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História PGN - A Garota Hyuuga - Parte I


Escrita por: MJthequeen

Notas do Autor


Oi, gente!! Obrigada por todo o apoio :)
Nós teremos 3 partes, ok?
Eu espero que vcs gostem da primeira!

Boa Leitura!

Capítulo 2 - Parte I


Fanfic / Fanfiction PGN - A Garota Hyuuga - Parte I

PARTE I

 

Na primeira vez que Alice caiu no buraco negro, ela tinha sido atraída; o perigo não era visível. Mas, na segunda vez, Alice sabia o que a esperava. Ela caiu porque quis, então. Caiu para chegar ao fim do buraco. O mais fundo que conseguisse, até que não houvesse mais para onde cair; aí, ela começaria a atravessar portas. 

Cada vez maiores. 

 

2016, antes

 

Hinata leva a mão até o coque, tentando arrumar os grampos que a incomodavam no couro cabeludo. Ao fazê-lo, ela franze os lábios automaticamente. Por que aquela mulher tinha que apertar tanto o penteado? Não era como se ela fosse mexer muito a cabeça, de qualquer maneira. Não era como se fosse gesticular a noite toda, sinceramente; na verdade, ela tentaria manter as mãos no colo, perto da pequena clutch.

— Algum problema, Hinata? 

A garota escorregou os dedos lentamente do coque, voltando-os as coxas bem cobertas. Ali estava o motivo para um penteado tão fixo, sem nem um fio fora do lugar por causa de muito mousse. Seu pai, Hiashi Hyuuga, tinha o rosto tão sério e fechado que a moça do salão, muito provavelmente, tinha se assustado. Não a perguntara nada; ele tinha dito que queria que fizessem uma maquiagem simples nela e um penteado pouco extravagante. O vestido, escolhido por Hiashi, tinha essas mesmas características. Longo, ainda que leve, não havia nele nenhum decote, sequer mangas. Hmm… Não era feio, mas era tão quadrado quanto o pai dela.

— Não, nenhum – murmurou de volta, sorrindo e fingindo que o grampo não a incomodava mais. 

— Bom. – Foi tudo o que Hiashi a respondeu, olhando-a de canto. – Estamos quase chegando. Eu já te disse uma vez, mas vou repetir; quero você perto de Neji o tempo todo. Eles são nossos anfitriões, mas não confio nos garotos Uchihas. 

Hinata, que tinha deixado de olhar para o pai para observar a janela ao lado dele, onde as luzes da cidade noturna brilhavam, piscou e acenou positivamente.

— Sim, papai, eu entendi.

Ela tinha entendido tudo muito bem, na verdade. Eles estavam indo até uma festa particular da família Uchiha, donos da terceira maior rede de bancos do país, como convidados especiais. Não havia um motivo real a ser comemorado, porém o que realmente importava era a confraternização entre grandes empresários e diretores executivos, como o seu pai era. A empresa Hyuuga lidava com questões de software e programação; um acordo bem sucedido, celebrado há dois meses, deixou os Hyuugas responsáveis por toda parte de segurança virtual da UchiBanc. 

Haveria, é claro, outras famílias muito influentes e Hiashi vinha ditando regras extra rigorosas sobre seu comportamento naquela noite. Era apenas o terceiro jantar de negócios em que Hinata apareceria; ela tinha feito 18 anos fazia pouquíssimo tempo. 

Não havia nela, infelizmente, de maneira nenhuma, uma aptidão natural para o público. Era extremamente tímida, recatada até demais, e certamente não era uma daquelas filhas encantadoras com opiniões pertinentes na ponta da língua,  um comentário sensato após cada taça de bebida. Até achava que tinha muitos pensamentos sensatos e interessantes, mas faltava coragem para expressá-los. Parecendo levemente frustrado com isso, seu pai tinha dito era melhor assim. Melhor silenciosa do que barulhenta. 

Às vezes, Hinata concordava com ele. 

Outras vezes, mais positivas, a garota Hyuuga simplesmente preferia sorrir para o primo, mostrando todos os seus brilhantes e bem alinhados dentes da frente, e abraçá-lo carinhosamente. 

— Você está linda. 

Sentindo o rosto quente, Hinata mordeu o lábio inferior ao agradecer, constrangida. Era ele que estava lindo no black tie. Neji tinha preso o cabelo um pouco mais alto, o que lhe dava um tom estranhamente elegante. Quando passou o braço por baixo do dela, enroscando-os juntos, após cumprimentar o tio – que agora falava com um dos acionistas que tinha chegado junto com Neji – ela o sentiu sussurrando:

— Como está a Hana?

— Realmente mal, mas logo ela melhora. Um resfriado não dura muito mais que duas semanas, não é?

— Não sei – Neji franziu o nariz, tentando sorrir amável quando eles passaram por uma senhora e sua filha, mas não as reconheceram. – Faz tempo que não fico doente. 

— O que é bem impressionante! – Hinata murmurou de volta, verdadeira, franzindo o cenho, sentindo-se bem de falar com ele além do telefone. – Eu vi que o clima de Suna é meio caótico…

Os dois cumprimentaram um empregado à entrada da mansão Uchiha. Com pelo menos três andares, janelas extensas e paredes claras, tinha muita imponência. Principalmente assim, de noite, com a fonte externa toda iluminada em amarelo. Por dentro, a mansão era mais escura, em tons de vermelho e vinho, com pisos de madeira e quadros de pelo menos três expressões artísticas diferentes; Hinata não escondeu um sorriso, apreciando mesmo as pequenas esculturas. Seu pai não gostava de decoração nenhuma e a casa deles era muito pálida e vazia.

— Um pouco, mas as pessoas exageram. – E ele deu de ombros, sem se importar. – Eu preferia começar meus estudos na Konoha University, – e agora, sem sorrir, ele baixou mais o tom de voz. – mas Hiashi é…

— Eu sei – Hinata o interrompeu, de uma vez, quando eles adentraram o salão de festas da mansão, também decorado em tons de vermelho. A Hyuuga imaginou se talvez a família Uchiha gostasse de exibir seus bens; hm, obviamente. Era claro que não havia nada de barato na enorme pintura renascentista que ocupava a parede principal, nem no majestoso lustre que, com certeza, tinha um par na sala de jantar. Não havia nada de barato, também, nos dois grandes sofás à lateral do cômodo, nem nos garçons, com rostos blasés, passando com taças de champanhe. Não era nada, no entanto, que Hinata não tivesse se acostumado a ver; eles só eram mais exibicionistas que o seu pai. Ela sorriu sem humor. – Sei como papai é. – Foi tudo o que Hinata disse. Hiashi tinha praticamente obrigado o sobrinho à estudar Engenharia da Computação na cidade vizinha, Suna, pois gostava muito mais dessa universidade, já que tinha se formado lá. Como o tio pagava tudo, Neji foi sem reclamar. 

As festas não se bancavam sozinhas, afinal de contas.

Neji olhou-a compreensivo, parando quando um garçom passou por eles e pegando duas taças. Ao entregar uma delas à prima, que levantou os dedos, mesmo não gostando muito de champanhe, ele foi impedido por uma voz.

— Hinata não beberá agora – Hiashi disse e, quase automaticamente, a mão que Hinata tinha erguido voltou para a bolsinha brilhante. 

O Hyuuga mais novo se virou para o tio, erguendo uma das suas sobrancelhas.

— É só uma taça, tio, tenho certeza que não… – Ao lado do acionista, porém, Hiashi encarou o sobrinho friamente. A boca de Neji se tornou outra linha reta e ele assentiu, parecendo contrariado. À sua frente, Hinata estava vermelha de nervoso. Ah, ela odiava quando pai fazia isso… – É claro, como quiser. – E, sem importar, Neji virou uma das taças de uma só vez, aproveitando outro garçom para deixá-la vazia na bandeja. Agora, só tinha uma cheia na mão.

Hinata controlou a risada, pois o pai olhava de um jeito desaprovador para o sobrinho. Ainda bem, ela pensou, consigo mesma, sem mudar sua expressão, que o primo estava nas férias de verão e tinha podido vir. Ainda bem que estava aqui com ela. Alguém tinha que estar – ou Hinata enlouqueceria. 

 

Aparentemente havia muito assunto para tratar com o Sr. Fujimura, dono de uma grande empresa de serviços farmacêuticos – o seu pai parecia conhecê-lo há um tempão, embora ela não soubesse como. Hiashi perguntou sobre o irmão mais velho dele, que atuava como advogado na empresa Fujimura, mas o homem não pudera vir por ter outras ocupações. Ao ver Hinata o Sr Fujimura, ainda loiro e com pouquíssimos cabelos brancos, sorriu e disse que era uma pena que a filha, Shion, não tinha conseguido vir, pois estava na Alemanha com a mãe; também falou que Shion tinha a mesma idade de Hinata e que as duas se dariam bem. Hinata sorriu e balançou a cabeça, murmurando que adoraria conhecê-la quando tivesse outra oportunidade e então os quatro homens engajaram numa conversa cheia de termos que, sinceramente, Hinata não conseguia captar muito bem. 

Não era impressionante que ela não conhecesse Shion, embora elas pudessem ter frequentado o mesmo colégio de elite de Konoha. Seu pai tinha muitas tradições interligadas ao próprio passado quanto à educação; ele tinha matriculado Neji, Hinata e Hanabi, desde pequenos, na mesma escola que tinha frequentado, ou seja, o único internato de Konoha, extremamente caro. Era um ambiente regrado e insuportável, mas Hinata estava acostumada com as regras de seu pai que, honestamente, eram muito mais chatas que as do internato. Pelo menos tinha conhecido sua melhor amiga lá, Matsuri Sakamoto; os pais dela trabalhavam na área criminal e eram muito bem sucedidos, mas temiam pela filha em casa e preferiram o internato. 

Hinata piscou para si mesma; quanto mais aquela conversa poderia durar…? Ela já estava ficando cansada do violinista na lateral do cômodo, tocando sem preocupação. Se moveu incomodada e mordeu o lábio inferior, percebendo que os dois copos d'água, que tinha tomado só pela distração de fazer algo, queriam urgentemente sair do seu corpo. Estava doida para fazer xixi. 

— Com licença; eu preciso ir ao toilette. Retorno em um minuto – disse, sorrindo amável, se preparando para sair da pequena roda. Seria bom andar um pouquinho, também. Ficar parada naqueles saltos insuportáveis estava acabando com seus pés. 

— Não se preocupe, querida, enrole o quanto precisar – o homem loiro disse, rindo de forma agradável. – Minha mulher e filha também fogem dos assuntos de negócio, eu sei o quão desagradáveis são para vocês.

Hinata quase franziu as sobrancelhas. Com "vocês" ele queria dizer as mulheres? Bem, é verdade que ela não tinha nenhuma aptidão para "negócios", como ele tinha chamado, mas isso era algo muito pessoal e certamente havia uma centena de mulheres competentes nesse meio. Não disse nada disso, é claro, pois os olhos de seu pai estavam grudados nela. 

— Estou mais ansiosa para conhecê-las agora, Sr. Fujimura. 

E Hinata saiu logo dali. 

A Hyuuga ficou tão pensativa sobre a fala dele, imaginando o quão machista era, mesmo que não tivesse dito nenhuma outra coisa agressiva, que mal reparou onde estava indo. Mesmo os homens gentis tinham essa tendência de diminuir mulheres. Era absurdo! Eles estavam em pleno século XXI. Muitos dali tinham advogadas mulheres e secretárias que fariam o serviço deles, se já não faziam, de forma duas vezes mais eficiente. 

Ela pensou nisso por tantos segundos, quando virou o primeiro corredor que viu, que notou que não tinha ideia de onde o banheiro era. E que não havia nenhuma placa, também. Hmm… Eles tinham sido cumprimentados por muitos casais e empresários sozinhos na última meia-hora, mas nenhum deles era o casal Uchiha, Fugaku e Mikoto. Nem seus filhos, Sasuke e Itachi, que Hinata tinha visto estampar uma revista sobre economia que seu pai estava lendo, numa foto em família. Se tivesse encontrado alguns deles, poderia ter perguntado onde raios era o banheiro… Se não tivesse tendo pensamentos à lá Simone de Beauvoir, também, teria se lembrado de perguntar para algum dos empregados. 

Hinata segurou a clutch com mais força, suspirando de insatisfação ao perceber que tinha virado em outro corredor sem nem perceber. O som do violino parecia um ruído distante agora. Bem, não era culpa dela que esse lugar fosse todo igual. Ela resolveu fazer o caminho de volta, tendo quase certeza que nenhuma daquelas portas que encontrara era o banheiro; talvez perto dos músicos, os banheiros eram quase sempre atrás dos palcos, não…? Ah, seu pai ficaria bravo se ela demorasse demais! 

De repente uma risadinha nasalada, claramente feminina, fez com que pregasse os pés no chão, piscando de surpresa. Pensava estar sozinha, mas na porta da direita…

—...pourquoi me tortures-tu, mon couer?

Hinata abriu a boca em "o", o rosto repentinamente vermelho. Ah, era uma francesa; ou pelo menos estava falando francês. Ela não entendia nem uma pontinha daquele idioma, mas havia alguma coisa naquele murmúrio, como um gatinho manhoso… Alguma coisa tão… Arrepiada, Hinata balançou a cabeça, o coque não moveu um só centímetro; era melhor sair dali. Claramente não era algo que deveria estar presenciando. 

Outra vez, ela se viu impedida. 

Tu n'aime pas ça…? Tu n'aime pas quand je fais ça, ma chérie? Dis moi ce que tu veux. 

E agora a voz era masculina, profunda, um murmúrio quente que a Hyuuga sentiu como no seu próprio ouvido, o sopro praticamente contornando o lóbulo da sua orelha. Por mais que ela quisesse, Hinata não conseguiu se mexer. Ela conteve a respiração; um arrepio profundo percorreu sua espinha e fez com que ela apertasse os dedos, engolindo em seco. Droga. Não tinha entendido nadinha, mas era a coisa mais sexy que já tinha escutado. Sua boca ficou seca quando, devagar, ela virou o rosto na direção da porta; estava entreaberta. 

Deveria sair dali. Conseguiu ouvir o som abafado de um beijo estalado, e outro, e as respirações deles estavam descompassadas. Precisava sair dali; se fosse vista, diriam que ela estava espionando um casal. Que escândalo! A garota Hyuuga espionando alguém? Seu pai ficaria irado, como sempre? , mas dessa vez ele teria razão. Estaria certo em brigar com ela… Hinata sabia de tudo isso, mas, mesmo assim, quando ouviu o homem murmurar mais alguma incompreensível naquela língua muito sensual, não conseguiu resistir. Havia algo na voz dele… 

Em passos lentos e leves, ela se aproximou da porta, querendo ver quem estava fazendo seu nariz ficar quente de vergonha e seu estômago flutuar de ansiedade. Era imprudente e estúpido, sabia disso, e Hinata nunca fazia nada imprudente ou estúpido. Mas, dessa vez, só dessa vez, se ela pudesse ver o rosto dele e acabar com sua curiosidade, talvez isso acalmasse as batidas frenéticas de seu coração.

Ela se encostou no batente, olhando através da fresta. 

O ar sumiu e Hinata arregalou os olhos, sentindo, pela primeira vez na noite, o peso dos cílios postiços. Todo o calor acumulado em suas bochechas desceu, como óleo morno e escorregadio, por seu tronco, se concentrando entre suas coxas grossas. Pois ali, sentado de pernas abertas na poltrona, virada quase que estrategicamente para a porta, estava Sasuke Uchiha, um Deus esculpido em black tie. É claro, ela tinha decorado todas as formas do rosto dele, principalmente o jeito como os olhos negros, fúnebres, se inclinavam mais para cima do que os do irmão. Hinata teria sido capaz de reconhecer até mesmo os ombros fortes e as coxas marcadas na calça escura – mas ele era muito mais bonito pessoalmente. De tirar o fôlego. O que tinha a deixado surpresa, no entanto, era a garota sentada sobre a virilha dele, de costas para a porta, num vestido de cetim verde minúsculo que ele tinha feito questão de subir até a cintura dela. A moça estava, portanto, com a bunda empinada para trás e, Hinata segurou a respiração, seguindo a linha fina da cintura desenhada e tão feminina, até embaixo, a pele pálida das nádegas, Sasuke enfiava dois dedos nela. 

Céus. O movimento era lento, delirante, e ali, só assistindo, a Hyuuga contraiu as próprias coxas, a respiração sumindo de uma vez. Ele estava com a cabeça inclinada sobre o pescoço esguio da loira, beijando-a até o começo do brinco de brilhantes; e seus dedos continuavam trabalhando arduamente lá embaixo, a outra mão na coxa firme, puxando-a contra si. Por um segundo, um muito longo, Hinata se imaginou ali, no lugar dela. Nunca tinha sido tocada assim. Nunca tinha visto uma cena parecida, sinceramente; ela era muito pouco fã de filmes pornográficos e se masturbava imaginando as cenas dos livros românticos que lia. 

Isso, no entanto, o jeito como ele metia os dedos na garota e lambia seu pescoço, deixando um rastro brilhante de saliva e beijando-o logo após, era totalmente diferente do que já tinha lido. Hinata separou os lábios, o formigamento em sua calcinha fazendo com que esfregasse as coxas com ânsia, a clutch sendo segurava fortemente; dessa vez, um suspiro saiu de seus lábios secos.

Para o seu total horror, Sasuke percebeu. Ele desgrudou a boca da pele pálida e ergueu os olhos agudos, sem parecer chocado, para a fresta da porta. Foi um olhar hipnotizante; quando o Uchiha estreitou os olhos, agora parecendo curioso, Hinata não teve forças para desviar. Todo o calor que tinha descido subiu com uma violência extrema, voltando ao seu rosto como um vulcão em erupção. 

— Temos uma espectadora. 

A voz dele era um suspiro perfeito. Ela se sentiu zonza, desorientada, mas não conseguiu se mexer. Estava…., Cristo, estava presa naqueles olhos.

A moça loira, que arfava muito baixinho, virou o rosto, mas não se mexeu do colo dele ou tirou as mãos de seus ombros. Ela tinha brilhantes olhos verdes; era uma estrangeira. Quando viu Hinata, arqueou suas sobrancelhas finas, loiras como o cabelo em cachos, e sorriu de canto.

Voulez-vou participer, ma cocotte? – Sussurrou, e não era necessário nenhum grau de francês para saber que aquilo era um convite. Estava estampado em seu rosto.

Sasuke sorriu também, sem dentes, e Hinata assistiu os dedos dele aumentarem a velocidade, entrando e saindo, mas ele não tirou os olhos dela. Nem quando enfiou outro e a moça loira abraçou-o mais forte, tentando conter seus gemidos. Nem quando ela começou a rebolar em sua mão. Sasuke não tirou os olhos de Hinata e ela, em estado de choque, foi incapaz de fugir dele. Hinata registrou como o queixo quadrado, a barba por fazer, estava erguido, os lábios levemente separados numa respiração descompassada. A Hyuuga gemeu profundamente numa frustração incompreensível; aquilo era tão, tão excitante. Assisti-lo entrando e saindo da garota, se imaginar no lugar dela… Hinata mordeu o lábio inferior; imaginando se fosse o pau dele, afundando-se nela… 

Então Hinata soube, naquele momento, ao subir seu olhar desejoso e encontrá-lo, que nunca mais veria olhos como os daquele Uchiha. 

Engolindo em seco, sentindo as mãos geladas, ela deu um passo para trás, outro, sem entender de onde tinha conseguido coragem, como estava juntando essa força nas pernas trêmulas, e correu dali o mais rápido que pôde, gotinhas de suor gelado escorrendo de sua nuca. 

Droga.

Droga, droga, droga.

Por que sua calcinha parecia tão úmida e desconfortável?!


 

"Uma complicação feminina", foi o que Hinata digitou para Neji, estando do lado de fora da mansão Uchiha, longe dos seguranças da entrada. Ninguém tinha reparado a pequena garota que fugira do salão assim que ouviu de Mikoto Uchiha, uma das mulheres mais naturalmente lindas que Hinata já teve a chance de conhecer, que os filhos dela ficariam encantados de conhecer uma moça tão bonita. 

A Hyuuga sabia sobre a longa bronca que receberia do pai, embora tivesse sido extremamente educada e gentil até agora, quando eles chegassem em casa. Não podia sumir assim, como alguém sem responsabilidades; mas não podia ficar lá dentro, também, só esperando que Sasuke Uchiha aparecesse e percebesse que era ela, a garota Hyuuga, a espiã de sua cena sexual. Cristo. Pior, ele podia agir como se não se lembrasse, e então, em segredo, encostá-la contra uma parede, provocá-la… 

A cena que tinha assistido continuava se repetindo na mente dela como um filme, onde os detalhes ficam cada vez mais e mais vivos – não deveria ser ao contrário? Não deveria já estar quase sem cor? Os olhos dele eram profundamente negros. Penetraram no fundo da alma dela; ativaram algo na mente dela. Estava ofegante só de pensar nisso… Hinata colocou a mão sobre o coração, imaginando quantos segundos faltavam para alguém vê-la por alguma câmera de segurança e vir até aqui, perguntá-la o que fazia na lateral da casa, no gramado, sob a luz da noite e das lâmpadas amareladas. 

Nesse exato momento Hinata ouviu passos. Imaginando que o segurança finalmente tinha vindo para questionar se suas faculdades mentais eram completas, ela respirou fundo e se desencostou, tentando parecer mais apresentável. O que veio na sua direção, porém, não era segurança nenhum. Hinata estreitou os olhos, um sorriso percorrendo seus lábios devagar. 

Era um cachorro, com a língua para fora, correndo entusiasmado. 

— Tobi! Tobi, volte aqui já! Você não pode… – uma garota de 7 ou 8 anos, que vinha correndo atrás do cachorro, foi diminuindo a voz ao ver Hinata bem ali. Ela piscou, surpresa; não estava esperando que houvesse alguém na parte de fora da mansão. 

Já Hinata curvou o rosto, confusa por um segundo. O que uma criança fazia aqui? Estava vestida com um pijama simples e os cabelos ruivos estavam despenteados. Antes que pudesse questionar, porém, o cachorro se aconchegou em seus pés, latindo para ela e a cheirando. A garotinha arregalou os olhos.

— N-Não, Berliner…!

O animal, porém, um claro vira lata, já estava pulando em Hinata – essa, dando risada, se agachou, o vestido solto em suas pernas, e passou a mão sobre o bicho, tentando acalmá-lo. Adorava cachorros, embora seu pai odiasse só a ideia de ter um…

— Ei, ei, como você é bonito, é, você é… – Hinata fez, sorrindo, acariciando a barriga dele quando ele se deitou de barriga para cima. Então ela juntou as sobrancelhas, olhando com curiosidade para a garota. – Berliner? Como o doce? – Que nome curioso para o animal. Ele tinha cara de… hm... Caramelo.  

A ruiva corou profundamente, os olhos trêmulos. Parecia extremamente constrangida e envergonhada, até com um certo… medo…? Hinata piscou, sem entender.

— M-Me desculpe, s-senhorita, eu vou levar ele… levá-lo de volta, me desculpe, me desculpe – E ela se aproximou, pegando o bicho no colo com ânimo, enquanto ele parecia confuso por não poder mais receber carinho de Hinata. Vermelha, ela ergueu os olhos medrosos para Hinata, murmurando baixinho: — Por favor, por favor, n-não conte para o Sr. Fugaku…

A Hyuuga entendeu, então, o que estava acontecendo. Séria, mas com um sorriso no rosto, ela segurou docemente o punho da menina, impedindo-a de ir.

— Não contarei, mas só se você me deixar fazer mais carinho no Berliner, hã… – "Moegi", a garota murmurou. – Moegi. Isso. Não vou contar. Prometo. – E o seu tom era mais carinhoso que conseguia. A garota abriu a boca em "o", surpresa, mas então, devagar, colocou o cachorro de volta no chão. Meio gordinho, o bicho deitou, abanando seu rabo, para receber mais carinho. – Então… O doce?

A ruiva se agachou também, olhando para Hinata como se ela fosse um ET.

— S-Sim… O Sas… – Ela tossiu, envergonhada. – O Sr. Sasuke me deu um pedaço, uma vez. Ele disse que vinha lá da Alemanha…

Como Hinata tinha pensado. Moegi e esse cachorrinho não deveriam estar ali fora; ela era filha de algum empregado, com certeza, e deveria estar dormindo agora. E, se tinha dado o nome para aquele cachorro sem raça, ele só poderia ser dela. A Hyuuga tentou ignorar o que tinha escutado sobre Sasuke, para que sua mente não vagasse até lugares perigosos…

— Hmmm… Eu amo berliner. Mas tem um outro, com um nome muito legal, chamado schwarzwalder kirschtorte… – E Hinata exagerou na pronúncia, fazendo-a lenta demais, até que a garota riu, incrédula. Aí a Hyuuga fingiu uma falsa cara ofendida. – O quê? Está rindo da minha pronúncia perfeita…?

— Não, me desculpa! – Moegi disse, em meio aos risos. – É que parece um espirro…!

Hinata sorriu, concordando, passando os dedos atrás da orelha do cachorrinho. 

— Nem me diga. Mas é uma delícia. Bolo de chocolate com cerejas, dá para imaginar? 

— Ah! Esse é o floresta negra! – A garota falou, animada, e o sorriso de Hinata aumentou. – A minha mãe sabe fazer! É muito gostoso! 

— Hmm… Que sorte a sua. Bem que eu queria que minha mãe pudesse fazer um desses para mim, também – respondeu, ainda no tom carinhoso, pensando na mãe que tinha morrido há bastante tempo, quando ainda era uma criança. 

Corada, Moegi coçou a bochecha, olhando para o vestido de Hinata, para os saltos…

— Mas… hm… A senhorita é…

Você. Só você.

— Você é… hã… rica! Gente rica pode comer o que quiser, na hora que quiser! É só pedir que alguém vem e faz, ou vai lá comprar…

O sorriso de Hinata diminuiu e ela mexeu a cabeça, tentando não pensar muito no que aquela frase realmente significava para Moegi. Ou para ela mesma, também.

— Que baboseira. Quer saber de uma coisa? Quanto mais rica, mais aspargos você tem que comer! – Disse, com cara de nojo. – Sério, é tipo uma competição entre milionários. Quem come mais aspargos. Dá pra acreditar? 

Moegi fez uma careta também ao ouvir isso, olhando para a casa.

— Mas… Mas os Uchihas não comem muito aspargo… – murmurou, confusa, pensando se aquilo era mesmo verdade.

Hinata olhou para a casa também, sabendo que daqui um minuto iria ter que pedir para Moegi entrar, dormir e não contar para ninguém sobre essa conversa. Provavelmente nunca a veria mais, não se pudesse escolher; simplesmente não queria voltar para aquele lugar nunca mais. Estava pensando em Sasuke de novo e outro arrepio a percorreu; mais do que isso, a mansão a fazia sentir que estava sendo observada… Como tinha sido aquela a observar, alguns minutos atrás. Antes que o único momento bom daquela noite acabasse e ela tivesse que conviver com a dura realidade, então, Hinata colocou a mão na lateral da boca, como se fosse conter um segredo, e sorriu como uma criança:

— É porque eles não são ricos o suficiente. Os Hyuugas, por outro lado...


 

2020, atualmente

 

— Espera aí. Você quer que faça o quê? – Hinata perguntou, mesmo já sabendo a resposta, pois tinha ouvido muito bem. Ela estava sentada na cadeira de rodinhas que pertencia à Matsuri, olhando-a deitada sobre a cama. A garota de cabelos cor de mel estava de pijaminha em plena 15hrs da tarde, mas o que realmente chamava atenção era o gesso enorme em sua perna. 

Por favor, Hina. Eu fiquei pensando em para quem repassar, mas todas aquelas babacas vão me excluir da matéria totalmente e ficar com todo o crédito! – Matsuri choramingou, mexendo os braços com muito entusiasmo. Hm, pelo menos isso ela podia mexer, porque aquela perna… – Você tem que me ajudar. Eu dormi com o Kabuto pra ser escolhida! Eu preciso disso para ter algo relevante no meu dossiê de aplicação para a Rede TMU. Se não, o que vou colocar lá? A reportagem sobre a quantidade de pombos no campus? Sério?

Hinata tentou não rir, pois o assunto era realmente sério para Matsuri. A Sakamoto era muito talentosa como escritora e redatora, mas tinha pouquíssima sorte para farejar boas notícias – e isso era, é claro, o essencial para a profissão de jornalista que ela estava tentando alcançar. 

— Eu adorei sua reportagem sobre os pombos… É uma denúncia relevante. – A Hyuuga disse, sorrindo gentil, mas Matsuri fez um careta muito rabugenta.

— É, claro. Imagina só o chefe do RH da Rede TMU lendo e dizendo, numa sala cheia de pessoas entediadas, "vamos chamar a menina da matéria dos pombos! Talvez ela possa fazer um levantamento sobre a quantidade de baratas no nosso andar!".

Dessa vez, Hinata precisou tampar a boca com a mão, pois estava quase rindo. Matsuri sorriu para ela e, sem se conter mais, a Hyuuga gargalhou muito, jogando a cabeça para trás. É, isso não soava nada legal.

— Está vendo? Não posso perder a matéria com a Phi-Gamma-Nu. Eu sou muito azarada, esse gesso é a prova! Eu nunca quebrei nenhum ossinho do meu corpo, Hina, mas foi só ser escalada que isso acontece… Quando vou ter outra oportunidade? Você tem que me ajudar. Por favor. – E, parecendo cansada, Matsuri suspirou, colocando uma mecha para trás da orelha. – Eu sei que é muito para te pedir, sei que você acabou de chegar, mas… Eu só tenho você de confiança, miga. 

Sorrindo sem mostrar os dentes, Hinata se levantou da cadeira e foi até a cama de Matsuri, sentando-se ao lado dela. Ah, que coisa. Ela sabe que, por mais que não queira, vai ajudar. É sua melhor amiga, afinal. 

Fazia apenas duas semanas que Hinata tinha voltado para Konoha; mais especificamente, ela estava dentro do campus da Konoha University, uma das maiores e mais renomadas universidades do país. Como tinha feito com Neji, Hiashi a obrigou a começar os estudos na universidade de Suna; atualmente, achando um meio termo entre a fotografia, o hobbie que Hinata mais amava, e "cursos sérios e respeitáveis", que seu pai queria, ela tinha concordado em cursar publicidade e propaganda. Apesar de relutância inicial, ela gostou verdadeiramente do curso. 

Mas, embora tentasse não pensar nisso, a verdade era que não precisava de faculdade nenhuma. Seu pai provavelmente a encubaria num escritório, talvez como secretária de seu primo, e ela passaria  a vida, até a morte de Hiashi, fazendo o que ele a pedisse para fazer. Tinha quase certeza disso. Por isso, no último mês, quando teve oportunidade de desobedecê-lo, Hinata o fez. Afinal, assim que estivesse formada, ele a faria voltar para casa e seguir todas as suas regras e ordens. 

Então agora, só um pouquinho, Hinata quis fazer algo por si enquanto conseguia.

Fazia mais de um ano que ela vinha pesquisando sobre o próprio curso na KOU e as vantagens comparadas à universidade de Suna eram muitas; além do campus ser uma pequena cidade com farmácias, pequenos supermercados e até um shopping – ! – os professores desse semestre trabalhavam com grande multinacionais, tinham workshops ofertados no mundo todo e eram extremamente respeitados na área. Se ela pudesse ganhar o contato com esses professores por si só, sem precisar da influência gigante do seu sobrenome, ficaria tão feliz… Então, quando surgiu a oportunidade, Hinata fez a prova de transferência e conseguiu nota máxima. Quanto aos gastos, como seu pai depositava todo mês um valor, era sempre ela que administrava – e, como não saia para muitas festas nem fazia nada além de ir do apartamento para a aula e da aula para o apartamento, tinha sido muito fácil organizar as coisas.

Além de que, claro, o valor mensal era bastante alto.

Ela ainda mantinha contato com Matsuri, que dependia de uma bolsa de quase 50% para continuar cursando jornalismo na KOU, e atualmente morava num apartamento afastado do centro do campus, pois era mais barato. Foi perfeito, então; elas tinham dividido o mesmo dormitório no internato por anos, dividir o apartamento não seria problema para nenhuma delas. Na verdade, considerando as saudades que tinham uma da outra, seria ótimo. Além disso, Hinata precisava mesmo de um lugar afastado, pois ainda não tinha contado para o pai que estava em Konoha novamente…

Quando chegou e arrumou suas coisas no quarto de hóspedes, que Matsuri usava para receber os pais separados vez ou outra – estavam os dois fora do estado, atualmente – a Sakamoto tinha acabado de receber a notícia que mais queria ouvir: ganhara a chance de acompanhar, de dentro da sede, os preparativos para o Leilão Beneficente Anual das Phi-Gamma-Nu.

Depois delas pularem pelo apartamento juntas, comemorando, e abrirem uma garrafa de vinho para tomarem, Hinata finalmente resolveu perguntar o que raios era aquilo. Descobriu, então, que no centro do campus da KOU tinha o chamado "Centro Grego", onde as casas das irmandades e fraternidades da universidade se enfileiravam numa rua especialmente para eles. Como nunca tinha se interessado sobre a parte social da universidade, Hinata obviamente não sabia disso. Eles não tinham essas coisas em Suna.

Matsuri explicou que essas fraternidades e irmandades eram, basicamente, "repúblicas de gente esnobe", e a Hyuuga conseguiu entender as coisas mais claramente – além das festas surpreendentes, no entanto, também havia muitos trabalhos voluntários e ações sociais. A PGN, como era conhecida, era a maior irmandade da KOU e onde estavam, portanto, as garotas mais influentes do campus. Todo ano elas faziam o chamado Leilão Beneficente e todo dinheiro arrecadado era doado para diversas entidades.

Eram centenas de milhares de dólares.

Era esse leilão que Matsuri cobriria no jornal da universidade, até fraturar a perna durante uma aula de crossfit…

Hinata coçou a nuca, mantendo um espaço confortável da amiga, com medo de machucá-la porque o gesso ainda era recente.

— Tudo bem, tudo bem, calma. Me explica de novo o que eu preciso fazer…?

— Aaaaa!! – Matsuri gritou, sorrindo, tentando dar um abraço meio desajeitado em Hinata. – Obrigada, miga, eu te amo tanto, tanto! – E, sob risadas da Hyuuga, Matsuri começou a distribuir vários beijinhos no rosto dela. – Ok, vou explicar.

E, apontando com o dedo, ela pediu para Hinata pegar o Ipad em cima da mesa de cabeceira. 

— Então, basicamente, você tem que cobrir os preparativos do Leilão Beneficente, então terá que ir até a sede delas durante uma semana, e depois, totalmente de graça, vai ter acesso exclusivo ao camarim das meninas durante a festa. O Leilão delas é o evento do ano para os alunos da KOU. Elas trazem algo diferente toda vez, sabe, e esse ano eu tenho quase certeza que a novidade é a primeira caloura a ingressar na PGN, o nome dela é Tenten Mitsashi.

E Matsuri passou o Ipad para Hinata ler um e-mail do ano passado. Era um convite assinado pela presidente da PGN, Shion Fujimura, introduzindo as Phi Gamma Nu e chamando todas as garotas para se inscreverem. 

Hinata franziu o cenho. As fotos eram muito chamativas. 

— Primeira caloura…?

— É, Tenten Mitsashi.

— Pera aí. No e-mail diz que elas existem desde de 1980. Como ela pode ser a primeira caloura a ingressar? Essa tal Shion mesmo convida as calouras para se inscreverem…

— Ela convida, Hina, mas nunca aceitou nenhuma. – Matsuri diz, sorrindo de canto. – É muito difícil uma garota de 18, 19 anos ter tudo isso que elas querem. 

Hinata pensou nisso por um segundo. Mesmo ela, que tinha tido a melhor educação, falharia numa das exigências quando ainda tinha 19 anos; o tal dote artístico. Suas fotos de 3 anos atrás eram péssimas. Apesar de ter tido aulas de jazz e balé clássico, também não era muito mais que comum nos dois. Além disso, ela ainda ficava nervosa com grandes públicos, então o tal "carisma" que toda PGN deveria ter, como dizia o e-mail, ficaria em falta também. 

— Mas essa Tenten conseguiu…?

— Uhum – Matsuri balançou a cabeça. – Eu soube que ela é sobrinha da Kurenai, a coordenadora da faculdade de Direito, que, por acaso, a Shion é aluna…

Hinata piscou, entendendo a conexão. Provavelmente Tenten tinha sido aceita por causa de sua tia, então. Bem, isso parecia ir contra tudo o que o email pregava. Não era necessário um teste, ter todos os atributos, etc?

— É, eu sei o que você está pensando – Matsuri disse, muito perspicaz. – Eu acho que as garotas "menores" passam por todos os testes, mas as PGN principais, todas elas são herdeiras, gata. Ricas o suficiente para bancarem um monte de cirurgias; um negócio meio Kardashians. 

Hinata riu da comparação, mexendo a cabeça.

— Hm… Tudo bem, cobrir os preparativos do leilão e o Leilão em si – e agora ela fez uma careta. – Elas se leiloam mesmo…? – Murmura, dando uma outra olhada no email. Que loucura. Isso era tão machista, mesmo que a causa fosse boa. Ter que jantar com qualquer homem que pague um valor para você… Era um tipo de prostituição. No email dizia que nunca houve nenhum tipo de escândalo sexual, mas, mesmo assim, era estranho

— Sim, todas as 35. Os lances mais altos são sempre para a Temari e a Shion. – Matsuri explica, dando de ombros. – Essa parte é verdade. Nunca houve nenhum escândalo sexual; os participantes do leilão são alunos, geralmente, então quem as aluga são os playboys com quem elas saem. 

Ok, isso explica muita coisa. Então os namorados e ficantes dessas meninas as compravam, o que fazia a coisa parecer menos desconfortável. Ainda assim, Hinata sentiu um arrepio ruim na nuca ao se imaginar sendo leiloada, como um bicho. Mas foi impossível não pensar, por mais estranho que fosse, se alguém daria um valor significativo por ela. Cristo. Estava assistindo filmes demais. 

Ela resolveu prender o cabelo, se sentindo repentinamente calorenta.

— Tudo bem. Eu acho que posso fazer isso, seria depois das aulas, certo? – Matsuri acenou positivamente com a cabeça, parecendo animada.

— Nossa, suas fotos vão ficar lindas! Quer dizer, todas elas são modelos naturais, e você é perfeita nisso… 

Hinata sorriu, sentindo as bochechas vermelhas, e murmurou um agradecimento. Então mordeu o lábio inferior, pois tinha um probleminha…

— Nós só temos uma complicação, Matsu… Eu conheço quase todos esses sobrenomes – Hinata disse, apontando para a lista de "membros de poder" no email. Família ricas e poderosas; essas ela conhecia com a palma de sua mão. O sorriso de Matsuri desapareceu na mesma hora. – E elas certamente vão conhecer meu nome, apesar das lentes – E Hinata apontou para os próprios olhos perolados, enormes e redondos, que agora vinha cobrindo com lentes de contato castanhas desde que chegara. Não queria ser descoberta pelo pai por causa de fofoca e ali, bem no seu rosto, estava a maior prova de que era uma Hyuuga. 

Matsuri estapeou a própria testa.

— Ah, não! Espera, espera aí – Matsuri murmurou, balançando a cabeça. Então, muita séria, ela olhou bem fundo nos olhos da amiga. – Hina, a Shion não pode saber que você é uma Hyuuga. Ela faria de tudo para te recrutar. Você tem tudo para ser uma PGN, mas, mesmo se não tivesse, você é podre de rica…

Meu pai, – Hinata corrigiu, se mexendo desconfortável. – é podre de rico. 

— E? – Matsuri levantou as sobrancelhas, um sorriso nos lábios. – Você por acaso se sujeitou a trabalhar de barista em Suna, para não usar o dinheiro dele…?

Constrangida, pois nunca tinha feito qualquer coisa perto de um trabalho de verdade, Hinata corou, mexendo com uma mecha do cabelo.

— N-Não, mas eu não saio gastando, doo boa parte… 

— E assim, caros amigos, Hinata começa a revolução comunista! – A Sakamoto estava claramente se divertindo e Hinata pegou um dos travesseiros para bater no braço dela. – Beleza, Hina; eu duvido que vou ter qualquer contato com uma PGN tão cedo, não tem ninguém do jornalismo lá. Você vai se passar por mim. – Ela estreitou seus olhos castanhos claros, um sorriso pequeno nos lábios. – Então, agora, você é Matsuri Sakamoto. 

 

ΦΓΝ

 

Hinata agradeceu o taxista e, pendurando sua EOS SL2 no pescoço, checou mais uma vez se estava tudo na pequena bolsa de lado que Matsuri tinha preparado para ela. Ok, o caderno, gravador e Ipad estavam lá. "Você é muito perceptiva, vai ser fácil", a amiga tinha dito, soando muito confiante. A Hyuuga até concordava que, por ser muito quieta, tinha desenvolvido ótimos dons visuais e era atenta com tudo o que falavam. Mesmo assim, essa era uma situação totalmente nova.

Ela nunca tinha escondido seu sobrenome em Suna, nem seus olhos, embora cortasse imediatamente as pessoas que tinham tentado se aproximar dela por causa disso. Era por isso que não tinha amigos de lá. Para ser honesta, talvez houvesse uma ou duas pessoas bem intencionadas no meio de um bando de aproveitadores, porém Hinata não estava topando pagar para descobrir. Era quase irônico que agora ela estivesse de frente para à casa de um bando de garotas que certamente entendiam essa condição especial

Ela comprimiu os lábios; estava com o cabelo amarrado para o alto, a franja cobria pouco abaixo das sobrancelhas desenhadas. Seus olhos, sempre brilhantes e expressivos, estavam cobertos por uma lente de contato castanha sem graça – ainda era muito estranho se ver assim, mas, se era por um bem maior… – e a roupa, escolhida pelas duas juntas, tinha tudo para apagá-la ainda mais; era um jeans confortável, um sapatênis bege, uma camiseta mostarda folgada e uma jaqueta da mesma cor do sapato. Pelo menos ela estava parecendo essas jornalistas de séries e filmes. 

O Centro Grego, como Hinata descobriu, era quase uma cópia exata do bairro onde tinha crescido; uma única rua cheia de casas enormes, mansões de três ou mais andares, com carros esportivos estacionados sem nenhum tipo de proteção. As poucas árvores se estendiam entre as casas, quase sempre de tons claros, e ela podia ver as letras gregas penduradas acima das portas; ela reconheceu o ômega, o alpha, o beta, e começou a achar a coisa toda meio engraçada e caricata. Os universitários, do lado de fora, conversavam, faziam piqueniques em seus jardins, jogavam bola e ela até viu um grupo de meninas tomando sol. 

Quando o táxi tinha estacionado de frente para a sede PGN, no entanto, Hinata percebeu o quão mais majestosa a casa parecia de frente às outras. A foto da parte de trás, da piscina, era impressionante, mas estar aqui, na entrada grandiosa, observando as três letras gregas, enormes, reluzindo sobre a porta de madeira, bem… Ela sentiu um arrepio no estômago.

Pensando em Matsuri, Hinata subiu os quatro degraus da entrada e tocou a campainha. Aparentemente, não havia nenhuma PGN do lado de fora; talvez elas tivessem cansadas das aulas pela manhã…? Num campus tão extenso e cheio de coisas para se fazer, era comum que os alunos tivessem aulas pela manhã, tarde e noite. Ela própria tinha mudado a grade de duas matérias pela próxima semana, para conseguir estar ali de tarde. Cristo. Tinha mesmo que aprender a dizer não. 

Hinata estava pensando sobre quando falaria para o pai que tinha voltado para a cidade, quando alguém abriu a porta. A garota era muito mais alta que Hinata, e seus cabelos vermelhos estavam penteados para trás. Não usava nada além de um top branco, de alças trançadas, e uma calça folgada do mesmo tom. Por causa das cor clara, sua pele negra reluzia; os olhos amarelos, hipnotizantes, também. Mas Hinata, impressionada, só tinha tido tempo para notar como o corpo dela era perfeito

— Ei. Posso ajudar?

Hinata subiu o olhar das coxas torneadas, corando ao ver o sorriso de canto, orgulhoso, que Karui Komatsu tinha lhe dado. O pai dela era dono do maior escritório de arquitetura do estado. Foi com eles, inclusive, que Hiashi se consultado ao expandir a empresa. A Hyuuga piscou, percebendo que Karui esperava uma resposta. Hm, é mesmo.

— Hã… Eu… Eu sou do jornal da faculdade. Estou aqui para acompanhar vocês até o Leilão, Kabuto me mandou… – E, um pouco nervosa, Hinata se esforçou para achar o pequeno cartão que Kabuto, o redator chefe do jornal, tinha entrado para Matsuri. Karui leu-o por um segundo e, depois de encarar Hinata dos pés à cabeça, o que foi constrangedor, ela sorriu prestativa.

— É claro. Vem, pode entrar. A nossa presidente estava te esperando. 

Hinata agradeceu, mas a porta era tão grande que Karui mal teve que se afastar para que ela passasse. A Hyuuga deu de cara com um cômodo claro, enorme, com dois sofás em formato de "L", um lustre, uma lareira do outro lado, uma televisão que fazia da sala quase um cinema. Havia dois quadros de fotografia, que a Hyuuga amou ter visto, e pelo menos dois vasos grandes com plantas. Era simples e bonito, de muito bom gosto, não tão simplório quanto sua casa; seu pai era muito minimalista. Mas toda a decoração desse lugar parece ser muito bem pensada e é extremamente clara, mesmo o mármore das duas escadas que, do lado oposto ao sala de estar, serpenteia até o próximo andar. Apesar da TV ligada, o local estava completamente vazio. Bem, era um espaço enorme. 

— Obrigada por me receber. Nossa, aqui é lindo! 

— Valeu. Dá trabalho agradar nossa querida presidente, mas quando eu consigo, é bem recompensador – E Karui piscou para ela, como se isso fosse um segredo. Hinata teve que controlar a vontade de erguer as sobrancelhas. Ela tinha decorado tudo sozinha…? É, estava no sangue. – Inclusive, eu sou…

— Karui Komatsu – Hinata completou, quase sem querer. "Agradeço todos os dias o seu pai que a empresa em que vou passar o resto da minha existência miserável não é toda em tons de cinza", ela teve vontade de dizer, mas guardou para si mesma.

—...é claro, você já sabe – e a ruiva olhou-a de forma engraçada, sem parecer impressionada. – Você é…?

A Hyuuga apontou para o pequeno crachá, sem foto, que Matsuri tinha a feito pendurar no peito. Era para evitar a pergunta; no caso, para evitar que Hinata respondesse de verdade sem querer.

— Matsuri Sakamoto. 

— Hm. Vamos subir, a Shion já deve saber que você chegou. 

E, bem atrás dela, Hinata a acompanhou até as escadas. No andar de cima, Karui explicou, era onde ficava os quartos; elas tinham um número elevado, mas algumas meninas já dormiam juntas. Os membros de poder, em que ela se incluía, não dividiam e tinham quartos para si mesmas. Hinata conseguiu dar uma espiada nos cômodos, finalmente vendo algumas meninas, passando em roupas confortáveis de um lado para o outro e conversando entre risos. Uau, essa gente gostava de branco; as roupas eram quase todas nesse tom. Karui estava a levando para o escritório da presidente. 

Quando chegou, deu de cara com mais uma porta de madeira escura. Karui bateu e, com um aceno, se despediu de Hinata – a Hyuuga ficou ali parada, então, só esperado. Isso estava a deixando nervosa. Não conhecia Shion. E se a moça percebesse que ela não era nenhuma jornalista? Diria que ela não tinha habilidade para escrever sobre sua amada irmandade? Cristo, e ela que queria evitar confusões…

Pode entrar. – Hinata ouviu a voz abafada do outro lado e, tomando coragem, virou a maçaneta delicadamente. 

Como todo o resto da casa, o escritório da presidente também era enorme e bem decorado; mas, agora, com o branco, havia muito dourado. Além da escrivaninha com um MacBook e telefone em cima, havia cadeiras estofadas, uma estante com poucos livros e muitas flores em tons de rosa e amarelo. Duas janelas transparentes ficavam atrás da cadeira de Shion e, bem no meio entre elas, o brasão das Phi-Gamma-Nu estava pendurado, esculpido em bronze. Mas, claro, sentada na cadeira, a coisa mais impressionante do cômodo era a presidente das garotas. Num vestido decotado e esvoaçante, com o cabelo loiro preso em tranças e caindo até seus seios fartos, sorrindo gentilmente, Shion era de tirar o fôlego. 

Sentindo o rosto vermelho outra vez, Hinata fechou a porta atrás de si. Ela era tão bonita que era meio constrangedor. E a Hyuuga estava de sapatênis! Sapatênis! Shion certamente tinha poder para decretar isso como crime…. Não tinha?

— Com licença.

Olhando-a bem, mas sem mover um músculo da cadeira, Shion estreitou os seus belos olhos quase azuis.

— Matsuri Sakamoto…?

— Sim, sou eu, muito prazer. – E Hinata se movimentou para frente, inquieta. – Obrigada por permitir que eu acompanhasse vocês durante essa semana; eu tenho algumas ideias de como podemos fazer, mas se você já tiver qualquer expectativa, adoraria falar sobre – Hinata foi desatando à falar o que Matsuri tinha a obrigado a decorar, antes que ficasse nervosa demais e saísse gaguejando. Já estava bem ansiosa. Shion moveu os olhos para a cadeira de frente à mesa dela e Hinata logo entendeu que deveria se sentar.

— Gosto de garotas pró-ativas. Por favor, fique à vontade. Chá?

— Não, muito obrigada – Hinata murmurou, levemente incomodada com o tom de voz suave que Shion usava. A lembrava do seu pai. 

— Bom. Sim, eu tenho ideias e certamente vamos conversar sobre elas, mas, antes… – E, apoiando os cotovelos na mesa cheia de papéis, canetas e pequenos cadernos felpudos e bonitinhos, Shion estreitou outra vez os olhos. Hinata sentiu-a correr de sua franja até os lábios. – Nós não nos conhecemos, Matsuri…? Eu sinto que conheço o seu rosto…

Hinata engoliu em seco. Se lembrava muito bem do pai da menina, naquela noite… aquela noite que nunca conseguiria esquecer, provavelmente, mas elas, em si, nunca tinham chegado a se encontrar. Mas Neji estava no campus, e Shion com certeza já tinha participado de jantares com ele e com Hiashi. Hinata tossiu.

— N-Não, nunca nos falamos. Mas talvez em alguma festa…?

O sorriso contido que a loira deu dizia, claramente, "nós não frequentaríamos a mesma festa"; Hinata teve que se poupar de olhá-la com nojo.

— Tem razão; talvez. – E ela se acomodou na cadeira, deu mais uma olhada na Hyuuga e então para a própria mesa. Hinata olhou também na mesma direção e viu um documento impresso, por cima de uma envelope branco. – Então, Matsuri, você deve saber que é a primeira vez que permito que um de vocês entre na nossa sede e passe o dia entre nós. Pra ser sincera, é a primeira vez que deixo alguém conviver com a gente.

Dessa vez foi Hinata que estreitou seus olhos, agora castanhos, quando Shion deslizou lentamente o documento para ela. No topo, em negrito, estava escrito "NDA". Séria, se sentindo incomodada, a Hyuuga murmurou, mais para si do que para a outra:

— Um termo de confidencialidade e sigilo…

Shion ergueu uma das sobrancelhas.

— Pais advogados…?

— Criminalistas – Hinata balbuciou. Sim, esses eram os pais de Matsuri. O dela, no entanto, tinha um contrato daqueles para cada pessoa que pisava na empresa Hyuuga. "Nem todo dinheiro é justo, mas todo dinheiro é bom", Hiashi gostava de dizer. Hinata engoliu em seco. – Isso é…

— Mera formalidade, é claro – Shion deu de ombros. – Mas eu gostaria de preservar a vida privada das minhas irmãs, você deve entender. É claro que a matéria irá passar por mim antes de ser publicada, mas esse contrato evita que você fale por aí tudo o que escutar… Ou então que lide com as consequências.

Hinata piscou para o olhar misterioso dela. Mesmo se não tivesse um documento ali para ser assinado, ela sabia que não dividiria as coisas que ouvisse com mais ninguém além de Matsuri. O olhar de Shion era poderoso desse jeito. Ainda assim, incomodada, Hinata pegou o documento, lendo-o superficialmente, por cima. A tal consequência eram duas multas nem um pouco baratas; juntas, somavam quase 1 milhão e meio de dólares. A primeira, como prescrito, seria destinada à instituições de caridade. A segunda, no entanto, ia diretamente para o bolso de Shion. 

Matsuri nunca teria dinheiro para bancar aquilo. Hinata, porém…

Ela olhou para a loira outra vez. O que essas garotas podiam fazer de tão ruim que ninguém deveria saber? No email, elas pareciam a definição da pureza e da busca pela paz. Aparentemente, eram todas meninas extraordinárias, com talentos extraordinários. 

Sabia que, se não assinasse, não havia entrevista nenhuma. Isso era claro. Hinata mordeu o lábio inferior… Matsuri tinha quase implorado por aquela reportagem; tinha, literalmente, dado a bunda para o infeliz do Kabuto. Falar das garotas ricas de Konoha podia ser superficial e apelativo, mas vendia. A Rede TMU tinha, inclusive, meia dúzia de programas que se encaixavam muito bem nisso, além das colunas nos jornais, nas redes sociais, nas revistas que encabeçava. A caneta prateada, estampada com o logo da empresa Fujimura, que Shion deslizou para ela, era sua porta de entrada. A porta de entrada para Matsuri.

Então Hinata agradeceu que soubesse, praticamente de cor, a caligrafia da melhor amiga.

 

— Quando eu falei com o Kabuto sobre a reportagem, eu estava refletindo sobre essa ideia de nos aproximarmos mais das pessoas do campus. Elas nos veem como garotas intocáveis e eu não penso que deve ser assim – Shion foi falando, depois que elas deixaram o escritório para trás. Hinata estava com o Ipad em mãos e digitava deslizando os dedos, como desenhos, sobre o teclado. Era mais rápido desse jeito. 

Ela mexeu os lábios, pensando nisso.

— Aproximação…? – Repetiu, pensando nisso. A pequena, mas presente, parte do campus que não estava dentro do Centro Grego eram, com toda certeza, como Matsuri; dependiam de bolsas. Era difícil para eles uma aproximação com uma garota como Shion, em seus gucci shoes, se eles sequer frequentavam o mesmo círculo social. 

— Isso. Mais da metade das garotas do campus desejam se tornar uma PGN; isso eu já tenho. O que quero agora é que elas se vejam na gente. 

Tentando não se sentir muito nervosa, Hinata balançou a cabeça quando elas desceram as escadas.

— Talvez uma apresentação mais intimista…? – Murmurou. Olhando-a de canto, Shion pareceu pensar nisso. Talvez. Aproveitando que tinha a atenção dela, Hinata continuou: — Estamos falando dos membros de poder, certo? E se você me trouxesse cada uma delas e eu as entrevistasse? Principalmente a caloura, eu imagino que ela é a surpresa desse ano para o Leilão…? – A Hyuuga arriscou um verde, lembrando-se que Matsuri dissera isso.

Shion pareceu gostar, pois estava sorrindo agora.

— Bem. Você realmente farejou isso. Sim, ela é, mas, além dela, temos outra, talvez até mais excitante… – A Fujimura divagou, sem parecer realmente focada nas palavras. – Mas essa você vai conhecer na nossa festa de quarta-feira.

Hinata não teve muito tempo para questionar que festa de quarta-feira, pois Shion pediu que ela se acomodasse na sala, perto do quadro de fotos das PGN durante os anos. Parecia um bom cenário. Sentindo falta do tripé, Hinata se sentou na mesa de centro, observando Shion desaparecer numa porta dupla.

Bem, ela ainda teria muito tempo para conhecer a casa.

 

Karin Uzumaki

 

Quando Karin apareceu, ela estava usando um shortinho jeans e um cropped branco com estampas de laranjas. Seu cabelo ruivo, vermelho fogo, estava trançado para baixo. Os Uzumaki eram conhecidos fazendeiros, muito ricos, com exportação de colheita de proporções enormes.

— Oi, eu sou a Matsuri, prazer – Hinata cumprimentou, sorrindo, mas a moça não pegou na sua mão. Ela sorriu de forma muito contida, parecendo achar a ideia de estar ali, com Hinata, extremamente desagradável. Também era magra, mas torneada. Parecia ser um perfil padrão, junto com as roupas brancas. Hm… Midsommar…?

— Nós podemos ser rápidas com isso? Eu tenho um compromisso daqui a pouco. 

— É claro – Hinata murmurou, deslizando os dedos para as palavras "gentil, paciente e amável". – Karin, não é? Por que você não me conta sobre…

Karin deslizou os olhos castanhos para os pés da Hyuuga, que tinha acabado de cruzar as pernas. Ela sorriu docemente.

— Eu amei seus sapatos.

De alguma forma, Hinata soube, com toda certeza, que a ruiva tinha os odiado. Muito.

 

Karui Komatsu

 

— …sim, nós namoramos por cerca de 1 ano, mais ou menos. Por favor escreva o quão bem dotado e bom de cama eu disse que ele era, blá-blá-blá. – A ruiva murmurou, dando de ombros, mais mexendo no celular do que encarando Hinata. A Hyuuga tinha escolhido falar um pouco sobre o ex relacionamento dela com Sai Satoshi, um dos caras populares do campus. Matsuri tinha mostrado uma foto dos dois juntos no dia anterior e eles pareciam ter uma química surpreendente. Hinata começou a escrever, então, sobre o "olhar apaixonado que Karui ainda carrega quando fala de Sai, a prova da amizade deles, apesar do término", embora a garota parecesse muito mais interessada na rede social do que qualquer outra coisa. Parecendo achar que Hinata não ouviria, ela murmurou, num tom de deboche: — É, muito bom mesmo, dando aquele cuzão para metade da fraternidade dele. Mas não tem problema não, eu chupei a puta da prima dele na última vez que visitei a família idiota. 

Hinata ergueu imediatamente o olhar do Ipad, o rosto corado, totalmente em choque. Ela tinha mesmo ouvido aquilo…? O jeito como Karui não tirou os olhos do celular, como se nem visse Hinata bem ali, lhe dizia que não.

A Hyuuga não tinha ouvido nada

 

 

Sakura Haruno

 

— Você prefere que eu me sente assim, gata? Ou assim?

Sakura, que tinha vindo diretamente da piscina e estava usando um biquíni branco muito pequeno, começou a fazer poses em cima do sofá. Ela parecia muito à vontade com a câmera de Hinata, embora seus peitos, pequenos, já tivessem escapado pelo menos duas vezes da parte de cima. 

A Hyuuga sabia que teria um problema com muitas fotos de mamilo e olhos vermelhos de cloro

A garota de cabelos cor de rosa, a única que Hinata não conhecia o sobrenome, pois ela era "só" filha de médicos, parecia agitada e às vezes soltava risos exagerados. Ela estava bêbada, ou…?

— Você fica linda de qualquer forma, vamos só… – Hinata ia dizendo, mas parou quando, se curvando sobre uma bandeja que uma outra menina da irmandade tinha trazido, Sakura pegou um pequeno sanduíche integral de peito de frango. A Hyuuga deixou a câmera de lado por um momento, observando a Haruno se deliciar com o sanduíche…
— Nossa, você tem que comer um pedaço disso, hã…
— Matsuri.

— Matsuri, sim, isso, caramba, tá uma delícia…

A Hyuuga deu uma olhada no Ipad, juntando as sobrancelhas quando Sakura roubou o recheio de outro sanduíche para completar o que já estava comendo. A garota tinha acabado de se descrever como "vegana radical". 

 

Tayuya Watanabe e Kim Tsuchi

 

Como Hinata notou, essas duas eram quase inseparáveis. A família de Tayuya, mais uma ruiva, lidava com seguros e a de Kim, morena e alta, dirigia um cemitério particular. Era impressionante o tanto de dinheiro que se pode tirar disso. 

Enquanto Tay usava um vestido fendi da coleção anterior, Kim estava usando chapéu – ! – que ia muito bem com seu vestido coquetel e botas do mesmo tecido do acessório de cabeça. Crocodilo.

—...então você emagreceu com jejum intermitente…? – Hinata repetiu, diretamente para a ruiva, embora já tivesse escrito. 

— E uma junta cirurgiã muito cara – Kim disse, num tom divertido, e Tayuya revirou os olhos. Hinata se resumiu à sorrir, simplesmente, pois obviamente não escreveria aquilo.

Como Sakura, elas também pareciam alteradas.

— Isso é mentira dela. A minha cicatriz é da bicicleta. – Tayuya murmurou, escondendo a boca com a mão, rindo divertida. Hinata só sorriu, outra vez, escrevendo "...e muitos exercícios físicos". Bem, lipoaspiração não era crime.

— Você, hmm… Seu Instagram tem muitos tutoriais de maquiagem, você não quer nos dar algumas dicas, quem sabe? – A Hyuuga incentivou para Kim agora. As outras duas, porém, se olharam e deram risada de alguma piada interna. 

— É, amiga, aproveita e fala do botox.

 

Temari no Sabaku

 

A SabakuCo era uma multinacional de combustível; isso quer dizer muito, muito dinheiro. Perto da garota loira, deslumbrante, à sua frente, de saia jeans e camiseta com o brasão da irmandade, Hinata sabia que era uma mera suburbana. A empresa de seu pai era um simples chaveiro para eles. A única outra empresa que ela conhecia que poderia se equiparar era a dos Fujimura, e, bem, a família Uchiha…

Hinata estava anotando rapidamente uma primeira impressão positiva, esperando que Temari acabasse de fumar para que ela pudesse tirar fotos. Como elas estavam num lugar fechado, apesar das janelas, o cheiro já começava a incomodar seu nariz; mesmo assim, não reclamou. Desejou falar sobre o curso da loira, que também cursava Publicidade e Propaganda. Ela era sua veterana. Mas, claro, para Temari, Hinata era Matsuri e estava cursando jornalismo.

— Já escreveu o quanto elas te decepcionaram? – A Sabaku perguntou, tragado logo depois. 

Hinata ergueu o olhar do Ipad, sorrindo levemente.

— Não – respondeu, sincera, sentindo o nariz esquentar. – Elas não me decepcionaram… – Explicou, quando Temari arqueou a sobrancelha. Não, mesmo. Como não fazia parte da KOU até agora, Hinata não tinha criado nenhum tipo de sonho adolescente com as PGN. E, bem, mesmo se estivesse na KOU, ela conhecia aquela vida o suficiente para saber que, 1, metade das garotas da sua idade estava envolvida com coisas ilícitas, e 2, a outra metade fazia carinho na cabeça de pessoas pobres e depois desinfetava a mão. 

— Hmm… Esse é o faro jornalístico? Já sabia que somos umas mentirosas?

— Vocês não são mentirosas… As pessoas compram o que querem – e Hinata deu de ombros, escrevendo as palavras "curta e grossa, um senso de justiça brilhante." 

Temari sorriu de canto, descendo os belos olhos verde musgo pelo corpo de Hinata que, constrangida, se encolheu um pouco. Aquela era uma predadora nata… a Hyuuga pressionou as coxas juntas quando a Sabaku parou o olhar em seus pés.

Então, sem pedir, ela simplesmente segurou em sua canela e ergueu a perna de Hinata de uma vez; então apagou o cigarro na sola do seu sapato. Surpresa, a Hyuuga a assistiu jogar a bituca em qualquer lugar do chão. Apenas alguns segundos depois, praticamente, uma garota da irmandade, ou assim lhe parecia pela idade e roupa, veio pegar e jogar fora. 

— Ela fez você assinar um termo, não fez? – Temari murmurou, chamando atenção de Hinata de volta para ela. A Hyuuga ainda estava chocada com a velocidade que tudo tinha acontecido; como tinha sido usada como um cinzeiro, um simples cinzeiro, e a outra, coitada, como uma lata de lixo…

Ela comprimiu um lábio no outro e se apressou para escrever, antes que esquecesse: "...sagaz, Temari no Sabaku vai te provar um ponto. Seja ele qual for." Então olhou de volta para a loira, que estava surpresa com sua atitude quase indiferente.

— Sim, ela fez. Como fez essa menina, também, não é? Todas vocês.

 

Tenten Mitsashi

 

Quando Tenten entrou no cômodo, Hinata já estava guardando um suspiro de alívio. Finalmente, aquela era a última garota. Ela já estava se perdendo nos sinônimos positivos para todas as besteiras que tinha ouvido até agora. Não havia nenhuma garota minimamente, hm, não hipócrita naquele grupo? Três delas estavam bêbadas, e talvez algo mais, ok, isso era ruim, mas não era problema dela. Mas, mesmo as sóbrias, ou aparentemente sóbrias, não estavam ajudando numa entrevista que deveria ser positiva.

Quando a Mitsashi se sentou no sofá, vestindo um conjunto de hot pant e top prateado, um tom levemente mais escuro que o branco que já estava fazendo os olhos de Hinata doerem, ela se surpreendeu com o rosto jovem da morena de coques. Tudo bem, a Hyuuga tinha apenas 22 anos, estava prestes a fazer 23, mas Tenten não tinha mais que 19, no máximo. Em vários locais, ela nem poderia beber! 

Com o cabelo preso em dois coques, baby hair escapando para uma franja tímida, ela chegou cumprimentando Hinata com dois beijinhos na bochecha; a Hyuuga quase demorou para responder. Não tinha sido cumprimentada por nenhuma das outras; Temari tinha murmurado um boa tarde, apenas, parecendo contrariada, e Sakura tinha dito bom dia, o que provava que ela não estava lá muito sã. 

— Muito prazer! Você é a Matsuri, certo? Isso é tão legal. É minha primeira entrevista. Eu nem sei muito bem o que fazer, na verdade. Na minha entrevista com a Shion, ela saiu disparando um monte de coisa e eu quase não acompanhei, me deixou muito nervosa, nossa, mas acho que ela viu alguma coisa em mim, porque eu tô aqui! – A Mitsashi foi falando, tudo de uma vez, e Hinata mal conseguia entendê-la. Então ela parou, suspirando como de surpresa. – Meu Deus, eu realmente tô aqui.

A Hyuuga não evitou sorrir; tinha soado exatamente assim quando chegara ao apartamento de Matsuri e se acomodara. Finalmente estava na Konoha University. 

— É um prazer, também, Tenten. Por que não me deixa fazer algumas perguntas e depois tiramos as fotos? – Sugeriu, tranquila, e Tenten balançou a cabeça animadamente, sentando-se de pernas cruzadas no sofá. – Você é caloura de…

— Educação física. 

— E desde quando você queria ser uma PGN...?

Desde sempre! – Disse, tão feliz que Hinata ergueu seu olhar do Ipad, sentindo-se realmente contente desde que chegara. Tenten tinha esse ar bem humorado e contagiante. Parecia divertida.  Estava tão, tão contente, que era impossível não se sentir um pouco, também. Mitsashi… Hinata também não conhecia esse sobrenome. – Minha tia Kurenai foi uma das fundadoras Phi-Gamma-Nu, no mesmo ano da mãe da Shion! Eu cresci sabendo que esse era o meu lugar. Eu não imaginava que seria aceita logo no primeiro ano, sabe, mas não estou reclamando – E ela abraçou uma almofada próxima, sorrindo como boba. Tinha lindas covinhas no seu rosto moreno. Bem, todas elas eram maravilhosas, pareciam pinturas, mas Tenten tinha um charme

Hinata sorriu, terminando de escrever, sem alterar nada dessa vez. 

— E está gostando, até agora? Superou suas expectativas…? – A Hyuuga tentou não soar estranho, mas era impossível não pensar nessa garota doce e inocente, que tinha crescido com um ideal das PGN, como aquele email divulgava, e se deparar com essas garotas desbocadas, fingindo algo para as câmeras e revistas em que apareciam. 

Ela viu quando, devagar, a morena mordeu o lábio inferior cheio de gloss labial. Tenten pareceu pensativa por um segundo, embora logo seu sorriso tenha voltado ao rosto oval. 

— Superou. Todas. 

Hinata não soube o que achar daquela resposta tão simples, então se poupou de pensar, já que não se tratava de um artigo de opinião, e simplesmente desenhou o que a Mitsashi tinha dito. Quanto mais rápido ela terminasse aquilo, melhor.

— E eu soube que você tem um papel fundamental no Leilão Beneficente desse ano… Alguma dica? Está ansiosa por isso…?

— Estou muito ansiosa – respondeu, de uma vez, animada, e então balançou a cabeça de um lado para o outro; os coques até tremeram. – Mas, quanto ao que vou fazer, é sur-pre-sa. – E Tenten colocou o dedo indicador, com a unha quadrada pintada de verde neon, sobre os lábios, fazendo um "shhh".


 

A sede das Phi-Gamma-Nu era tão surpreendente quanto elas deixavam à entender. Hinata tinha andado por aí, sendo guiada pelas primeiras garotas que achou, que não pareciam ser do interesse de Shion que participassem da reportagem, e estava tirando fotos. A biblioteca, onde duas garotas estudavam juntas, era maravilhosa e muito bem cuidada. A academia, a sala de jogos, a cozinha, tudo era pensado nos mínimos detalhes, decorado da melhor forma e sem economia. A Hyuuga mal tinha que se esforçar para as fotos saírem bonitas; quase todos os ângulos ficavam bons, as luzes eram ótimas. Tinha até tirado algumas de um grupo ensaiando dança contemporânea na academia, e outras pintando, sob o som de meditação, de flauta, numa caixa de som, em outra sala. Ela até conseguia entender porque todas pareciam felizes, apesar das garotas principais serem bizarras. 

Ela estava na área externa, onde um grande espaço de grama se estendia, até a piscina desenhada em "T" e com muitas cadeiras de sol ao redor. Era um espaço maravilhoso para atividades e até para uma festa; Hinata tinha acabado de tirar fotos da parte da churrasqueira, tentando não prestar muita atenção nos risinhos e conversas das garotas que, aproveitando o dia de sol, estavam lá fora. Para a infelicidade de Hinata, não eram quaisquer umas…

— Ei, ei, menina do jornal, tira uma foto minha aqui – Kim, que estava pegando sol, agora sem as botas, mas ainda com o chapéu, se aproximou dos balcões perto da churrasqueira. Hinata tentou sorrir, erguendo a câmera quando a moça fez diversas poses, sensuais, e ficava bem em todas elas. 

— É isso aí, rainha da linguiça! – Tayuya, sentada sobre uma das mesas, disse bem alto, rindo e batendo palma. As outras garotas riram também, assobiando. Com o rosto vermelho, até Hinata sorriu um pouco, olhando para a câmera para ver como as fotos ficaram. Tentava chamar menos atenção possível.

Kim mostrou a língua para ela, pegando a garrafa de grey goose que tinha deixado próxima à pia da área de churrasco. Ela serviu num copo, mesmo, espremendo um limão sem se importar muito. 

— Como eu estava falando: marca o que eu estou dizendo, Tayzinha, – E Kim ergueu o copo para ela, muito tranquila de estar podre de bêbada em plena segunda-feira. – esse domingo, depois desse maldito leilão, eu vou estar sentando no Itachi Uchiha, aquele filho de uma mãe. Eu ouvi um amém? – E, sob os "améns" de Tayuya, Sakura e Karui, que morria de rir, ela virou o copo.

Hinata não conseguiu evitar de erguer os olhos, sentindo o estômago se revirando. Uchiha? Aqui? Temari, que estava sentada sob a sombra, riu de forma zombadora.

— Você nem sabe se ele vai estar lá, maluca. – Ela balançou a cabeça, estalando a língua. – E nem se ele te comeria. 

Karui tampou a boca, para rir baixo, mas Kim já estava fuzilando a loira com os olhos.

— Ele vai estar lá. Ele sempre acompanha o irmão…

—...e Sasuke sempre compra a nossa creatina preferida, blá-blá-blá – Tayuya completou, rindo. Então ela se virou para Sakura, dizendo, alto o suficiente para Hinata escutar: — Vai cheirar de novo? Sério?

— Eu preciso estudar, quase reprovei em DPD – e o próximo som foi Sakura fungando, muito alto, sobre a mesa. Hinata fez uma careta; não, aquilo não ajudaria a Haruno a estudar, na verdade a distrairia, e a longo prazo faria mal ao se corpo. Hm… a curto prazo poderia fazer também; imagina só se a menina tivesse uma overdose, Jesus Cristo. 

Mas o que realmente estava na mente de Hinata, no entanto, a remoendo, era o que tinha escutado antes daquilo. Os Uchihas estavam ali, no campus, ou era o que parecia. E Sasuke participava do leilão. Ela mal se lembrava do rosto de Itachi, mas o do irmão mais novo… Ela mordeu o lábio inferior, sentindo vontade de se sentar. 

Completamente alheia à Hinata, Sakura disse, com um sorriso no rosto, coçando o nariz com ânimo:

— Sonha, gata. Itachi não apareceu ano passado e não vai aparecer esse ano. Você que se contente com o pau minúsculo do Aburame.

 

ΦΓΝ

 

— Agora, isso explica tudo. Eu sempre me perguntei porque não tinha nenhuma garota do jornalismo ou outra do direito, além da Shion, nessa irmandade. Qualquer uma esperta o suficiente acharia uma brecha nesse termo de sigilo dela. 

Hinata concordou com tudo o que Matsuri disse com um som de garganta. Estava engolindo a garfada de macarrão que tinha colocado na boca; depois que chegara no apartamento e tomara um bom banho, a Hyuuga aproveitou um dos seus hobbies favoritos e cozinhou para elas. Matsuri estava tendo que usar muletas para ir de um lugar para o outro, então Hinata trouxera os pratos delas para o quarto e estavam comendo juntas. 

Tinha contado tudo para Matsuri e mostrado as fotos. A Sakamoto até elogiara seu texto e dissera que mudaria pouquíssimas coisas. 

— Está surpresa?

— Que elas sejam umas vadias narcisistas drogadas? – Matsuri perguntou, erguendo a sobrancelha, e Hinata quase se engasgou com a massa, porque tinha achado engraçado. Bem, colocando assim… – Não, é claro que não. Eu sempre imaginei que você viraria uma, também… – Ao ver a careta de Hinata, Matsuri sorriu, mastigando um tomatinho. – Qual é! Estou sendo sincera.

A Hyuuga balançou os ombros, suspirando.

— Com o pai que eu tive, às vezes eu também me surpreendo que eu nunca tenha apelado para nada artificial… 

— Porque o gostoso do Utakata fazia as coisas direito, meu amor – A outra logo respondeu, dando risada. Hinata corou, balançando a cabeça e suprimindo um sorrisinho.

— Que coisa mais machista, Srta. Sakamoto. 

— Eu sei, desculpe, não resisti.

A Hyuuga resolveu não dizer que não era bem verdade, além de tudo. Utakata, seu ex namorado, não era nada fenomenal entre quatro paredes, como Hinata tinha dado a entender para Matsuri durante suas conversas à distância. Com vergonha de reclamar, preferiu não dizer que ele simplesmente a beijava um pouquinho, beijava seus peitos e depois, sem mais nada, nem uns dedinhos que seja para ajudar, se enterrava entre suas pernas e metia nela. Às vezes era dolorido, até. Por isso Hinata tinha criado o hábito de tentar pensar em muitas coisas excitantes, não exatamente nele, para tentar ficar lubrificada, e apertar as coxas juntas quando eles ainda estavam nos beijos, para ter algum estímulo lá embaixo.

Era frustrante, mas ele era tão bom em todos os outros aspectos, tão gentil e amoroso, que Hinata nunca tinha tido coragem de reclamar. Um relacionamento não era só sexo, afinal; e esses sexos maravilhosos onde a mulher gozava duas, três vezes, era só coisa de livro.

A Hyuuga chacoalhou a cabeça para espantar esses pensamentos. Isso não interessava agora.

— Shion disse que, além da Tenten, tem outra surpresa para o Leilão. Alguma aposta? – Perguntou, tendo pensado nisso por bastante tempo. Matsuri olhou para cima, pensando também, mas só mexeu os ombros.

— Não sei, pode ser tanta coisa. Talvez você descubra antes de domingo, quem sabe.

Hinata suspirou, pensando que seria uma semana muito longa. 

É, quem sabe.

 

ΦΓΝ

 

A Hyuuga massageou a têmpora, tentando espantar a voz de Sakura de seus pensamentos. Em mais uma fim de tarde com as PGN, ainda na sede delas, Hinata tinha descoberto jeitos muito peculiares de ficar louca, escutado comentários constrangedores sobre as últimas relações sexuais delas – que incluíam professores –, além de ter decorado todos os procedimentos estéticos que Kim tinha feito, mas não falava nada para ninguém – e nem mostrava suas fotos de infância. A parte mais simples e tranquila disso tudo era lidar com a constante superficialidade delas quando falavam de roupas, maquiagem e festas. Até tinha escutado comentários pertinentes de Sakura sobre seu último voluntariado numa vila africana, mas o seu tom de voz deixava claro que ela não voltaria nunca mais; a futura ginecologista só queria saber das vaginas bem de vida, obrigada.

O ápice para Hinata, no entanto, foi quando estava na academia com elas, só tirando fotos, encolhida no canto e tentando transformar as falas em comentários interessantes. Às vezes as meninas pausavam os exercícios para fazer stories e Tayuya, inclusive, era patrocinada por uma marca de milk-shake diets. Assim, Hinata filtrava as coisas que iriam para o Instagram do jornal, como pequenos spoilers. Mexendo no Ipad para fazer isso, ela sentiu o olhar de alguém em si e piscou, franzindo o cenho.

Apoiada na esteira, tomando um dos shakes que Tayuya ganhava em caixas fechadas, embora o gosto fosse péssimo – Tenten tinha oferecido o copo dela para Hinata provar, a garota era realmente muito gentil –, Karin a olhava com muito interesse, o rosto impassível. 

Corada, a Hyuuga tentou voltar a atenção para o instagram. Será que Karin tinha, talvez, reconhecido seus traços…?

— Sua camisa... – Ela disse, muito alto, e Temari e Sakura, que conversavam cada uma em uma bicicleta ergométrica, pararam para observar. Tenten, que pulava corda, continuou, sem parecer interessada. Hinata olhou para a própria camisa; fina, era estampada de bolinhas. Tinha comprado numa loja em Suna. – Eu não gostei dela.

Hinata sentiu o rosto quente e piscou, sem entender muito bem. Se estivesse em outra posição, teria dito, um pouco gaguejante, mas com confiança, que "não é problema seu o que eu estou vestindo". Mas não agora. Agora, a sua voz parecia ter sumido. 

Sakura voltou a pedalar, revirando os olhos, ainda que um sorriso contido surgisse em seus lábios.

— Qual é, consultora de moda. Deixa a garota em paz, a camisa é uma graça.

Temari, no entanto, estava encarando Karin com raiva moderada. 

— Uzumaki…

Karin, que só agora deixou de olhar com nojo para Hinata, olhou para Temari e arqueou uma das sobrancelhas, sorrindo cínica.

— O que foi, irmãzinha? Eu só disse que não gostei.  

A Hyuuga deixou o Ipad, desligado, entre as coxas, e desabotoou a camisa. Botão por botão, até Tenten deixou de pular a corda para assistir, parecendo surpresa. Então, com o rosto ainda corado, mas sem encarar nenhuma das garotas, Hinata ficou só com a fina regata que vestia por baixo da camisa, deixando-a, dobrado, sobre um dos equipamentos.

— Desculpe. Não vou usá-la aqui outra vez.

A Hyuuga ouviu quando Temari bufou, mas logo voltou a pedalar. Sakura estalou a língua, mas havia um fundo de risada nos sonzinhos que saiam de seus lábios. Tenten estava pulando corda outra vez. Hinata, constrangida, mas nem perto do que já tinha sentido com o pai, voltou sua atenção para o Ipad, sentindo que a Uzumaki ainda a encarava.

— Bom, muito bom. Você fica mais bonita assim, seus peitos são lindos.

Agora mesmo, remoendo a cena na mente, mesmo já tendo saído da casa delas, Hinata continuava odiando o momento. Tinha sido humilhante, no mínimo; e mesmo Temari e Sakura parecendo interessadas em fazer algo, elas não tinham de fato. Não colocariam ninguém na frente da irmã delas. 

Quando o carro azul McLaren parou na sua frente,  Hinata espantou os pensamentos, fechando o último botão da camisa. Ela entrou no carro de cenho franzido, olhando logo para o motorista.

— Um conversível…? – Murmurou, quase chocada, piscando e olhando ao redor enquanto botava o cinto de segurança.

Neji sorriu de canto e subiu logo a capota, antes que sua prima surtasse totalmente.

— Oi para você também, prima – respondeu, acelerando outra vez. Hinata corou, como ele imaginou que ela faria, e se curvou para deixar um pequeno beijo em sua bochecha. – Acha que não combina comigo…?

— Conversíveis? Não, definitivamente. Papai odeia. 

— E é por isso que devemos amar – Neji brincou, dando de ombros. Hinata sorriu; ele tinha ido junto com Matsuri buscá-la quando chegou em Konoha, duas semanas atrás. Como sempre o via nas férias, não achava que ele tinha mudado muito; estava mais forte, definitivamente, e mais debochado com as regras e obsessões de Hiashi. No último ano da faculdade, prestes a se formar e já trabalhando com o tio, ele parecia quase imune ao Hyuuga maior. Hinata ficava imaginando se isso ia acontecer com ela, também… – Já decidiu quando vai falar para ele que você está aqui? – Murmurou o Hyuuga, estreitando os olhos para as lentes de contato castanhas. – Não que você esteja feia, mas esses olhos são…

— Esquisitos, eu sei – Hinata completou, sorrindo ao passar a mão no cabelo para arrumá-lo. – E não, não pensei ainda. Podemos não falar disso hoje…?

— Definitivamente. Meu sinônimo de diversão não é falar sobre seu pai. – E outra vez, Neji sorriu de canto, estalando a língua no céu da boca. – O que estava fazendo perto do Centro Grego?

A Hyuuga piscou, um pouco surpresa ao ver que Neji tinha as sobrancelhas arqueadas. Como agora tinha pouquíssimas aulas, o Hyuuga se deslocava da mansão até o campus e já não morava lá. Mesmo assim, o tom que ele tinha usado, Hinata podia dizer que ele tinha algo contra o CG. Mordeu o lábio inferior; não podia falar que estava na irmandade, pois era Matsuri que deveria estar fazendo isso…

— E-Eu… hm, acompanhei uma amiga até a irmandade dela. 

A boca de Neji se tornou uma linha reta e, sem desviar os olhos da estrada, ele disse:

— Eu não vou dar uma de Hiashi e dizer o que você deve ou não fazer, Hina, mas não se envolva com fraternidades. 

Hinata sorriu com a preocupação dele, sem precisar perguntar porque ele não gostava das tão famosas e incríveis "repúblicas de gente esnobe", como Matsuri gostava de chamar. Provavelmente, pelo mesmo motivo que ela também estava odiando. Estudando em Suna, Hinata tinha ouvido de muitas pessoas, principalmente garotas, sobre seu primo; ele não tinha se poupado de nenhuma festa e de nenhuma fama. Mesmo. E nem desejava que ela o fizesse, também; por Neji, Hinata faria o que bem entendesse da vida dela. Mas dinheiro associado à grupos jovens, com problemas familiares e psicológicos, essa definitivamente não era uma boa combinação.

— Não vou. Você sabe que pedi transferência para a KOU por causa da grade – Hinata murmurou, olhando-o com carinho e Neji apenas assentiu. Se lembrando de algo, a Hyuuga mordeu o lábio inferior… Tinha ensaiado perguntar para Matsuri, mas sabia que a amiga ficaria curiosa e insistiria para Hinata dizer o porquê da questão. E, bem, ela nunca tinha contado para ninguém sobre aquela noite. – Neji, você… hm… Sabe aquele família, os Uchihas…?

Parecendo surpresa com a pergunta tão repentina, Neji arqueou uma das sobrancelhas.

— O que tem?

Hinata mexeu no cinto, tentando parecer impassível.

— Hoje mais cedo e-eu ouvi uma conversa sobre aquele Sas… Sasu…? – A Hyuuga murmurou, fingindo não se lembrar do nome. Como se pudesse mesmo esquecê-lo. 

— Sasuke?

— Isso! E aí eu fiquei um pouco surpresa, achei que ele estivesse na Grã-Bretanha.

Neji deu de ombros.

— Ele estava estudando em Oxford. Voltou já tem um ano, eu acho – o Hyuuga foi comentando, sem parecer realmente interessado. Hinata piscou, tentando não se sentir incomodada com a informação; ela não sabia disso. Então Neji sorriu de canto, meio irônico. – Mas você ainda vai ouvir bastante sobre ele, se está andando com os idiotas do Centro Grego. Ele namora aquela garota Fujimura, a presidente da pior irmandade… Você deve se lembrar do pai dela. 

A boca de Hinata ficou seca; sua respiração falhou e ela precisou sugar uma grande quantidade de ar de uma só vez para voltar ao normal. Ah. Ah

 — N-Não estou andando com ninguém – Tentou dizer quando percebeu que Neji esperava uma resposta. Seus pensamentos ainda estavam todos na informação nova… Merda. 

— Se você diz – brincou o primo, sem parecer notar o quão afetada Hinata estava. Achava que o rubor dela era por causa do comentário sobre o CG. – Eu pensei em irmos ao La Grenouille, o que você acha? Eu sei que você ama comida francesa.

— Não! – Hinata se apressou em dizer, a ponta do nariz muito, muito vermelho. Neji piscou para ela, confuso. – N-Não estou num apetite muito francês…

Jungsik, então, você que manda, mi lady.

 

ΦΓΝ

 

 — Não estou muito confiante sobre isso.

— Ah, pelo amor de Deus, Hina, é só uma festa! – Matsuri fez questão de dizer, mais uma vez, num tom de voz exagerado. – Toma uns drinks, dança um pouco, não é todo dia que alguém tem chance de ir numa festa das Phi-Gamma-Nu… Eu mesma, só em outra vida, né – E, não parecendo tão triste assim, ela suspirou pesadamente. 

Hinata balançou a cabeça.

— Não vou ir para me divertir. Vou ir à trabalho. Seu trabalho – murmurou, calçando a meia. 

— Eu, hein! Vai ficar jogando na cara? – Matsuri fez um biquinho e, quando se olharam, as duas caíram na risada. – Ok, eu entendi que elas são umas frescas insuportáveis, mas com certeza sabem dar uma festa. 

— Em plena quarta-feira… – Hinata olhou para o relógio, suspirando. Já marcava 19hrs. Quem raios dava uma festa da toga em pleno dia de semana? Todo mundo que vai estar lá não precisava estudar de verdade. – Estou indo direto pro abate, Matsu. Alguém vai me reconhecer!

— Amada? Eles vão estar chapados de bebida! É capaz de verem uns gnomos e acharem que tem o rosto de Hinata Hyuuga. Não vão te reconhecer. 

Hinata não conseguiu evitar a risada, sabendo muito bem que não seria só bebida alcoólica… Pelo menos o jeito como a Sakamoto falava da coisa deixava tudo mais engraçado. Ela provavelmente tinha razão; se sóbrios ninguém tinha dito nada – Shion, no máximo, pensara já ter visto seus traços – bêbados seria mais difícil ainda. Aquilo era só uma desculpa que tinha usado; sua verdadeira preocupação era outra. 

A descoberta de que Sasuke Uchiha não só estava no campus, mas também era o namorado de Shion, estava a deixando com dor de cabeça. Na noite passada, tinha tido o mesmo sonho que a atormentava quando pensava muito sobre ele; começava em francês e terminava com seus dedos apertando o lençol. Era idiota, quase virginal. Já fazia quatro anos. Sinceramente, quanto mais remoía a cena em sua mente, já quase esquecida de como o rosto dele realmente parecia pessoalmente, menos entendia o porquê. Como. Como ele tinha ficado marcado em seus pensamentos tão profundamente. Como ainda se lembrava do timbre de voz dele…

Sasuke certamente não se recordava mais daquela noite. Era impossível. Devia ter sido um acaso que, frequentemente, acontecia em suas investidas sexuais; ele tinha deixado a fresta por algum motivo, não? E, ainda assim, mesmo sabendo de tudo isso, Hinata estava morta de receio de encontrá-lo. Não temia ser reconhecida; temia que a sua imaginação fértil a levasse para mais lugares impossíveis. Que continuasse pensando naquele homem todo noite, com muita mais frequência. Céus, tinha começado a namorar Utakata só por causa de sua aparência; nos primeiro encontros, ela mal entendia o que ele falava. Mas o cabelo, a pele pálida, os ombros fortes… Todos remetiam ao seu sonho erótico tão vivo. 

Hinata suspirou, dando uma última olhada no espelho. Shion tinha dito que ela não precisava se fantasiar se não quisesse, mas que viesse de branco; escolheu, então, um vestido gelo simples e um tênis da mesma cor. Quanto menos atenção chamasse, melhor. Hinata não se importava em usar saltos, tinha se acostumado e começado a gostar deles, mas definitivamente era melhor parecer uma manchinha pequena perto das Amazonas lindíssimas que as Phi-Gamma-Nu eram. 

— Acho melhor não levar a câmera. Lá deve ser um caos, não? 

— Provavelmente. Mas se até vídeos musicais hoje em dia são gravados com Iphone, umas fotos da festa com ele não vai fazer mal.

 

ΦΓΝ

 

Aposto que agora você sente isso, baby
Especialmente porque nos conhecemos apenas há um dia

Você escolheu dançar com o diabo, e você teve sorte

Ouvi que você tem uma amiga, como é o oral dela?
Provavelmente deveria ter te fodido na primeira noite
Agora eu tenho que esperar o sinal ficar verde
Eu não quero esperar por nenhuma sinal verde

 

 

Realmente, Hinata pensou consigo mesma, sua decisão mais sensata da noite fora não ter trazido a câmera. Tudo bem, ela podia facilmente comprar outra, mas aquela era sua bebê, estava com ela já fazia dois anos, tinha um valor sentimental que nem uma outra poderia trazer. O fato era que, se tivesse trazido a câmera, aquelas doidas e os babacas com quem elas se metiam já teriam destruído em suas brincadeiras bobas.

A parte externa da sede das PGN estava cheia, completamente lotada da gente em roupas brancas e coroas de louros ou de flores na cabeça; alguns dentro da piscina, outros dançando com o DJ ou no bar, onde dois bartenders faziam shows visuais ao servir os drinks. As luzes coloridas brilhantes começavam a deixar Hinata desestabilizada. 

Ela já tinha tirado umas dezenas de fotos de Sakura na pista de dança, exibindo sua toga-biquíni. Ela estava maravilhosa, maquiada em tons de dourado e rosa; estava dançando com um moço loiro que Hinata sentia já conhecer, mas não conseguia se lembrar de onde. As luzes e a música não ajudavam, também, então ela tirou logo as fotos antes que eles a alugassem pela noite toda. Desde que chegara, não vira Shion em lugar nenhum para perguntar sobre a tal outra surpresa para o leilão, então depois de Sakura, ela tirou fotos de Kim, Tay, Tenten e Karin. As duas primeiras foi o mais complicado; elas paravam de posar para trocar beijos e risadas. 

Hinata não se impressionava que os vizinhos não reclamasse do barulho; hm, o Centro Grego estava todo na festa… 

Agora, refletindo que não precisava estar mesmo ali para descrever como a festa tinha sido, pensando quando deveria ir embora – não parecia que acabaria tão cedo – Hinata estava encostada num dos bastante perto da churrasqueira. Tinha um copo de gin tônica na mão. Não queria beber, não gostava de beber realmente, mas estava tão entediada, que, honestamente... 

Uma garota loira, numa saia branca e um cropped do mesmo tom, algumas folhas de louro decorando seu cabelo penteado para trás, caindo em cachos até o bumbum, parou quase do seu lado, suspirando ao se encostar em outro batente. Hinata piscou, tendo impressão de ser Shion; mas, quando olhou bem, percebeu que era alguém muito, muito mais… Uau, ela era linda. Tinha achado todas estonteantes até agora, era fácil entender a popularidade delas, mas essa garota de olhos azuis impecáveis e lábios perfeitos, ela parecia, de verdade, uma Deusa. A Hyuuga se sentiu ruborizada só de olhá-la. Ela estava tomando um drink vermelho, parecendo distraída ao observar todos dançarem.

Hinata desviou logo os olhos, percebendo que não tinha sido notada, quando viu uma moça negra se aproximando…

— Ei, Barbie, vai um? – Karui ofereceu, falando alto por causa da música. Hinata, olhando de canto, esperando não ser notada, viu o comprimido entre seus dedos. A loira, no entanto, balançou a cabeça.

— Valeu. Eu tô tranquila.

— Se você diz… – Karui murmurou, olhando-a com interesse. Estava vestindo uma toga quase tradicional, mas muito mais curta. Ela sorriu de canto. – Eu soube que a Shion finalmente te convenceu a participar.

A loira arqueou a sobrancelha, encarando Karui como se só tivesse a visto agora.

— Não aceitei por causa dela. 

Karui riu, balançando a cabeça negativamente. 

— Caralho, você não esquece mesmo… Algumas coisas tem que ser superadas, loira… 

A outra, porém, sorriu de um jeito zombador. 

— Por que você continua aqui, hein? – De repente, a postura dela estava diferente. Menos defensiva, mais perigosa. Hinata sentiu que deveria ir embora, mas, por curiosidade, e talvez um pouquinho por causa da bebida, continuou onde estava. – O bosta do seu pai ainda não acredita que você não é uma lésbica safada?

Hinata arregalou os olhos. Uau. Isso tinha sido muito agressivo. No momento em que disse, no entanto, a expressão da loira mudou radicalmente, ela se arrependeu praticamente antes de terminar a frase – Hinata percebeu isso. Karui, porém, não pareceu notar, pois estava com o rosto fechado, sério; tinha perdido todo o bom humor. 

A outra suspirou baixo, o drink balançando em sua mão.

— Karui, olha, foi mal, tá bom? Eu não queria…

A garota negra levantou a mão, interrompendo-a antes que ela continuasse.

— Foda-se, Ino. Vocês duas são mais parecidas do que você quer admitir. – E, antes que Ino pudesse responder, Karui foi embora.

Hinata, que não estava entendendo muito bem o assunto, observou atentamente quando Karui desapareceu entre a multidão, virando aquilo que estava na mão de uma só vez. Ino… Ino…? O nome ecoou na mente da Hyuuga…

— Ino… Yamanaka…

No mesmo segundo, a loira virou para ela, parecendo notá-la só agora. Hinata arregalou os olhos outra vez, segurando o copo com força; hã… não era para ter dito tão alto. Os olhos azuis passaram dos seus pés até o rosto – exatamente como Shion tinha feito – e, quando chegou aos seus olhos, ela parou imediatamente. Curvou a cabeça para o lado, parecendo confusa e incrédula. 

— Eu te conheço… 

Merda. É claro que sim. Ino Yamanaka, herdeira de uma rede muito famosa de horticultura, já tinha saído com seu primo, Neji, uma porção de vezes. Eles tinham uma relação complicada, mas com certeza Ino já tinha visto fotos de Hinata… e Hinata dela, apesar de ter demorado para se lembrar.  

— N-Não, eu… Desculpa, não queria ouvir a conversa...

Ainda parecendo confusa, muito provavelmente por causa das lentes de contato castanhas que impediam as pessoas de chegarem até "Hyuuga", Ino sorriu de canto, bebericando sua bebida.

— Só ouvimos o que queremos. Se você não queria ouvir, poderia ter saído – disse, soando bem humorada, e Hinata corou. Hm, isso era verdade, ela realmente poderia ter se afastado… – Você é a garota do jornal, não é? Eu te vi tirando fotos da Tay.

— Sou sim – Hinata se apressou em dizer, tentando não olhá-la nos olhos e tomando sua gin. – Matsuri Sakamoto.

A loira separou os lábios e demorou alguns segundos para responder:

— Hm. E não deveria estar por aí, no pé delas…? – Ino levantou uma de suas sobrancelhas delineadas. Hinata corou outra vez, bebendo com mais entusiasmo. Isso era verdade, deveria mesmo estar cobrindo o que raios essas garotas estavam fazendo…

— Eu só… estou tomando um ar…?

A Yamanaka sorriu, balançando a cabeça. Era fácil entender o que Neji tinha visto nela; parecia muito sagaz e era linda de morrer. Uma combinação dessas? Seu primo deveria ter tido problemas, muitos, com ela. 

— É claro… – E seu tom de voz era surpreendentemente compreensível. Que tipo de problemas Ino poderia ter com as PGN…? Mais do que isso, porque não era uma delas? Ali estava um perfil perfeito. Igual ao seu; exceto que Ino não precisaria de aulas de como ser maravilhosamente sexy, ao contrário de Hinata. – Você vai estar no Leilão Beneficente delas, não vai?

— Sim! Fui escalada para cobrir; é o evento do ano. Estou ansiosa – A Hyuuga murmurou, sabendo que não soava lá muito confiante dessas palavras. Ino riu de lado, ela tinha percebido também. 

— Eu te vejo lá, então, Matsuri – E a Yamanaka piscou para ela, andando para sair dali; parecia ter visto algo mais interessante na piscina. – Ah, dê um oi pro Neji por mim, sim? Ele não atende minhas ligações.


 

Hinata sabia que esse era o momento perfeito para ir embora. Ela tinha descoberto qual era a tal segunda surpresa do leilão; Ino Yamanaka, alguém de fora da irmandade, iria participar dele também. Isso era inédito, provavelmente? Hm… Descobriria quando chegasse em casa e contasse para Matsuri. Sua cabeça já estava doendo daquela maldita  música suja e alta; sua visão estava levemente embaçada da segunda gin tônica que tinha pedido no bar. Se ela ligasse para Neji, ele viria buscá-la no mesmo instante, com certeza…

Merda.

Ela apoiou a cabeça na porta de vidro, as luzes piscando mais forte do que antes.

Merda.

Ino Yamanaka sabia quem ela era. Sabia e, seja lá qual conexão ela tinha com Shion, poderia contá-la a qualquer momento. Isso não acabaria bem, provavelmente. Será que a Yamanaka era confiável..? Bem, o seu lado racional falou, o que ela poderia ganhar contando? Hinata sorriu com ironia para si mesma. Elas já tinham tudo, tudo, o que mais poderiam querer? Agora, era só diversão. Só poderiam ganhar diversão; por isso consumiam o que não deveriam consumir, e transavam com quem não deveriam transar. Era a única adrenalina de uma vida com tudo na mão. 

Nunca faria algo assim. Ela sabia que, por já ter tudo, não deveria arriscar perder por besteira. Deveria ser agradecida; até pelo babaca do pai dela. Ele era uma maníaco controlador? Sim. Mas Hinata nunca tinha deixado de comprar nenhum vestido, bolsa, sapato, câmera, material, nada que quisesse. Nunca tinha fugido daquela vida, da qual abria a boca para reclamar com Matsuri. Ela era…

Hinata parou de divagar, apertando os olhos. Tinha aberto a porta de vidro dos fundos da mansão Phi-Gamma-Nu; sem nem perceber como, tinha andado até lá. As luzes estavam todas apagadas; ela estava perto da academia. Mas não estava sozinha. Se sentindo zonza da bebida, Hinata se encostou à uma parede, colocando a cabeça para olhar no corredor.

Aquela era…

Seu fôlego sumiu. 

— Eu nunca te peço nada, bebê, você vai me negar isso…? – Shion dizia, a voz manhosa, encostado à parede. Com sua toga curtinha e a coroa de louros dourados reluzindo em seu cabelo, ela praticamente brilhava na pouca luz que entrava por causa da parede de vidro da academia. Lentamente, como uma tortura, passava seus dedos muito longos pela camisa branca do rapaz que estava pressionando-na contra a parede, por baixo da jaqueta escura dele. Muito mais forte do que o perfume floral enjoativo da Fujimura, um odor masculino e agradável percorreu seu nariz, fazendo-a entreabrir os lábios.

O homem, mais alto que a loira, com o braço apoiado na parede, acima da cabeça dela, depositou pequenos beijos estalados, audíveis, no pescoço de Shion. Então ele a encarou.

— Você sabe muito bem que não depende de mim, exclusivamente. Itachi tem que ter um motivo para vir. – Não, não, não podia ser. Aquela voz, Hinata fechou os olhos com força. Tinha que estar delirando. Precisava. Pois se aquele murmúrio pertencia à quem ela achava pertencer… Se aquele tom tão forte era dele, só dele, ela estava… – Você acha que suas garotas são o suficiente, meu amor? – E ele beijou a têmpora dela. A sua mão livre não a tocava, no entanto, nem um pouquinho.

— Você é sempre tão malvado comigo, Sasuke – Shion gemeu, como um bichinho, embora não parecesse minimamente afetada pelos lábios dele. Ou por seu perfume. Ou pela voz quase obscena.

Não, quem estava assim era Hinata, de olhos arregalados. Profundamente sentida, cada pelo de seu corpo arrepiado. Era quase sobrenatural. Ele só podia ser algum tipo de demônio… O demônio dela. Um que tinha a deixado marcada, como uma propriedade, só com um olhar. Um só. Hinata ofegou e o som ecoou pelas paredes. 

No mesmo instante, os dois olharam na sua direção. 

— Matsuri…? – Shion perguntou, mal reconhecendo-na por causa do escuro. O coração de Hinata batia tão forte que parecia um tambor; mais forte que a música, mais forte que tudo. Sasuke estava olhando para ela, mas ela não conseguia traçar as linhas do seu rosto; não conseguia ver seus olhos ferozes, aqueles com os quais ela tinha pensamentos, nem se ele parecia confuso ou curioso. Mas Hinata conseguiu ver o sorriso da Fujimura. – O que foi, querida…? Você quer vir até aqui…?

Voulez-vou participer, ma cocotte? 

— N-Não, eu...

Com o coração descompassado, apertando as unhas contra as mãos, Hinata deu um, dois passos para trás. E saiu correndo, todos os seus pensamentos nublados. Sua boca seca, suas coxas se contraindo violentamente. Ela saiu correndo dali. O mais longe possível de Sasuke Uchiha.


 

Ela sabia que deveria ter ido embora. Que deveria ter aproveitado o lampejo de coragem da corrida e atravessado a rua do Centro Grego; precisava sair dali. Sasuke nunca a reconheceria, nunca se lembraria dela, mas só de estar no mesmo lugar que ele… Era seu pesadelo tomando forma. Aquela noite, os dedos rápidos dele totalmente molhados, aquilo tinha… Algo em seu peito, em sua mente, algo era dele. Pois ele tinha descoberto; então era dele. Só podia ser.

Mesmo sabendo de tudo isso, Hinata correu para o bar, mal notando as coisas ao seu redor. Ela viu Sakura Haruno trocando flertes com um dos bartenders, o mais gato deles, e aproveitou a distração dela para roubar seu copo cheio de sabe-se lá o quê. Estava espumando e a cor era densa; quantas bebidas diferentes poderia ter…? Bem, Hinata virou de uma só vez, sem se importar qual era o drink – ou do que ele consistia. 

Ela piscou depois de ouvir Sakura rir e beijar sua bochecha, como se dissesse que não se importava, e subir em cima do bar para dançar, sob uma salva de palmas. Tenten, que a Hyuuga não soube dizer de onde tinha surgido, subiu com ela. Hinata viu as duas se mexendo; na verdade, viu duas Sakuras e duas Tenten se mexendo, dançando até embaixo no ritmo da música agitada, passando as mãos pelo corpo uma da outra, trocando olhares e carícias animadas. A Hyuuga quase morreu de rir, assobiando e batendo palmas junto. Se a Haruno não fosse tão bonita, nem tão louca, não chamaria tanta atenção. Se a Mitsashi não fosse tão nova e tão gostosa, não chamaria tanta atenção. Mas elas eram uma combinação boa demais para desviar o olhar. 

Hinata resolveu se afastar quando, amontoadas perto do bar para ovacionar a Haruno e a Mitsashi, as pessoas estavam começando a deixá-la com calor. A Hyuuga foi empurrando-as para sair dali. Mas, mesmo quando estava longe delas, o calor continuava flutuando por seu corpo, fazendo-a se abanar. Droga, o álcool…? Ela não deveria ter bebido tanto…

Hinata estalou a língua no céu da boca, voltando a se aproximar da casa, mas não da academia, e sim da lateral. Só queria ficar longe de todas aquelas pessoas juntas, pulando tão felizes, bêbadas para ignorar problemas… Ela tinha os próprios problemas. Sasuke era um problema. Um problemão, ela pensou, rindo de si mesma ao se apoiar na parede. O Uchiha nem podia imaginar o que fazia nela… Não, não podia, não a conhecia… Mas só os pensamentos sobre ele, só as fotos que Hinata tinha se permitido procurar, pouquíssimas vezes, mesmo, só elas já a deixavam tão, tão nervosa…

— Matsuri…? – Ela ouviu uma voz, levemente trêmula, chamá-la. Hinata piscou, tentando colocar as coisas em foco. A música parecia mais baixa e menos interessante. 

— Temari – murmurou, reconhecendo a garota loira numa toga customizada; era uma saia alta, com fendas nas laterais das coxas, e o top trançava em seu pescoço, deixando um decote generoso para ser visto. Ela tinha a pele perfeita, bronzeada o suficiente para Hinata conseguir ver a marca do biquíni. No cabelo solto, sua tiara de louros era verde, diferente das outras meninas que tinham escolhido dourado. Combinava perfeitamente com seus olhos maquiados. Hinata continuava concordando que Ino era uma pintura, mas Temari também era… Ah…

A loira sorriu de canto para ela, estreitando seus olhos. Parecia levemente cambaleante.

— Você está bem?

Hinata sentiu que deveria fazer essa pergunta para ela também, mas apenas balançou sua cabeça positivamente, sem tirar os olhos do rosto oval da Sabaku, de seus lábios em bordô. Ela era um pouco mais alta… A Hyuuga mordeu o lábio inferior, aquele calor insuportável que não queria passar… Os olhos de Sasuke voltaram para seus pensamentos, os beijos nele no pescoço de outra garota. Os olhos de Temari a atravessaram. Ela apertou uma coxa contra a outra, piscando para tentar manter a compostura. Ela tinha achado a Sabaku tão atraente, desde a primeira vez que a vira…

A loira sorriu de canto, balançando a cabeça.

— Não me olhe assim, garota…

— ...Ou? – Hinata se viu murmurando, e o calor subia até sua cabeça, até seu rosto, fazia ela entreabrir os lábios e procurar por ar. Estava formigando; a ponta dos seus pés formigavam, os seus pulsos formigavam, a sua buceta… Ela apertou uma coxa contra a outra, sentindo vontade de se tocar. 

Temari colocou a mão na parede atrás de si, bem ao lado de sua cabeça. Hinata rolou os olhos para ver os dedos dela, tão longos, as unhas pintadas de azul. Azul não combinava com ela. O verde, porém… Hinata voltou a encarar o rosto da loira, sentindo o coração pulsar forte no peito. Temari estava tão próxima. Seus lábios cheios de batom vinho estavam tão próximos; ela cheirava maravilhosamente bem, como algodão e cerejas, e Hinata teve vontade de levantar as mãos e tocá-la no quadril, nas coxas, arranhar sua pele bronzeada… 

— Ou eu vou fazer algo que não queremos.

Você não quer? – Hinata rebateu, imaginando quem dentro de si estava falando por ela. O que era aquilo? Merda, ela estava de sentindo tão úmida, nunca teve tanta, tanta vontade de esfregar os dedos no próprio clitóris agora, de simplesmente acabar com esse desejo tão profundo, que estava a deixando tão molhada. Olhar para Temari estava a deixando molhada, zonza. Era o álcool? Ela já tinha ficado com algumas meninas, mas nunca tinha sentido nada assim antes… Nem visto nada como no olhar de Temari, tão preso no seu, e a respiração no rosto dela.

Então, sem avisá-la, a Sabaku colou seus lábios contra o dela, beijando-a profundamente, esfregando sua língua na dela e a devorando. Hinata arfou contra os lábios dela e levou seus braços até os ombros, rodeando seu pescoço, aceitando o beijo e pedindo por mais. Quando Temari desceu as mãos até sua bunda e a apertou contra si, grudando seus corpos e seus seios, porém, a Hyuuga sentiu um arrepio de frustração. Imaginou que era porque a mão de Temari estava muito longe de onde ela realmente queria ser tocada; foi quando, ainda a beijando, a loira colocou a coxa entre as pernas da Hyuuga e a pressionou por cima da umidade, apertando em seu clitóris, e Hinata gemeu mais alto.

Mesmo assim, algo estava errado. Ela levou as mãos para cima e encontrou os seios da Sabaku, os mamilos endurecidos sob o tecido da toga, mas não ousou apertá-los, pois o toque lhe trouxe agonia. Hinata gemeu de frustração com a sensação nova. Ela queria… Queria outra coisa… Outra… Outro…

Temari desceu os dedos por sua coxa e, sem aviso, entrou na saia de seu vestido. O toque deixava rastros quentes onde chegavam… Então Temari deixou de beijá-la e foi descendo os lábios por seu pescoço, dando mordidinhas que trouxeram arrepios e mais gemidos para a Hyuuga. Quando o dedo dela brincou em sua entrada, esfregando com sua lubrificação até a parte mais sensível, a sensação de que não deveria fazer isso aumentou.

— N-Não, eu não… – Hinata tentou dizer, apertando as pernas, tentando tirar Temari de perto de si. 

A Sabaku, porém, respirou em seu pescoço, murmurando:

— Relaxa, Matsuri – e seu tom de voz era cheio de desejo e certeza. 

Não, Hinata balançou a cabeça, sentindo-a massageá-la na intimidade, por dentro da calcinha encharcada; o toque era tão bom, tão delicioso, ela o queria; mas não dela, não de Temari. "Meu nome não é Matsuri", sua mente nublada tentava dizer, mas a voz não saía.

— Não quero, por favor, eu não… – Porém, com a pouca força que Hinata conseguia aplicar nos ombros da Sabaku, ela não ia embora. A Hyuuga estava prestes a aumentar o tom de voz, a respiração descompassada, quando elas foram interrompidas.

— Eu acho que a moça disse não, Temari. 

O sangue de Hinata gelou nas veias. Ela sentiu o ar sumindo dos pulmões. Não, não de novo, não agora… 

A Sabaku parou imediatamente o que estava fazendo, tirando lentamente a mão de dentro da calcinha da Hyuuga e se desgrudando dela. Hinata pôde ver o rosto borrado de batom das duas. Ela parecia irritada ao encarar o homem que tinha acabado de aparecer, muito tranquilo; ele estava fumando.

— Puta que pariu. Se você soubesse a vontade que eu tenho de esfaquear um Uchiha, Sasuke…

— Ah, eu sei – Ele soltou a fumaça, uma risada no canto dos lábios finos. – Mas você odiaria se eu tivesse ficado aqui e deixado você fazer isso.

Temari olhou-o com raiva. Virou-se para a Matsuri, acuada contra a parede, a respiração acelerada, e então revirou os olhos.

— Foda-se – ela murmurou, saindo dali e os deixando sozinhos.  

Hinata observou-a, sem conseguir se mover, sumir ao voltar para o centro da festa. Cristo. Queria segui-la. Queria ir atrás dela, não ficar sozinha com… Todo o seu estômago estava revirado; ela começou a  suar frio. Estava sozinha com Sasuke. Era ele, bem ali… Hinata tentou focar o olhar nele, tentou observar seus traços, fazer qualquer coisa. 

Mas então, de repente, muito forte, uma ânsia percorreu todo o seu corpo e, se apoiando na parede, Hinata se virou para vomitar tudo no jardim. Tudo saiu de repente, fazendo arder sua garganta; seu café da manhã, o almoço, o café da tarde… Ela observou enojada a mistura amarela e fedida que tinha regado o jardim perfeito das Phi-Gamma-Nu. Tudo parecia rodar freneticamente ao seu redor, a garganta doía como nunca antes. A Hyuuga fechou os olhos com força, sentindo que iria desmaiar. A qualquer momento, ela iria cair. 

— O que tomou? – Ouviu a voz profunda e cortante, quase impassível, do Uchiha. Argh. Ele ainda estava ali. 

Então, devagar, um toque muito suave, Hinata conseguiu sentir algo no canto dos seus lábios, no seu queixo, acariciando-a levemente. Limpando-a. Tecido… Ela foi incapaz de abrir os olhos, mas separou os lábios para suspirar em busca de paz para aquela sensação inexplicável.

— O copo… – murmurou, num fio seco de voz. – ...da Sakura...

Sasuke riu baixo, sem humor. O tecido foi afastado de seus lábios.

— Você é corajosa – ele pigarreou e pareceu tragar outra vez. Ou foi isso que Hinata achou ouvir. – Escolheu o pior.

— Reparei.

A Hyuuga deixou que as costas escorregasse pela parede, até sua bunda sentir o frio do piso e ela estivesse sentada. Sakura tinha uma tendência de se intoxicar, ela tinha percebido. Vai saber quantas bebidas diferentes tinha naquela mistura espumante… Ou qualquer outra coisa, também. Hinata estava sentindo o efeito na pele. Tinha vomitado boa parte, mas a outra, aquela parecia pulsar nas suas veias. A quantidade de álcool devia ser absurda. A Hyuuga abraçou as pernas… Estava ficando zonza, fraca, era a pior sensação de todas depois daquela coragem que tinha a feito se jogar para os braços de Temari, um tesão inexplicável acumulado em cada partezinha de seu corpo agora frio. Ah, estava tremendo. Estava com frio. Tanto, tanto frio… 

De repente, o frio deu espaço para uma sensação quente e macia. Hinata encolheu os ombros, colocando a testa entre os joelhos, tentando manter os olhos abertos para entender o que tinha acontecido; não foi preciso, de verdade. Ela sentiu o perfume de Sasuke ali, tão perto, brincando com ela como tinha feito durante aquelas noites infinitas. Com os dedos trêmulos, ela tentou tatear a manga de couro; Hinata sabia diferenciar, só com o toque, o que era couro de verdade. Quando aquelas garotas apareciam com Balmains falsificadas, Hinata quase podia dizer só pelo cheiro. A peça sobre seus ombros era tão verdadeira quanto o homem que sentou-se à alguns metros dela, também, embora não precisasse fazê-lo. 

— Se você respirar pelo diafragma, vai ajudar. 

A Hyuuga se concentrou em tentar fazer como ele tinha dito. O cheiro de cigarro que entrava toda vez que inspirava era terrível, mas ela não ousou reclamar. Na verdade, não teve forças para fazer isso. Queria ir para casa. Precisava ir para casa. Esse frio só passaria quando ela se enrolasse em muitas cobertas. Quando ela fechasse os olhos, assim, um pouquinho só, e sucumbisse aquela preguiça tão gostosa que a invadia lentamen…

— Por que jornalismo? – A voz de Sasuke a fez abrir os olhos. Mas Hinata fez um muxoxo com a língua. Ela não queria conversar. Ela só queria fechar seus olhinhos marejados e tirar uma soneca. Hmm… Queria tanto provar a comida do La Grenouille… – Eu fiz uma pergunta. – Ele pareceu impaciente agora. Hinata queria que essa voz sumisse e a deixasse sozinha. Estava pensando no prato maravilhoso de lebre com mostarda, seu preferido, e isso a fez começar a contar as lebrezinhas bonitinhas que tinham acabado de aparecer em sua mente, pulando cercas como cabritos, os doces cabritos com barbecue!, 1 lebre, 2 lebres, 3 lebr…

— Ai! – Hinata gemeu, afastando a perna. Ela piscou frente a dor, erguendo a cabeça dos joelhos, tentando ver o que tinha acontecido.

Ah. Sasuke tinha apagado seu cigarro na perna dela. E, pelo o que ela podia dizer na visão meio embaçada, a franja tigelinha bagunçada caindo nos olhos castanhos, ele não parecia feliz.

— Não durma. Vai ser pior se você dormir. – Disse, o tom de voz muito forte e seco.

A Hyuuga gemeu, erguendo a cabeça para trás, encontrando a parede, e passando as duas mãos no rosto gelado. Nada podia ser pior do que esse sono e esse frio, nada mesmo. E tudo se resolveria se ela pudesse dormir, tinha certeza. As coisas sempre ficavam melhores nas manhãs seguintes de seus poucos porres. 

— Você… apagou o cigarro em mim…! – Hinata reclamou, sem saber muito bem como. 

Ela conseguiu ouvir a risada de descrença de Sasuke Uchiha. Era leve, parecia flutuar de seus lábios finos. Uchiha…? Sua mente estava tão embaçada. Ela tinha que sair dali. Não podia ficar perto de Uchiha nenhum. 

—  Eu também limpei o vômito da sua cara. Mas as coisas positivas ninguém diz.

Hinata gemeu, tentando absorver as palavras dele. Ela passou as mãos de cima para baixo no rosto, massageando os olhos, tentando retomar o controle. Parecia uma espectadora vendo seu próprio corpo em ação, mas sentada nas arquibancadas.

— Obrigada.

— Muito bem – e agora parecia orgulhoso, como um dono falando com seu cachorrinho. Hinata sentiu um arrepio já conhecido na nuca, tomando-a em ondas; ela não gostava daquele tom de voz, fazia com que se lembrasse do pai, mas seu corpo reagia quase que instantaneamente… – Por que jornalismo?

Jornalismo…? Do que diabos ele estava falando…? Ele não podia ficar quieto um segundo só? Ela só queria paz. Paz. E que aquele perfume maldito sumisse de seu nariz.

— O quê? 

— Você é a Matsuri, não? A garota do jornal? – O Uchiha listou, embora parecesse retórico. Era como se estivesse a lembrando de quem ela era. Como se Hinata tivesse esquecido por um segundo.

Ela nunca esquecia que era uma Hyuuga. 

Hinata apertou os dedos violentamente contra os próprios olhos, balançando a cabeça com força de cima para baixo, positivamente. 

— S-Sim. Matsuri… Matsuri Sakamoto – murmurou, tentando achar firmeza em seu peito. Tentando não se entregar. Ah, cristo… – Gosto de… de escrever…?

Ela ouviu quando Sasuke estalou a língua no céu da boca. O silêncio os rondou por alguns segundos, então, o único som a música que, Hinata não tinha ideia do porque, ouvia extremamente abafada. Como se estivessem longe, muito longe da festa. Então ela sentiu o Uchiha respirar. Seus dedos se apertaram mais forte contra os olhos. 

— Olhe para mim. 

Hinata teve vontade de vomitar outra vez, mas seu estômago estava muito vazio. Ela afundou os olhos contra as pálpebras. Não, não podia olhá-lo; ela suspirou contra a palma da próprias mãos, o ar quente fazendo seu peito bater freneticamente. Não podia, estava assustada, tão assustada…
— Ei, Sasuke? Você viu a Shion em algum lug… – Uma voz levemente trêmula os interrompeu. Hinata prendeu o ar. Essa ela conhecia. – Matsuri?! Você está bem?! – E, agachada na sua frente, a garota colocou as mãos sobre as suas, apertando-a firmemente, quente como o inferno. 

— Ela bebeu do copo da Haruno.

— Ah, não! Mas a Saky misturou…

— Eu imagino. – Sasuke disse de uma vez, sem deixar que Tenten completasse a fala preocupada. De forma blasé, parecendo se levantar, ele disse: – Eu pensei em levá-la para dentro, mas…

Uhum – Tenten fez com a garganta, concordando. Hinata franziu o cenho; era um assunto que não conhecia. – Shion e suas regras, eu sei… – E ela suspirou. – Eu fico com ela. Obrigada, Sasuke. – E, de repente, o calor da jaqueta desapareceu. Hinata poupou um suspiro de insatisfação porque logo os braços de Tenten estavam ao redor de seus ombros, ajudando-a a ficar de pé. A jaqueta era muito melhor, mas… – Vem, vamos colocar algo puro nesse corpo. 

— E vocês têm algo do tipo nos armários…? – Sasuke ironizou, quando as já duas estavam totalmente de pé. As pernas de Hinata tremiam e ela abraçou Tenten para ter algum suporte. 

— Engraçadinho… Sai água da nossa torneira, ok? – A Mitsashi riu, entrando na brincadeira. Hinata teria rido também, mas estava focada demais em afundar o rosto no ombro da morena, mais alta que ela por causa dos saltos. 

Quando Tenten começou a andar, Hinata se forçou a ir com ela, procurando palavras de agradecimento. Estava se afastando dele, em cada passinho, para longe daquele tormento… O pensamento caiu sobre ela como um balde de água fria. Sasuke não estava indo com elas, ele ficaria para trás… Quando o veria de novo? Quase riu de si mesma. Provavelmente amanhã acordaria e não resistiria em procurar fotos dele nas redes sociais. Mas uma foto, uma foto não era nada frente ao que tinha sentido ao ver os olhos dele naquela noite. Aos arrepios que só a voz dele, só o cheiro dele, tinham trazido. Ao nervosismo que causava em sua mente, suas pernas… Talvez não fosse mais vê-lo pessoalmente. Se esforçaria para que não. 

Então, talvez…

Quando pensou estar longe, e Tenten murmurava que ela ficaria bem já, já, depois de tomar bastante água, Hinata finalmente se permitiu levantar a cabeça e abrir os olhos artificialmente castanhos. Se permitiu olhá-lo; imaginou que seria uma manchinha já longe. 

Para o seu espanto, elas não estavam tão longe assim. Não o bastante para que ela não o visse com a jaqueta nos braços, assistindo atentamente enquanto as duas se afastavam. Não o suficiente para não decorar o nariz reto, os lábios finos, os cílios negros sobre os olhos profundos. Ela sentiu o rosto ruborizar; era exatamente como tinha pensando. Sasuke Uchiha realmente era lindo como um demônio, o maldito. Não tinha sido alucinação de sua mente juvenil e virginal de 18 anos. Satisfeita de uma forma completamente doida, pois seu corpo continuava com sede de algo que certamente não era água, Hinata ia voltar a olhar para frente. 

Foi quando ela o viu franzir as sobrancelhas profundamente, o vinco entre elas muito espesso. Sasuke separou os lábios, estreitando os olhos, e ele parecia ridiculamente surpreso. Hinata ficou pálida e tratou logo de virar-se para longe dele. 

O mais longe possível.

 


Notas Finais


Quando eu escrevi, eu percebi que todas as pessoas que vão se relacionar com a Hina mais profundamente fumam hahahaha é engraçado reparar, pq foi sem querer kkk
Enfim, espero que tenham curtido!
Eu pretendo postar a Parte 2 na sexta, mas como esse cap foi longo, talvez eu deixe pro domingo, veremos :)
Obrigadaaa!


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