Segovia, Espanha.
Setembro de 2019.
O aeroporto de Madrid-Barajas nunca esteve tão tumultuado, e acomodada em um dos bancos enfileirados ao longo do extenso corredor luzente, os ruídos frenéticos oscilando entre a movimentação abundante da multidão ensurdecem meus ouvidos, no entanto, os sonidos que me rodeiam não são vastos o suficiente para abafar meu coração que pulsava possante contra o peito, fazendo-me ligeiramente verificar os ponteiros do relógio em volta do punho. Eu deslizo a barra da manga em seu devido lugar, cobrindo a maldita peça de minhas vistas e reflito que os trinta minutos que precisaria esperar parecia uma grande eternidade.
Eternidade essa que fluía contra o meu favor, mas que de alguma forma ainda desconhecida, ampliava aquele anseio delicioso perdurado no fundo da garganta, lembrando-me que quando estiver envolvida novamente nos braços calorosos de meu marido, a habitual colônia fresca de seu corpo que entorpecia meus sentidos, faria jus as três semanas que ficamos distantes um do outro. A pequena viagem a Ávilla é uma oportunidade que Brenton não poderia deixar escapar, isso porque, depois de um ano trabalhando duro como comerciante financeiro em uma das firmas mais renomadas do município, seu superior finalmente reconheceu seu potencial, e eu não poderia estar mais radiante por ele, mesmo que essa chance de crescimento possa nos manter afastados ― fisicamente.
Um ávido suspiro rebate em meus pulmões, e as folhas rabiscadas sobre o colo no desenho de um logotipo exíguo exigiam muito mais do que uma simples concentração se o objetivo é entrega-las a tempo para minha diretora de design geral, mas não sei ao certo se são meus pensamentos que me levam para muito longe, ou se é o diálogo inusitado entre os jornalistas de um programa local da cidade que me chama brevemente a atenção através da TV plana suspensa na ala de espera:
― "...O famoso cientista norte-americano de quarenta e sete anos, Doutor Grayson; acaba de informar na coluna da New York Times que hoje está previsto para acontecer logo após o entardecer uma grande catástrofe em toda a raça humana, relatando que os cidadãos ao redor do mundo irão sofrer uma paranormalia que o mesmo nomeou de: Poneria; um distúrbio que impede o cérebro de funcionar normalmente para manter somente os sentimentos do medo interno presentes nos pensamentos, assim, o indivíduo irracional irá fantasiar seus piores medos nas pessoas ao redor, provocando o desejo em eliminar tais medos, ou seja, matando os indivíduos entre si." ― É possível notar os traços receosos que surgem no rosto da jornalista assim que finaliza o comunicado, os longos cabelos negros que reluz sob as luzes, mas não podia dizer o mesmo sobre seus olhos. ― "Ainda na coluna, declara que essa conclusão foi resultado de estudos profundos durante seus vinte e quatro anos de profissão, e mesmo que as provas possam ser reveladas por enquanto apenas para as autoridades máximas, reforça o perigo que a humanidade está prestes a vivenciar."
― "Sem mais declarações, Grayson expõe que essa paranormalia não é de total surpresa, uma vez que os seres-humanos não precisam se tornar inconscientes ou enfrentar os medos pessoais para cometer atos maldosos, os mesmos já são feitos constantemente, de todas as atrocidades possíveis e sobretudo, conscientemente." ― A voz firme do homem enroupado por um terno de linho acinzentado agora domina o cenário, e ao repuxar os lábios em uma linha trêmula, meu coração contorça-se em alerta, mesmo que sutilmente. O jornalista levanta os olhos, e com a expressão escurecida, diz: ― "Sendo verdade ou não, cidadãos, escolham sempre o bem. Volveremos con más información."
No minuto seguinte, um copulado de comerciais preenche a tela, mas uma névoa apreensiva se forma através de mim, e pergunto-me se realmente deveria me preocupar com o que acabou de ser anunciado em rede internacional ou se isso é somente outra informação falsa. Eu franzo o cenho por um momento, sufocando minhas emoções em conflito, e nesse tempo, uma risada anasalada alcança meus ouvidos. Acompanho o rumo do ruído, e logo a uma cadeira um pouco afastada a minha direita, avisto uma menina jovem com as mechas de seus cabelos matizados por um azulado escuro na altura dos ombros, enquanto que, na ponta dos pés, há duas maletas coloridas que combinam com seus fones de ouvido. Sua fisionomia jovial denuncia um desgosto aparente, até que se adianta em dizer:
― Que chiste! Essa foi a maior besteira que já ouvi. Afirmaram uma vez que dois mil e doze seria o fim dos tempos, e agora mais essa brincadeira? ― Ela arqueia as sobrancelhas com indiferença. ― No hay más que inventar.
― Bem, espero que tenha razão. Em todo o caso, não seria agradável ver seus medos se transformarem diante de você. ― Comento, as palavras soando estranhamente pesadas contra minha boca, e inclino a cabeça para o lado, o que faz o traço de um sorriso sarcástico atravessar os lábios da jovem.
― Eu vejo minha mãe me acordar todos os dias cedo para ir à escola. Há medo pior do que esse? ― Ela geme em frustação, desviando seu olhar para a pequena tela do celular enquanto aperta os olhos em uma carranca. Eu corro os dedos ao longo de meus cabelos, e de repente, pego-me expirando fundo.
― Infelizmente há. ― Sibilo, como um eco suave, mas sei que não está ouvindo-me mais. O alarme melodioso do relógio desperta-me prontamente de meus devaneios, fazendo-me sobressaltar de susto, mas logo a sensação do espanto é substituída por faíscas potentes que vibram meu estômago por completo, e não consigo mais me manter no lugar, a não ser apressar os passos entre os corredores esguios dos saguões e as inúmeras pessoas que iam e vinham tão alvoraçadas quanto a mim.
Quando percebo, estou diante do portão da ala de desembargue para Segovia, no âmago do aglomerado de pessoas que aguardavam por aqueles que atravessariam entre as portelas de metal, mas no meu caso, eu espero pôr o meu sol, exatamente igual ao mesmo que está começando a se esconder no horizonte através do vidro fumê, em chamas de fogo laranja, e eu sou como Ícaro outra vez, voando para muito perto, para ele. As minúsculas rodas do avião já não se movimentam, e o motor ressoa por meio da lataria simultânea com a estreita porta que acessava a saída dos passageiros. O primeiro deles aponta no centro do portão, e depois outro, até que um enxame de pessoas atravessa o espaço alongado. No segundo seguinte, não consigo distinguir o exato momento em que a ansiedade astuta ondula por minhas costas, mas fisgo o instante em que meus olhos encontram aquele cabelo bonito e desgrenhado refletir o castanho dourado a sombra da iluminação do saguão, e seus olhos, profundos e intensos, varrem a multidão com certa inquietação, sem se dar conta do quanto seu rosto se ilumina em uma incompreensível emoção quando nossos olhares se misturam.
― Amor... ― Eu sussurro, inalando forte.
Meu coração acelera instantaneamente, e ouço o sangue bombear em meus ouvidos, assim como a sola de meus saltos se chocando contra o piso quando começo a correr para seu encontro. Brenton me oferece aquele sorriso gracioso que trilha em seus lábios, emocionado, até que se inclina ligeiramente, colocando as duas pequenas malas sobre o chão e abre os braços para me receber. Meu corpo se encontra com o seu, tecendo flamas de calor, e suas mãos agarram minhas coxas para me impulsionar em seu colo, fazendo-me cruzar as pernas ao redor de sua cintura. Eu o sinto contra mim, seu coração ofegando em meu peito, minhas mãos escorregando por suas costas largas, e finalmente, percebo que estou em casa. Ele desloca o queixo entre a curvatura de meu pescoço, deslizando seus lábios sorrateiros em minha pele ouriçada, logo, inalando-me sem pudor.
― Oh, querida. Como senti sua falta. ― Murmura rouco, a voz esgueirando-se embargada por sua boca, até que toca meu queixo com a ponta dos dedos, olhando-me fundo, e assim, mergulha a mão entre meus cabelos, inclinando-se para perto de mim para roçar seus lábios nos meus. Não consigo segurar o gemido sôfrego na garganta, e ele se aproveita para enfiar a língua na minha boca, explorando-me habilmente, do jeito que ele sabe fazer. ― Tão doce. Sonhei todas as noites com o momento que iria sentir seu beijo outra vez. ― Ele diz arrastado contra meus lábios, logo prendendo seus dentes ao redor do meu lábio inferior e o puxando gentilmente. Eu me derreto contra ele, e a minha respiração para, enquanto minhas entranhas se soltam de desejo.
― Se eu dissesse que também não sonhei com você estaria mentindo, mas no caso, aqueles pequenos detalhes eu posso contar depois porque estamos em público, e a atenção já está voltada toda para nós. ― Digo, franzindo a boca em um sorriso travesso, e seus olhos se abrem com admiração e luxúria. É uma mistura inebriante.
― Isso é uma provocação, Haumea? ― Ele está olhando para mim, os lábios entreabertos, e eu o fito com deleite. ― Você sabe o que faço quando me provoca, não sabe?
― Hum, acredito que você deverá me relembrar... ― Eu me curvo contra sua boca, somente enroscando nossos lábios, e Brenton pressiona os dedos em minhas coxas, visivelmente afetado. ― Mas enquanto isso não é possível agora, pode começar me contanto tudo sobre a viagem. Como foi com as vendas?
― Relembrar, hun? ― Ele repete, e abre um curto sorriso no canto dos lábios. Enquanto coloca-me de volta no chão, sua expressão jovem é tomada por um rastro de diversão, mas se concentra em me responder enquanto volta a apanhar as duas maletas, seguindo-me na direção a garagem do aeroporto. ― O comerciante de Ávilla estava um pouco relutante no começo para fazer um contrato conosco, mas depois de mostra-lo alguns projetos e explicar como o negócio poderia se expandir para ambos os lados, ele aceitou quase que de imediato. Somente nas últimas duas semanas, os lucros da empresa cresceram quarenta por cento. ― Ele diz, soando orgulhoso, e meu sorriso se dilata.
― Aposto que o ganancioso do seu antigo chefe deve estar se contorcendo de arrependimento por não ter acreditado na sua capacidade para os negócios. ― Comento, tocando-o no braço. Sinto seus músculos enrijecidos, e algo mais palpita dentro de mim. ― Você se lembra disso? Quando você me contou naquela noite, tive vontade de socar aquele homem no rosto!
― Eu me lembro, mas o dia que você chegou em casa desolada por ter sido desclassificada de uma entrevista de emprego somente porque não se encaixava no padrão físico que a empresa buscava, eu não consegui acreditar. ― Ele diz, observando meus olhos em uma respiração irregular. ― Como se a cor da pele a impedisse de alguma coisa. Veja só você. Uma mulher poderosa, subchefe da Artys, gostosa, e principalmente, minha. ― Brenton murmura a última parte, sedutor, dedicando-me um sorriso aberto, e minhas bochechas incham com a tamanha emoção.
― Sim. Sua. ― Eu assinto, inclinando a cabeça para cima e tomando seus lábios nos meus, beijando sua boca com vigor. Ele sorri entre o beijo e separa seus lábios dos meus somente para deixar-me guia-lo até a garagem subterrânea. Há diversos automóveis dispostos nas respectivas vagas, mas não é difícil encontrar a familiar Mercedes Branca estacionada na extremidade do salão. Eu retiro as chaves de dentro da bolsa e a posiciono no rumo do carro, fazendo com que o desagradável alarme comece a apitar. Brenton ri baixinho ao meu lado.
― Eu sei que você ama esse carro, mas eu ficaria muito honrado em dirigir. ― Ele diz enquanto guarda as maletas no porta-malas. ― Prometo me comportar.
― Talvez não precise dessa vez. ― Digo simplesmente, o sorriso se intensificando em meus lábios, e Brenton franze a testa de forma breve.
― O que?
― Sente-se no banco de trás. ― Eu comando, e logo me dedico a abrir a porta e encaixar o corpo sobre o banco de couro. Em questão de segundos, Brenton já se encontrava ao meu lado do assento, e seus olhos avelã analisavam atentamente meu rosto em busca de qualquer explicação, piscando com curiosidade genuína e energia.
Em um silêncio distendido, eu abaixo os olhos para seu colo, e observo o modo como os jeans pendiam em seu quadril e suas coxas se tonificavam ainda mais quando permaneciam abertas. Minha boca saliva de repente, e preciso esfregar as pernas juntas para controlar a umidade que crescia gradativamente em mim, facilitada pela a falta da calcinha. Eu coloco os dedos por cima de sua mão que descansava sobre a perna direita, correndo as unhas lentamente ao longo de seu braço coberto por algumas veias inchadas, e não contava notar os arrepios sutis que subiam por sua pele. Dessa forma, ele suspira, trincando o maxilar, cálido e quente.
― Você está fazendo de novo, querida... ― Ele ameaça, como um alerta perigoso, e eu mordo meus lábios dormentes.
― Não estamos mais em público. ― Murmuro, minha respiração quase superficial. ― Há somente nós dois agora.
Meus olhos disparam ao encontro dos seus, criando uma descarga elétrica de alto risco, e eles estão acesos como chamas, mesmo sob a penumbra parcial do estacionamento, queimando ao redor de sua coloração exorbitante. Sem pronunciar qualquer palavra, vejo sua língua lamber seus lábios, e assim, inclina-se para frente o suficiente para tecer a ponta do dedo por minha bochecha avermelhada até alcançar meus cabelos, onde o mesmo enrola algumas mechas em volta de sua mão. Eu suspiro com o pequeno solavanco, e ele começa a pronunciar, baixinho:
― Eu não deveria te colocar sobre meu colo e te comer fundo até que você implore para gritar o meu nome, eu não deveria mergulhar os meus dedos em sua buceta molhada de modo que você revire os olhos de tanto prazer, e principalmente, eu não deveria abafar os seus gemidos com a minha mão para que ninguém do estacionamento possa te ouvir, mas sabe, querida? ― Ele rosna. ― Eu vou lhe dar tudo isso, e com força, porque morro para estar dentro de você.
Eu estou tão bamba de desejo que mal tenho o que o responder, mas eu gritava internamente, e ele parece escutar os meus ecos de prazer, já que agarra meu quadril e me puxa contra seu colo para que eu montasse em suas coxas, uma perna de cada lado, meu vestido subindo no corpo e minha buceta nua imediatamente começando a moer sua perna de uma forma necessitada. Brenton percebe prontamente meu pré-gozo que umedece o pano de seu jeans, e sua voz ressoa em meus ouvidos.
― Céus, Haumea...você veio me buscar sem calcinha?
Eu balanço a cabeça.
― E isso foi de propósito?
Uma pausa, em seguida, outro aceno. Ele fita-me com os olhos famintos, negros de desejo, e sem avisos prévios, aproveito a sensação ardente de sua mão se chocando com minha bunda. Eu solto um gemido manhoso, e empurro o quadril de encontro ao seu, meus olhos se fechando amolecidos, logo sentindo sua mão segurar minha cabeça para aprofundar seus lábios em minha boca que me beija duro. Ele toma a liberdade de abrir mais minhas pernas, acariciando o interior da minha coxa e fazendo questão de roçar o frio metal do anel de dois anos de casamento contra a minha pele. Eu não poderia evitar em sorrir, e quando seus dedos finalmente encontram meu clitóris inchado, ele espalma o polegar sobre a carne, enfiando outros dois dedos ao redor dele, tocando-o, sondando-o tanto que outro gemido escapa de meus lábios entreabertos. Meu líquido quente derrama em seus dedos, e ele imediatamente os leva até a sua boca, os lábios se fechando em torno dos dedos, chupando-os enquanto fixa os olhos gulosos em mim.
― Deliciosa. ― Ele respira. ― Minha deliciosa mulher.
Ele puxa meu maxilar e volta a beijar-me duramente, sua língua invadindo minha boca, fazendo-me provar da minha excitação. Eu me contorço em seus braços, e ele esfrega os quadris contra minha buceta, ao mesmo tempo que usa a mão livre para envolver meu seio em sua mão coberto pelo o bojo do sutiã, agarrando-o tão ferozmente que é possível sentir cada dedo em um ponto específico. Ouço o zíper de seus jeans se abrindo, e levanto o corpo para facilitar seu trabalho, mas logo depois um choramingo é audível em minha boca quando sinto a crista de seu pau alinhar-se contra minhas dobras.
Segurando-me no lugar, ele pressiona a cabeça em meu clitóris, acariciando para baixo da entrada até a bunda, até que inclina a testa contra a minha, nós dois olhando para baixo para observar seu pau deslizando habilmente para dentro de mim. Eu gemo alto, guturalmente, a cabeça estendendo para trás, e me deleito na plenitude de sua posse. Suas mãos se apoiam em minha coluna, e começa a me bombear com vontade, estocando a glande por completo para dentro de mim, sua respiração árdua em meu ouvido, e o meu corpo responde, se derretendo ao redor dele.
― Eu quero... ― Ele arqueia sem fôlego, fodendo minhas paredes sem qualquer pausa. ― ...eu quero sentir você...gozar ao meu redor.
O que sua pele molhada e escorregadia estava fazendo comigo eu não poderia descrever, mas eu tremo em cima de seu pau, meu corpo perseguindo as ondas de prazer, e impulsionada por meus dedos que descem do ventre até o clitóris inchado, começo a me masturbar ao levantar meu vestido, flexionando-o, onde capturo o vislumbre do olhar paralisado de meu marido que observa meus movimentos com grande avidez.
Eu levo os braços para trás de mim, fincando as unhas no encosto do assento de motorista, e dobro os joelhos, apoiando os saltos contra o banco para empurrar o quadril ao longo de seu membro latejante. A mudança de posição o fez mover-se para mais fundo, empurrando-o para dentro e fora de minha buceta úmida, apertada que esfaqueava suas bolas e até o pau, e ambos assistimos como aconteceu, como nossos quadris se sacudiram e meus músculos do estômago saltaram, chegando assim ao nosso intenso orgasmo. Minhas pernas mal conseguiam suportar meu peso, assim como não conseguia respirar com facilidade, e eu fico assim, somente retomando o fôlego enquanto o sinto ainda inteiro dentro de mim. Ele envolve meu pescoço novamente em seus dedos, mas dessa vez para deitar meu rosto contra seu peito, prontamente escutando seu coração torcendo dentro de si em uma luxuria desenfreada.
― O que você faz comigo, Haumea? ― Brenton sibila cansado, curvando-se para beijar o topo de minha cabeça, alguns fios de meus cabelos úmidos contra minha testa. ― Porque você deixa-me louco, e estou exausto somente com essa foda rápida dentro do carro.
― É uma pena, porque tinha em mente de passarmos no restaurante da Taberna del Alabardero antes de voltarmos para casa. ― Digo, acariciando seus cabelos da nuca. Ele torce os lábios. ― Pelo que o conheço bem, você deve estar faminto. ― Ele inclina ligeiramente a cabeça para o lado, e eu arqueio as sobrancelhas. ― De comida.
― Me olhe assim outra vez que fico faminto não apenas de comida, mas de você. ― Ele murmura, rouco e assanhado, o que faz-me rir pelo o nariz. ― Mas sim, restaurante parece bom para mim, porque quero aproveitar cada momento que fiquei longe de você.
Eu pisco para ele, mortificada, e em seguida, meus olhos se fecham quando sinto seus lábios escovarem minha boca, aprofundando o beijo com a língua, saboreando cada polegada, e essa sensação queima por um instante, e espero que, vigorosamente, também para sempre.
. . .
― Gostaria de escolher o vinho, querida? ― Brenton pergunta, erguendo as sobrancelhas para mim com certa expectativa, e eu o acompanho, porque ele sabe que não conheço nada sobre vinhos.
― Você escolhe. ― Eu digo, e apoio os cotovelos sobre o vitral da mesa, somente para observar o brilho divertido que dança em seus olhos.
― Uma garrafa de Barone Montalto, por favor. ― Ele pronuncia o pedido para o garçom sem ao menos olhar devidamente para o cardápio, o que faz a espera do rapaz durar poucos instantes. Ele arqueia os olhos repuxados em uma surpresa inibida, mas logo ponha-se a sorrir.
― Ciertamente, señor. ― Assenti, e se vai rapidamente, deixando-nos a sós. Eu me viro para meu marido.
― Tão confiante. Poderia ser assim quando se encontra com minha mãe. ― Eu sorrio para ele de forma doce enquanto o vejo pressionar os lábios em uma linha dura, mas depois, eleva os lábios.
― Juro que tento me manter o mais confortável possível perante a minha sogra, mas toda vez que a olho, tenho a leve impressão que ela gostaria de me acertar com seu sapato. ― Sua boca e olhos se suavizam com humor, e eu gargalho. ― Ela é bastante intimidadora, devo acrescentar.
― Ela não pode evitar, já que as consequências da vida a deixou dessa forma. ― Eu engulo, e um nó se forma em minha garganta quando lembranças antigas me acertam, e trato de me recompor rapidamente. ― Mas mamãe também sabe que estou em boas mãos agora, mesmo que prefira não transparecer.
― Pelo o contrário. Eu que sou um homem de sorte. ― Sua voz é suave e enfática, e eu estico o braço sobre a mesa para envolver os dedos ao redor dos seus. ― Até Garfield faz questão de dizer isso todas as vezes que encontra com você.
― Até hoje esses ciúmes de seu irmão? ― Eu pergunto, risonha. ― Garfield possui um sutil modo de flertar com todas as mulheres que ele coloca os olhos, então não se preocupe com isso. ― Acrescento, calmamente. ― Por falar nisso, ele ficaria contente em saber que você voltou de viagem. Deveria ligar para ele.
― Bem lembrado. Farei isso assim que chegarmos em casa. ― Murmura, e assim, o garçom chega com o nosso vinho sobre uma bandeja metálica, retirando a rolha com um floreio e despejando o líquido doce em ambas as taças. Ele se inclina ligeiramente para frente, e se retira outra vez. Brenton segura a taça entre seus dedos e a ergue em minha direção. ― Vamos brindar as boas notícias da viagem, seu sucesso na empresa e por termos um ao outro independente do que acontecer?
― Independente do que acontecer. ― Eu profiro, e as taças se chocam entre si, formando um soído delicado que afaga os ouvidos.
Pelo o reflexo borrado do vidro que reveste a minha taça, é possível notar a sombra alaranjada do sol morrendo por completo às costas dos arranha-céus, permitindo com que o crepúsculo reinasse em meio ao céu agora escurecido. Eu ouço o tinido das taças se prolongar estranhamente por mais alguns segundos, e depois, um estrondo alto e desconhecido preencher o espaço que me rodeava. Meu corpo entra em estado de alerta, alarmado e automático, o que me induz a olhar diretamente para o alvoroço que se formou não tão distante de mim.
Uma sensação nociva apunhala-me pelas costas quando avisto o mesmo garçom que havia nos atendido contorcendo-se freneticamente contra o piso, o torço sacudindo-se de uma maneira que poderia facilmente feri-lo, e ele grunhi alto, como se algo estivesse o rasgando por dentro, e a cena deplorável faz com que as pessoas se levantem assustadas de seus assentos, outros caminham até o rapaz, tentando de alguma maneira ajudá-lo a se levantar. Ele se ergue ainda sob os pés trêmulos, mas como estava de costas para mim, não conseguia ter a visão clara de seu rosto. O homem permanece alguns segundos imobilizado, ignorando as perguntas que as pessoas o proferiam, e de repente, sem qualquer aviso, apanha uma faca mais próxima sobre a mesa e a enterra contra o peito da mulher que estava ao seu lado.
Eu vejo sangue. Sinto meu mundo parar de girar assim como todos os pelos do meu corpo frisarem em pavor. Ouço gritos abafados que drenam a coloração do meu rosto, e o pior de tudo, vejo o vislumbre do exato momento em que o homem se vira e fita-me com uma fisionomia desumana, sombria, os lábios rachados e os olhos, totalmente negros, e por um segundo, esse olhar lembra-me de calafrios familiares que despertam em minha espinha. Ele começa a caminhar na minha direção, os pés fincando contra o chão, e seus movimentos somente são interrompidos quando outro homem salta sobre ele. Um grito sulcado rasga minha garganta no tempo em que percebo que o homem que se posiciona por cima do rapaz também se encontrava exatamente como ele, a face transformada, maligna, que não se importou em encravar uma faca grossa dentro do crânio do rapaz.
Toda a respiração deixa o meu corpo, onde minha mente leva-me para a uma hora atrás, especificamente para o anuncio que se passou no jornal local. O cientista não brincou, não estava dizendo a porcaria de uma mentira. Está acontecendo agora, o verdadeiro fim.
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