acostumado esse tipo de situação e apenas ergueu as sobrancelhas.
"Carai, man. Não sabia que ce tinha umas pira de voyer."
"Eu curto uma putaria tímida."
Doa riu e se virou de novo. O clima estava propício pra dormir, o ar estava gelado e agradável e os lençóis estavam quentes e os olhos de Pedro estavam pesando novamente. Mas mais uma vez, algo apitou em sua cabeça. Nada importante, longe disso. Nunca era. Mas ele sentiu a necessidade de compartilhar, já que já estava ali.
"Eu vi umas fanarts nossas no Twitter."
"Foda," a voz de Doa tava mais grossa que o normal, talvez devido ao sono ou ao enjoo da embriaguez. "tinha alguma da gente se comendo?"
"Infelizmente não, mano. Mas tinha umas bem bonitinhas."
"Tá com seu celular aí?"
"Pior que não."
"Aí é foda né carai."
"Eu mostro amanhã, paizão. Mas eu ainda posso dizer como eram," ofereceu.
"Fala aí então."
Pedro riu internamente apenas por lembrar da fanart em questão. Ele levou as mãos aos olhos e coçou mais uma vez com certa demora.
"Assim..." ele riu. "Eu tô de um lado com uma cara de safado dizendo pra você 'amor, já é domingo tá na hora da gente ficar bêbado e se pegar e fingir que não aconteceu' e você do outro lado todo depressivo dizendo 'sim bebê'," ele colocou o antebraço nos olhos e riu um pouco mais alto. Ninguém naquela casa dormia cedo mesmo, então foda-se se alguém ria alto às quase cinco da manhã. Era uma casa de loucos.
Demorou um pouco pra Doa emitir algum som de riso. Como se estivesse mentalizando a imagem em sua mente ainda.
"Porra, mano..." ele falou entre risos. "pior que é isso mesmo. É a porra do manikas, fazer o que."
"Sai fora, man, eu sou espada," ele jogou um travesseiro em Doa.
"Calma lá, que de acordo com a fanart, o provável espada sou eu, já que eu que tava com cara de tristeza e desamparo," ele apontou. "e foi você quem me chamou pra essa pecaminosidade sua aí."
"Ah mas aí..." ele coçou o queixo e suspirou um riso. "ok, talvez eu seja o tchola da situação."
"Talvez, amigo?"
"Sim, talvez, não tô assumindo nenhum b.o aqui não. Mas o que me deixa intrigado é que sempre me colocam como o viado entre nós dois. Eu nunca vi ninguém até agora apontando as suas viadisses, é sempre eu."
Doa riu soltando um 'aaaah' entre o riso e se mexeu um pouco, se sentando na cama e Pedro notou que o outro estava pegando uma garrafa de água do chão e bebendo.
"Por que será, né?"
"Tá me acusando de algo, filhão?" Pedro ergueu uma sobrancelha.
"Tô."
"Nem tente jogar nas minhas costas."
"Quem é que sempre começa?"
Pedro ficou em silêncio por um momento, tentando achar uma reposta satisfatória para essa pergunta mas os rápidos flashs de memória que o invadiam a mente no momento mostravam apenas ele próprio sempre iniciando qualquer ato de homossexualidade em vídeo. Era quase um instinto obscuro dele, algo tão natural que ele sequer percebia estar fazendo. Ele riu ainda mais com isso.
"Tu não se ajuda, carai," Doa se deitou enquanto ria também.
"Mas por que tem que ser sempre eu que começo?"
"Uai porra, e eu sei lá."
"Então se eu não começar nada, não tem viadagem?"
"Também não é assim. Acho que o manikas vai a falência se não tiver pelo menos dez segundos de pegação amigável nos vídeos."
"Agora fiquei pensativo."
"Ih, lá vem."
"Não vou começar mais nada também."
"Eita, vai fazer greve."
"Já que eu sou o suposto passivo, eu tô no direito de fazer greve."
"E quem deduziu que você é o passivo, fi?"
"Então você que quer ser?" ele riu.
"Também não é assim. Mas quem deduziu?"
"Sei lá, todo mundo," ele deu de ombros rindo baixo. "deve ser porque eu sou o mais baixo, essas fita aí. E também porque se eu fosse tentar te comer de pé meu pau nem ia entrar."
"Ah, pode cre," Doa soprou uma risada e coçou a barba, parecendo pensar. "Mas se eu fosse te comer de pé meu pau também não ia entrar," ele apontou de forma óbvia. "então esse argumento é inválido, quem caralhos vai transar em pé primeiramente?"
"Ué, nunca se sabe o dia de amanhã," Pedro deu de ombros por mais que concordasse com Doa, a possibilidade de um ato em pé acontecer seria baixissima.
Doa ficou em silêncio por um tempo, olhos fechados. Pedro até pensou que ele havia dormido, mas então ele falou. "Mas pensando bem, acho que você se encaixaria melhor nesse papel do que eu mesmo."
"Tô dizendo, man. Acho que eu nasci pra dar, vai veno," ele usou o tom que usa quando fala algo absurdo ou alguma ironia. Mas Doa não riu dessa vez.
O sol tava começando a dar leves sinais através da cortina, mas por algum motivo ele não queria mais dormir naquele momento. Ele queria continuar conversando por mais egoísta que pudesse ser, já que Doa não estava em sua melhor performance.
"Tinha outra também..."
"O que?" Doa perguntou.
"Outra fanart," Pedro explicou. "Nessa eu tava chupando seus mamilos salientes."
"Ah, sim. Um clássico."
"Eu vi um comentário dizendo que eu já tinha chupado seus mamilos mais de duas vezes."
"Pior que deve ter sido mesmo," ele soltou um bocejo e então pegou o lençol e se cobriu. "eu não contei, mas se pá foi isso mesmo. O cabra não se aguenta, tem que mamar." foi a vez de Doa de usar a voz de coisas absurdas que ele tanto usava.
Pedro riu e cobriu o rosto.
"Ah, man..." ele sussurrou entre risos. "Por que a gente é assim?"
"Gay?"
"Sim."
"Sei lá, deve tá no sangue," Doa deu de ombros.
"Disseram que nunca viram uma mamada tão apaixonada quanto a que eu dei no seu peito," falou Pedro.
"Então esses cabra tão vendo porno errado."
"Falaram que nem os próprios pais nunca deram um beijo tão apaixonado quanto aquele que a gente deu."
Houve um momento de silêncio e então os dois riram. Doa riu tanto que começou a tossir.
"Vamo abrir um only-fãs juntos, man," Pedro sugeriu. "A gente ia ganhar muito dinheiro fazendo coisas que a gente já faz normalmente. Imagina cobrar 15 reais pra verem eu chupando seus peito?" ele gesticulou como se estivesse falando algo genial e olhou com certo brilho nos olhos pra Doa, que tinha partes do rosto sendo atingido pela claridade que ultrapassava da janela. O sorriso de Pedro se permaneceu fixo enquanto ele olhava pra Doa, os olhos negros atingidos pelos flashs de luz e o pequeno sorriso que pintava seus lábios retraídos. As tranças que caiam por entre seus olhos sempre foram algo que Pedro achava tão sinceramente bonito.
Pedro piscou. Aquele rumo de pensamentos não era incomum, mas não pareceu certo tê-los naquele momento.
"Eu acho que no only-fãs ce ia ter que chupar muito mais que meus peito, hein," Doa provocou com um sorriso pequeno.
"Então acho que a gente ia ter que aumentar o preço pra 20."
"Pode cre," Doa balançou a cabeça e riu, fechando os olhos.
Pedro soltou um pequeno suspiro e se deitou de frente, olhos para o teto e mãos cruzadas na barriga. O quarto ainda estava escuro o suficiente.
"Qual você acha que seria a reação das pessoas se a gente assumisse um relacionamento?"
Doa não respondeu de imediato.
Pedro se perguntou se ele realmente falou algo ou foi só sua mente projetando coisas.
"Diriam algo como 'finalmente caraio não aguentava mais' e teriam muito mais fanfics e fanarts nossas."
Pedro batucou os dedos levemente, imaginando isso.
"Seria foda."
Doa abriu os olhos e encarou a lateral de Pedro que ainda olhava para o teto. Ele se apoiou no antebraço e apoiou a cabeça na mão.
"Você acha?"
"Claro, porra," Pedro virou e olhou pra Doa. "Imagina o tanto de view que teria num vídeo nosso se assumindo," ele sorriu.
Doa imitou seu gesto. "Essa parte eu concordo," ele voltou a se deitar, mas ainda olhando para Predo. "mas e a outra parte, carai?"
"A parte da gente sendo um casal sem meme?"
"Isso aí."
Ele deu de ombros. "Eu não acharia ruim."
"Então você aceitaria dar o cu pra mim na boa?" Doa ergueu uma sobrancelha, soprando uma risada.
"Calma lá, amigo," Pedro riu, e talvez um pequeno quê de desespero transpareceu na risada. "não estamos falando de sexo aqui ainda, só a parte suave do relacionamento, tipo..." ele coçou o queixo. "sei lá, dormir junto, andar de mão dada, colocar o nome um do outro na bio do insta," e não foi preciso mais de um par de segundos para Pedro perceber que eles já faziam basicamente tudo acima listado, menos a parte dos nomes.
"Calma lá digo eu, amigo! Isso aí eu não faria nem com uma mulher, nem com ninguém," Doa franziu o nariz. "Bagulho brega do caralho."
"Eu seria o namorado abusivo que pegaria seu celular e colocaria escondido."
"Meu celular tem senha."
"Eu sei sua senha"
"Eu mudava."
"Aí eu terminava com você e abria uma live dizendo que você me bateu."
"Eeeeei, calma aí, não sou agressor não," Doa levantou as mãos em rendição. "Só agrido idosas na fila preferencial do mercado, mas tirando isso, eu sou um cidadão íntegro e cumpridor da lei."
"Então você teria que me deixar colocar nossos nomes na bio um do outro. E com coração ainda," Pedro apontou pra ele. Por mais que ele próprio achasse isso brega e ridículo, ele achava extremamente hilário se passar ao ridículo e levar as outras pessoas junto.
"Eu vou ser encontrado morto enforcado no meu armário um mês depois, mas tudo bem," ele deu de ombros.
"Da nada, fi, eu fico com você mesmo assim."
"Ih, papo de necrofilia?"
"Papo de Romeu e Julieta."
"O último romântico do mundo então," Doa falou.
Pedro se virou de lado.
"E as outras partes, também acharia de boa?" Doa falou primeiro.
Pedro sorriu. "Papo de pegação?"
"Papo de pegação," Doa repetiu, imitando o mesmo sorriso descarado de Pedro.
"Mano, não seria grande coisa, porque tipo... A gente já fez uma pá de coisa que poderia ser considerada pegação até certo ponto, então não seria algo novo ou embaraçoso, se pa," ele deduziu com um encolher de ombros. "ou pelo menos é o que eu acho."
"Papo."
O frio do quarto começou a correr pela pele de Pedro e ele sentiu um arrepio. Ele puxou o lençol de Doa e se enrolou, sentindo o calor do corpo de Doa o banhar como uma sauna por de baixo do lençol.
"Tá vendo, começa assim," Doa falou, balançando a cabeça.
"O que?"
"Começa roubando meu lençol, depois minhas senhas, depois minhas cuecas, meu celular e depois eu vou tá andando numa coleira e cagando numa fralda."
"Uma coleira escrito putinha," Pedro apontou com um sorriso.
"Essa mesmo."
Eles estavam próximos. Próximos o suficiente para o calor um do outro se formar como uma barreira entre eles. A respiração de Doa estava rebatendo quente no rosto de Pedro. Ele devia dormir.
Já era quase cinco da manhã. Eles deviam dormir.
"Você se importaria da gente ser um casal?" Pedro perguntou, baixo demais pra ser um pensamento e alto demais pra ser um sussurro. Ele mexeu a boca em um pequeno tique.
"Não, acho que não," respondeu Doa. Ele mordeu a bochecha. "A gente já se conhece a mó tempo, já conhece as manias e os gosto um do outro. O bagulho é esse. Muito menos trabalhoso do que ficar com alguém novo que você ainda vai ter que aprender tudo isso."
"De fato é muito mais prático," Pedro concordou com um pequeno riso. "Mas se esse for o nosso argumento a gente vai tá sendo uns jack preguiçoso do caralho."
"E tá tudo certo. Ninguém tá puro mesmo."
Doa balançou a cabeça e não falou mais nada, fechando os olhos em um suave suspiro. Pedro também não sabia mais o que falar. Parece que eles chegaram em um tipo diferente de questionamento e acordo. Eles concordaram com algo?
Pedro devia dormir. Ele devia, mas ele não queria.
Inferno.
Pedro sempre começava.
"Seria paia se eu te beijasse sem ser no meme?" ele perguntou baixo mas se arrependeu no mesmo segundo em que seus tiques tomaram conta e ele se viu com vontade de segurar o rosto com as próprias mãos para fazer os pequenos espasmos pararem.
Doa continuou de olhos fechados. Ele soltou um riso nasalado e coçou a bochecha com a ponta dos dedos.
"Ah, mano... Paia não ia ser, mas eu tô com bafo de cachaça e eu não sei se seria agradável."
"Não tô falando agora."
"Não?" Doa abriu os olhos apenas pra franzir as sobrancelhas e olhar pra Pedro.
"Não."
"É porque pareceu."
Pedro ficou em silêncio.
"Você quer agora sim," Doa riu ladino e ergueu uma sobrancelha.
Pedro ergueu outra. "Virou crime nesta porra?"
"Que eu saiba não," ele deu de ombros. "Mas como eu disse, você pode, só vai ter que lidar com o bafo do seu Sérgio de 56 anos que tomou várias pitu no bar dos veio às cinco da tarde," ele sorriu e consciente ou não, Pedro desceu o olhar pros lábios de Doa. Eram familiares, não no sentido duplo da coisa, mas sim no sentido de sempre estarem ali para rir de algo que Pedro fale, para rir com ele, falar algo absurdo, falar algo acolhedor ou simplesmente xinga-lo. Tão familiar e mesmo assim, ele só os tocou uma vez. Parecia quase injusto.
"Mano, foda-se o bafo," Pedro falou, e até ele mesmo se assustou com o tom decidido.
O pomo de Adão de Doa se moveu visivelmente e ele exalou uma respiração.
"Vem então."
Pedro subiu os olhos para os de Doa, a procura de qualquer sinal de ironia ou brincadeira, mas não encontrou nada.
Ele exalou forte.
Fazer isso em frente as câmeras com toda uma plateia rindo e ficando chocada é uma coisa, é quase um ato teatral. Mas quando é só você ali, cara a cara, as coisas mudam. A diversão de antes é substituída por um leve tremor nas mãos, o palco de antes é retirado e tudo que sobra é a cama com o pequeno espaço entre eles. Parece real demais e isso é assustador.
"Ih, vai se peidar e sair correndo," Doa começou a rir.
Pedro iria abrir a boca para direcionar um xingamento para Doa, mas ele realmente aparentava estar arregando. Isso sim era paia.
Ele ergueu a mão e a encaixou na nuca de Doa, o puxando um pouco mais para frente para que seus rostos ficassem colados. Houve um breve momento em que não fizeram nada, apenas se olharam. Parecia que os dois estavam oferecendo um ao outro a oportunidade de desistir. Nenhum desistiu ou se afastou.
Pedro olhou para baixo e os lábios de Doa estavam entreabertos.
Foda-se.
Ele uniu seus lábios, uma pressão suave que poderia se quebrar ao primeiro empurrão. Ele respirou e apertou seus dedos nas tranças de Doa. Um fato sobre aquelas tranças é que sempre eram tão cheirosas. Pedro sempre sentiu vontade de ficar as cheirando por horas. Papo de cheirador de trança.
Uma mão subiu quase sorrateira pela cintura de Pedro e se firmou ali, apertando suavemente sobre a camisa macia, o que resultou um pequeno suspiro da parte de Pedro. Ele tomou como um incentivo e entreabriu mais os lábios. Doa fez o mesmo.
Ele realmente não estava mentindo sobre o gosto de cachaça. Invadiu porém de forma suave o paladar de Pedro. Mas isso não seria nem de longe um empecilho. Ele próprio vivia com a boca cheia de cachaça então que moral ele teria para exigir algo?
Seria um problema em qualquer outra pessoa, mas vindo dos lábios de Doa, era um adicional. Quase o deixou embreagado junto, mas por outros motivos.
Suas línguas se moviam juntas, o choque inicial desse contato fez Pedro suspirar entre o beijo e ele sentiu a mão de Doa apertar sua cintura.
Os baixos sons molhados ecoavam pelo quarto e por um breve milissegundo Pedro se preocupou que alguém pudesse abrir a porta ou escutar, mas ele realmente poderia se importar? Eles poderiam se importar? Um total de zero fodas seriam dadas. O máximo que aconteceria seria seus amigos lhe chamarem de gays e eles concordarem.
Doa puxou a cintura de Pedro para mais perto de seu corpo, aprofundando ainda mais o beijo colocando a outra mão na nuca de Pedro e guiando os movimentos.
A proximidade era tão acolhedora e quente, seus corpos pareciam se encaixar perfeitamente e o toque dos dedos de Doa em sua nuca o fez soltar um pequeno grunhido entre o beijo. Teria sido embaraçoso se ele desse a mínima para isso no momento.
Ele mexeu os quadris em direção aos de Doa, procurando algum atrito pois sentia que já estava sensível o suficiente para responder a qualquer estímulo. Ele normalmente não ficava tão agitado por conta de um beijo, mas... Algo nele se ativou. Ele não estava com todos os neurônios ativados no momento, tudo que ele queria era continuar.
Pedro fez um som baixinho por dentre os lábios de Doa e mexeu o quadril de novo, mas percebeu não haver resposta quanto a isso. Foi um pouco frustrante.
Doa separou seus lábios e respirou, depois os juntou novamente apenas para depositar um selinho final, deitando a cabeça no travesseiro e fechando os olhos. A mão ainda repousando firme na cintura do outro.
"Pedro," chamou.
"Oi," respondeu, olhos fechados, sentindo calor nas bochechas.
"Não tô dizendo que eu não quero, mas se a gente fizer isso, eu ia preferir não estar meio bêbado ou com enjoo..." ele engoliu.
"Merda, não é-" ele respirou. "quero dizer, sim," ele balançou a cabeça e se xingou por ter se complicado tanto em uma resposta que poderia ter sido tão simples. "foi mal, só... ignora isso," ele se referiu a sua parte inferior. Uma hora iria desaparecer, era só ignorar.
"Você todo nervoso e eu toda puritana," Doa riu. "Deus, que mundo é esse," ele balançou a cabeça.
Pedro abriu os olhos e riu. "Eu sei que isso é só uma fachada sua. Ce pensa que eu não sei que ce é o taradão do parque aos domingos? Tá se fazendo de boa moça agora só pra impressionar."
"E como é que ce sabe?"
"Ah, aí já é papo de espionagem e os carai."
"Ah pode cre."
O silêncio se estabeleceu novamente e dessa vez Pedro não quis dizer nada. Estava tão confortável e a mão de Doa em sua cintura estava fazendo um calor tão propício ao sono que era quase criminoso, como se ele tivesse o poder de fazer Pedro dormir apenas com a palma da mão.
"Isso foi gay."
"Jura."
"Mas foi bom."
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